AS ALTERAÇÕES HORMONAIS E O SEU IMPACTO NA IMPLANTODONTIA (Revisão de Literatura)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8228952


Paulo Victor Guedes de Carvalho Peleteiro
Leandro Simonetti
Leandro Souza Pozzer
Julia Almeida Smanio
Rafael Ortega Lopes


RESUMO

O tecido ósseo apresenta características como porosidade, anisotropia e heterogeneidade. Existem dois tipos principais de tecido ósseo: cortical e trabecular, sendo a porosidade do primeiro de 5 a 15% e a do segundo de 40 a 95%. A remodelação óssea é um processo realizado por células como osteócitos, osteoblastos e osteoclastos, sendo influenciado por fatores genéticos, ambientais e hormonais. Quando há equilíbrio entre reabsorção e formação óssea, a matriz mineralizada passa por um processo cíclico de produção e reabsorção óssea, que muda ao longo da vida. Na infância e adolescência, a formação óssea predomina, enquanto na idade adulta os processos permanecem em equilíbrio. A partir dos 45-50 anos, principalmente em mulheres, a reabsorção óssea predomina sobre a produção óssea. Alterações hormonais são um fator significativo na densidade óssea. Durante a infância e adolescência, hormônios sexuais e o hormônio do crescimento estimulam a formação óssea, aumentando a densidade mineral óssea. Porém, a diminuição na produção de hormônios sexuais, especialmente nos períodos pós-menopausa em mulheres e andropausa em homens, pode levar a uma diminuição na densidade mineral óssea. Esses hormônios são importantes reguladores do processo de remodelação óssea, estimulando a formação óssea e inibindo a reabsorção óssea. Outros hormônios também podem afetar a densidade óssea, como a paratormônio, que estimula a reabsorção óssea, e a calcitonina, que inibe a reabsorção óssea. Distúrbios hormonais, como hiperparatireoidismo e hipotireoidismo, podem afetar negativamente a densidade óssea. Dessa forma, é essencial manter o equilíbrio hormonal para a saúde óssea, e a falta de hormônios adequados pode contribuir para doenças ósseas como a osteoporose.

Palavras-Chave: Hormônios, Densidade Óssea, Osteoblastos, Reguladores.

ABSTRACT

Bone tissue presents characteristics such as porosity, anisotropy, and heterogeneity. There are two main types of bone tissue: cortical and trabecular, with the former’s porosity ranging from 5 to 15% and the latter’s from 40 to 95%. Bone remodeling is a process carried out by cells such as osteocytes, osteoblasts, and osteoclasts, influenced by genetic, environmental, and hormonal factors. When there is a balance between bone resorption and formation, the mineralized matrix undergoes a cyclic process of bone production and resorption, which changes throughout life. In childhood and adolescence, bone formation predominates, while in adulthood the processes remain in balance. From the age of 45-50, especially in women, bone resorption predominates over bone production. Hormonal changes are a significant factor in bone density. During childhood and adolescence, sex hormones and growth hormone stimulate bone formation, increasing bone mineral density. However, the decrease in the production of sex hormones, especially in the postmenopausal period in women and andropause in men, can lead to a decrease in bone mineral density. These hormones are important regulators of the bone remodeling process, stimulating bone formation and inhibiting bone resorption. Other hormones can also affect bone density, such as parathyroid hormone, which stimulates bone resorption, and calcitonin, which inhibits bone resorption. Hormonal disorders, such as hyperparathyroidism and hypothyroidism, can negatively affect bone density. Therefore, it is essential to maintain hormonal balance for bone health, and the lack of adequate hormones can contribute to bone diseases such as osteoporosis.

Keywords: Hormones, Bone Density, Osteoblasts, Regulato

INTRODUÇÃO

As alterações hormonais são um fator chave que pode afetar a saúde óssea, podendo ter um impacto significativo na densidade óssea em homens e mulheres. O tecido ósseo é extremamente ativo, atingindo o pico máximo de quantidade de massa óssea na segunda década de vida e, a partir da quarta década de vida, independentemente da idade, gênero, condições endócrinas e estilo de vida, começa a ocorrer o declínio dessa quantidade óssea, sendo o grupo de maior risco o das mulheres na menopausa.

As mudanças hormonais podem ocorrer em várias fases da vida, como a menopausa nas mulheres e a andropausa nos homens. Essas mudanças hormonais podem levar a uma diminuição na densidade óssea e aumentar o risco de osteoporose, que é uma condição que afeta a saúde óssea, tornando os ossos mais fracos e mais suscetíveis a fraturas. É importante que os profissionais de saúde considerem as alterações hormonais e a densidade óssea ao planejar a cirurgia de implantes dentários em pacientes.

A densidade óssea é influenciada por muitos fatores, incluindo genética, nutrição e atividade física, mas as alterações hormonais são um fator chave que pode afetar a saúde óssea. Sendo essas variações responsáveis por afetar a produção de estrogênio nas mulheres e testosterona nos homens, que são hormônios que têm um papel importante na manutenção da densidade óssea. A diminuição desses hormônios pode levar a uma perda de massa óssea e um aumento do risco de osteoporose.

A detecção precoce da osteoporose e outras condições ósseas é fundamental para prevenir complicações na osseointegração dos implantes e aumentar o sucesso da cirurgia. Além disso, a terapia de reposição hormonal (TRH) pode ter um efeito positivo na densidade óssea e, portanto, na osseointegração dos implantes. Estudos sugerem que a TRH pode aumentar a densidade óssea e melhorar a osseointegração dos implantes em mulheres na menopausa.

Com o passar do tempo, a odontologia vem analisando a importância do todo, onde a base do paciente, o corpo, é tão importante quanto a região em que trabalhamos que é a boca. Quando paramos para analisar sistemicamente, já entendemos a grande correlação do nosso organismo onde estruturas e substâncias distantes quando alteradas são capazes de reverberar consequências na cavidade oral.

A questão fundamental a ser abordada é porque o corpo humano responde de uma certa maneira a determinados estímulos. Em particular, o sistema endócrino, com sua complexa rede de sinais hormonais, desempenha um papel crucial na regulação de processos fisiológicos e na manutenção da homeostase. Apesar disso, a relação entre alterações hormonais e seus efeitos sobre resultados clínicos na odontologia é frequentemente negligenciada. No entanto, pesquisas recentes têm lançado luz sobre a interação intricada entre o estado hormonal e a saúde bucal, destacando a importância de considerar esses fatores no cuidado do paciente.

O presente estudo tem como objetivo conduzir uma revisão sistemática da literatura para identificar os principais fatores relacionados à interação entre alterações hormonais e suas consequências na saúde bucal. O propósito desta análise é fornecer aos profissionais de odontologia uma estrutura baseada em evidências para avaliar e gerenciar pacientes com desequilíbrios hormonais. Em particular, o foco é investigar os efeitos das alterações hormonais na osseointegração, um aspecto crítico da colocação de implantes dentários. Ao entender os mecanismos subjacentes dos efeitos hormonais na osseointegração, os clínicos podem identificar e mitigar fatores de risco, potencialmente melhorando os resultados dos implantes e o cuidado geral do paciente.

METODOLOGIA

Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativo. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso as alterações hormonais e o seu impacto na implantodontia. 

Busca Estratégica 

Para a construção deste artigo foi feito um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no período de abril a junho de 2023.

Critérios de inclusão e exclusão

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. 

Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

Seleção de estudos 

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo. Quando havia dúvida sobre a inclusão, o artigo era lido por outro autor e, a decisão de inclusão ou exclusão era tomada em consenso. Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra.

REVISÃO DA LITERATURA

O tecido ósseo é caracterizado por ser poroso, anisotrópico e não homogêneo, sendo classificado como cortical ou trabecular, dependendo da porosidade. O osso cortical apresenta uma porosidade de 5 a 15%, enquanto a porosidade do osso trabecular varia de 40 a 95%. A evolução do esqueleto ósseo provavelmente teve início há muitas eras, quando os animais deixaram o oceano rico em cálcio para viver em ambientes de água doce e, posteriormente, em terra seca, onde o suporte de peso colocava mais estresse no esqueleto.1

O processo fisiológico de remodelação óssea é coordenado pelos osteócitos, osteoblastos e osteoclastos e é realizado por uma estrutura anatômica e funcional conhecida como unidade multicelular básica (BMU). A atividade da BMU está relacionada a um limiar de tensão mecânica local, que determina o efeito resultante de deposição ou reabsorção óssea.2

A remodelação óssea é influenciada por fatores genéticos, ambientais e hormonais, e em condições favoráveis, há equilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea. A matriz mineralizada sofre um processo cíclico de produção e reabsorção óssea, cujo equilíbrio é modificado ao longo da vida. Durante a infância e adolescência, a formação óssea predomina sobre a reabsorção, enquanto na idade adulta, os dois processos permanecem em equilíbrio. A partir dos 45-50 anos, especialmente nas mulheres, a reabsorção óssea começa a predominar sobre a formação óssea.7

Existem diversos hormônios que têm um papel importante na regulação da densidade óssea, sendo os principais o estrogênio, a testosterona e o hormônio paratireoideano.3

O estrogênio é um hormônio esteroide produzido principalmente pelos ovários em mulheres e em menor quantidade pelos testículos em homens. A sua ação é importante para manutenção da saúde óssea, visto que ele inibe a atividade dos osteoclastos, células responsáveis pela reabsorção óssea. Com a diminuição da produção de estrogênio na menopausa em mulheres e com o envelhecimento em homens, ocorre uma diminuição da densidade óssea e um aumento do risco de fraturas.4

A testosterona é um hormônio androgênico produzido principalmente pelos testículos em homens e em menor quantidade pelos ovários em mulheres e pelas glândulas adrenais em ambos os sexos. A sua ação na saúde óssea ocorre através da conversão em estrogênio e pela inibição da atividade dos osteoclastos. A diminuição da produção de testosterona em homens está associada com diminuição da densidade óssea e aumento do risco de fraturas.5

O hormônio paratireoideano é um hormônio peptídico produzido pelas glândulas paratireoides. A sua principal função é regular os níveis de cálcio no sangue através do aumento da absorção intestinal de cálcio e da reabsorção renal de cálcio. Quando há uma deficiência de cálcio no sangue, o hormônio paratireoideano é liberado e estimula a atividade dos osteoclastos, levando à reabsorção óssea e, consequentemente, à diminuição da densidade óssea. Em casos de hiperparatireoidismo, ocorre um aumento exagerado da atividade do hormônio paratireoideano, levando a uma reabsorção óssea excessiva e, consequentemente, à diminuição da densidade óssea.6

PARATORMÔNIO

O hormônio da paratireoide (PTH) é um dos principais hormônios responsáveis pelo controle da homeostase do cálcio, atuando como um regulador do cálcio juntamente com a vitamina D. Além disso, ele apresenta outras funções, como a estimulação da reabsorção e formação óssea, além de agir de forma direta ou indireta em órgãos envolvidos no armazenamento, excreção e absorção do cálcio divalente. Uma discreta queda nos níveis circulantes de cálcio pode levar a um aumento de 200% a 300% na secreção de PTH. Estudos têm mostrado que o PTH ativa os osteoclastos no tecido ósseo, resultando em reabsorção óssea. Entretanto, osteoclastos maduros não apresentam receptores para o hormônio, indicando que ele não tem ação nesses casos.9

O PTH atua de forma diferenciada na formação e reabsorção ósseas, sendo que suas ações têm sido amplamente estudadas. Novos aspectos sobre sua ligação com o receptor e as vias de sinalização intracelular nos osteoblastos têm sido descobertos. Acredita-se que o efeito anabólico do PTH depende não somente de sua ação direta sobre os osteoblastos e precursores, mas também da participação de fatores de crescimento, como o IGF-I.16

Os receptores de PTH no tecido ósseo estão presentes nos osteoblastos e seus precursores, células progenitoras pluripotentes, diferenciando-se dos osteoclastos e seus precursores, onde os efeitos do PTH sobre a reabsorção óssea são intermediados pelos osteoblastos. É interessante observar que, enquanto o PTH estimula a reabsorção óssea para manter as concentrações plasmáticas de cálcio, ele também garante a recuperação do tecido ósseo pelos osteoblastos, mantendo o equilíbrio entre a formação e a reabsorção. 20 

Estudos têm demonstrado que o PTH possui um efeito direto na atividade dos osteoblastos, aumentando a produção de colágeno e a mineralização óssea. Ele também pode aumentar a expressão de citocinas, como a interleucina-6 e o fator de crescimento transformador β (TGF-β), que estimulam a proliferação e diferenciação das células precursoras osteoblásticas. 21

O papel do PTH na densidade óssea tem sido estudado em diversas condições, incluindo a osteoporose. O uso do PTH como tratamento para a osteoporose tem se mostrado eficaz, promovendo um aumento na densidade mineral óssea e na resistência óssea. Entretanto, a administração prolongada do PTH pode levar a uma redução na resistência óssea, o que sugere que sua regulação é extremamente importante para a manutenção da densidade óssea normal.10

Outros hormônios com características reguladoras também podem afetar a densidade óssea, como o estradiol e o cortisol, pois quando analisamos de uma forma geral entendemos as interligações entre os hormônios, logo é importante buscar um equilíbrio.11

  Os hormônios reguladores desempenham um papel crítico no processo de remodelação óssea ao longo da vida, pois com o passar do tempo e a oxidação proveniente da existência como consequência gera uma diminuição das taxas que leva a quadros desfavoráveis principalmente quando correlacionados a estrutura óssea, esse quadro acaba sendo agravado em mulheres +40 anos devido a Peri menopausa.12

CORTISOL

O cortisol é um hormônio esteroide produzido pela glândula adrenal, também conhecida como suprarrenal, sendo considerado um regulador crítico do metabolismo e importante para a capacidade do corpo de responder ao estresse e às lesões. A sua síntese é estimulada pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que é secretado pela hipófise em resposta ao fator liberador de corticotrofina (CRH) produzido pelo hipotálamo. A regulação da liberação de cortisol ocorre por meio de um sistema de feedback negativo, em que altos níveis de cortisol inibem a liberação de CRH e ACTH, reduzindo a produção de cortisol.13

No entanto, a exposição crônica ao estresse pode levar a uma desregulação da liberação de cortisol, aumentando os níveis desse hormônio no organismo e comprometendo o sistema imunológico. A exposição crônica ao estresse tem sido associada a um aumento na produção de cortisol, o que pode levar a uma supressão do sistema imunológico e aumentar o risco de doenças infecciosas e autoimunes.14

A ativação da amígdala cerebral é um importante fator desencadeante da resposta hormonal ao estresse. A amígdala cerebral é uma estrutura encefálica associada à elaboração de emoções e tradução dos sinais bioquímicos, e sua ativação estimula a resposta hormonal do hipotálamo, que por sua vez induz a liberação do CRH e estimula a hipófise a liberar o ACTH, que irá estimular as glândulas adrenais a liberar o cortisol na corrente sanguínea. Esse processo é conhecido como eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e é essencial para a regulação da resposta ao estresse.15

No entanto, a exposição crônica ao estresse pode levar a uma desregulação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA), resultando em níveis elevados de cortisol no organismo a exposição crônica ao estresse pode levar a uma ativação prolongada do eixo HPA e a uma redução na sensibilidade dos receptores de cortisol, resultando em um aumento nos níveis de cortisol circulante.16

Embora pequenas quantidades de cortisol sejam necessárias para o desenvolvimento ósseo normal, grandes quantidades desse hormônio são capazes de gerar um bloqueio no crescimento ósseo.17

ANDROGÊNICOS

Os hormônios sexuais são fundamentais na regulação do crescimento do esqueleto e na manutenção da massa e força do osso. O estrogênio e a testosterona possuem efeitos nos ossos de homens e mulheres, apesar de terem sido identificados como hormônios androgênicos, ambos estão presentes em ambos os sexos, mas em concentrações diferentes. Predominantemente, nos homens, a testosterona é responsável por 95% da produção, enquanto os 5% restantes são secretados pelas glândulas suprarrenais através da conversão da desidroepiandrosterona. A testosterona é importante para o crescimento esquelético e é convertida em estrogênio nas células de gordura, o qual é essencial para a saúde óssea de homens e mulheres.19

O sistema hormonal dos hormônios sexuais juntamente com o sistema do hormônio do crescimento aumenta durante a puberdade, um período de crescimento esquelético acelerado. É essencial avaliar essa etapa do desenvolvimento, pois a deficiência ou desequilíbrio nessa fase pode desencadear alterações no crescimento. É importante lembrar que os efeitos dos hormônios e das forças mecânicas no esqueleto estão intimamente ligados e que há uma comunicação e correlação com todos os sistemas do organismo.18

A literatura científica demonstra que as concentrações séricas de testosterona em homens tendem a diminuir a partir dos 40 anos de idade, e aos 75 anos, essa queda hormonal pode atingir concentrações menores que dois terços em relação à testosterona plasmática encontrada aos 25 anos. Essa diminuição hormonal pode ter um impacto potencial no metabolismo ósseo, através de um processo inflamatório estéril regulado por citocinas e genes, como Rankl e Opg. 22

O mecanismo de ação ainda precisa ser descoberto, mas a manutenção dos níveis ideais de andrógenos é essencial na prevenção da osteoporose e suas complicações em homens idosos, grupo com alta prevalência dessa deficiência hormonal.14

O estrogênio e a testosterona atuam diretamente nos osteoblastos e osteoclastos, células responsáveis pela formação e reabsorção óssea. Estudos têm mostrado que os osteoblastos e precursores possuem receptores de andrógenos e estrogênio, e que o estrogênio é um importante fator anabólico que aumenta a formação óssea. Já a testosterona é importante para a mineralização e rigidez do osso.23

A ação dos hormônios sexuais nos ossos também está ligada à regulação da expressão de genes envolvidos na diferenciação e atividade dos osteoblastos e osteoclastos, como o Fator de Transcrição RUNX2, receptor da vitamina D e do PTH. O estrogênio influencia tanto os osteoclastos quanto os osteoblastos, e é amplamente debatido em relação à sua correlação com o processo de remodelação do tecido ósseo. Embora o mecanismo pelo qual o estrogênio age ainda não esteja totalmente elucidado, sabe-se que sua diminuição está associada a um aumento na reabsorção óssea.15

ALTERAÇÕES HORMONAIS E IMPLICAÇÕES NA IMPLANTODONTIA

A estabilidade primária dos implantes dentários é afetada por diversos fatores, sendo o procedimento cirúrgico e a qualidade óssea alguns dos mais comuns. Para garantir a estabilidade primária, é necessário obter um alto torque de inserção durante a colocação do implante, o que é um importante indicador da resistência do osso em torno do implante. A manutenção de volume e densidade óssea adequados é essencial para alcançar o contato osso-implante necessário para a obtenção de um implante biomecanicamente estável.24

Em resumo, a estabilidade primária dos implantes dentários é influenciada por diversos fatores, incluindo a qualidade óssea, o procedimento cirúrgico e a escolha do tipo de implante. A obtenção de um alto torque de inserção e um contato osso-implante adequado são importantes para a obtenção de um implante dentário biomecanicamente estável. A avaliação cuidadosa da qualidade óssea do paciente e a utilização de técnicas de regeneração óssea podem ser necessárias em casos de osso comprometido.25

A estabilidade secundária dos implantes dentários é um importante aspecto no sucesso a longo prazo dos implantes. A estabilidade secundária é definida como a estabilidade que ocorre após a osseointegração, que é a conexão direta e estrutural entre o osso vivo e a superfície de um implante sem a formação de tecido conjuntivo interposto.26

A influência hormonal na estabilidade secundária dos implantes tem sido objeto de muitos estudos na odontologia. Os hormônios sexuais, especialmente o estrogênio e a testosterona, têm sido implicados como possíveis fatores que afetam a osseointegração. A literatura científica sugere que a deficiência de hormônios sexuais pode afetar negativamente a osseointegração de implantes dentários.27

O estrogênio, um hormônio esteroide feminino, é bem conhecido por sua influência na remodelação óssea. Estudos em animais e humanos mostraram que o estrogênio tem um efeito positivo na densidade óssea e na regeneração óssea. Além disso, o estrogênio tem efeitos sobre as células ósseas, incluindo a supressão da reabsorção óssea pelos osteoclastos e a estimulação da formação óssea pelos osteoblastos.28

A deficiência de estrogênio em mulheres pós-menopáusicas tem sido associada à osteoporose, uma condição caracterizada pela perda de massa óssea e fragilidade óssea aumentada. Vários estudos sugerem que a terapia de reposição hormonal com estrogênio pode melhorar a densidade óssea em mulheres na pós-menopausa e, portanto, melhorar a osseointegração dos implantes dentários.20

Além disso, a testosterona, o principal hormônio sexual masculino, também tem um papel importante na regulação da densidade óssea e remodelação óssea. A testosterona é convertida em diidrotestosterona (DHT) pelas células dos tecidos periféricos. A DHT tem uma afinidade maior pelos receptores androgênicos e pode afetar a osseointegração de implantes dentários.29

Vários estudos em animais e humanos sugerem que a deficiência de testosterona pode afetar negativamente a osseointegração de implantes dentários. Além disso, a terapia de reposição hormonal com testosterona pode melhorar a densidade óssea e a osseointegração em homens idosos.30

DISCUSSÃO

A implantodontia é uma área da odontologia que tem como objetivo a reabilitação oral por meio da instalação de implantes dentários. A estabilidade do implante é fundamental para o sucesso do tratamento e está relacionada a diversos fatores, incluindo as alterações hormonais. 27

As alterações hormonais podem afetar a saúde bucal de diversas formas, principalmente em mulheres durante a puberdade, gravidez e menopausa. Durante essas fases, os níveis hormonais sofrem grandes mudanças, o que pode impactar a qualidade óssea e a resposta imunológica do organismo.1

A redução dos níveis de estrogênio, por exemplo, pode levar a uma diminuição da densidade óssea, aumentando a probabilidade de falhas na osseointegração, processo fundamental para a estabilidade do implante. Além disso, a baixa produção de estrogênio pode resultar em alterações na microcirculação sanguínea, prejudicando a cicatrização e o reparo tecidual.9

A terapia de reposição hormonal é uma alternativa para minimizar os efeitos da deficiência hormonal em mulheres na menopausa. Estudos mostram que a terapia hormonal pode aumentar a densidade óssea e melhorar a cicatrização de feridas, contribuindo para a estabilidade do implante.7 28

Por outro lado, a terapia hormonal também pode ter efeitos colaterais indesejáveis, como o aumento do risco de câncer de mama e doenças cardiovasculares, o que deve ser levado em consideração na escolha do tratamento mais adequado.28

Além das alterações hormonais em mulheres, a disfunção hormonal em homens também pode afetar a saúde bucal e a estabilidade do implante. A deficiência de testosterona pode levar a uma diminuição da massa óssea e a um aumento da reabsorção óssea, prejudicando a osseointegração e a estabilidade do implante.5

A reposição hormonal em homens com deficiência de testosterona pode contribuir para a melhoria da densidade óssea e da qualidade do osso, além de estimular a formação de colágeno e a cicatrização tecidual.13

Em resumo, as alterações hormonais podem influenciar significativamente na estabilidade do implante e devem ser consideradas durante o planejamento e a execução do tratamento, sendo assim é crucial uma análise sistêmica detalhada na qual devemos comunicar ao endócrino a necessidade de cada tratamento até mesmo para ajudar a nortear a análise desse paciente.10 7

CONCLUSÃO

Em conclusão, a estabilidade secundária dos implantes dentários é um fator crítico para o sucesso a longo prazo dos implantes. Os hormônios sexuais, especialmente o estrogênio e a testosterona, têm sido implicados como possíveis fatores que afetam a osseointegração.

 A deficiência hormonal pode afetar negativamente a osseointegração de implantes dentários, enquanto a terapia de reposição hormonal pode melhorar a densidade óssea e a osseointegração em mulheres pós-menopáusicas e homens idosos. Mais pesquisas são necessárias para compreender completamente a relação entre hormônios e suas alterações em tecido ósseo de forma que se elucide o mecanismo e a interrelação com os demais sistemas do organismo.

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