AS ADAPTAÇÕES HIPERTRÓFICAS PROVENIENTES DASCADÊNCIAS RÁPIDA E LENTA NO TREINAMENTO RESISTIDO:

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8355749


Matheus da Silva Macedo 1
Vitor de Salles Painelli 2


RESUMO

O presente estudo visa investigar quais são as adaptações hipertróficas provenientes das velocidades alta e baixa na execução dos exercícios no treinamento de força e analisar em quais condições os métodos foram aplicados, estabelecendo padrões de relações de causa e efeito sob a perspectiva de determinados conceitos. Pois ainda não há um consenso na literatura no que diz respeito às adaptações hipertróficas específicas das cadências de movimento. As análises dos achados indicam que até 14 segundos de duração por repetição se obtém uma estimulação e hipertrofia satisfatórias das fibras do tipo II, desde que o exercício chegue à falha muscular e possua volume e carga adequados, e partir deste tempo de duração, aumenta-se o risco de cair o potencial de estimulação e hipertrofia de tais fibras e começa a priorizar estes fenômenos nas fibras do tipo I.

Descritores: Treinamento Resistido, Velocidade de Execução, Cadência de Movimento, Hipertrofia Muscular.

ABSTRACT

The present study aims to investigate which are the hypertrophic adaptations resulting from high and low speeds in the execution of exercises in strength training and to analyze under which conditions the methods were applied, establishing patterns of cause and effect relationships from the perspective of certain concepts. Because there is still no consensus in the literature with regard to specific hypertrophic adaptations of movement cadences. The analysis of the findings indicates that up to 14 seconds of duration per repetition, satisfactory stimulation and hypertrophy of type II fibers are obtained, provided that the exercise reaches muscle failure and has adequate volume and load, and from this duration time onwards, it increases. if the risk of decreasing the potential for stimulation and hypertrophy of such fibers begins to prioritize these phenomena in type I fibers.

Descriptors: Resistance Training, Speed ​​of Execution, Cadence of Movement, Muscle Hypertrophy.

1 INTRODUÇÃO

O treinamento de força (TF) é um dos métodos mais eficazes para melhorar aptidões físicas como força e hipertrofia, seja para fins estéticos ou competitivos.¹ Além do que, os idosos podem ser beneficiados de tal treinamento devido à sarcopenia e dinapenia serem decorrentes do envelhecimento.² A rotina de treinamento resistido possui inúmeras variáveis que precisam ser levadas em consideração no seu processo de montagem, dentre elas está a velocidade de execução do exercício. Que frequentemente é expressa por dígitos que correspondem às fases específicas do movimento. Por exemplo, 4/0/2/0 significa que a fase excêntrica deve durar 4 segundos, sem interrupção na fase de transição excêntrica para a concêntrica, fase concêntrica de 2 segundos e sem descanso na transição da fase concêntrica à excêntrica.³ Sendo assim, a individualidade de cada prescrição de treino é preservada também pela definição correta da cadência, de acordo com as necessidades do praticante: jovem, idoso, atleta, etc. 

Contudo, os estudos vêm mostrando resultados contraditórios no que diz respeito à manipulação da cadência e as respostas hipertróficas. Watanabe4 concluiu que o sistema de treinamento com cadência lenta leva vantagem em relação à cadência rápida, mas Chaves5 obteve resultados demonstrando que a cadência rápida e a lenta promovem graus similares de hipertrofia, desde que o exercício chegue à fadiga muscular. Isso reflete a falta de consenso na literatura sobre este assunto.

A hipótese deste trabalho é que tanto velocidades altas como baixas promovam ganhos hipertróficos e de força satisfatórios, porém, com adaptações específicas, na cadência rápida maior hipertrofia nas fibras do tipo II (contração rápida) e na cadência lenta maior hipertrofia nas fibras do tipo I (contração lenta). De acordo com Schuenke6, o treinamento com velocidade lenta reduz o percentual das fibras tipo IIx e o treinamento com velocidade tradicional promove alterações positivas de tais fibras.
Portanto, o presente artigo visa investigar quais são as adaptações hipertróficas provenientes das velocidades alta e baixa na execução dos exercícios no treinamento de força e analisar em quais condições os métodos foram aplicados.

2 METODOLOGIA

O método definido para pesquisa trata-se de uma revisão sistemática da literatura, método estruturado para ser metódico, explícito e passível de reprodução, que viabiliza a análise e integração de pesquisas científicas de determinados temas e contribui para o rumo de novos projetos e investigações, identificando quais métodos de pesquisa foram utilizados em uma área.7

As buscas dos artigos foram feitas através do PubMed, Scielo e Google Scholar pelos descritores “Resistance Training”, “Speed ​​of Execution”, “Cadence of Movement”, “Muscle Hypertrophy”, que foram interligados pelo conectivo “and”. Os artigos selecionados estão dentro do período de 2006 a 2017, que totalizaram 9 artigos.

Para critérios de inclusão considerou-se artigos originais, sem restrição de idiomas, nacionais e internacionais, que focaram a comparação nos ganhos hipertróficos dos indivíduos.

Foram excluídos os artigos que não abordavam as questões de interesse, que focassem outros meios de comparação que não fosse a hipertrofia muscular, como por exemplo, ganhos de força ou atividade eletromiográfica e artigos repetidos.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 CÁLCULO DE VOLUME DE TREINAMENTO

O volume é uma variável quantitativa do treinamento. E os fatores que têm impacto direto no volume total do treino são a frequência do treinamento (número de sessões de treinamento por semana, mês ou ano), a duração da sessão de treinamento, o número de séries, o número de repetições por série e o número de exercícios realizados por sessão. Existem métodos com o objetivo de controlar o que determinadas prescrições de treinamento exigem do praticante no sentido de esforço. Dentre eles, os mais comuns são: a somatória do número de repetições em determinado período, a multiplicação das repetições da sessão pelo peso levantado (por exemplo, 10 repetições feitas com uma carga de 50kg terá o volume de 500 kg) e o cálculo do trabalho total, atribuído através da fórmula T = F x d, que é considerado o método mais preciso dentre estes.8

Para o calcular o trabalho de uma força devemos utilizar a fórmula T = F x d, em que: T – trabalho dado em joules; F – força dada em newtons; d – deslocamento do corpo dado em metros. Sendo a força atribuída através da fórmula F = m x a (massa de um corpo multiplicada pela aceleração), ou seja, se 50 kg são deslocados 0,7 m verticalmente em velocidade constante a força aplicada é 500 N (F= 50 x 10 m/s² = 500 N – sendo 10 m/s² a aceleração da gravidade). Logo, o trabalho total nestas condições é de 350 J (T= 500 N x 0,7 m = 350 J), que se repetido 10 vezes terá o trabalho total de 3500 J.8

Mas o cálculo do trabalho total não contém nenhum termo que faça relação com o tempo sob tensão (TUT), variável influente no que diz respeito ao estresse do treino. Porém, é possível relacionar o trabalho total com o TUT por meio do cálculo da potência que é dada em Watts (1 J/s = 1 W), que pode ser escrita de diversas formas: P = T/∆t ou P = F x d/∆t ou P = F x Vm, onde ∆t é a variação do tempo.9 Isto permite usar a fórmula da potência da forma mais conveniente possível, de acordo com o problema. Portanto, se 50kg são deslocados 0,7 m verticalmente em 2 segundos a potência gerada foi de 175 W (P = 350 J / 2 = 175 W).

Para compreender como os diferentes tipos de velocidade de fato influenciam nas adaptações hipertróficas, é necessário entender as relações de causa e efeito promovidos por esses ritmos e sua interferência no trabalho total do exercício. É comum ao quantificar o volume de um treinamento, considerar que as fases excêntrica e concêntrica têm o mesmo potencial de influência no trabalho do total de um exercício. Porém, quando comparamos estas fases através da 2ª Lei de Newton (Princípio Fundamental da Dinâmica) esta ideia de igualdade entre estas fases parece não fazer sentido. A 2ª Lei de Newton diz que quando várias forças atuam sobre um corpo, cada uma produz sua própria aceleração e a aceleração resultante é a soma vetorial das várias acelerações independentes. Ou seja, nos momentos de transição, da fase excêntrica para a concêntrica e da concêntrica para a excêntrica, há diferentes níveis de força aplicados durante a série de um exercício. Por exemplo, no exercício supino reto com barra livre, existem cinco momentos chave no que se refere às aplicações de força. Primeiro: quando a barra inicia seu movimento de descida a força aplicada é menor que a força peso da barra (FR = P – FN, sendo P > FN) para tirar o objeto do seu estado inercial de acordo com a 1ª e 2ª Lei de Newton. Segundo: quando a barra se move em velocidade constante a força resultante é nula (FR = 0, sendo FN = P), de acordo com a 1ª Lei de Newton (Princípio da Inércia) que diz que um corpo em repouso ou em movimento retilíneo uniforme tende a permanecer nesse estado se a força resultante sobre ele é nula. Este caso se aplica no momento em que se executa a fase excêntrica e concêntrica quando se estipula previamente quanto tempo durará cada fase. Terceiro: quando a barra está terminando o movimento de descida é necessário aplicar uma força maior que a força peso para que a barra pare (FR = FN – P, sendo FN > P). Quarto: quando barra está iniciando o movimento de subida é necessário aplicar uma força suficientemente maior que a força peso para deslocar a barra para cima (FR = FN – P, sendo FN > P). Quinto: quando a barra está terminando seu movimento de subida é necessário diminuir a força aplicada para que a barra pare (FR = P – FN, sendo P > FN). Essas variações de forças aplicadas têm impacto direto na quantidade do trabalho total realizado, revelando que existe variação de geração energia durante a série de um exercício.8,9

Mediante às mudanças nas forças aplicadas, a cadência tem papel fundamental nisso. Ainda dentro do exemplo do supino reto na barra livre, se na fase concêntrica a barra é erguida rapidamente isso implica que foi aplicado uma considerável quantidade de força/energia para tirar a barra da inércia, contudo, será preciso reduzir consideravelmente também a quantidade de força/energia para que a barra pare. E na fase excêntrica, se a barra desce rapidamente é um sinal que se deixou de aplicar uma considerável quantidade de força/energia na retirada da barra do seu estado inercial, porém, será preciso aplicar uma quantidade considerável de força/energia para que a barra pare novamente. Já numa cadência lenta, estes valores são inversamente proporcionais. E numa cadência variável, os valores serão de acordo com os tempos estipulados em cada fase.9

3.2 HIPERTROFIA MUSCULAR

A hipertrofia muscular é quando o volume da musculatura é aumentado devido ao aumento da área de secção transversa da fibra muscular.10 Segundo Kraemer e Fleck8, dá-se através do resultado do equilíbrio entre a degradação e a síntese de proteínas, e ocorre sempre quando a degradação é diminuída e/ou a síntese é aumentada. Mas nem todas as fibras musculares têm o mesmo potencial de hipertrofia. Seu aumento depende do tipo da fibra muscular e do padrão de recrutamento.11 Kraemer e Fleck8 sugerem que as fibras do tipo II têm maior potencial de hipertrofia devido à diferença nos mecanismos de síntese proteica dos dois tipos de fibras; as fibras do tipo I dependem de uma redução maior na degradação proteica, ao passo que as de tipo II aumentam a síntese proteica com mais expressão, o que facilita a hipertrofia. Estas fibras têm cinética de cálcio mais rápida, velocidade de encurtamento mais rápidas e capacidade de gerar mais potência que as fibras musculares do tipo I.12 Contudo, as fibras do tipo I também possuem componentes que favorecem à hipertrofia, têm mais mionúcleos por volume de citoplasma, uma porcentagem maior de mionúcleos que pertencem a células satélites e uma maior taxa de adição de novos mionúcleos por acreção nuclear. Porém, existe uma relação inversa entre o tamanho da fibra muscular estriada e sua capacidade oxidativa. Essa relação implica que as fibras musculares, que são acionadas para aumentar simultaneamente sua massa/força (hipertrofia) e resistência à fadiga (capacidade oxidativa), aumentam essas propriedades (força ou resistência à fadiga) em menor grau em comparação com as fibras que aumentam apenas uma delas. O tamanho da fibra muscular e a capacidade oxidativa são determinados pelo equilíbrio entre a síntese de proteínas miofibrilares, biossíntese e degradação mitocondrial. O mecanismo de regulação do turnover proteico contrátil e metabólico mostra que a competição entre vias de sinalização para síntese de proteínas miofibrilares e proteínas associadas ao metabolismo oxidativo, isto é, o aumento da biogénese mitocondrial através da proteína quinase ativada por AMP, atenua a taxa de síntese proteica e que os níveis de E3-ligases e degradação proteica são relativamente mais elevados em fibras altamente oxidativas. Isto pode explicar porque apesar da alta capacidade de síntese proteica em fibras altamente oxidativas, essas fibras permanecem relativamente pequenas. No entanto, permanece um desafio entender os mecanismos pelos quais a atividade contrátil, carga mecânica, estado de energia celular e tensão de oxigênio celular afetam a regulação do tamanho da fibra. Portanto, é preciso conhecer a contribuição relativa das vias de sinalização para o turnover proteico em fibras de alta e baixa oxidação.13

Para que a hipertrofia ocorra, vias anabólicas são necessárias no processo. A via mTOR age como um regulador de processos anabólicos ao nível celular, ou seja, tem papel fundamental no crescimento muscular.14 Além disto, muitos hormônios atuam na ativação das vias anabólicas como a testosterona, GH e IGF-1, sendo o IGF-1 o principal mediador extracelular do crescimento muscular por mediar a atividade do mTOR via fosfatidilinositol 3-cinase (PI3K) / Akt, hormônio estrategicamente importante e que promove a síntese de proteínas musculares e inibe os sinais catabólicos.15

Um mecanismo intracelular de hipertrofia muscular que vem sendo explorado nos últimos anos é a biogênese ribossomal. Após uma sessão de treinamento de força há um aumento significativo da expressão de RNA, o qual aproximadamente 80% é de RNA ribossomal (rRNA)16, sendo uma medida confiável de capacidade translacional, e o aumento desta capacidade vem demonstrando ter influência positiva importante no turnover proteico por aumentar a síntese proteica e diminuir a degradação.17 Porém, este processo funciona diferente das vias de sinalização associadas à hipertrofia que aumentam a eficiência translacional, pois neste caso o aumento da capacidade translacional é um processo lento que requer a prática contínua de treinamento, ou seja, é um mecanismo hipertrófico que funciona principalmente a longo prazo e que depende da assiduidade do praticante.18,19,20

O aumento da atividade das células satélites é outro mecanismo essencial para a promoção da hipertrofia. Estas pequenas estruturas, com alta densidade de material genético e que ficam paralelas às fibras musculares no espaço externo, entre a lâmina basal e o sarcolema, proliferam-se e se fundem entre si ou com fibras existentes diante de estímulos mecânicos e danos estruturais, formando novas células ou núcleos. Isto acelera o processo regenerativo e aumenta a síntese proteica pelas fibras obterem mionúcleos adicionais.10

3.3 CADÊNCIA LENTA VERSUS CADÊNCIA RÁPIDA

O emprego da cadência lenta tem por objetivo aumentar o tempo sob tensão dos músculos envolvidos através da redução da velocidade na execução do exercício. Em uma revisão de literatura feita por Lyons e Bagley21, classificou o método de repetição lenta com fase concêntrica e/ou fases de levantamento excêntrico com duração 2–6,5 segundos e com repetição total duração entre 4 e 13 segundos. E definiu o método super-lento com pelo menos uma fase de um levantamento (concêntrico e excêntrico) com duração de 10 segundos, ou um levantamento total duração de 14 segundos. 

Já a cadência rápida é aplicada quando o praticante quer gerar a maior quantidade energia possível num curto espaço de tempo, geralmente usada quando o objetivo é trabalhar com cargas maiores que as habituais. E o tempo de duração de uma repetição neste caso é feito em até 4 segundos.21

Como já mencionado neste artigo, os resultados são incongruentes no que se refere às comparações dos resultados dos artigos que colocaram a cadência lenta contra a rápida. Desse modo, é importante entender as condições nas quais os estudos foram feitos para estabelecer critérios de comparações onde seja possível identificar padrões de adaptações hipertróficas nas cadências lentas e rápidas. Para isto, a tabela descrita abaixo apresenta as principais características encontradas nos artigos, com métodos e resultados de alguns estudos selecionados:

ArtigoPopulaçãoInstrumento de coletaProtocoloFalha muscularResultado
Tanimoto et al. (22)36 homens saudáveis e destreinadosUltrassonografiaLST: 3 x 8 a 55-60% de 1 RM, cadência 3/0/3/0; 
HN: 3 x 8 a 80-90% de 1RM, cadência 1/0/1/0.
LST: SimHN: SimNão houve diferença significativa no aumento da espessura muscular entre os grupos.
Martins-Costa (23)33 homens que não realizavam treinamento de força pelo menos nos últimos seis mesesRessonância MagnéticaProtocolo A: 3 a 4 x 12 a 50-55% de 1 RM, cadência 1,5/0/1,5/0; 
Protocolo B: 3 a 4 x 6 a 50-55% de 1 RM, cadência 3/0/3/0.
Protocolo A: SimProtocolo B: SimNão houve diferença significativa no aumento da espessura muscular entre os grupos.
Schuenke et al. (6)34 mulheres não treinadasBiópsiaSS: 3 x 6-10 a 40-60% de 1 RM, cadência 4/0/10/0; 
TS: 3 x 6-10 a 80-85% de 1 RM, cadência 2/0/1/0.
SS: SimTS: SimGrupo TS obteve ligeira vantagem no que diz respeito à hipertrofia, principalmente nas fibras tipo IIA.
Rana et al. (24)34 mulheres jovens não treinadasBod PodLV: 3 x 6-10 a 40-60% de 1RM, cadência 4/0/10/0; 
TS: 3 x 6-10 a 80-85% de 1 RM, cadência 1-2/0/1-2/0.
LV: SimTS: SimNão houve diferença significativa no aumento da espessura muscular entre os grupos.
Claflin et al. (25)63 indivíduos, homens e mulheres jovens e idosos não treinadosBiópsiaBaixa velocidade: 2 x 10 e 1 x falha (5-15), cadência do quadril 30–90°/s (2-6 segundos por repetição), do joelho 20–40° d/s (4-8 segundos por repetição); 
Alta velocidade: 2 x 10 e 1 x falha, cadência do quadril 250–350°/s (0.5-0.66 segundos por repetição, do joelho 100–160°/s (1-2 segundos por repetição).
Baixa velocidade: SimAlta velocidade: SimHipertrofia nas fibras do tipo II independente do andamento.
Watanabe et al. (26)40 indivíduos, 20 homens e 20 mulheres idosos e sedentários UltrassonografiaLST: 3 x 8 a50% 1RM, cadência3/0/3/1; 
LN: 3 x8 a 50% 1RM, cadência1/0/1/1.
LST: NãoLN: NãoMaior hipertrofia no grupo LST.
Usui et al. (27)16 homens jovens e ativosUltrassonografiaLST: 3 x 10 a50% 1RM, cadência3/0/3/0; 
LN: 3 x10 a 50% 1RM, cadência1/0/1/1.
LST: NãoLN: NãoMaior hipertrofia no grupo LST.
Gillies et al. (28)28 mulheres com experiência em treinamentoBiópsiaLE: 2 x 6-8 RM, cadência 2/1/6/1; 
LC: 2 x 6-8 RM, cadência 6/1/2/1.
LE: SimLC: SimMaior hipertrofia no grupo LC, principalmente nas fibras tipo IIA.
Pereira et al. (29)12 homens não treinadosUltrassonografiaSS: 3 x 8 RM, cadência 1/0/4/0;
FS: 3 x 8 RM, cadência 1/0/1/0.
FS: Sim.SS: Sim.Maior hipertrofia no grupo SS.

4 DISCUSSÃO

Com base na revisão realizada, podemos perceber que, mesmo com resultados conflitantes, existem padrões que nos permite ter uma dimensão de quais serão os efeitos hipertróficos de determinados ritmos de execução de exercícios. Apenas os estudos de Watanabe et al.26 e Usui et al.27 que demonstraram haver maior hipertrofia para o ritmo lento, entretanto, não houve um controle para que os praticantes chegassem à falha muscular, isto pode ser um indicativo de que quando o exercício não leva a falha muscular é mais interessante fazer em velocidade lenta para que o tempo sob tensão (TUT) maior gere o estresse necessário para que ocorra hipertrofia. Além disso, tanto a cadência rápida quanto a lenta foram realizadas com a mesma carga e repetições (3 x 8 a 50% de 1RM). Carga propicia para que haja uma melhor resposta à protocolos com maior TUT, pois as adaptações benéficas de desenvolvimento humano ocorrem em resposta às tensões aplicadas em níveis superiores a um certo valor de limiar, mas dentro dos limites de tolerância e segurança.30 E apenas 8 repetições a 50% de 1RM em cadência tradicional ou rápida, não há tempo hábil ou tensão suficiente para gerar grande estresse. ACSM31 recomenda neste caso a aplicação de entorno 70-85% de 1 RM.

Os estudos de Tanimoto et al.22 e Martins Costa23 apresentaram resultados similares na hipertrofia entre os grupos e por mais que os protocolos colocados em cheque (6 segundos vs 2 segundos por repetição e 6 segundos vs 3 segundos por repetição, respectivamente) foram separados por cadência lenta e rápida, a hipertrofia semelhante nestes estudos pode ser explicada devido à variedade de fibras híbridas do tipo II que são: IIC, IIAC, IIAD, IIDA, IIBD e IIDB.32,33   As fibras híbridas resultam da coexpressão de pares específicos de isoformas da MHC (Cadeia de Miosina Pesada). A quantidade de fibras é variável para cada músculo, com a quantidade de fibras puras e híbridas juntas, influenciando na dinâmica do tecido. As fibras puras são formadas por MHC específicas, que são dos tipos I, IIA, IID (também chamada de IIx) e IIB.32,33 E como as fibras possuem proporções de reservas energéticas e padrão de recrutamento diferentes34,11, isto implica em limiares de estresse diferentes. E a ampla gama de combinações possíveis que envolvem as fibras do tipo II, abre espaço para se estimular as fibras do tipo II, que possuem maior potencial de hipertrofia, com diversas velocidades e cargas diferentes. Os resultados que Claflin et al.25 obtiveram reforçam esta ideia, pois comparou a duração de três protocolos com tempos de duração de repetição diferentes: 4-8 segundos, 2-6 segundos e 1-2 segundos. Que resultou em hipertrofia das fibras do tipo II independente do andamento.

Entretanto, parece haver um tempo de duração do exercício ideal para favorecer ao máximo possível a hipertrofia. Schuenke et al.6 e Rana et al.24 aplicaram métodos quase idênticos em seus estudos, com número de séries, repetições, cargas e o grupo enquadrado na cadência lenta (4/0/10/0) iguais. Sendo a única diferença o grupo de cadência rápida (2/0/1/0 e 1-2/0/1-2/0, respectivamente). Schuenke et al.6 concluíram que o grupo TS obteve ligeira vantagem em relação à hipertrofia, principalmente nas fibras tipo II, mas Rana et al.24 concluíram que não há diferença significativa entre os grupos em relação à hipertrofia, porém, o instrumento de coleta utilizado por Rana et al.24 foi Bod Pod e de Schuenke et al.6 foi biópsia, determinando como foi o processo de hipertrofia de cada fibra muscular. Mediante a isto, podemos inferir que a partir de 14 segundos de duração por repetição no exercício de treinamento resistido, aumenta-se o risco de não se estimular adequadamente as fibras do tipo II e, consequentemente, aumenta-se o risco de perder rendimento.

Gillies et al.28 e Pereira et al.29 tinham por objetivo analisar os efeitos das fases concêntrica e excêntrica na hipertrofia através da manipulação das cadências nestas fases. Por mais que o estudo de Gillies et al.28 pareceu demonstrar um melhor aproveitamento quando se enfatiza a fase concêntrica e Pereira et al.29 justamente ao contrário, quando analisamos ambos os estudos sob a perspectiva de alguns conceitos, estes estudos parecem não se conflitarem tanto. Os dois estudos aplicaram RMs bem próximas, Gillies et al.28 aplicaram de 6-8 RMs e Pereira et al.29 8 RMs, mas os tempos de duração de cada repetição foi bem diferente (LC e LE 10 segundos; SS 5 segundos e FS 2 segundos, respectivamente). De acordo com estas informações, podemos deduzir que a carga aplicada em cada estudo foi diferente (carga de Pereira et al.29 maior que de Gillies et al.28) para que se chegue à falha muscular dentro das RMs prescritas com estes tempos de duração estipulados. Mediante a isto, podemos perceber que nos dois casos a fase excêntrica possui papel chave. Durante a fase excêntrica é o momento do exercício onde se tem maior dano muscular35 e estresse explica a vantagem do grupo que perdurou a fase excêntrica no estudo de Pereira et al.29, que aplicou uma carga maior que no estudo de Gillies et al.28, gerando tensão mecânica maior que o grupo que perdurou a fase excêntrica no estudo de Gillies et al.28, isto mostra que para que se tenha um bom aproveitamento da fase excêntrica é necessário aplicar uma carga adequada. Ao analisar o estudo de Gillies et al.28, podemos notar que o protocolo que gera maior tensão mecânica na fase excêntrica não é que perdura mais esta fase, mas sim o protocolo que possui esta fase mais curta. Isto pode ser explicado devido ao fato de que, ao realizar o alongamento de forma mais rápida, a quantidade J/s (Watts) absorvida pelo músculo é maior mesmo que a carga de trabalho total seja a mesma, de acordo com a fórmula da potência P= T/∆t.9 Ou seja, realizar a fase excêntrica de forma rápida também é uma forma de gerar tensão necessária para que ocorra o dano muscular. As conclusões de Shepstone et al.36 reforçam esta ideia, pois observaram maiores ganhos hipertróficos nas fibras do tipo II no treinamento excêntrico rápido do que para o treinamento excêntrico lento. Mas os resultados de Pereira et al.29 mostraram que além de uma carga ideal, também é necessário uma duração interessante da fase excêntrica. Assim, podemos notar que o modo de como gerar tensão e estresse num treinamento resistido não é intuitivo. Portanto, mais estudos comparando e analisando essas condições não intuitivas são necessários.

Uma questão importante a ser analisada também é a contribuição dos sistemas energéticos durante o exercício físico, visto que eles têm relação direta com as fibras musculares. Gastin37 propôs uma estimativa de tempo que cada sistema energético contribui durante o exercício físico máximo. E os valores tem boa relação com os resultados dos artigos incluídos neste trabalho, em relação às proporções de contribuição dos sistemas energéticos, e por consequência a demanda de cada tipo de fibra muscular, e seus potenciais de hipertrofia, conforme tabela a seguir:

ArtigosTempo de duração por série dos grupos (seg)% Anaeróbica Gastin (37)% Aeróbica*Gastin (37)Falhar Muscular
Tanimoto et al. (22)485545Sim
168218Sim
Martins-Costa (23)366337Sim
366337Sim
Schuenke et al. (6)84-14044-2756-73Sim
18-3082-7318-27Sim
Rana et al. (24)84-14044-2756-73Sim
24-4073-6327-37Sim
Claflin et al. (25)40-8063-4437-56Sim
20-6082-5518-45Sim
10-2094-826-18Sim
5-6.6946Sim
Watanabe et al. (26)565545Não
247327Não
Usui et al. (27)605545Não
307327Não
Gillies et al. (28)60-8055-4445-56Sim
60-8055-4445-56Sim
Pereira et al. (29)406327Sim
168218Sim

* Aproximadamente ± 10% no nível de previsão de 95%

Isto demonstra que além de levar em consideração o tempo de duração de cada repetição, também é necessário considerar o tempo de duração da série de repetições, para que haja uma boa estimativa de qual sistema energético está sendo priorizado naquele momento, que consequentemente irá refletir no tipo de fibra que estará sendo mais exigida dentro daquele período.

5 CONCLUSÃO

Ao investigar quais são as adaptações hipertróficas provenientes das velocidades alta e baixa na execução dos exercícios no treinamento de força e analisar em quais condições os métodos foram aplicados, conclui-se que até 14 segundos de duração por repetição se obtém uma estimulação e hipertrofia satisfatórias das fibras do tipo II, desde que o exercício chegue à falha muscular e possua volume e carga adequados, e partir deste tempo de duração, aumenta-se o risco de cair o potencial de estimulação e hipertrofia de tais fibras e começa a priorizar estes fenômenos nas fibras do tipo I.

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