REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247271317
David Freitas dos Santos¹
Nathália Mota Epifânio²
RESUMO- A inclusão de arte na psicoterapia como um método de tratamento visa a melhoria da saúde e da vida, principalmente naqueles que experimentam desordens psicológicas. Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da arteterapia no trabalho em saúde mental. Para isto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa sobre os dados. Os principais resultados indicaram que a arteterapia melhora a autoestima, reduz a ansiedade e os sintomas depressivos, e melhora a capacidade de expressar emoções e uma identidade coerente. Devido às novas possibilidades que foram oferecidas para reconfigurar e elaborar traumas e conflitos internos relacionados às suas experiências emocionais, os participantes puderam estar envolvidos em processos. A arte é um meio de comunicação simbólica que, segundo Lev Vygotsky, media a relação do indivíduo com o ambiente cultural e social.
PALAVRAS-CHAVE: Expressão Artística, Terapia Transdisciplinar, Bem-estar Subjetivo.
ABSTRACT – The inclusion of art in psychotherapy as a treatment method aims to improve health and life, especially for those experiencing psychological disorders. This study aimed to evaluate the effectiveness of art therapy in mental health work. To achieve this, a bibliographic research with a qualitative approach to the data was conducted. The main results indicated that art therapy improves self-esteem, reduces anxiety and depressive symptoms, and enhances the ability to express emotions and a coherent identity. Due to the new possibilities offered to reconfigure and elaborate traumas and internal conflicts related to their emotional experiences, the participants were able to engage in processes. Art is a means of symbolic communication that, according to Lev Vygotsky, mediates the individual’s relationship with the cultural and social environment.
KEYWORDS – Artistic Expression, Transdisciplinary Therapy, Subjective Well-being.
INTRODUÇÃO
O elo entre psicoterapia e arte reside no fato de que ambos têm a compreensão e a expressão da experiência humana como seu foco. A arte é uma liberação extremamente consciente e intuitiva, utilizada pelo emprego de emoção e compreensão em conjunto com a sensibilidade, imaginação e técnica para fornecer uma descrição intuitiva da realidade social e cultural. A inclusão de arte na psicoterapia como um método de tratamento visa a melhoria da saúde e da vida, principalmente naqueles que experimentam desordens psicológicas, onde a criatividade é o centro. A prática da arteterapia, através da expressão artística como uma estratégia de autodescoberta e transformação, transcende as disciplinas, de forma que a integridade do indivíduo é representada em seu percurso de vida, bem como em relação a si mesmo e ao mundo (Barros e Ferreira, 2016).
Nascida nos Estados Unidos da América na década de 1940, quando as primeiras experiências foram realizadas por Margaret Naumburg, a arteterapia tornou-se um campo autônomo de conhecimento, influenciado por correntes como a Psicanálise de Freud e Jung (Coqueiro, Vieira e Freitas, 2010). No Brasil, entre as figuras mais atuantes dessa corrente, a produção teórica que se seguiu à de Osório César e Nise da Silveira distingue-se pelo potencial terapêutico. A arteterapia, por ser quase inerentemente não-verbal, toma por pressuposto a complexidade e dinamicidade do ser humano, considerando as dimensões emocional, cultural, cognitiva, motora e socialmente ativa como intrinsecamente importantes para a saúde mental (Coqueiro, Vieira e Freitas, 2010).
A maioria das artes é produzida e consumida em massa na vida moderna; no entanto, há muito pouca produção a respeito de como a arte afeta o ser humano e como a arte possui várias funções a respeito da sociedade moderna. Na literatura rastreada para este estudo, verificou-se que há muito poucos estudos recentes relacionados à terapia pela arte ou à arte como uma intervenção de bem-estar. Dada a abundância de características artísticas na vida das pessoas, pode-se presumir que os artefatos culturais são dispositivos através dos quais uma série de demandas da existência são respondidas ou até mesmo “curadas”, por exemplo, a demanda por expressão, pertencimento e empoderamento. Sendo um recurso humanizador, a arte deve ser promovida por ações em políticas públicas que apoiem a criação de um ambiente no qual os artistas possam atuar como “curandeiros” em comunidades e as pessoas tenham acesso a artefatos e bens culturais.
Portanto, este estudo tem como objetivo geral investigar a eficácia da arteterapia e da arte na promoção do bem-estar. Os objetivos específicos incluem: integrar os conceitos da psicologia da arte de Vygotsky e Nise da Silveira, e por fim, avaliar os métodos utilizados nos estudos.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo narrativa com abordagem qualitativa (GIL, 2017), visando avaliar, a partir dos resultados de estudos já concluídos, a utilização da Arteterapia ou a arte como dispositivo terapêutico
A seleção dos artigos ocorreu na plataforma de pesquisa Periódicos CAPES, plataforma na qual abriga diversas revistas científicas como Pubmed, SciELO e DOAJ (Directory of Open Access Journals) e etc. Foram utilizados os descritores: “Arteterapia’’ OU ‘’Arte’’ E ‘’Saúde Mental’’ E ‘’Bem-Estar’’, A busca resultou em 30 artigos, dos quais 6 foram escolhidos. Os critérios de inclusão consideraram artigos publicados entre 2019 e 2024, em português. Artigos que não discorriam da utilização da Arteterapia ou arte como dispositivo terapêutico não foram selecionados.
Após a seleção dos artigos, procedeu-se à análise dos dados, utilizando o método de análise de conteúdo proposto por Minayo (2013). Ela divide-se em três etapas: Pré-análise: Nesta fase inicial, estabeleceu-se um contato inicial com o material, realizando a leitura dos resumos e conclusões de cada artigo para filtrar os estudos que respondem ao problema de pesquisa. Exploração do material: A segunda etapa consistiu na exploração detalhada dos artigos, realizando uma leitura completa para sintetizar os principais resultados obtidos. Tratamento dos resultados: A terceira etapa envolveu o tratamento dos resultados obtidos, associando-os, respaldando-os e discutindo com autores como Lev Vygotsky e Nise da Silveira com o objetivo de responder ao questionamento central da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No estudo de Andres et al (2020), intitulado “Arteterapia como opção não medicamentosa para pacientes internados em uma unidade hospitalar” relata uma experiência prática realizada em um hospital de pequeno porte no Rio Grande do Sul. Durante o período de setembro a outubro de 2019, 18 pacientes com doenças crônicas não transmissíveis participaram de sessões de arteterapia, que visavam proporcionar bem-estar, reduzir o estresse e a ansiedade, e humanizar o processo de hospitalização.
Nesse contexto, a arteterapia desempenha um papel crucial na humanização do cuidado, tornando a experiência de internação menos traumática e mais acolhedora. A prática de atividades artísticas, como a pintura de mandalas, mostrou-se eficaz em elevar a autoestima dos pacientes e promover interações sociais positivas, conforme observado no estudo relatado (Andres et al, 2020). A música ambiente utilizada durante as sessões também contribuiu para a concentração e o relaxamento dos participantes, criando um ambiente propício para a expressão criativa e emocional (Andres et al, 2020).
No artigo de Silva et al (2021), destacam-se as intervenções psicológicas e o uso da arteterapia para promover a saúde mental e a qualidade de vida dos pacientes em hemodiálise. A criação de livros autobiográficos foi utilizada como ferramenta para ressignificar a doença. Os benefícios observados incluíram melhora na qualidade de vida e na saúde mental dos pacientes, promoção do autoconhecimento, expressão emocional e criatividade, além do fortalecimento das habilidades de vida, como manejo do estresse, empatia e comunicação eficaz. A pesquisa utilizou uma metodologia qualitativa baseada em relatos e observações durante as sessões de arteterapia (Silva et al, 2021).
Essa abordagem ressoa com as práticas de Nise da Silveira, descritas em “Jung: Vida e Obra”. Nise, discípula de Jung, utilizava a arteterapia como método terapêutico. Ela acreditava no poder da expressão artística para acessar o inconsciente e promover a cura. Assim como no artigo de Silva et al. (2021), Nise da Silveira (2023) usava a arte para facilitar a expressão emocional e promover o bem-estar psicológico. A confecção de obras de arte pelos pacientes ajudava na ressignificação de suas experiências e na reconstrução de suas identidades, semelhante à criação dos livros autobiográficos (Silveira, 2023).
Por outro lado, em “Psicologia da Arte”, Lev Vygotsky enfatiza a importância da arte como meio de desenvolvimento psicológico e social. Ele vê a arte como uma forma de mediar a relação entre o indivíduo e o mundo, ajudando na internalização de experiências e no desenvolvimento cognitivo e emocional (Vigotski, 1999). No artigo, a arteterapia serve como uma ferramenta para os pacientes reinterpretarem suas vidas e lidarem melhor com suas condições de saúde, alinhado ao pensamento de Vygotsky sobre o papel da arte na construção do conhecimento e da identidade (Vigotski, 1999).
Assim, as abordagens descritas no artigo encontram eco nas práticas de Nise da Silveira e nas teorias de Vygotsky. Ambas as obras destacam o potencial terapêutico e desenvolvimento da arte, seja na promoção de saúde mental, como observado na prática de Nise, ou no desenvolvimento cognitivo e emocional, como discutido por Vygotsky. A arteterapia, ao oferecer um espaço seguro para a expressão criativa e a reflexão pessoal, facilita a ressignificação de experiências de vida, promovendo uma melhor qualidade de vida e bem-estar psicológico para os pacientes.
O artigo “Educação ético-estética em tempos de pandemia: conexões entre arteterapia e bem-estar humano” (Marcelino; Galina; Silva, 2021) reflete sobre a noção de bem-estar humano, promovendo a saúde e a adequação da vida social, especialmente em tempos de pandemia. Propõe a arteterapia no âmbito da educação ético-estética e das práticas integrativas e complementares em saúde como um referencial teórico e prático para promover o bem-estar das pessoas em tempos pandêmicos, destacando fraturas sociais marcadas pela desigualdade econômica e práticas excludentes e preconceituosas.
Os principais resultados indicam que a arteterapia desempenha um papel significativo na promoção da saúde mental e do bem-estar, ajudando os indivíduos a lidar com o estresse e a ansiedade exacerbados pela pandemia. Facilita a expressão emocional e criativa, permitindo que os indivíduos processem suas experiências e emoções de forma segura e construtiva. Além disso, a arteterapia é posicionada como uma prática integrativa que complementa os tratamentos convencionais, promovendo uma abordagem holística à saúde que inclui aspectos físicos, emocionais e espirituais (Marcelino; Galina; Silva, 2021).
A educação ético-estética promove a humanização do cuidado, tratando o ser humano em sua totalidade e oferecendo uma compreensão mais profunda das necessidades emocionais e psicológicas dos indivíduos. A proposta de uma transformação epistemológica sugere uma mudança na forma como a saúde e a educação são concebidas, defendendo uma abordagem mais sensível e integrada que considera a complexidade e a multidimensionalidade da experiência humana (Marcelino; Galina; Silva, 2021).
Do ponto de vista social, a arteterapia contribui para a redução das desigualdades ao promover práticas inclusivas e humanizadoras, oferecendo suporte especialmente às populações mais vulneráveis. Os resultados indicam que a arteterapia pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos participantes, promovendo bem-estar emocional e uma melhor adaptação às condições adversas (Marcelino; Gallina; Silva, 2021)
Em conclusão, o artigo destaca que a arteterapia, combinada com uma abordagem educativa ético-estética, oferece uma poderosa ferramenta para a promoção do bem-estar e da saúde mental em tempos de crise. As práticas integrativas e complementares, como a arteterapia, têm o potencial de transformar a forma como a saúde é abordada, promovendo uma visão mais holística e humanizada do cuidado.
O artigo de Pinto et al (2021) “Iluminar as Vidas Longas em Meio Rural: o Recurso à Música na Promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável” examina a utilização da música como uma ferramenta para promover o envelhecimento ativo e saudável em áreas rurais, especialmente durante a pandemia de COVID-19. Desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia de Marco de Canaveses, o artigo se concentra em dois projetos de saúde social baseados na arte musical: “Bairros Saudáveis: Incluir para Melhorar” e “Musicalidade”. Esses projetos visam fortalecer o senso de pertencimento na comunidade e melhorar a saúde mental dos idosos por meio da música (Pinto et al, 2021).
Os principais resultados destacam a promoção da saúde mental e do bem-estar. As atividades musicais ajudam a reduzir o isolamento social e o sentimento de solidão entre os idosos, proporcionando uma sensação de comunidade e suporte emocional. Além disso, a participação nessas atividades melhora a percepção dos idosos sobre sua qualidade de vida e bem-estar psicológico, aliviando sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Outro resultado significativo é o fortalecimento das relações sociais, aumentando a autoestima e a autoconfiança dos participantes (Pinto et al, 2021).
A música é integrada como terapia, sendo utilizada para estimular funções cognitivas, motoras e sensoriais, ajudando a manter ou melhorar a funcionalidade física e mental dos idosos. Os benefícios são multidimensionais, pois a música envolve componentes motoras, multissensoriais, memória, atenção e emoção, sendo considerada uma terapêutica holística que pode atrasar a deterioração cognitiva (Pinto et al, 2021).
O impacto positivo na comunidade é notável, com uma intervenção personalizada que leva em consideração as necessidades e características específicas dos idosos em contextos rurais. A música promove a inclusão social, mantendo ou aumentando os laços entre os idosos e a comunidade, contribuindo para uma vida mais ativa e participativa (Pinto et al, 2021).
O artigo conclui que a utilização da música como terapia tem um impacto significativo na promoção do envelhecimento ativo e saudável. A música não só proporciona benefícios cognitivos e emocionais, mas também fortalece os laços sociais e melhora a qualidade de vida dos idosos. A experiência da Santa Casa da Misericórdia de Marco de Canaveses demonstra que projetos baseados na arte musical podem ser uma estratégia eficaz para enfrentar os desafios do envelhecimento, especialmente em áreas rurais, promovendo um envelhecimento com mais qualidade (Pinto et al, 2021).
No contexto do artigo, as atividades musicais ajudam a reduzir o isolamento social e a solidão entre os idosos, proporcionando uma sensação de comunidade e suporte emocional. Este efeito pode ser compreendido à luz da teoria de Vygotsky sobre a emoção estética e a catarse (Vigotski, 1999). A música, ao facilitar a expressão emocional e a transformação das emoções negativas, promove a saúde mental e o bem-estar. A utilização da música como ferramenta terapêutica para estimular funções cognitivas, motoras e sensoriais é um exemplo claro da aplicação dos conceitos de (Vigotski, 1999).
A música, como forma de arte, tem uma capacidade única de evocar o que Vigotski (1999) chamou de reação estética e emoção estética. A reação estética à música envolve a percepção dos elementos musicais como melodia, harmonia e ritmo, que se combinam para criar uma experiência sensorial rica e emocionalmente carregada. Esta experiência não é apenas auditiva, mas envolve uma resposta psíquica que pode incluir memórias, imagens mentais e sentimentos profundos (Vigotski, 1999).
A emoção estética suscitada pela música é particularmente potente devido à sua capacidade de comunicar diretamente com o sistema emocional do cérebro. A música pode evocar uma ampla gama de emoções, desde alegria e excitação até tristeza e nostalgia, muitas vezes de maneira mais imediata e visceral do que outras formas de arte (Vigotski, 1999). Este impacto é amplificado pelo fato de que a música pode ser tanto uma experiência individual quanto coletiva, envolvendo ouvintes em uma dinâmica de reação estética compartilhada.
A música envolve componentes multissensoriais e emocionais que facilitam o processo de transformação emocional, no qual o autor utilizou o termo filosófico de Aristóteles chamado ‘’catarse’’ para teorizar este processo. A catarse é descrita como a transformação das emoções angustiantes e desagradáveis em seus opostos, resultando em uma purificação emocional, pois ela permite a descarga de energia nervosa de uma maneira útil e importante para o bem-estar psicológico (Vigotski, 1999). O conceito de catarse é central para entender como a arte, incluindo a música, exerce um efeito transformador sobre o indivíduo. A catarse é descrita como um processo de purificação emocional, onde as emoções intensas e conflitantes evocadas por uma obra de arte encontram uma resolução que resulta em um alívio psicológico. Vigotski (1999) vê a catarse como um fenômeno dinâmico, onde as emoções não são meramente experimentadas, mas são transformadas e resolvidas em um ponto culminante.
Projetos como o “Encontrão Cultural Digital” (Rhoden et al., 2022) demonstraram que eventos artísticos online foram essenciais para aliviar o estresse, a ansiedade e a depressão decorrentes do isolamento social, proporcionando uma plataforma para expressão e conexão emocional. Além disso, a arte promove a inclusão social ao criar oportunidades para que pessoas de diversas origens e habilidades participem e apreciem atividades culturais.
Esses eventos artísticos também fortalecem as comunidades, reunindo pessoas em torno de interesses culturais comuns, o que reforça os laços sociais e fomenta uma sensação de pertencimento e apoio mútuo, essenciais para o bem-estar coletivo. A participação em atividades artísticas estimula o autoconhecimento e a educação sensível, ajudando as pessoas a explorar suas emoções, pensamentos e experiências, promovendo uma maior compreensão de si mesmas e dos outros (Rhoden et al., 2022).
Além disso, a valorização da cultura local é um aspecto crucial desses projetos. Ao destacar e divulgar o trabalho de artistas locais, iniciativas como o “Encontrão Cultural Digital” enriquecem a vida cultural da comunidade e promovem o bem-estar dos artistas, proporcionando reconhecimento e suporte para suas criações. A arte digital e os eventos online ampliam significativamente o acesso à cultura, permitindo que um maior número de pessoas participe e se beneficie das atividades artísticas, algo que se mostrou particularmente vital durante a pandemia (Rhoden et al., 2022).
A prática e a apreciação da arte têm efeitos terapêuticos comprovados, auxiliando as pessoas a lidar com traumas, estresse e outras condições psicológicas. Atividades como música, teatro, artes plásticas e dança oferecem meios de expressão que podem ser profundamente curativos e revitalizantes. (Rhoden et al., 2022).
O artigo “Arteterapia como estratégia de cuidado em saúde mental no âmbito da atenção primária: um relato de experiência” explora a implementação da arteterapia como uma prática de cuidado em saúde mental na atenção primária, especificamente na sala de espera de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Rio Branco, Acre. Este estudo qualitativo descritivo, coordenado pelo programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Família e Comunidade (RMISF) da Universidade Federal do Acre, revela contribuições significativas da arteterapia para a promoção da saúde mental (Vale et al., 2021)
A arteterapia é destacada como uma ferramenta fundamental para a promoção do autoconhecimento e a expressão emocional. As atividades propostas, tais como pintura, desenho livre e construção de histórias coletivas, permitem aos participantes expressarem emoções e conflitos internos de maneira segura e criativa (Vale et al., 2021). Essa forma de expressão artística promove a catarse emocional, essencial para a manutenção da saúde mental dos usuários. Além disso, a arteterapia estimula funções cognitivas e motoras, proporcionando não apenas uma saída criativa, mas também contribuindo para a reabilitação e manutenção das capacidades cognitivas e motoras dos participantes (Vale et al., 2021).
Outro ponto relevante é o fomento da autonomia e protagonismo dos indivíduos. A participação ativa nas atividades arteterapêuticas incentiva os usuários a tomarem decisões sobre seu próprio cuidado de saúde, promovendo a corresponsabilidade pelo bem-estar. Esse engajamento fortalece o protagonismo dos indivíduos, permitindo que se tornem agentes ativos em seus processos de saúde e doença (Vale et al., 2021).
A facilitação de vínculos e socialização também é uma contribuição importante da arteterapia. A interação entre usuários, acompanhantes e profissionais de saúde durante as atividades artísticas cria um ambiente acolhedor e favorece a socialização, melhorando o clima da sala de espera e reduzindo a ansiedade relacionada ao tempo de espera. Essa dinâmica de interação promove um ambiente mais humanizado e acolhedor, essencial para a saúde mental dos usuários (Vale et al., 2021).
O uso da arteterapia no contexto da atenção primária à saúde destaca a importância de uma abordagem interprofissional. Integrada no programa de RMISF, a arteterapia demonstra a eficácia de práticas interdisciplinares, onde a colaboração entre diferentes profissionais de saúde contribui para um cuidado holístico e humanizado. Essa abordagem é crucial para a promoção da saúde mental, pois considera o indivíduo em sua totalidade, incluindo aspectos biológicos, sociais e psicológicos (Vale et al., 2021).
Entretanto, o artigo também aponta os desafios enfrentados na implementação da arteterapia, como a necessidade de recursos materiais e financeiros para a continuidade das atividades. A experiência revela a importância do suporte institucional para a sustentabilidade dessas práticas. A falta de recursos financeiros, que levou à interrupção das atividades, destaca a necessidade de financiamento adequado e suporte institucional para garantir a continuidade e expansão dessas iniciativas (Vale et al., 2021).
Uma reflexão central do estudo é a necessidade de superar o modelo biomédico tradicional, onde o saber médico é predominante, para um modelo mais holístico e integrador. No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), é essencial considerar o paciente em sua totalidade, incluindo contextos sociais, econômicos e psicológicos, para promover um cuidado integral e humanizado (Vale et al., 2021).
Em conclusão, o artigo “Arteterapia como estratégia de cuidado em saúde mental no âmbito da atenção primária: um relato de experiência” destaca a arteterapia como uma prática eficaz e humanizadora para a promoção da saúde mental na atenção primária. A integração de estratégias criativas e expressivas no cuidado de saúde mostra-se uma abordagem promissora, enfatizando a importância de um modelo de cuidado que valorize a subjetividade e a integralidade do indivíduo.
CONCLUSÃO
O presente estudo investigou a eficácia da arteterapia na promoção da saúde mental, analisando a literatura existente e destacando os principais benefícios observados. A arteterapia demonstrou ser uma intervenção eficaz na melhoria da autoestima, na redução da ansiedade e dos sintomas depressivos, além de promover a capacidade de expressão emocional e uma identidade coerente. Esses achados corroboram a ideia de que a arte atua como um meio de comunicação simbólica, facilitando a reconfiguração e elaboração de traumas e conflitos internos, conforme proposto por teóricos como Lev Vygotsky.
A revisão bibliográfica evidenciou que a arteterapia, ao ser integrada em ambientes clínicos e comunitários, não apenas humaniza o cuidado, mas também oferece uma abordagem holística à saúde mental, abordando dimensões emocionais, cognitivas, motoras e sociais. Estudos práticos, como os relatados por Andres et al. (2020) e Silva et al. (2021), mostraram a eficácia da arteterapia em contextos hospitalares e de hemodiálise, respectivamente, reforçando seu papel crucial na humanização do tratamento e na promoção do bem-estar subjetivo.
Além disso, a arteterapia foi identificada como uma prática inclusiva e integrativa, capaz de transformar a abordagem tradicional da saúde para uma mais sensível e integrada, que considera a complexidade e multidimensionalidade da experiência humana. A prática artística não apenas promove o bem-estar emocional, mas também facilita a socialização e a inclusão social, essencial para populações vulneráveis, especialmente em tempos de crise, como evidenciado pela pandemia de COVID-19.
Apesar dos benefícios destacados, a revisão também revelou lacunas na literatura, indicando a necessidade de mais estudos empíricos que explorem diferentes contextos e populações. É crucial que futuras pesquisas investiguem a eficácia da arteterapia em diversas faixas etárias, condições socioeconômicas e culturais, bem como sua aplicação em diferentes transtornos mentais. Estudos longitudinais que acompanhem os efeitos da arteterapia a longo prazo seriam valiosos para entender melhor seus impactos duradouros.
Além disso, é importante explorar a integração da arteterapia com outras modalidades terapêuticas e o desenvolvimento de novas metodologias que possam ampliar seu alcance e eficácia. Investigações sobre a formação de arteterapeutas e a implementação de políticas públicas que promovam o acesso à arteterapia em diferentes contextos sociais são fundamentais para a consolidação dessa prática como uma ferramenta essencial na promoção da saúde mental.
Em suma, este estudo reafirma o potencial terapêutico da arteterapia e a necessidade de um maior reconhecimento e investimento em pesquisas que possam expandir e aprofundar a compreensão de suas aplicações e benefícios. A promoção da arte como um recurso humanizador e transformador deve ser incentivada, proporcionando às pessoas acesso a meios criativos de expressão e cura, e contribuindo para um bem-estar psicológico e social mais amplo.
REFERÊNCIAS
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