ABERRANT INTERNAL CAROTID ARTERY IN CATASTROPHIC SURGERY: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10456930
Dantas Mageste Ferreira
Taianne Fiore Schumann
Jéssica Aguilar da Silva
Vitor de Deus da Rocha Ribeiro Gonçalves
Lano de Sousa Moreira
RESUMO
O trajeto aberrante da artéria carótida interna (ACI) petrosa no ouvido médio é uma anormalidade rara que caso não diagnosticada de forma correta pode trazer consequências graves (DAVY-CHEDAUTE; JEZEQUEL & JOUBAUD, 1991) . O objetivo do relato de caso é demonstrar que ao deparar com situações em que o quadro clínico de zumbido, vertigem associado com uma massa retrotimpânica esbranquiçada no exames otoscópico mimetizando colesteatoma, a suspeita clínica de trajeto aberrante ACI é necessária, de forma a evitar riscos iatrogênicos graves durante procedimentos otológicos.
Palavras-chave: Artéria carótida interna aberrante. Ouvido médio. Diagnóstico diferencial.
1 INTRODUÇÃO
A artéria carótida interna aberrante (ACIa) com trajeto em ouvido médio é raro, sendo a relação entre homens e mulheres, numa proporção de 5:1 em relação aos homens e no lado direito 2:1, em relação ao esquerdo (RIDDER; FRADIS & SCHIPPER, 2001).
Essa anormalidade embora seja em grande parte assintomática, quando sintomática segundo Ridder, Fradis & Schipper (2001) apresenta com zumbido, hipoacusia, vertigem, otalgia, perda auditiva tais manifestações são pouco específicas, dessa forma o seguinte relato de caso demonstra que basear o diagnóstico e o tratamento com quadro clínico apenas, pode levar situações cirúrgica devastadora.
2 APRESENTAÇÃO DO CASO
R.M.E, sexo feminino, 22 anos, queixando de hipoacusia, zumbido e otalgia na orelha direita que teve inicio em julho de 2023. Em consulta com otorrino, otoscopia revelou imagem sugestiva de colesteatoma sendo indicado tratamento cirúrgico. Durante a timpanotomia exploradora paciente evoluiu com sangramento e choque hemorrágico, sendo solicitado auxílio da equipe de neurocirurgia. Optado por tamponamento da lesão com gelfoam e fáscia muscular, no pós-operatório houve melhora do choque hemorrágico sem novas complicações. Diante do ocorrido paciente foi encaminhado ao ambulatório de neurorradiologia intervencionista para investigação de massa vascular em ouvido direito.
Realizado exame neurológico sem alterações,solicitada propedêutica com tomografia computadorizada (TC) de crânio em fase óssea, e angiorressonância (angio-RM) de vasos cerebrais. Os cortes da TC de crânio mostraram uma massa de tecido mole na cavidade timpânica (Figura 1), e em angio-RM 3D TOF de vasos cerebrais ACI apresenta com trajeto mais posterior e lateral, angula-se agudamente para baixo ao nível do canalículo timpânico inferior no qual está estreitado neste ponto (Figura 2). Fechando o diagnóstico o diagnóstico de ACI aberrante no segmento, optado com conduta por acompanhamento radiológico e orientação imprescindíveis quanto ao risco de procedimento nesse ouvido.
Figura 1: TC de crânio corte axial setas brancas mostrando uma massa de tecido mole no ouvido médio.
Figura 2: Angio-RM 3D TOF incidência submentovértice mostrando ACIa direita (seta curva branca). Compare o tamanho e a posição anormal da ACIa à ACI normal, à esquerda (setas brancas pequenas). Note o estreitamento da ACIa quando passa pelo canalículo timpânico inferior.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A incidência ACIA é rara, segundo Botma et al. (2000) 1% na população geral, com apresentação em geral assintomática. Quando essa anormalidade está presente e não é lembrada, eventualmente pode ocorrer diagnóstico equivocado de otite média, colesteatoma ou glomus timpânico. Quando sintomático zumbido pulsátil, hipoacusia, vertigem e perda da audição progressiva podem ocorrer (VIANA et al., 2003).
Nessa anormalidade a artéria entra no osso temporal, posteriormente ao meato acústico externo, ascendendo entre o canal facial e o bulbo jugular, e então angula agudamente na cavidade do ouvido médio (WILLINSKY et al., 1990). Alguns investigadores postulam que a ACI aberrante representa um subdesenvolvimento ou regressão anormal da ACI intrapetroso durante a embriogênese do primeiro e segundo arcos branquiais resultado em anastomose entre a artéria carótida-timpânica e uma artéria timpânica inferior dilatada no interior do ouvido médio (SINNREICH et al., 1984).
Os sinais e sintomas podem não diferenciar de outras patologias da orelha média tais como glomus timpânico, colesteatoma, otite secretora, fístulas durais do seio cavernoso, bulbo jugular anormalmente alto, dolicoectasia basilar como mostrado na literatura (QING & LINTHICUM, 1998). O diagnóstico deve ser firmado por exames radiológicos. A ACIa é definida pelos seguintes achados: massa intratimpânica, canalículo timpânico inferior alargado, ausência do segmento vertical da ACI e da cobertura óssea da porção timpânica da artéria segundo MCELVEEN et al. (1986). Porém a TC de crânio em alguns casos, não consegue diferenciar a ACIa do tumor glômico, o qual caracteriza-se por uma massa vascular com parede óssea íntegra (REMLEY et al., 1990). Portanto um exame vascular, angiografia de vasos cerebrais ou angio-RM deve ser solicitado (BOTMA et al., 2000) .
O tratamento é controverso na literatura, nos casos assintomático, diagnosticados ao acaso o tratamento conservador é uma boa opção além de orientação proibitiva da manipulação da orelha média (COHEN & BRIANT, 1981). Já em pacientes sintomáticos o tratamento pode ser instituído de forma a reduzir os sintomas. Dentre as técnica cirúrgica descritas na literatura, consiste no princípio da separação da ACIa e dos componentes da orelha média utilizando fáscia muscular, cera para osso ou lâmina de silicone (RUGGLES & REED, 1972;VALVASSORI & BUCKINGHAM, 1974).
4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em patologias na orelha média, hipóteses etiológicas devem ser levantadas, incluindo artéria carótida interna aberrante. Extensão propedêutica com TC e RM de crânio e exames vasculares tais como angio-RM e angiografia cerebral devem ser realizadas, visto que diagnósticos baseados em apenas dados clínicos, como o caso apresentado pode levar a intervenção cirúrgica com situações catastróficos durante manipulação da orelha média.
REFERÊNCIAS
DAVY-CHEDAUTE, F.; JEZEQUEL, J. A.; JOUBAUD, F. [Abnormalities of the intrapetrous internal carotid artery]. Annales d’oto-laryngologie et de chirurgie cervico faciale : bulletin de la Societe d’oto-laryngologie des hopitaux de Paris, [s.l.], v. 108, no 6, p. 349–53, 1991. ISSN: 0003-438X.
RIDDER, G. J.; FRADIS, M.; SCHIPPER, J. Aberrant Internal Carotid Artery in the Middle Ear. Annals of Otology, Rhinology & Laryngology, [s.l.], v. 110, no 9, p. 892–894, 2001. ISSN: 0003-4894, DOI: 10.1177/000348940111000915.
BOTMA, M. et al. Aberrant internal carotid artery in the middle-ear space. The Journal of Laryngology & Otology, [s.l.], v. 114, no 10, p. 784–787, 2000. ISSN: 0022-2151, DOI: 10.1258/0022215001903924.
VIANA, C. et al. Artéria carótida interna aberrante na orelha média. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, [s.l.], v. 69, no 6, p. 846–849, 2003. ISSN: 0034-7299, DOI: 10.1590/S0034-72992003000600019.
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MCELVEEN, J. T. et al. Aberrant Internal Carotid Artery: Classic Findings on Computed Tomography. Otolaryngology–Head and Neck Surgery, [s.l.], v. 94, no 6, p. 616–621, 1986. ISSN: 0194-5998, DOI: 10.1177/019459988609400615.
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