CARDIAC ARRHYTHMIA IN BRAZIL: AN ANALYSIS OF HOSPITAL ADMISSIONS FROM 2019 TO 2023
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502182050
Gabriella de Lima Peres1, Maria Gabriela Companhoni2, Isadora Freitas Del Castanhel3, Dandara Virginia Guia Semedo Sales4, Gustavo Palaro Albano Bezerra5, Paulo Menna Barreto Pompeo de Barros6, Gustavo Anzolin Alves7, Ana Clara França Alves8, Lucas Rosal Silveira Vale9, Maite Kasumi Sato Manrique10
RESUMO: Introdução: As arritmias cardíacas são distúrbios do ritmo cardíaco que podem comprometer a função de bombeamento do coração, sendo causadas por anormalidades no sistema de condução elétrica. Apesar de muitos pacientes serem assintomáticos, sintomas como palpitações, tontura e falta de ar são comuns. A relevância clínica das arritmias se destaca pelo seu impacto na qualidade de vida e pelo ônus sobre os sistemas de saúde. Objetivos: Analise das internações hospitalares por arritmia cardíaca no Brasil. Metodologia: Trata-se de estudo transversal, descritivo e retrospectivo, com coleta de dados retirado do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) disponíveis na plataforma DATASUS, referentes às internações por arritmia cardíaca do período de 2019 a 2023. A análise dos dados foi categorizada por ano, gênero, etnia, faixa etária, região geográfica e caráter de atendimento. Resultados: Este estudo analisou dados de internações por arritmia cardíaca no Brasil entre 2019 e 2023, registrando um total de 283.970 casos. O número mais alto de internações ocorreu em 2023 (74.492), ano que também registrou a maior taxa de incidência (36,7/100.000 habitantes) e o maior número de óbitos (9.067). A região Sudeste teve a maior incidência, enquanto o Centro-Oeste apresentou a maior taxa de mortalidade. A prevalência foi maior entre homens, pessoas brancas e idosos, especialmente entre 70 e 79 anos. Além disso, 81% das internações ocorreram em caráter de urgência, evidenciando a gravidade da condição. Conclusão: Os achados sugerem desigualdades regionais na distribuição e no atendimento das arritmias, apontando para a necessidade de políticas públicas que priorizem a prevenção, o diagnóstico precoce e o acesso equitativo ao tratamento. O estudo reforça a importância da conscientização sobre arritmias cardíacas para reduzir sua morbimortalidade e o impacto no sistema de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças cardiovasculares; Arritmia Cardíaca; Internações Hospitalares.
ABSTRACT: Introduction: Cardiac arrhythmias are rhythm disturbances that can impair the heart’s pumping function, primarily caused by abnormalities in the electrical conduction system. While many patients remain asymptomatic, symptoms such as palpitations, dizziness, and dyspnea are common. The clinical significance of arrhythmias is highlighted by their impact on quality of life and the burden they impose on healthcare systems. Objectives: To analyze hospital admissions due to cardiac arrhythmia in Brazil. Methods: This is a cross-sectional, descriptive, and retrospective study, based on data extracted from the Hospital Information System (SIH/SUS), available on the DATASUS platform, regarding hospital admissions for cardiac arrhythmia from 2019 to 2023. Data analysis was categorized by year, sex, ethnicity, age group, geographic region, and type of hospital admission. Results: This study analyzed data on hospitalizations for cardiac arrhythmia in Brazil from 2019 to 2023, totaling 283,970 cases. The highest number of admissions occurred in 2023 (74,492), which also recorded the highest incidence rate (36.7 per 100,000 inhabitants) and the highest number of deaths (9,067). The Southeast region had the highest incidence, whereas the Central-West region exhibited the highest mortality rate. The prevalence was higher among males, White individuals, and older adults, particularly those aged 70–79 years. Additionally, 81% of hospitalizations occurred as emergency admissions, underscoring the severity of the condition. Conclusion: The findings suggest regional disparities in the distribution and management of arrhythmias, highlighting the need for public policies that prioritize prevention, early diagnosis, and equitable access to treatment. This study reinforces the importance of raising awareness about cardiac arrhythmias to reduce their morbidity, mortality, and overall impact on the healthcare system.
KEYWORDS: Cardiovascular diseases; Cardiac Arrhythmia; Hospital Admissions.
1. INTRODUÇÃO
As arritmias cardíacas representam um dos principais distúrbios do funcionamento do coração, muitas vezes não devido a alterações no músculo cardíaco em si, mas a anormalidades no ritmo cardíaco. Essas irregularidades podem comprometer a sincronia entre os átrios e os ventrículos, prejudicando a função de bombeamento do coração. As principais causas das arritmias estão associadas a disfunções no sistema de condução elétrica cardíaco, incluindo ritmicidade anormal do marca-passo, deslocamento do marca-passo para outro ponto do coração, bloqueios na propagação dos impulsos, vias de transmissão anômalas e geração espontânea de impulsos anormais (GUYTON; HALL, 2011).
O coração humano é essencialmente controlado pelo nó sinoatrial, que gera os impulsos elétricos que se propagam através de vias de condução especializadas até o nó atrioventricular, onde ocorrem retardos antes da transmissão para o miocárdio ventricular por meio do sistema His-Purkinje (LUCIANO et al., 2011). Quando ocorrem anormalidades, os pacientes frequentemente relatam palpitações e podem perceber uma alteração na frequência dos batimentos cardíacos. Outros sintomas relacionados incluem fraqueza, falta de ar, tontura, desmaios e, ocasionalmente, dor no peito. É importante notar que muitos pacientes não apresentam sintomas evidentes, fazendo com que a arritmia seja descoberta apenas durante exames de rotina (MUNDIM et al., 2023).
Dada a gravidade das arritmias, o reconhecimento e a compreensão de sua epidemiologia são fundamentais para a implementação de estratégias eficazes de tratamento. Estudos indicam que as arritmias cardíacas não apenas afetam a qualidade de vida dos pacientes, mas também representam uma carga significativa para os sistemas de saúde, especialmente em contextos de emergência (DE LIMA et al., 2021). A análise do perfil de internações hospitalares revela a diversidade de fatores que influenciam a prevalência e a gravidade das arritmias, sendo crucial para o desenvolvimento de abordagens de tratamento mais adequadas e personalizadas (SCANAVACCA, 2012).
2. MÉTODOS
O presente estudo apresenta um delineamento descritivo, quantitativo e retrospectivo, fundamentado na análise de dados secundários. Seu objetivo foi traçar o perfil epidemiológico das internações hospitalares associadas a arritmias cardíacas, conforme os registros do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), acessados por meio da plataforma DATASUS.
A amostra incluiu pacientes internados entre janeiro de 2019 e dezembro de 2023, abrangendo todas as regiões do território brasileiro. Foram identificadas as taxas de internação e mortalidade, com os resultados apresentados por meio de gráficos e tabelas que distribuíram os indicadores de incidência e mortalidade por ano de hospitalização e regiões geográficas. Além disso, analisaram-se os dados de hospitalizações segundo variáveis como cor, gênero, faixa etária e tipo de atendimento prestado.
A fundamentação teórica e a interpretação dos resultados foram embasadas em uma revisão bibliográfica, realizada nas bases de dados SciELO, PubMed e Latindex, utilizando os descritores “Arritmia Cardíaca” e “Fisiopatologia”. As análises estatísticas e a construção de gráficos foram realizadas com o suporte do software Microsoft Excel 2016 e disponibilizados em tabelas a partir do programa Microsoft Word 10.
Por se tratar de dados de acesso público e utilizados de forma secundária, o estudo não demandou submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme as diretrizes estabelecidas na resolução n° 510/2016.
3. RESULTADOS
No Brasil foram registradas 283.970 internações por arritmia cardíaca ocorridos entre 2019 e 2023. O menor número de casos foi registrado no ano de 2021 (47.329) e o maior número de casos ocorreu em 2023 (74.492) concomitantemente com o maior número de óbitos (9.067) por arritmias cardíacas. As maiores taxas de incidência foram registradas nos anos de 2023 (36,7/100.000 habitantes), 2022 (28,3) e 2019 (27,7). As taxas médias de incidência e mortalidade foram 27,96 e 12,11/100.000 habitantes. (Tabela 1).
Tabela 1- Distribuição do número absoluto de internações e óbitos nos cinco anos analisados (2019-2023), além do índice de incidência e taxa de mortalidade.
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1Valor correspondentes a grupos de 100.000 habitantes. 2Média aritmética. Fonte: autoria própria
Dentre as Regiões, a região Sudeste apresentou os maiores índices de incidência (69,94/100.000 habitantes), e a região Centro-Oeste a maior taxa de mortalidade (28,02/100.000 habitantes). Já a região Norte foi a que apresentou os menores valores de incidência (4,53/100.000 habitantes) e Nordeste a de taxa de mortalidade (10,17/100.000 habitantes). (Tabela 2)
Tabela 2 – Distribuição do número absoluto de internações e óbitos nas cinco regiões brasileiras entre 2019-2023, além do índice de incidência e da taxa de mortalidade.
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1Valor correspondentes a grupos de 100.000 habitantes. Fonte: autoria própria
Em relação à cor, cerca de 53% (149.027) dos pacientes internados eram brancos, enquanto o sexo masculino apresentou 151.115 internações. A incidência para os brancos foi de aproximadamente 73,39 por 100.000 habitantes, e para os homens, foi de aproximadamente 74,32 por 100.000 habitantes.
Quanto à faixa etária, o maior número de internações ocorreu entre pacientes de 70 a 79 anos, com 75.371 casos e uma incidência de 37,06 por 100.000 habitantes, seguida pela idade entre 60 a 69 anos (64.070) com a incidência de 31,56/100.000 habitantes. Juntos eles somam 49,11% das internações, quase a metade do número dos casos. (Tabela 3)
Com base no caráter do atendimento, 81% dos casos foram de urgência, totalizando 230.037 internações. A prevalência para esses atendimentos de urgência foi de 113,27 casos por 100.000 habitantes. (Tabela 3)
Tabela 3 – Distribuição do número absoluto de internações nos cinco anos analisados (2019-2023) das variáveis: cor, sexo, faixa etária e caráter de atendimento, além do índice de incidência.
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1Valor correspondentes a grupos de 100.000 habitantes. Fonte: autoria própria
4. DISCUSSÃO
A análise dos dados obtidos evidencia que as arritmias cardíacas são condições de alta prevalência e impacto significativo na saúde pública brasileira. Durante o período estudado, o aumento no número de internações e óbitos, especialmente em 2023, sugere um agravamento da carga das arritmias sobre o sistema de saúde. A predominância de casos em homens, brancos e na faixa etária de 70 a 79 anos reflete a importância de fatores demográficos e sociais na distribuição dessas condições. Esses achados corroboram estudos prévios que destacam a necessidade de intervenções direcionadas e específicas para populações de maior risco (FLORES et al., 2001; LUCIANO et al., 2011).
Além disso, a elevada taxa de mortalidade observada na região Centro-Oeste, em contraste com a maior incidência no Sudeste, levanta questões sobre desigualdades no acesso a serviços de saúde e na qualidade do atendimento. Esse padrão regional pode estar relacionado a diferenças na infraestrutura hospitalar, disponibilidade de especialistas e características demográficas locais, como já apontado na literatura médica (NECHAR; NECHAR JR., 2018; NARDINO; SOUZA; COSTA, 2014). A correlação entre índices de mortalidade e fatores regionais destaca a urgência de políticas públicas que promovam maior equidade no atendimento (SZPALHER; BATALHA, 2019).
A predominância de atendimentos de urgência, representando 81% das internações, enfatiza a gravidade das arritmias cardíacas e a insuficiência de estratégias de prevenção primária e secundária. Esses dados sugerem que muitas dessas condições poderiam ser evitadas com programas de educação em saúde, rastreamento precoce e manejo adequado de fatores de risco, como hipertensão e diabetes, conforme recomendado em diretrizes clínicas nacionais e internacionais (FLORES et al., 2001; SZPALHER; BATALHA, 2019).
Por fim, o impacto econômico e social das arritmias cardíacas não pode ser ignorado. A alta taxa de internações sobrecarrega os sistemas de saúde, aumentando custos e comprometendo a capacidade de atendimento. Estudos futuros devem explorar intervenções custo-efetivas que combinem abordagem preventiva com avanços tecnológicos para diagnóstico e tratamento. É crucial que os gestores de saúde priorizem estratégias integradas e regionais para reduzir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida dos pacientes acometidos (NECHAR; NECHAR JR., 2018; NARDINO; SOUZA; COSTA, 2014).
5. CONCLUSÃO
O presente estudo revelou importantes características epidemiológicas das internações por arritmias cardíacas no Brasil entre 2019 e 2023, destacando a magnitude e o impacto dessa condição no sistema de saúde. Observou-se um aumento progressivo no número de internações e óbitos ao longo do período analisado, com destaque para 2023, que apresentou a maior taxa de incidência (36,7/100.000 habitantes) e o maior número de óbitos (9.067).
As análises regionais evidenciaram desigualdades na distribuição dos casos, com a região Sudeste liderando em incidência (69,94/100.000 habitantes), enquanto o Centro-Oeste apresentou a maior taxa de mortalidade (28,02/100.000 habitantes). Esses achados sugerem diferenças na acessibilidade e qualidade do atendimento médico entre as regiões. Além disso, a prevalência foi maior entre homens, pessoas brancas e pacientes com idade avançada, principalmente entre 70 e 79 anos, faixa etária que concentrou a maior parte das internações.
Os dados também mostraram que 81% das internações ocorreram em caráter de urgência, ressaltando a gravidade da condição e a necessidade de intervenções imediatas. Estes resultados reforçam a importância de políticas públicas voltadas à prevenção e ao diagnóstico precoce das arritmias cardíacas, assim como à redução das disparidades regionais no acesso e manejo clínico.
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
2. LUCIANO, P. M.; TOZETTO, D. J. O.; SCHIMIDT, A.; PAZIN FILHO, A. Atendimento de arritmia cardíaca em emergência de hospital universitário terciário. Rev Bras Cardiol, v. 24, n. 4, p. 225-32, 2011.
3. MUNDIM, H. et al. Cardiac arrhythmia – analysis of the epidemiological profile of patients care at a pediatric cardiology outpatient. Residência Pediátrica, v. 13, n. 4, 2023.
4. DE LIMA, I. C. et al. Epidemiologia dos transtornos de condução e arritmias cardíacas (TCAC) no estado do Pará, Brasil: internações e óbitos entre 2009 e 2019. Braz J Health Rev, v. 4, n. 3, p. 11911-25, 2021.
5. SCANAVACCA, M. Novas perspectivas do tratamento das arritmias cardíacas e sua aplicação no Brasil. Arq Bras Cardiol, v. 99, p. 1071-4, 2012.
6. FLORES, A. A.; RODRÍGUEZ, T. G.; VALLES, R. R. et al. Utilización de cisaprida y su relación con arritmia cardiaca Estado actual en la literatura médica. An Med Asoc Med Hosp ABC, v. 46, n. 4, p. 183-192, 2001.
7. LUCIANO, P. M.; TOZETTO, D. J. O.; SCHIMIDT, A.; PAZIN FILHO, A. Atendimento de arritmia cardíaca em emergência de hospital universitário terciário. Rev Bras Cardiol, v. 24, n. 4, p. 225-232, 2011.
8. NECHAR, R.; NECHAR, A. Jr. É possível tratar arritmia cardíaca complexa com homeopatia? Relato de caso. Rev Homeopatia, v. 81, p. 1-12, 2018.
9. NARDINO, J.; SOUZA, E. A. M.; COSTA, N. M. T. Conhecimento de enfermeiros sobre arritmias cardíacas. Rev Enferm, v. 10, n. 10, p. 1-12, 2014.
10. SZPALHER, A. S.; BATALHA, M. C. Arritmias cardíacas: Diagnósticos de enfermagem baseados na taxonomia da NANDA-I (2018-2020). Rev Eletrônica Acervo Saúde, v. 11, n. 17, e1447, 2019.
1Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: gabriellalimaperes2003@gmail.com
2Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade UNICESUMAR, Campus Maringá, Maringá- PR, E-Mail: mariacompa2018@gmail.com
3Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: isacastanhel1204@gmail.com
4Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: med.dandarasemedosales@gmail.com
5Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: palarogustavo14@hotmail.com
6Discente Do Curso Superior De Medicina Da Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: paulinhomenna@gmail.com
7Médico Formado Pela Universidade De Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá-MT, E-Mail: gustavoanzolin@hotmail.com
8Médica Formada Pela Faculdade Atenas Passos – MG, E-Mail: ancfranca@gmail.com
9Discente Do Curso Superior De Medicina Da Faculdade Paraíso, Araripina – PE, E-Mail: lucas.silveira27092003@gmail.com
10Discente Do Curso Superior De Medicina Do Centro Universitário Maurício de Nassau – Uninassau, Vilhena – RO, E-Mail: maitesato07@gmail.com