ARQUITETURA BIOMIMÉTICA: COMO A NATUREZA É EXPLORADA NOS PROJETOS ARQUITETÔNICOS 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410162247


Amanda França Carvalho Silva1,
Thiago Pedroso2,
Philipe do Prado Santos3


RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar como a arquitetura biomimética se inspira na natureza e de que modo essa corrente contemporânea vem sendo aplicada em projetos arquitetônicos no mundo. Através de uma pesquisa de caráter exploratório, com procedimentos de pesquisa bibliográfica e utilizando a abordagem qualitativa, o propósito da investigação foi alcançado. A partir das informações obtidas ao longo da pesquisa, os resultados alcançados foram: compreender como a arquitetura biomimética adapta os projetos arquitetônicos, as estratégias e conhecimentos que transformam o conceito de arquitetura e natureza, além da correlação entre natureza e arquitetura biomimética no mundo contemporâneo. Além disso, foi realizada a análise de empreendimentos que utilizaram o conceito de biomimética para entender como essa metodologia é aplicada em projetos.

Palavras-chave: Construções. Design. Naturais. Obras. Sustentável.

ABSTRACT

The present work aims to analyze how biomimetic architecture draws inspiration from nature and how this contemporary approach has been applied to architectural projects worldwide. Through an exploratory research study, with bibliographic research procedures and a qualitative approach, the purpose of the investigation was achieved. Based on the information gathered throughout the research, the results obtained include: understanding how biomimetic architecture adapts architectural designs, the strategies and knowledge that transform the concept of architecture and nature, as well as the correlation between nature and biomimetic architecture in the contemporary world. Additionally, an analysis of projects that employed the biomimetic concept was conducted to understand how this methodology is applied in practice.

Keywords: Construction. Design. Natural. Projects. Sustainable.

1 INTRODUÇÃO

No decorrer dos anos com a revolução industrial o mundo se desenvolveu gradativamente, casas e prédios foram construídos, assim criando polos urbanos. No Brasil, em meados do século XX, as cidades desenvolveram centros urbanos com construções não mantendo uma relação direta com a natureza, influenciando nos dias atuais onde as metrópoles são cercadas com construções de concreto (Moura, 2022). Com o avanço dessas estruturas e a mentalidade dos indivíduos se desenvolvendo constatou que a necessidade de ambientes conectados com a natureza é de fundamental importância. Esta relação é tão importante, que existe um termo, criado em 2005, nos Estados Unidos, pelo jornalista Richard Louv, no livro best-seller “Last Child in the Woods” (LCW), para se referir a problemas de saúde física, mental e emocional decorrentes da falta de contato com a natureza, chamado Transtorno do Déficit de Natureza (TDN).

Atualmente na arquitetura e no urbanismo existem áreas que trabalham diretamente com a conexão da natureza e urbano. Uma dessas áreas é a biomimética “bio”, em grego, significa “vida”, enquanto “mimesis” consiste em “imitação”, desse modo “biomimética” na prática refere ao estudo das formas, processos e sistemas da natureza e tem como objetivo resolver problemas e desafios humanos (Oliveira, 2019). “Coletivamente, organismos conseguiram transformar rocha e mar num lar de vida aconchegante, com temperaturas estáveis e ciclos que transcorrem suavemente” (Benyus, 1997, p.10). 

Gaudi (séc. XIX), cita que “O arquiteto do futuro será baseado na imitação da natureza, porque é o modo mais racional, durável e econômico de todos os métodos”. Formas e sistemas naturais tem se adaptado as condições de mudanças e mantém sua estrutura, função e identidade de acordo as origens naturais. Esses conceitos da natureza são os princípios para orientar a arquitetura biomimética no seu estrutural e comportamento dos edifícios. Assim, como na natureza, a arquitetura biomimética requer que as construções estejam alinhadas com o entorno, deste modo, efetuando a adaptação e habilidade de encaixe no meio das urbes.

Santiago Calatrava (1979),desenvolveu sua tese para doutorado seguido por esse lema “a natureza é mãe e professora”. Calatrava utilizou da arquitetura biomimética como identidade para as suas obras. A mistura da estética com a funcionalidade da engenharia, evidência que a compreensão das formas naturais excede o caráter plástico e une toda a estrutura que é composta de formas e organismos naturais. 

Com isso, a relevância dessa pesquisa favorece para o entendimento e estudo de como a arquitetura biomimética adapta os projetos arquitetônicos, afim de melhorar os conhecimentos referente a área, conhecer estratégias e obter conhecimentos que transformam o conceito e ideia de arquitetura e natureza.

A biomimética é uma ciência que estuda as funções da natureza, que se adaptam, crescem e vivem. Considerada uma corrente contemporânea, a arquitetura biomimética une as funções naturais com a estrutura e estratégia para desenvolver obras que se comporta, se renova e adapta às variações climáticas e alterações que são causadas pelo os seres inseridos no meio. (Chiapetta).

Em 2014 a biomimética foi apontada pela revista Forbes como tendência para desenvolvimentos futuros. Na Universidade Nazarena de Point Loma, na California, Estados Unidos, indica um aumento no PIB e na geração de empregos no decorrer dos anos. Oliveira 2019, discorre que os projetos de arquitetura e urbanismo estão mais aprimorados com a capacidade de adaptação e com a aprendizagem dos recursos naturais, quando aliado aos conhecimentos humanos, sociais e culturais, provém a definição de biomimética.

Giane Brocco fundadora e CEO da Amazu Biomimicry (empresa que atua na área de consultoria, educação e treinamento em biomimética e inovação) menciona que é ter a natureza como mentora dos projetos.

O objetivo geral desta pesquisa é analisar como a arquitetura biomimética se inspira na natureza e de que modo essa corrente contemporânea vem executando os projetos arquitetônicos no mundo. Os objetivos específicos são:

  • Entender como é a relação da arquitetura com a natureza;
  • Conceituar a arquitetura biomimética;
  • Apresentar modelo de arquitetura biomimética;
  • Exemplificar projetos reais de arquitetura biomimética;

Baseando-se no conceito de biomimética e a sua influência na arquitetura mundial é evidente que projetos dessa arquitetura tem benefícios nos âmbitos econômicos, sociais e ambientais. Esses projetos são desenvolvidos com base na análise de estruturas naturais, através da valorização de um design multifuncional e do uso de matérias que são integrados a natureza. Com isso surge a problematização da pesquisa:  Como a arquitetura biomimética se inspira na natureza e de que modo essa corrente contemporânea vem executando os projetos arquitetônicos no mundo?

2 METODOLOGIA

Este trabalho acadêmico tem a finalidade de realizar o estudo sobre a arquitetura biomimética e como esse método pode transformar o espaço urbano brasileiro. De acordo Bernardo, Belém, Nicácio e Brito (2016, p.215),” sabe-se que não basta definir o tema e o problema, você precisa estabelecer procedimentos, técnicas operacionais que lhe permitam imprimir rigor e precisão na arquitetura do seu objeto de estudo”. Para a evolução deste artigo foi definido que o objetivo é de caráter exploratório, com os procedimentos de pesquisas bibliográficas utilizando a abordagem qualitativa. 

Segundo Glaser e Strauss no livro “The Discovery of Grounded Theory” de 1967, a pesquisa exploratória tem uma linguagem assertiva com a finalidade de analisar, validar, verificar e especificar condições. Além disso, a pesquisa exploratória tem uma ligação com o tema para idealizar pensamentos e a partir disso validar as hipóteses e interpretações necessárias. 

A pesquisa acadêmica é de exploração bibliográfica. Essa tem como proposito aprimorar e atualizar o conhecimento através de investigações cientificas de obras que já foram publicadas. Para Fonseca (2002),pesquisa bibliografia é realizada a partir de levantamentos e referências teóricas que já foram analisadas, como livros, artigos científicos e páginas de web sites. As pesquisas cientificas se baseiam apenas nos conhecimentos bibliográficos utilizando de dados teóricos publicados com o intuito de recolher informações e conhecimentos do tema e problema de determinado assunto.

Quanto a abordagem deste trabalho acadêmico é de propriedade qualitativa, pois busca entender de modo subjetivo os conceitos do assunto proposto. Deslandes, Neto e Gomes (2002),cita que a pesquisa qualitativa responde questões especificas, visto que essa metodologia se preocupa nas ciências socias e em um contexto que não pode ser quantificado.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico dessa pesquisa sobre arquitetura e biomimética foi dividida em seis tópicos, a informar sobre: a relação da arquitetura do homem com a natureza; o conceito de biomimética; apresentação do modelo de arquitetura biomimética e exemplificação de projetos executados com o partido de biomimética. 

3.1 RELAÇÃO DA ARQUITETURA DO HOMEM COM A NATUREZA

A palavra natureza provém do latim natura, que significa “qualidade essencial, disposição singular”, fazendo referência a forma como as plantas e animais crescem espontaneamente. Sousa (2022), cita que a relação entre a Arquitetura da Natureza e a Arquitetura do Homem interligam-se harmoniosamente de modo que o ambiente natural não seja afetado ou deformado. A Arquitetura do Homem deve servir como conexão entre o ser humano e a natureza sendo de forma sútil e complementando valor ao local. 

De acordo Paulo Mendes Rocha (Diário de Notícia, 2018), a “arquitetura é construir a habitabilidade da natureza”, denotando então que a paisagem sofre por intervenções permitindo que seja habitada, tornando um espaço ambíguo, proporcionando o acesso do homem de forma que esse concilie as mudanças no meio em que está inserido. 

Entretanto é considerado que a arquitetura é resiliente e capaz de se adaptar as mudanças, absorver impactos retornando ao seu material de origem. Existem diversas maneiras onde a arquitetura e natureza se relacionam, como por exemplo a utilização de técnicas para a integração de um ambiente sem prejudicar a biofilia do espaço como Oliveira (2019) aponta.

No século XXI a paisagem ganha espaço com o desenvolvimento da preocupação do homem com o meio ambiente, encontra-se uma ecologia e a inclusão de territórios, ecossistemas, redes e infraestrutura, com a finalidade de restaurar a temporalidade da natureza. Desse momento surge um século preocupado com a preservação no meio em que está inserido: a natureza. Incluindo a conservação da arquitetura moderna, que não se preocupa com o duradouro, mas modelos presentes no cotidiano que merecem cuidado e proteção (Silva, 2021).

Conforme Silva (2021), o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) adotou o processo de paisagem cultural (portaria nº 127, de 30 de abril de 2009) como instrumento de preservação do patrimônio, considerando parte do território característica da interação do homem com o meio natural, no caso o convívio com a natureza, espaço construídos, ocupando uma nova área ao procedimento de preservação da natureza.

Wendel (2006), expõe sobre o momento histórico atual, onde natureza tem diversos significados, interpretações e conteúdo. Nas metrópoles constata uma grande valorização da estética da natureza, composto pelo urbanismo e arquitetura. No texto é mencionado o exemplo do Green Phylosophy, construído pela Cylera e Brazil Realty, no Panamby (Vila Andrade), que valoriza a presença de um shopping e um parque nas redondezas, considerando a ideia entre arte, arquitetura e natureza, de maneira que aprecia o verde.  

No artigo de Ferraro, Morelatto e Yunes (2018),aponta que a relação entre a criação humana e a natureza não é recente. Correlacionando a arquitetura é possível analisar as obras de Antônio Gaudi que transmitiu inspirações da natureza para as formas, estruturas, cores e detalhes das obras. Diferentemente de outros arquitetos, Gaudi, entendia que a natureza com seus modelos próprios poderia transformar as estruturas padronizadas (regulares e simétricas) em projetos únicos. O resultado foi pilares ramificados como árvores, lajes com desenhos de flores, estrutura semelhante aos ossos do corpo e aplicações que submetem as criações da natureza. 

3.2 CONCEITO DE BIOMIMÉTICA

A Biomimética é um estudo e experimentação em projeto que possibilita a aproximação entre o homem e natureza por meio do design e arquitetura. O termo vem do grego bios que significa vida e mimesis: imitação. Biomimicry em inglês foi conceituado pelo casal John Todd e Nancy Jack-Todd e divulgado por volta de 1970 pelo grupo The New Alchemy Institute. Após décadas, em 1997, Janine Benyus lançou o livro Biomimicry: Innovation Inspired by Nature sendo o primeiro livro a comentar sobre Biomimetica, assim expandindo o estudo e alcance do tema. (Moura, 2021)

Oliveira (2019), fala sobre a Revista Forbes onde citou-se a biomimética como uma das cinco tendencias tecnológicas. O livro de Benyus (2003), a autora comenta que se deve aprender muito com a natureza, afinal há 3,8 bilhões essa fornece as melhores soluções de estruturas apropriadas para durar na Terra. 

Segundo a pesquisa de Brocco (2018), o estudo da biomimética tem como objetivo conhecer as estruturas biológicas e suas funções para que se possa aprender com o meio através de estratégias e soluções, a fim de desenvolver projetos. Esse pensamento possibilita que os desafios tecnológicos e humanos se revolvam através da natureza.  

Os registros da pesquisa de Zari (2007) “Biomimetic Approaches To Architectural Design For Increased Sustainability” evidencia que existe três níveis de mimetismo: o organismo, comportamento e ecossistema. O nível de organismo descreve um organismo especifico no qual pode ser planta ou animal podendo haver imitação de uma parte ou de toda estrutura orgânica. O ponto de comportamento é a relação como esse organismo se comporta. Já o ultimo nível de ecossistema é a funcionalidade e os princípios para que esse organismo trabalhe de forma correta. Dentro desses níveis, existem subdivisões possíveis para o mimetismo. Zari coloca em pauta que um desenho por exemplo pode ser biomimético, em relação a sua aparência (forma), do que é feito (material), como foi feito (construção), como funciona (processo) ou o que é capaz de fazer (função). Para isso foi feita uma tabela, utilizando o exemplo do ecossistema do cupim com as divisões de níveis e subníveis. 

Quadro 1: Esquema Para Aplicação Biomimética

Fonte: Zari, 2007. Adaptado pela autora e tradução nossa (2024).

Pode-se concluir de acordo Almeida (2019), que o foco da biomimética na arquitetura está relacionada a soluções voltadas a sustentabilidade, conforto término, eficiência energética, uso dos recursos naturais, durabilidade e entres outros. Esse método é possível a partir da imitação de soluções da natureza para projetos arquitetônicos com mais eficiência e benefícios ao meio em que pertence, levando em consideração termos estéticos, funcionais e estruturais. 

3.3 INFLUÊNCIA DA NATUREZA NO ESPAÇO: ANÁLISE DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS BIOMIMÉTICOS

Nesse capítulo tratou-se de projetos arquitetônicos que tiveram como seu principio a natureza. A partir dessa abordagem foi colocada em prática a biomimética na arquitetura levando em considerações os conceitos e ideais já vistos nos outros capítulos acima. 

3.3.1 Prince Tower 

A biomimética consiste em imitar estratégias e projetos da natureza, esse método tem o potencial de revolucionar a adaptação de desastres de forma sustentável. Os preceitos que são postos na biomimética atendem à necessidade de infraestrutura flexível e ágil, possibilitando a resiliência. Apesar de ser associado a imitação de forma e processo na arquitetura, a aplicação prevê edifícios que se adaptam em ambientes que estão em constante mudança, cita (Gattupalli, 2023).

Cao (2021), apresenta a pesquisa sobre o edifício construído por Frank Lloyd, localizado em Bartlesville Plains, em Oklahoma. O prédio foi encomendado pela empresa local de petróleo e produtos químicos H.C Prince Company, chamada Prince Tower (Figura 1). A torre de uso mista é de grande importância, além do uso de materiais diversos, o desenho estrutural traz inovações desenvolvidas pelo o arquiteto, que apareceu pela primeira vez em meados do século 20, e ainda é utilizado e eficiente até os dias atuais. 

“A árvore que escapou da floresta”, foi assim que o arquiteto descreveu a sua obra. A construção vertical foi projetada em torno de um centro ou “tronco” com quatro poços de elevadores, esses funcionam como sustentação para a estrutura principal e faz a integração do restante do projeto. Cada laje do piso se projeta a parte no núcleo central, o que remete aos galhos de uma árvore (Figura 2 e 3). Como consequência, as paredes externas do prédio são revestidas com asas de cobre, remetendo a criação de folhas através de uma velatura verde texturizada (Figura 4). Dessa forma, a assimetria do desenho é diferente em determinado ângulos em que se observa, e com isso, aparenta imperfeições naturais, mas mesmo assim bonitas, lembrando de uma árvore. Desse modo, a torre combina com primor as questões práticas e conceituais por meio de uma importância equilibrada do material e estrutural, com elementos estruturais que servem como um design abstrato (Cao, 2021). Figura 1 – Vista lateral da Prince Tower

Fonte: Wiki Arquitectura (2021)              

Figura 4 – Prince Tower

Fonte: MWaits / Shutterstock. (2021).

Cao (2021) menciona que no projeto, Lloyd consegue fazer a conexão da natureza para uma grande estrutura verticalizada – arranha céu – marcado como um exemplo da capacidade de construção do homem e a simbologia do tradicional urbano. Atualmente, os arquitetos buscam cada vez mais a inspiração da natureza, com isso, a reaproximação entre o natural e o homem é cada vez mais evidente em projetos – a biomimética. 

3.3.2 Tempo Lótus

 O Templo de Lótus, é uma Casa de Adoração Bahá’í, localizado em Nova Deli-índia, foi idealizado e projetado pelo arquiteto iraniano Fariborz Sahba e terminado em 1986. Esse templo é o oitavo no mundo e já recebeu mais de 70 milhões de visitantes desde a finalização, sendo o local arquitetônico mais visitado no mundo. (Rizor, 2017). 

 Rizor (2017), menciona que existem semelhanças com o Templo Mãe e a Ópera de Sydney de Jorn Utzon – de acordo com a escritura bahá’í o templo de Lótus estruturou-se com uma configuração de um círculo de 9 (nove) lados, constituído por 27 (vinte e sete) “folhas” (lajes de concreto revestidas em mármore), ordenadas em grupos de 3 (três) em cada um dos 9 (nove) lados da construção (Figura 5). Sua estrutura foi influenciada pela flor de lótus, e é uma das obras mais notórias de arquitetura biomimética presente na atualidade. 

Figura 5 – Templo Lótus

Fonte: Rizor, (2017).

Conforme Rizor (2017), as “folhas” fazem parte da estruturação do ambiente e são classificadas em três categorias: folhas de entrada, folhas externas e folhas internas. As folhas de entrada que são 9 (nove), estabelece a entrada de cada 1 (um) dos 9 (nove) lados do complexo (Figura 6). Já as folhas externas desempenham o papel de telhado para recintos auxiliares, essas são complementadas pelas folhas internas, formando assim o importante local de adoração (Figura 7). As folhas internas, não se encontram na ponta do ambiente em que acontece a adoração, essas são revestidas por vidro e aço.

Fonte: Rizor, (2017). Fonte: Rizor, (2017).

Figura 8 – Folhas Internas

Fonte: Rizor, (2017).

O templo foi edificado a partir de concreto e teve o revestimento em mármore grego, o resultado é um exterior branco antigo, já o interior tem o seu estilo voltado ao expressionismo, com o telhado formado por nervuras (filamento ramificado e saliente do limbo das folhas em geral e das pétalas de algumas flores, por onde é transportada a seiva) pré-fabricadas sendo mostrada nos espaços onde o culto é realizado (Figura 8). Essa obra é uma criação primorosa para a arquitetura contemporânea. (Rizor, 2017)

3.3.3 Votu Hotel 

A natureza frequentemente enfrenta desafios relacionados ao clima e ao seu ecossistema para o desenvolvimento, sobrevivência e reprodução, alguns destes são exposição a irradiação solar, quantidade excessiva de água, mudanças climáticas constantes e alterações de temperaturas. Para se conservar, a natureza lida através de métodos e técnicas que foram desenvolvidas, a bilhões de anos de evolução. A biomimética na arquitetura, pode ser aplicada em novos conceitos e processos que propõem a capacidade de edificações e novos materiais e funcionalidades, assim como cita (Dequale, 2018). 

O Votu Hotel, projeto localizado na Bahia – na Península de Maraú, foi idealizado pelo GCP Arquitetura e Urbanismo, equipe composta por – Alessandra Araujo, Daniel Mariano, Felipe Lima, Gabriela Garcia, Gabriela Haddad e Sérgio Coelho, através da biomimética se inspirou para resultados envolvendo a fauna e flora promovendo conforto térmico e baixo impacto ambiental para sua execução. O escritório estudou técnicas de animais e plantas para tornar a vida aconchegante em ambientes adversos, aplicou as aprendizagens na arquitetura, com a finalidade do ambiente ser mais confortável, respeitando o entorno que está inserido e o usuário. Com base nesse processo surgiu o projeto do Votu Hotel- “votu”, em tupi-guarani, significa “vento”(Dequale, 2018).  

No projeto Dequale (2018), menciona que a biomimética acarretou diversas inovações. As suítes foram pensadas a partir do princípio arquitetônico de Bernolli para a ventilação natural e contínua, garantindo o conforto térmico mesmo com o ambiente fechado, como é possível ver na Figura 9. Este princípio é notado em numerosos organismos na natureza e no desenho em questão, a inspiração surgiu do cão de pradaria – mamífero roedor da família Sciuridae, que faz suas tocas enterradas no solo com entrada e saída de ar, seguindo uma altura e diâmetro permitindo que exista uma ventilação que entre e ventile a sua toca. 

Figura 9 – Corte Votu Hotel

Fonte: Cortesia de GCP Arquitetura & Urbanismo (2018).

Outra estratégia aplicada foi a projeção de uma laje incluindo um jardim para proporcionar maior massa térmica e com isso o conforto térmico, além de promover a inserção do verde na construção. O fechamento destas estruturas é motivado na habilidade de sombreamento de alguns cactos específicos (Figura 10). E no edifício principal a cozinha é composta por uma laje com a inclusão de um jardim, mas atua de uma forma diferente, como um trocador de calor, inspirado nos bicos do tucano (Figura 11). Além disso, o Votu Hotel possui áreas de descanso com a integração dos ambientes construídos com os naturais e o tratamento de resíduos através de princípios da permacultura como Círculo de Bananeiras e Biossistemas com Biodigestores. (Dequale, 2018).

Figura 10 – Esquema de auto sombreamento

Fonte: Cortesia de GCP Arquitetura & Urbanismo (2018).

Figura 11 – Esquema da cozinha

Fonte: Cortesia de GCP Arquitetura & Urbanismo (2018).

Dequalle (2018) comenta que as táticas inovadoras possibilitam que os locais se tornem mais saudáveis e agradáveis, evitando o uso desnecessário de objetos que prejudicam o meio natural, além de gerar ao projeto um conceito e partido arquitetônico que remete ao mecanismo natural e não necessariamente a forma natural. 

3.3.4 Casa Folha

O projeto da Casa Folha foi inspirado na arquitetura brasileira indígena, localizado em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A cobertura do imóvel atua como uma folha (Figura 12) que favorece a proteção contra os raios solares nos cômodos da casa e também em espaços disponíveis entre eles. Os locais que são desocupados são os mais utilizados por locatários da construção. (Helm, 2011).

Figura 12 – Telhado da Casa Folha

Helm (2011), disserta que a residência tem em algumas partes: o pé direito mais alto, porque a partir disso possibilita que o vento principal do Sudeste vá diretamente do mar em direção e por dentro da casa, permitindo que todas áreas possuam um arrefecimento passivo reduzindo a temperatura sem o uso de energia elétrica. A Ecoeficiência low – tech, é o conceito do projeto arquitetônico. A Casa Folha tem o intuito de melhorar o entrosamento da natureza com o homem. Existe uma ligação entre os espaços, o caminho do local é realçado pelo paisagismo de Marita Adania no térreo na residência, valorizado pelo o uso de vegetação e uma piscina que percorre a casa e se torna um espelho d’água na próxima varanda, como é visto na Figura 13. (Helm,2011).

Helm (2011), explica que a armação da cobertura foi executada com madeira laminada de eucalipto, essa consegue cumprir vãos grandes, na casa o maior vão possui 25 metros. Já o telhado que possui sua forma de folha, é composta de peças de madeiras menores feitas de pinús. Essas árvores (eucalipto e pinús) são espécies de reflorestamento e são matéria-prima apontadas como renováveis. Às águas são coletadas por um pilar de aço corten e após isso são reaproveitadas de outras formas. 

Figura 13 – Casa Folha

Helm (2011), explica que a armação da cobertura foi executada com madeira laminada de eucalipto, essa consegue cumprir vãos grandes, na casa o maior vão possui 25 metros. Já o telhado que possui sua forma de folha, é composta de peças de madeiras menores feitas de pinús. Essas árvores (eucalipto e pinús) são espécies de reflorestamento e são matéria-prima apontadas como renováveis. Às águas são coletadas por um pilar de aço corten e após isso são reaproveitadas de outras formas. 

Os materiais naturais utilizados, vidro e o cobre patinado, que no decorrer do tempo obtém um tom esverdeado e possui vida útil duradoura, e a harmonia orgânica ocasiona um impacto curioso. Para Helm, (2011) “a sensação de que a casa, nova em folha, parecer estar ali desde sempre, em grande harmonia com a natureza exuberante de Angra. A sensação de pertencer ao lugar.” 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar como a arquitetura biomimética se inspira na natureza e de que modo essa corrente contemporânea vem executando os projetos arquitetônicos no mundo, através do entendimento de: como é a relação da arquitetura com a natureza; conceituação da arquitetura biomimética; apresentação modelo de arquitetura biomimética e exemplificação projetos reais de arquitetura biomimética. 

O artigo respondeu à pergunta: “Como a arquitetura biomimética se inspira na natureza e de que modo essa corrente contemporânea vem executando os projetos arquitetônicos no mundo?” A resposta evidenciou que a biomimética não só imita formas naturais, mas também seus processos e sistemas, proporcionando um novo modelo para o design sustentável.

No decorrer da pesquisa, que foi de caráter exploratório, com os procedimentos de pesquisas bibliográficas utilizando a abordagem qualitativa, foi notório que o conceito de biomimética aplicado na arquitetura é um acontecimento contemporâneo, ainda existem evoluções que podem ocorrer no caminhar do processo, porém colocar a natureza como mentora de projetos traz uma evolução na relação de homem e ambiente natural. 

É possível concluir então que a arquitetura biomimética vem para agregar e mudar o conceito de obras projetuais, com a finalidade de transformar a conexão do homem com a natureza afim de expressar e harmonizar o ambiente urbano presente. Além disso, a estética e a sustentabilidade conseguem trazer benefícios, onde o belo também pode ser sustentável e assim oferecer um novo pensamento arquitetônico. 

A pesquisa revelou a necessidade de novos estudos sobre a aplicação prática da arquitetura biomimética no Brasil, especialmente em regiões urbanas com alta densidade populacional. Recomenda-se investigar estratégias regionais e como os conceitos biomiméticos podem ser adaptados a diferentes biomas brasileiros, considerando também o impacto social e econômico dessa abordagem inovadora.

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THOMÉ, Zeina Rebouças Corrêa. OLIVEIRA, Evandro Cantanhede. MARQUEZ, Suely Oliveira Morais. Coordenação Pedagógica Reflexão e Prática. Brasil. EDUA, 2016.   


1Graduanda de Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR. Email: amanda.franca.car@gmail.com

2Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Salvador (2015). Especialista em Docência Superior pela Unyleya (2019). Email: thiago@fainor.com

3Mestrando no Programa de Pós-graduação em Nível de Mestrado Acadêmico em Ensino na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – PPGEn/UESB. Pós-graduado em Gestão de Obras na Construção Civil. Graduado em Engenharia Civil, Administração, Arquitetura e Urbanismo. Licenciado em Pedagogia. Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade Independente do Nordeste. E-mail: philipe.prado@hotmail.com.