ARBOVIROSIS IN THE MUNICIPALITY OF CÂNDIDO SALES: AN ANALYSIS OF THE GROWTH IN THE NUMBER OF DENGUE AND CHIKUNGUNYA CASES
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10272346
Cláudia Santos Sousa1
Jarlles Dias Dos Santos2
Joquebede Rodrigues Pereira3
RESUMO
Dengue e Chikungunya são arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti constituindo um sério problema de saúde pública no mundo. Devido a falta de saneamento básico apropriado atrelado ao crescimento urbano desordenado, a incidência dessas doenças no Brasil tem aumentado consideravelmente. Visto isso, o presente estudo objetivou analisar o crescimento de casos de dengue e chikungunya na cidade de Cândido Sales localizada no interior da Bahia. Para tanto, foi utilizada uma metodologia exploratória com análise do número de casos confirmados no período de 2019 a 2023, através do sistema de informação de agravos de notificações (SINAN), visita aos bairros e terrenos e base teórica. Foram confirmados 456 e 424 casos para dengue e chikungunya respectivamente nesse período, atingindo um pico de 199 casos de dengue em 2022 e 197 casos de chikungunya em 2023. A análise dos dados obtidos mostra um aumento geral na incidência ao longo do tempo sugerindo um agravamento do problema. Conclui-se que há uma necessidade contínua de vigilância epidemiológica eficaz e conscientização da população quanto a limpeza em suas residências bem como das ruas da cidade, já que um dos fatores contribuintes para a proliferação do vetor é a falta de saneamento básico.
Palavras chave: Cândido Sales. Chikungunya. Dengue. Saneamento Básico. Meio Socioambiental.
ABSTRACT
Dengue and Chikungunya are arboviruses transmitted by the Aedes aegypti, constituting a serious public health problem in the world. Due to the lack of appropriate basic sanitation linked to disorderly urban growth, the number of cases of these diseases in Brazil has increased considerably. Given this, the present study aimed to analyze the growth in the number of dengue and chikungunya cases in the city of Cândido Sales located in the interior of Bahia. To this end, an exploratory methodology was used with analysis of the number of confirmed cases in the period from 2019 to 2023, through the health notification information system (SINAN), in addition to visits to neighborhoods and land and a theoretical basis. 456 and 424 cases of dengue and chikungunya were confirmed respectively during this period, reaching a peak of 199 cases of dengue in 2022 and 197 cases of chikungunya in 2023. Analysis of the data obtained shows a general increase in incidence over time, suggesting a worsening of the problem. In conclusion, there is a continuous need for effective epidemiological surveillance and public awareness regarding cleanliness in their homes as well as city streets, as one of the contributing factors to the proliferation of the vector is the lack of basic sanitation.
Keywords: Cândido Sales. Chikungunya. Dengue. Basic sanitation. Socio-environmental Environment
1 INTRODUÇÃO
Arboviroses são um grupo de doenças causadas pelos chamados arbovírus incluindo o vírus da dengue, zika vírus, febre chikungunya e febre amarela. A classificação “arbovírus” engloba todos aqueles que são transmitidos por artrópodes hematófagos durante o repasto sanguíneo como insetos e aracnídeos (como aranhas e carrapatos). Atualmente existem cerca de 4.404 espécies de vírus, distribuídos em 8 ordens, 122 famílias, 35 subfamílias e 735 gêneros. Os que são causadores de doenças em humanos e se dividem em cinco famílias sendo elas: Bunyaviridae, Togaviridae (que inclui o vírus Chikungunya), Flaviviridae (que inclui os vírus da Dengue, Zika e Febre Amarela), Reoviridae e Rhabdoviridae (Adams et al., 2017; Silva; Ramos, 2017).
Conforme Valle et al. (2016), as infeções por arboviroses como dengue e chikungunya aumentaram nos últimos anos e isso se dá devido ao crescimento urbano de forma desordenada e as favoráveis condições climáticas tropicais do Brasil, onde a circulação e a manutenção do ciclo de vida dos vírus se torna frequente.
Santos et al. (2016) destaca que as mudanças climáticas, desmatamento e ocupação de forma desordenada das áreas urbanas contribuem para o aumento de casos, além da falta de saneamento básico e de políticas públicas voltadas à urbanização com um falho abastecimento hídrico com água parada. As manifestações clínicas dessas doenças variam desde febre leve até síndromes febris neurológicas, articulares e hemorrágicas, podendo ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresenta. Além disso, constituem importante causa de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo (Barcellos et al, 2009).
De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2023), até a Semana Epidemiológica 52 do ano de 2022 ocorreram 1.450.270 casos prováveis de dengue com taxa de incidência de 679,9 casos a cada 100 mil habitantes no Brasil ocorrendo um aumento de 162,5% quando comparados com 2021. No que se refere à chikungunya, ocorreram 174.517 casos prováveis com uma taxa de incidência de 81,8 casos por 100 mil habitantes em 2022. Quando comparado com 2021 houve aumento de 32,4%.
Diante do exposto, este estudo tem como propósito analisar o crescimento do número de casos de dengue e chikungunya no município de Cândido Sales, Bahia buscando identificar os possíveis fatores associados e detectar áreas vulneráveis a fim de fornecer valiosos indicadores que possam servir de suporte à administração, planejamento de efetivas ações voltadas à saúde e saneamento urbano para prevenção e combate dessas doenças.
2 METODOLOGIA
A pesquisa, de caráter exploratório-descritivo e de abordagem populacional foi realizada no Município de Cândido Sales – BA, a partir de informações disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN), uma base de dados alimentada por notificações e investigações de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória, disponibilizados pela Vigilância Epidemiológica. Para esse estudo foram incluídos os casos relativos às notificações de dengue e chikungunia no período de 2019 a 2023. Os dados obtidos foram tabulados através da planilha eletrônica Microssoft Office Excel 2007, com intuito de verificar o aumento das doenças por localidade e por ano. Além disso, foram realizadas visitas aos locais citados com o objetivo de verificar as condições sócio-ambientais presentes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cândido Sales é um município localizado no Estado da Bahia, possuindo aproximadamente 25.247 habitantes até o último censo realizado em 2022. Possui um território de mais de 1.169.000 km2. Por se localizar no Sudoeste da Bahia geralmente possui um clima tropical, caracterizado por estações úmidas e secas. As temperaturas podem variar ao longo do ano (IBGE, 2022).
Os dados referentes aos casos confirmados de dengue e chikungunya nas diferentes localidades de Cândido Sales entre os anos de 2019 a 2023 estão demonstrados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.
Tabela 1 – Casos confirmados de dengue dos anos de 2019 a 2023.
| Locais | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total |
| Hospital Municipal | 3 | 60 | 1 | 31 | 7 | 102 |
| SMS Cândido Sales | 3 | 3 | – | – | – | 6 |
| Usina | 2 | 17 | – | 84 | 5 | 108 |
| Primavera | 3 | 20 | 2 | 9 | 34 | |
| Lagoinha | 1 | 9 | 4 | 3 | 10 | 27 |
| Nova Conquista | – | 12 | 1 | 40 | 3 | 56 |
| Centro | – | 27 | 3 | 29 | 20 | 79 |
| Célio Alves | – | 17 | 3 | 10 | 13 | 43 |
| Total | 12 | 165 | 13 | 199 | 67 | 456 |
Fonte: SINAN.
Tabela 2 – Casos confirmados de chikungunya dos anos de 2019 a 2023.
| 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total | |
| Hospital Municipal | 1 | 4 | 1 | 6 | 4 | 16 |
| SMS Cândido Sales | 1 | 1 | – | – | – | 2 |
| Usina | – | 1 | 1 | 86 | 16 | 104 |
| Primavera | – | 5 | – | 4 | 17 | 26 |
| Lagoinha | – | 4 | 3 | 3 | 15 | 25 |
| Nova Conquista | – | 2 | 1 | 38 | 13 | 54 |
| Centro | – | – | 1 | 47 | 89 | 137 |
| Célio Alves | – | 3 | 2 | 12 | 43 | 60 |
| Total | 2 | 20 | 9 | 196 | 197 | 424 |
Fonte: SINAN.
Os dados apontam que durante o período 2019-2023, a incidência de dengue e chikungunya em Cândido Sales sofreu variações. Nesse período, foram confirmados 456 e 424 casos para dengue e chikungunya respectivamente, atingindo um pico de 199 casos de dengue em 2022 e 197 casos de chikungunya em 2023. O valor mais baixo foi de 12 casos para dengue e 2 casos para chikungunya em 2019. Em uma observação mais detalhada, verificou-se ainda que 2020 e 2022 foram os anos que mais apresentaram casos de dengue (165 e 199 respectivamente) e 2022 e 2023 para chinkungunya (196 e 197 casos).
Assim, apesar das variações anuais, a análise dos dados obtidos da incidência de ambas as doenças no período citado mostra um aumento geral na incidência ao longo do tempo sugerindo um agravamento do problema principalmente para chinkungunya que aumentou expressivamente nos últimos dois anos.
Quanto ao número de casos relacionados aos diferentes locais do município, observou-se que o Hospital Municipal, a Usina e o Centro apresentaram os maiores números de casos de dengue (102, 108 e 70 casos). Para chikungunya, Centro, Usina e Célio Alves apresentaram as maiores incidências (137,104 e 60 casos).
Os dados dessa pesquisa são corroborados pelo estudo realizado por Corrêa e Palhares (2016) que apresentou e relacionou os casos de dengue no Município de Oiapoque-AP, sob a dinâmica climática e o meio socioambiental regional. Foi observado que o bairro que apresentou maior incidência de casos neste estudo foi o Centro o que pode estar relacionado com fatores como urbanização desordenada, maior fluxo de pessoas e uma grande de embalagens jogadas nas ruas o que favorece à instalação do vetor.
Os bairros Usina (Figura 1), como descrito anteriormente, assim como Nova Conquista (Figura 2) e Célio Alves também ocuparam posição de destaque para os maiores números de casos de dengue e chinkungunya. Observou-se que estes locais também apresentam um grande ambiente favorável ao vetor, ou seja, presença de objetos que servem de criadores para o mosquito, acúmulo de lixo e água parada. Sabe-se que, além de investimentos na infraestrutura, hábitos simples como tampar as caixas d’água, tirar água dos pratinhos das plantas, limpar os ralos, limpar calhas e manter o lixo fechado são essenciais para diminuir a proliferação dos mosquitos (Corrêa; Palhares, 2016).
Figura 1– Esgoto a céu aberto no Bairro Usina em Cândido Sales – Bahia.
Fonte: Acervo próprio (2023).
Figura 2– Terrenos baldios no Bairro Nova Conquista em Cândido Sales – Bahia.
Fontes: Acervo próprio (2023).
Portanto os dados obtidos a partir das pesquisas no SINAN alertam uma crescente nos casos confirmados de arboviroses nos últimos anos no Município de Cândido Sales. É importante salientar que, nesses casos, é de suma importância a propagação de políticas públicas para a prevenção e contenção da proliferação do agente causador, por meio de explicações práticas de como os agentes se desenvolvem e se multiplicam. De acordo com Gluber (2002), ações educativas, centradas nas informações através de meios de comunicação de massa e divulgação dirigida às escolas e a comunidade, atingem uma parcela significativa da população, proporcionando conhecimento sobre as doenças, seus vetores e as medidas de controle.
A dengue é uma preocupação de saúde pública mundial e em várias regiões do Brasil, que configura como um dos 30 países mais endêmicos do mundo. A Bahia, por estar localizada em uma região tropical, enfrenta condições climáticas propícias para a disseminação do mosquito Aedes aegypti. Associado a isso, condições precárias de saneamento como abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo inadequados criam cenários favoráveis para a proliferação do vetor (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2016; ALMEIDA, COTA, RODRIGUES, 2020).
Caracterizada por infecções assintomáticas ou casos graves, a dengue tem o potencial de acarretar sobrecarga dos serviços de saúde. Os sintomas que normalmente duram de 2 a 7 dias, incluem febre alta, dor de cabeça, dor retrorbital, náusea, vômitos, aumento ganglionar, dores musculares e articulares e exantema. Manifestações potencialmente fatais podem ocorrer e não há tratamento específico sendo usadas terapias para aliviar os sintomas e para reposição de fluidos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016a).
A chikungunya é uma doença causada pelo vírus Chikungunya (CHIKV), um arbovírus do gênero Alphavirus. Essa doença é transmitida aos seres humanos principalmente pela picada de mosquitos infectados, sendo o Aedes aegypti e o Aedes albopictus os principais vetores (PINHO, 2013; FABRI, 2018). A palavra “chikungunya” tem origem na língua makonde, falada em algumas regiões do sudeste da Tanzânia e norte de Moçambique, e significa “aqueles que se dobram”, referindo-se à postura curvada de pessoas que sofrem de dores articulares intensas, uma característica comum dessa enfermidade (PINHO, 2013; FABRI, 2018).
Os sintomas da chikungunya incluem febre alta, dores articulares intensas, dor de cabeça, erupções cutâneas e fadiga e, portanto, pode ser confundida com a dengue pela similaridade dos sintomas. No entanto, destaca-se a intensidade da dor muscular e articular. Embora a doença seja raramente fatal, os sintomas podem ser debilitantes e persistir por semanas ou meses. Também não existe um tratamento específico para a chikungunya, e o manejo geralmente envolve alívio dos sintomas, como o uso de analgésicos e anti-inflamatórios (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018a; FABRI, 2018).
A prevenção de ambas as doenças envolve medidas para evitar a picada de mosquitos, como o uso de repelentes, roupas que cubram a maior parte do corpo e o uso de telas em janelas e portas. O controle de mosquitos e a eliminação de criadouros também são estratégias importantes para prevenir a propagação dessas arboviroses (PINHO, 2013; FABRI, 2018).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, este estudo oferece uma análise da situação das arboviroses na em Cândido Sales, destacando a presença significativa e os vírus transmitidos por vetores artrópodes na região. Os dados coletados revelam a necessidade contínua de vigilância epidemiológica eficaz além de uma mobilização e conscientização geral da sociedade deste Município. Nota-se que, além das condições climáticas, o vetor necessita de condições ambientais propícias para completar seu ciclo e tal ambiente, muitas vezes, é resultante da própria ação do homem.
Assim, é crucial enfatizar a relevância de intervenções integradas que incluam medidas de controle vetorial, educação da comunidade e saneamento básico. A colaboração entre pesquisadores, profissionais de saúde e autoridades governamentais é essencial para o desenvolvimento e implementação eficaz de estratégias preventivas.
Contudo, ressalta-se que este estudo não é exaustivo, e novas pesquisas são necessárias para aprofundar nossa compreensão das dinâmicas de transmissão e de outras variáveis socioeconômicas, demográficas e ambientais, assim como de aspectos climáticos. Avanços contínuos na pesquisa e na prática clínica são essenciais para mitigar os impactos dessas doenças na saúde pública e na qualidade de vida da população baiana.
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1Discente do curso de Farmácia da Uninassau de Vitória da Conquista, e-mail: umaclaudia2347@gmail.com
2Discente do curso de Farmácia da Uninassau de Vitória da Conquista, e-mail: jarllestube@gmail.com
3Professor(a) Orientador(a) do Uninassau de Vitória da Conquista, e-mail: joque.rodrigues@gmail.com