APOIO PSICOLÓGICO NA PSICO-ONCOLOGIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10800903


Erislayne Raissa da Silva Costa1;
Giulia Karine Fontele Fernandes2;
Joíza Maria de Oliveira Santana3;
Júlia Zemuner Ribeiro da Silva4


RESUMO  

O campo da psicologia hospitalar passeia por diversas especialidades médicas. Dentre  elas, destaca-se a Psico-Oncologia, que consiste na interface entre a oncologia e a psicologia.  A Psico-Oncologia estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, o  tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer. O objetivo do presente artigo consiste em,  através do relato de experiência, proporcionar as impressões e percepções das autoras frente às  vivências de uma psicóloga entrevistada que atua no maior hospital de tratamento de câncer do  Estado de Rondônia. A metodologia trata-se de um estudo qualitativo, o qual busca conhecer  de forma mais profunda um dado fenômeno, no caso em tela, as práticas e os desafios  vivenciados pela entrevistada neste espaço. Os resultados evidenciaram que a Psico-Oncologia  assiste o paciente desde o seu diagnóstico, tratamento, recuperação, e até mesmo, nos processos  de finitude decorrentes da evolução da doença. Ademais, as experiências relatadas pela  entrevistada fornecem uma visão aprofundada sobre a importância da Psico-Oncologia no  contexto hospitalar, destacando o papel fundamental do psicólogo na prestação de apoio  psicológico e oferta de estratégias de enfrentamento diante das repercussões emocionais  impostas pelo diagnóstico oncológico no enfermo, e em seu contexto familiar e social.  

Palavras-chave: Psico-Oncologia. Psicologia hospitalar. Oncologia. Psicologia da  saúde. 

ABSTRACT 

The field of hospital psychology encompasses various medical specialties. Among  them, Psycho-Oncology stands out, which consists of the interface between oncology and  psychology. Psycho-Oncology studies the influence of psychological factors on the  development, treatment, and rehabilitation of cancer patients. The objective of this article is,  through the account of experience, to provide the impressions and perceptions of the authors  regarding the experiences of an interviewed psychologist who works at the largest cancer  treatment hospital in the state of Rondônia, Brazil. The methodology is a qualitative study,  which seeks to understand a given phenomenon more deeply, in this case, the practices and  challenges experienced by the interviewee in this setting. The results showed that Psycho Oncology assists the patient from diagnosis, treatment, recovery, and even in the processes of  finitude resulting from the progression of the disease. Furthermore, the experiences reported by  the interviewee provide an in-depth insight into the importance of Psycho-Oncology in the  hospital context, highlighting the fundamental role of the psychologist in providing  psychological support and offering coping strategies in the face of the emotional repercussions  imposed by the oncological diagnosis on the patient and their family and social context. 

Keywords: Psychosocial Oncology. Hospital Psychology. Oncology. Health  Psychology. 

1. INTRODUÇÃO  

A Psico-Oncologia tem como objetivo identificar as variáveis psicossociais e contextos  em que as intervenções psicológicas podem ser aplicadas, potencializando o enfrentamento  contra as doenças oncológicas, além de construir estratégias para situações estressantes a que  paciente e familiares são submetidos. 

Campos et al. (2021) afirmam que a Psico-Oncologia emergiu no campo da saúde,  focada em compreender e abordar os aspectos biológicos, psicológicos e psicossociais do  câncer, a mesma surge das iniciativas pioneiras de profissionais como Holland (1996) no  Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em Nova Iorque.  

A compreensão da Psico-Oncologia como um instrumento facilitador de atividades  interdisciplinares no âmbito da saúde, abrangendo desde a pesquisa científica básica até os  programas de intervenção clínica, constitui o ponto de partida para o reconhecimento e a  valorização desta abordagem. As intervenções propostas pela Psico-Oncologia transcendem a  ênfase nas estruturas patológicas, destacando-se pela perspectiva integral do indivíduo para além da sua condição de enfermidade. Nesse complexo cenário, a Psico-Oncologia emerge  como uma abordagem essencial, estabelecendo a atenção e o cuidado aos indivíduos afetados  através de um atendimento profissional qualificado que independente da abordagem teórico filosófica escolhida, deve ultrapassar os limites dos consultórios para o cumprimento dos  objetivos da Psico-Oncologia. (Costa Junior, 2001) 

Portanto, o artigo busca abordar as contribuições do apoio psicológico na Psico Oncologia e reconhecer a relação entre saúde física e bem-estar psicológico, desempenhando  um papel crucial no enfrentamento do diagnóstico e tratamento do câncer. Além disso, o apoio  psicológico é fundamental na melhoria da qualidade de vida não só do paciente, como também  dos seus familiares, demonstrando sua eficácia na promoção da saúde mental ao longo das fases  de diagnóstico, tratamento e pós-tratamento. (Costa Junior, 2001) 

O presente artigo traz o relato da experiência das autoras referente a entrevista realizada  com uma psicóloga hospitalar especializada no atendimento infanto-juvenil que atua em um  hospital de tratamento e prevenção de câncer no Estado de Rondônia.  

2. METODOLOGIA 

O artigo busca através de uma troca entre as autoras e uma profissional atuante no campo  hospitalar com ênfase na Psico-Oncologia do setor pediátrico, conhecer a respeito do apoio que  é ofertado nesse contexto. O presente trabalho foi realizado por meio de uma entrevista  semiestruturada, a qual se trata de um modelo de entrevista flexível, que possui um roteiro  prévio, porém, existe espaço para que ambos façam perguntas fora do que havia sido planejado,  dessa forma, a entrevista é conduzida de forma mais dinâmica e orgânica. (Costa, 2022)  

Diante disso, seguimos o modelo de entrevista com um roteiro preestabelecido  composto por cerca de quatorze perguntas, e assim, outras foram surgindo ao decorrer do  diálogo. O encontro durou cerca de uma hora e trinta minutos. Em concordância com a  entrevistada gravamos o conteúdo da entrevista em áudio para a elaboração deste trabalho. A  entrevista foi realizada no hospital onde a psicóloga atua, o qual tivemos a oportunidade de  conhecer pessoalmente. 

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

De acordo com o Ministério da Saúde (1996), câncer é o nome dado a um conjunto de  doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e  órgãos, podendo se espalhar para outras partes do corpo. Silva (2005) fez uma revisão literária  do termo, essas concepções sobre o câncer foram sendo construídas historicamente pela  sociedade que, desde o momento dos primeiros diagnósticos, já atribuía o sentido de doença incurável correspondente a uma sentença de morte. Em decorrência dessa construção histórica  acerca da doença, existe um medo profundo de adquiri-la. 

Quanto às causas do seu aparecimento, elas podem ser internas ou externas ao  organismo e estarem ou não inter-relacionadas. Sabe-se que fatores causais como predisposição  genética, irradiação e até mesmo alimentação, contribuem para desencadeá-lo, porém nenhum  desses elementos, por si só, fornecem uma explicação suficiente para o surgimento da doença,  é possível até a interação entre eles para aumentar a probabilidade da célula normal se  transformar em maligna. (Ministério da Saúde, s.d) 

Segundo Carvalho (2002), a Psico-Oncologia surge no cenário da década de 70, Holland  (1996), psiquiatra do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em Nova Iorque, foi pioneira  ao estabelecer um serviço de atendimento, pesquisa e treinamento em psiquiatria e psicologia  direcionados para pacientes com câncer. A profissional tinha como objetivo, responder questões  fundamentais, identificar respostas normais e anormais ao câncer, avaliar a prevalência de  problemas psicológicos indicativos de necessidade de psicoterapia, investigar o impacto das  reações emocionais no curso da enfermidade e determinar intervenções e métodos de  enfrentamento para reduzir o sofrimento. Holland procurou mensurar o funcionamento físico,  psicológico, social, sexual e laboral, comparando-os com o funcionamento geral na ausência da  doença, no intuito de melhorar a qualidade de vida de maneira abrangente para seus pacientes.  

Segundo Gimenes (2000), a Psico-Oncologia, no Brasil emergiu da atuação de  psicólogos em instituições de saúde, sendo definida como uma subárea da Psicologia da Saúde  que se desenvolve de maneira interdisciplinar. Essa especialidade desempenha um papel  fundamental ao oferecer suporte ao paciente com câncer, explorar variáveis psicológicas  importantes e melhorar a organização dos serviços oncológicos. Isso não apenas enriquece a  compreensão da experiência oncológica, mas também impulsiona o desenvolvimento de  abordagens preventivas e terapêuticas mais eficientes. 

Ao passo em que a psiquiatria e a psicologia aprofundam o entendimento do ser humano  e desenvolvem tratamentos, surgiram abordagens específicas para lidar com pacientes  oncológicos. A perspectiva do câncer deixou de ser uma sentença de morte para uma condição  passível de tratamento. As primeiras cirurgias, viabilizadas pela descoberta da anestesia,  permitiram a remoção de tumores, abrindo caminho para possibilidades de cura. Descobertas  sobre as causas e processos do câncer, juntamente com novos tratamentos como radioterapia,  quimioterapia e imunoterapia, alteraram significativamente o cenário da doença,  proporcionando esperança de sobrevida e cura em muitos casos. (Botelho et al. 2010) 

Os conhecimentos teóricos e técnicos advindos do campo da Psico-Oncologia tem como  objetivo, a prevenção primária: detecção e intervenção sobre fatores de risco relacionados ao  desencadeamento do câncer, como fatores genéticos, consumo de álcool, ausência de atividade  física, etc. Prevenção secundária: orientada para a psicoeducação, visa o diagnóstico precoce  da doença; Prevenção terciária: intervenções realizadas em diferentes etapas da doença, visando  adesão ao tratamento, o enfrentamento das adversidades e o treinamento da equipe oncológica;  investigação: condução de mais pesquisas no intuito de aprimoramento da área oncológica.  (Búron e cols., 2008; Gimenes, 2000) 

De acordo com o Ministério da Saúde (1996), o câncer é uma doença complexa e pode  variar significativamente de acordo com o seu tipo, estágio e características individuais de cada  caso. Alguns tipos de câncer podem se desenvolver e progredir rapidamente, enquanto outros  têm um curso mais lento, de qualquer forma, o câncer destaca-se entre as inúmeras doenças  pertencentes ao mundo devido a sua capacidade de aterrorizar a partir de seu diagnóstico, pois,  não se limita apenas em desafios físicos associados ao tratamento, e sim ao poder de afetar a  saúde psicológica.  

Nesse contexto, a Psico-Oncologia entende que a complexidade emocional e  psicológica enfrentada pelos pacientes, familiares, e cuidadores, se encontram em um contexto  de fragilidade que afetam rotinas familiares, jornadas de trabalho, hábitos e práticas cotidianas  que desenvolvemos durante nosso ciclo de vida e o papel que exercemos na sociedade. O  diagnóstico na área de oncologia geralmente envolve uma combinação de abordagens clínicas,  radiológicas, patológicas e, em alguns casos, genéticas. O processo de diagnóstico em oncologia  perpassa pelas seguintes etapas: exame físico, histórico clínico, exames de imagem, exames laboratoriais, biópsia, análise patológica, estadiamento, avaliação genética, consulta  multidisciplinar. É importante destacar que o processo de diagnóstico pode variar de acordo  com o tipo específico de câncer e as características individuais de cada paciente. (Silva et al.  2008) 

São inúmeros sintomas desencadeados após o diagnóstico dos pacientes, que se  apresentam em maior ou menor número, e em diferentes momentos do processo da  enfermidade, o paciente apresenta um ou vários destes aspectos e em todos evidencia-se a  importância do apoio psicológico, entre os desafios enfrentados, podemos citar como sintomas  psicológicos, exemplos como: choque e negação, ansiedade, depressão, medo, raiva, revolta,  insegurança, perdas, desespero, luto antecipado, estresse e mudanças de humor; as questões  sociais como: isolamento, estigma, preocupações financeiras, impacto nas relações interpessoais, desafios sexuais, autoestima, mudança de papéis, perda de controle e perda de  autonomia; e as problemáticas relacionadas ao próprio câncer, em relação à dor, efeitos  colaterais do tratamento, como desafios nutricionais, alteração na autoimagem, medo da  recidiva, adaptações à nova realidade e hospitalização. (Campos et al. 2021) 

Logo, o enfrentamento dos desafios associados ao câncer demanda uma equipe  multidisciplinar que desempenha um papel essencial na gestão completa do paciente  oncológico, visando aprimorar qualidade de vida e bem-estar, desse modo, compreender e  abordar os desafios emocionais do paciente e seus familiares é essencial para o bem-estar global  da família durante a jornada do câncer. (Scannavino, 2013) 

4. RELATO DA EXPERIÊNCIA E DISCUSSÃO  

A entrevista que baseou esse relato ocorreu no dia 19/09/2023 conduzida através das  autoras graduandas em psicologia, direcionada à profissional que trabalha em um hospital para  prevenção e tratamento de pacientes oncológicos. A psicóloga é formada há seis anos em  psicologia, especializada em psicologia hospitalar e desenvolvimento da infância, atua nesses  seis anos como psicóloga infantojuvenil, em atendimento hospitalar pediátrico com carga  horária de trinta horas semanais, além de exercer a psicologia clínica algumas vezes por semana  de forma online e presencial. 

A entrevistada relatou que seu interesse na área hospitalar surgiu através de uma perda  pessoal por conta da neoplasia, o que despertou o desejo de atuar na área de oncologia. Foi  discutido a respeito do cotidiano e prática da profissional a fim de conhecer a sua rotina de  trabalho no hospital e principalmente no contexto da Psico-Oncologia. 

A respeito da base teórica, baseia-se na abordagem analítica, e no contexto hospitalar faz uso principalmente da psicoterapia breve, que consiste em um atendimento de curto tempo  e focal. A psicóloga ressaltou que na prática, outras teorias também fornecem grande apoio,  como a terapia cognitivo comportamental e a humanista. Esta combinação de abordagens  fornece um manejo clínico mais adequado, no qual, o objetivo é fazer a leitura do que o paciente  precisa e intervir de forma efetiva. 

O cenário hospitalar em que a profissional atua, possui atendimento ambulatorial, dez  leitos de internação e quatro leitos de UTI. Além disso, ela afirmou ser a única psicóloga do  setor que oferece suporte nas áreas mencionadas, dando prioridade à UTI devido a ser um setor  com pacientes de maior gravidade. Ademais, a psicóloga realiza visitas diárias aos pacientes no  leito e acompanhamento de seus familiares. Ao ser questionada sobre seus atendimentos, a  psicóloga relatou que na internação não são todos os pacientes que recebem atendimento psicológico, estes pacientes só são acompanhados através de solicitação da equipe  multiprofissional ou médica. Entretanto, em dias em que a internação apresenta pouca demanda  e não há solicitação da equipe, atende e realiza visitas de forma espontânea, atuando de modo  a verificar o estado emocional dos pacientes internados. 

Em relação a agenda de ambulatório, é organizada e administrada pela própria  profissional. É aberta a dois pacientes por dia, que funciona através de agendamento de duas  formas: através da solicitação do médico, ou no formato denominado de “Portas Abertas” que  consiste em um arranjo organizacional do hospital, no qual o próprio paciente tem a liberdade  para solicitar o agendamento do seu atendimento.  

Surgiu em nossa pauta perguntas referentes ao público atendido pela psicóloga. Ela  explicou que, apesar do setor pediátrico focar no atendimento infantil, a abordagem aos  acompanhantes das crianças internadas também é necessária, e por vezes, o atendimento é  direcionado a eles de forma reservada, isso de acordo com cada particularidade, justamente para  proporcionar maior tranquilidade durante o acompanhamento. A entrevistada reforçou como o  papel da família é importante para o paciente internado, pois, o suporte familiar interfere  positivamente no tratamento dos pacientes. Outrossim, ela relatou que ao perceber necessidade  de acompanhamento psicológico mais prolongado, realiza encaminhamentos para atendimento  psicoterápico externo. 

Segundo ela, em seu cotidiano não costumam ocorrer muitas emergências, e quando  ocorrem é na UTI, entretanto, são situações já esperadas, ou seja, previsíveis, nas quais é  possível realizar um preparo para aquela determinada situação. 

Além disso, questionamos quais desafios são encontrados quando se fala a respeito de  pacientes em fase terminal, ela compartilhou, que é definir, junto com a equipe médica,  pacientes para os cuidados paliativos, uma vez que, em alguns casos pode demandar tempo  nesse processo de interromper a terapêutica que vise a cura do paciente. Ela salientou que ás  vezes a decisão da equipe médica não está em consonância com as expectativas dos familiares,  e ocorre com frequência, de a família estar em negação, o que já é esperado, e faz parte do  processo. 

Nesse sentido, a entrevistada pontuou que o objetivo da equipe para com pacientes  paliativos é ofertar conforto para uma melhor qualidade de vida, ao passo que, com a família  em negação, esta exige procedimentos e exames invasivos, que no momento não seriam mais  indicados, porquanto, na verdade, o que o paciente precisa é de tempo para elaborar e vivenciar  sua finitude, ressaltou. Na sequência, a psicóloga relatou que pode ocorrer o “cerco do silêncio”, que diz respeito a um fenômeno em que a família, na intenção de proteger o paciente, decide  ocultar o prognóstico, e tomar decisões sem a ciência do paciente.  

Comentamos ainda sobre o tema de comunicação de notícias difíceis, especificamente  por se tratar de um público infantil, no que ela expôs que mesmo pequenos, os pacientes  entendem e sentem quando seu organismo está bem ou não, além de conhecerem seu tratamento. Isso é observado em crianças de pouca idade que explicam sobre seu diagnóstico  com muita precisão, ou seja, percebem quando há algo diferente. Sendo assim, essa conversação ocorre conforme a dinâmica familiar e do paciente, com intuito de entender qual a vontade dessa criança para viver seus últimos momentos, como receber a visita de alguém especial, dar um passeio ou realizar algum desejo.

Em seu relato, a profissional destacou que a morte no contexto infantil é triste,  entretanto, refletiu que muitas vezes é um descanso, devido a diversos aspectos do tratamento  tão doloroso pelo qual a criança passa. O sofrimento gerado pela morte é imensurável e único  de cada família, ainda mais no contexto infantil, quando o tempo, dedicação, e expectativas  diante do tratamento não possuem o resultado esperado. Ela mencionou ainda, que quando há  uma situação difícil, se permite sentir, chorar e trabalhar essas expressões consigo, e ainda  reforçou que esses movimentos de autocuidado, são essenciais para se dispor de uma boa saúde  mental a fim de que consiga elaborar experiências tão dolorosas, e estar bem, para atender os  pacientes e suas famílias da melhor maneira. “Me permitir isso é algo que faz com que eu amadureça, cresça e consiga trabalhar no contexto da oncologia.”

Relatou ainda, que é natural que ocorra um vínculo maior com um paciente de acordo  com o nível de identificação, gerando um maior nível de envolvimento e preocupação, porém,  entende que se deve manter o respeito por todos, sem existir diferenciação de tratamento.  Comentou também que, não se deve acontecer a mistura da vida pessoal com a vida profissional. 

Na sequência, falamos sobre sua relação com outros profissionais da saúde. Ela afirmou  que possui uma troca respeitosa com todos, e enfatizou que o trabalho em equipe é essencial, o  que é possível em virtude de todos fazerem progresso em sua devida área, onde o intuito final  é o mesmo: ofertar um serviço de qualidade ao paciente. Evidenciou ainda, que o trabalho  multidisciplinar, permite compreender melhor a demanda do paciente através da ótica de várias  áreas de conhecimento, com cada profissional fazendo uso de sua base teórica, técnicas e instrumentos.

Ao finalizar a entrevista foi possível perceber que a psicóloga demonstra grande  satisfação e realização em trabalhar no local. É notável a admiração que possui pelo contexto  hospitalar oncológico e atendimento infantil. Desse modo, finaliza recomendando  principalmente aos que desejam seguir na área, a prática de fazer terapia, um hábito  fundamental, pois quanto mais conhecemos nossos pontos positivos e negativos, melhor  conseguimos lidar com a demanda do outro. 

Notamos que a Psico-Oncologia não apenas atenua o sofrimento emocional associado  ao câncer, mas também desempenha um papel ativo na otimização da qualidade de vida, na  promoção da adaptação e no aumento da adesão ao tratamento dos pacientes. 

As intervenções psicológicas podem ajudar na gestão de sintomas como depressão,  ansiedade, fadiga e dor, melhorando assim o bem-estar geral do paciente durante e após o  tratamento, tendo em vista que, após a conclusão do tratamento, a Psico-Oncologia continua desempenhando um papel importante no apoio ao ajustamento pós-tratamento, ajudando os  pacientes a lidarem com questões de sobrevivência, medos de recorrência e adaptação a  mudanças na rotina. 

É relevante destacar que as taxas atuais de sobrevivência ao câncer estão em ascensão,  nesse contexto, a modalidade de atendimento multiprofissional desempenha um papel crucial,  uma vez que contribui não apenas para a compreensão da experiência oncológica ao longo do  ciclo de vida, mas também para fundamentar estratégias de tratamento mais adequadas e  eficazes, isso não apenas fortalece o suporte ao paciente, mas também resulta em benefícios  significativos para a qualidade de vida e o prognóstico geral. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Em síntese, é evidente como o apoio psicológico no contexto hospitalar, com ênfase na  Psico-Oncologia é de vital importância, especialmente por se tratar de uma doença tão  estigmatizada como o câncer, que por si só, o seu diagnóstico já gera sofrimento e medo. 

Foi possível observar que apesar da Psico-Oncologia ser pouco explorada e discutida,  os progressos dessa abordagem trazem benefícios indiscutíveis para a tríade, paciente – família  e equipe de saúde. E o psicólogo nesse contexto, por meio de intervenções no campo  psicológico e emocional, juntamente com os avanços de tratamentos médicos podem  proporcionar um tratamento mais humanizado, desconstruindo a crença de que o diagnóstico  do câncer significa uma sentença de morte. 

Após a escuta da narrativa da entrevistada e considerar estudos sobre o tema, infere-se que o trabalho da Psico-Oncologia é inegavelmente importante, porém, os psicólogos enfrentam desafios devido à recente chegada da Psico-Oncologia ao hospital e sua função sendo frequentemente desconhecida ou distorcida, contudo, apesar desses obstáculos, há um reconhecimento e valorização crescente da Psicologia, representando um progresso gradual por parte da equipe e das redes hospitalares.

Outrossim, as contribuições da psicologia em hospitais dentro da equipe  multidisciplinar, em conjunto, conseguem desenvolver um trabalho que se destaca, e leva a  eficácia no cuidado e atendimento ofertado de modo humanizado, considerando o indivíduo  além de sua enfermidade e enxergando-o como um todo. 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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1Acadêmica do curso de psicologia pelo centro universitário São Lucas. erislayne.raissa@gmail.com
2Acadêmica do curso de psicologia pelo centro universitário São Lucas. fontelegiulia@gmail.com
3Docente do curso de psicologia e orientadora pelo centro universitário São Lucas. joizapsi@gmail.com
4Acadêmica do curso de psicologia pelo centro universitário São Lucas. juliazemunerribeiro@gmail.com