APLICAÇÃO DE UMA FERRAMENTA DIGITAL DE MAPEAMENTO E A PERCEPÇÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NA OTIMIZAÇÃO DA GESTÃO E MONITORAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA

APPLICATION OF A DIGITAL MAPPING TOOL AND THE PERCEPTION OF COMMUNITY HEALTH WORKERS IN THE OPTIMIZATION OF MANAGEMENT AND MONITORING IN PRIMARY CARE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202505272338


Cecília Cristina Machado Borges1; Fábio Vecchini Martins1; Gabrielle Barcelos Dias Gonçalves1; Gabrielly Martins Ferreira1; Isadora Carpim Oliveira1; Débora Vieira2


Resumo

INTRODUÇÃO: A utilização de ferramentas digitais em saúde é uma alternativa para melhorar a assistência à saúde na Atenção Primária, como no mapeamento digital do território das ESFs. A integração com as tecnologias de informação e ferramentas digitais pode suscitar em uma digitalização dos dados de saúde e reduzir a morosidade do sistema, com maior facilidade para elencar as estratégias de gestão. OBJETIVO: Aplicar uma ferramenta digital de mapeamento e verificar a percepção dos Agentes Comunitários de Saúde na otimização da gestão e do monitoramento da Atenção Básica. METODOLOGIA: Estudo do tipo experimental, com abordagem qualitativa-quantitativa e exploratória, que será realizado na ESF 06, em Itumbiara-GO, devido à sua proximidade com o campus da faculdade e aos indicadores de saúde abaixo da meta. Os participantes incluem os ACS e o gestor da unidade, em que será utilizada uma amostragem não probabilística por conveniência para selecionar os participantes. Um aplicativo será desenvolvido para auxiliar os ACS na coleta de dados e organização das atividades diárias de trabalho, com um mapa da área de atuação da ESF 06. Serão realizados questionários e um grupo focal com os ACS para avaliar a viabilidade e aceitação do aplicativo. Os dados serão analisados usando estatísticas descritivas e testes de comparação. RESULTADOS ESPERADOS: Espera-se que este estudo possa contribuir com o processo de Gestão em Saúde para reduzir a morosidade do sistema na busca ativa de pacientes dentro das ESFs, e correlacionar os determinantes e condicionantes de saúde para facilitar no planejamento de ações e estratégias.

Palavras-chave: Ferramenta digital; Territorialização; Atenção Básica de Saúde; Agente Comunitário de Saúde; Gestão.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The use of digital health tools is an alternative to improve healthcare services in Primary Care, especially in the digital mapping of the territories covered by Family Health Strategies (ESFs). The integration of information technologies and digital tools can enable the digitization of health data and reduce the slowness of the system, facilitating the design of management strategies. OBJECTIVE: To apply a digital mapping tool and assess the perception of Community Health Workers regarding the optimization of management and monitoring in Primary Health Care. METHODOLOGY: This is an experimental study with a qualitative-quantitative and exploratory approach, to be conducted at ESF 06 in Itumbiara-GO, chosen due to its proximity to the university campus and its below-target health indicators. The participants include Community Health Workers (CHWs) and the unit manager, selected through non-probabilistic convenience sampling. An application will be developed to assist CHWs in data collection and organization of daily work activities, with a map of the ESF 06 coverage area. Questionnaires and a focus group will be conducted with CHWs to evaluate the feasibility and acceptance of the application. Data will be analyzed using descriptive statistics and comparative tests. EXPECTED RESULTS: This study is expected to contribute to the Health Management process by reducing system slowness in the active search for patients within the ESFs, and by correlating health determinants and conditions to facilitate the planning of actions and strategies.

Keywords: Digital tool; Territorialization; Primary Health Care; Community Health Worker; Management.

1 INTRODUÇÃO

A Atenção Básica (AB) constitui o principal ponto de entrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e desempenha um papel essencial na coordenação e ordenação das ações e serviços em saúde. Por meio das unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF), organizadas territorialmente, busca-se garantir o acesso, o vínculo e a continuidade do cuidado, promovendo ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação (BRASIL, 2017). Dentro dessa estrutura, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) desempenham funções fundamentais na mediação entre os serviços de saúde e a população adscrita, sendo responsáveis pela vigilância, educação em saúde e acompanhamento das condições de saúde de suas microáreas.

Apesar dos avanços da política de territorialização, ainda são evidentes os desafios operacionais na rotina das ESF, especialmente no que tange ao monitoramento de indicadores sensíveis como o exame citopatológico. O indicador “Proporção de mulheres com coleta de citopatológico na APS”, por exemplo, permanece abaixo da meta estipulada pelo Programa Previne Brasil. Em municípios como Itumbiara-GO, dados de 2022 apontaram uma cobertura inferior a 10%, o que compromete o desempenho das equipes e o financiamento baseado em resultados (BRASIL, 2022).

Um dos principais entraves identificados no processo de rastreamento é a morosidade na busca ativa de mulheres que se enquadram nos critérios do exame preventivo. A utilização de métodos manuais, como listas impressas ou cadernos de anotações, dificulta a atualização em tempo real dos dados, limita a visualização territorial dos casos prioritários e sobrecarrega a rotina dos ACS. Essa lacuna operacional repercute negativamente nos indicadores e na efetividade das ações em saúde (RECHMANN & MAGALHÃES, 2020).

Diante desse cenário, a adoção de tecnologias digitais apresenta-se como alternativa estratégica para otimizar o trabalho dos profissionais da atenção básica. Ferramentas de mapeamento georreferenciado associadas à digitalização de dados podem melhorar a visualização das áreas de cobertura, permitir a estratificação das usuárias por situação de risco e facilitar o agendamento dos exames preventivos. Estudos mostram que aplicativos móveis bem estruturados promovem agilidade, segurança e integração das informações, além de favorecerem a gestão participativa e o planejamento local (DA SILVA, BRILHANTE & MELCHIOR, 2023; KULAKLI & SHUBINA, 2020).

Alves, Borges e Garcia (2022) ressaltam que a visualização gráfica das microáreas e a segmentação por indicadores de saúde facilitam a tomada de decisão no âmbito da APS. Ao permitir que os ACS identifiquem de forma simples e visual as pacientes com exames em atraso, essas ferramentas digitais contribuem diretamente para a ampliação da cobertura do exame citopatológico e para a melhoria da vigilância em saúde. Nesse sentido, a inovação digital surge como um recurso de alto impacto para superar limitações do modelo analógico, proporcionando maior eficiência e resolutividade aos processos de trabalho na Atenção Básica.

Justifica-se, portanto, a presente pesquisa por seu potencial de impacto teórico e prático. Ao propor o desenvolvimento e a aplicação de uma ferramenta digital de mapeamento integrada à rotina dos ACS da ESF 06, busca-se oferecer uma resposta concreta a uma demanda operacional real, alinhada às diretrizes do SUS e às metas de desempenho do Previne Brasil. A pesquisa está inserida em um contexto de crescente informatização da saúde e contribui com a modernização das estratégias de monitoramento, planejamento territorial e controle de indicadores.

Assim, este estudo tem como objetivo geral aplicar uma ferramenta digital de mapeamento e verificar a percepção dos Agentes Comunitários de Saúde e do gestor na otimização da gestão e do monitoramento da Atenção Básica. De forma específica, pretende-se identificar a morosidade dos métodos tradicionais utilizados, avaliar a clareza e usabilidade do aplicativo, compreender como ele pode contribuir para o mapeamento populacional, além de analisar a aceitação e a satisfação dos profissionais com a nova ferramenta.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A Atenção Básica de Saúde constitui a porta de entrada prioritária do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo responsável pela coordenação do cuidado e ordenação das ações e serviços de saúde. No contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) desempenham papel essencial na territorialização, rastreamento de agravos e promoção da saúde da população adscrita, conforme preconiza a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2017).

A territorialização é uma estratégia gerencial que permite organizar o espaço de atuação das equipes de saúde com base nas características da população e do território. Nesse sentido, ferramentas digitais aplicadas à saúde têm se mostrado eficazes para superar desafios operacionais enfrentados pelos ACS, como a morosidade na identificação de demandas prioritárias, a desatualização das informações e a desorganização no acompanhamento de indicadores sensíveis, como o exame citopatológico (ALVES, BORGES e GARCIA, 2022).

A literatura aponta que o uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) na gestão em saúde pode qualificar o cuidado, melhorar o acesso e otimizar os processos de trabalho das equipes multiprofissionais (DA SILVA, BRILHANTE e MELCHIOR, 2023).

Além disso, essas tecnologias contribuem para reduzir erros administrativos, facilitar a visualização de dados em tempo real e promover a rastreabilidade das ações de saúde (KULAKLI e SHUBINA, 2020).

Apesar disso, o SUS ainda enfrenta entraves estruturais, como excesso de burocracia, fragmentação da informação e deficiências no uso de dados para tomada de decisão, o que compromete a eficácia da Atenção Primária à Saúde (RECHMANN e MAGALHÃES, 2020). Tais limitações justificam a necessidade de propostas inovadoras que aliem tecnologia e gestão estratégica, especialmente na atuação dos ACS, cuja rotina muitas vezes é sobrecarregada por registros manuais e métodos pouco dinâmicos (GEREMIA, 2020).

Estudos recentes evidenciam a importância da usabilidade e da aceitação de aplicativos móveis por parte dos profissionais da saúde. Ferramentas bem avaliadas em termos de clareza e facilidade de manuseio apresentam maior adesão e impacto positivo nas práticas assistenciais (MIRÓ e LLORENS-VERNET, 2021). No mesmo sentido, Mohr et al. (2017) demonstram que conjuntos de aplicativos focados em habilidades específicas para saúde mental obtiveram resultados satisfatórios quando implementados em contextos clínicos reais, reforçando a aplicabilidade dessas soluções também em outras áreas da saúde.

Aplicativos desenvolvidos com foco em saúde têm mostrado viabilidade técnica e boa aceitação, como demonstrado por Lima et al. (2019), que criaram uma solução móvel para o ensino de eletrocardiograma na educação médica. Esses achados reforçam que ferramentas digitais bem planejadas podem ser utilizadas tanto na assistência quanto na educação permanente das equipes de saúde.

A revisão de Santis, Mergentha e Christianson (2023) confirma que tecnologias digitais voltadas para prevenção e promoção de saúde são bem avaliadas mesmo em populações mais envelhecidas, o que reforça sua aplicabilidade em territórios diversos. Em consonância, Van Velthoven et al. (2020) demonstraram que o uso de aplicativos pode melhorar a cobertura vacinal e promover adesão a programas preventivos, reforçando o valor dessas estratégias no contexto da saúde pública.

No cenário brasileiro, a coleta do exame citopatológico é um dos indicadores monitorados pelo Programa Previne Brasil. Dados oficiais mostram que diversos municípios, inclusive Itumbiara-GO, apresentam cobertura abaixo da meta estipulada, o que evidencia fragilidades na busca ativa e na organização territorial (BRASIL, 2022). O uso de ferramentas digitais para acompanhamento e georreferenciamento das mulheres em idade fértil pode contribuir diretamente para a elevação desses índices.

Silva et al. (2021) destacam que o uso adequado de instrumentos de registro e de análise de indicadores assistenciais impacta diretamente na efetividade das ações da Atenção Básica. Tais instrumentos, quando digitalizados, tornam-se mais acessíveis, transparentes e integrados às necessidades do território, permitindo maior eficiência nas decisões clínicas e gerenciais.

Dessa forma, o presente estudo fundamenta-se na literatura científica atualizada e nas diretrizes nacionais do SUS, propondo a inserção de uma ferramenta digital que responda às fragilidades operacionais da ESF 06. A iniciativa está alinhada com a necessidade de modernização da atenção básica, à luz das evidências que apontam a tecnologia como um recurso essencial para o fortalecimento do sistema de saúde.

3 METODOLOGIA

Este estudo experimental, com abordagem qualitativa e quantitativa de natureza exploratória, foi desenvolvido com o objetivo de aplicar uma ferramenta digital de mapeamento e verificar a percepção dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e do gestor sobre sua contribuição para a otimização da gestão e do monitoramento na Atenção Básica. A pesquisa foi conduzida na Estratégia Saúde da Família (ESF) 06, situada no bairro Santa Inês, em Itumbiara-GO. A escolha da unidade se deu pela proximidade com o campus da faculdade e pelos indicadores de saúde abaixo da meta, evidenciando a necessidade de intervenções organizacionais e tecnológicas.

A população do estudo compreendeu os ACS e o gestor da unidade. A amostragem foi não probabilística por conveniência, incluindo todos os profissionais que aceitaram participar mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), respeitando-se os princípios éticos previstos na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O período de coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro e junho de 2024.

Para atender aos objetivos da pesquisa, foi desenvolvido um aplicativo móvel com base nas necessidades identificadas na ESF 06. O software foi construído em linguagem Java e integrado às plataformas Google Maps, Google Forms e Google Firebase, com o propósito de possibilitar a coleta, organização e visualização georreferenciada de dados de saúde dos pacientes adscritos à unidade. A ferramenta apresentou um mapa interativo da área de abrangência da unidade, com divisão por microáreas e marcadores coloridos que sinalizavam, por paciente, o status do exame preventivo. A navegação era intuitiva e permitia o acesso em tempo real a dados como nome, endereço, telefone e data da última coleta do exame citopatológico.

Os ACS e o gestor receberam treinamento prévio para a utilização da ferramenta digital, que foi instalada nos dispositivos móveis de cada profissional. O acesso ao sistema se deu por meio de login autenticado com e-mail previamente cadastrado. A interface do aplicativo foi concebida de maneira simples e funcional, sendo inicialmente voltada para o indicador de citopatológico, devido à sua relevância no Programa Previne Brasil.

A coleta de dados sobre a aceitação da ferramenta foi realizada por meio de dois instrumentos: um questionário estruturado com escala tipo Likert de cinco pontos, elaborado conforme os objetivos específicos, e a System Usability Scale (SUS), traduzida e adaptada para o português por Tenório et al. (2010). Esses instrumentos avaliaram aspectos como clareza, usabilidade e impacto percebido da ferramenta no cotidiano dos ACS.

Os dados quantitativos obtidos foram tabulados em planilhas eletrônicas do Microsoft Excel® e analisados estatisticamente por meio do software SPSS® versão 20.0, utilizando-se medidas de tendência central, desvio-padrão e testes comparativos como o Teste de Wilcoxon ou o Teste G, conforme a natureza das variáveis. As informações qualitativas oriundas das questões abertas e do grupo focal foram organizadas em categorias temáticas e analisadas com apoio do software Atlas.ti®, permitindo a identificação de padrões de percepção e sugestões de melhoria dos usuários quanto à ferramenta.

Os critérios de inclusão abrangeram todos os ACS e o gestor da ESF 06 que utilizaram o aplicativo durante o período estipulado e que consentiram formalmente com a participação. Foram excluídos aqueles que, por qualquer motivo, não operaram a ferramenta digital ou não responderam aos instrumentos de avaliação. Entre os riscos identificados, considerou-se o desconforto com o uso de tecnologia e a exposição a dados sensíveis; para mitigar tais riscos, a aplicação foi protegida por autenticação em duas etapas, com garantia de sigilo e exclusão dos dados ao término do estudo.

Entre os benefícios esperados, destaca-se o aprimoramento da eficiência no trabalho dos ACS, a qualificação da gestão territorial, a ampliação do alcance do exame preventivo e o fortalecimento da tomada de decisões baseada em dados. A metodologia adotada permite não apenas a análise da funcionalidade da ferramenta, mas também sua replicabilidade em outras unidades com desafios similares.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Otimização do Monitoramento por Ferramentas Digitais

A aplicação da ferramenta digital de mapeamento na Estratégia Saúde da Família (ESF) 06, em Itumbiara-GO, demonstrou impacto direto na organização e monitoramento dos indicadores de saúde, com destaque para o exame citopatológico (Papanicolau). Antes da implantação da tecnologia, o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) era realizado com planilhas físicas e sistemas manuais, que dificultavam a busca ativa de pacientes e a gestão territorial.

Com a introdução do aplicativo desenvolvido pelos pesquisadores, os ACS passaram a visualizar, em tempo real, o status das pacientes em sua área de atuação, segmentadas por microáreas e categorizadas por marcadores coloridos, conforme o tempo decorrido desde o último exame preventivo. Essa visualização georreferenciada proporcionou agilidade e eficiência na priorização das visitas domiciliares.

Os resultados são demonstrados na Tabela 1:

Tabela 1 – Tempo médio na busca ativa para o exame citopatológico antes e após uso do aplicativo digital

Fonte: Dados coletados pelos autores (2024).

Esse avanço reforça o que aponta Alves, Borges e Garcia (2022), ao afirmarem que o uso de tecnologias digitais no processo de territorialização facilita a tomada de decisões em saúde pública e a efetividade das ações dos profissionais em campo.

4.2 Redução da Morosidade e Integração da Equipe

A análise dos dados revelou uma sensível redução da morosidade na captação de pacientes e na gestão das informações. De acordo com os ACS entrevistados, a ferramenta eliminou a dependência de listas físicas, promovendo um fluxo de trabalho mais dinâmico. Esse resultado está em consonância com os achados de Rechmann e Magalhães (2020), que destacam a morosidade do SUS como um entrave à eficiência da Atenção Básica.

A ferramenta também facilitou a comunicação entre ACS e o gestor da unidade, permitindo o acompanhamento em tempo real das ações realizadas. Essa integração, segundo Kulakli e Shubina (2020), é essencial para otimizar o planejamento e reduzir listas de espera, uma vez que ferramentas digitais promovem um ecossistema de saúde mais conectado e eficiente.

4.3  Impacto nos Indicadores de Saúde

A melhoria dos indicadores de cobertura do exame citopatológico está diretamente ligada ao uso da ferramenta digital. Em linha com Silva et al. (2021), a efetividade dos serviços prestados pelas ESFs depende da qualidade e da gestão dos indicadores assistenciais. O município de Itumbiara, como apontado pelos dados do SISAB (2022), apresentava desempenho abaixo da meta no indicador “Proporção de mulheres com coleta de citopatológico”.

A ferramenta utilizada neste estudo potencializou o alcance a mulheres com exames em atraso, conforme mostra a figura 1 (relatório quadrimestral do SISAB), e possibilitou estratégias mais direcionadas por parte da equipe gestora. Como defende Weigelt, Mancio e Petry (2012), o bom uso de indicadores favorece decisões assertivas e a alocação adequada de recursos.

4.4  O Papel do ACS e a Transformação Digital

Os resultados também indicam que o ACS, quando apoiado por tecnologias digitais, amplia sua capacidade de atuação em microáreas específicas. O aplicativo não apenas auxiliou na visualização dos dados, mas também no fortalecimento do vínculo com a população, promovendo cuidado mais humanizado e orientado por evidências.

A PNAB (2017) já reforçava o papel do ACS como elo entre comunidade e serviço de saúde, com responsabilidades na identificação de agravos e promoção de ações preventivas. No entanto, a falta de infraestrutura e o excesso de burocracia comprometem essa atuação, como apontado por Geremia (2020).

Neste sentido, a introdução do aplicativo corrige lacunas operacionais e facilita a territorialização, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde (2022) e pelos princípios da gestão inovadora do SUS.

4.5  Discussão Comparativa com a Literatura

O uso de ferramentas digitais como a testada neste estudo foi apontado por Miró e Llorens-Vernet (2021) como uma solução eficaz para melhorar o acesso, organização e continuidade do cuidado em saúde. Mohr et al. (2017) demonstraram que, mesmo em contextos complexos como saúde mental, o uso de aplicativos pode otimizar o controle e o acompanhamento de pacientes, reforçando a aplicabilidade desse tipo de intervenção também no contexto da Atenção Primária à Saúde.

Adicionalmente, estudos como os de Momany et al. (2017) e Eymant et al. (2023) reforçam que a digitalização dos serviços de saúde é uma demanda global e urgente, especialmente após a pandemia da COVID-19, e deve ser integrada às políticas públicas com foco em eficiência, rastreabilidade e resolutividade.

4.6  Desempenho do Indicador de Preventivo no Município de Itumbiara

O desempenho insatisfatório do município de Itumbiara-GO quanto ao indicador “Proporção de mulheres com coleta de citopatológico na APS” reforça a necessidade de estratégias mais eficazes na busca ativa e rastreamento das pacientes. Conforme dados extraídos do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), observa-se que o município obteve cobertura de apenas 6% no primeiro e segundo trimestres de 2022, e 7% no terceiro trimestre, valores muito abaixo da meta nacional estipulada pelo Programa Previne Brasil.

Figura 1 apresenta o relatório oficial com os dados quadrimestrais consolidados:

Fonte: SISAB, Ministério da Saúde, 2022.

A faixa de desempenho inferior a 16% está destacada em vermelho no sistema, o que indica alerta crítico e influencia diretamente no repasse financeiro vinculado ao desempenho das equipes de saúde. A introdução da ferramenta digital desenvolvida neste estudo visa justamente reverter esse cenário, ampliando a cobertura do exame por meio de organização territorial eficiente e rastreamento em tempo real das mulheres que necessitam realizar o exame preventivo.

Conforme preconiza o Ministério da Saúde (2020), este indicador reflete a capacidade da equipe de saúde em realizar vigilância ativa da população adscrita, oferecer o exame em quantidade compatível e facilitar o acesso das mulheres ao serviço elementos potencializados com o uso da tecnologia proposta.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação da ferramenta digital de mapeamento na Atenção Básica permite otimizar o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde, reduzir a morosidade dos processos manuais e aprimorar a gestão do rastreamento de exames preventivos. A ferramenta promove maior integração entre ACS e gestores, favorece a territorialização das ações e melhora a cobertura de indicadores sensíveis, como o exame citopatológico.

Os objetivos da pesquisa foram atingidos, e a hipótese de que a tecnologia contribuiria para a eficiência na gestão e no monitoramento em saúde pública foi confirmada. A aceitação da ferramenta pelos profissionais participantes destaca seu potencial para ser incorporada de forma definitiva às rotinas da Estratégia de Saúde da Família.

Esta pesquisa contribui com a prática ao propor uma solução tecnológica viável, de baixo custo e aplicável em outras unidades com desafios similares. Do ponto de vista teórico, reforça a importância da inovação digital no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde.

Como limitação, destaca-se o número restrito de participantes e o curto período de observação. Para estudos futuros, recomenda-se a replicação da ferramenta em diferentes contextos geográficos, com acompanhamento longitudinal e avaliação da sustentabilidade da intervenção.

REFERÊNCIAS

ALVES, Júlio César Rabêlo; BORGES, Agostinho José Passos; GARCIA, Emerson Gomes. Mapa digital no processo de territorialização da atenção primária à saúde: relato de experiência. Revista Baiana de Saúde Pública, [s. l.], v. 46, n. 3, p. 364–373, 2022. Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/3604. Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Constituição (1988): Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002. 320 p.

BRASIL. Fundo Nacional de Saúde. Cartilha para apresentação de propostas ao Ministério da Saúde – 2022. Brasília: MS, 2022. Disponível em: https://portalfns.saude.gov.br/wp- content/uploads/2022/03/CARTILHA_2022_livro.pdf . Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Documento orientador: como a equipe de saúde da família pode melhorar os indicadores de desempenho. Brasília: MS, 2020. Disponível em: https://sisab.saude.gov.br/resource/file/documento_orientador_indicadores_de_desempen ho_200210.pdf . Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: MS, 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/trabalho_agente_comunitario_saude.pdf . Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: MS, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_basica.pdf . Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde: estrutura, princípios e como funciona. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/sus . Acesso em: 25 mar. 2025.

BRASIL. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica – SISAB: Nota Técnica Explicativa do Relatório de Indicadores de Desempenho da APS (Previne Brasil – 2022). Brasília: MS, 2022. Disponível em: https://sisab.saude.gov.br/resource/file/nota_tecnica_indicadores_de_desempenho_20220 603.pdf . Acesso em: 25 mar. 2025.

DA SILVA, Leonardo José Tomaz; BRILHANTE, Andreia Fernandes; MELCHIOR, Leonardo Augusto Kohara. Business Intelligence no apoio à gestão estratégica em saúde: um relato de experiência. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, [s. l.], v. 12, n. 4, 2023. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/5704/570474796007/570474796007.pdf. Acesso em: 25 mar. 2025.

GEREMIA, Daniela Savi. Atenção primária à saúde em alerta: desafios da continuidade do modelo assistencial. Physis, [s. l.], v. 30, n. 1, p. 1–3, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/bfHzYdb3tyCcyGKYPz5KdNJ/ . Acesso em: 25 mai. 2025.

KULAKLI, Atik; SHUBINA, Ivanna. Scientific publication patterns of mobile technologies and apps for posttraumatic stress disorder treatment: bibliometric co-word analysis. JMIR MHealth and UHealth, [s. l.], v. 8, n. 11, 2020. Disponível em: https://mhealth.jmir.org/2020/11/e19391. Acesso em: 04 mai. 2023.

LIMA, Carlos José Mota de et al. Desenvolvimento e validação de um aplicativo móvel para o ensino de eletrocardiograma. Revista Brasileira de Educação Médica, Fortaleza, v. 43, n. 1, p. 157–165, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v43suplemento1-20190164. Acesso em: 25 mar. 2025.

MIRÓ, Jordi; LLORENS-VERNET, Pere. Assessing the quality of mobile health-related apps: interrater reliability study of two guides. JMIR mHealth and uHealth, [s. l.], v. 9, n. 4, 2021. Disponível em: https://mhealth.jmir.org/2021/4/e26471. Acesso em: 25 mai. 2025.

MOHR, David C. et al. Intellicare: an eclectic, skills-based app suite for the treatment of depression and anxiety. Journal of Medical Internet Research, [s. l.], v. 19, n. 1, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.2196/jmir.6645. Acesso em: 25 mar. 2025.

RECHMANN, Itanaina Lemos; MAGALHÃES, Thayná Andrade. A vulnerabilidade dos usuários do SUS acerca dos serviços de atenção especializada: abordagem segundo a bioética da proteção. Revista Direito UNIFACS, [s. l.], 2020. Disponível em: https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/6510. Acesso em: 25 mai. 2025.

SANTIS, Karina Karolina; MERGENTHA, Lea; CHRISTIANSON, Lara. Digital technologies for health promotion and disease prevention in older people: scoping review. Journal of Medical Internet Research, [s. l.], v. 25, p. 1, 2023. Disponível em: https://www.jmir.org/2023/1/e43542/. Acesso em: 25 mar. 2025.

SILVA, Juliana da Silva e et al. Análise dos indicadores assistenciais presentes do consolidado mensal em uma unidade de saúde da família em Belém-PA. Brazilian Journal of Health Review, [s. l.], v. 4, n. 2, p. 5707–5719, 2021. DOI: 10.34119/bjhrv4n2-136. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/26544. Acesso em: 25 mar. 2025.


1 Docentes curso superior da Faculdade ZARNS Itumbiara e.mail: cecilia.machado20@outlook.com

1 Docentes curso superior da Faculdade ZARNS Itumbiara e.mail: fabiovema@hotmail.com

1 Docentes curso superior da Faculdade ZARNS Itumbiara e.mail: agabriellebarcelos@gmail.com

1 Docentes curso superior da Faculdade ZARNS Itumbiara e.mail: gabriellymartins@icloud.com

1 Docentes curso superior da Faculdade ZARNS Itumbiara e.mail: isadoracarpimporfirio@gmail.com

2 Docente departamento de pesquisa da Faculdade ZARNS Itumbiara. e-mail: debora.vieira@imepacmed.com.br