APLICAÇÃO DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS, COMO MEDIDA PREVENTIVA E ANALÍTICA.

Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 86, Maio/Junho de 2012. http://www.novafisio.com.br

 

 

Aplicação de um programa de atividades psicomotoras em idosos institucionalizados, como medida preventiva e analítica.

APPLICATION OF A PROGRAMME OF PSYCHOMOTOR ACTIVITIES ON THE INSTITUTIONALIZED ELDERLY AS A PREVENTIVE AND ANALITICAL MEASURE.

 

BOEMER, L.S.*; JUNGES, M. I.*; PEREIRA,V. L*; MATOS, F. M**.

* Graduados em Fisioterapia pela Universidade Regional de Blumenau (FURB): lizane_fisio@hotmail.com; beljunges@terra.com.br; verafisio2001@yahoo.com.br

** Graduado em Fisioterapia pela Sociedade Catarinense de Ensino/Faculdade de Ciência da Saúde de Joinville; Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica pela Sociedade Catarinense de Ensino: matosfisio@furb.br

 

Revisado por: Rodrigo Silva Perfeito (rodrigosper@yahoo.com.br)

Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 86, Maio/Junho de 2012. http://www.novafisio.com.br

 

Resumo

Os objetivos deste estudo foram analisar os efeitos da aplicação de atividades psicomotoras com idosos. Verificar se há aumento no desempenho das atividades motoras, bem como da percepção de corpo e espaço e capacidade de concentração sem intenção de comparação entre os sexos. Avaliar a influência das atividades psicomotoras nas AVD’s e nas funções sociomotoras. Este estudo justifica-se pela necessidade de trazer vida aos anos, retardando as perdas naturais do envelhecimento, prevenindo a hipomobilidade, quedas e mantendo o potencial humano. A amostra constituiu-se de quatro idosos com idade média de 78 anos sendo dois do sexo feminino e dois do masculino. A coleta de dados foi realizada em três etapas: a primeira, ateve-se a aplicação dos testes, na segunda, realizou-se a aplicação das atividades psicomotoras duas vezes por semana com duração de 90 minutos cada sessão, totalizando a aplicação de sete sessões. E a terceira, foi a reaplicação dos testes da primeira etapa. Através deste trabalho, ficou demonstrado que a psicomotricidade proporciona aumento do contato social, melhora a saúde física e mental, garante a melhora da performance funcional e, consequentemente, a maior independência, autonomia e qualidade de vida do idoso.

Palavras chaves: Psicomotricidade, Idosos, Prevenção.

Abstract

 

The goals of this study were to analyze the effects of the application of psychomotricity on the elderly, verifying whether there would be a growth in their motor function performance as well as their perception of the body and the space and also their capacity of concentration. Important to point out that comparisons between different sexes were not meant. One other aspect was to evaluate the influence of psychomotor functions on the AVD’s* and on the sociomotor skills. This study justifies itself so as to bring old age back to a new life, holding back the natural losses caused by aging, preventing hypo mobility and fallings, and most importantly, keeping up human potential. The sample was composed by four elderly people at average age of 78, being two male and two female. Collecting data went about in three steps: First step focused on applying the tests, on the second step the application of psychomotor activities were held twice a week, being the sessions 90 minutes long, with a total of 7 sessions. And the third session aimed at the re-applying the tests of the first step. Through this work, it was clearly demonstrated that psychomotricity supplies the subject of the study with a rise in the social contact, improvement on physical and mental health, as well as granting the patients improvement of the functional performance and, consequently, a higher level of independence, therefore, increasing the autonomy and the quality of life of the elderly.

Keywords: Psychomotricity, Elderly, Prevention.

Introdução

No Brasil infelizmente, não há ainda um trabalho sério em nível profilático, visando a favorecer o desabrochar das potencialidades dos longevos. Apesar de tal fato ser uma cruel realidade, percebe-se que várias instituições estão procurando investir cada vez mais na prevenção das doenças hipocinéticas e na valorização do cidadão com mais experiência de vida (BARRETO e SILVA, 2004).
Envelhecimento é um fenômeno biopsicossocial que atinge o Homem e sua existência na sociedade, manifestando-se em todos os domínios da vida. Este é um desenvolvimento gradual de alterações estruturais e fisiológicas, que ocorrem em qualquer organismo vivo e se escalonam desde o nascimento até a morte, não sendo devidas a doenças ou traumatismos evitáveis ainda que uns e outros possam concorrer para o envelhecimento mais rápido. Tais alterações estão associadas com uma probabilidade maior de morte (REY, 1999; COANA et al., 2003; CHEIK et al., 2004).
O estudo científico do processo e dos problemas do envelhecimento é denominado gerontologia (REY, 1999; COANA et al., 2003).
A psicomotricidade objetiva aumentar a capacidade de interação do sujeito com o ambiente através da atividade corporal e sua expressão simbólica (GUALBERTO, S/D). Observando o indivíduo de forma geral, a psicomotricidade faz-se necessária, tanto para a prevenção e tratamento das dificuldades, quanto para a exploração do potencial ativo de cada um (FISCHER, 1998).
Em gerontopsicomotricidade, trabalha-se com uma verdadeira reeducação psicomotora, esta visa resgatar a expressividade, a capacidade de comunicação do sujeito consigo mesmo, com os objetos, com os outros e com o mundo (BARRETO, 2000).
Os objetivos deste estudo foram analisar os efeitos da aplicação de atividades psicomotoras com idosos. Verificar se há aumento no desempenho das atividades motoras, bem como da percepção de corpo e espaço e capacidade de concentração sem intenção de comparação entre os sexos. E avaliar a influência das atividades psicomotoras nas AVD’s e nas funções sociomotoras.
Este estudo justifica-se pela necessidade de trazer vida aos anos, retardando as perdas naturais do envelhecimento, prevenindo a hipomobilidade e as quedas e mantendo o potencial humano. Desta forma, trabalhar o idoso como um todo, não apenas seus sintomas e assim reformulando situações terapêuticas, viabilizando uma melhora na qualidade de vida deste indivíduo.
Aliado a opção em trabalhar com a terceira idade, há de se ter em mente que, a esses alunos especiais, não apenas irá interessar a parte e o efeito dos exercícios físicos, mas sim e principalmente o fator humano que envolve amizade, carinho, compreensão, paciência, sinceridade e real interesse por ele e sua socialização e integração junto ao grupo (CORRAZA, 2001).

Materiais e Métodos

Trata-se de uma pesquisa teórico-prática de caráter quali-quantitativa que envolve a Fisioterapia geriátrica e psicomotora.
A amostra constituiu-se de quatro idosos com idade média de 78 anos sendo dois do sexo feminino e dois do masculino, onde estes, para critérios de inclusão deveriam apresentar déficit de equilíbrio, atenção e coordenação motora. Excluíram-se os pacientes que apresentavam os diagnósticos clínicos de demências, sequelas e doenças neurológicas, déficit visual e demais alterações que pudessem comprometer a realização desta pesquisa.
A coleta de dados foi realizada em três etapas:

– A primeira etapa ateve-se à avaliação do grupo através de teste de agilidade, teste da caminhada de seis minutos (MATSUDO, 2000); teste de coordenação com equilíbrio, teste de coordenação sem equilíbrio, teste de equilíbrio estático, teste de equilíbrio dinâmico, teste de movimento alternado ou recíproco, teste de movimento composto ou sinergia, teste de precisão do movimento, teste de fixação ou manutenção da postura (O’SULLIVAN, 1993). Cabe ao fisioterapeuta a escolha da avaliação que melhor se adequa a população de idosos a ser beneficiada pelo programa de atividade física (PICKLES et al., 1998).
– Na segunda etapa realizou-se a aplicação das atividades psicomotoras duas vezes por semana com duração de 90 minutos cada sessão, totalizando a aplicação de sete sessões. As atividades psicomotoras aplicadas foram:
•    Exercício de roda (GEIS e RUBÍ, 2001);
•    Em roda deslocar-se lateralmente (NEGRINE, 1987);
•    Em roda jogar o balão, andar ou correr (VIANA et al., 1990);
•    Exercício em fila com balão (GEIS e RUBÍ, 2001);
•    Exercício de sentar no balão (VIANA, 1990);
•    Exercício de jogar o balão (VIANA et al., 1990);
•    Motricidade fina (NEGRINE, 1987).
•    Na terceira e última etapa reaplicou-se os testes já citados anteriormente.
Para a realização desta pesquisa foram utilizados: cronômetro, fita métrica, fita isolante (marcadora), cadeiras, barras paralelas, dois pesos de 1kg cada, bolas de mesmo diâmetro e peso, balões coloridos, folhas de papel e figuras coloridas, feijão, milho, alça de metal da lata de refrigerante, aparelho de som.

Resultados e discussão

A partir dos dados obtidos observou-se que dos itens avaliados nos testes de coordenação motora não envolvendo e envolvendo o equilíbrio, as situações que tiveram resultados mais evidentes foram as analisadas e discutidas a seguir.
A graduação utilizada foi de 2 correspondendo a 100%, 1 a 50%, 0 a 0%. A partir da TABELA I pode-se observar que na situação alternar dedo ao nariz, dedo ao dedo, dois idosos apresentaram 50% em média de alteração motora benéfica.
No momento em que foi aplicado o teste de oponência dos dedos, notou-se progressão de em média 66,66% dentre os três idosos que apresentaram alguma alteração motora.
Quando se solicitou o andar para os idosos para a aplicação do teste, verificou-se uma média de 50% de resultados positivos em três idosos avaliados.

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Para a análise da TABELA II, utilizou-se a graduação de 1 correspondendo a 100%, 2 a 75%, 3 a 50%, 4 a 25% e 5 a 0%. Onde o teste de levantar-se da posição supino para sentado sem o uso das mãos obteve-se por média 33,33% de resultados positivos dos três idosos que referiram alterações entre a primeira e última avaliação.
No teste onde o individuo caminhava colocando o calcanhar de um pé à frente do hálux do pé oposto os quatro idosos apresentaram média de 31,25% de evolução.
E na situação parar e começar abruptamente enquanto estiver andando, todos os idosos tiveram média de 35% de aquisição de coordenação motora.
No idoso o equilíbrio é instável, decorrente das alterações ósseas, articulares e ligamentares. Portanto, apresenta dificuldades de representação do esquema de atitude registrado nos centros superiores ideomotores (MEIRELLES, 2000).

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Em relação à fixação ou manutenção da postura dos MMSS, de acordo com a FIGURA I, os sujeitos 1, 2 e 4 obtiveram melhor graduação tanto no período pré quanto no pós intervenção psicomotora. Já o sujeito 3, no período pré, obteve graduação 1 tanto de olhos abertos quanto de olhos fechados. Após a intervenção psicomotora, o mesmo obteve a graduação 2, apresentando boa melhora.
Em psicomotricidade busca-se trabalhar sobre a noção de “ser no mundo”, trabalhando não só os sintomas, mas visando atuar sobre a personalidade do indivíduo. Portanto, através de exercícios psicomotores há um incremento no autoconceito e na auto-imagem, podendo haver melhoria no relacionamento com as outras pessoas (FISCHER, 1998).

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A FIGURA II referente à fixação ou manutenção da postura em relação aos MMII, pode-se verificar que os sujeitos 2 e 4 obtiveram melhor graduação e mantiveram nos momentos pré e pós. Já os sujeitos 1 e 3, na posição sentada obtiveram graduação 1 no período pré e após a intervenção psicomotora os mesmos passaram a obter graduação 2.

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No teste de caminhada de 6 minutos para o sexo feminino com a média de idade entre 70 a 74 anos, a distância média percorrida deve ser de 409,5 m e para o sexo masculino com média de idade entre 80 a 84 anos, a distância média percorrida deve ser de 367,6 m (MATSUDO, 2000).
Idosos institucionalizados, em geral, são idosos fragilizados por diferentes enfermidades e muitas dessas enfermidades estão correlacionadas com a diminuição da mobilidade e alteração do equilíbrio e controle postural (SOARES et al., 2003).
Nos casos dos pacientes do sexo feminino de acordo com a FIGURA III, S1 teve no momento pré 207 m e aumentou para 228,22 m no momento pós. Já S2, teve no período pré, a distância de 360 m, e no período pós houve uma diminuição da distância para 262,74 m. Neste segundo caso, observou-se que a mesma realizou o teste no momento pós intervenção psicomotora com maior tranquilidade e menos ansiedade, quanto no seu desempenho no momento pré.
Nos casos dos pacientes do sexo masculino, S3 teve no primeiro momento a distância percorrida de 189 m, evoluindo para 228,56 m no segundo momento. S4 obteve a distância de 289,23 m no primeiro momento aumentando para 308,56 m no segundo momento.
Apesar da melhora significativa das distâncias, os sujeitos permaneceram com suas médias bem abaixo das referências (SOARES et al., 2003).

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Para ambos os sexos com as respectivas médias de idade, o tempo médio do teste de agilidade deve ser de 21,3 s (MATSUDO, 2000).
Os idosos que realizam o teste em menos de 20 s, tendem a ser muito independentes, enquanto idosos que cumprem o teste em mais de 30 segundos tendem a ser muito mais dependentes, sugerindo, portanto, um maior risco de ocorrência de quedas (SOARES et al., 2003).
No teste de agilidade, observou-se uma melhora significativa de tempo, principalmente o S3, que de 50,1 s abaixou para 36,9 s. O S2 evoluiu de 31 s para 27,4 s. S3 também teve evolução de 32,1 s para 29,2 s. Já S1, permaneceu praticamente no mesmo tempo de aproximadamente 42 s.

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Considerações finais

Através deste trabalho, ficou demonstrado que a psicomotricidade proporciona aumento do contato social, melhora a saúde física e mental, garante a melhora da performance funcional e, consequentemente, a maior independência, autonomia e qualidade de vida do idoso.
Os resultados demonstram que idosos institucionalizados possuem uma maior probabilidade de sofrer quedas, por apresentarem uma maior média de tempo de realização dos testes, indicando um menor nível de mobilidade funcional. Justifica-se assim a necessidade de uma abordagem preventiva, minimizando a exposição dos idosos a fatores de risco.
Concluiu-se que a prevenção das quedas no idoso passa obrigatoriamente pela correção dos fatores como: equilíbrio, marcha, memória, visão, etc.
Sugere-se a aplicação de um programa de atividades psicomotoras a uma maior amostra, com um maior número de sessões.

Referências bibliográficas

 

BARRETO, S. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica, 2000.
BARRETO, S; SILVA, C. Gerontomotricidade. Blumenau: Acadêmica, 2004.
CHEIK, N. et al. Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos.  Brasília, 2003. Disponível em: <www.ucb.br/mestradoef/rbcm/downloads/Artigo43-49%20-%20RBCM-V11-3.pdf>. Acesso em: 14/10/2004.
COANA, C. et al. Stendman dicionário médico. 27. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
CORRAZA, M. Terceira idade e atividade física. São Paulo: Phorte Editora, 2001.
FISCHER, A. Psicomotricidade: o movimento como estratégia de ensino e melhoria da qualidade de vida. Rio do Sul: 1998.
GEIS, P; RUBÍ, M. Terceira idade: atividades criativas e recursos práticos. Porto Alegre: Artmed, 2001. p.169.
GUALBERTO, D. O que vem a ser a psicomotricidade.  Disponível em: <http://www.navinet.com.br/~gualberto/index.htm>. Acesso em: 14/10/2004.
MATSUDO, S. Avaliação funcional do idoso: física e funcional. Londrina: MIDIOGRAF, 2000.
MEIRELLES, M. Atividade Física na terceira idade. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
NEGRINE, A. A coordenação motora: e suas implicações. Porto Alegre: Pallotti. 1987. p. 179.
O’SULLIVAN, S. Fisioterapia: Avaliação e tratamento. 2.ed. São Paulo: Manole, 1993 P.775.
PICKLES, B. et al Fisioterapia na terceira idade. São Paulo: Santos, 1998. P. 498
REY, L. Rey dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
SOARES, A. et al. Estudo comparativo sobre a propensão de quedas em idosos institucionalizados e não – institucionalizados através do nível de mobilidade funcional. Fisioterapia Brasil. v.4, n.1, jan/fev de 2003 p.12-16.
VIANA, A; MELO, W; VIANA, E. Coordenação psicomotora. v.1. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. p.204.
VIANA, A; MELO, W; VIANA, E. Coordenação psicomotora. v.2. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. p.204.