REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8201855
Rúbia Damasceno Albuquerque Oliveira1
Antônio Victor Justino Ramos dos Santos2
João Justino dos Santos Neto3
José Iago Sampaio Bezerra4
Júlia Renata Pinto Correia de Mélo5
Luiz Alberto Machado Cordeiro da Cruz6
Rafaella Vilela Monteiro7
Renato da Silva Santos8
Sabrina Nobre do Nascimento9
Vinícius Henrique de Morais Cavalcanti De Albuquerque10
Resumo
Introdução: a apendicite é uma condição médica comum que envolve a inflamação aguda do apêndice vermiforme, uma estrutura tubular localizada no ceco do intestino grosso. Devido à sua prevalência e potencial para complicações graves, a apendicite tem sido extensivamente estudada ao longo dos anos, visando aprimorar as abordagens diagnósticas e as técnicas cirúrgicas empregadas no tratamento. Entre as técnicas cirúrgicas disponíveis para o tratamento da apendicite, há uma distinção fundamental entre a abordagem laparotômica e a abordagem laparoscópica. Objetivo: realizar uma análise abrangente e comparativa das diferentes técnicas cirúrgicas utilizadas na apendicectomia, com foco em seus resultados pós-operatórios e vantagens específicas. Metodologia: o problema de pesquisa foi definido como: “qual a relação entre a técnica cirúrgica escolhida e a qualidade de vida do paciente pós-cirurgia?” Resultados: identificou-se na literatura revisada que a média do tempo de internação foi de 4,6 dias para a apendicectomia laparoscópica e 5,4 dias para a laparotomia convencional. A percentagem de complicações nos pacientes submetidos à laparotomia foi o dobro daquela observada na apendicectomia laparoscópica, com infecções do sítio cirúrgico predominantes nos primeiros e abscessos intra-abdominais presentes em igual proporção em ambas as formas de acesso. Conclusão: as técnicas videolaparoscópicas são superiores à técnica laparotômica tradicional no que diz respeito ao tempo de cirurgia, tempo de internação, incidência de infecções, tempo de recuperação pós-operatória e percepção de dor após a cirurgia. Ademais, entre as técnicas laparoscópicas, destacam-se aquelas de incisão única, não só pelo menor trauma cirúrgico, limitando a manipulação de tecidos a uma área restrita, mas também pelo benefício estético.
Palavras-chave: apendicectomia; laparoscopia
1. Introdução
A apendicite é uma condição médica comum que envolve a inflamação aguda do apêndice vermiforme, uma estrutura tubular localizada no ceco do intestino grosso. Trata-se de uma emergência cirúrgica que pode levar a complicações graves, como perfuração, abscesso abdominal e sepse, se não for tratada adequadamente. A incidência da apendicite é significativa em todo o mundo, afetando principalmente adultos jovens, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária. A condição geralmente se manifesta por dor abdominal aguda, náuseas, vômitos e febre.
Devido à sua prevalência e potencial para complicações graves, a apendicite tem sido extensivamente estudada ao longo dos anos, visando aprimorar as abordagens diagnósticas e as técnicas cirúrgicas empregadas no tratamento. A identificação precoce e o manejo adequado da apendicite são cruciais para evitar a progressão da doença e melhorar os desfechos clínicos para os pacientes.
Entre as técnicas cirúrgicas disponíveis para o tratamento da apendicite, há uma distinção fundamental entre a abordagem laparotômica e a abordagem laparoscópica. A primeira envolve exposição do abdome, enquanto a segunda envolve pequenas incisões (eventualmente uma única incisão) e o uso de câmeras para visualização das vísceras abdominais.
O objetivo desta revisão é realizar uma análise abrangente e comparativa das diferentes técnicas cirúrgicas utilizadas na apendicectomia, com foco em seus resultados pós-operatórios e vantagens específicas. Nesse sentido, selecionamos seis estudos científicos relevantes que investigaram diversas abordagens cirúrgicas para a apendicectomia, incluindo a apendicectomia laparoscópica convencional (CMLA), a apendicectomia laparoscópica de incisão única (SILA), o acesso único transumbilical, a apendicectomia mini-laparoscópica assistida por uma única troca (MAST) e a apendicectomia laparoscópica de incisão única com instrumentos convencionais (SILACI).
2. Metodologia
2.1 Do dilema de pesquisa
A pergunta que norteou nossa pesquisa foi a seguinte: “qual a relação entre a técnica cirúrgica escolhida e a qualidade de vida do paciente pós-cirurgia?”
2.2 Da busca dos artigos
Com vistas à solução da pergunta de pesquisa, foi realizada uma busca na plataforma Medline, utilizando as palavras-chave “apendicectomia” ou “appendectomy” e “laparoscopia” ou “laparoscopic surgery”, com a restrição de que os artigos tivessem sido publicados nos últimos 15 anos. A pesquisa foi conduzida no dia 22 de julho de 2023, para identificar estudos científicos relevantes relacionados ao tema.
2.3 Da seleção dos artigos
Os critérios de inclusão para a seleção dos estudos foram os seguintes: estudos que abordavam a apendicectomia utilizando a técnica de videolaparoscopia; estudos que forneciam informações relevantes sobre os resultados, benefícios e complicações da videolaparoscopia na apendicectomia.
2.4 Da organização dos dados
Após a identificação dos estudos relevantes, os dados de cada estudo foram extraídos e organizados em uma tabela. A tabela continha as seguintes informações: título do artigo, autores, ano de publicação, tipo de estudo, objetivo do estudo e principais achados.
3. Resultados
Título do Artigo | Autor(es) | Ano de Publicação | Tipo de estudo | Objetivo do estudo | Principais achados |
Apendicectomia videolaparoscópica de incisão única com equipamento de videolaparoscopia convencional. | PINHEIRO, R. N.; SOUSA, R. S.; CASTRO, F. M. B.; ALMEIDA, R. O.; GOUVEIA, G. C.; OLIVEIRA, V. R | 2014 | Estudo coorte prospectivo | Apresentar técnica minimamente invasiva para apendicectomia com incisão única e com instrumentos convencionais. | Foram operados sete homens e quatro mulheres com idade média de 25,7 anos com esta técnica. A duração média do procedimento foi de 37,2 min. Em relação aos achados cirúrgicos, três pacientes apresentavam apendicite em fase 1, quatro em fase 2 e quatro em fase 3. Todos evoluíram bem, sem complicações cirúrgicas e não houve necessidade de conversão da operação para técnica aberta ou mesmo para laparoscopia convencional. |
Apendicectomia videolaparoscópica: fatores de risco para conversão em laparotomia | Cherif, Mouna; Mesbahi, Meryam; Zaafouri, Haithem; Zebda, Helmi; Khedhiri, Nizar; Hadded, Dhafer; Ben-Maamer, Anis | 2023 | Estudo coorte prospectivo | Identificar os principais parâmetros pré-operatórios associados a um maior risco de conversão para determinar o método cirúrgico indicado para cada paciente. | Os fatores significativos que previram a conversão, identificados por análise univariada e multivariada, foram a presença de comorbidades (OR 3.1; IC 95%; p<0.029), perfuração apendicular (OR 5.1; IC 95%; p<0.003), apêndice retrocecal (OR 5.0; IC 95%; p<0.004), apêndice gangrenado, presença de abscesso apendicular (OR 3.6; IC 95%; p<0.023) e a presença de dissecação difícil (OR 9.2; IC 95%; p<0.008). |
Uma breve visão geral da apendicectomia laparoscópica de único portal como procedimento cirúrgico ideal para pacientes com apendicite aguda: ainda há um longo caminho a percorrer. | Chen, Yang; Fan, Zongqi; Zhang, Xiaoxin; Fu, Xinao; Li, Jushang; Yuan, Jieqing; Guo, Shigang. | 2023 | Revisão de literatura | Resumir as novas técnicas minimamente invasivas de apendicectomia laparoscópica por portal único | A Apendicectomia Laparoscópica de Incisão Única (SILA) e a Apendicectomia Laparoscópica Assistida por Agulhas de Incisão Única (NASILA) oferecem benefícios estéticos e redução da dor pós-operatória em crianças. A apendicectomia mini-laparoscópica assistida por uma única troca (MAST) proporciona uma opção menos invasiva com resultados estéticos favoráveis. A Apendicectomia Laparoscópica de Incisão Única com Instrumentos Convencionais (SILACI) é uma técnica segura e econômica, comparável à apendicectomia laparoscópica multiportas convencional (CMLA) em diversos aspectos. A SILACI demonstra menor dor e melhoria estética, porém requer mais tempo operatório do que a CMLA. Essas técnicas têm o potencial de melhorar os resultados para os pacientes e reduzir a curva de aprendizado para cirurgiões iniciantes. |
Apendicectomia videolaparoscópica frente a apendicectomia convencional | Hilaire, Romel; Rodríguez Fernández, Zenén; Romero García, Lázaro Ibrahim; Rodríguez Sánchez, Luis Pablo. | 2014 | Coorte retrospectivo | Avaliar a videolaparoscopia comparativamente à laparotomia no tratamento cirúrgico da apendicite | Indivíduos do sexo masculino, com idades entre 21 e 30 anos, prevaleceram. Em ambas as formas de acesso, a progressão pré-operatória da doença variou de 24 a 48 horas, o tempo cirúrgico foi de 30 a 60 minutos e o tempo de internação hospitalar variou de 4 a 7 dias. A média do tempo de internação foi de 4,6 para a apendicectomia laparoscópica e 5,4 para a laparotomia convencional. A percentagem de complicações nos pacientes submetidos à laparotomia foi o dobro daquela observada na apendicectomia laparoscópica, com infecções do sítio cirúrgico predominantes nos primeiros e abscessos intra-abdominais presentes em igual proporção em ambas as formas de acesso. O índice de conversão atingiu 5,7%. Apenas um paciente submetido à laparotomia faleceu de sepse generalizada. |
Apendicectomia videoassistida por acesso único transumbilical comparada à via laparoscópica e laparotômica na apendicite aguda | Lima, Geraldo José de Souza; Silva, Alcino Lázaro da; Leite, Rodrigo Fabiano Guedes; Abras, Gustavo Munayer; Castro, Eduardo Godoy; Pires, Livio José Suretti | 2012 | Estudo observacional retrospectivo | Comparar a apendicectomia videoassistida por acesso único transumbilical não só com a apendicectomia por lapatomia, mas também com a apendicectomia por videolaparoscopia tradicional | Observou-se que os procedimentos acesso único transumbilical, apendicectomia laparoscópica e apendicectomia laparotômica apresentaram tempo de operação, em média, de 51,7 minutos, 75,5 minutos e 59,8 minutos, respectivamente, com diferença estatisticamente significativa. A incidência de dor pós-operatória, complicações gerais e infecção de ferida foram maiores no grupo apendicectomia laparotômica. Os grupos apendicectomia laparoscópica e acesso único transumbilical apresentaram retorno mais precoce às atividades habituais e menor permanência hospitalar. |
Vantagens do uso de um clipe polimérico em comparação com uma alça endoscópica durante apendicectomia laparoscópica em casos de apendicite não complicada: um estudo controlado randomizado | Lee, Kil-Yong; Lee, Jaeim; Park, Youn Young; Oh, Seong Taek | 2023 | Ensaio clínico randomizado | Comparar as vantagens do uso de um clipe polimérico em comparação com uma alça endoscópica em termos do tempo cirúrgico. | O tempo médio de cirurgia com um clipe polimérico foi menor do que com uma alça endoscópica; no entanto, a diferença não foi significativa (18 min 56 s vs. 19 min 49 s, p = 0,426). Curiosamente, o tempo médio desde a aplicação do instrumento até o corte apendicular no grupo do clipe polimérico foi significativamente menor do que no grupo da alça endoscópica (49,0 s vs. 84,5 s, p < 0,001). Não houve diferença significativa entre os dois grupos em termos de custos cirúrgicos (p = 0,120) e anestésicos (p = 0,719), assim como no número total de complicações pós-operatórias (p > 0,999). |
4. Discussão
A apendicite, caracterizada pela inflamação do apêndice vermiforme, é uma das emergências cirúrgicas mais comuns em todo o mundo. Sua ocorrência pode levar a complicações graves, como perfuração, abscesso intra-abdominal e sepse, tornando-a uma condição de significativa relevância clínica. A doença afeta predominantemente adultos jovens, com um pico de incidência na faixa etária de 15 a 30 anos, embora possa ocorrer em qualquer idade.
A intervenção cirúrgica, conhecida como apendicectomia, é o tratamento padrão para a apendicite aguda, visando a remoção do apêndice inflamado para prevenir o agravamento da condição e suas complicações potencialmente fatais. A escolha da técnica cirúrgica apropriada é uma questão crucial, pois pode influenciar diretamente a morbimortalidade, a recuperação pós-operatória e a satisfação do paciente.
4.1 Técnicas cirúrgicas na apendicectomia
4.1.1 Apendicectomia laparotômica convencional (CMLA)
A apendicectomia laparotômica convencional, também conhecida como técnica aberta, representa uma abordagem cirúrgica tradicional para a remoção do apêndice inflamado. Nessa técnica, uma incisão é realizada na parede abdominal, permitindo o acesso direto à cavidade abdominal e, consequentemente, ao apêndice. A dissecção e remoção do órgão inflamado são realizadas sob visão direta.
Historicamente, a CMLA tem sido a técnica predominante para a apendicectomia, sendo amplamente utilizada antes da introdução da abordagem laparoscópica. Sua aplicação é frequentemente indicada em casos de apendicite aguda não complicada, quando não há contraindicações para a cirurgia aberta.
Embora a CMLA tenha uma longa história de uso e seja considerada segura e eficaz em muitos casos, a introdução de técnicas laparoscópicas têm suscitado discussões sobre suas vantagens comparativas. Os benefícios associados à CMLA incluem familiaridade para os cirurgiões, simplicidade técnica e a capacidade de inspeção direta da cavidade abdominal. No entanto, a técnica está associada a uma incisão maior, o que pode resultar em maior dor pós-operatória, tempo de recuperação prolongado e potenciais complicações relacionadas à ferida cirúrgica.
Diante do avanço das técnicas minimamente invasivas, a CMLA tem sido objeto de comparação e avaliação em estudos que visam identificar a melhor abordagem para a apendicectomia, considerando os desfechos clínicos relevantes..
4.1.2 Apendicectomia laparoscópica
A apendicectomia laparoscópica é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva que envolve o uso de múltiplas incisões pequenas na parede abdominal. A principal característica dessa abordagem é o emprego de um laparoscópio, um instrumento óptico com uma pequena câmera acoplada que permite a visualização da cavidade abdominal em um monitor de vídeo. Através das incisões, são inseridos instrumentos cirúrgicos adequados para a dissecção e remoção do apêndice inflamado.
Essa técnica oferece uma série de benefícios em comparação com a abordagem laparotômica convencional. Em primeiro lugar, as incisões menores resultam em menor trauma cirúrgico à parede abdominal, o que pode levar a uma recuperação pós-operatória mais rápida e com menor dor. A diminuição da dor pós-operatória também pode reduzir a necessidade de analgésicos, favorecendo uma evolução mais tranquila para o paciente. Além disso, a menor agressão cirúrgica pode estar associada a uma diminuição das complicações relacionadas à ferida cirúrgica, como infecções e deficiências.
A apendicectomia laparoscópica tem se tornado cada vez mais prevalente, dada sua eficácia comprovada, menor morbidade e maior satisfação dos pacientes. A técnica é especialmente indicada para pacientes com apendicite aguda não complicada, sendo preferencialmente utilizada em casos de cirurgia eletiva ou quando não há contraindicações para a abordagem laparoscópica.
4.1.3 Apendicectomia laparoscópica de incisão única (SILA)
A apendicectomia laparoscópica de incisão única (SILA) é uma variação avançada da apendicectomia laparoscópica convencional, na qual apenas uma única incisão é realizada, geralmente na região umbilical, para acessar e remover o apêndice inflamado. Por meio dessa técnica, o cirurgião utiliza um laparoscópio e outros instrumentos cirúrgicos adequados, todos inseridos através da mesma incisão.
A abordagem SILA apresenta vantagens estéticas significativas, pois a incisão única é estrategicamente colocada no umbigo, o que resulta em uma cicatriz praticamente imperceptível. Além disso, a redução no número de incisões pode contribuir para uma potencial diminuição da dor pós-operatória, melhorando a experiência do paciente durante o período de recuperação.
Embora a técnica SILA possa apresentar alguns desafios técnicos adicionais para o cirurgião, como a limitação do espaço disponível para manobras dos instrumentos, estudos têm demonstrado resultados favoráveis em termos de segurança e eficácia, ressaltando o seu potencial para ser uma alternativa viável à laparoscopia multiportas e à cirurgia aberta.
4.1.4 Laparoscopia por Acesso Único Transumbilical (SILS ou SPL)
O acesso único transumbilical, também conhecido como single-incision laparoscopic surgery (SILS) ou single-port laparoscopy (SPL), representa uma abordagem cirúrgica singular para a apendicectomia, caracterizada por uma única incisão umbilical que permite o acesso à cavidade abdominal. Nesta técnica, múltiplos instrumentos cirúrgicos são inseridos através da mesma incisão, proporcionando uma cirurgia laparoscópica minimamente invasiva por meio de um único ponto de acesso.
A singularidade do acesso único transumbilical reside na sua abordagem estética, pois a incisão é realizada na região umbilical, proporcionando a vantagem de esconder completamente a cicatriz cirúrgica dentro do próprio umbigo. Essa característica é particularmente valorizada por pacientes preocupados com a aparência pós-cirúrgica e pode contribuir para uma melhoria na satisfação estética pós-operatória. Na literatura revisada, identificou-se que essa técnica exige menor tempo de cirurgia, menor tempo de volta às atividades e menor tempo de internação, quando comparada à laparotomia convencional.
Ademais, o acesso único transumbilical também pode oferecer potenciais vantagens técnicas em relação a outras técnicas laparoscópicas. Por meio da combinação de todos os instrumentos em uma única incisão, a técnica SILS pode resultar em menor trauma cirúrgico para o paciente, incluindo redução do desconforto pós-operatório, menor incidência de infecção de ferida e potencial aceleração da recuperação. Esses benefícios têm atraído interesse crescente no uso do acesso único transumbilical em cirurgias de apendicectomia.
4.1.5 Apendicectomia Mini-laparoscópica Assistida por uma Única Troca (MAST)
A apendicectomia mini-laparoscópica assistida por uma única troca (MAST) representa uma técnica cirúrgica inovadora que busca alcançar uma abordagem ainda mais minimamente invasiva para a apendicectomia. Nessa técnica, apenas uma pequena incisão é feita no abdômen, através da qual é inserida uma ótica mini-laparoscópica, com um diâmetro menor em comparação ao laparoscópio padrão. Por meio dessa única troca, o cirurgião obtém visualização da cavidade abdominal e realiza a dissecação e remoção do apêndice inflamado com o auxílio de instrumentos cirúrgicos mini-laparoscópicos. A técnica MAST é projetada com o intuito de reduzir ainda mais o trauma cirúrgico, proporcionando resultados estéticos favoráveis aos pacientes. A incisão de menor diâmetro resulta em cicatrizes ainda mais discretas e potencialmente imperceptíveis, atendendo às demandas crescentes por procedimentos cirúrgicos estéticamente menos impactantes.
Além dos benefícios estéticos, a abordagem MAST também pode contribuir para uma recuperação pós-operatória mais suave, com redução da dor e menor necessidade de analgésicos, favorecendo o retorno precoce às atividades diárias.
4.2 Fatores Preditores de Conversão para Laparotomia
4.2.1 Fatores significativos para conversão
A conversão para laparotomia, ou seja, a necessidade de alterar a abordagem cirúrgica laparoscópica para a cirurgia aberta, é uma questão de extrema importância na apendicectomia laparoscópica. Na literatura revisada, entre os fatores que têm sido apontados como significativos para a conversão, destacam-se a presença de comorbidades, como doenças cardiovasculares, respiratórias ou metabólicas, que podem aumentar a complexidade do procedimento laparoscópico e aumentar o risco de complicações. Além disso, a presença de complicações intraoperatórias, como a identificação de apêndices retrocecal, gangrenados ou com perfuração apendicular, também têm sido associadas à maior necessidade de conversão.
4.2.2 Importância da avaliação pré-operatória
A avaliação pré-operatória desempenha um papel crucial na apendicectomia laparoscópica, especialmente na identificação de fatores de risco que podem influenciar na decisão de realizar uma abordagem laparoscópica ou laparotômica. Uma avaliação cuidadosa do paciente, incluindo histórico médico detalhado, exames físicos e exames complementares, auxilia na identificação de possíveis comorbidades e condições clínicas que podem afetar o desenrolar da cirurgia.
A identificação pré-operatória de fatores que podem estar associados a uma maior probabilidade de conversão para laparotomia pode auxiliar o cirurgião na tomada de decisão adequada. Pacientes com fatores de risco identificados podem ser informados sobre as possíveis complicações e sobre a possibilidade de conversão, permitindo uma compreensão clara dos riscos e benefícios da abordagem laparoscópica.
A avaliação pré-operatória também oferece a oportunidade para que o cirurgião planeje adequadamente o procedimento, considerando as particularidades de cada caso, e possa estar preparado para lidar com situações que possam surgir durante a cirurgia. Uma análise criteriosa dos fatores de risco pode contribuir para uma abordagem cirúrgica mais segura e para o melhor resultado para o paciente.
4.3 Resultados Pós-Operatórios
4.3.1 Taxa de complicações gerais
Ao comparar as técnicas cirúrgicas para apendicectomia, foi observado que a apendicectomia laparoscópica de incisão única (SILA) e o acesso único transumbilical apresentam taxas de complicações gerais comparáveis ou inferiores à cirurgia aberta (CMLA).
4.3.2 Incidência de infecção da ferida cirúrgica
Com relação à incidência de infecção de ferida, as técnicas de incisão única demonstraram vantagens. Comparando a SILA com a CMLA, constata-se que a taxa de infecção de ferida foi significativamente menor no grupo submetido à SILA.
4.3.3 Dor pós-operatória e uso de analgésicos
Os estudos têm evidenciado que as técnicas de incisão única estão associadas a uma menor intensidade de dor pós-operatória e menor necessidade de uso de analgésicos em comparação com a CMLA. Além disso, observou-se que a dor foi significativamente menor no grupo submetido à SILA em comparação com a CMLA.
4.3.4 Retorno às atividades habituais e tempo de internação hospitalar
Em relação ao retorno às atividades habituais e ao tempo de internação hospitalar, as técnicas de incisão única têm se mostrado favoráveis, com menor tempo de internação e menor tempo de retorno ao trabalho. Ademais, pacientes submetidos à SILA tiveram um retorno mais rápido às atividades habituais e uma menor duração da internação hospitalar em comparação com pacientes submetidos a outras técnicas
4.4 Comparação entre Técnicas Menos Invasivas e Abordagem Convencional
4.4.1 Vantagens das técnicas menos invasivas (SILA, acesso único transumbilical, etc.)
As técnicas menos invasivas para apendicectomia, como a apendicectomia laparoscópica de incisão única (SILA) e o acesso único transumbilical, têm sido investigadas em estudos clínicos e apresentam vantagens distintas em relação à abordagem convencional de apendicectomia laparotômica (CMLA).
1. Menor trauma cirúrgico: A SILA e o acesso único transumbilical oferecem uma abordagem com incisão menor, reduzindo a manipulação dos tecidos circundantes e preservando a integridade dos músculos e fáscia abdominal.
2. Resultados estéticos favoráveis: A utilização de apenas uma incisão, especialmente no umbigo, proporciona cicatrizes menores e menos visíveis, o que pode resultar em melhor resultado estético para o paciente após a cicatrização, em comparação com a CMLA, que requer múltiplas incisões.
3. Menor dor pós-operatória: Estudos comparativos têm relatado que a SILA e o acesso único transumbilical estão associados a uma menor intensidade de dor pós-operatória, devido à menor distensão abdominal e à redução da estimulação dos nociceptores, quando comparados à CMLA.
4. Recuperação mais rápida: Pacientes submetidos a técnicas menos invasivas tendem a apresentar uma recuperação mais rápida e um retorno mais precoce às atividades diárias, em virtude do menor trauma cirúrgico e da redução da dor pós-operatória.
5. Menor incidência de infecções: As técnicas de incisão única têm sido relacionadas a uma menor incidência de infecções de ferida em comparação com a CMLA, devido ao menor número de incisões e ao menor contato com o ambiente externo.
6. Custo-benefício e aceitação do paciente: Embora as técnicas menos invasivas possam exigir um maior investimento em dispositivos e instrumentos cirúrgicos, elas podem oferecer um melhor custo-benefício devido a uma recuperação mais rápida e a uma menor duração da internação hospitalar. Além disso, muitos pacientes têm preferência por abordagens que resultam em cicatrizes menores e melhor aparência estética.
5. Conclusão
Em suma, a literatura revisada indica que as técnicas videolaparoscópicas são superiores à técnica laparotômica tradicional no que diz respeito ao tempo de cirurgia, tempo de internação, incidência de infecções, tempo de recuperação pós-operatória e percepção de dor após a cirurgia. Ademais, entre as técnicas laparoscópicas, destacam-se aquelas de incisão única, não só pelo menor trauma cirúrgico, limitando a manipulação de tecidos a uma área restrita, mas também pelo benefício estético.
Apesar das vantagens da cirurgia laparoscópica, identificou-se na literatura revisada algumas situações nas quais a opção pela laparotomia deve ser considerada: quando da presença de comorbidades, perfuração apendicular, apêndice retrocecal, apêndice gangrenado, abscesso apendicular e na presença de dissecção difícil. Nesses casos, há maior probabilidade da técnica laparoscópica não ser resolutiva, ocasionando a necessidade de conversão para a técnica laparotômica.
6. Referências
PINHEIRO, Rodrigo Nascimento et al. Single-incision videolaparoscopic appendectomy with conventional videolaparoscopy equipment. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 27, p. 34-37, 2014.
CHERIF, Mouna et al. LAPAROSCOPIC APPENDICECTOMY: RISK FACTORS FOR CONVERSION TO LAPAROTOMY. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 36, 2023.
CHEN, Yang et al. A brief overview of single-port laparoscopic appendectomy as an optimal surgical procedure for patients with acute appendicitis: still a long way to go. Journal of International Medical Research, v. 51, n. 7, 2023.
HILAIRE, Romel et al. Apendicectomía videolaparoscópica frente a apendicectomía convencional. Revista Cubana de Cirugía, v. 53, n. 1, p. 30-40, 2014.
LIMA, Geraldo José de Souza et al. Apendicectomia videoassistida por acesso único transumbilical comparada à via laparoscópica e laparotômica na apendicite aguda. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 25, p. 2-8, 2012.
LEE, Kil-yong et al. Advantages of using a polymeric clip versus an endoloop during laparoscopic appendectomy in uncomplicated appendicitis: a randomized controlled study. World Journal of Emergency Surgery, v. 18, n. 1, p. 39, 2023.
1Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
2Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
3Bacharel em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
4Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Santa Maria (UNIFSM)
5Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
6Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
7Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
8Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
9Graduanda em Medicina pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)
10Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO)