ANSIEDADE E DEPRESSÃO EM POLICIAIS MILITARES: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12810986


Maria Carolina Bezerra Mendes
Orientadora: Prof. Ma. Cláudia Maria Sousa de Carvalho


RESUMO: A ansiedade e a depressão representam importante problema de saúde pública, sendo a ansiedade mais recorrente na juventude e a depressão na fase adulta, e, ainda, na América Latina, o Brasil tem a maior prevalência de depressão.  O objetivo deste estudo foi investigar a ansiedade e depressão em policiais militares. Consistiu em uma revisão integrativa da literatura com estudos incluídos na amostra que foram pesquisados nas bases de dados: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Após critérios de inclusão e exclusão 11 publicações constituíram a amostra deste estudo. De acordo com as publicações, foi possível analisar o potencial de participação no estudo, observando o tipo de investigação de cada estudo e os seus resultados. Portanto, essa revisão conseguiu demonstrar a associação dos níveis de ansiedade e depressão dos policiais, bem como identificar seus fatores impulsionadores, e a forma como influenciam na vida destes servidores.

Palavras-chave: Ansiedade, Depressão, policiais.

ABSTRACT: Anxiety and depression represent an important public health problem, with anxiety being more recurrent in youth and depression in adulthood, and, in Latin America, Brazil has the highest prevalence of depression. The objective of this study was to investigate anxiety and depression in military police officers. It consisted of an integrative review of the literature with studies included in the sample that were searched in the databases: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), PubMed and Scientific Electronic Library Online (SciELO). After inclusion and exclusion criteria, 11 publications constituted the sample of this study. According to the publications, it was possible to analyze the potential for participation in the study, observing the type of investigation of each study and its results. Therefore, this review was able to demonstrate the association between anxiety and depression levels among police officers, as well as identifying their driving factors and how they influence the lives of these officers.

Keywords: Anxiety, Depression, Police.

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

A ansiedade e depressão têm incidência cada vez maior na atual sociedade, presente em todas as classes e níveis sociais. Considerados os transtornos mentais mais recorrentes, a ansiedade e a depressão representam importante problema de saúde pública, sendo a ansiedade mais recorrente na juventude e a depressão na fase adulta, e, ainda, na América Latina, o Brasil tem a maior prevalência de depressão, de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2022; Brasil, 2023). 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que os transtornos de ansiedade detêm o percentual de 3,6% na população mundial, equivalente a 264 milhões de pessoas, cuja predominância mundial se eleva entre as mulheres, com percentagem de 4,6%, ao passo que no sexo masculino incide em 2,6%. No que tange aos transtornos depressivos, predomina, a nível global, 4,4%, que corresponde a 322 milhões de pessoas, estando em maior percentual nas mulheres, na percentagem de 5,1%; enquanto nos homens estima-se 3,6% (WHO, 2017; Brasil, 2003). 

O mundo corporativo, com a constante cobrança dos profissionais, somados à pressão gerado pela atividade ocupacional, acaba sobrecarregando o indivíduo, e, ao fugir do controle, pode desencadear, gerando mudanças e prejuízos à saúde mental; sendo, os transtornos mais comuns, a ansiedade e a depressão (Lawyer, 2021).

A exemplo do  policial militar, rotina de trabalho destes profissionais é dotada de diferentes fatores de riscos à saúde física e psíquica, em virtude de uma organização de trabalho que oferece uma instabilidade na rotina social, prejuízos  no  ciclo  sono  e  vigília, com escalas  rotativas  de  serviço,  impossibilitando  folgas regulares,  além  do  excesso  de  carga  horária  devido  a  operações  e  urgências  de  segurança  pública  que  ultrapassam o  horário  de  término  no  trabalho.  Somado a isso, o policial está exposto, continuamente, ao risco de violência e morte, provocando insegurança que levam o policial militar a desenvolver quadros ansiosos (Cardoso et al., 2021; Santos et al., 2021).

Rosa e Anceschi (2017), em pesquisa realizada com o Batalhão de Missões Especiais do Espírito Santo, mostram que mais da metade dos participantes detém níveis elevados de ansiedade e depressão, ao passo que Sousa, Barroso e Ribeiro (2022) aponta uma maior a prevalência de transtornos em policiais do sexo feminino em comparação com os militares do sexo masculino. Apesar de os homens relutarem em expor sentimentos, as mulheres são mais passivas de adoecimento.

Oliveira et.al., (2020) refuta com os autores mencionados no parágrafo anterior, onde elenca, no estudo realizado com os policiais militares de Goiás das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (ROTAM), baixo nível de ansiedade e depressão, sendo o quadro depressivo inferior ao estimado ao equiparar com o transtorno de ansiedade, porém concorda com a perspectiva de Rosa e Anceschi (2017) e Sousa, Barroso e Ribeiro (2022) a relação entre a diminuição no nível de depressão e ansiedade e o aumento da qualidade de vida.

Silva e Sehnem (2018), ao analisar a saúde mental de policiais, citam que o serviço provoca falta de estímulos e resiliência, identificando nestes “instabilidade emocional, variação de humor e da disposição, irritabilidade, perda de controle, atitudes inesperadas, fugas de ideias e menor capacidade de concentração” (Silva; Sehnem, 2018, p.53). As autoras concordam com Oliveira et.al. (2020) quanto à incidência de depressão abaixo do padrão, ao qual propõem o enfrentamento das situações estressantes, a fim de reduzir os fatores estressantes, desencadeadas com as atividades incumbidas ao policial, e que interferem, consequentemente, no risco da promoção do bem comum que este servidor gera para a coletividade. 

Diante disso, as autoras Pinheiro e Farikoski (2016) destacam a imprescindibilidade do cuidado psicológico. Partindo do exposto, emergiu o interesse pelo tema como forma de ampliar conhecimentos e possibilitar mais estudos e reflexões sobre a problemática, entendendo que urge a necessidade de ampliar as ações de proteção à saúde mental daqueles profissionais encarregados de importante missão que é de garantir a segurança pública. 

1.2 Objeto de Estudo

A ansiedade e depressão em policiais militares.

1.3 Questão norteadora

A questão norteadora da pesquisa é construída através de uma ferramenta designada pelo acrônimo PICo, onde “P” corresponde à população/pacientes, “I” de interesse, “C” de contexto. Dessa forma, tem-se a seguinte questão norteadora: quais as evidências científicas sobre ansiedade e depressão em policiais militares?

Esta estratégia para busca de dados detém como População: policiais militares; Interesse: Ansiedade e depressão; Contexto: Presença na Literatura Científica.

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo geral 

Descrever, por meio da literatura, as evidências científicas sobre ansiedade e depressão em policiais militares. 

1.4.2 Objetivos Específicos 

  • Identificar níveis de ansiedade entre policiais militares.  
  • Discutir sobre estratégias de promoção de saúde mental entre policiais militares. 

1.5 Justificativa e Relevância

O presente estudo tem como objetivo analisar na literatura científica os níveis de ansiedade e depressão dos policiais militares, de modo a observar estes níveis nos servidores, assim como identificar seus fatores impulsionadores, e relatar sua prevalência encontrada na literatura. 

A pesquisa contribuirá para a discussão integrativa na literatura da influência dos níveis de ansiedade, estresse e depressão sob os policiais militares, permitindo a identificação da prevalência desses transtornos sob os policiais militares presentes na literatura. Visto as condições às quais são submetidos, e o efeito sob a saúde mental, o estudo permitirá aprofundamento da forma de ocorrência dos transtornos de ansiedade, estresse e depressão sob tais policiais, assim como mecanismos que apontem o funcionamento ideal dos aspectos relação à integridade mental.

2 METODOLOGIA

O presente estudo compreende uma revisão integrativa de literatura, cujo intuito se fundamenta na introdução de abordagens metodológicas diversas baseadas na atuação em evidências, a fim de expor novas perspectivas sobre um fenômeno relevante (Whittemore; Knaf; 2005).

Mendes, Silveira e Galvão (2008) lista seis etapas da revisão integrativa de literatura, a mencionar: 1- delimitação do tema e definição da questão de pesquisa; 2- definição dos critérios de inclusão e exclusão; 3- escolha das informações filtradas das pesquisas; 4- avaliação dos estudos integrados; 5- análise dos resultados; 6- apresentação da pesquisa.

A pesquisa empenha-se em discutir acerca da ansiedade e depressão em policiais militares através de uma revisão integrativa de literatura. Com a identificação das fontes adequadas sobre a temática, foram incluídas referências extraídas das bases de dados: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Para acesso dos artigos e melhor alcance do enfoque da pesquisa, foram instituídos os descritores, em português, “Ansiedade”, “Depressão”, “Policiais”; e em inglês: “Anxiety”, “Depression”, “Police”, ateado do operador booleano “AND”

Adiante, estabeleceu-se como critérios de inclusão: artigos primários; publicados na íntegra, nos idiomas português, inglês/espanhol que atendam ao recorte temporal dos últimos 5 anos e que abordem o objeto de estudo, e como critérios de exclusão, foram adotados: resumos/ resumos expandidos, revisão de literatura, dissertações, teses e livros.

Para apresentação esquemática do processo de busca dos artigos nas bases de dados estipulada e seleção dos artigos que participaram do presente estudo, utilizou-se o Fluxograma Prisma (figura 1). 

Em relação aos aspectos éticos, foram respeitadas as ideias dos autores, suas definições e conceitos apresentados nos artigos analisados. Considerando que esta pesquisa se trata de uma Revisão Integrativa da produção existente e disponível sobre a temática, foi dispensada a necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa do UNINOVAFAPI.

Figura 1.  Fluxograma PRISMA do processamento dos dados para posterior inclusão das publicações para Revisão Integrativa.

Fonte: Autores, 2024.

Foram indexados 161 artigos, nas bases de dados LILACS, PUBMED E SCIELO, dentre os quais foram retirados da triagem 03 artigos duplicados e 01 fora do ano de publicação. Dos 157 registrados, 130 foram excluídos após aplicação de filtros e leitura de título e de resumo. Destes, 27 foram selecionados para leitura completa, dos quais 16 artigos foram excluídos por não responderem à pergunta norteadora.  

Destes, mantiveram-se 11, não havendo publicações retiradas, e incluindo-se na revisão integrativa. As pesquisas foram categorizadas em quadro, contendo: autor/ano, título e resultados.

Adiante, obedecendo os aspectos éticos e morais, foram analisadas as informações obtidas, cuja discussão confrontou as diversas perspectivas apresentadas, de modo a categorizar, em abordagem descritiva, os enfoques apresentados no quadro.

Será exposto a síntese dos resultados obtidos através da revisão do posicionamento dos autores das pesquisas analisadas.

3 RESULTADOS

A análise do estudo possibilitou investigar sobre a ansiedade e depressão em policiais militares. Dessa forma, pode-se observar que a maioria dos estudos estavam no idioma inglês e a maioria foram publicados no ano de 2020.

No quadro 1 realizou-se a exposição dos estudos incluídos na amostra de acordo com o autor e ano, base de dados, título e principais resultados, no qual pode-se analisar as pesquisas quanto ao potencial de participação no estudo, observando o tipo de investigação de cada estudo e os seus resultados.

Quadro 1 – Apresentação da síntese dos artigos incluídos na revisão integrativa, selecionados nas bases de dados (LILACS; PUBMED). Teresina, PI. Brasil, 2024.

Nº ordAutor/anoBase de dadoTítuloResultados
    01Chan, Andersen (2020)LILACSInfluence of organizational stress on reported depressive symptoms among policeO estresse organizacional e os sintomas de ansiedade estavam significativamente associados aos sintomas depressivos. Os sintomas depressivos relatados pelos oficiais tiveram uma associação positiva significativa com o estresse organizacional e a ansiedade, com pequeno efeito.
    02Stevelink et al. (2020)PubmedProbable PTSD, depression and anxiety in 40,299 UK police officers and staff: Prevalence, risk factors and associations with blood pressureOs funcionários da polícia expostos a incidentes traumáticos nos últimos seis meses tiveram uma duplicação nas taxas de ansiedade ou depressão e um aumento de seis vezes no TEPT em comparação com aqueles sem exposição recente a traumas.
    03Demou, Hale, Hunt (2020)PubmedUnderstanding the mental health and wellbeing needs of police officers and staff in ScotlandOs principais estressores relatados foram jornada de trabalho, carga horária, cultura, liderança e mudança organizacional
  04Yuan et al. (2020)PubmedA Survey of Psychological Responses During the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Epidemic among Chinese Police Officers in WuhuA depressão e a ansiedade apresentaram-se nos níveis moderado e grave, cuja ansiedade prevalece em policiais com idade maior e casados. São perfis com maior chance de depressão e ansiedade policiais com nível superior e que fazem uso de medicamentos para dormir, enquanto policiais auxiliares mostram menor nível das patologias
    05Jetelina et al. (2020)PubmedPrevalence of Mental Illness and Mental Health Care Use Among Police OfficersAlguns entrevistados apresentam depressão e ansiedade. A pesquisa mostra que as manifestações surgem mais lentamente. Acredita-se que a implementação de programas voltados à saúde mental deve ser analisada, como forma de avaliação os transtornos
    06Lentz, Silverstone, Krameddine (2020)PubmedHigh Rates of Mental Health Disorders in Civilian Employees Working in Police OrganizationsOs policiais apresentaram maior uso de bebida alcóolica. Os resultados indicam que o trabalho num ambiente policial favorece para o prejuízo na saúde mental.
    07Guerrero-Barona (2021)PubmedSuicidal Ideation and Mental Health: The Moderating Effect of Coping Strategies in the Police ForceOs resultados mostram que os participantes detêm tanto depressão leve, moderada e grave, assim como índices de ansiedade. A depressão e a ansiedade se apresentam de forma expressiva e estão relacionadas à ideação suicida. As estratégias de enfrentamento não mostram moderar tal ideação.  
    08Tsehay (2021)PubmedGeneralized Anxiety Disorder, Depressive Symptoms, and Sleep Problem During COVID-19 Outbreak in Ethiopia Among Police Officers: A Cross-Sectional SurveyHá prevalência de depressão e ansiedade nos graus leve, moderado e grave. Homens apresentam redução dos sintomas depressivos, de ansiedade e de insônia, quando comparados com as participantes do sexo feminino. Ser divorciado/viúvo aumenta os sintomas de depressão, e ser solteiro diminui a ansiedade, mas aumenta a insônia. Ter uma ou mais doenças médicas crônicas, desde hipertensão, diabetes mellitus e doenças cardíacas, até asma aumenta todos os três problemas de saúde psicológica para depressão, ansiedade e insônia.
    09Yadav (2022)PubmedPrevalence and factors associated with symptoms of depression, anxiety and stress among traffic police officers in Kathmandu, Nepal: a crosssectional surveyAs taxas de prevalência de estresse, ansiedade e depressão foram encontrados 44%, 47% e 41,3% entre o tráfego policiais. Aumenta os sintomas depressivos e de ansiedade: policiais que fumam, que não praticam atividade física e bebem. A jornada de trabalho também aumenta os índices de ansiedade e insônia, principalmente aqueles que trabalham 12 horas ou mais.
    10Irizar (2022)PubmedA latent class analysis of health risk behaviours in the UK Police Service and their associations with mental health and job strainHomens e mulheres com depressão e ansiedade tinha pelo menos o dobro das probabilidades de ser classificado na classe de “comportamentos de alto risco para a saúde”, em comparação com aqueles sem problemas de saúde mental. Em comparação com aqueles que relataram baixa tensão, homens e mulheres que relataram alta tensão tinham maiores probabilidades de serem atribuídos às classes de “bebedores de baixo risco com outros comportamentos de risco para a saúde”.
    11Tehrani (2022)PubmedThe psychological impact of COVID-19 on police officersOs policiais expostos à COVID-19 tiveram mudança significativa no bem-estar físico e psicológico, mostrando correlação entre a pandemia e a ansiedade e a depressão.

Fonte: Bases de dados (LILACS; PUBMED). Elaborado pelos autores, 2024.

4 DISCUSSÃO

Baseado nos resultados encontrados após a leitura dos 11 artigos que foram selecionados para a produção dessa pesquisa, é válido uma explanação discutida mais aprofundada acerca do que cada autor conseguiu encontrar ou concluir com seus estudos sobre o tema. 

Conforme Demou, Hale e Hunt (2020), os principais estressores relacionados ao trabalho que contribuem para a saúde mental dos policiais militares são o cargo, as horas de trabalho e a cultura organizacional, bem como as experiências do passado, os antecedentes e a qualidade pessoal de cada um que interferiram na forma como reagiram aos estressores. Também é possível citar que as estratégias organizacionais, em oposição às operacionais, são os principais fatores de estresse apontados pelos funcionários, o que vai ao encontro do mencionado por Purba e Demou (2019). 

Em estudo realizado por Stevelink et. al. (2020), a prevalência de prováveis transtornos mentais variou, sendo a provável depressão mais frequente em 9,8% dos policiais, provável ansiedade em 8,5% e provável transtorno por estresse pós-traumático (TEPT) 3,9%. Além disso, dentre 80% dos policiais que não relataram TEPT, metade relatou fadiga, ansiedade e dificuldade para dormir. Entretanto, essa pesquisa se concentrou só na gestão do trauma e nas condições de trabalho entre membros policiais, o que pode explicar a maior taxa de exposição ao trauma e ao TEPT. 

Sousa et. al. (2021), afirma que os policiais apresentam um risco maior de desenvolver um ou mais sintomas associados a transtornos mentais do que a população em geral nos exercícios de suas atividades laborais. No que se refere ao perfil sociodemográfico, é percebido que policiais mulheres sentem mais esses sintomas em comparação aos homens, pois consideram a rotina mais exaustiva, já quanto ao tempo de serviço, foi notado que a prevalência de ansiedade, por exemplo, se apresenta em uma média de 13 anos de serviço, demonstrando que quanto mais são expostos a situações de trauma e de estresse, mais são os riscos de desenvolver ansiedade. Ademais, ao se tratar da qualidade de vida, as emoções negativas e positivas causam uma exaustão mental devido ao trabalho corriqueiro e levam a uma insatisfação quanto a sua profissão. 

Ao se abordar uma relação entre o estresse e sintomas, Chan e Andersen (2020), identificam uma relação significativa entre estresse organizacional e sintomas depressivos em uma amostra de policiais da linha de frente, situação também presente no estudo de Lentz, Silverstone e Krameddine (2020), em que afirmam que os policiais militares têm taxas mais altas de transtornos de saúde mental em comparação à população em geral.

Guerrero-barona (2021), demonstrou que depressão e ansiedade podem predizer ideação suicida. No entanto, as estratégias de enfrentamento não têm efeito moderador na relação entre saúde mental e ideação suicida neste grupo profissional.

Foi encontrado uma alta prevalência de depressão, ansiedade e sintomas de estresse entre policiais, de forma que fumar e ter jornadas de trabalho mais longas foram associados a uma maior probabilidade de apresentar sintomas de depressão, ansiedade e estresse, bem como a falta de exercícios físicos foi associada a um maior potencial de desenvolvimento de sitomas depressivos (Yadav et al., 2022). 

Nesse contexto de saúde mental dos policiais, uma análise realizada no Reino Unido com o intuito de explorar como os comportamentos de risco para a saúde se agrupam e de determinar as suas associações com a saúde mental e com a tensão no trabalho determinou que a alta tensão no trabalho está coerentemente associada a problemas de saúde mental e como consequência, ao aumento de dias de ausência no trabalho por causa dos sintomas de problemas mentais. Dessa maneira, os funcionários da polícia que compreendem a classe de pessoas que o estudo denominou de “bebedores de baixo risco, mas outros comportamentos de risco para a saúde” evidenciaram fortes indícios de provável depressão e ausência por doença, de modo especial em homens (Irizar et. al., 2020).  

Consoante as informações já citadas nos parágrafos anteriores, já é de conhecimento que a ansiedade, a depressão e o transtorno do estresse pós-traumático são doenças mentais prevalentes entre os policiais e que afetam muito a qualidade de vida e a produção na vida profissional. No entanto, é importante mencionar o que Jetelina et. al. (2020) obteve em seu estudo quanto à procura dos policiais por ajuda, em que, além de muitos policiais não conseguirem identificar sozinhos que estavam passando por essas condições mentais, a maioria não procura serviços de ajuda por 3 motivos: preocupações com a confidencialidade no departamento, a falta de crença que os psicólogos entendem suas linhas de trabalho e por não se sentirem aptos para o seu trabalho. Esse resultado vai ao encontro de outro resultado de um estudo também mencionado por Jetelina et. al., (2020), em que policiais relataram a existência do estigma em relação à procura por cuidados com a saúde mental e a falta de apoio da gestão de linha de trabalho que faz com que os policiais se sintam impedidos de revelar sofrimento mental.

Em uma pesquisa de respostas psicológicas durante a epidemia da COVID-19 entre policiais chineses em Wuhu notou-se que os policiais durante o exercício da profissão em meio à COVID-19 estão expostos, o que aumentava as chances de adquirir a doença e consequentemente, aumentava os problemas mentais, fato justificado pelo resultado de 12,17% dos policiais com depressão moderada a grave e 8,79% com depressão moderada a grave e ansiedade na cidade de Wuhu. Esse estudo também descobriu que a educação foi um fator influenciador na depressão e na ansiedade e a idade e o estado civil são fatores que influenciam na ansiedade, de modo que a idade média mínima no grupo de ansiedade foi menor do que nos outros grupos e pode agravar o efeito da ansiedade, mas também foi visto que a ansiedade diminui com o avançar da idade. Por outro lado, foi especulado na pesquisa que os oficiais mais velhos possuem mais responsabilidades e preocupações familiares, justificando o porquê de o risco de ansiedade em policiais casados ser maior e justificando a influência do estado civil (Yuan et. al., 2020). 

Também foi possível perceber na pesquisa realizada por Yuan et. al. (2020), que o número de casos de COVID-19 confirmados nas cidades não possui necessariamente relação com o agravamento das condições psicológicas dos policiais. Na verdade, a principal relação com o agravamento do estado de saúde desses policiais mais tinha relação com as posições de trabalho de cada, já que os policiais auxiliares apresentaram scores mais baixos de depressão e de ansiedade quando comparados aos policiais de segurança ou guardas prisionais que tiveram scores mais baixos do que os policiais criminais e os envolvidos na segurança organizacional. Isso porque a função dos policiais auxiliares é auxiliar o funcionamento diário e as atividades dos órgãos públicos, por esse motivo, possuem menos responsabilidade e menos pressão de trabalho. 

No mesmo contexto da COVID-19, um estudo realizado na Etiópia também com policiais apontou problemas graves de saúde mental entre policiais e a negligência diante desse cenário para prevenir e até mesmo tratar durante a pandemia COVID-19. Além disso, alguns aspectos demográficos foram apontados como fomentadores desses problemas de saúde psicológica durante a pandeia, tais como idade, sexo feminino e doença crônica, como também baixo apoio social, que, foi considerado um fator de risco para doenças mentais graves, como depressão, ansiedade e insônia.  Por último, ser casado foi citado como um fator de risco pela preocupação em ser fonte de infecção de COVID-19 para familiares e jovens, fato também citado por Yuan et. al. (2020) ao realizar estudo parecido na China (Tsehay et. al.,2021).

Por fim, Tehrani et. al., (2022) também abordou o tema da saúde mental dos policiais durante a COVID-19 e conseguiu observar que contrair COVID-19 estava intimamente ligado com ansiedade e depressão, mas não ao TEPT. Nesse contexto, aqueles que se infectaram por COVID-19 na amostra analisada e foram mais afetados negativamente tiraram mais tempo do trabalho, tiveram problemas para dormir, usaram álcool ou drogas para lidar com o estresse e para compreender os riscos da COVID-19.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho policial compreende serviço de enorme responsabilidade, e consigo carrega dentre tantos fatores, entre eles a sobrecarga, que desencadeia questões, neste caso em específico, aspectos relacionados à saúde mental, e, dentre os distúrbios mais recorrentes, a presente pesquisa, através da revisão integrativa de literatura, discutiu acerca da prevalência da ansiedade e depressão em policiais militares.

Os resultados possibilitaram analisar na literatura científica os níveis de ansiedade e depressão dos policiais, bem como identificar seus fatores impulsionadores, e a forma como influenciam na vida destes servidores. A análise dos estudos propiciou apresentar diferentes perspectivas acerca da temática, e observar a prevalência dos referidos sob sua qualidade de vida. As pesquisas contempladas nesta revisão tornam possível ver, além da incidência, a forma como seus sintomas podem ser alterados, considerando os enfoques capazes de propor tais modificações.

Vale ressaltar que, por não haver pesquisas recentes, a revisão se limitou a onze artigos, que impediu a melhor análise da prevalência da ansiedade e depressão dos policiais, dificultando o detalhamento sobre diferentes realidades e cenários ao qual estão inseridos e as políticas de saúde empenhadas em garantir o bem comum.

Espera-se que novas publicações sejam disseminadas e tornem possíveis a abrangência de diferentes conjunturas, bem como a forma como a saúde mental deve ser melhor implementada. Busca-se, com estímulo a essa iniciativa científica, entender e promover políticas que erradiquem o adoecimento mental destes servidores, e consequente melhoria do bem-estar.

REFERÊNCIAS

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