LUDWIG’S ANGINA SECONDARY TO THIRD MOLAR INFECTION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502171541
Maria Josilaine Das Neves De Carvalho
Anne Rafaela Calixto Rodrigues
Cátia Tavares De Barros
Caroline Silva Do Nascimento
Claudiane Maria Silva Da Costa
Débora Maria Laurentino
Flávia Raquel Sousa Silva
Gleycianne A. Maria Santos Da Silva
João Filipe Lins Alves
José Luciano Brainer De Farias Filho
Maria Hortência De Torres Almeida
Pedro César Melo Cavalcanti De Oliveira Wedja Maria Da Silva Costa
Resumo
A Angina de Ludwig é uma infecção odontogênica grave, caracterizada por um processo inflamatório agudo e rapidamente progressivo que acomete os espaços faciais profundos do assoalho bucal. Sua etiologia está frequentemente associada a infecções odontogênicas, principalmente provenientes de terceiros molares inferiores impactados ou semi-inclusos. A rápida disseminação da infecção pode levar a complicações severas, como obstrução das vias aéreas, sepse e choque séptico, tornando seu diagnóstico precoce essencial para a redução da morbimortalidade. Os principais sinais clínicos incluem edema submandibular endurecido e doloroso, disfagia, trismo, dispneia e odinofagia, sendo fundamental a avaliação clínica detalhada e o uso de exames de imagem, como tomografia computadorizada, para determinar a extensão da infecção. O tratamento baseia-se no controle da via aérea, antibioticoterapia de amplo espectro e, em casos indicados, drenagem cirúrgica. Esta revisão de literatura tem como objetivo discutir a relação entre infecções odontogênicas e a Angina de Ludwig, abordando sua fisiopatologia, aspectos clínicos, estratégias diagnósticas e terapêuticas, bem como seu prognóstico. O estudo destaca a importância da intervenção precoce e do manejo multidisciplinar para evitar complicações fatais.
Palavras–chave: Angina de Ludwig; Infecção Odontogênica; Terceiros Molares; Emergências Médicas; Antibioticoterapia
Introdução
As infecções odontogênicas representam um desafio clínico devido ao seu potencial de disseminação para regiões faciais profundas, podendo resultar em complicações graves como a Angina de Ludwig (Silva e Menezes, 2021). Esta condição, caracterizada por uma celulite agressiva dos espaços submandibular, sublingual e submentoniano, pode evoluir rapidamente para obstrução das vias aéreas e sepse, tornando essencial o reconhecimento precoce dos sinais clínicos e um manejo terapêutico eficaz (Santos e Costa, 2023).
Estudos indicam que a principal origem dessas infecções está associada aos terceiros molares impactados ou parcialmente erupcionados, uma vez que sua posição anatômica favorece a proliferação bacteriana e a disseminação da infecção para espaços profundos (Oliveira e Ferreira, 2022).
Dessa forma, compreender a relação entre infecções odontogênicas de terceiros molares e a Angina de Ludwig, bem como as melhores abordagens para diagnóstico e tratamento, é fundamental para reduzir a morbimortalidade associada a essa condição (Lima e Martins, 2021). Este estudo tem como objetivo revisar a literatura sobre o tema, analisando os principais fatores envolvidos na fisiopatologia, na clínica, no diagnóstico e no tratamento da Angina de Ludwig secundária a infecções de terceiros molares.
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Figura 1 – Angina de Ludwig em angiotomografia das artérias coronárias com contraste. Fonte: Radiopaedia.org, 2024.Disponível em: https://radiopaedia.org. Acesso em: 11 fev. 2025.
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Figura 2 – Tomografia computadorizada da Angina de Ludwig, com a seta indicando a parte do abscesso. Fonte: Respiratory Workshop, 2011. Disponível em: https://respiratoryworkshop.blogspot.com/2011/03/ludwigs-angina.html. Acesso em: 11 fev. 2025.
Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa, baseada na análise de publicações científicas relevantes sobre a relação entre infecções odontogênicas de terceiros molares e a Angina de Ludwig. A pesquisa foi conduzida nas bases de dados PubMed e SciELO, selecionando artigos publicados entre 2019 e 2024.
A busca bibliográfica incluiu artigos originais, revisões sistemáticas, ensaios clínicos e relatos de caso que abordassem o diagnóstico, fisiopatologia e manejo clínico da Angina de Ludwig associada a infecções odontogênicas. Foram considerados apenas estudos publicados em português e inglês, com metodologia robusta e relevância científica.
O objetivo deste estudo é contribuir para o conhecimento acadêmico e clínico, facilitando a disseminação de informações essenciais para profissionais e estudantes da área odontológica.
Discussão
A Angina de Ludwig é uma infecção odontogênica grave que se caracteriza pela rápida disseminação da inflamação nos espaços faciais profundos da região submandibular, sublingual e submentoniana, podendo evoluir para obstrução das vias aéreas, sepse e choque séptico (SANTOS & COSTA, 2023). Historicamente, essa condição apresentava uma alta taxa de mortalidade, mas, com o avanço da antibioticoterapia e das técnicas cirúrgicas, o prognóstico melhorou significativamente, embora ainda seja considerada uma emergência médica e odontológica (ALMEIDA & LIMA, 2023).
A etiologia da Angina de Ludwig está fortemente associada a infecções odontogênicas, especialmente aquelas que envolvem terceiros molares inferiores impactados ou semi-inclusos. De acordo com Oliveira & Ferreira (2022), a proximidade anatômica desses dentes com os espaços fasciais profundos facilita a disseminação bacteriana, tornando-os um dos principais focos infecciosos dessa condição. A infecção se espalha ao longo dos planos faciais de menor resistência, podendo atingir regiões como o espaço retro faríngeo e, em casos mais graves, o mediastino, o que agrava a morbimortalidade do quadro (MARTINS & NOGUEIRA, 2022).
A microbiota envolvida na Angina de Ludwig é predominantemente anaeróbia, sendo as principais bactérias associadas Fusobacterium nucleatum, Prevotella intermedia e Porphyromonas gingivalis (SILVA & MOREIRA, 2023). Esses patógenos são comuns na cavidade oral e, em condições favoráveis, proliferam-se, formando abscessos e liberando toxinas que intensificam a resposta inflamatória local (SILVA & MENEZES, 2021). A cultura microbiológica do pus proveniente da infecção é uma ferramenta diagnóstica importante, mas pode ser contaminada por flora salivar e resultar em falsos positivos ou negativos (ROCHA & PEREIRA, 2022).
Do ponto de vista clínico, a Angina de Ludwig se manifesta por edema endurecido e doloroso na região submandibular, dificuldade para deglutir (odinofagia), trismo e dispneia progressiva (SANTOS & LIMA, 2021). O deslocamento da língua para cima e para trás, em decorrência do edema no assoalho bucal, pode levar a uma obstrução das vias aéreas, tornando a estabilização respiratória uma prioridade no manejo inicial da doença (CUNHA et al., 2020). A característica “voz de batata quente” e a incapacidade de deitar em decúbito dorsal são achados sugestivos e indicam a gravidade do comprometimento das vias aéreas (SOUSA & LIMA, 2021).
O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações graves, e a tomografia computadorizada (TC) tem sido o exame de imagem de escolha, pois permite uma avaliação detalhada da extensão da infecção e a identificação de coleções purulentas que possam necessitar de drenagem cirúrgica (OLIVEIRA & SOUSA, 2022). A radiografia panorâmica e o exame clínico auxiliam no diagnóstico diferencial, mas são insuficientes para avaliar o comprometimento dos tecidos profundos (MARTINS & NOGUEIRA, 2022).
O tratamento da Angina de Ludwig deve ser agressivo e imediato, incluindo antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro e, quando necessário, intervenção cirúrgica para drenagem da coleção purulenta (ALMEIDA & LIMA, 2023). A combinação de penicilina com metronidazol tem sido amplamente utilizada, pois cobre tanto patógenos aeróbios quanto anaeróbios. No entanto, em casos de infecções mais graves ou resistentes, o uso de cefalosporinas de terceira geração ou carbapenêmicos pode ser indicado (CAMARGO, OLIVEIRA & GOMES, 2020). Em pacientes alérgicos à penicilina, a clindamicina tem sido uma alternativa eficaz (SANTOS & LIMA, 2021).
A drenagem cirúrgica é indicada quando há formação de abscessos, sendo que a abordagem trans oral é preferida por apresentar menor morbidade e melhores resultados estéticos (ROCHA & PEREIRA, 2022). Em casos onde a infecção se estende para além dos espaços submandibulares, o acesso extraoral pode ser necessário para garantir uma drenagem mais eficaz (MARTINS & NOGUEIRA, 2022). O controle das vias aéreas deve ser prioridade, pois a obstrução respiratória é uma das principais causas de morte nesses pacientes. Em casos graves, pode ser necessária a intubação ou até mesmo a traqueostomia de emergência para garantir a ventilação adequada (SANTOS & COSTA, 2023).
O prognóstico da Angina de Ludwig depende diretamente da rapidez na instituição do tratamento adequado. Quando diagnosticada e tratada precocemente, a taxa de recuperação dos pacientes é alta, mas atrasos no manejo podem levar a complicações severas, como mediastinite, trombose da veia jugular e sepse, aumentando significativamente a taxa de mortalidade (ALMEIDA & LIMA, 2023). A prevenção da Angina de Ludwig passa pelo controle adequado das infecções odontogênicas, com o tratamento precoce de infecções periapicais e extração de terceiros molares impactados quando necessário (OLIVEIRA & GONÇALVES, 2024).
Assim, a Angina de Ludwig permanece um desafio na prática odontológica e médica, exigindo uma abordagem multidisciplinar para um manejo eficaz. O envolvimento de cirurgiões- dentistas, otorrinolaringologistas, anestesistas e intensivistas é crucial para reduzir as taxas de morbimortalidade associadas a essa condição. Estudos futuros podem contribuir para aprimorar as estratégias terapêuticas e consolidar protocolos mais eficazes para o tratamento e prevenção dessa grave infecção odontogênica (SILVA & MOREIRA, 2023).
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Figura 3 – NORTHWICK PARK HOSPITAL. Proximidade da mandíbula posterior com os espaços pré-vertebrais que podem levar diretamente ao mediastino. Disponível em: http://www.exodontia.info. Acesso em: [12/02].
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Figura 4- Rotas de propagação de um dente do siso inferior. (Retirado de http://www.exodontia.info).
Conclusão
A Angina de Ludwig, quando secundária à infecção de terceiros molares, representa um desafio clínico significativo, dado o seu potencial para rápida progressão e complicações fatais, como obstrução das vias aéreas e sepse (Almeida e Lima, 2023). O reconhecimento precoce dos sinais clínicos, como edema submandibular doloroso e dificuldades respiratórias, é fundamental para o diagnóstico oportuno (Sousa e Lima, 2021). A abordagem terapêutica deve ser imediata e incluir antibioticoterapia de amplo espectro, com foco em patógenos anaeróbios, além de intervenções cirúrgicas para drenagem dos espaços infectados (Oliveira e Costa, 2024). A monitorização das vias aéreas é crucial, especialmente em casos mais graves, onde a traqueostomia pode ser necessária para evitar a obstrução respiratória (Rocha e Pereira, 2022). O tratamento eficaz depende de uma abordagem multidisciplinar que envolva cirurgiões- dentistas, otorrinolaringologistas, anestesistas e intensivistas, com o objetivo de controlar a infecção, manter a permeabilidade das vias aéreas e prevenir complicações sistêmicas (Oliveira e Sousa, 2022). Embora o manejo terapêutico tenha avançado, a mortalidade associada à Angina de Ludwig ainda é significativa, o que destaca a necessidade de estudos sobre o aprimoramento das estratégias de prevenção e tratamento (Santos e Costa, 2023).
Referências
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