REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7469853
André Nazareno Barros Azevedo1
Diogo Caraiba dos Santos2
Georgeano Dantas Maciel3
João Paulo Bernardes da Silva4
Raissa Caroline Mattos Chagas5
Cristiano Alves de Carvalho6
RESUMO
A pandemia gerada pelo novo Coronavírus, Covid-19, enfrentado pelo mundo, traz repercussões nas áreas da saúde, e gera impactos econômicos, sociais, políticos e culturais. A pandemia revolucionou o modo de viver e criou novos hábitos na sociedade. A higienização das mãos é uma das principais formas de se prevenir de doenças, haja vista que as mãos tocam diversas superfícies e até outras pessoas, podendo estas estarem infectadas por microrganismos e, ao levar as mãos à boca ou aos olhos, esses seres podem entrar em nosso corpo causando as doenças. Uma das formas de combate ao vírus sugerida por especialistas da área da saúde é a de lavar as mãos com água e sabão e em caso de impossibilidade utilizar o álcool 70%, na forma gel ou líquido. Nesse sentido, foi iniciada a corrida mundial pelo álcool 70%, sem que as indústrias estivessem preparadas para esse atendimento repentino do mercado. No Brasil todos os estabelecimentos comerciais foram obrigados a disponibilizar aos clientes o álcool 70%, principalmente na forma em gel. Desta forma, foi proposto no presente trabalho a verificação por meio de análises físico químicas da solução alcoólica 70%, oferecida nos estabelecimentos comerciais durante a pandemia. As análises físico químicas foram efetuadas em laboratório com auxílio dos equipamentos apropriados, dentro do que regulamenta a legislação vigente. Os resultados demonstraram a insatisfação de algumas amostras analisadas, quando comparadas à legislação vigente, comprovando que o álcool 70% oferecido, não garante a proteção à saúde do consumidor que frequenta o estabelecimento.
Palavras-chave: Álcool 70%. Análises físico químicas. Covid-19. Pandemia.
ABSTRACT
The pandemic generated by the new Coronavirus, Covid-19, faced by the world has repercussions in the areas of health, and generates economic, social, political and cultural impacts. The pandemic revolutionized the way of living and created new habits in society. Hand hygiene is one of the main ways to prevent diseases, given that hands touch different surfaces and even other people, who may be infected by microorganisms and, when taking their hands to their mouths or eyes, these beings can enter in our body causing disease. One of the ways to combat the virus suggested by health experts is to wash your hands with soap and water and, if impossible, use 70% alcohol, in the form of gel or liquid. In this sense, the world race for 70% alcohol began, without the industries being prepared for this sudden market service. In Brazil, all commercial establishments were required to make 70% alcohol available to customers, mainly in gel form. In this way, it was proposed in the present work to verify through physical chemical analysis of the 70% alcoholic solution, offered in commercial establishments during the pandemic. The physical chemical analyzes were carried out in the laboratory with the aid of appropriate equipment, within the scope of current legislation. The results demonstrated the unsatisfactoriness of some analyzed samples, when compared to current legislation, proving that the 70% alcohol offered does not guarantee the protection of the health of the consumer who frequents the establishment.
KEYWORDS: 70% Alcohol. Physicochemical analysis. Covid-19. Pandemic.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho trouxe para a ciência da Engenharia Química uma significativa discussão acerca de um momento jamais imaginado pela humanidade transcorrido a partir do ano de 2019 com a chegada de um novo vírus que ocasionou isolamento social como medidas protetivas para assegurar a vida.
Nesse sentido, ressalta-se que a pandemia gerada pelo Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, vem produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias.
Dessa forma, uma das alternativas apontadas pelos órgãos mundiais de saúde foi a prevenção do contágio pelo ato de lavar as mãos e/ou higienizar com a solução alcoólica 70%, sendo que essa foi fornecida em larga escala pelos estabelecimentos comerciais.
Entretanto, o mercado global não estava preparado para um fornecimento vultoso dessa solução, por este motivo levanta-se a questão problema que impulsionou o aporte investigativo: a solução alcoólica 70% fornecida pelos adquiridas pelos estabelecimentos comerciais e fornecida aos seus frequentadores durante pandemia produz efetiva proteção?
Dessa forma, levando em consideração essa questão, o presente trabalho buscou como objetivo geral promover análises de qualidade físico-química da solução alcoólica 70% utilizada nos estabelecimentos comerciais na pandemia pelos consumidores.
Não obstante, buscando alcançar os objetivos específicos adotou-se uma sistematização para descrever as medidas sanitárias que devem ser adotadas no uso do álcool 70% em estabelecimentos comerciais; contextualizar a composição físico-química do álcool 70%, e identificar os resultados qualitativos da solução físico-química do álcool 70% utilizada em estabelecimentos comerciais por consumidores.
Outrossim, menciona-se que as gotículas de saliva, espirros, acessos de tosse, contato próximo e superfícies contaminadas são as principais formas de transmissão do novo coronavírus, causador da Covid-19.
Assim, a higienização das mãos é primordial, pois, ao tocar determinados locais e levar a mão aos olhos, boca e nariz pode ocorrer a contaminação pelo vírus.
Sabe-se então que em conformidade com as orientações, tanto a água e o sabão, quanto o álcool em gel são aliados importantes para a higienização e prevenção de doenças que podem salvar os contágios. No entanto, o álcool não substitui uma boa e cuidadosa lavagem das mãos com muita água e sabão.
De acordo com infectologistas, lavar bem as mãos com água e sabão continua sendo a medida mais eficiente. O álcool em gel é um aliado, para momentos em que não é possível lavar as mãos, como é o caso em que o indivíduo precisa sair de casa.
O álcool em gel 70% é considerado pelo Conselho Federal de Química (CFQ) uma medida eficiente para se proteger de vírus e bactérias, bem como lavar as mãos com água e sabão. Tão logo, a eficácia do álcool 70% oferecido pelos estabelecimentos precisa ser garantida, como forma de proteger a saúde do consumidor e por consequência impedir a proliferação do vírus.
Diante do contexto supracitado, frisa-se que o novo Coronavírus é um vírus identificado como a causa de um surto de doença respiratória detectado pela primeira vez em Wuhan, China que causam infecções respiratórias e intestinais em humanos e animais; sendo que a maioria das infecções por coronavírus em humanos são causadas por espécies de baixa patogenicidade, levando ao desenvolvimento de sintomas do resfriado comum, no entanto, podem eventualmente levar a infecções graves em grupos de risco, idosos e crianças.
Previamente a 2019, duas espécies de coronavírus altamente patogênicos e provenientes de animais (SARS e MERS) foram responsáveis por surtos de síndromes respiratórias agudas graves.
Para tanto, a prevenção deve ser feita por ações simples que não impactam a rotina da população: lavar as mãos antes e depois das refeições com sabão ou detergente. A ação deve envolver os dedos, as palmas e costas das mãos até os punhos; lavar as mãos do mesmo procedimento anterior após uso do transporte público. Caso não tenha acesso a alguma pia, ter álcool gel sempre na bolsa facilita; ao tossir e espirrar, utilize lenços de papel para evitar que as secreções sejam eliminadas no ar; além disso, evitar apertos de mãos e cumprimentos no rosto.
Tais medidas são extremamente eficazes, principalmente se a pessoa se encontra em casa, entretanto, para os casos de estabelecimentos comerciais, a regra deve ser outra.
Sendo assim, promulgou-se o Projeto de Lei 717/20, o qual determinou a instalação obrigatória de dispensadores de álcool em gel nos mercados, bares, restaurantes, lanchonetes e centros comerciais. A regra vale para estabelecimentos de médio e grande porte, em que haja frequente trânsito de pessoas. As micro e pequenas empresas ficam fora da obrigação.
Ademais, acredita-se que a contaminação pode ser minimizada se todas as pessoas higienizam as mãos com maior frequência, o que é facilitado por meio do acesso ao álcool 70%, em gel, nos lugares de intenso trânsito de pessoas.
No entanto, não se sabe ao certo se esse álcool que supostamente está trazendo segurança e higiene para o frequentador do estabelecimento possui de fato eficácia comprovada no combate ao novo coronavírus.
Por conseguinte, delineia-se que os aportes referendados no estudo foram ordenados para garantir a relevância social e científica para estudantes e profissionais de todas as áreas do conhecimento.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O novo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19, foi detectado em 31 de dezembro de 2019 em Wuhan, na China. Em 9 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou a circulação do novo coronavírus. No dia seguinte, a primeira sequência do SARS-CoV-2 foi publicada por pesquisadores chineses. Em 16 de janeiro, foi notificada a primeira importação em território japonês. No dia 21 de janeiro, os Estados Unidos reportaram seu primeiro caso importado (AMARO, 2021).
Em 30 de janeiro, a OMS declarou a epidemia uma emergência internacional. Ao final do mês de janeiro, diversos países já haviam confirmado importações de casos, incluindo Estados Unidos, Canadá e Austrália. No Brasil, em 7 de fevereiro, havia 9 casos em investigação, mas sem registros de casos confirmados (OMS, 2021).
Nesta pandemia ficou evidente a incapacidade do ser humano em lidar com questões sanitárias básicas necessárias para frear a propagação de um vírus, bem como a falta de perspectiva de mobilidade social, a ausência de investimentos e políticas públicas para valorização da educação, além da importância de um sistema único de saúde eficiente. Problemas graves que poderiam ser evitados com investimentos sérios que garantem a efetivação de direitos humanos (LANA, 2020).
A estimativa de infectados e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de saúde, com a exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens essenciais como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.
Dentre as diversas alternativas para diminuir o contágio, foi proposto por especialistas da área da saúde que a população fizesse uso de álcool 70%, quando não fosse possível lavar as mãos com água e sabão.
No entanto, os sujeitos precisam compreender que além do uso do álcool a importância dos aportes de desinfecção a ser garantido no processo de proteção é essencial, visto que se trata de um ato de eliminação das formas existente em determinadas superfícies inanimadas que não são visíveis, sendo imprescindível a aplicação de agentes químicos e/ou físicos.
Assim, afirma-se que o processo de desinfecção elimina muitos ou todos os microrganismos patogênicos de uma superfície inanimada, da pele e de objetos, exceto esporos bacterianos (RUTALA & WEBER, 2008). Durante esse processo, podem ser usados métodos químicos ou físicos, e o termo “desinfetante” é atribuído a alguns agentes químicos, que são classificados de acordo com a eficiência em eliminar microrganismos (GRAZIANO et al., 2013b).
Tão logo, diante de um quadro de medo e cuidados para garantir a vida, bem como a propagação de uma precaução utilizando o álcool, verificou-se que nesse cenário de incertezas, ficou claro que a indústria não estava preparada para atender as necessidades da demanda mundial, principalmente quanto à produção do álcool 70%, quer seja ele na sua forma líquida ou em gel.
Outrossim, é salutar entender que a atividade antimicrobiana se dá através
da desnaturação de proteínas e da dissolução de gorduras, processos que requerem água para maior efetividade. Etanol a 70% é a concentração recomendada, pois o etanol puro é menos efetivo (TORTORA, 2017).
Doravante, destaca-se que os álcoois são compostos orgânicos caracterizados por apresentarem, pelo menos, uma hidroxila (OH-) ligada a um átomo de carbono. São utilizados como solvente, na fabricação de combustíveis, bebidas, desinfetantes, antissépticos, dentre outros produtos (GRAZIANO, 2013a).
Ressalta-se que, o álcool etílico à 70% p/p (etanol) e o álcool isopropílico (entre 60 e 95%) possuem ação contra bactérias na forma vegetativa, vírus envelopados (por ex. H1N1, coronavírus) microbactérias e fungos, sendo utilizados como desinfetantes e antissépticos. Eles não têm ação contra a forma esporulada das bactérias e nem contra vírus não envelopados e, por isso, não podem ser utilizados como esterilizantes químicos (RIBEIRO, 2015).
Segundo Fernandes (2020), o mecanismo de ação germicida do álcool é através da desnaturação de proteínas dos microrganismos e remoção de lipídios causando desidratação e precipitação do citoplasma ou protoplasma.
É importante salientar que, para possuir ação germicida, o álcool etílico precisa estar diluído em água numa concentração de 70% p/p ou 77 v/v, uma vez que a água facilita a entrada do álcool no interior do microrganismo e diminui a sua evaporação aumentando o tempo de ação (RIBEIRO, 2015).
O álcool etílico a 70% tem sido amplamente utilizado na prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde no ambiente hospitalar, tendo em vista a sua eficácia, baixa toxicidade, baixo custo e facilidade de uso (BERNARDI, 2021).
Em se tratando do território brasileiro, é contextualizado que desde o ano de 2002, a comercialização de formulações alcoólicas acima de 54°GL (à temperatura de 20°C) somente eram permitidas na forma de gel, para garantir segurança e fácil
manuseio (BRASIL, 2019).
Nas determinações realizadas pela Resolução – RDC nº 42 de 25 de outubro de 2010 pelo Ministério da Saúde, orientava que:
Os produtos antissépticos líquidos com concentração de álcool entre 60% e 80%, e os em gel com no mínimo 70%, deveriam ser destinados exclusivamente aos estabelecimentos de saúde, conforme RDC 42/2010 (BRASIL, 2010).
Mas ao chegar, no percurso pandêmico uma nova ordenação legal se fez em detrimento da demanda que aumentou e, foi autorizada, especificamente durante a duração da mesma, a fabricação de preparações alternativas, sendo utilizado comumente com maior ampliação em gel (BRASIL, 2020). Assim, as preparações alcoólicas mais utilizadas podem ser encontradas comercialmente nas formas líquida, gel ou de espuma, sendo que as formulações podem apresentar variações dependendo do país (GREENAWAY et al., 2018).
De acordo com a definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (2020), desinfetantes são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporulados e que são utilizadas em superfícies e materiais não vivos.
O álcool à 70% é classificado como desinfetante de nível intermediário e tem sido utilizado, nos serviços de saúde, na desinfecção de mobiliários e equipamentos, termômetros, estetoscópios, ampolas e frascos de medicamentos, fibra óptica de endoscópios, dentre outros (LANA, 2020).
Apesar disso, muitos consumidores não estão bem esclarecidos quanto ao uso correto do produto, ao risco de inflamabilidade e da toxicidade. É importante esclarecer à população que, para ter eficácia germicida, é necessário segundo a Anvisa (2020):
Que o álcool etílico seja hidratado na concentração de 70% p/p ou 77 v/v; Que deve ser usado utilizando embebido num tecido limpo e aplicado diretamente sob fricção por, pelo menos, 10 segundos; Ter o cuidado para não manter o frasco aberto para não evaporar o álcool e, com isso, não perder a sua eficácia como germicida; que seja adquirido produto com registrado e com rótulo aprovado pela Anvisa. O número de registro para saneantes é uma sequência de 13 números iniciado pelo número.
A antissepsia consiste num conjunto de medidas utilizadas para eliminação ou inibição do crescimento dos microrganismos presentes na pele ou nas mucosas, através da aplicação direta de um antisséptico (SOUSA, 2019).
Antissépticos são agentes germicidas compostos por substâncias hipoalergênicas e de baixa causticidade, sendo utilizados na pele e mucosas. São registrados na Anvisa como medicamentos ou como cosméticos. Os antissépticos aquosos são utilizados em mucosas e os alcoólicos são utilizados na pele. Há, ainda, os antissépticos degermantes que são utilizados para degermação das mãos e da pele (BERNARDI, 2021).
O álcool a 70%, utilizado como antisséptico, é encontrado na forma líquida e na forma de gel. O álcool a 70% na forma líquida é registrado na Anvisa como medicamento e é utilizado na antissepsia da pele para realização de punções venosas. O álcool em gel é utilizado para higienização das mãos, possui emolientes para evitar ressecamento da pele e é registrado na Anvisa como cosmético (RIBEIRO, 2015).
Sua utilização como antisséptico é possível, pois apresenta rápida ação germicida, é de fácil aplicação e de baixa toxicidade. O álcool em gel tem sido muito utilizado para a higienização das mãos, em substituição a lavagem simples das mãos com água e sabão, apresentando as seguintes vantagens: é menos irritante da pele; possui maior efeito antisséptico; a aplicação é rápida (15 segundos) e proporciona maior adesão dos profissionais de saúde (HOLANDA, 2020).
A técnica de aplicação da higienização das mãos com álcool gel é a mesma da higienização das mãos com água e sabão. É importante salientar que é necessário lavar as mãos com água e sabão, após vários usos de álcool gel, quando as mãos se apresentam pegajosas (excesso de gel) ou apresentam sujidades (BERNARDI, 2021).
Independente do seu uso (desinfetante ou anti séptico) ou de sua forma (líquido ou gel), o álcool 70% é inflamável e, portanto, não deve ser utilizado próximo à fonte de ignição ou de chama. O álcool a 70% na forma líquida é um irritante da pele e o seu uso constante pode levar a dermatites. Este efeito irritante é amenizado utilizando a formulação em gel. Devido ao efeito irritante, as soluções alcoólicas não devem ser usadas em mucosas. O uso tópico do álcool etílico não produz toxicidade sistêmica (RIBEIRO, 2015).
No Brasil os estabelecimentos comerciais se viram obrigados a fornecer aos seus clientes o álcool 70%, principalmente na sua forma em gel, com o objetivo de resguardar o consumidor e impedir que o vírus possa se proliferar ainda mais.
De acordo com a ANVISA através do Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira (FNFB) descreve os procedimentos para produzir etanol 70% (p/p, porcentagem em massa) e 77% (v/v), álcool etílico glicerinado 80% (v/v), álcool isopropílico glicerinado 75% (v/v) e álcool etílico em gel 70%
(p/p) (BRASIL, 2012).
Desta forma, tanto a indústria procedeu um aumento sem planejamento adequado de suas produções de álcool 70%, quanto os estabelecimentos começaram a fornecer o álcool, muitas vezes, sem que fosse observado as condições do fabricante e o acondicionamento devido do produto.
3. METODOLOGIA
Metodologicamente, o estudo estruturou-se para subsidiar dados por meio de uma abordagem quantitativa, a partir de uma pesquisa-ação para nortear uma aplicabilidade de informações em relação ao objeto, fundamentando primeiramente o campo epistemológico por revisões bibliográficas, posteriormente realizou-se uma busca direta para averiguar resultados a serem analisados.
Para tanto, a coleta de dados foi efetivada em 10 (dez) estabelecimentos comerciais localizados na cidade de Porto Velho, no Estado de Rondônia, com a apresentação de um termo de sigilo, o qual impede a divulgação do nome institucional e marca analisada, já que o estudo baseia-se na análise da eficácia dos produtos fornecidos para higienização.
Sendo assim, a amostra foi retirada dos recipientes o qual estava acondicionados, com auxílio de luvas e funil, devidamente higienizados, sendo alocados em frascos de plástico do tipo estriado com tampa de rosca, contendo 100 ml do produto, que posteriormente foram armazenados em local que não interferisse no teor do produto.
Por conseguinte, destaca que cada estabelecimento recebeu uma numeração para quantificação, e as suas amostras foram acondicionadas ao abrigo de luz, em local seco e arejado como destacado quando se efetiva o manuseio de produtos dessa natureza.
Em relação ao período de coleta, menciona-se que ocorreu no perfilar de 03 (três) dias consecutivos em consonância com as orientações legais que foram ordenadas no guia de controle de qualidade de produtos cosméticos, divulgado pela ANVISA, onde é relacionado todos os testes sugeridos para o controle de qualidade do produto.
De posse das amostras coletas, no quarto dia começou as análises, no qual foi efetuado primeiramente a avaliação organoléptica, mediante um processo de observação por meio visual da cor, odor e aspecto físico das amostras, bem como os beckers transparentes, e à temperatura ambiente e luz natural.
Após, esses primeiros resultados, sequencialmente foi iniciada a determinação do pH com auxílio do pH-metro (Gehaka PG-1800) calibrado, sendo determinado por meio de imersão do eletrodo diretamente na amostra.
Também foi efetuada a determinação da densidade com auxílio de um picnômetro metálico, sendo este pesado vazio, com água destilada e após com a amostra, é realizado o cálculo da viscosidade por meio da fórmula: densidade = (massa do picnômetro com a amostra – massa do picnômetro com a amostra, em gramas) / (massa do picnômetro com água destilada – massa do picnômetro vazio).
Foi ainda analisada a viscosidade do gel, encontrada por meio do viscosímetro de Brookfield série LV, spindle n° 3 e 4. A verificação foi efetuada com o acondicionamento das amostras em um becker, e o spindle foi incorporado à amostra de modo a evitar a formação de bolhas de ar em contato com a superfície do mesmo, para não ocasionar erros na leitura. As leituras foram realizadas na velocidade 3,0 RPM (rotações por minuto) à temperatura de 25°C±1.
Por fim, foi efetuada a verificação do teor alcóolico por meio de refratômetro portátil RTU-100 Incoterm®, devidamente calibrado conforme manual, estando as amostras na temperatura de 20°C. A leitura foi feita em grau Brix, escala numérica de índice de refração, e posteriormente convertida em teor alcóolico através de dados contidos na tabela “Concentrative properties of aqueous solutions: density, refractive index, freezing point depression, and viscosity” (HAYNES, 2004).
De posse de todos os resultados encontrados, discutir analiticamente para evidenciar conjuntamente com a teoria apresentada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme os dados analisados, observamos que quanto às características organolépticas, as amostras demonstraram estabilidade, não havendo qualquer fato que, a olho nú, nos levasse a considerar erros graves no produto.
Essas características são identificadas na observação do aspecto, cor, odor, sabor e tato, das amostras.
Quando analisado o pH, observamos alterações consideráveis, lembrando que o pH ideal de uma formulação é padronizado de acordo com o pH de estabilidade dos componentes ativos utilizados, e de tolerância biológica para produtos cutâneos (5,5 a 8,0), visando não causar problemas à saúde do indivíduo.
Sabe-se que fatores como a temperatura, umidade e pressão podem afetar as amostras, por este motivo o armazenamento deve ser feito de forma satisfatória, em ambientes arejados, livre de sol e chuva, bem como em embalagens adequadas.
Nenhuma amostra analisada apresentou pH abaixo dos 5,5 e nem acima de 8,0, motivo pelo qual não foi detectado, ficando na faixa de 6,1 à 7,4, assim não havendo danos à pele humana neste aspecto.
No que diz respeito a densidade, ou seja, relação existente entre a massa e o volume de um material, a uma dada pressão e temperatura, houveram grandes alterações nas amostras, já que a densidade considerada padrão para este produto é 0,870, que corresponde à solução hidroalcoólica a 70% p/p, porém, os valores encontrados variam de 0,85 a 0,96, conforme tabela 01 abaixo.
Tabela 1 – características organolépticas e físico-químicas de pH e densidade das amostras
AMOSTRA | COR | ODOR | ASPECTO | pH | DENSIDADE |
1 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,1 | 0,85 |
2 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,4 | 0,85 |
3 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,5 | 0,80 |
4 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 7,0 | 0,79 |
5 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 7,0 | 0,86 |
6 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 7,2 | 0,78 |
7 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,5 | 0,79 |
8 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 7,4 | 0,85 |
9 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,2 | 0,85 |
10 | Incolor | Normal Característico | Heterogêneo | 6,8 | 0,88 |
Fonte: Dados dos autores (2022)
Tabela 2 – características físico-químicas de viscosidade e teor alcoólico das amostras
AMOSTRA | VISCOSIDADE | TEOR ALCÓOLICO |
1 | < 8.000 cP | 70% p/p |
2 | < 8.000 cP | 74% p/p |
3 | > 8.000 cP | 67% p/p |
4 | > 8.000 cP | 62% p/p |
5 | < 8.000 cP | 77% p/p |
6 | > 8.000 cP | 65% p/p |
7 | > 8.000 cP | 68% p/p |
8 | < 8.000 cP | 70% p/p |
9 | < 8.000 cP | 70% p/p |
10 | < 8.000 cP | 79% p/p |
Fonte: Dados dos autores (2022)
A partir destes resultados apresentados nas tabelas 1 e 2, gerou-se os gráficos a seguir:
Gráfico 1 – Ph X Densidade G/ML
Fonte: Dados dos autores (2022)
Os dados do gráfico 1 foram comparados com os valores de referência relacionados, conforme a Resolução da diretoria colegiada – RDC nº 46, de 20 de fevereiro de 2002 que evidencia acerca dos riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de acidentes por queimadura e ingestão, principalmente em crianças, em virtude da forma física para o álcool etílico.
Esses dados demonstram os altos valores nas amostras coletadas dentro de um patamar no qual o pH encontrado foi a 25ºC, bem como a densidade g/ml ao mesmo grau.
De maneira, detalhada e específica os gráficos 2, 3, 4 e 5 discorrem os dados encontrados:
Gráfico 2 – pH
Fonte: Dados dos autores (2022)
No gráfico 2 são apresentados os resultados do pH das amostras analisadas. Os valores de pH das amostras analisadas neste trabalho, situam-se na faixa de 6,10 a 7,40.Onde as amostras 1, 2, e 9 ficaram abaixo do recomendado pela ANVISA.
Gráfico 3 – Densidade G/ML
Fonte: Dados dos autores (2022)
No gráfico 3 são apresentados os resultados da densidade das amostras analisadas e comparadas com a de referência padrão para este produto que é de 0,870, que corresponde à solução hidroalcoólica a 70% p/p. Os resultados das amostras estudadas apresentaram uma grande alteração, com valores entre 0,78 a 0,88.
Menciona-se que os dados dos gráficos, contextualizam as ordenações legais, em que as formulações à base de álcool 70% são consideradas de Risco II, podem ser industrializadas ou manipuladas, e as de origem magistral são isentas de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Contudo, conforme a Resolução RDC nº 347/2020 e Resolução RDC nº 350/2020 alterada pela RDC nº 422/2020 (BRASIL, 2020), em caráter temporário e emergencial, está permitida a formulação de preparações antissépticas e desinfetantes, por farmácias de manipulação e empresas fabricantes de medicamentos, saneantes e cosméticos sem prévia autorização da ANVISA, sendo de responsabilidade dos fabricantes garantir a qualidade, segurança e eficácia dos produtos comercializados, as quais devem seguir as diretrizes da 2ª Edição do FNFB (BRASIL, 2012).
Gráfico 4 – Viscosidade CP
Fonte: Dados dos autores (2022)
Os dados do gráfico 4 são comparados com os valores de referência apontados de acordo com a RDC nº 46/2002, no qual a viscosidade do álcool em gel a 70% deve ser maior que 8.000 cP (centipoise) a 25ºC, para diminuir os riscos de acidentes por queimadura ou ingestão do produto. Nas amostras analisadas 100,0% das mesmas apresentaram viscosidade acima desse valor, ou seja, adequadas, de acordo com as especificações da lei (BRASIL, 2002).
Gráfico 5 – Teor Alcoólico p/p
Fonte: Dados dos autores (2022)
No gráfico 5 são apresentados os resultados do teor alcoólico das amostras analisadas. Os valores encontrados variaram de 62% a 79% p/p. Observa-se que apenas as amostras de álcool 3, 4 e 6 possuem a concentração alcoólica abaixo do recomendada pela ANVISA.
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, notou-se a velocidade do contágio ocasionado pelo vírus, principalmente quando em contato com as mãos, sendo necessária a mudança de hábitos, com maior controle da higiene para a garantia da saúde do indivíduo.
Desta forma, na ausência de água e sabão para a higienização das mãos, recorreu-se à utilização do álcool 70%, principalmente em gel, sendo obrigatório sua disponibilização nos estabelecimentos comerciais do país, como forma de combate ao vírus.
Em análises físico-químicas desse composto fornecido aos frequentadores, observou-se que as amostras apresentavam maior estabilidade quando bem acondicionadas e em embalagens que garantiam seu prazo de validade.
Foi demonstrado que determinadas amostras não corresponderam ao padrão da ANVISA, assim não garantindo a prevenção à saúde do consumidor que frequenta o estabelecimento.
Por fim, as análises concluíram que a eficácia não foi garantida em menos da metade dos casos analisados, estando relacionado a problemas de densidade, viscosidades e teor alcóolico, os quais estão fora dos padrões de qualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, Pedro Germano de. Impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia. 2021. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/impactos-sociais-economicos-culturais-e-politicos-da pandemia#:~:text=A%20estimativa%20de%20infectados%20 adoecimento%20e%20morte%2C%20acesso%20a> Acesso em 09 de abr. 2022.
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Orientações sobre a produção de álcool gel. 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/publicadas-orientacoes-sobre-a-producao-de-alcool-gel> Acesso em 11 de abr. 2022.
BERNARDI, Gisele Aparecida. Avaliação da atividade antimicrobiana do álcool 70% em superfícies contaminadas. 2021. Disponível em: <http://jic-abih.com.br/index.php/jic/article/download/194/pdf.> Acesso 05 de abr. 2022.
BRASIL. Resolução da diretoria colegiada – RDC nº 46, de 20 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre os riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de acidentes por queimadura e ingestão, principalmente em crianças, em virtude da forma física para o álcool etílico. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA, Brasilia, 2002.
BRASIL. Resolução da diretoria colegiada – RDC nº 42, de 25 de outubro de 2010. Dispõe sobre a obrigatoriedade de disponibilização de preparação alcoólica para fricção antisséptica das mãos, pelos serviços de saúde do País, e dá outras providências. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA, Brasilia, 2010.
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1 Acadêmico de Engenharia Químical. E-mail: andreazevedo_@hotmail.com. Artigo apresentado ao Curso de Engenharia Química da Universidade Santo Amaro – UNISA, como requisito para obtenção do título Bacharel em Engenharia Química, 2022.
2 Acadêmico de Engenharia Químical. E-mail: diogosantosc@hotmail.com. Artigo apresentado ao Curso de Engenharia Química da Universidade Santo Amaro – UNISA, como requisito para obtenção do título Bacharel em Engenharia Química, 2022.
3 Acadêmico de Engenharia Químical. E-mail: georgeano.maciel@gmail.com. Artigo apresentado ao Curso de Engenharia Química da Universidade Santo Amaro – UNISA, como requisito para obtenção do título Bacharel em Engenharia Química, 2022.
4 Acadêmico de Engenharia Químical. E-mail: joaopaulobernardes.jp@gmail.com. Artigo apresentado ao Curso de Engenharia Química da Universidade Santo Amaro – UNISA, como requisito para obtenção do título Bacharel em Engenharia Química, 2022.
5 Acadêmico de Engenharia Químical. E-mail: raissac.mattos@hotmail.com. Artigo apresentado ao Curso de Engenharia Química da Universidade Santo Amaro – UNISA, como requisito para obtenção do título Bacharel em Engenharia Química, 2022.
6 Professor Orientador (Mestre). Professor do curso de Engenharia Química. E-mail: cadcarvalho@prof.unisa.br