REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412291204
Rafael Fernandes de Souza1
RESUMO
Introdução: A bronquiolite aguda é uma causa comum de internação em pediatria, sendo predominantemente provocada pelo vírus sincicial respiratório (VSR), especialmente nos primeiros dois anos de vida. Por outro lado, a bronquite é uma das doenças respiratórias mais comuns em crianças, sendo a forma aguda uma das principais razões para procurar atendimento médico. Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico das internações por bronquite e bronquiolite aguda nas cinco regiões do Brasil. Metodologia: Este estudo é descritivo e retrospectivo, utilizando dados secundários extraídos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), referentes às internações hospitalares por bronquite aguda e bronquiolite aguda no período de outubro de 2019 a outubro de 2024. As internações foram analisadas considerando diferentes variáveis, como região de internação, faixa etária, sexo, cor/raça, e caráter do atendimento (eletivo ou urgência). Resultados e Discussão: Entre 2019 e 2024, observou-se um aumento expressivo no número de internações por bronquite aguda e bronquiolite aguda, com um crescimento de 2.614 casos em 2019 para um pico de 27.419 em 2023, seguido por uma redução para 20.785 em 2024. A distribuição regional demonstra que o Sudeste apresentou o maior número de internações (36.188), refletindo sua maior densidade populacional e acesso ao sistema de saúde, enquanto o Norte apresentou os menores números (8.042).
A faixa etária de 1 a 4 anos destacou-se como a mais afetada, representando 80,2% das internações (66.043 casos). Quanto ao sexo, verificou-se maior prevalência de internações entre pacientes do sexo masculino (45.239), com diferenças consistentes em todas as regiões. Em relação à cor/raça, pacientes pardos (49.262) e brancos (28.728) lideraram as internações, enquanto indígenas e amarelos apresentaram números significativamente menores. O caráter do atendimento demonstrou que 96,8% das internações foram de urgência, destacando a gravidade das condições analisadas. Apenas 3,2% ocorreram em caráter eletivo. Conclusão: Foi possível perceber que as taxas mais altas foram prevalentes no ano de 2023, na região sudeste, em crianças do sexo masculino, da cor/raça parda e que tiveram caráter de atendimento de urgência.
Palavras-chave: Epidemiologia; Brasil; Bronquite; Bronquiolite aguda.
INTRODUÇÃO
A bronquiolite aguda é uma causa comum de internação em pediatria, sendo predominantemente provocada pelo vírus sincicial respiratório (VSR), especialmente nos primeiros dois anos de vida. Essa condição resulta da infecção e inflamação da mucosa respiratória, consequência da replicação do vírus, levando à descamação das células epiteliais das vias respiratórias, inchaço na mucosa e aumento da reatividade da musculatura lisa das vias aéreas, o que gera os sintomas respiratórios característicos da enfermidade (febre, coriza, tosse e chiado). Os bebês são mais suscetíveis à bronquiolite aguda devido ao diâmetro reduzido das vias aéreas distais e à falta de imunidade ativa contra o VSR e outros vírus respiratórios (Dos Santos; Neves; Moccellin, 2023).
Por outro lado, a bronquite é uma das doenças respiratórias mais comuns em crianças, sendo a forma aguda uma das principais razões para procurar atendimento médico. Esta é uma doença infecciosa que impacta os brônquios, resultando em espessamento da mucosa, descamação do epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado e desnaturação da membrana basal. Geralmente são causadas por agentes infecciosos, com a etiologia viral sendo a mais frequente, representada pelos vírus Influenza A e B, rinovírus e VSR (Bortolazzi; Caporal, 2024).
Sendo assim, o objetivo deste estudo é analisar o perfil epidemiológico das internações por bronquite e bronquiolite aguda nas cinco regiões do Brasil nos últimos cinco anos.
METODOLOGIA
Este estudo é descritivo e retrospectivo, utilizando dados secundários extraídos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), referentes às internações hospitalares por bronquite aguda e bronquiolite aguda no período de outubro de 2019 a outubro de 2024.
As internações foram analisadas considerando diferentes variáveis, como região de internação, faixa etária, sexo, cor/raça, e caráter do atendimento (eletivo ou urgência).
As seguintes variáveis foram utilizadas para a análise:
- Ano de processamento: de 2019 a 2024.
- Região de internação: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
- Faixa etária: 1 a 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos.
- Sexo: masculino e feminino.
- Cor/raça: branca, preta, parda, amarela, indígena.
- Caráter do atendimento: eletivo e urgência.
Incluíram-se todas as internações registradas no SIH/SUS por bronquite aguda e bronquiolite aguda dentro do período estudado. Excluíram-se internações com informações incompletas ou inconsistentes em relação às variáveis de interesse.
Os dados foram analisados em cinco dimensões principais:
- Evolução temporal: análise das internações ao longo dos anos, identificando tendências e variações.
- Distribuição regional: comparação entre as cinco regiões do Brasil, avaliando o total de internações e as proporções por características demográficas e clínicas.
- Características demográficas: análise por faixa etária, sexo e cor/raça.
- Caráter do atendimento: proporção de internações eletivas e de urgência por região.
- Morbidade específica (CID-10): prevalência das internações para as condições de bronquite aguda e bronquiolite aguda.
A análise dos dados foi realizada utilizando o Microsoft Excel, com os resultados apresentados em tabelas no Microsoft Word.
Por tratar-se de um estudo baseado em dados secundários de domínio público, não houve necessidade de submissão ao comitê de ética em pesquisa. Os dados utilizados não possuem identificação individual, garantindo a confidencialidade e o anonimato.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre 2019 e 2024, observou-se um aumento expressivo no número de internações por bronquite aguda e bronquiolite aguda, com um crescimento de 2.614 casos em 2019 para um pico de 27.419 em 2023, seguido por uma redução para 20.785 em 2024. Esse padrão pode ser atribuído ao impacto inicial da pandemia de COVID-19, que limitou o acesso aos serviços de saúde em 2020 e 2021, e ao posterior aumento de casos negligenciados durante as restrições sanitárias. Além disso, a diminuição de disponibilidade de leitos para pacientes não contaminados pela COVID-19, restringindo a internação por diferentes doenças do sistema respiratório, como a bronquite e bronquiolite (Bortolazzi; Caporal, 2024).
A distribuição regional, conforme a Tabela 1, demonstra que o Sudeste apresentou o maior número de internações (36.188), refletindo sua maior densidade populacional e acesso ao sistema de saúde, enquanto o Norte apresentou os menores números (8.042), possivelmente devido à dispersão populacional e barreiras geográficas de acesso aos serviços. Assim como, no estudo de Tumba et al. (2019), a região Sudeste demonstrou uma maior prevalência do que as outras regiões administrativas do país, devido à sua alta densidade populacional. Com isso, há uma distribuição diferente de internações em cada região, revelando o possível papel importante de fatores como clima e comportamento, especialmente o confinamento associado a climas mais frios, que podem levar à disseminação do vírus.
Tabela 1 – Internações por Ano e Região (2019-2024)
Região | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | Total |
Norte | 288 | 658 | 922 | 1.558 | 2.589 | 2.027 | 8.042 |
Nordeste | 606 | 931 | 1.305 | 2.909 | 6.218 | 4.615 | 16.584 |
Sudeste | 1.108 | 2.742 | 4.692 | 8.033 | 11.126 | 8.487 | 36.188 |
Sul | 394 | 553 | 1.184 | 2.553 | 3.771 | 3.043 | 11.498 |
Centro-Oeste | 218 | 466 | 836 | 2.182 | 3.715 | 2.613 | 10.030 |
Total | 2.614 | 5.350 | 8.939 | 17.235 | 27.419 | 20.785 | 82.342 |
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A faixa etária de 1 a 4 anos destacou-se como a mais afetada, representando 80,2% das internações (66.043 casos), conforme a Tabela 2. Esse resultado reflete a maior vulnerabilidade dessa faixa etária a infecções respiratórias devido à imaturidade do sistema imunológico. As faixas de 5 a 9 anos e 10 a 14 anos apresentaram números reduzidos, evidenciando maior resistência imunológica adquirida ao longo do crescimento. Considerando que as infecções respiratórias agudas (IRA) correspondem a 11,3% das fatalidades globais, sendo as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade em crianças com menos de cinco anos, analisar essas informações é visto como um recurso valioso para diferenciar os serviços de saúde nas áreas investigadas (Dos Santos; Neves; Moccellin, 2023).
Tabela 2 – Internações por Faixa Etária e Região (2019-2024)
Região | 1 a 4 anos | 5 a 9 anos | 10 a 14 anos | Total |
Norte | 6.396 | 1.274 | 372 | 8.042 |
Nordeste | 13.151 | 2.736 | 697 | 16.584 |
Sudeste | 28.712 | 6.292 | 1.184 | 36.188 |
Sul | 9.813 | 1.397 | 288 | 11.498 |
Centro-Oeste | 7.971 | 1.717 | 342 | 10.030 |
Total | 66.043 | 13.416 | 2.883 | 82.342 |
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Quanto ao sexo, verificou-se maior prevalência de internações entre pacientes do sexo masculino (45.239), com diferenças consistentes em todas as regiões (Tabela 3). Esses dados entram em conformidade com os estudos (Oliveira et al., 2024; Flores-Pérez et al., 2022). A causa pode estar relacionada a diversas razões, podendo também existir a possibilidade de um desenvolvimento atrasado do parênquima pulmonar, tornando as vias aéreas e o tamanho do pulmão masculino diferentes (Oliveira et al., 2024).
Em relação à cor/raça, pacientes pardos (49.262) e brancos (28.728) lideraram as internações, enquanto indígenas e amarelos apresentaram números significativamente menores. Isso pode ser devido à disparidade étnico-racial e socioeconômica no Brasil, além da dificuldade de alcance à atenção médica para grupos étnicos minoritários, frequentemente devido à escassez de recursos, superlotação das unidades de atendimento e ausência de vacinação contra o VSR e outras infecções respiratórias virais (Soares et al., 2023).
Tabela 3 – Internações por Sexo e Região (2019-2024)
Região | Masculino | Feminino | Total |
Norte | 4.480 | 3.562 | 8.042 |
Nordeste | 9.315 | 7.269 | 16.584 |
Sudeste | 19.617 | 16.571 | 36.188 |
Sul | 6.223 | 5.275 | 11.498 |
Centro-Oeste | 5.604 | 4.426 | 10.030 |
Total | 45.239 | 37.103 | 82.342 |
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
O caráter do atendimento demonstrou que 96,8% das internações foram de urgência, destacando a gravidade das condições analisadas. Apenas 3,2% ocorreram em caráter eletivo, conforme a Tabela 4. Esse padrão foi observado em todas as regiões, sendo mais acentuado no Sudeste (35.704 casos de urgência).
Tabela 4 – Internações por Caráter de atendimento e Região (2019-2024)
Região | Eletivo | Urgência | Total |
Norte | 679 | 7.363 | 8.042 |
Nordeste | 587 | 15.997 | 16.584 |
Sudeste | 484 | 35.704 | 36.188 |
Sul | 464 | 11.034 | 11.498 |
Centro-Oeste | 457 | 9.573 | 10.030 |
Total | 2.671 | 79.671 | 82.342 |
Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Esses resultados ressaltam a relevância das condições analisadas como causa de morbidade hospitalar infantil no Brasil, especialmente em caráter de urgência. A alta prevalência entre faixas etárias mais jovens e populações vulneráveis reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos de qualidade, além de estratégias regionais para mitigar desigualdades.
CONCLUSÃO
Foi possível perceber que as taxas mais altas foram prevalentes no ano de 2023, em crianças do sexo masculino, da cor/raça parda e que tiveram caráter de atendimento de urgência. Sendo assim, é necessário focar em estratégias de saúde, como a educação em saúde para prevenir novas ocorrências e a capacitação das equipes de saúde para minimizar as complicações desses casos. Além disso, as autoridades competentes precisam intensificar o fornecimento de recursos para viabilizar tais ações, a fim de evitar internações desnecessárias e óbitos por causas evitáveis.
REFERÊNCIAS
BORTOLAZZI, L.; CAPORAL, M. R. Internamentos por bronquite e bronquiolite aguda no estado do Paraná entre os anos de 2019 a 2023. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 7, n. 10, p. e74819, 2024. DOI: 10.34119/bjhrv7n10-004.
BRASIL, Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde – DATASUS. Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Brasil. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/niuf.def>. Acesso em: 20 dez. 2024.
DOS SANTOS, Danyara Silva; NEVES, Stefany Andrade Santos; MOCCELLIN, Ana Silvia. Morbiletalidade por bronquite e bronquiolite aguda em crianças menores de um ano: estudo nacional de série histórica, 2013-2022. Research, Society and Development, v. 12, n. 9, p. e0512943143-e0512943143, 2023.
FLORES-PÉREZ, Patricia et al. Acute bronchiolitis during the COVID-19 pandemic. Enfermedades Infecciosas y Microbiología Clínica, v. 40, n. 10, p. 572-575, 2022.
OLIVEIRA, Amanda Caroliny Dias de et al. Perfil epidemiológico de lactentes hospitalizados por bronquiolite aguda: comparação entre antes e durante a pandemia da COVID-19. Revista FT. 2024. DOI: 10.5281/zenodo.8213298
SOARES, Mariana Carvalho et al. Morbidade hospitalar da Bronquite Aguda e Bronquiolite Aguda em crianças, no Brasil, de 2017 a 2021. Contribuciones A Las Ciencias Sociales, [S. l.], v. 17, n. 7, p. e8493, 2024. DOI: 10.55905/revconv.17n.7-249.
TUMBA, Kanama et al. Temporal trend of hospitalizations for acute bronchiolitis in infants under one year of age in Brazil between 2008 and 2015. Revista Paulista de Pediatria, v. 38, p. e2018120, 2019.
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Instituição: Hospital Infantil Cândido Fontoura / São Paulo-SP
Residência Médica em Pediatria / Prova de Subespecialidade em Neurologia Pediátrica