ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO EM UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10302516


Danielly Vieira Barcelos de Freitas
Jéssika Rodrigues Soares
Grasiela Aparecida Coura Querobino Alvarenga


RESUMO

A análise preliminar de risco em empresas de todos os segmentos é uma iniciativa necessária no âmbito da produção, sendo uma das especialidades intrínsecas ao trabalho cotidiano da Engenharia de Segurança do Trabalho. O presente trabalho discutiu a análise preliminar de risco em uma empresa de pequeno porte, especificamente do ramo de terceirização de serviços, com as análises inerentes aos serviços de conservação e limpeza. O objetivo geral do trabalho foi identificar os principais obstáculos e as potencialidades predominantemente observadas para a realização da análise preliminar de riscos em uma empresa de pequeno porte. A metodologia empregada foi o estudo de caso único. Trata-se de um segmento cuja heterogeneidade dos setores nos quais se processa tem sua análise relevante no sentido de subsidiar as ações a serem empreendidas também em segmentos específicos, sem a necessidade de alterações significativas no que se refere às medidas de segurança do trabalho passíveis de adoção. Destacou-se que os riscos existentes são de diversos níveis, de acordo com a etapa de realização dos serviços, sendo imprescindível a estrita observação das medidas de controle para que tais riscos sejam minimizados.

Palavras-chave: Análise Preliminar de Risco. Empresa de Pequeno Porte. Segurança do Trabalho.

1 INTRODUÇÃO

A análise preliminar de risco representa uma prática de essencial adoção com a finalidade de detectar os perigos inerentes às atividades produtivas, podendo resultar na efetiva minimização da possibilidade de acidentes de trabalho e adoecimentos profissionais. Trata-se de uma prática de grande interesse por parte das organizações porque, além de ser positiva para a saúde dos trabalhadores, contribui significativamente para a redução do absenteísmo motivado pelos adoecimentos e acidentes de trabalho, além de favorecer o aporte de qualidade às atividades. Taralli e Simões (2002) definem a análise preliminar de risco como uma técnica estruturada com objetivo de promover a identificação dos perigos existentes em uma instalação, passíveis de serem resultantes de eventos indesejados.

A classificação dos riscos é realizada por meio de uma matriz de risco, na qual ocorre a identificação a respeito da severidade e da frequência de cada risco. A partir da descrição dos riscos, passa-se à identificação das causas e respectivos efeitos, bem como a severidade e a ocorrência a eles relacionada. Estas indicações são empregadas na categorização dos riscos e definição das ações (BARRETTO, 2008).

A elaboração da análise preliminar de riscos envolve etapas bem definidas, que correspondem às questões de necessária avaliação, desde a definição das pessoas que serão responsáveis pelas atividades analíticas até a elaboração do relatório. Estas atividades são pautadas pelo elevado nível de detalhamento com relação à observação dos aspectos que dizem respeito à dinâmica das atividades, ao ambiente e às posturas do profissional, que podem ser motivadoras para adoecimentos ou para a ocorrência de acidentes. As práticas nesse sentido referem-se à análise voltada à identificação dos perigos e dos riscos a eles relacionados (CARDELLA, 2010).

A análise preliminar de riscos personifica os aspectos preventivos que devem permear o planejamento empresarial no tocante à prevenção de adoecimentos profissionais e acidentes de trabalho, sendo, no entanto, um conjunto de análises que carece de conhecimento a respeito das atividades a serem analisadas, por parte dos responsáveis por sua execução e, muitas vezes, da colaboração daquelas pessoas que se responsabilizam pela prática cotidiana nos postos de trabalho analisados. Nos casos de análises inerentes a empresas ainda em fase de implantação dos processos a serem avaliados, o trabalho pode ser mais suscetível à necessidade de ajustes com o decorrer do tempo, a partir da identificação das ameaças existentes. 

A análise preliminar de riscos é empregada também como subsídios a outras metodologias voltadas à análise de riscos, sendo, no entanto, utilizada a partir de um projeto em desenvolvimento, diante de componentes básicos e com procedimentos metodológicos que podem ser diversificados (AGUIAR, 2009).

A observação de normas técnicas que se relacionam às atividades executadas pela organização se incorpora às variáveis que devem ser analisadas para a indicação dos riscos e das ações preventivas. Verifica-se, no entanto, que conforme o ramo de atividade e porte da empresa, entre outras variáveis, a análise preliminar de riscos possui diferenças substanciais quanto aos aspectos a serem analisados, o que sugere uma complexidade passível de minimização a partir da capacitação dos responsáveis pela execução das análises. 

Abordando especificamente a análise preliminar de riscos em uma empresa de pequeno porte, indica-se a necessidade de que ocorra a participação efetiva dos profissionais envolvidos com as atividades e dos gestores, diante da possibilidade de que esse envolvimento possa favorecer a identificação de todos os aspectos que dizem respeito à organização do trabalho cotidiano. Esta condição pode proporcionar a efetividade quanto à elaboração da classificação de riscos.

Todavia, ainda que diante da qualidade aportada às atividades no âmbito da segurança do trabalho e da adequada realização da análise preliminar de riscos, é comum o fato de que nas organizações de diferentes portes, mas principalmente nas microempresas e empresas de pequeno porte, ocorram mudanças relacionadas aos processos produtivos, como a diversificação de atividades, alterações na dinâmica da produção e outras iniciativas que podem comprometer a qualidade da prevenção proporcionada pelas ações determinadas. Desse modo, pergunta-se: quais são os principais obstáculos e potencialidades impostos à realização da análise preliminar de riscos em uma empresa de pequeno porte?

O objetivo geral do trabalho foi identificar os principais obstáculos e as potencialidades predominantemente observadas para a realização da análise preliminar de riscos em uma empresa de pequeno porte. Os objetivos específicos são caracterizar a análise preliminar de riscos, determinando sua relevância para os profissionais e para as organizações; contextualizar a importância dos aspectos preventivos relacionados às atividades laborais e trazer exemplos de realização de análises preliminares de riscos em empresas de diferentes segmentos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Os métodos de análise de risco têm como finalidade o aprimoramento da segurança dos processos produtivos, sendo utilizada nos diversos segmentos e de forma variada. Estes métodos têm como resultado de sua aplicação a elaboração de documentos de segurança e seu registro, a criação de rotinas de manutenção e operacionais, a elaboração de processos de fabricação e de sistemas de controle e o subsídio à decisão acerca de investimentos em equipamentos destinados à prevenção de acidentes. O principal objetivo das análises de risco, no entanto, é a localização de operações e processos perigosos (SOUZA, 2006). 

Nesse contexto, importa compreender o conceito de risco, que representa a potencial ação ou atividade escolhida, incluindo a escolha de não agir, que pode levar a uma perda ou a um evento indesejado, nomeadamente a possibilidade de sofrer um dano, associado a uma condição mais ou menos previsível (ANDREIS; FLORIO, 2019).

As análises de riscos podem ser diferenciadas a partir de seus custos, limitações, objetivos e benefícios. Os riscos são abordados de modo diferente em cada técnica, que pode ter o caráter qualitativo ou quantitativo. Conforme Raposo (2004), os métodos qualitativos possibilitam a determinação da graduação dos riscos de determinado processo ou atividade, com a classificação ocorrendo diante da indicação da severidade das consequências e da probabilidade de sua ocorrência. Os métodos quantitativos são passíveis de utilização conjunta com os métodos qualitativos.

Entre os principais métodos de análise de riscos utilizados situam-se a análise quantitativa de riscos, análise das causas raiz de falhas, análise de custo-benefício, análise de vulnerabilidade, análise histórica, análise da confiabilidade humana, análise de causa e consequência, análise por árvore de falhas, análise por árvore de eventos, análise de modos e efeitos de falhas, análise de perigos e operabilidade, inspeção de segurança, priorização relativa, lista de verificação e análise preliminar de riscos/perigos (FERREIRA, 2008).

Abordando especificamente a análise preliminar de riscos, objeto de pesquisa do presente trabalho, Ferreira (2008) afirma que esta é empregada como precedente de outros métodos com maior nível de detalhamento, considerando que ela não possui esta característica. A análise preliminar de riscos proporciona a identificação dos perigos que poderão resultar em eventos indesejados, realiza a definição de cenários de acidentes e a determinação dos riscos do sistema. A classificação dos perigos ocorre em conformidade com a sua gravidade e frequência, sendo, a partir da análise, realizada a definição de medidas preventivas ou corretivas voltadas aos riscos.

Ainda que a análise preliminar de riscos tenha objetivos bem definidos, as metodologias utilizadas apresentam diferenças entre si. Uma metodologia exemplificada por Camargo, Almeida e Cugnasca (2006) define que a análise preliminar de riscos deve ter início a partir do desenvolvimento de recomendações, especificações e critérios a serem seguidos. A próxima etapa consiste no controle de um determinado perigo, seguido pela identificação a respeito das responsabilidades técnicas e gerenciais para ação e para a aceitação dos riscos. Por derradeiro, tem-se a determinação das dimensões e da complexidade dos problemas de segurança.

A análise preliminar de riscos foi desenvolvida no início da década de 1960 para os setores aeronáutico e militar. Seu uso no setor de saúde está aumentando, se processando a partir dos riscos identificados do sistema e sendo mais exaustivo do que o modo de falha, efeitos e criticidade, que se concentra em um modo de falha por vez (PÊCHEUR; SPIESSER-ROBELET; VRIGNAUD, 2016).

Um exemplo de utilização da análise preliminar de riscos no setor da saúde, mas especificamente com relação aos acidentes de trabalho, foi trazido por Carvalho e Silva (2002), que utilizaram a técnica para estudar as práticas de manuseio de resíduos infectantes em um estabelecimento de saúde. Os resultados obtidos indicaram que cerca de 80% de eventos com consequências críticas podem ocorrer durante a execução da operação de contenção, sugerindo a necessidade de priorizar esta operação. Como resultado da metodologia aplicada no trabalho foi obtido um fluxograma da série de riscos, mostrando os eventos que podem ocorrer como consequência de um manuseio inadequado de resíduos de serviços de saúde infectantes, que podem causar riscos críticos, como ferimentos por materiais perfurocortantes e contaminação, ou infecção, por microrganismos patogênicos.

A abordagem adotada para a análise preliminar de riscos é baseada em um conceito holístico de gerenciamento de riscos, que pode ser usado em segurança e saúde ocupacional para ajudar a julgar a tolerabilidade do risco e ajuda na escolha entre medidas potenciais de redução ou prevenção de riscos. Uma abordagem estruturada de gerenciamento de riscos também fomenta a identificação de maiores oportunidades de melhoria contínua e inovação completa (KOMLJENOVIC; GROVES; KECOJEVIC, 2008).

A proposta metodológica indica por Ferreira (2008) para a realização da análise preliminar de riscos envolve a definição da equipe que irá trabalhar na análise, a definição e descrição dos sistemas que serão analisados, a busca e organização de informações a respeito de sistemas parecidos e já utilizados, a identificação dos perigos, a estimativa da frequência e das consequências dos perigos, a classificação de riscos e a definição das medidas preventivas que possam minimizar as possibilidades de ocorrência dos acidentes ou eventos adversos no setor ou organização analisada.

A análise preliminar de risco consiste na realização de análises das condições ambientais e das atividades realizadas pelos colaboradores, por meio de sua metodologia que consegue qualificar os riscos. Dessa forma, é possível identificar quais partes do processo podem operar fora de controle e inesperadamente, listando as causas, formas de detecção e possíveis consequências geradas para cada situação (JERÔNIMO et al., 2013).

Verifica-se que a utilização da análise preliminar de riscos tem no formulário a ferramenta adequada à realização das atividades. No Quadro 1 observa-se um modelo empregado com o objetivo de realização dessa análise:

A análise preliminar de risco conta, para sua elaboração, com a revisão dos problemas conhecidos e da missão à qual se destina, a indicação dos riscos iniciais e daqueles que contribuem para a ocorrência dos eventos adversos, a revisão das formas de eliminação ou de controle dos riscos e a indicação de quem será o responsável pela realização das ações de prevenção ou correção dos riscos (LEITE et al., 2018).

Observa-se que a análise preliminar de riscos pode ser utilizada juntamente com outras ferramentas, como a matriz de gravidade, urgência e tendência. Conforme Pinto et al. (2022), a matriz de gravidade, urgência e tendência representa uma ferramenta de decisão para priorizar problemas atribuindo notas aos aspectos de gravidade, urgência e tendência. Em relação à gravidade, deve-se considerar a intensidade e a profundidade dos danos que o problema pode causar se não for tratado. A urgência analisa o tempo para o surgimento de danos ou resultados indesejáveis ​​se não agir sobre o problema. A tendência observa o desenvolvimento que o problema terá na ausência de ação. 

A cada um desses três aspectos (G, U, T) são atribuídos números entre 1 e 5, com 5 representando o maior impacto e 1 o menor. O grande benefício de sua utilização é o auxílio que dará ao gestor para avaliar quantitativamente os problemas ou riscos da empresa, possibilitando priorizar ações corretivas e preventivas (PINTO et al., 2022).

Nesse sentido, Rodrigues et al. (2022) compararam a análise dos riscos ocupacionais levantados em uma empresa do segmento alimentício, por meio da análise preliminar de riscos e da matriz GUT. Os autores observaram que os trabalhadores realizam suas atividades com inúmeras fontes de perigos. Como resultado, eles estão sujeitos aos cinco principais grupos de risco. No entanto, os riscos ergonômicos e físicos foram destacados em ambas as ferramentas de gestão.

A partir do estudo realizado, Rodrigues et al. (2022) afirmam que a avaliação dos riscos ambientais por meio da matriz de análise preliminar de riscos e da matriz de gravidade, urgência e tendência é fundamental para a gestão da saúde e segurança do trabalho em uma empresa de pescado. Com esses dados, é possível desenvolver um plano de ação para controlar os riscos, melhorar o ambiente de trabalho e garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores. A conscientização dos colaboradores, o treinamento adequado e a parceria entre a equipe de segurança do trabalho e a equipe de segurança alimentar é o caminho para alcançar melhores resultados.

A escala de riscos é uma das formas de mensuração do nível de cada uma das ameaças identificadas, sendo determinados valores de acordo com o grau de gravidade do risco, a partir de escalas padronizadas de probabilidade e da respectiva gravidade desses riscos (LEITE et al., 2018). 

Um exemplo de aplicação de uma escala de riscos, em um laboratório de tecnologia de alimentos, foi realizado por Leite et al. (2018), que elaboraram a matriz da análise preliminar de risco conforme observado a seguir:

No estudo realizado por Leite et al. (2018) foi também utilizada a matriz GUT com objetivo de classificar os riscos identificados conforme a prioridade para sua resolução. Os resultados indicaram classificações de prioridades semelhantes diante da utilização de ferramentas gerenciais diferentes.

Outra ferramenta utilizada de modo complementar às metodologias de análise de risco é a análise SWOT. Nesse contexto, Nogueira et al. (2021) analisaram uma análise dos fatores internos e externos que influenciavam os processos de uma indústria gráfica de pequeno porte, verificando o sucesso uso da matriz SWOT para garantia do detalhamento do ambiente organizacional. A análise possibilitou a definição das metas e da estratégia organizacional, com a antecipação das situações de riscos e o desenvolvimento de ações para redução dos possíveis impactos.

A análise a respeito da segurança em operações de mineração foi realizada por Komljenovic, Groves e Kecojevic (2008), que afirmaram que o progresso da segurança e saúde ocupacional em minas requer um planejamento sistemático de segurança, por meio de programas e medidas. As decisões de gerenciamento de segurança que devem ser tomadas para selecionar e priorizar áreas problemáticas e deficiências do sistema de segurança devem ser baseadas no reconhecimento dos perigos encontrados em cada atividade do processo de mineração. Para esse propósito, uma aplicação sistemática do conceito de avaliação e gerenciamento de riscos pode fornecer o suporte necessário ao desenvolvimento de ações efetivas.

Um estudo realizado por Shinzato et al. (2010) realizou a descrição qualitativa e quantitativa dos resíduos sólidos de saúde gerados em uma instituição pública de Ensino Superior e apresentaram uma análise preliminar dos riscos associados ao gerenciamento de tais resíduos. Os resultados apontaram que o manejo desses resíduos no local é inadequado, não estando em conformidade com a legislação vigente, sendo que esta condição representa a extrema gravidade quanto aos riscos à saúde. Na maioria dos laboratórios investigados foi identificada a categoria de risco séria quanto ao manejo incorreto dos resíduos de serviços de saúde.

De modo geral, evidencia-se que a análise preliminar de riscos é geralmente a primeira tentativa no processo de segurança do sistema para identificar e categorizar perigos ou perigos potenciais associados à operação de um sistema, processo ou procedimento proposto. Essa metodologia pode ser precedida da elaboração de uma lista preliminar de perigos (VINCOLI, 2014). 

As contribuições da utilização da análise preliminar de riscos incluem o fornecimento da justificativa para o controle de riscos e a indicação da necessidade de análises mais detalhadas. A análise preliminar de riscos é geralmente desenvolvida usando as técnicas de segurança do sistema e o desenvolvimento da metodologia pode ser um pouco simplificado por meio do uso de uma matriz preliminar de perigos, identificando um grupo genérico de perigos. O relatório da análise preliminar de riscos pode ser gerado com base na avaliação e análise do risco de perigo do sistema (VINCOLI, 2014). Observa-se, nesse sentido, que a análise deve ser convergente com a realidade apresentada no local onde são exercidas as atividades, o que faz com que, mesmo diante da validade de modelos genéricos, esta situa-se no sentido de nortear a elaboração de matrizes que sejam aplicáveis ao cotidiano especificamente avaliado. Essa afirmação, no entanto, não elimina a possibilidade de que sejam elaborados modelos que contemplem a mais de um setor, como ocorre no caso da terceirização de serviços de limpeza e conservação.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de caso, realizado em uma empresa de terceirização de serviços, cuja atuação é predominantemente voltada ao setor conservação e limpeza, atuante no interior do estado de Minas Gerais. A escolha por esse segmento deu-se a partir da identificação a respeito da heterogeneidade das características dos locais onde ocorre a prestação de serviços, o que faz com que a realização da análise preliminar de risco seja pautada por especificidades que dizem respeito às demandas apresentadas no cliente. Tal condição faz com que a pesquisa seja mais abrangente e aplicável a outros cenários de empresas de pequeno porte.

No tocante às atividades de limpeza, a empresa tem como objeto a contratação de profissionais para limpeza geral, leve e pesada, em caráter de contratação permanente, temporária ou mesmo excepcional, principalmente atuando no:

  • Tratamento de pisos;
  • Limpeza de pisos em geral;
  • Limpeza de móveis;
  • Limpeza de Espelhos e vidros em geral;
  • Limpeza de divisórias;
  • Limpeza de elevadores;
  • Higienização de ambientes (banheiro);
  • Limpeza de fachadas;
  • Limpeza de áreas verdes (Jardinagem)
  • Serviços de manutenção jardim;
  • Limpeza residencial e comercial;
  • Limpeza pós obra (construção civil)

As atividades de portaria também possuem uma importante demanda na empresa, sendo representada por porteiros e recepcionistas. No entanto, o presente trabalho consistiu na análise especificamente das atividades de limpeza e conservação, buscando uma delimitação maior do tema, bem como tornar factível a consecução dos objetivos.

Os levantamentos foram realizados no período entre 02 e 31 de maio de 2023, consistindo em entrevistas com os profissionais responsáveis pela supervisão externa dos serviços, ou seja, das visitas e levantamentos realizados no cliente. A partir das observações, foram elencados os pontos críticos que se relacionam às atividades nos diferentes locais nos quais elas se processam. Por derradeiro, foram elaboradas as planilhas que fizeram parte do presente trabalho.

A análise realizada pela empresa levou em consideração os riscos que se relacionam às atividades de limpeza e conservação em geral, além das atividades de limpeza de vidros que, diante de suas especificidades, carecem de atenção específica e ações igualmente diferenciadas. A partir dos levantamentos realizados nos setores atendidos pela empresa, a saber, duas agências bancárias, um escritório de uma empresa do ramo industrial, um galpão de empresa também do segmento da indústria é um estabelecimento comercial do varejo de materiais de construção e afins, passou-se à elaboração de um modelo que pudesse contemplar as especificidades destes setores, abrangendo a todos eles. Tal modelo pode servir de direcionamento à elaboração das análises em setores semelhantes e sua apresentação dar-se-á de modo fragmentado, favorecendo sua compreensão.

Desse modo, optou-se pela segmentação da análise, a título de exposição, sendo que tal iniciativa teve início com a divisão das etapas do trabalho, com o transporte do material do depósito ao local onde é realizada a limpeza. A análise seguinte refere-se à atividade propriamente dita, compreendendo a conservação e limpeza de espelhos, louças e coletores. 

A seguir, foram feitos os levantamentos que se relacionam à conservação e limpeza de peças cromadas, seguida da higienização de pisos, conservação de portas, paredes e divisórias, limpeza e conservação de exaustores. Ressalta-se que os levantamentos contaram com a participação dos profissionais da área técnica e também da área operacional da empresa. Os quadros apresentados, devido às suas dimensões, foram colocados no presente tópico no formato de imagem, mas encontram-se, no anexo do presente trabalho, em formato de planilha editável, de acordo como foram elaborados a partir da utilização do Microsoft Excel.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise a respeito dos riscos relacionados ao trabalho de limpeza e conservação incorpora os segmentos diversos nos quais essas atividades são praticadas, o que torna a apreciação dos riscos um componente pautado por complexidade. Tem-se, desse modo, a imprescindibilidade de que as avaliações sejam caracterizadas pela abrangência, mormente compreendendo cada etapa de realização das atividades e, ainda que incorporando elementos intrínsecos aos diferentes setores, possa se adequar aos critérios inerentes a cada local. As legendas empregadas encontram-se no Quadro 3:

Os riscos considerados como desprezíveis são aqueles que podem resultar em eventos que não trazem prejuízos do meio ambiente, mas que podem provocar leves prejuízos aos equipamentos ou pequenas lesões em um trabalhador, possibilitando retorno imediato ao trabalho depois do atendimento médico. Os riscos inerentes ao dano marginal são aqueles que dizem respeito aos eventos que podem conduzir à incapacidade parcial ou às pequenas lesões ao colaborador acidentado. Além disso, eles podem ter como resultado leves estragos nos equipamentos ou instalações da empresa, danos de fácil recuperação ao meio ambiente e pequenas perdas financeiras resultantes do evento (CARDELLA, 2010). 

Os riscos críticos são aqueles relacionados às ocorrências que provocam lesões e incapacidades sérias nos trabalhadores, perda parcial de equipamento, danos graves às instalações ou meio ambiente e perdas financeiras significativas. Os riscos classificados como catastróficos referem-se à mais elevada classificação na escala. Trata-se do acidente com trabalhadores, resultando, entre outros, em óbito ou incapacidade total, bem como em danos irreparáveis ao meio ambiente, elevados prejuízos financeiros, perda total de equipamentos ou instalações (CARDELLA, 2010).  

Quanto à probabilidade, a classificação descrita por Cardella (2010) pode ser observada no Quadro 4:

Tem-se, a princípio, a análise a respeito do transporte dos materiais e produtos para os locais de realização das tarefas, indicada no Quadro 5:

O transporte dos materiais pode também ter como elemento passível de adoção para a minimização intrínseca aos riscos dessa etapa a redução das distâncias médias entre os depósitos e os setores onde ocorrem as intervenções. Nesse sentido, o obstáculo diz respeito ao fato de que essas atividades são tipicamente terceirizadas, trazendo a dependência de que as iniciativas de alteração quanto ao layout ocorram em comum acordo com os clientes, responsáveis pelo setor onde ocorrerão as atividades. Segundo Costa (2017), a disseminação da terceirização no Brasil vem ocorrendo principalmente a partir dos anos 1980, sendo considerada como um instrumento que possibilita às organizações a concentração de esforços em suas atividades-fim, delegando a prática das atividades auxiliares a terceiros devidamente qualificados para esse exercício, sempre sob criteriosa observação no sentido de que a prática obedeça aos preceitos inerentes à legislação trabalhista. A Análise Preliminar de Risco, relacionada à conservação e limpeza das louças, coletores e espelhos, pode ser indicada no Quadro 6.

Verifica-se que os riscos que se relacionam à conservação e limpeza das louças, coletores e espelhos são de acidentes, bem como os químicos e ergonômicos. A Análise Preliminar de Risco representa um componente importante, sendo que a terceira etapa do trabalho avaliada no presente trabalho, refere-se à conservação e limpeza das peças cromadas (Quadro 7).

Os riscos inerentes à conservação e limpeza das peças cromadas, referem-se a um conjunto de atividades que contemplam uma parcela bem reduzida do turno dos trabalhadores. De modo diferente, verifica-se que a higienização dos pisos, conforme indicado no Quadro 8:

Esta realidade converge com o que é observado por Belchior (2018), que considera que a terceirização tem impactos no que diz respeito aos riscos de acidentes de trabalho. A precarização das relações de trabalho, ocorrida principalmente a partir da Reforma Trabalhista, evidencia-se como um componente passível de análise quanto às suas implicações quanto aos acidentes laborais e adoecimentos profissionais, sendo imprescindível a observação dos preceitos legais e normativos por parte das empresas de terceirização.

Os riscos diversos que dizem respeito à higienização dos pisos fazem com que esta seja uma atividade com elevado nível de riscos, que ocupa boa parte do turno dos trabalhadores desse segmento, juntamente com a conservação e limpeza de portas, paredes e divisórias que, no entanto, apresenta como risco também a queda em nível diferente. A análise preliminar de riscos inerente à conservação e limpeza de portas, paredes e divisórias pode ser verificada no Quadro 9:

O mercado de terceirização no país apresentou uma evolução concomitantemente ao crescimento econômico do país e teve mudanças significativas a partir de 2017, quando as mudanças na legislação laboral passaram a indicar a possibilidade de terceirização das atividades-meio das empresas, indicando uma ampliação das possibilidades de atuação das organizações direcionadas à contratação de mão de obra terceirizada, sendo ela temporária ou não. No entanto, as empresas do ramo devem se conscientizar para a necessidade de que sejam adotadas medidas de proteção ao trabalhador e que estas devem ser disseminadas de modo efetivo, compreendendo que as intervenções dos tomadores de serviço devem ser consideradas para a elaboração das estratégias. Tais estratégias devem envolver a pormenorização das ações de prevenção, contando com a estrita observação das medidas propostas na Análise Preliminar de Riscos. A análise compreende, além dos pontos então observados no presente trabalho, a conservação e limpeza dos exaustores, que não é aplicável à maioria dos setores de trabalho que fazem parte do conjunto de clientes da empresa, mas que suscita análises exatamente diante do risco apresentado. No Quadro 10 encontra-se a Análise Preliminar de Risco correspondente à conservação e limpeza dos exaustores.

Especificamente considerando as atividades de terceirização da limpeza e conservação, estas situam-se entre as mais difundidas e ensejam especial atenção no âmbito da segurança do trabalho, compreendendo os riscos diversos, como os aspectos ergonômicos e outros. Nesse sentido, Santos, Cunha e Brito (2019) identificam que entre os problemas encontrados situam-se os movimentos repetitivos relacionados ao trabalho de limpeza, principalmente considerando que a realização das tarefas ocorre com braços acima da linha do ombro. Outro aspecto observado trata-se do fato de que os profissionais não realizam alongamentos previamente às atividades laborais.

Outros riscos significativos dizem respeito às possibilidades de quedas na limpeza de banheiros, bem como em outros pisos molhados. A esse respeito, Rocha (2003) afirma que a limpeza de banheiros é considerada pelos profissionais como uma das atividades mais penosas. 

No entanto, em sua maioria, as atividades do dia a dia na limpeza e conservação ensejam atenção por parte dos profissionais, considerando tratar-se de um conjunto de ações que envolvem movimentos repetitivos, como na varrição e limpeza de áreas externas, pesquisadas por Lima (2016), que constataram níveis críticos em seus estudos a respeito do exercício destas tarefas.

Outra atividade que deve ser considerada, apresentada à parte da análise até então indicada, trata-se da limpeza de vidros. Ainda que a totalidade das atribuições de limpeza e conservação apresente riscos, em maiores ou menores níveis, a limpeza de vidros carece de uma observação à parte, diante de suas particularidades. Estas considerações situam-se na apreciação principalmente dos riscos de acidentes, o que faz com que desde o recrutamento seja necessária a apreciação de elementos psicológicos, profissionais e físicos, buscando a redução destes riscos. As análises realizadas foram divididas em duas etapas, que foram o transporte do material e a limpeza dos vidros. A etapa de transporte tem como resultado das análises os dados indicados no Quadro 11:

A limpeza de vidros requer a atenção constante dos profissionais, desde o deslocamento dos profissionais do depósito até o local de trabalho à execução das atividades, término e devolução dos materiais ao depósito. Quanto aos riscos que se relacionam às tarefas de limpeza de vidros, estes encontram-se analisados no Quadro 12:

Nesse ponto pode-se considerar que a subcontratação deve resultar em uma terceirização da produção motivada pelas necessidades de alcançar níveis de qualidade e produtividade superiores. As inovações tecnológicas e de gestão da produção obtidas ao nível da empresa subcontratante são transferidas para as empresas subcontratadas (ABREU; SORJ, 1994). No entanto, é imprescindível que a atenção quanto à segurança dos trabalhadores seja considerada como responsabilidade tanto das contratantes quanto das contratadas.

Entre os aspectos que dizem respeito à segurança do trabalho na empresa em estudo, evidencia-se a importância de que, mesmo diante da prevalência dos riscos marginais, sejam desenvolvidas ações que se caracterizem pela constância, com uma definição de treinamentos periódicos a serem realizados nos setores. Por se tratarem de serviços executados em empresas contratantes, pode ser necessária a inclusão, tanto nos contratos vigentes quanto nos novos contratos, de uma cláusula que indique a realização destes treinamentos, de modo a evitar questionamentos futuros por parte dos clientes.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do presente trabalho, discutiram-se aspectos que se referem à análise preliminar de risco em uma empresa de pequeno porte, atuante no segmento de terceirização de serviços, especificamente no trabalho de conservação e limpeza. A abordagem mostrou-se pertinente diante da aplicabilidade dos conceitos e da prática adotada em outros cenários, considerando que a análise foi realizada com o fito de contemplar a realidade das diferentes etapas do trabalho executado, em clientes com atividades-fim também diversificadas. Assim, a convergência das medidas propostas às diferentes realidades pode possibilitar generalizações, ainda que seja necessária a análise específica de cada local e posto de trabalho.

Foi possível identificar que as medidas de controle, diante de sua variedade, voltada a atender as demandas de cada uma das etapas, caracterizam-se pela necessidade de que os profissionais desenvolvam a análise de modo criterioso, e que as definições e constatações sejam constantemente realizadas para que se possa reavaliar a necessidade de novas determinações.

Ressalta-se a importância do tema no âmbito da Engenharia de Segurança do Trabalho, bem como a interdisciplinaridade intrínseca ao assunto, que faz com que sejam necessárias investigações a esse respeito nas diversas áreas produtivas, considerando elementos específicos destes setores, bem como as posturas empregadas para a minimização dos riscos apresentados.

REFERÊNCIAS

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