ANÁLISE FACIAL COMO SUPORTE AO DIAGNÓSTICO EM PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS  FACIAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12510321


Karina Pereira Voulo Nascimento
João Heli de Campos
Noemi Borgas de Goes Cavalcanti


RESUMO

Background: a percepção da beleza é subjetiva e de influência cultural, por isso a análise facial torna-se primordial para o sucesso em qualquer tratamento que tenha a face como escopo, tais como os procedimentos minimamente invasivos ou cirúrgicos que visem a melhorar a saúde estética dessa região. As informações obtidas por meio de uma análise para orientar os procedimentos a serem realizados para que a beleza seja valorizada e preservada devem ser críticas e focadas nos desdobramentos causados na face. A saúde mental do paciente deve ser levada em conta, e no caso de suspeitar que o mesmo apresente transtorno de imagem considerar a indicação a um especialista psicólogo ou psiquiatra.  Objetivo: ressaltar a importância da análise facial como suporte ao diagnóstico em procedimentos estéticos faciais. Pergunta problema: elaborou-se a seguinte pergunta: a análise facial pode contribuir com o diagnóstico nos procedimentos estéticos faciais? Materiais e métodos: A estratégia de busca considerou fontes de informação de registros encontrados na base de dados do PUBMED, Science Direct, Google Acadêmico, SciELO e BVS. As bases foram usadas para obtenção dos principais trabalhos que abordassem o tema preferencialmente na área de saúde. Os resultados foram otimizados ao estabelecer os seguintes termos de busca: análise facial, proporção áurea e beleza. As da busca dos artigos nas bases de dados foram definidas as palavras-chave relacionadas aos objetivos da pesquisa  para serem buscadas usando o conector “and”. As palavras-chave são Descritoras em Ciência da Saúde (DeCS) em português e inglês. Conclusão: o presente trabalho elucidou o entendimento quanto a linha de evolução de parâmetros que formam o arcabouço de onde os profissionais estetas fundamentam suas tomadas de decisões. Esse aclaramento se deve à realização de uma avaliação da análise facial abordando seu uso e indicações em especialidades médicas que buscam alterações faciais por fins estéticos. A pergunta de pesquisa foi respondida de forma positiva pois a face ao ser analisada amplia a capacidade de diagnóstico do profissional que irá trazer mudanças a aparência facial. Mais trabalhos que façam uma retrospectiva da evolução da análise facial devem ser feitos.

Palavras-chave: Análise facial, Diagnóstico, Padrão de beleza, Procedimentos estéticos faciais, Proporção áurea.

SUMMARY

Background: The perception of beauty is subjective and culturally influenced, which is why facial analysis becomes essential for the success of any treatment that has the face as its scope, such as minimally invasive or surgical procedures aimed at improving the aesthetic health of this region. The information obtained through an analysis to guide the procedures to be carried out so that beauty is valued and preserved must be critical and focused on the consequences caused to the face. The patient’s mental health must be taken into account, and if you suspect that the patient has an image disorder, consider referring him to a specialist psychologist or psychiatrist. Objective: highlight the importance of facial analysis to support diagnosis in facial aesthetic procedures. Problem question: the following question was created: can facial analysis contribute to the diagnosis in facial aesthetic procedures? Materials and methods: The search strategy considered sources of information from records found in the PUBMED, Science Direct, Google Scholar, SciELO and VHL databases. The bases were used to obtain the main works that addressed the topic, preferably in the health area. The results were optimized by establishing the following search terms: facial analysis, golden ratio and beauty. When searching for articles in the databases, keywords related to the research objectives were defined to be searched using the “and” connector. The keywords are Health Science Descriptors (DeCS) in Portuguese and English. Conclusion: the present work elucidated the understanding regarding the line of evolution of parameters that form the framework on which aesthetic professionals base their decision-making. This clarification is due to an evaluation of facial analysis addressing its use and indications in medical specialties that seek facial changes for aesthetic purposes. The research question was answered positively because the face, when analyzed, increases the professional’s diagnostic capacity, which will bring changes to the facial appearance. More work that looks back at the evolution of facial analysis should be done.

Keywords: Beauty standard, Facial aesthetic procedures, Facial analysis, Diagnosis, Golden ratio.

RESUMEN

Fundamento: la percepción de la belleza es subjetiva y está influenciada culturalmente, por lo que el análisis facial se vuelve esencial para el éxito de cualquier tratamiento que tenga como alcance el rostro, como procedimientos mínimamente invasivos o quirúrgicos encaminados a mejorar la salud estética de esta región. La información obtenida a través de un análisis para orientar los procedimientos a realizar para que se valore y preserve la belleza debe ser crítica y enfocada a las consecuencias que provoca en el rostro. Hay que tener en cuenta la salud mental del paciente, y si se sospecha que el paciente tiene un trastorno de la imagen, valorar derivarlo a un psicólogo o psiquiatra especialista. Objetivo: destacan la importancia del análisis facial para apoyar el diagnóstico en procedimientos estéticos faciales. Pregunta problema: se creó la siguiente pregunta: ¿puede el análisis facial contribuir al diagnóstico en procedimientos estéticos faciales? Materiales y métodos: La estrategia de búsqueda consideró fuentes de información de registros encontrados en las bases de datos PUBMED, Science Direct, Google Scholar, SciELO y BVS. Las bases sirvieron para obtener los principales trabajos que abordaron el tema, preferentemente en el área de la salud. Los resultados se optimizaron estableciendo los siguientes términos de búsqueda: análisis facial, proporción áurea y belleza. En la búsqueda de artículos en las bases de datos, se definieron palabras clave relacionadas con los objetivos de la investigación para ser buscadas mediante el conector “y”. Las palabras clave son Descriptores de Ciencias de la Salud (DeCS) en portugués e inglés. Conclusión: el presente trabajo aclaró la comprensión sobre la línea de evolución de los parámetros que forman el marco en el que los profesionales de la estética basan su toma de decisiones. Esta aclaración se debe a una evaluación del análisis facial que aborda su uso e indicaciones en especialidades médicas que buscan cambios faciales con fines estéticos. La pregunta de investigación fue respondida positivamente porque el rostro al ser analizado aumenta la capacidad diagnóstica del profesional, lo que traerá cambios en la apariencia facial. Se deben realizar más trabajos que analicen la evolución del análisis facial.

Palabras clave: Análisis facial, Diagnóstico, Estándar de belleza, Procedimientos estéticos faciales, Proporción áurea.

  1. INTRODUÇÃO

A beleza como é percebida é algo quase impossível de elucidar um significado completo. É uma combinação de qualidades que dá prazer aos sentidos ou à mente. Segundo o dicionário Oxford de Língua Inglesa a beleza é definida como: uma combinação de qualidades, como formato, cor ou forma, que agrada aos sentidos estéticos, especialmente a visão. Autoridade em todos os ramos da arte,  o pensador da Renascença Leon Battista Alberti (1404-1472) definiu beleza como: a soma das partes que trabalham juntas de tal modo que nada precise ser adicionado, retirado ou alterado. As várias definições de beleza e beleza facial descrevem, essencialmente, o conjunto das características graciosas que agradam aos olhos e à mente de um observador, ainda que as definições sejam filosóficas, passíveis de debate e não específicas (Naine, 2014).

O rosto é objeto de estudo por muitas sociedades, desde as épocas remotas. Algumas civilizações buscavam descobrir semelhanças entre as partes que o corpo tinha em proporções diferentes entre si, onde partes menores multiplicadas davam o tamanho de um todo da outra parte. Os Vitruvius eram uma sociedade muito antiga e foram objeto de estudo do italiano Leonardo Da Vinci, esta comunidade tinha como base principal de medição os pés, onde cada parte do corpo humano tinha certa relação ao tamanho do pé. Leonardo Da Vinci obteve este conhecimento em suas pesquisas de proporções humanas, por registros deixados por pessoas desta sociedade. Da Vinci criou uma obra demonstrando as proporções humanas de uma forma matemática, o Homem Vitruviano, unindo o conhecimento de Phidias e Fibonacci sobre o número áureo e de outras obras de arte desenvolvidas por outros Gregos (Banquiere, 2024).

Fig. 01 O homem vitruviano. Fonte: Heppt, 2015.

O estudo das proporções da figura humana era de especial interesse para os antigos gregos, particularmente em relação à escultura, e para os romanos, principalmente em relação à arquitetura. As obras existentes da antiguidade tornaram-se disponíveis no Renascimento, levando a um renascimento do interesse. Leonardo teria estudado o que estava disponível, mas seguindo e avançando os métodos de Leon Battista Alberti, ele tomou as suas próprias medidas antropométricas para encontrar relações proporcionais “ideais”. Doze manuscritos, doados pelo conde Galeazzo Arconati à Biblioteca Ambrosiana no século XVII, foram retirados em 1796 e levados para Paris para o instituto France por ordem expressa de Napoleão Bonaparte, então comandante das tropas francesas que acabavam de entrar em Milão (Naine, 2016).

O desenho de 1490 apresenta uma figura masculina nua, com duas posições sobrepostas de forma simultânea, onde uma tem os braços em posições abertas horizontalmente com os pés unidos e o corpo ereto. As pontas das mãos e a altura entre os pés e cabeça definem o seu tamanho dentro de um quadrado. E a outra figura com as pernas abertas e braços abertos inclinados diagonalmente, de uma forma a representar o círculo. Suas extremidades dos pés e mãos tocam os dois formatos geométricos, criando harmonia entre o ser humano e o espaço. A combinação das posições formam algumas posturas diferentes. O corpo cria uma posição reta e séria e a outra uma posição mais dinâmica pelo efeito de movimento em formato de X. O umbigo é a posição central da figura, representando a gravidade, quando fixamos os olhos nele, temos a sensação de que o desenho está em movimento constante (Zibetti, 2009).

O desenho demonstra a simetria básica do corpo humano, envolvido no universo como um todo. A área do quadrado e do círculo se encaixam, de uma forma, a se envolverem e conter a mesma proporção, criando um símbolo matemático com a proporção irracional phi = 1,618. Algumas tentativas de Vitruvius de encaixar as proporções do corpo humano dentro de um quadrado e de um círculo ficaram imperfeitas. Com o conceito de padrões matemáticos, foi que Leonardo Da Vinci desenvolveu o Homem Vitruviano. (Banquiere, 2024).

Os padrões de beleza são suscetíveis de mudanças ao longo dos anos e dependem de diversos fatores, como as características étnicas, a faixa etária envolvida, os padrões culturais, os meios de comunicação e a opinião pessoal. Assim, a beleza e a estética são padrões exclusivos de determinada população em um determinado período de tempo. A beleza demanda esforço, sensibilidade, esforço e conhecimento para ser avaliada, pois apresenta um caráter subjetivo e pessoal (Pimentel, 2023). A aparência e expressão facial impactam a interação social, uma vez que os indivíduos mais atraentes têm sucesso em suas interações sociais na maioria dos aspectos da vida que a sociedade considera importantes. Existem várias características faciais que contribuem para descrever um rosto como atraente, incluindo formato geral, simetria e mediana (Horn 2021).

Os padrões naturais ou canônicos da beleza humana foram um tema registrado no catálogo da mostra de Darmstadt. Há citações relevantes de Marcus Vitruvius Pollio e Leon Battista Alberti, e diagramas ou gráficos proporcionais de Four Books on Human Proportion (1528), de Albrecht Durer, e Natural Principles of Beauty, de David Ramsay Hay, (1852) e Polyklet (1834), de Johann Gottfried Schadow, um dos manuais mais utilizados por artistas sobre crescimento humano e proporções padrão no século XIX. Esculturas antigas, como a Vênus de Milo e o Apolo Belvedere, foram ilustradas como eternos padrões de beleza. As tentativas de busca de padrões naturais e um cânone de beleza, a linha do rosto perfeito, Hans Suren que promoveu a educação física como meio de atingir uma figura ideal; a beleza física como processo contínuo de aquisição e ato performativo permanente de auto-embelezamento (Leuschner, 2014).

De Architectura — obra conhecida como Os Dez Livros da Arquitetura contém as teorias do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (80 a.C. – 15 d.C.) que influenciaram o design e a construção ao longo dos séculos. Seus conceitos de beleza e harmonia foram particularmente seguidos pelos grandes arquitetos do Renascimento (Banqueri, 2024). No terceiro livro do tratado de arquitetura são descritas as proporções do corpo humano masculino (Johnston, 1993).

A literatura descreve que na juventude o rosto humano tem a forma de um triângulo invertido, com o ápice voltado para baixo, traduzindo-se em um terço médio facial bem definido. Com o processo de envelhecimento, as alterações na estrutura facial levam à perda de contornos e volume, com a inversão do triângulo observada na juventude. Outros formatos faciais podem ser descritos como ovais, redondos, em formato de coração e quadrados, entre outros (Hilton, 2024).

As mudanças nos contornos faciais decorrentes do envelhecimento resultam na quadralização facial. A face jovem tem o formato de um trapézio invertido, tende a se tornar quadrado com o tempo. Buscando uma melhor compreensão dos motivos relacionados à quadralização facial, o processo de envelhecimento têm como base quatro pilares principais: flacidez da pele, ação depressora muscular, diminuição volumétrica dos compartimentos gordurosos e perda do suporte profundo devido à remodelação óssea (Coimbra, 2023).

Fig. 2 The Aging Face (Triangle of Beauty) Fonte: Hilton 2024.

A padronização da beleza beleza foi estabelecido na antiguidade no Egito e foi baseado em registros da aparência facial da Rainha Nefertiti, cujo nome significa “a beleza chegou”. A rainha teve tamanha fama que superou as barreiras do tempo. Seu rosto perfeitamente simétrico, sobrancelhas suavemente curvadas, olhos amendoados e cuidadosamente definidos, ossos zigomáticos proeminentes, nariz fino e proporcional, lábios carnudos, ausência de rugas ou marcas de expressão e pescoço fino e alongado estabeleceram um ideal de beleza que é perseguido até os dias atuais (Celano, 2022). Nefertiti foi importante na história egípcia onde atuou como sacerdotisa do deus-sol, ocupou o espaço das deidades femininas, reunindo todas em sua própria figura. Diferente das outras rainhas, Nefertiti era adorada como deusa e também muito popular entre o povo por toda sua beleza e poder (Reeves, 2017).

Fig. 3. Aquenaton e Nefertiti, com os filhos, abaixo do deus-sol Aton. Fonte: Reeves, 2017.

Leonardo da Vinci  dividiu o rosto em três terços: da linha do cabelo às sobrancelhas, daí até a ponta do nariz e daqui até o queixo e analisou as diferenças e mudanças do perfil jovem ao envelhecido. A face dividida horizontalmente em terços facilita a avaliação quanto à simetria e ao equilíbrio. O terço superior vai da linha do cabelo até a glabela, o terço médio vai da glabela até a região subnasal. Fig. 4. Quadralização facial decorrente do envelhecimento o terço inferior vai da região subnasal até o mento. Diferentes tipos de alterações ocorrem na face durante o processo de envelhecimento. No terço superior, essas alterações estão relacionadas aos danos crônicos causados ​​pela luz ultravioleta, aos músculos intrínsecos da expressão facial e suas influências na pele, e às alterações gravitacionais ligadas à perda de elasticidade dos tecidos. No terço médio, terceiro, resultam de uma combinação de fotoenvelhecimento, perda de tecido subcutâneo, perda de elasticidade da pele e remodelação de estruturas ósseas e cartilaginosas. O septo orbital pode enfraquecer com o tempo, permitindo saliências de gordura na pálpebra superior ou inferior. No entanto, algumas pessoas podem apresentar perda de tecido subcutâneo na pálpebra, o que causa uma aparência encovada. A região malar pode ser afetada pela perda de volume de gordura bucal, que se localiza entre o músculo masseter (anteriormente) e o músculo bucinador (posteriormente) (Campos, 2021).

Apesar da retrospectiva histórica que mostra alterações faciais desde os neandertais, vale ressaltar a importância de Leonardo da Vinci ter dividido o rosto em três seções iguais, da base do queixo à base do nariz, daí até a sobrancelha e daí até a linha do cabelo, mesmo que por alguns considerado trivial. Atenção especial à proporção facial é de grande importância para profissionais que instituem procedimentos estéticos.

Os mecanismos de sustentação da ponta nasal podem tornar-se inelásticos e esticar com a idade, resultando na ptose da ponta nasal e aparente alongamento do terço médio da face. No terço inferior, as alterações resultam da combinação de danos crônicos por luz ultravioleta, perda de gordura subcutânea, alterações ligadas aos músculos da expressão facial e pescoço, alterações gravitacionais devido à perda de elasticidade dos tecidos e remodelação das estruturas ósseas e cartilaginosas. a reabsorção dos ossos maxilares e mandibulares pode resultar em uma perda generalizada de tamanho e volume. O queixo gira anteriormente e se torna mais fino e mais protuberante. Além da diminuição intrínseca do volume dos lábios, a ptose da ponta do nariz também pode contribuir para o aparecimento do lábio superior reduzido (Coimbra, 2014).

Fig. 04 Face dividida em terços quintos. Fonte: Taejoo, 2016.

Aplicando a proporção áurea a um rosto humano.

Quando a largura de um rosto é dividida em cinco partes iguais, sendo 1 a parte mais à esquerda e 5 a mais à direita, um rosto atraente teria olhos em cerca de 2/5 e 4/5 (Figura 4). É ideal que o comprimento horizontal dos olhos e a distância intercantal (distância entre os olhos) sejam semelhantes. Esses padrões são baseados em caucasianos e uma distância intercantal um pouco maior pode parecer mais natural em asiáticos (analisaremos mais de perto a estética dos olhos no próximo artigo). O comprimento vertical da face pode ser dividido em três partes; superior, média e inferior. Muitos preferem que a parte inferior seja ligeiramente menor que a superior e média e a proporção ideal das três partes é 1:1:0,9.(Taejoo, 2016).

  1. REVISÃO DA LITERATURA

A tentativa de definir o conceito de atratividade e beleza vem desde a mais antiga história registrada. A ética,  a economia e a política influenciaram as mudanças do que é belo em se tratando da imagem humana ao longo dos séculos. As primeiras obras de arte conhecidas ainda existentes são da era Paleolítica, como os desenhos rupestres e pequenas estátuas de pedra que geralmente representavam uma forma feminina (Pisaroglo, 2013). O propósito destas estátuas é desconhecido, mas podem ter tido motivos religiosos ou terem sido usadas para lançar feitiços para caçadores. A estátua Vênus de Willendorf (Fig. 5) foi descoberta na Áustria, datada entre 25.000 e 20.000 a.C. Esta pequena estátua de pedra representa uma mulher sem rosto, com seios pendentes, barriga ampla e pernas curtas e grossas, daí infere o que pode ter sido o padrão de beleza feminina da época. A Vênus de Willendorf é uma escultura soberbamente trabalhada de uma mulher nua e obesa da idade da pedra. A vulva é particularmente bem esculpida, por alguém com bons conhecimentos de anatomia. Os pés são muito pequenos, sem indicação de tornozelos.

Fig. 05 Venus of Willendorf. Fonte: Don Hitchcock, 2015. Source: Original in the Vienna Natural History Museum 2024.
https://donsmaps.com/willendorf.html

A insatisfação com a atratividade do sorriso tem sido relacionada à espessura e à posição do lábio superior, à quantidade de exposição dentária, à presença de triângulos pretos (black Spaces) e inclinações oclusais, bem como à extensão da exposição gengival, tais fatores fazem parte dos fatores motivacionais para pacientes adultos que procuraram atendimento odontológico. A característica dimensional altura interlabial é maior em sorrisos julgados como atraentes (Horn 2021).

O sistema estomatognático apresenta-se como um complexo funcional de órgãos e tecidos de estruturas orofaciais, que com participação da mandíbula, define funcionalidades usuais. A composição do sistema estomatognático é composta por: articulação temporomandibular: componente neuromuscular facial; ligamento periodontal; superfícies dentárias e oclusão.  Reestruturação funcional pela reposição das  sistema estomatognático no envelhecimento facial e reabilitação das funções incluídas na motricidade oral (Nascimento, 2020).

A pele onde está a epiderme e o epitélio de revestimento; e derme constituída tecido por conjuntivo anexo e abaixo está a hipoderme, tecido conjuntivo cuja função é conectar o tegumento às estruturas adjuntas que na visão anatômica, será reconhecida como fáscia superficial. A composição da epiderme apresenta diferentes tipos de células, como queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel. Os queratinócitos são as principais espécies morfológicas, constituindo aproximadamente 95% da composição celular e função ligada à produção de queratina. Histologicamente, a epiderme está organizada em: camada basal, camada espinhosa, camada granular, camada lúcida e camada córnea. A epiderme possui espessura variável e pode ser classificada em pele fina quando apresenta alta queratinização; e pele grossa quando pouco queratinizada. Essa divisão refere-se não apenas à consistência da pele, mas também às características histológicas da epiderme. Na pele jovem, as cristas epidérmicas, que são projeções dimensionais do tecido adiposo envolvendo o revestimento subcutâneo da face, tornam mais evidentes os sulcos faciais, que somados à flacidez da hipoderme afetam diretamente os contornos da face. O grupo muscular estomatognático durante a juventude pode afetar os sulcos e as projeções ósseas cranianas, juntamente com a composição do tecido subcutâneo e adiposo. E também são responsáveis ​​pela estruturação de segmentos faciais posicionados harmonicamente (Nascimento, 2020).

Medida de análise da super projeção nasal

Charles Baud descreveu um método de análise do perfil no qual ele traçou um círculo em volta da face, no qual foi usado como raio a distância do canal auditivo externo ao pronasal (ponto que define a ponta do nariz). Foi avaliada a relação de três pontos-chave do perfil: pronasal, pogônio e o ponto da linha do cabelo frontal como mostra a figura 6.

Idealmente, esses três pontos-chave estão localizados na trajetória do círculo. Ao aplicar este método, ao instituir os procedimentos estéticos a modificação do “círculo facial” poderá ser personalizada de acordo com o ideal para o paciente em questão. Em nossa experiência, o círculo deve estar centrado na parte superior do tragus ou na borda do conduto auditivo externo. Tivemos bons resultados com esse método simplificado e modificado na prática, pois permite uma avaliação rápida da projeção nasal em relação ao queixo e à testa. As seguintes determinações podem ser feitas:  (Behrbohm, 2020).

Fig. 6. determinação da projeção. (a) Método de Goode. (b) Método de Baud. Dentro do círculo facial = nariz normal. Fora do círculo facial = nariz ou ponta super projetada. Preto = nariz normal; vermelho = nariz de tensão funcional sem super projeção; azul = ponta super projetada; verde = nariz de tensão funcional super projetado. Fonte: Behrbohm, 2020.

Baud descreveu o método do “círculo facial” para análise da projeção da ponta nasal em relação à projeção sagital da testa e do queixo (Figura 5). O ponto médio do semicírculo anterior foi considerado o ponto médio do conduto auditivo externo, mas um marco alternativo é o tragion, que é a incisura na borda superior do tragus (modificação de Behrbohm). Uma linha que vai do tragion ao pronasal forma o raio de um arco circular; idealmente, o trichion (linha do cabelo) e o pogônio de tecidos moles (a projeção anterior do queixo) devem estar localizados no trajeto desse arco. Assumindo a posição normal da testa e do queixo, se a ponta nasal ficar fora deste círculo é considerada super projetada. Uma análise estética semelhante foi agora identificada nos cadernos de Leonardo da Vinci (Naine, 2012; Furtado, 2016).

Proporção áurea

A primeira definição da medida, originalmente denominada razão média e extrema, ocorreu no livro Elementos, escrito por Euclides de Alexandria em 300 a.C. O interesse primário de Euclides na elaboração do conceito da razão áurea foi a sua interpretação geométrica, permitindo a construção do pentágono e de alguns sólidos platônicos e seus passos foram seguidos por diversos matemáticos gregos nos séculos que seguiram. A proporção áurea acabou caindo em desuso, principalmente durante a Idade Média. Leonardo Fibonacci aprimorou o conceito da proporção áurea, com a cálculo de diversas figuras geométricas e, principalmente, com a sequência de Fibonacci – 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89… – na qual cada termo é formado pela soma dos 2 termos precedentes. Outra figura geométrica associada à proporção áurea foi criada, por Jacques Bernoulli: a espiral logarítmica, que tem a propriedade de manter a sua forma à medida que aumenta de tamanho. Essa forma está presente em diversos lugares na natureza – girassois, conchas de nautilus, redemoinhos, furacões e até mesmo na forma das galáxias em espiral.

Luca Pacioli, um professor de matemática italiano, aprofundou-se nos estudos da geometria e de Fibonacci, que interessava também a Leonardo Da Vinci. Pacioli publicou o livro Divina Proportione em 1509, uma obra em três volumes com ilustrações de Da Vinci, onde cunhou o termo divina proporção como sinônimo para proporção áurea e apresentou diversas propriedades do número. De acordo com ele, a razão deveria se chamar divina proporção por ser única, como Deus; a definição apresentar 3 medidas, assim com a trindade cristã; ser um número irracional, algo tão incompreensível quanto Deus. No segundo volume da sua obra, Pacioli estuda a aplicação das proporções na arquitetura e na estrutura do corpo humano. Nesse volume, no entanto, não insiste na razão áurea como determinante da beleza nos trabalhos de arte. Ao invés disso, baseia-se no modelo vitruviano, que utiliza razões simples (números racionais) para a representação do corpo humano (Almeida, 2017).

A proporção áurea recebe diversas denominações, como proporção áurea, razão áurea, número áureo, divina proporção e phi. Este último nome deriva do nome do grego Phidias, um escultor que viveu entre 490 e 430 a.C. envolvido em algumas estátuas do Parthenon e que, segundo a literatura, utilizava a razão em seus trabalhos. Foi homenageado por Mark Barr dessa forma, atribuindo à essa proporção o nome Phi, representado pela letra grega φ. Com relação à atratividade facial, uma das tentativas de relacionar a proporção áurea com a concepção da beleza foi a máscara de Marquardt, também conhecida como máscara áurea. A máscara foi construída a partir da conjunção de pentágonos áureos de vários tamanhos, ajustando as medidas faciais. Para se basear na construção da face e na disposição das formas, utilizou faces de modelos fotográficas femininas retiradas de capas de revistas (Almeida, 2017).

MÁSCARA DE MARQUARDT

A máscara de Marquardt representa um método de avaliação da beleza universal, apesar da refutação de seu uso por diversos artigos. Holland afirma que, embora tenha sido construída a partir de modelos fotográficas femininas, a máscara apresenta características faciais mais próximas do homem, embora a feminilidade acima da média em uma face feminina seja preterida pela população. Porém as modelos nem sempre correspondem à preferência de atratividade da população em geral, não podendo servir como base para a construção de um modelo de beleza. Ja o pesquisador Bashour (2006) afirma que a máscara fornece correlação estatística com a atratividade facial apenas se não forem atribuídos pesos diferentes para as características faciais, embora algumas exerçam maior influência na atratividade, como olhos, mandíbula e nariz. A máscara consiste numa esquematização composta por um grande número de faces femininas atraentes à qual foi dada credibilidade matemática através da proporção áurea.

Kim (2007), analisou o uso da máscara na avaliação da atratividade comparando pontuações de atratividade atribuídas por um corpo de julgadores e observou que não houve diferença estatística significante entre as avaliações das pontuações pré e pós-operação antes e após a aplicação da máscara, o que pode indicar tanto que a máscara é útil para a percepção da atratividade da face quanto que ela não exerce influência, uma vez que não houve diferença estatística entre as pontuações.

O nariz é o traço mais característico do rosto e pode criar beleza e aparência atraente. Pesquisas foram feitas para examinar e refinar os cânones através dos quais a beleza pode ser medida. A aparência do nariz, como tamanho, formato protrusivo e assimetria, são tópicos importantes da beleza facial (Bagheri,  2023).

Vários métodos foram descritos para avaliar a projeção sagital da ponta nasal em perfil, cada um com suas limitações. Estes incluem o ângulo nasofacial, descrito por Jacques Joseph (1865-1934), um dos pioneiros da rinoplastia moderna, usando um desenho de Leonardo da Vinci para descrever o que ele chamou de “ângulo de perfil”. A projeção da ponta também tem sido analisado em relação à altura do lábio superior (método Simons), como relação altura nasal/projeção (método Goode; método Baum), como método triangular (método Crumley e Lanser), como relação projeção da ponta/comprimento nasal (método Byrd e Hobar) e como projeção da ponta em relação à posição sagital do lábio superior (Furtado, 2016).

ÂNGULO NASOFRONTAL

Os ângulos mais comumente referenciados aplicados à análise nasal são o ângulo nasofrontal, o ângulo nasofacial e o ângulo nasolabial. Coletivamente, eles geram informações sobre características que têm alguma influência na proporção naso-facial, como rotação da ponta, projeção da ponta e comprimento nasal, e são muito úteis na avaliação do perfil nasal. O ângulo nasofrontal (Fig. 180.4) é o ângulo medido entre uma linha que se estende da glabela através do násio e uma segunda linha traçada do násio através do ponto que define a ponta nasal. O ângulo nasofrontal ideal varia de 115 a 135 graus. O ponto mais profundo do ângulo nasofrontal é conhecido como násio (ou raiz). Talvez mais importante do que a medição do ângulo em si, a posição (superior vs. inferior) e a profundidade do ângulo nasofrontal e do násio têm uma influência significativa na estética geral e na proporção do nariz no que se refere ao resto da face. Isso é discutido com mais detalhes na seção sobre análise nasal (Gillman, 2016).

Fig. 7. Ângulo nasofacial. Fonte: Gillman, 2016

O ângulo nasofacial (Fig. 7) é formado por uma linha que vai da glabela ao pogônio, cruzando com uma linha que vai do násio até o ponto definidor da ponta nasal. O ângulo nasofacial ideal varia de 30 a 40 graus (ideal 36 graus). Um ângulo maior (mais obtuso) reflete um aumento relativo na projeção da ponta, enquanto a ponta nasal pareceria menos projetada com um ângulo nasofacial mais agudo. Baud (1971), discutindo proporções ideais nas diferentes partes da face do ponto de vista artístico, cita Durer e Leonardo di Vinci e parece sugerir que as proporções verticais são de maior importância do que as medidas sagitais na apreciação da estética facial (Stromboni, 1979).

ENVELHECIMENTO

O envelhecimento do terço superior da face se deve à exposição solar crônica, contratura muscular da mímica facial ao longo da vida e à perda da elasticidade tecidual na derme e epiderme. Esses fatores, quando associados à ação da gravidade e à contratura periorbital constante, levam à diminuição da amplitude visual com o avanço da idade. O aparecimento de pálpebra cansada ocorre devido ao  de pele que gera uma dobra cutânea em decorrência da perda de elasticidade associada ao avanço da idade. O aparecimento da ptose frontal ocorre devido à perda de estabilidade da pálpebra superior e do suporte temporal da porção lateral da sobrancelha. O aparecimento de rugas periorbitárias e o escurecimento da pigmentação dessa região ocorrem em decorrência do envelhecimento do tecido subcutâneo infraorbital e da atividade dos melanócitos na derme (Nascimento, 2020).

No terço médio da face há diminuição da produção de fibroblastos na derme, perda de rigidez, aumento da flacidez e alterações osteocíticas e condrocíticas. O envelhecimento leva à diminuição da reposição de gordura, o que resulta em menor volume de bolsas de gordura, dando a aparência de bochechas vazias. Alterações no tecido adiposo da região orofaringofacial também podem afetar dimensionalmente a região do osso zigomático. O enfraquecimento dos ligamentos de suporte que prendem os tecidos ao osso zigomático leva ao desenvolvimento do sulco nasolabial. A redução do tecido adiposo leva ao enfraquecimento do septo orbital, o que sugere uma protrusão da pálpebra inferior ou superior, a primeira localizada na terço médio, enquanto a segunda no terço superior. O envelhecimento do nariz segue as mesmas características das demais partes do terço médio, apresentando menor tensão muscular e ligamentar. As estruturas de suporte podem tornar-se inelásticas, resultando na perda de definição do dorso e da ponta. A cartilagem nasal, assim como a da orelha, aumenta de volume com o tempo. Associado à abertura óssea da cavidade piriforme, ocorre queda do nariz e, consequentemente, estiramento do terço médio facial. Portanto, além dos tecidos de sustentação, os elementos ósseos e cartilaginosos recebem influência da idade, com irregularidades nas porções ósseas e cartilaginosas (Nascimento, 2020).

No envelhecimento tanto intrínseco quanto extrínseco, importantes fatores alteram a homeostase facial. As modificações anátomo fisiológicas decorrentes do envelhecimento afetam a estruturação do sistema estomatognático levando a consequências estéticas devido ao  reposicionamento funcional desse sistema. A da harmonização da região facial é estabelecida por terapias funcionais com consequências estéticas e cosméticas. Ao serem aplicadas ao sistema estomatognático tem como  base a saúde, estabilidade funcional, estética, jovialidade, harmonia e bem-estar (Coimbra, 2014).

As alterações no terço inferior ocorrem devido às estruturas neuromusculares associadas à fácies orofaringofacial, como alterações relacionadas ao tecido conjuntivo relacionadas à perda de gordura subcutânea e fibras colágenas tipo III. A remodelação das estruturas ósseas e cartilaginosas que levam a falta de sustentação  também são responsáveis por um maior aspecto de flacidez da pele. Contração repetida do músculo orbicular dos lábios ao longo da vida, perda de gordura nessa região e redução dos componentes dérmicos, formam-se rugas verticais na porção cutânea dos lábios, conhecidas como códigos de barras. Da adolescência à velhice, o vermelhão dos lábios é acometido por um estreitamento médio de 3,6mm. Clinicamente o comprimento dos lábios aumenta significativamente 1,4mm entre os 40 e os 50 anos de idade. A porção anterior da mandíbula se projeta, torna-se mais fina e gira em rotação axial. Associado a isso há perda tridimensional de toda a estrutura do terço médio facial devido à reabsorção do periodonto de sustentação (Nascimento, 2020).

As expressões faciais desempenham um papel importante nas interações humanas porque fornecem informações de sinalização de emoção e criam percepções sociais dos traços físicos e de personalidade de um indivíduo. Sorrir aumenta a atratividade percebida socialmente e é considerado um sinal de confiabilidade e inteligência. Apesar da ampla informação sobre a importância social de um sorriso atraente, pouco se sabe sobre a associação entre as características do sorriso e a atratividade autoavaliada do sorriso. Há um efeito significativo da largura proporcional do sorriso (relação entre a largura do sorriso e a largura facial) na autopercepção da atratividade do sorriso. Na verdade, para cada aumento de 10% na largura proporcional do sorriso, as classificações de atratividade autopercebidas aumentaram 10,26%, tal associação dicou evidente principalmente no sexo feminino. Os resultados indicam que as características objetivas do sorriso influenciam a autopercepção da atratividade do sorriso. A maior força do efeito nas mulheres apoia a noção de que as mulheres estão, em geral, mais conscientes do seu sorriso e do impacto que este tem na sua imagem pública (Ben-Nun, 2024).

  1. MATERIAIS E MÉTODOS

A estratégia de busca considerou fontes de informação de registros encontrados na base de dados do PUBMED (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), Science Direct (http://www.sciencedirect.com/), Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/), SciELO (http://www.scielo.br/) e BVS (http://bvsalud.org/). As bases foram usadas para obtenção dos principais trabalhos que abordassem o tema preferencialmente na área de saúde. Os resultados foram otimizados ao estabelecer os seguintes termos de busca: análise facial, proporção áurea e beleza. As da busca dos artigos nas bases de dados foram definidas as palavras-chave relacionadas aos objetivos da pesquisa  para serem buscadas usando o conector “and”. As palavras-chave são Descritoras em Ciência da Saúde (DeCS) em português e inglês. Foram analisadas de publicações sobre a evolução do conceito de análise facial com olhar na evolução da percepção e trato da beleza. Foram usadas publicações sobre as alterações de imagem facial no decorrer da evolução humana, pois a presente investigação  em essência visou perceber como isso ainda reflete nos procedimentos cosméticos faciais no século 21.

  1. DISCUSSÃO

A beleza se conhece quando a sente. A Estética é o estudo da beleza. Alexander Baumgarten (1714-1762) fundou a estética como um campo distinto da filosofia com a publicação de seu tratado Estética. Baumgarten cunhou novamente o termo “estética” para ter o significado de “gosto” ou “sentido” de beleza, inventando dessa forma seu uso moderno; o termo “estética” é derivado do termo grego percepção sensorial (aisthētikos). Baumgarten definiu estética como a“ciência da cognição sensual”. De fato, Baumgarten separou o conceito de beleza de sua ligação antiga relacionada à “bondade”. Baumgarten definiu “gosto” como a capacidade de julgar de acordo com os sentido (Naine, 2014).

Os autores Reis SAB, Abrão J e Capelozza Filho L (2006) observaram, que após incluir a análise facial subjetiva como rotina na atividade clínica, que a classificação estética do paciente é mais um instrumento diagnóstico, que tem sua importância aumentada por ser o parâmetro pelo qual o paciente e as pessoas com as quais ele convive vão avaliar os resultados do tratamento. Os autores acima ao se basearem no estudo de Capelozza Filho L (2004) concluíram que faces agradáveis são exceções não dependem de um profissional para atingirem ou permanecerem nesse estágio, tais faces ao serem submetidas a tratamentos que as alterem o cuidado deve ser extremo para a preservação e acentuação das características de agradabilidade.

Os pacientes classificados em tipos faciais esteticamente desagradáveis que tenham faces muito longas, curtas ou com excesso ou deficiência tanto na mandíbula ou na maxila vão necessitar de tratamentos, que incluem muitas vezes cirurgias ortognáticas para corrigir o erro ósseo, normalmente grave. Ao ser oferecido um tratamento compensatório que apresente limitações deve ser bem avaliado. Deve-se  conscientizar o paciente quanto ao real alcance do tratamento tanto no sentido estético quanto funcional. A ampliação de um queixo pode deixar o paciente com o perfil agradável mas não conserta um mau relacionamento dentário.

Os primeiros registros de embelezamento humano foram entre os neandertais em Múrcia, Espanha, há 40 mil anos. Encontraram conchas do mar, contendo pigmentos de cores vivas que se acredita terem servido como maquiagem para aumentar ou mesmo camuflar as estruturas faciais (Walker, 2008). Mais se sabe sobre o objetivo de perfeição do rosto humano no antigo Egito, de 4.000 antes da era comum, onde as cabeças das crianças eram enroladas para obter uma cabeça traseira mais alta, e a reforma era usada em abundância para realçar as características faciais (carvão para delinear as pálpebras, sombra verde e azul com pigmentos de pedras semipreciosas, por exemplo, de lápis-lazúli, ocre para iluminar bochechas e lábios, e henna para tingir cabelos e pontas dos dedos). Acreditava-se que os antigos egípcios elaboravam uma rotina de higiene pessoal e beleza, pois consideravam a beleza um sinal de santidade. Nos túmulos, paletas de cosméticos foram encontradas enterradas com os falecidos como bens funerários, o que enfatizou ainda mais a ideia de que os cosméticos não eram usados ​​apenas para fins estéticos, mas sim mágicos e religiosos (Potavanich, 2015).

Fig. 7. Gravura rupestre. Fonte: Farias, 2024.

Horm S, Matuszewska N, Gkantidis N, et al. 2021 afirmam que por uma ressonância magnética funcional (f-MRI), é possível mostrar que uma resposta neuronal mais forte no córtex orbitofrontal medial, é observada quando se vê um rosto sorridente comparado a um rosto com expressão neutra. As expressões faciais de alerta e de humor positivo são indicadores de inteligência, e a expressão facial de felicidade e contribui fortemente para o desenvolvimento de discriminações pessoais quando os humanos fazem contato visual; assim, o sorriso tende a desempenhar um papel primordial nas nossas interações sociais diárias, mais do que outras características físicas. O ato de sorrir cria uma percepção social de felicidade, juventude e gentileza e certas características de um sorriso atraente também foram correlacionadas a vários traços de personalidade, como neuroticismo, autoestima e dominância.

A atratividade facial está na dependência da tipologia. As faces mais atrativas são de indivíduos com Padrão I. Os homens Padrão II e as mulheres Padrão III são considerados esteticamente desagradáveis. Em contrapartida, os homens Padrão III e as mulheres Padrão II são considerados esteticamente aceitáveis, demonstrando que o aumento da convexidade facial no sexo feminino e a redução no masculino é aceitável. Os lábios, o nariz e o mento são as estruturas com maior importância na determinação do grau de atratividade do perfil facial (Reis, 2006).

Potavanich (2015) resumindo a beleza e a estética em ordens matemáticas, as proporções na arte e na decoração no antigo Egito foram determinadas pelo uso de um sistema de grade e um “cânone de proporções”. Até o final da 26ª Dinastia do Novo Império, os antigos egípcios usavam um arcabouço em forma de grade para criar profundidade e perspectivas, que media 18 unidades até a linha do cabelo, ou 19 unidades até o topo da cabeça e, portanto, visava estabelecer regras de beleza e santidade, o que também significava realeza. Bagheri é Govsa (2023) após análise digital da anatomia dos tecidos moles nasais tiveram como resultados que o ângulo nasofacial mede aproximadamente 30°.

  1. CONCLUSÃO

O presente trabalho elucidou o entendimento quanto a linha de evolução de parâmetros que formam o arcabouço de onde os profissionais estetas fundamentam suas tomadas de decisões. Esse aclaramento se deve à realização de uma avaliação da análise facial abordando seu uso e indicações em especialidades médicas que buscam alterações faciais por fins estéticos. A pergunta de pesquisa foi respondida de forma positiva pois a face ao ser analisada amplia a capacidade de diagnóstico do profissional que irá trazer mudanças a aparência facial. Mais trabalhos que façam uma retrospectiva da evolução da análise facial devem ser feitos.

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A palavra inglesa estética é derivada do grego aisthesis, que é definido como ter uma devoção àquilo que é belo. Os gregos ampliaram seu conceito de beleza para incluir um senso de ordem na filosofia, bem como na aparência física. Eles também tentaram definir a beleza através de proporções geométricas e modelos matemáticos. Policleto (século V a.C.) desenvolveu um cânone pessoal de proporção em que o corpo inteiro media sete vezes e meia o comprimento da cabeça. Isso resultou em um torso de aparência muito formalizada e rígida. Polykleitos esculpiu principalmente atletas. Mais tarde, Praxíteles (370-330 a.C.) escolheu as mulheres em vez dos homens como seu tema preferido. Suas obras retratavam uma suavidade e uma gentileza natural nunca vistas antes. Sua produção de Afrodite apresentou os ideais estéticos da época (Fig. 2). Esta forma influenciou artistas durante séculos seguintes