ANALYSIS, STABILITY AND CONTAINMENT OF SLOPES: CASE STUDY OF A VOÇOROCA IN MANAUS-AM
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408071209
MONTEIRO, M. A. S.1
Resumo
Face ao deslizamento de terra ocorrido na encosta próxima a Companhia Siderúrgica da Amazônia Sociedade Anônima (SIDERAMA), localizada na capital do estado do Amazonas, realizou-se este estudo de caso que visa a apresentação de ações mitigadoras, com o intuito de subsidiar a contratação de empresa especializada em obras geotécnicas, para a realização de estabilização e contenção de talude, em virtude de evento de processo erosivo causado por “voçoroca”, seguindo as diretrizes da Lei nº 8.666/1993 – Normas para licitações e contratos da Administração Pública e da Instrução Normativa (IN) nº 5/2017. O objeto em lide está enquadrado no inciso IV, do art. 24 da lei supramencionada, que considera dispensável a licitação os casos de emergência, onde há caracterização de estado de urgência o atendimento de situação que cause prejuízo ou comprometimento da segurança de pessoas.
Palavras-chave: Deslizamento de terra; obras; contenção; talude; e “voçoroca”.
1 INTRODUÇÃO
Voçoroca é um fenômeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão causados pelas precipitações em solos desprotegidos de vegetação. Devido à grande perda de massa de solo, as voçorocas são consideradas a forma mais severa da erosão, responsáveis por graves danos ao meio ambiente e também ao próprio meio antrópico (WHITE, 2009).
Segundo Pereira (2020), a presença de uma grande cavidade na terra, evidenciando um desequilíbrio no ambiente, pela presença do solo exposto devido às poucas espécies vegetais existentes, recebe o nome de voçoroca, também é conhecido como boçoroca (oriundo do tupiguarani: ibi-çoroc, onde ibi é terra e çoroc é fenda) e significa terra rasgada.
Fernandes (2011 apud BIGARRELLA, 2003) adota a terminologia de acordo com a profundidade: ranhura (até 5 cm); sulco (5 a 30 cm); vala (30 a 100 cm); e ravina (maior que 100 cm). Este autor afirma que, com o aumento do tamanho dos sulcos, estes se transformam em valas de erosão (gully) e em ravinas de dimensões maiores. Na literatura o termo gully também é designado para ravinas e até mesmo para voçorocas, não tendo uma definição precisa. Conforme Santos (2014), a voçoroca constitui-se o estágio mais avançado da erosão. Ocorre devido ao fluxo de água e desprendimento constante de material, por longos períodos de tempo num mesmo canal. A erosão de solos é devida ao processo de desgaste, dinâmica ambiental, transporte e sedimentação. Sua tipologia é classificada com base no desgaste dele, nos agentes formadores e nos processos de composição.
Ferreira (2007), afirma que, “as voçorocas são consideradas um dos piores problemas ambientais em áreas de rochas cristalinas nas regiões tropicais de montanha onde são frequentes e podem alcançar grandes dimensões”.
Quanto aos fatores que contribuem para a ocorrência de voçorocas pode-se destacar aqueles associados aos aspectos naturais como a precipitação pluvial (intensidade e frequência), características do relevo (comprimento, forma, orientação e declividade entre outros), características pedológicas (textura, estrutura, densidade aparente, porosidade, permeabilidade, estabilidade de agregados, entre outros) (VIEIRA, 1978; GUERRA, 1995; PIMENTEL, 2006; MANSTRETTA, PERILLO, PICCOLO, 2023).
O objetivo deste trabalho é propor algumas medidas corretivas e também algumas soluções para conter o avanço da voçoroca, observada na vistoria realizada no conjunto residencial pertencente a uma organização militar, nas proximidades da Companhia Siderúrgica da Amazônia Sociedade Anônima (SIDERAMA).
1.1 Classificação de processos erosivos
De acordo com Pena (2024), em termos de classificação, há vários tipos de erosão, que podem ser elencadas conforme o tipo de agente erosivo atuante, como a água, os ventos e os seres vivos, classificados a seguir:
a) Erosão pluvial: provocada pela ação da chuva, é apenas uma das causas da degradação do solo. Exemplos: erosão em splash, erosão laminar, erosão em sulcos e ravinas;
b) Erosão fluvial: é um processo natural, de desgaste dos solos, rochas e sedimentos que compõem as margens e também o fundo dos rios;
c) Voçoroca;
d) Erosão marinha: o processo de desgaste, transporte e sedimentação de rochas e solos litorâneos por agentes erosivos;
e) Erosão eólica: um processo natural de desgaste da crosta terrestre causado pelo vento;
f) Erosão glacial: a ação do gelo, que muda de estado físico devido à variação de temperatura, e causa desgaste no solo e na biodiversidade;
g) Erosão por gravidade: ocorre quando há transporte e deposição de sedimentos da superfície em virtude da ação da gravidade; e
h) Erosão geológica: resulta apenas de forças da natureza, sem influência do homem.
1.1.1 Classificações de voçorocas
Segundo OLIVEIRA et al. (1996) há três tipos principais de voçorocas e podem ser destacadas em: voçorocas conectadas à rede regional de canais; desconectadas; e aquelas que resultam da junção das duas anteriores.
As voçorocas conectadas estão associadas ao escoamento hipodérmico e/ou subterrâneo nas partes baixas da encosta, podendo ser considerada um canal de primeira ordem; as voçorocas desconectadas, encontram-se na parte superior da encosta, estão associadas ao escoamento hipodérmico e/ou subterrâneo nas partes baixas da encosta, não podendo ser ainda considerada um canal de primeira ordem; as voçorocas desconectadas, encontram-se na parte superior da encosta, estão ligadas ao escoamento superficial e não podem ser consideradas um canal de primeira ordem em virtude de não estarem ligadas à rede de drenagem; e o terceiro tipo, seria na verdade a junção das duas formas anteriores (voçorocas conectadas e voçorocas desconectadas), formando uma só incisão erosiva (OLIVEIRA, 1996).
1.1.2 Formas de voçorocas
No que diz respeito às formas da voçoroca, Ireland (1939, apud BIGARELLA & MAZUCHOWSKI, 1985), apresenta 6 formas que poderiam ser utilizadas neste trabalho, como: linear, bulbiforme, dentrítica, entreliça, paralela e composta.
1.2 Contextualização do problema
A SIDERAMA engloba uma grande área, com algumas de suas instalações localizadas próximas das encostas à margem esquerda do Rio Negro, adjacentes de áreas vulneráveis a deslizamentos de terra, acometidas por fenômenos deflagrados por processos erosivos denominados voçorocas, estes relacionados aos altos índices pluviométricos da região (erosão pluvial), algumas vezes combinados à ação da pressão hidráulica do fluxo do rio (erosão fluvial). Dentre estas instalações, estão os Blocos “R” e “Q” de um conjunto residencial pertencente a uma organização militar (ver Figura 1).
Figura 1. Imagens da área da voçoroca (indicada na cor rosa) próxima aos Blocos “R” e “Q” (indicados na cor amarela).
Com apoio de Equipe de Geoprocessamento da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) da Prefeitura de Manaus, obteve-se o levantamento aerofotogramétrico com equipamento drone, nas áreas adjacentes aos Blocos “R” e “Q”. A Figura 2 exibe o levantamento das curvas de nível da área, e em detalhe na Figura 3 a área da voçoroca.
Figura 2. Levantamento aerofotogramétrico do conjunto residencial nas áreas adjacentes aos Blocos “R” e “Q”
Figura 3. Levantamento aerofotogramétrico em detalhe a voçoroca próxima aos Blocos “R” e “Q”.
Através de dados obtidos do levantamento aerofotogramétrico (ver Figura 4) e do levantamento topográfico realizado pela organização militar, com a utilização de Estação Total (ver Figura 5), concluiu-se que a geometria da voçoroca da encosta da SIDERAMA, compunha-se de uma porção com aproximadamente 60,00 metros de comprimento, 30,00 metros de largura e 45,00 metros de altura.
Figura 4. Resultados do levantamento aerofotogramétrico quanto à geometria da voçoroca da encosta da SIDERAMA: foto à esquerda, encontra-se a altura, sendo, 45,00 metros de elevação na régua graduada (na cor verde); e foto à direita, a localização (na cor rosa).
Figura 5. Resultados do levantamento topográfico apresentando a planta de situação das adjacências da área da voçoroca, em que a posição dos Blocos “R” e “Q” e as coordenadas geográficas estão indicadas na cor encarnada.
1.3 Histórico
De acordo com os dados de Estação Automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume de chuvas registrado em Manaus nas primeiras horas do dia 23MAR2020 foi equivalente a mais de 42% do total de precipitações de todo o mês de março na capital amazonense.
De acordo com as informações prestadas pelos representantes da organização militar, devido à incidência dessas chuvas intensas, houve novo deslizamento de terra em 23MAR2020 nas proximidades do Bloco “R”, tornando ainda mais grave à área acometida por voçoroca, fato que originou nas proximidades da área da erosão um avanço aproximado de 5,00 metros em direção à pista, aumentando a área erodida e acarretando também a queda de um muro de cerca de 25,00 metros de comprimento, localizado a 0,90 centímetros do acostamento da rua.
Em decorrência desses eventos, houve a intervenção emergencial do Bloco “R” e a retirada dos moradores. Em 01ABR2020, ocorreu mais um novo deslizamento ocasionando a queda de uma árvore de grande porte contígua à pista já totalmente interditada.
Segue abaixo na Tabela 1 um breve histórico do resumo dos eventos ocorridos face aos deslizamentos de terra sucedidos na encosta devido à incidência das chuvas intensas:
Tabela 1. Breve histórico do resumo dos eventos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A seguir será apresentada a descrição das instalações e da situação existente dos problemas apresentados.
2.1 Descrição das instalações
2.1.1 Via de acesso
A rua onde se encontra o conjunto residencial possui estrutura de pavimentação com camada asfáltica4 e é a principal via de acesso às organizações militares e ao conjunto residencial, localizados no complexo militar. Em distintos pontos ao longo de sua margem, encontram-se diversos dispositivos de automação das redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica que chega ao complexo, como postes de concreto armado e transformadores.
2.1.2 Bloco “R” do conjunto residencial
O Bloco “R” possui 12 (doze) apartamentos, os quais estão mobiliados com bens móveis pertencentes aos moradores.
A edificação possui estrutura com as seguintes características:
a) Superestrutura (vigas, pilares e lajes) e infraestrutura (elementos de fundações) em concreto armado;
b) Estrutura da cobertura em madeira;
c) Cobertura em telha cerâmica;
d) Fechamentos dos elementos de vedação em alvenaria;
e) Piso interno dos compartimentos e paredes internas das áreas molhadas como banheiros, cozinha e lavanderia em revestimento cerâmico;
f) Áreas externas com calçadas em concreto; e
g) Janela em vidro com estrutura em perfis de alumínio.
2.2 Situação existente dos problemas apresentados
De acordo com os representantes da organização militar responsável pelo conjunto residencial, e também conforme breve histórico do resumo dos eventos relacionados na Tabela 1, na segunda quinzena do mês de março de 2020, houve o agravamento do processo de erosão, nas proximidades do conjunto residencial.
A seguir serão apresentados os problemas de engenharia verificados após realização de vistoria técnica na via de acesso ao complexo militar e de inspeção predial no Bloco “R” do conjunto residencial, conforme registros constantes no Relatório Fotográfico do APENSO A.
2.2.1 Via de acesso ao complexo militar
Por ocasião da vistoria técnica realizada na rua, no trecho que se encontra nas proximidades do Bloco “R”, constataram-se que manifestações patológicas ocorreram gradativamente na via, tanto pelo desgaste natural do revestimento asfáltico composto pela camada de rolamento, devido ao contato direto com as rodas dos veículos, tanto pelo agravamento dos processos erosivos ocorridos na encosta localizada nas proximidades do acostamento da via.
Através de inspeção visual in loco, observaram-se ao longo do revestimento (camada de asfalto) da referida via, grandes trincas, do tipo fendas longitudinais longas, em direções predominantemente paralelas ao eixo da via, de até aproximadamente 5,00 centímetros de abertura (ver Figura 6 e Figura 7). Também se observou a formação de sulcos erosivos ao longo do revestimento, com profundidade suficiente para se verificar o aparecimento da camada natural do solo, com a saída de material, provavelmente, do aterro ou do terreno natural do subleito do pavimento em lide (ver Figura 8 e Figura 9).
Além disso, a 0,90 centímetros do acostamento da via de acesso, houve também a queda de um muro de cerca de 25,00 metros de comprimento, devido ao novo deslizamento de terra ocorrido em 23MAR2020 nas proximidades do Bloco “R” (ver Figura 10, Figura 11, Figura 13, Figura 12, Figura 14 e Figura 15).
2.2.2 Bloco “R” do conjunto residencial
Por ocasião da inspeção predial (ver APENSO A2) realizada por engenheiro civil no Bloco “R”, em virtude da ocorrência dos deslizamentos na região, diversas manifestações patológicas surgiram na edificação, foram constatados in loco os seguintes problemas de engenharia:
a) Presença de trincas entre as calçadas do passeio e os pilares do pilotis da garagem (ver Figura 16, Figura 17, Figura 18, Figura 19 e Figura 20);
b) Abaulamentos no piso sob a laje com a presença de trincas e fissuras no revestimento cerâmico no interior dos apartamentos (ver Figura 21);
c) Descolamentos no revestimento cerâmico de paredes internas, com a presença de gretamento nas placas cerâmicas (ver Figura 22);
d) Aparecimento de microfissuras, fissuras e trincas5 ao longo das alvenarias, algumas em ângulo aproximado de 45o, também nos cantos de janelas e portas (ver Figura 23 e Figura 24 e Figura 25);
e) Verificação de trinca longitudinal entre vigas e lajes (ver Figura 26); e
f) Verificação de trincas longitudinais entre vigas e alvenarias (ver Figura 27, Figura 28, Figura 29, Figura 30, Figura 31, Figura 32, Figura 33, Figura 34, Figura 35 e Figura 36).
3 METODOLOGIA
A metodologia é qualitativa e exploratória, onde foi adotado procedimento técnico, formas e critérios através do levantamento de dados, análise de documentos, entrevistas, vistoria in loco e classificação dos apontamentos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
O Rio Negro é formado geologicamente, não havendo mudança em seu percurso. O processo de enchente e vazante ocorre em virtude de contribuição de águas advindas de altos índices pluviométricos ao longo do rio que influencia diretamente no nível do rio. Os processos de escorregamento de solo na encosta do conjunto residencial foram desencadeados pela ação erosiva provocada pelas águas pluviais. A erosão pluvial é uma das formas mais comuns de degradação do solo e atinge, praticamente, toda a superfície terrestre. Em regiões tropicais, como na cidade de Manaus – AM, onde são registrados altos índices pluviométricos, esse processo erosivo tende a ser mais intenso, sendo mais agravado no período de chuvas que vai de Dezembro a Maio , onde toda a contribuição das águas pluviais é conduzida ao Rio Negro.
Nas proximidades dos Blocos “R” e “Q”, localizados no conjunto residencial, a falta de um sistema de drenagem capaz de direcionar com segurança as águas pluviais subsuperficiais ao Rio Negro, provocou o escorregamento do talude, cuja área foi degradada por processos erosivos, como deslizamentos de terra, um processo clássico que ocorre na região chamado de “voçoroca”, não sendo possível a previsibilidade do fato, pois tais erosões ocorreram internamente no talude, causando a ruptura do maciço de solo a montante, sendo decorrente de rompimento de parte da tubulação do sistema de drenagem da rede pluvial do conjunto residencial, constituída por bueiros tubulares de concreto armado, agravada pela inclinação acentuada do talude cuja altura aproximada é de 45,00 metros.
Além disso, as enxurradas provocadas pelas precipitações na região carregam os materiais superficiais do solo para as áreas mais baixas. Justamente por isso, esse processo é mais significativo nas regiões de maior declividade. Desse modo, a água lixivia os solos, carreando para o rio, nos cursos d’água, os nutrientes disponíveis nele, favorecendo seu empobrecimento, tendo como fator agravante a saturação do solo e aumentando o seu peso específico, facilitando-se assim o descolamento de massa de solo, conforme o ocorrido na encosta.
As manifestações patológicas apresentadas neste presente trabalho são oriundas de processos erosivos, ocasionando comprometimento estrutural no Bloco “R” do conjunto residencial, bem como na infraestrutura da via de acesso. Foi observado o rompimento generalizado do solo das adjacências dessas estruturas, submetendo tais estruturas a riscos de instabilidade. Caso ocorram novos deslizamentos, os danos poderão ser agravados, e, consequentemente, poderão ocorrer perdas patrimoniais, e, desafortunadamente vidas humanas e mais prejuízos ambientais.
Diante do fato, por se tratar de efeitos diretos ao meio ambiente, a ação recomendada é construir estruturas de contenção e estabilização do talude ao longo da encosta vulnerável, bem como a execução de sistemas de drenagem de águas pluviais eficiente, tendo-se como fator relevante para o início das obras, o período de término das chuvas e de início da vazante do Rio Negro, que ocorre anualmente entre os meses junho e agosto.
Portanto, diante do exposto, recomendou-se o início imediato das obras em lide visando reduzir os impactos e prejuízos ao patrimônio da União, evitando, consequentemente danos estruturais; ambientais e humanos. Ressalva-se que a não realização das obras de estabilização do referido talude e dos serviços complementares necessários na área da voçoroca do conjunto residencial, poderia comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos, sob pena de desmoronar as instalações adjacentes àquela voçoroca, com perdas materiais e humanas, caracterizada esta, como uma situação emergencial.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Rio Negro é formado geologicamente, não havendo mudança em seu percurso. O processo de enchente e vazante ocorre em virtude de contribuição de águas advindas de altos índices pluviométricos ao longo do rio que influencia diretamente no nível do rio. Os processos de escorregamento de solo na encosta do conjunto residencial foram desencadeados pela ação erosiva provocada pelas águas pluviais. A erosão pluvial é uma das formas mais comuns de degradação do solo e atinge, praticamente, toda a superfície terrestre. Em regiões tropicais, como na cidade de Manaus – AM, onde são registrados altos índices pluviométricos, esse processo erosivo tende a ser mais intenso, sendo mais agravado no período de chuvas que vai de Dezembro a Maio , onde toda a contribuição das águas pluviais é conduzida ao Rio Negro.
Nas proximidades dos Blocos “R” e “Q”, localizados no conjunto residencial, a falta de um sistema de drenagem capaz de direcionar com segurança as águas pluviais subsuperficiais ao Rio Negro, provocou o escorregamento do talude, cuja área foi degradada por processos erosivos, como deslizamentos de terra, um processo clássico que ocorre na região chamado de “voçoroca”, não sendo possível a previsibilidade do fato, pois tais erosões ocorreram internamente no talude, causando a ruptura do maciço de solo a montante, sendo decorrente de rompimento de parte da tubulação do sistema de drenagem da rede pluvial do conjunto residencial, constituída por bueiros tubulares de concreto armado, agravada pela inclinação acentuada do talude cuja altura aproximada é de 45,00 metros.
Além disso, as enxurradas provocadas pelas precipitações na região carregam os materiais superficiais do solo para as áreas mais baixas. Justamente por isso, esse processo é mais significativo nas regiões de maior declividade. Desse modo, a água lixivia os solos, carreando para o rio, nos cursos d’água, os nutrientes disponíveis nele, favorecendo seu empobrecimento, tendo como fator agravante a saturação do solo e aumentando o seu peso específico, facilitando-se assim o descolamento de massa de solo, conforme o ocorrido na encosta.
As manifestações patológicas apresentadas neste presente trabalho são oriundas de processos erosivos, ocasionando comprometimento estrutural no Bloco “R” do conjunto residencial, bem como na infraestrutura da via de acesso. Foi observado o rompimento generalizado do solo das adjacências dessas estruturas, submetendo tais estruturas a riscos de instabilidade. Caso ocorram novos deslizamentos, os danos poderão ser agravados, e, consequentemente, poderão ocorrer perdas patrimoniais, e, desafortunadamente vidas humanas e mais prejuízos ambientais.
Diante do fato, por se tratar de efeitos diretos ao meio ambiente, a ação recomendada é construir estruturas de contenção e estabilização do talude ao longo da encosta vulnerável, bem como a execução de sistemas de drenagem de águas pluviais eficiente, tendo-se como fator relevante para o início das obras, o período de término das chuvas e de início da vazante do Rio Negro, que ocorre anualmente entre os meses junho e agosto.
Portanto, diante do exposto, recomendou-se o início imediato das obras em lide visando reduzir os impactos e prejuízos ao patrimônio da União, evitando, consequentemente danos estruturais; ambientais e humanos. Ressalva-se que a não realização das obras de estabilização do referido talude e dos serviços complementares necessários na área da voçoroca do conjunto residencial, poderia comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos, sob pena de desmoronar as instalações adjacentes àquela voçoroca, com perdas materiais e humanas, caracterizada esta, como uma situação emergencial.
2Realização de atividades de Defesa Civil, objetivo de garantir e preservar a efetivação dos direitos fundamentais, quando estes estão sendo ou poderão ser afetados por um desastre, cumprindo-se então as ações de prevenção, mitigação e resposta da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
3Tal solicitação tem por objetivo a obtenção de licença ambiental junto a esse instituto, conforme preconizam as determinações do Tribunal de Contas da União (TCU), constantes na Cartilha de Licenciamento Ambiental (2a Edição) do TCU.
4Os pavimentos asfálticos são aqueles em que o revestimento é composto por uma mistura constituída basicamente de agregados e ligantes asfálticos. É formado por quatro camadas principais: revestimento asfáltico, base, sub-base e reforço do subleito.
5Em termos técnicos, a nomenclatura mais correta é fissura e trinca, e elas são classificadas conforme o tamanho da sua abertura. Segundo a norma de impermeabilização (NBR 9575:2003), as microfissuras têm abertura inferior a 0,05 mm. As aberturas com até 0,5 mm são chamadas de fissuras e, por fim, as maiores de 0,5 mm e menores de 1,0 mm são chamadas de trincas. O termo rachadura é uma expressão mais coloquial, e utilizado popularmente para se referir a trincas maiores.
APENSO A – RELATÓRIO FOTOGRÁFICO DA VISTORIA TÉCNICA REALIZADA NA RUA E DA INSPEÇÃO PREDIAL NO BLOCO “R” DO CONJUNTO RESIDENCIAL
APENSO A1 – VISTORIA TÉCNICA REALIZADA NA RUA
APENSO A2 – INSPEÇÃO PREDIAL NO BLOCO “R”
APENSO B – RELATÓRIO FOTOGRÁFICO DE ACOMPANHAMENTO DAS OBRAS DE IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM ADEQUADO NO CONJUNTO RESIDENCIAL
APENSO C – RELATÓRIO FOTOGRÁFICO DE ACOMPANHAMENTO DOS SERVIÇOS COMPLEMENTARES
APENSO C1 – REALOCAÇÃO DE POSTE DA REDE ELÉTRICA, LOCALIZADO NAS PROXIMIDADES DO BLOCO “R” CONJUNTO RESIDENCIAL.
APENSO C2 – INSTALAÇÃO DE LONA PLÁSTICA AZUL IMPERMEÁVEL.
APENSO C3 – REALIZAÇÃO DE SONDAGEM A PERCUSSÃO DE “SIMPLES RECONHECIMENTO” (SONDAGEM SPT)
REFERÊNCIAS
BIGARELLA, João J. & MAZUCHOWSKI, Jorge Z (1985). Visão integrada da problemática da erosão: In: Livro Guia do 3º Simpósio Nacional de Controle de Erosão. Maringá: ADEA/ABGE.
FERNANDES, J. A. Estudo da erodibilidade de solos e rochas de uma voçoroca em SÃO VALENTIM, RS. 2011. 127p. Dissertação (Mestre em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Tecnologia, Santa Maria
FERREIRA, R. R. M.; FERREIRA, V. M.; TAVARES FILHO, J. ; RALISCH, R. Origem e evolução de voçorocas em Cambissolos na bacia do alto Rio Grande, Minas Gerais. In: XXXI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 2007, Gramado-RS. Anais, 2007.
GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. (Eds.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 149–209.
MANSTRETTA, G. M. M.; PERILLO, G. M. E.; PICCOLO, M. C. Gully development on the foredune of Pehuén Co (SW Buenos Aires Province, Argentina) and its relationship with rainfall and human activities. Ocean & Coastal Management, v. 242, p. 106678, ago. 2023. Disponível em:< http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.4330065>. Acesso em 01 jago. 2023.
OLIVEIRA, Marcelo A. T. de; VIEIRA, Antônio Fábio G.; POSSAS, Heloisa P.; PAISANI, Júlio C.; LOPES, Lilian J.; LIMA, Maria do Socorro B. de e PONTELLI, Marga E (1996). Evolução de voçorocas e integração de Canais em Áreas de cabeceira de drenagem: município de Resende, RJ. In: I Simpósio Nacional de Geomorfologia. (Anais). Uberlândia: Revista Sociedade & Natureza – EDUFU, p.211-213.
PENA, Rodolfo F. Alves. “Tipos de erosão”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/tipos-erosao.htm. Acesso em 31 de jul. de 2024. PEREIRA, Juliana Sousa. A voçoroca é apenas um buraco na terra?. 2020. Disponível em: http://www.comunica.ufu.br/noticia/2020/06/vocoroca-e-apenas-um-buraco-na-terra. Acesso em: 01 ago. 2024.
PIMENTEL, D. Soil erosion: A food and environmental threat. Environment, Development and Sustainability, v. 8, p. 119–137, 2006. DOI: https://doi.org/10.1007/s10668-005-1262-8. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007/s10668-005-1262-8#citeas>. Acesso em: 01 ago. 2024.
SANTOS, Luana Maria. Erosão em taludes de corte: métodos de proteção e estabilização. 2014. Faculdade de Engenharia e Ciências. Universidade Estadual Paulista. Guaratinguetá – SP.
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WHITE, Robert E. (6 de novembro de 2009). Princípios E Práticas Da Ciência Do Solo: O Solo Como Um Recurso Natural. [S.l.]: Andrei. ISBN 9788574763781.
1http://lattes.cnpq.br/1939180222119572
Bacharel em Engenharia Civil, pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2013); Pós-Graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2016); Pós-Graduada em Política e Estratégia, pela Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra do Amazonas – ADESG/AM (2018); Pós-Graduada em Gestão de Projetos, pela Universidade de São Paulo – USP (2020); e Pós-Graduanda em BIM – Projetos Paramétricos e Design Digital aplicados à Construção Civil, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS) (2023-atual). E-mail: mychayanny@gmail.com