REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202501131244
Blenda Pereira Lopes1
Maitê Lopes Laurentino2
Orientador: Cleyton Caíque de Oliveira Mato3
Coorientador: Aline de Souza Coelho4
RESUMO
Introdução: A sífilis é uma doença infecciosa de relevância mundial, e é considerada um sério desafio para saúde pública, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, O pré-natal é um momento crucial para a detecção e abordagem adequada da sífilis durante a gestação. Objetivo: Realizar uma análise epidemiológica dos casos de sífilis gestacional no município de Vilhena-RO de 2019 a 2023 enfatizando a importância do trabalho do enfermeiro frente ao diagnóstico e tratamento precoce da sífilis gestacional. Metodologia: Foram colhidos dados via DataSUS mais recente para análise, posteriormente os dados foram comparados com revisão literária. Resultado: O total de casos no período analisado foi de 232 casos o que demonstraram maior incidência de casos no ano de 2022 com 70 casos, que equivalem a 30,17% dos casos. Discussão: Os dados epidemiológicos apontaram que entre os anos de 2019 e 2022 houve um aumento nos casos de sífilis, sobretudo o estágio latente. Foi possível identificar que a faixa etária entre 20 e 39 anos teve maior número de casos, corroborando os dados obtidos pelo Ministério da Saúde, esta faixa etária corresponde à maior procura de gestantes pelo pré-natal. Conclusão: O papel do enfermeiro é de suma importância para minimizar o número de casos de sífilis, principalmente a gestacional, o acompanhamento do pré-natal e campanhas de prevenção são importantes ferramentas na erradicação da sífilis no Brasil.
Palavras-chave: Sífilis Gestacional; Enfermeiro; Estudo Epidemiológico.
ABSTRACT
Introduction: Syphilis is an infectious disease of global relevance and is considered a serious public health challenge, affecting millions of people worldwide. Prenatal care is a crucial time for the detection and appropriate management of syphilis during pregnancy. Objective: To conduct an epidemiological analysis of gestational syphilis cases in the municipality of Vilhena-RO from 2019 to 2023, emphasizing the importance of the nurse’s role in the early diagnosis and treatment of gestational syphilis. Methodology: Data were collected via the most recent DataSUS for analysis, and subsequently, the data were compared with a literature review. Results: The total number of cases during the analyzed period was 232, with the highest incidence in 2022, accounting for 70 cases or 30.17% of the total cases. Discussion: The epidemiological data indicated that from 2019 to 2022, there was an increase in syphilis cases, particularly in the latent stage. It was identified that the age group between 20 and 39 years had the highest number of cases, corroborating data obtained from the Ministry of Health, as this age group corresponds to the highest number of pregnant women seeking prenatal care. Conclusion: The nurse’s role is of paramount importance in minimizing the number of syphilis cases, especially gestational syphilis. Prenatal monitoring and prevention campaigns are important tools in eradicating syphilis in Brazil.
Keywords: Gestational Syphilis; Nurse; Epidemiological Study.
INTRODUÇÃO
A sífilis é uma doença infecciosa de relevância mundial, e é considerada um sério desafio para saúde pública, afetando milhões de pessoas em todo o mundo (Brasil, 2022). A doença se torna ainda mais preocupante quando incide em gestantes, pelas consequências causadas ao feto. A transmissão vertical da sífilis, da mãe para o feto, pode resultar em uma série de complicações graves, incluindo a surdez, a cegueira, a deficiência mental e, em casos extremos, o aborto espontâneo ou a morte do recém-nascido. Essas causas podem ser evitadas por meio de medidas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, uma vez que tratada a doença é passível de cura. (Silva et al., 2023).
Teixeira et al. (2023), destaca que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum. A sífilis pode ser transmitida através de relações sexuais desprotegidas, contato com lesões sifilíticas ou da mãe infectada para o feto durante a gestação, caracterizando a Sífilis Congênita.
O pré-natal é um momento crucial para a detecção e abordagem adequada da sífilis durante a gestação. Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel fundamental, atuando de forma integrada em todas as etapas do cuidado. Durante o acompanhamento pré-natal, o enfermeiro realiza a solicitação dos exames sorológicos para sífilis, conforme preconizado pelos protocolos de saúde. Essa prática permite o diagnóstico precoce, possibilitando o tratamento imediato da gestante (Silva et al., 2021).
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o rastreamento e tratamento da sífilis gestacional nas unidades básicas de saúde, sendo o rastreio preconizado pelo ministério da saúde durante o pré-natal. Dentre os testes disponíveis, destacamos o teste treponêmico, ao qual é realizado o exame e resultado durante a consulta de pré-natal. Assim é possível identificar a doença, já na primeira consulta, tornando possível o tratamento precoce da infecção e a sua intervenção terapêutica eficaz. No entanto, a eficácia dessas estratégias depende de diversos fatores, incluindo a conscientização das gestantes, o acesso aos serviços de saúde pública e a notificação e tratamento correto dos casos. (Silva et al., 2023).
Diante de um resultado positivo, o enfermeiro assume a responsabilidade de informar a gestante sobre o diagnóstico, esclarecendo dúvidas e tranquilizando-a quanto ao tratamento. Além disso, orienta sobre a importância do acompanhamento e da adesão ao tratamento, visando a erradicação da infecção e a prevenção da sífilis congênita. Atualmente, a benzilpenicilina benzatina é o medicamento de escolha para o tratamento de sífilis, sendo a única droga com eficácia documentada durante a gestação (Araújo et al., 2020).
Tendo em vista o exposto acima, o objetivo desse estudo é quantificar os casos de sífilis gestacional notificados em Vilhena – RO, entre 2019 a 2023, enfatizando a importância do trabalho do enfermeiro frente ao diagnóstico e tratamento precoce da sífilis gestacional.
METODOLOGIA
Trata-se de uma análise epidemiológica, de caráter exploratório, com abordagem quantitativa ao qual foram analisados dados sobre os casos de sífilis gestacional no município de Vilhena dos anos de 2019 a 2023, destacando a importância do enfermeiro no diagnóstico e tratamento precoce.
O estudo contou com as seguintes variáveis relacionadas aos casos de sífilis gestacional: número de casos totais na série histórica, faixa etária, raça e classificação da sífilis. É importante destacar que tais informações são obtidas no momento do diagnóstico, através da ficha de notificação.
Tal notificação é rotineira na atenção primária à saúde, assim semanalmente as Unidades Básicas de Saúde enviam a epidemiologia as notificações de doenças e agravos, para o trabalho em questão, as notificações de sífilis gestacional. Os dados são disponibilizados ao domínio público pelo Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), após fechamento e envio dos dados por todas as UF.
A coleta de dados foi realizada para o período de 2019 a 2023, no aplicativo TABNET pertencente a plataforma do DATASUS, disponível de forma eletrônica, no mês de abril de 2024. Como critérios de inclusão, foram utilizados os casos de gestantes com sífilis no município de Vilhena dos anos de 2019 a 2023. Sendo considerado critério de exclusão gestantes residentes em outro município ou estado que diagnosticaram a sífilis em Vilhena.
A estatística utilizada para tratamento dos dados coletados foi a descritiva por meio do programa Microsoft Office Excel, os dados foram tabulados por ano de incidência de acordo com as variáveis analisadas, utilizando-se da construção de gráficos e percentual para melhor explanação e demonstração dos dados coletados.
É válido ressaltar que, por mais que se trate de uma pesquisa com dados de agravos e doenças em humanos, não foi necessária a submissão ao comitê de ética e pesquisa uma vez que sua construção foi subsidiada por dados epidemiológicos de acesso público na plataforma digital do DATASUS.
RESULTADOS
Os dados coletados na plataforma do ministério da saúde – Tabnet – DATASUS nos fornecem uma visão abrangente sobre a incidência de sífilis gestacional na cidade de Vilhena-RO, entre os anos de 2019 e 2023. Foram encontrados ao todo o registro de 232 casos neste período estudado, o qual será discriminado a seguir em casos registrado por ano, faixa etária dos casos registrados, classificação da fase da sífilis e raça do indivíduo com sífilis.
O gráfico 1 mostra o número de casos registrados nos diversos anos do período de estudo em Vilhena. O ano com maior acometimento com casos de sífilis foi 2022 com 70 notificações, que equivalem a 30,17% dos casos registrados no período. Em 2021, o número de casos de sífilis foi de 64, o que equivalem a 27,59% dos casos. Em 2020, o número de casos foi de 53 notificações com 22,84% dos casos. Em 2019, foram registrados 24 casos de sífilis, já em 2023, o número de casos foi de 21, o que representa 10,34% e 9,05% dos casos confirmados, respectivamente.
Gráfico 1 – Número de casos de sífilis gestacional em Vilhena-RO de 2019 a 2023.
Fonte: Adaptado: Departamento de Informática do Sistema de Saúde – DATASUS.
A faixa etária das gestantes confirmadas com sífilis gestacional foram separadas em grupos, sendo eles de 10 a 19 anos, 20 a 39 anos, 40 a 59 anos e mais de 60 anos de idade, conforme apresentado no gráfico 2. A maior incidência de casos ocorre na faixa etária de 20 a 39 anos de idade, com 182 casos de sífilis, o que representa 78,45% dos casos registrados no período. A faixa etária de 10 a 19 anos apresentou 49 casos, o que representa 21,12% dos casos registrados. Na faixa etária de 40 a 59 anos, foi registrado 1 caso que corresponde a 0,43% do número total de casos. Não houve registro de sífilis no grupo de faixa etária de mais de 60 anos.
Gráfico 2 – Número de casos por faixa etária de Sífilis Gestacional em Vilhena-Ro de 2019 a 2023.
Fonte: Adaptado: Departamento de Informática do Sistema de Saúde – DATASUS.
No gráfico 3 estão os resultados sobre a classificação dos casos de Sífilis Gestacional, considerando seu estágio, na cidade de Vilhena – RO entre os anos de 2019 e 2023. Foram considerados as fases da sífilis latente, primária, secundária, terciária ou se essa classificação no momento da notificação em relação à fase foi ignorada. Foram registrados 129 casos de sífilis latente, que correspondem a 55,60% dos casos. A sífilis primária obteve o registro de 43 casos, o que corresponde a 18,53% dos casos totais registrados. A fase terciária da sífilis foi responsável por 35 casos, o que corresponde a 15,09% dos casos. Houve casos em que a fase da sífilis não foi discriminada, sendo estas tratadas como ignoradas, e representou 22 casos, o que corresponde a 9,48% de todos os casos registrados. A fase secundária apresentou o número de casos igual a 3, o que representa 1,29% dos casos registrados.
Gráfico 3 – Classificação dos Casos de Sífilis Gestacional em Vilhena-RO de 2019 a 2023.
Fonte: Adaptado: Departamento de Informática do Sistema de Saúde – DATASUS
O gráfico 4 classifica as gestantes com sífilis gestacional em Vilhena – RO no período de 2019 a 2023 quanto à raça, sendo elas: branca, preta, amarela, parda, indígena ou se essa classificação em relação a etnia foi ignorada. O grupo de mulheres que se identificam como pardas apresentou 131 registros de casos de sífilis, representando 55,50% dos casos. Em mulheres que se identificam como brancas, houve um total de 72 registros de sífilis, representando 30,50% dos casos. O grupo que se identifica como pretos registrou 10 casos de sífilis, ou 4,20% dos casos registrados. Já o grupo que se identifica como amarelos apresentou 5 casos de sífilis, o que corresponde a 2,10%. A parcela de registros ignorados corresponde ao total de 18 casos, o que representa 7,60% do total registrado. O grupo indígena não apresentou casos registrados no período do presente estudo.
Gráfico 4 Raça das Gestantes com Sífilis Gestacional em Vilhena-RO de 2019 a 2023.
Fonte: Adaptado: Departamento de Informática do Sistema de Saúde – DATASUS
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos mostraram variações nos casos de Sífilis gestacional em pacientes residentes no município de Vilhena – RO, quanto à incidência da doença nos perfis pesquisados: os diversos número de casos totais, faixas etárias, as raças e quanto a classificação da sífilis. Os dados obtidos pela Plataforma DATASUS demonstram que, apesar da queda no número de casos, observada principalmente em 2023, a abordagem do assunto é de relevância, dado o alto índice da doença em gestantes e o impacto que causa nas pessoas acometidas. Os dados obtidos ressaltam a importância do profissional de Enfermagem no acompanhamento da gestante nos sistemas de saúde, já que é esse profissional que faz a triagem, ou seja, tem o primeiro diálogo com as pacientes, atuando como um multiplicador de saúde (Da Silva, et al.).
Observa-se uma variação no número de notificações de casos. Em 2019 era de 24 (vinte e quatro) e em 2023 foi de 21 (vinte e um) casos, no entanto nos anos de 2020, 2021 e 2022 houve um avanço exponencial no número de casos. A temática necessita ser tratada com maior prudência, pois a variação nos números pode ocorrer de um ano para o outro e comprometer a saúde. Notou-se que a meta do Ministério da Saúde, para a eliminação de doenças sexualmente transmissíveis no Brasil, sobretudo a Sífilis Congênita, é de um percentual de 95% ou mais de tratamento adequado (Brasil, 2023). A adequação no tratamento advém dos cuidados da enfermagem dando assistência pré-natal adequada e precoce, com ações educativas, resultando em diagnóstico e tratamento eficiente (Amthauer, 2023).
No período analisado, o número de casos de sífilis em gestantes de Vilhena – RO apresentou prevalência na faixa etária de 20 a 39 anos, concordando com o número de casos do Brasil, com uma maior taxa nessa faixa etária. Esse crescente número pode estar relacionado ao número de testagem de gestantes que procuram os serviços de saúde para realização do pré-natal, conforme preconiza o Boletim informativo do Ministério da Saúde (Brasil, 2023). Esses serviços oferecem “a toda gestante uma assistência pré-natal adequada, com captação precoce e vinculação da gestante nos serviços de assistência pré-natal, oferta de testagem para sífilis no primeiro e no terceiro trimestres da gestação” (Brasil, 2023).
Observa-se que quanto mais assistida a gestante estiver maior será o grau de proteção à própria gestante e ao recém-nascido, decorre disso, a necessidade de maior abrangência de testagem ampliando a triagem nesse público-alvo. Segundo Santos Filho, et.al. (2021), a maior incidência nessa faixa etária “mostra o início cada vez mais precoce da atividade sexual e, por outro, devido à abrangência diagnóstica, mostra uma atenção especial por parte da saúde pública para a população jovem”. O público jovem, conforme demonstrado na pesquisa, apresenta-se bastante vulnerável aos riscos de contaminação pela bactéria Treponema pallidum, também relacionado ao comportamento sexual, na faixa etária.
O papel da equipe profissional de enfermagem no processo de diagnóstico e tratamento precoce da sífilis, colocando em prática os protocolos da Sistematização de Atendimento da Enfermagem (SAE) (Coren, 2016) para o atendimento às gestantes, colabora para uma gravidez com menos riscos para a mãe e o recém-nascido.
A SAE (Coren, 2016) traz em seu artigo segundo as cinco etapas nas quais o Processo de Enfermagem organiza-se: “Art. 2º O Processo de Enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: I – Coleta de dados de Enfermagem. II – Diagnóstico de Enfermagem. III – Planejamento de Enfermagem. IV – Implementação. V –
Avaliação de Enfermagem.” Notadamente, essas cinco etapas são fundamentais no atendimento às gestantes para possibilitar a saúde e qualidade de vida gestacional.
O enfermeiro exerce importante papel no tratamento da sífilis, sendo citado como os principais profissionais da saúde juntamente aos médicos e a comunidade. (Báfica, et al., 2021) A autora cita em seu trabalho que o município de Florianópolis – SC, houve aumento do uso de penicilina no tratamento da sífilis, partindo de 15% no ano de 2016 para 39,1% no ano de 2018, sendo este aumento responsabilidade das ações da equipe de enfermagem, que levou a uma quebra no ciclo de infecção evidenciada pela redução do ritmo de crescimento, seguido de diminuição do número de casos de sífilis.
Em relação à classificação dos casos de sífilis em gestantes, houve o predomínio da forma latente, superando todas as outras formas com um total de mais de 50% dos casos analisados. Nesses casos, a doença é diagnosticada, mas não apresenta sinais ou sintomas, sendo diagnosticada com exames laboratoriais feitos pelas gestantes, no pré-natal. Desta forma apresenta-se a sífilis primária, ou seja, a doença encontra-se no primeiro estágio clínico, quando ocorre a detecção da doença. Esse estágio dura entre duas a seis semanas e pode ocorrer a cicatrização das feridas e a pessoa parecer saudável. Os dados do DATASUS para Vilhena -RO demonstraram que essas duas classificações da sífilis em gestantes foram as que tiveram maior número de casos.
Os casos de sífilis secundária e terciária também foram relevantes no período analisado. Os casos ignorados foram 22, os quais sabe-se que as pessoas foram testadas positivas para a sífilis na gestação, mas, os dados do DATASUS não apresentam informações complementares sobre esses casos.
Vieira (2020) analisou o perfil sociodemográfico, epidemiológico e evolução da sífilis no município de Ferraz Vasconcelos – SP, no ano de 2019 e quanto as fases da sífilis, encontrou predominância da fase latente (25%), seguido de primária (22,2%) e terciária (8,3%), corroborando com os dados obtidos neste trabalho. Houve diferença quanto ao número de casos ignorados ou não informados, sendo que neste trabalho esses casos foram os menores (7,6%) enquanto no trabalho de Vieira (2020) foram os maiores registros com 38,9%. O mesmo padrão de classificação clínica foi encontrado por Rebouças et al. (2023), investigando o período de 2011 a 2021 no município de Imperatriz – MA, onde o maior número de casos encontrado foi o latente (66,62%), seguido de primária (21,87%) e terciária (2,30%).
Vieira (2020) aborda a falta de preenchimento da ficha epidemiológica como causa do alto número de casos ignorados e cita como consequência o comprometimento das decisões terapêuticas a serem tomadas. O autor conclui ainda que treinamento e capacitação dos profissionais podem solucionar este problema. Rebouças et al. (2023) sugere que o alto número de casos latentes está relacionado a uma incorreta classificação, visto que na fase primária os sinais são frequentemente encontrados na genitália que são por vezes negligenciados na avaliação.
Analisou-se, também, os dados referentes a como as pessoas autodeclaram-se quanto a sua raça no momento de coleta de exames para a testagem. Segundo os dados em análise, a grande maioria, autodeclaram-se como pardas com um total de 181 registros (55,5%) dos casos. Estudos indicam que predominantemente a raça parda apresenta maior número de casos de sífilis gestacional, seguidos da raça branco, como o trabalho de Da Costa et al. (2023), em seu estudo da sífilis gestacional na cidade de Altamira – PA no período de 2017 a 2021, no qual obteve 96,5% dos casos em mulheres da raça parda e Rebouças et al. (2023), que encontrou 82,01% de casos em mulheres de raça parda, em acordo ao observado no presente estudo.
O enfermeiro possui papel fundamental no pré-natal, pois é este profissional que é capacitado para realizar a triagem das informações da gestante. O trabalho realizado por Silveira et al. (2020) abordou uma revisão da importância do enfermeiro na inserção de dados do parceiro no pré-natal e do tratamento das gestantes com sífilis, apontando que o enfermeiro encontra dificuldades principalmente em relação a não adoção do tratamento por parte do parceiro e pela possibilidade de haver mais de um parceiro sexual. Ainda segundo este estudo, o profissional de enfermagem deve ser orientado sobre o protocolo do Ministério da Saúde sobre a sífilis, para realizar a correta abordagem ao parceiro da gestante, visto que é este profissional que está na triagem do pré-natal.
Abreu et al. (2023) concluiu em seu trabalho a importância do enfermeiro no tratamento da sífilis gestacional, indicando ainda que há desafios a serem superados por estes. Pode-se citar o acompanhamento tardio do pré-natal, falta de compreensão da doença e não tratamento do parceiro, levando a reinfecção da gestante como os principais desafios enfrentados pelo enfermeiro. Sugere-se que os profissionais sejam capacitados para realizar ações de prevenção, bem como efetuar o melhor acompanhamento do pré-natal, incluindo neste ponto ações com os parceiros para orientação e tratamento da doença (Abreu et al., 2023; Silveira et al., 2023).
CONCLUSÃO
A sífilis na gestação representa um sério agravo à saúde tanto da gestante quanto do recém-nascido, exigindo atenção especial devido à sua relevância ao longo do tempo. Entre 2019 a 2023, os casos foram aumentando, mantendo-se relativamente constante, com uma diminuição significativa no último ano analisado (2023). A maior incidência foi observada em jovens de 20 a 39 anos, destacando a necessidade de políticas públicas direcionadas a esse grupo. Além disso, muitos casos em gestantes foram identificados como latentes ou primários, muitas vezes descobertos apenas através de exames no pré-natal. Destaca-se também que a maioria das gestantes acometidas se autodeclararam pardas, corroborando estudos que indicam maior prevalência da doença nessa população
O trabalho da equipe de enfermagem na atenção primária a saúde, voltada ao atendimento das gestantes torna-se fundamental para a diminuição dos casos de doentes, e consequentemente da possibilidade de recém-nascidos serem contaminados no parto. A triagem, os diálogos dos enfermeiros com as pacientes, levando conhecimento, esclarecimentos acerca da doença, através de um pré-natal de qualidade fará com que cada vez mais as mulheres recebam informações sobre como agir na vida sexual, diminuindo substancialmente os casos.
Desse modo, esse trabalho contribui para o processo de conscientização para uma vida sexual saudável, levando à diminuição do agravo. Capacitar a equipe de enfermagem é outra ação possível, pois esses profissionais atuam diretamente com as gestantes e os recém-nascidos.
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1Acadêmico do curso de Bacharelado em Enfermagem das Faculdades Integradas
Aparício Carvalho – FIMCA/Vilhena
2Acadêmico do curso de Bacharelado em Enfermagem das Faculdades Integradas
Aparício Carvalho – FIMCA/Vilhena
3Orientador – Enfermeiro especialista em Enfermagem Obstétrica
4Coorientador – Enfermeira especialista da Saúde da Família e Comunidade.