ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS DAS REGIÕES DE SAÚDE DO ESTADO DO TOCANTINS: SUA INCIDÊNCIA E SUA GRAVIDADE NOS ANOS DE 2019 A 2022.

EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS OF ACUTE DIARRHEAL DISEASES IN THE HEALTH REGIONS OF THE STATE OF TOCANTINS: THEIR INCIDENCE AND SEVERITY FROM THE YEARS 2019 TO 2022.

REGISTRO DOI: 0.5281/zenodo.10699352


George Antonios Ferreira Issa Haonat1; Renata de Andrade Marques1; Camila Magalhães de Melo1; Elaine Cristina Gomes da Silva1; Orientador: Daniel Borini Zemuner2


Resumo

Este estudo investiga a epidemiologia das Doenças Diarreicas Agudas (DDA) no Estado do Tocantins, Brasil, de 2019 a 2022, enfatizando sua associação com condições socioeconômicas desfavoráveis e seu papel como causa significativa de morbimortalidade. Método: O artigo usa uma abordagem quantitativa descritiva baseada em dados secundários do Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica das DDA e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH). Objetivo: O estudo visa mapear o perfil epidemiológico das DDA no estado e analisar a incidência dessas doenças nas oito regiões de saúde do Tocantins (Capim Dourado, Ilha do Bananal, Cantão, Amor Perfeito, Sudeste, Médio Norte Araguaia, Bico do Papagaio e Cerrado Tocantins Araguaia), comparando-as com estatísticas nacionais, para identificar áreas de risco e orientar intervenções eficazes. Resultado: Pode-se observar um maior índice de internações naqueles menores de 10 anos; uma maior incidência de internações por DDA no Tocantins em relação ao Brasil, assim como a presença de um perfil epidemiológico desfavorável, considerando potencial de complicações e internações no Estado. Considerações Finais: Após análise de dados foi apurado que o Tocantins o tem piores indicadores em comparação com o Brasil e as microáreas: “Amor Perfeito”, “Médio Norte Araguaia” “Bico do Papagaio” e “Cerrado Tocantins Araguaia” apresentam piores indicadores em relação à média estadual e nacional na questão de incidência e que as microáreas: “Ilha do Bananal”, “Médio Norte Araguaia”, “Cerrado Tocantins Araguaia” e “Capim Dourado” apresentam as maiores taxas de internação. sendo necessário um plano de ação direcionado a essas áreas a fim de melhorar as métricas observadas.

Palavras-chave: Diarreia. Tocantins. Saúde Pública. Incidência. Brasil.

Abstract

This study investigates the epidemiology of Acute Diarrheal Diseases (ADD) in the State of Tocantins, Brazil, from 2019 to 2022, emphasizing its association with unfavorable socioeconomic conditions and its role as a significant cause of morbidity and mortality. Method: The article employs a descriptive quantitative approach based on secondary data from the Computerized Epidemiological Surveillance System of ADD and Hospital Information Systems. Objective: The study aims to map the epidemiological profile of ADD in the state and analyze the incidence of these diseases in the health regions of Tocantins (Capim Dourado, Ilha do Bananal, Cantão, Amor Perfeito, Sudeste, Médio Norte Araguaia, Bico do Papagaio, and Cerrado Tocantins Araguaia), comparing them with data from Palmas and national statistics, to identify risk areas and guide effective interventions. Results: A higher rate of hospitalizations was observed in those under 10 years of age; a worse incidence rate and hospitalizations due to ADD in Tocantins compared to Brazil, as well as the presence of an unfavorable epidemiological profile, considering the potential for complications and hospitalizations in the State. Final Considerations: After data analysis, it was found that Tocantins lags behind in most of the indices analyzed compared to Brazil, and the micro-areas: “Amor Perfeito,” “Médio Norte Araguaia,” “Bico do Papagaio,” and “Cerrado Tocantins Araguaia” show worse indicators in terms of incidence compared to the state and national average. Furthermore, the micro-areas: “Ilha do Bananal,” “Médio Norte Araguaia,” “Cerrado Tocantins Araguaia,” and “Capim Dourado” have the highest hospitalization rates. Therefore, a targeted action plan is necessary for these areas to improve the observed metrics.

Keywords: Diarrhea. Tocantins. Public Health. Incidence. Brazil.

1. INTRODUÇÃO

A Doença Diarreica Aguda é um problema de saúde pública que afeta diversas regiões do Brasil e do mundo, em especial nos locais com predomínio socioeconômico e ambiental mais precário (BRANDT, ANTUNES & SILVA, 2015)².

Ela é caracterizada pela diminuição da consistência das fezes, aumento do número de evacuações; em determinados casos, pode haver disenteria (muco e sangue nas fezes), são normalmente autolimitadas com duração média de até 14 dias (GOIÁS, 2015)⁸, afeta indivíduos de todas as idades, principalmente naqueles menores de cinco anos, sendo causador de um número significativo de internações entre indivíduos dessa faixa etária (SILVA, BORGES & MENEZES, 2021)¹³.

O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 pela Organização das Nações Unidas, assegura a todos um padrão de vida que proporcione um bem-estar. Com isso em mente, este trabalho tem como objetivo a análise do perfil epidemiológico das doenças diarreicas agudas nas regiões de saúde do Estado do Tocantins, um problema que tem sua morbimortalidade elevada naquelas populações em extrema pobreza (BÜHLER et al, 2010)⁶ essas que por conta dessa realidade acabam não tendo um padrão de vida adequado para um bem-estar social, indo contra os Direitos Humanos.

Tendo isso em vista, ao analisar tal questão epidemiológica esperamos ampliar a ótica em relação a essa problemática, de forma que os dados aqui expostos chamem atenção para aquelas regiões que necessitam de maior ajuda do Sistema Único de Saúde, no manejo das DDA, visto que apesar dos óbitos decorrentes dessa condição tenham diminuído de forma geral nos últimos anos, ainda existe um aumento de internações dependente da localização geográfica (OLIVEIRA & LATORRE, 2010)¹¹.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

As Doenças Diarreicas Agudas são uma das principais causas de morbimortalidade em todo o mundo, especialmente em países em desenvolvimento. Sendo caracterizada pela ocorrência de, no mínimo, 3 episódios de diarreia em 24 horas, com diminuição da consistência das fezes, aumento do número de evacuações, que, geralmente, manifesta-se com um quadro súbito em resposta, principalmente a estímulos associados a agentes infecciosos e com duração autolimitada de até, 2 semanas. Pode causar desconforto e desidratação, podendo estar acompanhada de alguns sintomas como: Cólicas abdominais; Dor abdominal; Febre; Sangue ou muco nas fezes; Náusea; Vômitos; (BRASIL, 2021)⁴.

As DDAs são desencadeadas e influenciadas por um conjunto de fatores que se relacionam a condições de saúde que envolvem diversos fatores como individual, determinantes sociais, econômicos, culturais e ambientais. Dos fatores apresentados, ela está associada, principalmente, a habitações precárias e falta de saneamento, tendo impacto negativo ambiental (AGUIAR et al, 2020)¹

No que se refere à fisiopatologia das diarreias, elas podem ser classificadas de acordo com cinco mecanismos básicos, podendo ocorrer concomitantemente em alguns casos (DANI & PASSOS, 2011)⁷

  1. Diarreia Secretora: Pode ser resultante da hipersecreção de água e eletrólitos pelos enterócitos, devido à ação das enterotoxinas bacterianas, ou resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos (Ex.: gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinóide, na cólera pancreática, no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo).
  2. Diarreia Osmótica: É determinado fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico, pelo processo de digestão. Ex.: Deficiência de dissacaridases, ou ingestão de agentes osmoticamente ativos (lactulose, manitol, sorbitol e sais de magnésio) apresentam distúrbio da digestão que mantém um conteúdo hiperosmolar, determinando a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente a diarreia.
  3. Diarreia Motora: É o que ocorre nas enterocolopatias funcionais, doenças metabólicas e endócrinas, ocasionando alterações motoras com trânsito intestinal acelerado. Pode surgir, também, pela diminuição da área absortiva, devido a ressecções intestinais ou fístulas enteroentéricas.
  4. Diarreia Exsudativa/Inflamatória: Decorrente de patologias ocasionadas por lesões da mucosa, como resultado de processos inflamatórios ou infiltrativos. Eles podem gerar perdas de sangue, muco e/ou pus, com o aumento do volume e da fluidez das fezes. Ex.: doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal.
  5. Diarreia Disabsortiva: Ocasionadas, devido a deficiências digestivas ou lesões parietais do intestino delgado, como consequência, impedem a correta digestão ou absorção, o que pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares

Outra forma de classificação dessa patologia é quanto ao tempo de evolução, sendo ela de maior relevância, no que diz respeito à prática clínica, sendo dividida em crônica, subaguda e aguda, esta apresentando duração máxima de 14 dias, sendo a mesma o foco deste estudo.

A principal complicação dessa enfermidade é a desidratação e por consequência seu principal foco de tratamento é realizado conforme sua presença e gravidade, seguindo os Planos A,B e C:

  • Plano A: Para casos de diarréia sem sinais de desidratação. Envolve reidratação oral, manutenção da alimentação e orientações sobre sinais de alerta.
  • Plano B: Para casos com sinais de desidratação leve a moderada. Inclui a dministração de solução de reidratação oral (SRO) e manutenção da alimentação.
  • Plano C: Para casos de desidratação grave. Necessita de reidratação intravenosa, acompanhamento médico e, às vezes, internação hospitalar. Além disso, é importante identificar e tratar a causa específica da diarreia, como infecções bacterianas ou parasitárias.

Para controlar e monitorar doenças diarreicas, o Brasil adotou várias medidas. Em resposta à 7ª pandemia de cólera de 1991, foi criada a Coordenação Nacional de Doenças Entéricas, para analisar a situação das doenças diarreicas e propor ações de controle. Em 1994, iniciou-se a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA), um processo sistemático de coleta, consolidação e análise de dados para detectar alterações na saúde da população e no ambiente, visando oferecer medidas preventivas, controlar e avaliar o impacto das ações contra as DDAs. (BRASIL, 2010)⁵

Estudos sobre as Doenças Diarreicas Agudas (DDAs) em diferentes partes do Brasil sublinham a relevância da análise epidemiológica. Uma pesquisa em Palmas, Tocantins, de 2015 a 2020, comparou os dados locais com os estaduais e nacionais, registrando aproximadamente 68.202 casos de DDA, com 2 resultando em morte. Observou-se maior prevalência em indivíduos acima de 10 anos. Entre 2015 e 2017, a incidência anual de DDAs por mil habitantes em Palmas foi superior às taxas do estado e do país, com 2016 marcando um aumento de 95% e 203% em relação às taxas estadual e nacional, respectivamente. (SILVA, BORGES & MENEZES, 2021)¹³

Outro estudo realizado no Distrito Federal de 2003 a 2012, focando em crianças menores de 10 anos, registrou 829.306 casos de doenças diarreicas, com 67% desses casos afetando a faixa etária em estudo. A maioria dos casos ocorreu em crianças de 1 a 4 anos (60%), mas a maior incidência foi observada em menores de 1 ano. Durante o período, a taxa de hospitalização foi de 4,3 por 1.000 crianças menores de 10 anos, e houve 87 óbitos relacionados à diarreia. O estudo mostrou uma diminuição na taxa de mortalidade no Distrito Federal em comparação com regiões mais desenvolvidas do país (MENEGUESSI et al., 2015)¹⁰.

Esses estudos demonstram a importância de investigar a incidência e a gravidade das doenças diarreicas agudas em diferentes regiões e faixas etárias, bem como analisar os planos de tratamento adotados e os fatores socioambientais que podem influenciar o desenvolvimento dessas doenças. A análise epidemiológica das DDA nas regiões de saúde do Estado do Tocantins entre 2019 e 2022 buscará ampliar esse conhecimento e fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas voltadas à prevenção e ao tratamento dessas doenças.

3. METODOLOGIA

A metodologia deste estudo foi elaborada visando atender aos objetivos propostos e garantir a validade e confiabilidade dos resultados obtidos. A seguir, descrevemos detalhadamente os aspectos metodológicos e seus respectivos subtópicos.

3.1 Desenho e Tipo de Estudo

Este estudo segue uma metodologia quantitativa e descritiva, utilizando dados secundários para analisar as Doenças Diarreicas Agudas nas regiões de saúde do Estado do Tocantins entre 2019 e 2022, considerando as diferentes faixas etárias e as diferenças entre estes dados e os dados nacionais. Para isso, serão usados casos de DDA notificados no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica de Doenças Diarreicas Agudas, bem como notificações de internação por DDA no Sistema de Informação Hospitalar.

A escolha dessa abordagem metodológica se dá pela possibilidade de analisar informações já disponíveis em registros oficiais de notificações relacionadas a DDA nas regiões de saúde dos Tocantins, permitindo uma análise detalhada do panorama epidemiológico das DDA e a identificação de fatores associados à ocorrência e gravidade dessas doenças, assim como a identificação de possíveis regiões e grupos de risco que necessitem de maior apoio.

3.2 População de estudo

A população de estudo compreende todos os casos de DDA notificados nas regiões de saúde do Estado do Tocantins no período de 2019 a 2022, onde a amostra serão os casos notificados através da MDDA nas 8 regiões de saúde do Estado. A escolha deste período se deve à disponibilidade de dados e ao interesse em analisar a evolução recente das DDA na região, permitindo uma comparação com a incidência nacional e a identificação de tendências e mudanças no perfil das DDA.

3.2.1. Critérios de Inclusão

Todos os casos de DDA notificados nas regiões de saúde do Estado do Tocantins no período de 2019 a 2022 serão incluídos na análise. A inclusão de todos os casos notificados torna a amostra estudada representativa e abrangente, além de permitir a análise de diferentes aspectos relacionados à ocorrência e gravidade das doenças, como a distribuição por faixa etária e regiões de saúde.

3.2.2. Critérios de Exclusão

Não há critérios de exclusão para este estudo, uma vez que o objetivo é analisar todos os casos notificados de DDA no período e nas regiões de saúde do Estado do Tocantins.

3.3 Local e Período (do estudo)

O estudo será realizado nas regiões de saúde do Estado do Tocantins, localizado na Região Norte do Brasil, no período de 2019 a 2022. O Tocantins, criado em 1988, é o mais novo dos 26 estados brasileiros e possui uma área de aproximadamente 277.620 km², apresentando uma população estimada de 1.590.248 habitantes no ano de 2020 (IBGE, 2020)⁹.

O estado possui oito regiões de saúde, definidas pela Comissão Intergestora Bipartite (CIB), sendo: Capim Dourado, Ilha do Bananal, Cantão, Amor Perfeito, Sudeste, Médio Norte Araguaia, Bico do Papagaio e Cerrado Tocantins Araguaia (SES-TO, 2020)¹².

As regiões de saúde do Estado do Tocantins foram estabelecidas com base no Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e dispõe sobre a organização do Sistema Único de Saúde, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa (BRASIL, 2011)³.

Conforme o decreto, as regiões de saúde são “espaços geográficos contínuos constituídos por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitados a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, para integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde” (BRASIL, 2011)³. Assim, as regiões de saúde do Tocantins foram criadas considerando fatores geográficos, culturais, econômicos e sociais, visando otimizar a organização e a prestação de serviços de saúde no estado.

O Estado do Tocantins apresenta certas características socioeconômicas e ambientais, como um baixo Índice de Desenvolvimento Humano em comparação à média nacional e uma grande diversidade de ecossistemas, como o Cerrado, a Amazônia e o Pantanal (IBGE, 2020)⁹. Esses fatores podem influenciar a incidência e a gravidade das doenças diarreicas agudas na região, justificando a importância de analisar a situação epidemiológica dessas doenças nas regiões de saúde do Estado.

O período de 2019 a 2022 foi escolhido devido à disponibilidade de dados atualizados e ao interesse em analisar a evolução recente das DDA na região, possibilitando uma comparação com a incidência nacional e a identificação de tendências e mudanças no perfil dessas doenças.

3.4 Instrumentos de coleta de dados

Um dos instrumentos usados para coletar dados neste estudo é o Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica das Doenças Diarreicas Agudas (SIVEP-DDA). Este sistema é composto por dados obtidos nas Unidades de Saúde mediante notificações. O SIVEP-DDA tem como principal objetivo monitorar a incidência e a prevalência das doenças diarreicas agudas, visando auxiliar ações de prevenção, controle e tratamento.

Para obter dados relevantes do SIVEP-DDA, serão aplicados os seguintes filtros aos dados:

  • Casos de DDA por faixa etária, região e ano: Essa avaliação possibilitará a identificação da distribuição etária dos casos de DDA, bem como a sazonalidade e a variação regional e temporal.
  • Casos de DDA por plano de tratamento (A, B ou C), região e ano: A análise desses dados permitirá avaliar as intervenções terapêuticas aplicadas aos pacientes com DDA, permitindo uma análise da gravidade dos casos.
  • Casos de DDA por região e ano: Essa análise fornecerá dados sobre a dinâmica temporal e a distribuição geográfica dos casos de DDA, o que ajudará a identificar os padrões e as tendências epidemiológicas.

Ainda, o Sistema de Informação Hospitalar será usado como outra fonte de dados, com os seguintes filtros aplicados:

  • Internações por Unidade da Federação por DDA segundo faixa etária: Esse tipo de análise permitirá identificar o perfil das internações por DDA em cada estado e analisar a distribuição etária dos pacientes internados.
  • Internações por por DDA segundo faixa etária nas regiões de saúde do Tocantins e no Brasil: Essa análise proporcionará informações detalhadas sobre a demanda por serviços hospitalares relacionados às DDA nas diferentes regiões de saúde do estado, permitindo avaliar a adequação e a capacidade dos serviços de saúde para atender a população afetada.

3.5 Variáveis do estudo

Neste estudo, diversas variáveis serão consideradas para analisar os dados epidemiológicos das Doenças Diarreicas Agudas nas regiões de saúde do Estado do Tocantins no período de 2019 a 2022. As variáveis selecionadas abordam aspectos demográficos, geográficos, clínicos e socioambientais, permitindo uma análise ampla e detalhada do tema. As variáveis do estudo incluem:

Região de saúde: As regiões de saúde do Estado do Tocantins serão analisadas para identificar diferenças na incidência e gravidade das DDA entre as diferentes áreas geográficas.

Unidades da Federação: A incidência de DDA no Estado do Tocantins será comparada com a incidência nacional e em outras unidades da federação, permitindo uma análise contextualizada da situação epidemiológica no estado.

Faixa etária: A faixa etária dos pacientes afetados pelas DDA será considerada para avaliar a evolução das doenças diarreicas agudas por grupo etário e identificar populações vulneráveis.

Plano de tratamento utilizado: Os planos de tratamento utilizados nos casos de DDA (classificados em A, B ou C) serão analisados para identificar a gravidade dos casos e comparar as práticas de tratamento no Estado do Tocantins com as adotadas no âmbito nacional.

Número de internações: O número de internações hospitalares por DDA no período avaliado será analisado por faixa etária, permitindo avaliar a demanda por serviços de saúde relacionados a essas doenças.

A distribuição temporal dos casos de DDA será analisada para identificar possíveis padrões sazonais e tendências ao longo do período de estudo.

3.6 Procedimentos para a Coleta de Dados

A coleta de dados para este estudo será realizada com base nas informações disponíveis no site Tableau Public, que utiliza como fonte o Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológico das Doenças Diarreicas Agudas, além de extrair dados sobre a internação por DDA diretamente do Sistema de Informação Hospitalar. O foco da análise será nos dados referentes ao Estado do Tocantins, separados e agrupados segundo os municípios que compõem cada região de saúde, o município de Palmas e os demais Estados. O processo de coleta de dados seguirá os seguintes passos:

  1. Acesso aos sistemas de informações: Inicialmente, será acessado os sistemas de informações relevantes para a coleta de dados, incluindo o Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológico das Doenças Diarreicas Agudas e o Sistema de Informação Hospitalar.
  2. Extração de dados do SIVEP-DDA: Após obter acesso ao SIVEP-DDA, serão aplicados os filtros descritos na seção “Instrumentos de coleta de dados” para extrair informações sobre a ocorrência de casos de DDA.
  3. Extração de dados do Sistema de Informação Hospitalar: Com o acesso ao Sistema de Informação Hospitalar, serão coletados dados sobre internações por DDA, aplicando os filtros específicos mencionados na seção “Instrumentos de coleta de dados”.
  4. Análise de dados: Com os dados coletados e validados, será realizada a análise descritiva e inferencial das informações, conforme os objetivos específicos do estudo

.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após uma pesquisa detalhada sobre o tema e a verificação dos materiais disponíveis no período de 2019 a 2022, é visível uma concentração da proporção de internações por DDA em pacientes menores de 10 anos, sendo a faixa etária de 1 a 4 anos proeminentemente a mais internada em todo o Brasil, no Tocantins e em suas microrregiões de saúde.

Com isso em mente podemos afirmar que uma maior incidência proporcional nesse grupo etário indicaria um perfil epidemiológico desfavorável, visto que essa faixa etária está mais propensa a ter uma forma grave da doença, refletindo em uma maior morbimortalidade e consequentemente, um aumento de gastos públicos.

Pensando nisso, este estudo analisou a proporção de incidência por faixa etária no Tocantins, em suas microrregiões de saúde e no Brasil, com o objetivo de visualizar a presença ou não de um perfil epidemiológico mais desfavorável no quesito evolução da doença e posterior internação.

Após análise de dados percebe-se que a partir de 2020 o Tocantins se apresentou de forma desfavorável nesse cenário (estudo) em comparação com o Brasil como um todo. Além disso, de todas as regiões do país, a Norte foi a que obteve pior perfil epidemiológico, apresentando uma maior proporção de casos concentrados na faixa etária mais propensa a internações (Idade < 10 anos). Em uma análise intraestadual das microrregiões de saúde do Tocantins identifica-se que no período avaliado mais recente (2022), apenas a microrregião “Capim Dourado” apresentou um resultado superior ao nacional.

Ainda aprofundando-se nos fatores relacionados à internação, analisamos a taxa de internação a cada 100 mil habitantes, em que o Tocantins de forma geral apresenta uma proporção menor que a nacional. No entanto, as microrregiões Ilha do Bananal, Médio Norte Araguaia, Cerrado Tocantins Araguaia e Capim Dourado apresentam taxas maiores que as nacionais.

Continuando, efetuamos a análise da incidência de DDA a cada 100 mil habitantes, notando-se que a partir do período de 2020, a incidência do estado do Tocantins supera a nacional com grande margem. Em uma análise intraestadual podemos perceber que a incidência ao longo de todo o período analisado das regiões “Amor Perfeito”, “Médio Norte Araguaia” e “Bico do Papagaio” apresentam-se consideravelmente maiores que a incidência estadual, também é visível que mais recentemente em 2022 a região “Cerrado Tocantins Araguaia” apresentou piora significativa nessa métrica, sendo claro a necessidade de uma maior atenção dos órgãos públicos a essas áreas.

Por fim, analisaremos a proporção de plano terapêutico empregado no tratamento da DDA no Tocantins e no Brasil, em que nesse quesito o Estado se sobressai positivamente em relação ao país, apresentando uma menor proporção de uso do Plano C (reservado para casos de desidratação mais grave) e uma maior proporção utilização do Plano A (reservado para os casos mais leves). Tendo isso por base, poderíamos inferir que isso deve-se ao diagnóstico precoce e maior facilidade de acesso às Unidades de Saúde, o que, por consequência, levaria a um tratamento precoce, evitando uma possível piora do quadro e posterior necessidade de um plano terapêutico destinado a casos mais graves.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o que foi previamente analisado sobre as Doenças Diarreicas agudas, apesar dos meios de monitoramento e das medidas de cuidado e prevenção, elas ainda são muito prevalentes na população, não só brasileira, como do mundo todo. De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, embora sejam evitáveis e tratáveis, as DDAs são uma das principais causas de morte em crianças menores de 5 anos.

Este estudo visou compreender a situação epidemiológica do Tocantins, realizando uma análise comparativa com o Brasil e entre as regiões de saúde do Estado. Com isso, podemos compreender a partir dos resultados obtidos que nos anos analisados (2019-2022) existe um quadro desfavorável não só para o estado, mas também para o país, ambos com um crescente aumento de incidência após uma breve melhora em 2020, que provavelmente está associada a sub-notificação decorrente da pandemia de COVID-19, como consequência da realidade evidenciada há um aumento da morbimortalidade infantil, aumento dos gastos públicos com despesas médicas evitáveis que demonstra a necessidade de maior investimento, com o intuito de minimizar os fatores de risco que levam a população a desenvolver esse quadro patológico.

Nessa questão da incidência, além do já explicitado, conseguimos afirmar após análise que a incidência ao longo de todo o período analisado nas regiões “Amor Perfeito”, “Médio Norte Araguaia” e “Bico do Papagaio” apresentam-se consideravelmente maiores que a incidência estadual, e que mais recentemente em 2022 a microárea “Cerrado Tocantins Araguaia” apresentou piora significativa nessa métrica.

Percebe-se também um perfil epidemiológico mais propenso a internações no Estado do Tocantins e na Região Norte do país, região que apresenta com um índice de desenvolvimento humano de forma geral inferior ao das outras regiões do país, onde podemos pressupor considerando os fatores de risco para a DDA que essas áreas com menor IDH estão mais vulneráveis à DDA. Após análise mais aprofundada, considerando a taxa de internação por DDA a cada 100 mil habitantes no Brasil, Tocantins e em suas regiões de saúde, podemos identificar precisamente as áreas que apresentam maior atenção devido uma taxa de internação maior que a nacional, mesmo a taxa estadual sendo similar a do Brasil. As regiões identificadas com maior taxa de internação foram “Ilha do Bananal”, “Médio Norte Araguaia”, “Cerrado Tocantins Araguaia” e “Capim Dourado”.

Também é preciso salientar a respeito das necessidades individuais de cada microrregião de saúde do estado, já que após a análise ficou claro que as regiões “Médio Norte Araguaia” e “Cerrado Tocantins Araguaia” apresentam os piores indicadores em relação à média estadual e nacional tanto na questão de incidência quanto na taxa de internação, sendo de extrema importância a tomada de medidas que melhorem o quadro nessas regiões mais afetadas.

Além disso, pode-se visualizar uma proporção menor do emprego do plano de tratamento C no estado do Tocantins em relação ao Brasil, como já dito anteriormente na análise de dados, isso poderia estar relacionado a um diagnóstico precoce e/ou maior facilidade de acesso às Unidades de Saúde, o que, por consequência, levaria a um tratamento precoce, sendo necessário avaliar de forma mais profunda os fatores e medidas que levam a gravidade diminuída de DDA nesse estado em comparação com o país, a fim de adotar tais em todo âmbito nacional.

Com isso em mente é preciso focar na adoção de medidas de prevenção como saneamento básico, conscientização a respeito da necessidade de uma boa higiene pessoal e dos alimentos, dentre outras, direcionadamente naquelas regiões que mais necessitam, para que a situação epidemiológica da DDA no futuro seja mais favorável em relação à incidência da doença, ao número de internações e ao plano terapêutico realizado.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya faculdade de Ciências Médicas Campus Palmas, Tocantins, e-mail: georgeantonios32@gmail.com;
2Docente do Curso Superior de Medicina, Daniel Borini Zemuner do Instituto Afya, Faculdade de Ciências Médicas Campus Palmas. Mestre em Saúde Coletiva (Gestão de Sistemas de Saúde/Universidade Federal da Bahia). e-mail: zemunerdaniel@gmail.com