ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA PREVALÊNCIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL EM ARAGUAÍNA-TO NO PERÍODO DE 2018-2022

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10011950


Wanny Ferreira Dias Martins
André Anderson Soares Souza
Gislaine correia dos santos
Julia Cristina Martins Dantas
Kaio Henrique Silva de Freitas
Maria Clara Veloso Antunes
Marina Farias de Paiva
Melissa Rodrigues de Moraes
Vládia Emanuelle Dias Soares


RESUMO

A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Leishmania donovani, sendo transmitida principalmente por mosquitos do gênero Lutzomyia. Ela é uma das formas mais graves de leishmaniose e afeta principalmente órgãos internos, como fígado, baço e medula óssea. Sendo causada pela parasita Leishmania donovani, que é transmitida aos seres humanos por meio da picada de mosquitos infectados, na qual os sintomas incluem febre prolongada, perda de peso, anemia, aumento do fígado e baço, fraqueza, entre outros. A doença pode ser fatal se não for tratada adequadamente, principalmente nas áreas endêmicas, que são as regiões tropicais e subtropicais. O diagnóstico ocorre através da análise de amostras de sangue, aspirados de medula óssea ou outros tecidos para identificar a parasita, além disso, também podem ser utilizados os testes sorológicos para confirmar a infecção. O tratamento eficaz envolve o uso de medicamentos como o antimoniato de meglumina ou a anfotericina B. A duração do tratamento e o medicamento específico podem variar de acordo com a região e cepa de Leishmania. A principal maneira de evitar a contaminação é através da prevenção que envolve o controle de vetores, como a redução da população de mosquitos, uso de repelentes e redes mosqueteiras, além da adequada vacinação de cachorros domésticos e campanhas para reduzir os cães abandonados. Nesse sentido, o estudo é de delineamento analítico transversal possuindo como objetivo analisar a prevalência dos casos de leishmaniose visceral no município de Araguaína-TO correlacionando com as variáveis zona habitacional e sexo no período de 2018-2022 e quantificar a incidência da condição no Tocantins. Foi utilizado como base de dados o DataSUS, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Palavras-chave: Leishmaniose Visceral; Áreas Endêmicas; Brasil; Tocantins.

1. INTRODUÇÃO

A leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa causada pelo protozoário do gênero Leishmania, em particular, a espécie Leishmania infantum. A doença é transmitida aos seres humanos e outros mamíferos através da picada de vetores conhecidos como flebotomíneos ou mosquitos-palha. Essa doença é endêmica em várias regiões tropicais e subtropicais do mundo, incluindo o Brasil, onde representa um sério problema de saúde pública. No Brasil, a transmissão ocorre principalmente por meio da espécie de flebotomíneo conhecida como Lutzomyia longipalpis, e áreas endêmicas incluem partes do Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do país.

A leishmaniose visceral é uma condição grave que afeta principalmente órgãos internos, como o fígado, o baço e a medula óssea. Os sintomas incluem febre prolongada, fraqueza, perda de peso, aumento do abdômen devido ao aumento do baço e do fígado, anemia e comprometimento do sistema imunológico. Se não forem tratados particularmente, a doença pode ser fatal. Progressivamente, no curso da doença, o paciente pode sofrer complicações com a febre contínua, levando a um comprometimento mais intenso do estado geral. Instalasse uma desnutrição mais severa, aumentando a suscetibilidade às infecções secundárias, edemas e desordens hematológicas expressivas. 

A Organização Mundial de Saúde frisa a gravidade dessa enfermidade, por informar que, se não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. A sua taxa de letalidade continua representando um grande desafio aos sistemas de saúde, por requerer um manejo adequado e um diagnóstico rápido e preciso. O diagnóstico da leishmaniose visceral envolve exames laboratoriais, como a análise de amostras de sangue ou tecidos para detecção do parasita. O tratamento é baseado na administração de medicamentos anti leishmaniose, como o antimoniato de Metilglucamina (Glucantime) ou a anfotericina B lipossomal.

Além do tratamento, o controle da leishmaniose visceral envolve medidas preventivas, como o combate aos vetores, o controle de reservatórios de animais principalmente cães e a conscientização pública sobre a doença. A prevenção de picadas de flebotomíneos, por meio de roupas protetoras e repelentes, também é importante em áreas endêmicas. A leishmaniose visceral é uma condição séria que requer atenção médica imediata. O tratamento precoce e as medidas de prevenção são fundamentais para controlar a propagação dessa doença e proteger a saúde das políticas em áreas endêmicas.

2. JUSTIFICATIVA

 A leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa transmitida por parasitas do gênero Leishmania, causando sérios problemas de saúde e representando um desafio significativo para os sistemas de saúde em áreas endêmicas. A gravidade da leishmaniose visceral é evidente em sua taxa de letalidade, que pode ultrapassar 90% dos casos se não for tratada adequadamente. A pesquisa em questão visa analisar a incidência da leishmaniose visceral no Tocantins durante o período de 2018 – 2022 tendo o potencial de fornecer dados valiosos para políticas de saúde pública e estratégias de controle da leishmaniose visceral mediante a melhor compreensão da distribuição da doença e suas correlações com variáveis demográficas, podendo auxiliar o direcionamento de esforços para prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz no estado do Tocantins.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Segundo MELO (2004), a leishmaniose visceral teve seu primeiro relato em 1934 mediante a identificação de amastigotas de leishmania em cortes histológicos de fígados de pessoas que morreram sob suspeita de febre amarela. Posteriormente em 1954 foi registrado o primeiro surto de leishmaniose visceral do Brasil no Ceará, e em meados dos anos 80 a doença deixou de ser restrita ao ambiente silvestre e se disseminou para até mesmo periferias de grandes centros urbanos. 

De acordo com AGUIAR (2017), as espécies de agentes etiológicos da leishmaniose visceral são divididas em três gêneros: Leishmania chagasi, Leishmania donovani e Leishmania infantum, sendo que a L. infantum e L. donovani são mais prevalentes nas áreas do mar Mediterrâneo e do Oriente Médio, enquanto a L. chagasi nas Américas Central e Sul. Nesse sentido, no contexto brasileiro o principal vetor responsável pela transmissão da leishmaniose visceral são as fêmeas hematófagos dos mosquitos do gênero Lutzomyia, subfamília Phlebotominae, genericamente conhecidos como flebotomíneos, cujo os quais são caracterizados por serem menores do que 1 cm de comprimento, possuírem pernas longas e delgadas com o corpo densamente piloso, além de serem de cor parda, daí o nome popular “mosquito palha”. 

Os reservatórios naturais desse parasita se diferem quanto ao ambiente urbano e silvestre, sendo que o cachorro (Canis familiaris) é o principal responsável pela manutenção desse parasita no ambiente urbano e as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon Thous) e marsupiais (Didelphis albiventris) no ambiente silvestre. Diante disso, uma vez que o vetor flebotomíneo esteja contaminado com a forma infectante do parasita (promastigota metacíclico), cujo o qual permanece alojado no intestino anterior e faringe da fêmea do mosquito, e este vai se alimentar do sangue do hospedeiro, os promastigotas metacíclicos se dirigem para órgãos linfóides secundários (fígado, baço, medula óssea e linfonodos), onde vão infectar células do sistema fagocítico mononuclear e vão se diferenciar em amastigotas. Posteriormente, com a contínua multiplicação intracelular por fissão binária, o parasita promove a lise celular e reinício do ciclo. Quando um flebotomíneo não infectado ingere o sangue contaminado de um hospedeiro de leishmania spp., os amastigotas irão se diferenciar no trato digestivo para promastigotas procíclicos e, logo em seguida, em promastigota metacíclico infectante. Dessa forma, o parasita possui três estágios conhecidos do ciclo de vida, sendo eles: Promastigotas metacíclicos, Amastigotas, Promastigotas procíclicos (AGUIAR, 2017).

Segundo GONTIJO (2004), a suspeita diagnóstica de um paciente com leishmaniose visceral é feita rotineiramente através do quadro clínico e por análises epidemiológicas de áreas endêmicas, mas para o diagnóstico definitivo faz-se necessário a identificação do parasita em análise parasitológica. Assim sendo, a leishmaniose visceral possui um quadro sindrômico inespecífico, podendo apresentar febre prolongada, diarréia, dor abdominal, caquexia, esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia, hipergamaglobulinemia, tosse e perda ponderal. Já o diagnóstico por visualização direta do parasita pode ser feito por biópsia ou punção aspirativa dos órgãos linfóides comumente acometidos, como baço, fígado, medula óssea ou linfonodos, sendo que preferencialmente se utilizará a punção aspirativa do baço por ser considerado menos invasivo e possuir maior sensibilidade. Por conseguinte, no diagnóstico imunológico é utilizado o teste ELISA, mas há chances de ocorrer reação cruzada com outros microrganismos, resultando em um falso-positivo.

O tratamento para a doença em questão envolve a utilização da N-metil glucamina (Glucantime) em doses de 20mg/kg/dia, não ultrapassando a dose máxima diária de 850mg, anfotericina B e suas formulações lipossomais, Miltefosina e Paromomicina. Sendo que a N-metil glucamina é preconizada como tratamento de primeira escolha no Brasil (PASTORINO, 2002).

4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo Primário

Analisar a prevalência da Leishmaniose Visceral no munícipio de Araguaína-TO correlacionando com as variáveis sexo e zona habitacional no período de 2018-2022

4.2 Objetivos Secundários

•      Quantificar a incidência da Leishmaniose Visceral no Estado do Tocantins no período de 2018-2022 

•      Levantar hipóteses acerca da disseminação da Leishmaniose Visceral nos municípios do Tocantins

5. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional analítico transversal, cujo os dados foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) pelo banco de dados do DataSUS utilizando os softwares TabNet e TabWin, com exportação em 15/09/2023, considerando a Ficha de Investigação da Leishmaniose Visceral, utilizando como variáveis sexo e zona de habitação. A elaboração, organização e sumarização dos dados coletados foram feitos com auxílio do Microsoft Excel e Microsoft Word.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A incidência da Leishmaniose Visceral no Brasil é de cerca de 3.500 pessoas anualmente, sendo que, no período analisado (2018-2022), o Tocantins atingiu a marca de 819 casos confirmados, alcançando a posição de quinto Estado com maior taxa de notificação da doença em questão. Nesse sentido, observou-se que o munícipio com maior número de notificações foi Araguaína com 249 casos registrados, apresentando 30,4% da incidência total do Estado, tendo como maior prevalência o sexo masculino com 155 casos, representando 62,2% do total do munícipio. Além disso, no que diz respeito à zona de habitação, percebe-se que há uma grande diferença na quantidade de contaminados da zona urbana (87,6%) e da zona rural (12,4%).

7. CONCLUSÕES

Conclui-se que o Tocantins apresenta alta incidência de Leishmaniose Visceral, tendo como principal contribuinte para essas taxas o município de Araguaína no qual há o predomínio de casos na população masculina da zona urbana, o que pode ser decorrente da grande quantidade de reservatórios, como os cães abandonados, a carência de campanhas ao combate do vetor (mosquito-palha) e a falta de saneamento básico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONTIJO, Célia Maria Ferreira; MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, p. 338-349, 2004.

AGUIAR, Paulo Fernando; RODRIGUES, Raíssa Katherine. Leishmaniose visceral no Brasil: artigo de revisão. Revista Unimontes Científica, v. 19, n. 1, p. 192-204, 2017.

PASTORINO, Antonio C. et al. Leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais. Jornal de Pediatria, v. 78, p. 120-127, 2002.

Almeida CP, Cavalcante FRA, Moreno JO, et al. Leishmaniose visceral: distribuição temporal e espacial em Fortaleza, Ceará, 2007-2017. Epidemol Serv Saúde, Brasília. 2020; 29(5). https://doi.org/10.1590/s1679-49742020000500002

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico da população residente dos municípios do Tocantins, por cor ou raça. Brasil, 2010.

MARCONDES, Mary; ROSSI, Claudio Nazaretian. Leishmaniose visceral no Brasil. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 50, n. 5, p. 341-352, 2013.

TOLEDO, Celina Roma Sánchez de et al. Vulnerabilidade à transmissão da leishmaniose visceral humana em área urbana brasileira. Revista de Saúde Pública, v. 51, 2017.