ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA ADESÃO A VACINAÇÃO CONTRA POLIOMIELITE NO TOCANTINS NO PERÍODO DE PANDEMIA COVID-19 (2018 – 2022)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8125682


André Anderson Soares Souza
Bárbara Vilanova Bezerra
Gabriel Lopes Cruz
Hálvaro Joel Dantas Barbosa
Mayumi Honda Pereira
Vinícius Andrade Rodrigues
Vitória Dantas Lino
Vládia Emanuelle Dias Soares
Wanny Ferreira Dias Martins


RESUMO

A poliomielite é uma doença viral que afeta o sistema nervoso e pode levar a paralisia permanente ou temporária. A doença é causada por três tipos de poliovírus e é transmitida por meio de contato direto com fezes ou secreções de pessoas infectadas. A Poliomielite já foi uma doença muito comum em todo o mundo, mas atualmente está praticamente erradicada graças aos programas de vacinação em massa. No Brasil, a última epidemia ocorreu na década de 80, e desde então a doença vem sendo controlada por meio da vacinação. No entanto, na última década e com a recente pandemia da Covid19, algumas ideologias e movimentos anti vacinas ganharam espaço e, consequentemente, reduziram exponencialmente a adesão à vacinação contra a Poliomielite, aumentando a possibilidade do retorno de uma epidemia da doença em questão no território nacional. Nesse sentido, o estudo é de delineamento analítico transversal que tem como objetivo quantificar a adesão à vacinação contra Poliomielite no Tocantins durante o período de pandemia COVID-19, analisar fatores de risco para a resistência contra a vacina da poliomielite e verificar uma possível relação da pandemia COVID-19 com a prevalência da vacinação contra poliomielite no Tocantins, utilizando como base de dados o DataSUS, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Palavras-chave: Poliomielite; Tocantins; Epidemia; Covid-19

1.  INTRODUÇÃO

Segundo CAMPOS (2003), a poliomielite é uma doença viral altamente infecciosa que afeta principalmente crianças e pode causar paralisia permanente ou morte. A doença é causada pelo poliovírus, que é transmitido de pessoa para pessoa através do contato com fezes ou secreções de pessoas infectadas. No Brasil, a poliomielite foi uma doença endêmica até o início da década de 1990, quando a vacinação em massa foi implementada.

A poliomielite já foi uma das principais causas de paralisia infantil no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 1980 e 1988 foram registrados cerca de 30 mil casos de poliomielite no país. A partir da implementação da vacinação em massa, o número de casos caiu drasticamente, com o último caso registrado em 1990. Em 2019, a doença retornou com três casos sendo identificados, o que indica a necessidade de manter a vigilância para evitar a reintrodução da doença. A doença geralmente cursa de forma assintomática. No entanto, em uma parcela dos casos o vírus invade o sistema nervoso central e pode causar paralisia, principalmente nas pernas. A paralisia pode ser permanente em alguns casos e pode levar à morte por insuficiência respiratória. A doença pode afetar pessoas de todas as idades, mas é mais comum em crianças menores de cinco anos, sendo transmitido diretamente entre as pessoas mediante o contato com fezes ou secreções de pessoas infectadas, alimentos ou água contaminados.

De acordo com NASCIMENTO (2011), não há tratamento específico para a poliomielite. O tratamento é focado no alívio dos sintomas e no suporte respiratório em casos graves de paralisia. A prevenção é a principal forma de controle da doença, através da vacinação e o diagnóstico é baseado nos sintomas clínicos e na história de exposição ao vírus. Testes laboratoriais podem ser realizados para confirmar o diagnóstico, como o isolamento do vírus em amostras de fezes ou líquido cerebrospinal.

2.  JUSTIFICATIVA

 O trabalho em questão tem sua relevância no que diz respeito ao atual período de grande desconfiança popular na ciência e em seus resultados, fato que é comprovado pelo aumento da disseminação de ideologias como o movimento anti vacinas, cujo o qual cresceu exponencialmente nos últimos anos, principalmente no período de pandemia Covid-19. Nesse sentido, hodiernamente a sociedade brasileira tem começado a sofrer consequências gravíssimas com o retorno de doenças consideradas erradicadas na década passada, como a poliomielite, a qual tem efeitos devastadores para seus hospedeiros não imunizados, iniciando com sintomas inespecíficos como febre, cefaleia, dor de garganta, vômitos, mialgia, hiporreflexia e hipersensibilidade, podendo evoluir com astenia ascendente progressiva até manifestar a clássica paralisia da doença.

  Portanto, conclui-se que por ser uma patologia potencialmente devastadora e completamente remediável, é primordial compreender os motivos da não adesão à vacinação contra essa doença para que se possa instaurar planos de ações efetivos no combate à poliomielite.

3.  REVISÃO DE LITERATURA

De acordo com SCHATZMAYR (2002), a história da poliomielite no Brasil iniciou no século XX, quando foram registrados os primeiros casos da doença no país. A primeira epidemia de poliomielite no Brasil ocorreu em 1911, na cidade de São Paulo, e desde então a doença vem sendo registrada em todo o território nacional. Na década de 1950, a poliomielite tornou-se uma grande preocupação de saúde pública em todo o mundo, e o Brasil não foi exceção. Foi nesse período que a vacinação contra a poliomielite começou a ser desenvolvida, e em 1958 foi lançada a primeira campanha de vacinação em massa contra a doença no país. 

Segundo NASCIMENTO (2011), apesar dos avanços na prevenção da poliomielite, a doença ainda persiste no Brasil durante as décadas seguintes. Segundo dados do Ministério da Saúde, a última epidemia de poliomielite no país ocorreu na década de 1980, quando foram registrados mais de 4 mil casos da doença em todo o território nacional. No entanto, a partir da década de 1990, o número de casos de poliomielite no Brasil começou a cair significativamente, graças às políticas de vacinação em massa e ao fortalecimento do sistema de vigilância epidemiológica. 

De acordo com SARAIVA (2019), não há evidências científicas que comprovem a eficácia das teorias antivacina, que afirmam que as vacinas são inseguras e prejudicam a saúde das pessoas. As vacinas são consideradas uma das maiores conquistas da medicina moderna, tendo ajudado a erradicar diversas doenças infecciosas ao redor do mundo. No entanto, os movimentos antivacina têm ganhado espaço em alguns países, incluindo o Brasil, contribuindo para o aumento de casos de diversas doenças antes consideradas controladas, como a poliomielite. Nesse sentido, a baixa cobertura vacinal e a disseminação de informações falsas sobre as vacinas são alguns dos fatores que têm contribuído para o ressurgimento da doença.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2019, o Brasil registrou o primeiro caso de poliomielite em 20 anos, o que acendeu um alerta para a importância da vacinação em massa. 

Dessa forma, de acordo com WALDMAN (1999), a poliomielite pode evoluir de três principais formas, que são definidos com base no mecanismo em que a doença afeta o sistema nervoso central: poliomielite não paralítica, poliomielite paralítica e poliomielite paralítica bulbar.

Ainda de acordo com WALDMAN (1999), a poliomielite não paralítica é a forma mais branda da doença e ocorre em cerca de 95% dos casos. Nesses casos, os sintomas são semelhantes aos de uma gripe ou infecção respiratória, como febre, dor de cabeça, mal-estar geral e dor muscular. Geralmente sendo uma forma autolimitada da doença, com melhora progressiva em algumas semanas. Já a poliomielite paralítica é a forma mais grave da doença, que pode causar paralisia muscular permanente e até mesmo levar à morte. Essa forma da doença ocorre em cerca de 1% dos casos e afeta principalmente os membros inferiores. A paralisia é causada pela destruição dos neurônios motores que controlam os movimentos musculares. A poliomielite paralítica bulbar é uma forma rara da doença que afeta os músculos da cabeça e pescoço, incluindo a musculatura respiratória e a fala. Essa forma da doença pode ser fatal, principalmente em casos em que a respiração é afetada.

Segundo o Ministério da Saúde, a poliomielite não paralítica é a forma mais comum da doença, enquanto a poliomielite paralítica e a poliomielite paralítica bulbar são menos comuns, mas mais graves e potencialmente letais. Logo, é fundamental que a população esteja informada sobre os diferentes tipos de poliomielite, formas de prevenção e que saibam reconhecer os sintomas para buscar ajuda médica o mais rápido possível.

4.  OBJETIVOS

4.1  Objetivo Primário

• Quantificar a adesão da população na vacinação contra Poliomielite

4.2  Objetivos Secundários

•      Analisar fatores de risco para a desconfiança contra as vacinas 

•      Verificar a relação da pandemia COVID-19 com a prevalência da vacinação contra Poliomielite no Tocantins

5.  METODOLOGIA

 Trata-se de um estudo observacional analítico transversal que busca quantificar a adesão à vacinação contra Poliomielite no Tocantins durante o período pré pandemia e durante a pandemia COVID-19. Os dados para o estudo foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), considerando a Ficha de Investigação das Paralisias Flácidas Agudas, e do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), sobre cobertura vacinal. A elaboração, organização e sumarização dos dados coletados foram feitos com auxílio do Microsoft Excel, Microsoft Word e TabNet.

6.  RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro caso de poliomielite no Brasil ocorreu em 1911 no Rio de Janeiro. Mediante a falta de infraestrutura para assegurar o saneamento básico nas áreas residenciais e o aumento populacional propiciaram um ambiente ideal para a proliferação desse vírus, resultando em uma epidemia.  Em 1955 foi descoberta a vacina contra a paralisia infantil (VIP). Como resultado da vacinação em massa e melhorias sanitárias, em 1994 o Brasil extinguiu a Poliomielite, recebendo o certificado de eliminação da poliomielite, tendo alcançado a meta de 95% da população imunizada. Entretanto, após ter ocorrido o surto do COVID-19, segundo a organização mundial de saúde a taxa de vacinação apresentou uma queda, alcançando apenas 52% do público alvo no ano de 2022, tendo como consequência uma queda na proteção da população possibilitando o risco da recidiva da doença. 

7.  CONCLUSÕES

Conclui-se que a redução das taxas vacinais contra poliomielite é um grande fator de risco para um novo surto dessa doença. Além disso, a recente pandemia do COVID-19 foi um agravante na adesão à vacinação. Dessa forma, faz-se necessário o retorno à adesão à vacinação infantil (VIP), a fim de reduzir a taxa de infecção e consequentemente a chance de complicações, proporcionando novamente a erradicação da poliomielite no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, André L. V.; NASCIMENTO, Dilene R.; MARANHÃO, Eduardo. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 10, p. 573-600, 2003.

NASCIMENTO, Dilene R. As campanhas de vacinação contra a poliomielite no Brasil (1960-1990). Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 2, p. 501-511, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Poliomielite. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/poliomielite. Acesso em 20 de abr. de 2023.

SCHATZMAYR, Hermann G. et al. Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 9, p. 11-24, 2002.

BRICKS, Lucia F. Vacina contra poliomielite: um novo paradigma. Revista Paulista de Pediatria, v. 25, p. 172-179, 2007.

SARAIVA, Luiza J. C.; FARIA, Joana F. A Ciência e a Mídia: A propagação de Fake News e sua relação com o movimento anti-vacina no Brasil. In: 42º Congresso Brasileiro De Ciências Da Comunicação, Belém (PA). 2019.

WALDMAN, Eliseu A.; SILVA, Luiz J.; MONTEIRO, Carlos A. Trajetória das doenças infecciosas: da eliminação da poliomielite à reintrodução da cólera. Informe epidemiológico do SUS, v. 8, n. 3, p. 05-47, 1999.