ANÁLISE E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE COMBATE A INCÊNDIOS EM EDIFICAÇÕES: DESAFIOS, TECNOLOGIAS E IMPACTOS NA SEGURANÇA ESTRUTURAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505072325


Leandro Bezerra Pacheco
André Lopes Teixeira
Erika Cristina Nogueira Marques Pinheiro


RESUMO

O presente estudo versa sobre a imprescindível temática da prevenção e do combate a incêndios em edificações, abordando as diretrizes normativas, os dispositivos legais e as instruções técnicas emanadas pelo Corpo de Bombeiros no estado do Amazonas. Examina-se, com rigor, as exigências regulamentares inerentes à constituição de um sistema eficiente de combate a incêndios, ressaltando-se a inafastável necessidade de preservação e manutenção dos equipamentos em plenas condições operacionais. Além disso, enfatiza-se a relevância das práticas preventivas no contexto das edificações, com a devida categorização das classes de incêndio e das respectivas metodologias para sua contenção. Elencam-se, ainda, os principais dispositivos e documentos indispensáveis à conformidade dos sistemas de proteção contra incêndios, realçando-se que tais exigências não se limitam ao cumprimento formal de normas impostas pelos entes municipais, estaduais e federais, mas têm, sobretudo, o propósito maior de salvaguardar vidas e mitigar prejuízos materiais.

Palavras-chave: Prevenção de incêndios, Equipamentos de combate, Normas de segurança

ABSTRACT

This study addresses the essential issue of fire prevention and firefighting in buildings, addressing the normative guidelines, legal provisions and technical instructions issued by the Fire Department in the state of Amazonas. It rigorously examines the regulatory requirements inherent in the establishment of an efficient firefighting system, highlighting the unavoidable need to preserve and maintain equipment in full operational conditions. In addition, it emphasizes the relevance of preventive practices in the context of buildings, with the appropriate categorization of fire classes and the respective methodologies for their containment. It also lists the main provisions and documents essential for the compliance of fire protection systems, emphasizing that such requirements are not limited to formal compliance with standards imposed by municipal, state and federal entities, but have, above all, the greater purpose of safeguarding lives and mitigating material losses. 

Keywords: Fire prevention, Firefighting equipment, Safety standards

INTRODUÇÃO

A segurança contra incêndios em edificações é um dos principais fatores a ser considerado no planejamento e projeto de qualquer estrutura, seja residencial, comercial ou industrial. A ocorrência de incêndios, além de representar um risco iminente à vida humana, pode causar danos irreparáveis à integridade estrutural das construções, comprometendo a estabilidade das mesmas e expondo seus ocupantes a situações de perigo extremo. Nesse contexto, os sistemas de combate a incêndios desempenham um papel fundamental na proteção de vidas, na minimização de danos materiais e na preservação da funcionalidade dos edifícios.

O presente trabalho tem como objetivo analisar a implementação e a eficiência dos sistemas de combate a incêndios em edificações, considerando os desafios enfrentados pelos engenheiros civis na concepção e execução desses sistemas, bem como o impacto dessas tecnologias na segurança estrutural. O foco principal recai sobre a interdependência entre os sistemas de combate a incêndio e as características estruturais das construções, com ênfase nas soluções tecnológicas mais recentes e nos aspectos normativos que regem a instalação e o funcionamento desses dispositivos.

A escolha do tema para o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) justifica-se pela importância fundamental da segurança contra incêndios em edificações, um aspecto crucial no planejamento e na execução de projetos arquitetônicos e de engenharia civil. Dada a gravidade dos riscos envolvidos, tanto para a vida humana quanto para a integridade estrutural das construções, torna-se essencial compreender e avaliar a eficiência dos sistemas de combate a incêndios, bem como a interdependência entre esses sistemas e as características estruturais das edificações.

Ao longo deste estudo, serão discutidos os diferentes tipos de sistemas de combate a incêndios, como sprinklers, hidrantes, detectores de fumaça e alarmes, e como essas tecnologias impactam a resistência das estruturas diante de situações de incêndio. Além disso, será abordada a importância do conhecimento de normas técnicas e regulamentações, como as da ABNT, para garantir a conformidade e a eficácia dos sistemas instalados.

O trabalho também explorará os principais desafios enfrentados pelos profissionais de Engenharia Civil ao projetar e implementar soluções adequadas para cada tipo de edificação, levando em consideração a diversidade das construções e as particularidades de cada tipo de risco. Por fim, serão analisados os impactos de uma falha nos sistemas de combate a incêndio, não apenas na segurança das pessoas, mas também na preservação do patrimônio e na minimização de custos associados aos danos estruturais causados por incêndios.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE O FOGO E A SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOS

O fogo é um dos elementos mais antigos conhecidos pelo ser humano, sendo utilizado desde a pré-história como ferramenta essencial para o desenvolvimento da civilização. No entanto, quando não controlado adequadamente, pode se transformar em um grande risco, resultando em incêndios de grandes proporções. Para minimizar tais riscos, ao longo dos anos foram desenvolvidas normas, legislações e equipamentos específicos para a prevenção e o combate a incêndios (SILVA, 2018).

A implementação dessas normas possibilita a rápida eliminação de focos de incêndio e a redução dos danos estruturais e ambientais. De acordo com Brentano (2007), os incêndios podem ser evitados ou controlados de maneira eficaz caso as medidas preventivas sejam rigorosamente seguidas.

NORMAS E LEGISLAÇÃO SOBRE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOS

A segurança contra incêndios em edificações é regulamentada por diversas normas técnicas, que estabelecem diretrizes para a prevenção, detecção e combate ao fogo. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece padrões essenciais para a segurança das edificações. No estado de Minas Gerais, por exemplo, destacam-se as normas NBR 9077, que trata das saídas de emergência, e NBR 13714, que regula os sistemas de hidrantes e mangotinhos (ABNT, 2019). Além das NBRs, as Instruções Técnicas (ITs) do Corpo de Bombeiros também devem ser observadas, abrangendo requisitos específicos para diferentes tipos de edificações (MINAS GERAIS, 2020).

O desenvolvimento e a implementação de sistemas de combate a incêndios exigem uma análise rigorosa do risco de incêndio e da classificação das edificações. De acordo com Souza (2021), as normas e regulamentações buscam garantir que as edificações estejam preparadas para prevenir incêndios e, caso ocorram, possibilitem um combate eficaz, minimizando danos e protegendo vidas.

Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)

O Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) é um documento essencial para atestar a segurança contra incêndios em edificações. Esse laudo certifica que a edificação atende às exigências normativas e que os sistemas de prevenção e combate a incêndios foram corretamente instalados (BRASIL, 2017). A obtenção do AVCB exige a apresentação de um projeto técnico aprovado pelo Corpo de Bombeiros, sendo sua renovação obrigatória dentro do prazo de validade estabelecido.

  • Acessibilidade para viaturas em áreas de risco;
  • Segurança estrutural e controle de materiais combustíveis;
  • Rotas de fuga devidamente sinalizadas;
  • Implementação de sistemas de detecção e combate a incêndios, como extintores, hidrantes e sprinklers (ABNT, 2019).

CLASSIFICAÇÃO DOS INCÊNDIOS

Os incêndios são classificados de acordo com o tipo de material combustível envolvido. Segundo Brentano (2007), a classificação é estabelecida da seguinte forma:

  • Classe A: Incêndios envolvendo materiais sólidos de fácil combustão, como madeira e papel.
  • Classe B: Incêndios causados por líquidos inflamáveis, como gasolina e óleos.
  • Classe C: Incêndios que envolvem equipamentos elétricos energizados.
  • Classe D: Incêndios que ocorrem em metais combustíveis, como magnésio e titânio.
  • Classe K: Incêndios ocasionados por óleos e gorduras em cozinhas industriais.

MÉTODOS DE EXTINÇÃO DO FOGO

A extinção do fogo ocorre pela eliminação de pelo menos um dos três elementos essenciais da combustão: combustível, comburente (oxigênio) ou calor. Segundo Pereira (2020), os principais métodos de extinção são:

  • Resfriamento: Redução da temperatura do material em combustão, geralmente por meio da aplicação de água.
  • Abafamento: Remoção do oxigênio do ambiente de combustão, impedindo a continuidade da reação química.
  • Isolamento: Separação do material combustível da fonte de calor, prevenindo sua ignição.

EQUIPAMENTOS DE COMBATE A INCÊNDIO

A escolha dos equipamentos de combate a incêndios deve considerar a classe do fogo e a intensidade das chamas. Entre os dispositivos mais utilizados, destacam-se os extintores, hidrantes, mangueiras e sistemas automáticos, como os sprinklers (NASCIMENTO, 2019).

Extintores de Incêndio

Os extintores de incêndio são dispositivos fundamentais no combate aos incêndios em sua fase inicial. Eles são fabricados conforme diferentes especificações e indicados para classes específicas de fogo (ABNT, 2019):

  • Pó químico seco (PQS): Indicado para incêndios de classe B e C.
  • Pó químico especial (PQE): Utilizado para incêndios de classe D.
  • Espuma mecânica: Aplicável a incêndios de classe A e B.
  • Gás carbônico (CO): Indicado para incêndios de classe B e C.
  • Água pressurizada: Recomendado para incêndios de classe A.

Sistema de Hidrantes

O sistema de hidrantes é um equipamento fixo de combate a incêndios que libera um forte jato de água quando acionado. Esse sistema pode ser utilizado pelos próprios ocupantes da edificação, caso estejam treinados, ou pelos bombeiros em emergências (SILVA, 2018).

SINALIZAÇÃO DE EMERGÊNCIA

A sinalização de emergência tem o objetivo de orientar os ocupantes das edificações sobre as rotas de fuga e os equipamentos disponíveis para combate a incêndios. Segundo a ABNT (2019), essa sinalização deve ser clara, visível e fluorescente, sendo dividida em:

  • Sinalização de Proibição: Indica ações que podem gerar riscos.
  • Sinalização de Alerta: Alerta sobre perigos específicos.
  • Sinalização de Orientação e Salvamento: Indica rotas de evacuação e áreas seguras.
  • Sinalização de Equipamentos de Combate e Alarme: Identifica extintores, hidrantes e demais dispositivos de segurança.

PRINCIPAIS CAUSAS DE INCÊNDIOS NAS EDIFICAÇÕES

Para Pereira (2020) os incêndios podem ter diferentes origens, sendo classificados em:

  • Naturais: Ocasionados por fenômenos como raios e combustão espontânea.
  • Acidentais: Resultantes de falhas elétricas ou explosões.
  • Criminosas: Incêndios provocados intencionalmente 

PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS

A prevenção de incêndios envolve a adoção de medidas que minimizem os riscos e impeçam a ocorrência de sinistros. Segundo Nascimento (2019), a maioria dos incêndios poderia ser evitada por meio de práticas preventivas, tais como:

  • Inspeções e manutenções periódicas das instalações elétricas;
  • Treinamento de brigadas de incêndio;
  • Utilização de materiais resistentes ao fogo nas construções;
  • Instalação de sistemas eficazes de detecção e alarme.

A segurança contra incêndios deve ser tratada como prioridade, garantindo não apenas a proteção do patrimônio, mas, sobretudo, a preservação da vida humana.

METODOLOGIA

A metodologia adotada neste trabalho será de natureza qualitativa, baseada em uma revisão bibliográfica aprofundada. Através dessa abordagem, busca-se compreender as práticas e inovações relacionadas aos sistemas de combate a incêndio em edificações, além de analisar o impacto desses sistemas na segurança estrutural das construções. A revisão bibliográfica será realizada com o intuito de reunir e analisar o conhecimento já produzido sobre o tema, abordando as principais tecnologias, normativas e desafios no campo da engenharia civil relacionados à segurança contra incêndios.

A primeira etapa da metodologia consistirá na seleção criteriosa de fontes bibliográficas, com foco em artigos acadêmicos, livros, dissertações, teses, normas técnicas e documentos legislativos. As fontes serão selecionadas com base em sua relevância para o tema em questão e na credibilidade dos autores e das publicações. Serão incluídos materiais atualizados que abordem as práticas e inovações mais recentes no campo de sistemas de combate a incêndio e segurança estrutural.

Após a seleção das fontes, será realizada uma leitura detalhada do material coletado, com o objetivo de identificar as principais abordagens, metodologias e tecnologias existentes no campo do combate a incêndio em edificações. O levantamento incluirá a análise das seguintes temáticas:

  • Tipos de sistemas de combate a incêndio (sprinklers, hidrantes, alarmes de fumaça, extintores, etc.);
  • Normas e regulamentações, como as da ABNT, que orientam o projeto e instalação desses sistemas;
  • Estudos de casos sobre falhas e sucessos na implementação desses sistemas;
  • Tecnologias emergentes, como sistemas automatizados e monitoramento remoto;
  • A relação entre os sistemas de combate a incêndio e a integridade estrutural das edificações.

A terceira fase consistirá na comparação e integração dos dados encontrados nas fontes bibliográficas. Será feita uma análise crítica das informações, observando as divergências e convergências entre as diferentes publicações e as tendências mais recentes. A ideia é consolidar um panorama abrangente dos sistemas de combate a incêndio, das regulamentações vigentes e das melhores práticas para garantir a segurança estrutural durante um incêndio.

Com base nas informações levantadas, será elaborado um quadro comparativo que sintetiza as características, vantagens e limitações dos diferentes tipos de sistemas de combate a incêndio e suas interações com a segurança estrutural. Esse quadro facilitará a visualização das opções disponíveis para diferentes tipos de edificações, além de destacar as principais soluções tecnológicas que têm sido aplicadas.

A partir da análise das fontes e da comparação dos dados, será realizada uma discussão crítica sobre os desafios e as oportunidades no aprimoramento dos sistemas de combate a incêndio. A pesquisa também buscará identificar as lacunas no conhecimento atual e possíveis áreas de inovação. A partir disso, serão feitas as conclusões e recomendações para futuras pesquisas e práticas no campo da engenharia civil voltadas à segurança contra incêndios.

Como a pesquisa se baseia exclusivamente em revisão bibliográfica, ela estará limitada à disponibilidade e à qualidade das fontes existentes. Além disso, não será realizada pesquisa de campo ou análise de sistemas de combate a incêndio em edificações reais, o que pode limitar a aplicabilidade prática de algumas das conclusões.

Com essa metodologia, o trabalho busca fornecer uma compreensão abrangente sobre os sistemas de combate a incêndio em edificações e suas implicações para a segurança estrutural, permitindo uma análise crítica das tecnologias e abordagens existentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos sistemas de combate a incêndios em edificações revela a complexidade envolvida na implementação dessas tecnologias, especialmente no que se refere à sua integração com as características estruturais das construções. A eficiência desses sistemas está diretamente ligada à conformidade com normas técnicas, à correta concepção e execução dos projetos e ao uso de soluções tecnológicas inovadoras. Nesta seção, discutemse os desafios enfrentados pelos engenheiros civis na implementação desses dispositivos, os impactos na segurança estrutural e a evolução das tecnologias aplicadas ao combate a incêndios.

A concepção de um sistema de combate a incêndios eficaz enfrenta diversos desafios, desde a adequação às normas vigentes até a compatibilização dos dispositivos com a estrutura da edificação. No Brasil, a regulamentação desses sistemas é baseada em normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como a NBR 9077:2001 – Saídas de emergência em edifícios e a NBR 13714:2020 – Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio (ABNT, 2001; 2020).

Um dos principais desafios enfrentados pelos projetistas é a adequação das edificações mais antigas às exigências atuais de segurança contra incêndio. Muitas construções, erguidas antes da consolidação das normativas modernas, não possuem compartimentação adequada, saídas de emergência dimensionadas corretamente ou sistemas de detecção e alarme integrados. A adaptação dessas edificações pode demandar grandes intervenções estruturais e custos elevados, o que dificulta sua implementação (SILVA; SANTOS, 2022).

Além disso, a falta de fiscalização rigorosa e a ausência de cultura de manutenção preventiva contribuem para a ineficiência dos sistemas instalados. De acordo com um estudo realizado por Oliveira e Mendes (2021), cerca de 40% dos edifícios analisados em grandes centros urbanos apresentavam falhas nos sistemas de combate a incêndio, seja por equipamentos fora do prazo de validade, seja por obstruções nas rotas de fuga.

Outro ponto crítico é a integração dos sistemas de combate a incêndios com a estrutura das edificações. Sistemas hidráulicos, por exemplo, exigem infraestrutura compatível com a capacidade de armazenamento e pressurização da água, enquanto sistemas de exaustão de fumaça podem comprometer a estabilidade de elementos estruturais caso não sejam projetados corretamente (MORAES et al., 2020).

A implementação de sistemas de combate a incêndio não se limita apenas à prevenção e supressão das chamas, mas também influencia diretamente a segurança estrutural das edificações. O calor gerado por um incêndio pode comprometer a integridade dos materiais construtivos, reduzindo sua resistência mecânica e provocando colapsos parciais ou totais.

Nesse sentido, a escolha dos materiais utilizados na construção é essencial para minimizar os danos estruturais em caso de incêndio. O concreto, por exemplo, apresenta boa resistência ao fogo, mas pode sofrer degradação quando exposto a temperaturas superiores a 500°C, resultando na perda de resistência da estrutura (COSTA; PEREIRA, 2019). Já o aço, amplamente utilizado em edificações de grande porte, perde aproximadamente 50% de sua resistência mecânica quando submetido a temperaturas de 600°C, tornando essencial a aplicação de revestimentos térmicos e pinturas intumescentes para aumentar sua resistência ao calor (SANTOS; FERREIRA, 2021).

Além disso, a presença de sistemas de sprinklers pode reduzir significativamente a propagação do fogo e evitar que as temperaturas atinjam níveis críticos. Estudos realizados por Almeida e Rocha (2020) indicam que edificações equipadas com sprinklers apresentam uma redução de até 70% na extensão dos danos estruturais em comparação com edificações sem esse sistema.

Os hidrantes e mangotinhos também desempenham papel crucial na proteção estrutural. No entanto, falhas na manutenção desses equipamentos podem comprometer sua eficiência. A falta de pressão adequada na rede hidráulica, por exemplo, pode impedir o funcionamento dos hidrantes, tornando inviável o combate ao incêndio nos primeiros minutos, período essencial para o controle das chamas (GOMES et al., 2022).

Nos últimos anos, diversas inovações tecnológicas têm sido incorporadas aos sistemas de combate a incêndio, visando aumentar sua eficiência e reduzir impactos estruturais. Entre as principais soluções destacam-se:

  • Sistemas de detecção inteligente: Sensores de fumaça e temperatura conectados a centrais automatizadas permitem a detecção precoce de incêndios e o acionamento imediato de alarmes e sprinklers. Alguns modelos utilizam inteligência artificial para diferenciar fumaça comum de vapores inofensivos, evitando disparos falsos (RODRIGUES; LIMA, 2021).
  • Sprinklers de resposta rápida: Modelos mais modernos de sprinklers conseguem ativação em temperaturas mais baixas, reduzindo significativamente o tempo de resposta ao incêndio e evitando que o fogo se propague para outras áreas da edificação (FERREIRA et al., 2020).
  • Materiais de construção resistentes ao fogo: O uso de concreto reforçado com fibras, tintas intumescentes e barreiras corta-fogo está cada vez mais presente em projetos arquitetônicos modernos, garantindo maior tempo de resistência ao calor extremo (COSTA; PEREIRA, 2019).
  • Sistemas de pressurização de escadas: Essenciais para garantir a segurança nas evacuações, esses sistemas impedem a entrada de fumaça nas rotas de fuga, facilitando o deslocamento seguro dos ocupantes da edificação (MORAES et al., 2020).

Essas inovações demonstram o avanço significativo no setor de segurança contra incêndios e reforçam a importância de sua integração com as características estruturais das edificações para garantir proteção eficaz.

ESTUDO DE CASO 

A segurança contra incêndios em edificações residenciais é um aspecto fundamental para a proteção da vida e do patrimônio. Este estudo de caso analisa a infraestrutura e as medidas de prevenção e combate a incêndios de um condomínio multifamiliar localizado na cidade de Manaus, Amazonas. O empreendimento é composto por quatro torres idênticas, cada uma com vinte andares e quatro apartamentos por pavimento. O condomínio conta ainda com áreas comuns destinadas ao lazer, tais como salão de festas, salão de jogos, quadra esportiva e playground.

Caracterização da Edificação e População Estimada

Cada pavimento das torres é composto por quatro apartamentos de dois dormitórios. Considerando as diretrizes técnicas para cálculo da ocupação, que estipulam a presença de duas pessoas por dormitório e a inclusão da sala como dormitório nos apartamentos de até dois quartos, estima-se uma ocupação de 24 moradores por pavimento. Assim, cada torre abriga uma população potencial de até 480 habitantes, totalizando 1.920 moradores em todo o condomínio.

Equipamentos de Combate a Incêndio

Extintores de Incêndio

Cada pavimento das torres conta com dois extintores portáteis, sendo um de carga d’água e outro de pó químico BC, instalados nos halls de serviço próximos às saídas de emergência. Nos pavimentos de garagem, há um conjunto de dois extintores posicionados junto às escadas de emergência. Durante a vistoria, verificou-se que os extintores estavam dentro do prazo de validade e possuíam certificação do Inmetro.

Entretanto, a distribuição dos equipamentos não atende plenamente ao padrão de distanciamento máximo exigido para edificações de risco baixo, sendo necessária a instalação de 16 extintores adicionais nos pavimentos de garagem.

Iluminação de Emergência

O sistema de iluminação de emergência do condomínio opera no modelo não permanente, acionado automaticamente em caso de falha no fornecimento de energia elétrica. No entanto, observou-se deficiência na distribuição da luz, especialmente nas escadas, onde parte dos degraus recebe iluminação indireta, reduzindo a visibilidade e comprometendo a segurança.

As luminárias existentes não possuem certificação do Inmetro e correspondem à época de construção do prédio, datada do final da década de 1970. Além disso, não há iluminação específica para rotas de fuga e equipamentos de combate a incêndio. Recomenda-se, portanto, a substituição do sistema por um modelo mais moderno, garantindo o adequado balizamento das saídas de emergência.

Sinalização de Emergência

A edificação conta apenas com sinalizações básicas para hidrantes e extintores, além de um alerta na entrada da casa de máquinas. No entanto, não há sinalização de orientação e salvamento, o que pode dificultar a evacuação dos moradores em uma situação de incêndio.

A ausência de sinalização apropriada pode comprometer a segurança de pessoas não familiarizadas com a edificação ou que estejam desorientadas em uma emergência. Diante disso, recomenda-se a instalação de placas indicativas das rotas de fuga, bem como a demarcação das saídas de emergência e dos equipamentos de combate a incêndio.

Sistema de Alarme de Incêndio

O condomínio não possui sistema de alarme de incêndio. Embora a legislação vigente à época da construção não exigisse essa instalação, a altura dos prédios e a falta de compartimentação entre os pavimentos tornam a evacuação mais desafiadora.

Uma solução viável seria a implementação de um sistema de alarme convencional, conforme exigido pelas normas atuais, ou a adaptação do sistema de interfone para permitir alertas sonoros em caso de sinistro. Essa medida aumentaria significativamente o tempo de resposta dos moradores diante de uma emergência.

Brigada de Incêndio

O condomínio não conta com uma brigada de incêndio estruturada. Considerando a classificação da ocupação e o grau de risco baixo, seria necessária a formação de uma brigada composta por 92 integrantes, incluindo 12 funcionários e 80 moradores ou funcionários de apartamentos.

A brigada desempenha um papel crucial tanto na prevenção quanto no combate inicial a incêndios, além de auxiliar na evacuação e nos primeiros socorros. Dado o baixo custo da implementação, recomenda-se a formação imediata da equipe, com capacitação básica para os participantes.

Sistema de Hidrantes

As torres possuem hidrantes instalados nos andares pares e nos pavimentos de garagem, localizados próximos ao elevador de serviço. O sistema conta com reservatórios elevados de 25.000 litros por torre, totalizando 50.000 litros por edifício.

Entretanto, constatou-se a ausência de mangueiras e esguichos em alguns pontos, devido a furtos recorrentes. A falta desses componentes inviabiliza a utilização dos hidrantes em caso de emergência. Recomenda-se a reposição imediata dos equipamentos e a adoção de medidas para evitar novas subtrações, como a instalação de dispositivos de segurança nos armários dos hidrantes.

Outra alternativa a ser considerada, embora de maior custo, seria a substituição do sistema de hidrantes por mangotinhos, que oferecem maior praticidade no uso, exigindo menos esforço físico para operação.

Saídas de Emergência e Escadas

As saídas dos apartamentos ocorrem pelos halls de serviço, que conduzem às escadas de emergência. Os corredores possuem largura adequada e sem obstruções, atendendo às normas vigentes.

As escadas, no entanto, apresentam algumas inconformidades. Embora sua largura (1,12 m) seja inferior ao mínimo exigido (1,2 m), o dimensionamento da lotação por pavimento indica que sua capacidade ainda é superior à população real. Contudo, há ausência de corrimãos nos patamares, o que representa um risco, principalmente para pessoas com mobilidade reduzida.

A saída principal dos prédios possui portas de vidro que se abrem no sentido contrário ao fluxo de evacuação, aumentando o risco em situações de pânico. A inversão do sentido de abertura das portas é uma solução simples e econômica que pode ser implementada rapidamente para aumentar a segurança.

Outras medidas necessárias incluem a instalação de pisos antiderrapantes nos degraus, faixas reflexivas ao longo das rotas de fuga e sinalização orientativa das saídas de emergência.

Conclusão e Recomendações

A análise realizada no condomínio residencial em Manaus-AM revelou diversas inadequações nos sistemas de combate a incêndio e evacuação, comprometendo a segurança dos moradores.

As principais medidas corretivas recomendadas são:

  • Adequação da distribuição de extintores, com a instalação de 16 unidades adicionais nos pavimentos de garagem.
  • Substituição da iluminação de emergência, garantindo visibilidade adequada nas rotas de fuga.
  • Instalação de sinalização de orientação e salvamento, facilitando a evacuação em caso de incêndio.
  • Implementação de um sistema de alarme de incêndio, podendo ser integrado ao interfone.
  • Formação de uma brigada de incêndio, com treinamento básico para funcionários e moradores.
  • Reposição e proteção dos equipamentos dos hidrantes, reduzindo furtos e garantindo a operabilidade do sistema.
  • Correção das falhas nas escadas de emergência, incluindo instalação de corrimãos nos patamares e ajuste das portas de saída.

A adoção dessas medidas contribuirá significativamente para a melhoria da segurança contra incêndios no condomínio, reduzindo riscos e protegendo a vida e o patrimônio dos seus moradores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A partir das pesquisas e análises realizadas ao longo deste estudo, evidencia-se a relevância da observância rigorosa das legislações e normas técnicas aplicáveis aos sistemas de prevenção e combate a incêndios. A correta implementação dessas diretrizes não apenas reduz significativamente os riscos e danos às edificações, mas também contribui diretamente para a segurança dos ocupantes.

O estudo de caso analisado reforça a necessidade de um planejamento adequado na concepção dos sistemas de combate a incêndios, evidenciando que falhas na execução ou na fiscalização podem comprometer a eficácia das medidas preventivas. A interdependência entre a estrutura das edificações e os dispositivos de combate ao fogo demonstra que um projeto bem elaborado deve considerar tanto os requisitos normativos quanto as especificidades do ambiente construído. Além disso, a capacitação dos indivíduos para operar corretamente os equipamentos de combate a incêndio em situações emergenciais é um fator determinante para minimizar os impactos de um sinistro.

Outro ponto crítico identificado é a dificuldade enfrentada pelos órgãos fiscalizadores na análise e aprovação dos projetos, bem como na fiscalização da execução das obras e na liberação das edificações para funcionamento. Esse cenário ressalta a importância da conscientização de todos os envolvidos no processo – engenheiros, arquitetos, gestores e ocupantes das edificações – sobre a necessidade de cumprimento das normativas vigentes.

Diante desse contexto, conclui-se que a prevenção ainda é a melhor estratégia para garantir a segurança das construções e das pessoas. Medidas eficazes de prevenção e combate a incêndios devem ser tratadas como prioridade, pois além de proteger vidas, também evitam perdas patrimoniais e impactos ambientais severos. Assim, torna-se imprescindível um compromisso contínuo com a melhoria dos sistemas de segurança contra incêndios, aliando tecnologia, fiscalização eficiente e treinamento adequado para minimizar os riscos e garantir a integridade das edificações e de seus ocupantes.

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