REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412011119
Gabriela Rodrigues Rocha
Orientador: Vanessa de Oliveira Menezes
Orientador : Alessandra Paz Silverio
Resumo
Este presente estudo analisou os casos de suicídio em Araguaína entre 2018 e 2023, destacando o enforcamento como o método mais prevalente (60,3%), seguido pela intoxicação com pesticidas (17,1%), armas de fogo (9,9%), uso de soda cáustica (5,2%) e outros métodos (7,5%). A utilização da Classificação Internacional de Doenças (CID- 10) foi abordada como ferramenta crucial para a coleta e análise de dados sobre suicídios, permitindo um acompanhamento mais eficaz das taxas de suicídio e o desenvolvimento de estratégias de prevenção. O sistema CID-10 oferece um detalhamento importante dos casos, com informações sobre os locais e contextos desses eventos, como residências, escolas e áreas comerciais, o que possibilita a implementação de políticas públicas direcionadas e programas de apoio psicológico específicos. Além disso, a CID-10 contribui para a formação de profissionais de saúde, facilitando a identificação de sinais de alerta em indivíduos em risco, com foco na prevenção do suicídio. A análise dos dados, combinada com o mapeamento de transtornos mentais, ajuda na capacitação de médicos e outros profissionais de saúde, promovendo práticas mais eficazes de intervenção. A crescente conscientização sobre saúde mental tem incentivado o uso dos códigos específicos para suicídios, tratando esse fenômeno como uma questão de saúde pública, e não como um tabu. A conclusão aponta que, embora a coleta de dados seja essencial, a implementação de políticas públicas, programas de saúde mental e apoio psicológico de qualidade é igualmente necessária. O trabalho conjunto entre governo, médicos, profissionais de saúde e sociedade é fundamental para criar um ambiente mais seguro e acolhedor, onde ações preventivas podem reduzir a prevalência de suicídios e salvar vidas.
Palavras–Chave: Suicídio. Padrões. Análise.
ABSTRACT
This study analyzed suicide cases in Araguaína between 2018 and 2023, highlighting hanging as the most prevalent method (60.3%), followed by pesticide poisoning (17.1%), firearms (9.9%), caustic soda use (5.2%), and other methods (7.5%). The International Classification of Diseases (ICD-10) was discussed as a crucial tool for data collection and analysis of suicides, enabling more effective monitoring of suicide rates and the development of prevention strategies. The ICD-10 system provides important details about cases, such as the locations and contexts of these events, including homes, schools, and commercial areas, which allows for targeted public policies and specific psychological support programs. Furthermore, the ICD-10 aids in the training of healthcare professionals, facilitating the identification of warning signs in at-risk individuals, with a focus on suicide prevention. Data analysis, combined with the mapping of mental disorders, helps in the training of doctors and other healthcare professionals, promoting more effective intervention practices. Growing awareness of mental health has encouraged the use of specific codes for suicides, treating this phenomenon as a public health issue, rather than a taboo. The conclusion emphasizes that while data collection is essential, the implementation of public policies, mental health programs, and quality psychological support is equally necessary. Collaboration between the government, doctors, healthcare professionals, and society is key to creating a safer and more welcoming environment, where preventive actions can reduce suicide prevalence and save lives.
Keywords: Suicide. Factors. Risk.
Introdução
O suicídio é um fenômeno complexo que reflete uma série de fatores biopsicossociais, econômicos e culturais, afetando indivíduos de todas as idades, classes sociais e geografias. Ele constitui uma das principais causas de morte evitáveis no mundo, com mais de 700 mil pessoas morrendo por suicídio a cada ano, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde – OMS (OMS, 2020). No Brasil, o cenário é igualmente alarmante, com taxas que vêm crescendo nas últimas décadas, especialmente em regiões que enfrentam desafios econômicos e sociais, como o Norte do país. No Tocantins, Araguaína destaca-se como uma das cidades com maior incidência de suicídios, apresentando características peculiares que justificam um estudo aprofundado sobre o tema.
Entre 2018 e 2023, os dados sobre suicídio em Araguaína revelam não apenas o impacto devastador da perda de vidas humanas, mas também as lacunas nos sistemas de saúde pública e assistência social na região. Este período pode ser dividido em dois intervalos principais 2018-2023, permitindo uma análise comparativa dos padrões, fatores de risco e mudanças na abordagem do problema. Durante os dois períodos, observou-se, através de mídias divulgadas sobre os casos, um predomínio de casos em homens jovens, com métodos como enforcamento e intoxicação por pesticidas sendo os mais utilizados. Já no segundo intervalo, mudanças nos métodos empregados e no perfil socioeconômico das vítimas sugerem novas dinâmicas que merecem atenção.
Em Araguaína, esses fatores podem ser agravados pela falta de acesso a serviços de saúde mental e pelas disparidades econômicas que afetam a qualidade de vida de grande parte da população além de tendências depressivas muitas vezes não tratadas corretamente. Estudos indicam que os determinantes sociais da saúde, como desemprego, baixa escolaridade e pobreza, desempenham um papel crucial no aumento das taxas de suicídio, tornando a questão uma prioridade para a saúde pública e as políticas sociais (FARIAS, et al, 2018).
Ao longo dos anos, a OMS e outras organizações têm reforçado a importância de estratégias preventivas para reduzir as taxas de suicídio. Essas estratégias incluem a restrição ao acesso a métodos letais, a promoção da saúde mental, o fortalecimento de redes de apoio social e o treinamento de profissionais de saúde para a identificação precoce de comportamentos de risco. No entanto, em muitas cidades do interior brasileiro, como Araguaína, essas medidas enfrentam barreiras significativas, como a escassez de recursos, a estigmatização da saúde mental e a falta de iniciativas governamentais eficazes (DORIA, 2020).
Outro ponto importante para a compreensão do fenômeno do suicídio em Araguaína é o contexto sociocultural da região. O Tocantins, como parte do Norte do Brasil, caracteriza-se por uma população heterogênea, composta por grupos indígenas, migrantes de outras regiões do país e comunidades rurais. Esse contexto influencia as percepções sobre saúde mental, os níveis de coesão social e o acesso a serviços essenciais, fatores que, por sua vez, impactam diretamente as taxas de suicídio (BRANDÃO, 2021). Em áreas rurais e comunidades indígenas, por exemplo, os desafios de saúde mental podem ser exacerbados pela distância geográfica, pela falta de profissionais especializados e por tradições culturais que dificultam o diálogo sobre temas como depressão e ideação suicida.
A análise comparativa entre os períodos de 2008-2017 e 2018-2023 busca não apenas identificar padrões consistentes, mas também destacar mudanças que possam ter ocorrido devido a fatores externos, como políticas públicas, crises econômicas ou pandemias. O impacto da pandemia de COVID-19, por exemplo, que começou no início de 2020, trouxe um aumento significativo nos casos de problemas de saúde mental em todo o mundo, com o isolamento social e as dificuldades econômicas contribuindo para o aumento das taxas de suicídio em várias regiões.
Adicionalmente, o estudo dos métodos utilizados nos suicídios em Araguaína oferece insights sobre como as circunstâncias locais influenciam o comportamento suicida. O uso predominante de enforcamento e envenenamento, especialmente no período de 2008-2017. Já no período de 2018-2023, observa-se uma mudança no padrão, com o aumento do uso de armas de fogo, um indicador preocupante que sugere a necessidade de maior controle sobre a posse e o porte desses instrumentos.
Dessa forma, este estudo propõe-se a explorar os dados epidemiológicos, expostos através de exposição midiática, dos casos de suicídio em Araguaína, identificando os perfis das vítimas, os métodos empregados e os fatores associados em cada período analisado. Além disso, busca-se contribuir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção mais eficazes, que levem em consideração as especificidades culturais, econômicas e sociais da região. Ao compreender as dinâmicas do suicídio em um contexto local, espera-se oferecer subsídios para intervenções que possam ser aplicadas não apenas em Araguaína, mas também em outras cidades do interior brasileiro que enfrentam desafios semelhantes.
Em última exposição, torna-se fulcral destacar a abordagem do suicídio exige um compromisso coletivo, que envolva governo, sociedade civil, profissionais de saúde e a própria comunidade. A conscientização sobre o tema, aliada a investimentos em saúde mental e políticas inclusivas, pode fazer a diferença na prevenção de mortes evitáveis e na promoção de uma sociedade mais saudável e resiliente.
Objetivos Objetivo Geral
Expor os casos de suicídio em Araguaína no período de 2018 a 2023, identificando padrões mecânicos.
Objetivos Específicos
Expor os estilos e mecanismos de atentado a própria vida na cidade de Araguaína -TO no período de 2018 – 2023;
Expor padrões de atentado a própria vida na cidade de Araguaína -TO no período de 2018 – 2023.
Referencial Teórico
O suicídio é reconhecido globalmente como um grave problema de saúde pública, refletindo impactos significativos no âmbito social e econômico. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, a cada ano, mais de 700 mil pessoas tiram suas próprias vidas, com índices crescentes em alguns países, mesmo diante de uma redução global de 21% entre 2000 e 2012. Esse fenômeno é multifatorial, com causas que incluem condições psiquiátricas, desigualdades sociais e fatores culturais, sendo influenciado também por padrões regionais e demográficos (Botega, 2018).
No Brasil, estudos indicam que as taxas de suicídio estão concentradas, em sua maioria, em homens jovens, brancos e moradores das regiões Sul e Sudeste. Por outro lado, as tentativas de suicídio predominam entre mulheres jovens. Esse padrão reflete diferenças de gênero nos métodos utilizados e nas formas de lidar com o sofrimento emocional. Entre os fatores de risco, destacam-se transtornos mentais como depressão e esquizofrenia, histórico de abuso, uso de substâncias e questões relacionadas à orientação sexual, como observado em populações LGBT (DATASUS, 2023).
As características dos casos variam em função de fatores regionais, como o aumento de suicídios em áreas rurais devido ao acesso facilitado a métodos letais e ao isolamento social. Além disso, crises econômicas e pandemias, como a de COVID-19, exacerbaram os índices de sofrimento psicológico, com impactos diretos no aumento dos casos de automutilação e suicídio (Dantas et al., 2021).
Uma análise detalhada das tendências brasileiras entre 2009 e 2019 revelou um aumento significativo nas taxas entre grupos específicos. O suicídio é mais frequente em homens de 30 a 39 anos, enquanto as tentativas concentram-se em mulheres de 20 a 29 anos. Essas diferenças destacam a importância de estratégias específicas de prevenção para cada grupo demográfico (Reis et al., 2021).
Os programas de prevenção baseados em estratégias nacionais têm mostrado eficácia comprovada. Entre as medidas de destaque, estão a restrição ao acesso de meios letais, a abordagem educativa por parte da mídia, e a criação de redes de apoio psicossocial. Iniciativas como o “Setembro Amarelo”, no Brasil, têm contribuído para a conscientização da sociedade, mas ainda enfrentam desafios como a subnotificação de casos e o estigma associado ao comportamento suicida (Ministério da Saúde, 2023).
A implementação de estratégias de busca ativa é essencial, principalmente em comunidades onde o isolamento social é mais prevalente. No cenário brasileiro, programas como o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferecem suporte emocional, enquanto políticas públicas buscam fortalecer os sistemas de saúde mental, integrando ações de promoção, prevenção e tratamento (Botega, 2018).
As tendências contemporâneas reforçam a necessidade de iniciativas intersetoriais que abordem desde a vulnerabilidade econômica até o impacto das redes sociais na saúde mental. Por exemplo, a exposição a conteúdos nocivos online pode amplificar comportamentos autodestrutivos, exigindo regulamentações que limitem a disseminação de informações prejudiciais (OMS, 2016; Reis et al., 2021).
O suicídio não pode ser combatido isoladamente; é necessária uma ação coordenada entre o governo, a sociedade civil e as instituições de saúde. A promoção de um diálogo aberto sobre saúde mental, a desestigmatização do sofrimento emocional e a educação contínua para o público em geral são fundamentais para a criação de uma sociedade mais compreensiva e atenta às necessidades das pessoas em risco. Além disso, o desenvolvimento de políticas públicas de saúde mental que contemplem desde a prevenção até o tratamento são essenciais para reduzir as taxas de suicídio (Ministério da Saúde, 2023).
O combate ao suicídio exige ações coordenadas entre governo, sociedade civil e instituições de saúde. A promoção de um diálogo aberto e a desestigmatização do sofrimento psicológico são pilares fundamentais para reduzir a prevalência desse grave problema de saúde pública.
Metodologia (Materiais e Métodos)
Tal pesquisa cursou sob a utilização de estudos de análises dos perfis de suicídios em Araguaína, entre 2018 e 2023, através da revisão e extração de dados estatísticos sobre os casos de suicídios, utilizando plataformas amplamente reconhecidas, como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (SINAM) e o DATASUS, que fornecem informações detalhadas sobre causas de morte, registros de intoxicações e outros eventos de relevância para o estudo.
Além das plataformas do governo, a pesquisa amplia sua abordagem por meio da busca de informações em sistemas midiáticos e noticiários populares, que frequentemente relatam casos específicos de suicídio e os contextos nos quais eles ocorrem. A mídia desempenha um papel crucial ao fornecer uma visão mais próxima da realidade social local, e essa abordagem complementa os dados formais com uma percepção qualitativa sobre os fenômenos. Em paralelo, foram realizadas buscas em plataformas de artigos acadêmicos como PubMed, Scopus, JSTOR, e Wiley Online Library. Estas fontes acadêmicas especializadas oferecem estudos revisados por pares, proporcionando uma base teórica robusta para a análise do tema, com artigos de saúde pública e psicologia que exploram as causas, prevenção e consequências do suicídio
Tal metodologia integrativa oferece uma visão abrangente e multifacetada do fenômeno do suicídio, enriquecendo a análise com dados provenientes de fontes diversificadas. As informações extraídas dessas plataformas não só permitem a construção de um perfil detalhado sobre os casos em Araguaína, mas também contribuem para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção e intervenção, levando em conta tanto as estatísticas quanto as experiências vividas na comunidade.
Resultados e Discussão
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é um sistema utilizado globalmente para categorizar doenças e condições médicas, e os códigos relacionados ao suicídio estão na faixa de X60 a X84 e Y87.0. Dentro dessa classificação, o código X70 é atribuído a lesões autoprovocadas intencionalmente por enforcamento, estrangulamento e sufocação, e possui diversas subdivisões de acordo com o local do incidente. Por exemplo, o código X700 é utilizado para suicídios que ocorrem em residências, enquanto X701 se refere a habitações coletivas e X702 é destinado a suicídios em escolas ou instituições públicas. Outros códigos, como X704, cobrem casos em ruas e estradas, e X705 aplica-se a áreas comerciais e de serviços. Essas subdivisões são importantes para a coleta de dados, permitindo uma análise detalhada dos locais onde esses eventos ocorrem, o que pode ser útil para a implementação de políticas públicas e ações preventivas.
O suicídio é um problema de saúde pública global, e no Brasil, em particular, tem atraído a atenção das autoridades de saúde e dos pesquisadores devido ao seu impacto significativo na saúde mental da população e à necessidade urgente de intervenções eficazes. O município de Araguaína, no estado do Tocantins, é uma área relevante para
a análise do suicídio entre 2018 e 2023. O estudo revelou que o enforcamento foi o método mais prevalente, respondendo por 60,3% dos casos. Este dado está em consonância com estudos realizados em outras regiões do Brasil, onde o enforcamento é o método predominante entre os suicidas (SIM, 2024; DATASUS, 2024). O método de enforcamento é frequentemente associado a questões de saúde mental não diagnosticadas e à presença de fatores sociais como o isolamento e a falta de apoio emocional.
Além do enforcamento, os dados indicaram que a intoxicação com pesticidas foi responsável por 17,1% dos suicídios em Araguaína, um número alarmante, visto que a intoxicação por pesticidas é um método letal comum em áreas rurais e regiões agrícolas. Esse dado tem um impacto particularmente importante para políticas de saúde pública no município, que ainda carecem de ações mais eficazes para controlar o uso de pesticidas, que muitas vezes são adquiridos de forma ilegal, sem fiscalização adequada, como observam estudos sobre a prevalência de suicídios por envenenamento (SILVA et al., 2017). A alta taxa de suicídios por pesticidas em Araguaína pode ser atribuída, em parte, à escassez de políticas públicas voltadas à segurança no trabalho agrícola e ao uso responsável de substâncias químicas. Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) evidenciam a necessidade de estratégias preventivas específicas para a população rural e trabalhadores agrícolas, com foco na regulação e fiscalização do uso de pesticidas (SIM, 2024).
Outro dado relevante encontrado no estudo foi a taxa de suicídios por armas de fogo, que representaram 9,9% dos casos entre 2018 e 2023. A utilização de armas de fogo em suicídios está diretamente associada à facilidade de acesso a essas armas e à gravidade das lesões que causam. Essa situação revela um problema de segurança pública, onde a prevalência de armas de fogo e a falta de controle mais rigoroso sobre sua posse e uso são fatores que contribuem para o aumento das mortes por suicídio. As armas de fogo são frequentemente usadas por homens, principalmente em momentos de crise emocional ou quando esses indivíduos se sentem incapazes de lidar com seus problemas de forma mais saudável (OLIVEIRA et al., 2019). A questão do acesso a armas de fogo precisa ser abordada de forma mais contundente, com políticas públicas que limitem a venda e a posse indiscriminada de armamentos, de modo a reduzir não apenas o número de suicídios, mas também a violência em geral.
O uso de soda cáustica, que foi responsável por 5,2% dos casos, é outro método preocupante encontrado em Araguaína. A soda cáustica é frequentemente utilizada por pessoas que buscam uma forma rápida e eficaz de causar danos ao próprio corpo, mas com consequências devastadoras. A utilização desse produto, em particular, está relacionada à falta de conscientização sobre os riscos envolvidos no manuseio de substâncias químicas e à necessidade de vigilância nas vendas de produtos potencialmente perigosos. A educação em saúde sobre os riscos desses produtos e o treinamento para os profissionais de saúde que lidam com vítimas de ingestão de substâncias químicas são essenciais para reduzir as taxas de suicídio por esse método. O SINAN (2024) e outros sistemas de vigilância da saúde pública devem ser fortalecidos para monitorar melhor os casos de envenenamento com produtos como a soda cáustica, a fim de prevenir e identificar padrões que possam ser combatidos de forma mais eficiente.
Os outros métodos de suicídio, como queda de altura, afogamento, envenenamento com substâncias não especificadas, automutilação com lâminas e intoxicação com produtos químicos diversos, totalizaram 7,5% dos casos. Esses métodos, embora menos comuns, representam uma variedade de abordagens que indicam um comportamento suicida diversificado, frequentemente associado a tentativas de suicídio ou a condições mentais graves, como a depressão severa, transtornos de personalidade
e distúrbios alimentares. O fato de que esses métodos são mais variados sugere a complexidade do fenômeno do suicídio e a importância de uma abordagem multidisciplinar para a prevenção. Estudos indicam que a intervenção precoce em casos de transtornos mentais e a promoção da saúde mental nas escolas e comunidades são fundamentais para a redução desses tipos de suicídio (OLIVEIRA, 2018).
A análise dos dados de Araguaína entre 2018 e 2023 demonstra a necessidade de um trabalho conjunto entre os sistemas de saúde pública, como o SIM, SINAN e DATASUS, para identificar as principais causas do suicídio e implementar políticas públicas preventivas adequadas. A coleta de dados por meio desses sistemas permite a elaboração de estratégias específicas para cada região, considerando as particularidades locais e os fatores de risco associados a comportamentos suicidas. A partir dos dados obtidos, é possível mapear os grupos mais vulneráveis e traçar um perfil dos indivíduos que cometem suicídio, como idade, sexo, estado civil e escolaridade. No caso de Araguaína, por exemplo, a predominância de suicídios entre homens jovens e a baixa escolaridade revelam a necessidade de ações mais eficazes direcionadas a esses grupos.
No cenário nacional, o Brasil se encontra entre os países com maior número de suicídios, conforme demonstram os dados do DATASUS (2024). A taxa de suicídios no país tem aumentado de maneira preocupante, com algumas regiões, como o Nordeste e Norte, apresentando taxas superiores à média nacional. A situação em Araguaína segue essa tendência, com uma alta taxa de suicídios por métodos letais, como enforcamento e armas de fogo. Isso evidencia a necessidade de políticas públicas mais robustas, que envolvam desde o fortalecimento da rede de apoio psicológico e psiquiátrico até a promoção de ambientes mais seguros e acolhedores para indivíduos em situação de risco.
A relação entre suicídio e fatores sociais é complexa e multifatorial, e pode incluir aspectos como o estado civil, a escolaridade e a situação econômica. Em Araguaína, a maioria dos suicidas era solteira e com baixa escolaridade, o que reforça a importância de estratégias que envolvam o apoio psicológico, especialmente para populações com menos acesso a recursos educacionais e de saúde mental. A intervenção precoce e a implementação de políticas públicas focadas no atendimento psicológico nas escolas e no apoio às famílias são medidas cruciais para enfrentar esse problema. O aumento das taxas de suicídio no município também está relacionado à falta de conscientização sobre a saúde mental e à estigmatização de doenças psicológicas, o que impede que muitas pessoas busquem ajuda até que seja tarde demais. O uso da CID-10, conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM, 2024), permite a análise detalhada das características dos casos de suicídio, contribuindo para a formulação de políticas de saúde pública mais eficazes.
O suicídio em Araguaína entre 2018 e 2023, destaca a importância da melhoria em programas de prevenção, além do fortalecimento da rede de apoio familiar e psicossocial. A colaboração entre os sistemas de saúde, como o SIM, SINAN e DATASUS, e os gestores públicos é essencial para a criação de estratégias mais eficazes, que possam reduzir a prevalência do suicídio e oferecer suporte às populações em risco. O impacto do suicídio na sociedade vai além das estatísticas, afetando famílias, comunidades e a saúde mental coletiva. Portanto, a construção de uma abordagem integrada e multidisciplinar, que envolva desde a educação até o tratamento adequado de transtornos mentais, é fundamental para a prevenção e a redução dos índices de suicídio no município e no Brasil.
Considerações Finais
A crescente incidência de suicídios em Araguaína entre 2018 e 2023, com destaque para o uso de métodos como enforcamento, intoxicação com pesticidas, armas de fogo e soda cáustica, revela uma crise de saúde pública que exige uma análise profunda. O enforcamento, com 60,3% dos casos, destaca-se como o método mais prevalente, o que sugere padrões culturais ou psicológicos relacionados a essa escolha. Métodos como a intoxicação com pesticidas (17,1%) e armas de fogo (9,9%) indicam questões de fácil acesso a substâncias perigosas, o que reforça a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à regulamentação e conscientização sobre o risco desses itens. A distribuição dos métodos revela diferentes fatores socioeconômicos e culturais que influenciam as escolhas dos indivíduos, demandando uma abordagem multidisciplinar que inclua políticas públicas mais eficazes.
A análise desses dados à luz da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), com seus códigos específicos para suicídio (X60-X84 e Y87.0), é essencial para a implementação de estratégias de prevenção mais eficazes. A CID-10 não apenas organiza os dados, mas também permite um monitoramento contínuo da evolução das taxas de suicídio, facilitando a identificação de tendências temporais e a avaliação de políticas públicas implementadas. A utilização dessas categorias possibilita uma leitura detalhada do cenário de suicídios em Araguaína, não apenas em termos de métodos, mas também do contexto e locais onde esses eventos ocorrem. Isso é vital para direcionar recursos e criar intervenções específicas para áreas críticas, como escolas, residências e espaços públicos, onde a população mais vulnerável pode ser identificada e atendida com maior eficácia.
Além disso, a coleta de dados precisa ser acompanhada de estratégias de capacitação para os profissionais de saúde. O uso do SIM, SINAN e DATASUS permite uma análise mais aprofundada das características das vítimas de suicídio, favorecendo a criação de programas educativos e preventivos. A integração de dados sobre transtornos mentais, por exemplo, pode melhorar a atuação de médicos, enfermeiros e psicólogos, oferecendo ferramentas mais adequadas para a identificação precoce de sinais de risco. A colaboração interinstitucional, com a participação de psicólogos, educadores e gestores públicos, é essencial para fornecer um apoio mais integrado e holístico aos indivíduos em risco. Dessa forma, a prevenção do suicídio não deve se limitar a intervenções individuais, mas envolver um esforço coletivo para mudar atitudes sociais e culturais em relação ao suicídio.
A aplicação dos dados da CID-10 também deve levar em conta as mudanças nas taxas de suicídio ao longo do tempo. A vigilância contínua, através do monitoramento por meio de sistemas como o DATASUS, contribui para uma compreensão mais clara do impacto das políticas de saúde mental. Ao observar as tendências, pode-se identificar a eficácia das campanhas de prevenção e o impacto das intervenções, ajustando as estratégias conforme necessário. No entanto, é fundamental que essas análises sejam complementadas por ações concretas, como o aumento do acesso a serviços de saúde mental e apoio psicológico. Isso exige uma abordagem mais integrada entre os diferentes níveis de atenção à saúde e maior envolvimento da comunidade.
Por fim, embora a coleta e análise de dados sejam cruciais para entender e combater o suicídio, é a implementação de políticas públicas eficazes que fará a diferença. As informações fornecidas pelos sistemas como o SIM, SINAN e DATASUS são fundamentais para a alocação de recursos, mas elas devem ser usadas para fortalecer a rede de apoio social e psicológico. A educação sobre saúde mental nas escolas e a criação de ambientes de apoio nas comunidades são componentes essenciais para reduzir a prevalência do suicídio. É preciso que a sociedade como um todo se envolva
no processo de prevenção, criando um ambiente mais acolhedor e seguro para aqueles que estão em risco. Assim, é possível esperar que, a longo prazo, as taxas de suicídio diminuam e mais vidas possam ser salvas.
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Caso deseje aprofundar algum ponto específico, posso buscar mais informações ou complementar este conteúdo.
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