ANÁLISE DOS GASTOS AMBULATORIAIS COM FIBROMIALGIA EM PERNAMBUCO: UMA ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA

ANALYSIS OF OUTPATIENT EXPENDITURES FOR FIBROMYALGIA IN PERNAMBUCO: AN EPIDEMIOLOGICAL APPROACH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301515


Ahya Teles Fujishima1 / Ana Rosa Vieira de Mairins2 / Bruna Gozzer Ribeiro3 / Emilly Carolyne Alexandre dos Santos4 / Gabriela Toscano Feitosa Gomes5/ Hallana Adryene Jácome Fernandes6 / Ingrid Holanda Guedes7 / Letícia Cristina de Souza Jacome8 / Mariana de Melo Andrade9 / Mayara Cavalcanti Rosa de Albuquerque10 / Vinícius Bispo Nóbrega11 / Cynthia Galvão Inácio12


Resumo

A fibromialgia é uma síndrome que afeta entre 2 a 2,5% da população brasileira, caracterizando-se por dor crônica generalizada, fadiga e transtornos de humor, fatores que impactam diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Este estudo visa levantar o número de procedimentos e os gastos ambulatoriais com pacientes fibromiálgicos em Pernambuco. Realizou-se um estudo epidemiológico transversal com dados secundários do DATASUS (SIA/SUS), coletados entre 2019 e 2023, usando TabWin. Foram analisados os procedimentos e custos conforme sexo, idade e ano. Observou-se predominância no atendimento de mulheres (87,58%) e na faixa etária de 40 a 59 anos. Houve aumento de 156,19% nos procedimentos em 2023 comparado a 2019, com uma exceção em 2020 devido à pandemia de COVID-19. A limitação do estudo é a falta de especificidade dos dados, sugerindo possível subestimação dos casos de fibromialgia. Conclui-se pela necessidade de políticas de saúde específicas para essa população.

Palavras-chave: Fibromialgia. Sistema Único de Saúde. Grupos Etários.

1. INTRODUÇÃO

A fibromialgia é uma condição complexa que cursa com dor crônica difusa, atingindo principalmente o sistema musculoesquelético. Acomete 0,6% a 6,4% da população global, predominando entre mulheres (ALBERTI FF, BLATT CR, PILGER D, 2021). Dados brasileiros sugerem uma prevalência de 2 a 2,5% nessa população. Além do quadro doloroso, a fibromialgia pode evoluir com fadiga e transtorno de humor, fatores os quais, somados ao quadro doloroso, afetam diretamente a qualidade de vida dos envolvidos (MOREIRA; SHINJO, 2023, p. 272). Uma pesquisa realizada por Bragazzi et al, com dados pré-pandemia indica que o interesse digital pela fibromialgia vem se mantido estável nos últimos anos e reflete a necessidade de se manter educação continuada tanto para pacientes quanto profissionais (BRAGAZZI et al, 2017). Outro trabalho mais recente realizou uma análise bibliométrica de publicações relacionadas ao tema da fibromialgia e mostrou um crescimento exponencial entre os anos de 1991 a 2021(DENCHE-ZAMORANO et al, 2023).  

O interesse pela doença se deve em decorrência do alto impacto na qualidade de vida dos portadores de fibromialgia, tanto do ponto de vista econômico, laboral e biopsicossocial, haja vista se tratar de uma doença complexa, diagnóstico desafiador e opções de tratamento limitados (WEINSTEIN et al, 2024). Esse impacto econômico da fibromialgia foi avaliado em 2017 no sistema de saúde público da Espanha chegando a cifras anuais que atingem mais de 4 bilhões de euros, com uma relação de 11.629 euros ao ano por paciente (CLIMENT-SANZ et al, 2024). Apesar de sua prevalência e relevância, persistem lacunas no conhecimento de dados relacionados à economia da saúde em pacientes com essa patologia no Brasil e, especialmente, no estado de Pernambuco. 

No Brasil, uma das formas de consultar esses gastos é por através de dados de domínio público, como a Produção Ambulatorial do SUS, por local de atendimento, disponível no Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS). Nessa perspectiva, o presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo baseado nas informações desse Sistema, a fim de se obter, de forma inédita, dados relacionados a pacientes com fibromialgia no estado de Pernambuco. 

2. METODOLOGIA 

Foi conduzido um estudo epidemiológico, descritivo e transversal, utilizando dados do DATASUS (SIA/SUS) extraídos via TabWin, sobre pacientes diagnosticados com fibromialgia (CID-10: M79.7) atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em Pernambuco, de 2019 a 2023. 

Coletou-se dados sobre o número de Procedimentos Ambulatoriais, que envolvem: ações de promoção e prevenção em saúde, procedimentos com finalidade diagnóstica, procedimentos clínicos e procedimentos cirúrgicos e ações complementares de atenção à saúde. Também foram levantados os gastos ambulatoriais com essa patologia. Foi procedida uma análise geral e estratificada segundo sexo e idade e a evolução do número de procedimentos ao longo do período. Para o cálculo da média de gastos e desvio padrão com procedimentos ambulatoriais foi utilizado o Microsoft® Excel® para Microsoft 365 MSO (Versão 2410 Build 16.0.18129.20100) 64 bits. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período analisado, houve 49.461 procedimentos ambulatoriais, registrados sob o CID principal de fibromialgia com um gasto total de 205.740,96 reais, os quais foram realizados predominantemente no sexo feminino, 87,58% (n=43.318), e 12,42% (n=6143) no sexo masculino, com uma média anual de gastos de R$ 41.148,19 (± R$ 22.951,54), sendo R$ 36.942,75 (± R$ 20.242,92) e R$ 4.205,44 (± R$ 2.903,05) em mulheres e homens, respectivamente (TABELA 1). 

TABELA 1. NÚMERO DE PROCEDIMENTOS AMBULATORIAIS EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA E GASTOS RELACIONADOS A ESSES PROCEDIMENTOS

Procedimentos Ambulatoriaisn (%)
Total49.461 (100%)
Homens43.318 (87,58%)
Mulheres6143 (12,42%)
Gastos relacionados a esses procedimentos
TotalR$ 205.740,96
Média Anual (±DP)R$ 41.148,19 (± R$ 22.951,54)
Média Anual Mulheres (±DP)R$ 36.942,75 (± R$ 20.242,92)
Média Anual Homens (±DP)R$ 4.205,44 (± R$ 2.903,05)

Referente à faixa etária, os procedimentos ambulatoriais foram realizados principalmente em pessoas de 40 a 59 anos, com uma média anual de 5.800 procedimentos (± 2.765), seguido pela faixa etária de 60 a 79 anos, com média anual de R$ 2.200 (± R$ 1.012). Além disso, durante o período estudado, os gastos totais com procedimentos por faixa etária foram mais elevados entre aqueles de 40 a 59 anos, com uma média anual de R$ 25.200,9 (R$ ± 12.988).  Esse número maior de procedimentos em pessoas de meia idade pode ser justificado pelo fato de, nessa população, juntamente com a população jovem, a gravidade dos sintomas e da qualidade de vida serem piores quando comparados com outras faixas etárias (JIAO et al, 2014), o que justificaria uma necessidade maior de atendimentos de saúde e, consequentemente, mais gastos. 

Em cinco anos, houve um aumento relativo de 156,19% procedimentos ambulatoriais voltados para os pacientes com fibromialgia em 2023, quando comparado a 2019, com aumento progressivo dos valores em todos os anos excetuando 2020, em que houve uma retração de 44,85% em relação ao ano anterior, provavelmente devido à pandemia do Covid-19 (GRÁFICO 1). Esse aumento no número de procedimentos ambulatoriais em pacientes fibromiálgicos  nos últimos 5 anos pode ser um reflexo direto da própria pandemia, que causou um impacto significativo na saúde mental e física, aumentando o número de diagnósticos (ASENSI CABO-MESEGUER et al, 2017). Outro fator que pode influenciar esses dados é uma maior divulgação acerca da doença, seja através de publicação de artigos científicos (SAVIN et al, 2023) que podem influenciar atividades de educação em saúde e aumento de sua procura em fontes on-line. 

Como limitação deste trabalho, salientamos que os dados foram levantados baseando-se numa plataforma nacional robusta, porém na qual erros relacionados a dados incompletos, desatualizados, subnotificação, dentre outros, podem ocorrer, e que os resultados encontrados no estado de Pernambuco podem não se aplicar à realidade do Brasil.

GRÁFICO 1. Número de procedimentos registrados no SIA/SUS por ano de processamento

4. CONCLUSÃO

Este estudo revelou pela primeira vez o número de procedimentos e gastos ambulatoriais em pacientes portadores de fibromialgia no SUS em Pernambuco e evidenciou que esses aconteceram principalmente na população feminina de meia idade. Também foi observado que esses números vêm crescendo nos últimos anos, o que reforça a necessidade de estratégias de saúde pública a fim de melhorar processos que envolvam o diagnóstico, acolhimento e tratamento das pessoas envolvidas, a fim de melhorar a qualidade de vida dessa população.

REFERÊNCIAS

  1. MOREIRA, Caio; SHINJO, Samuel K. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 3rd ed. Barueri: Manole, 2023. E-book. p.272. ISBN 9788520464557. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788520464557/. Acesso em: 14 nov. 2024.
  2. ALBERTI, Fernanda; BLATT, Carine; PILGER, Diogo. Custos diretos e indiretos da fibromialgia: uma revisão de escopo. Jornal Brasileiro de Economia da Saúde, [S. l.], v. 13, n. 3, p. 338–344, 2021. DOI: 10.21115/JBES.v13.n3.p338-44. Disponível em: https://www.jbes.com.br/index.php/jbes/article/view/115. Acesso em: 13 nov. 2024.
  3. BRAGAZZI, Nicola Luigi; AMITAL, Howard; ADAWI, Mohammad; BRIGO, Francesco; WATAD, Samaa; ALJADEFF, Gali; AMITAL, Daniela; WATAD, Abdulla. What do people search online concerning the “elusive” fibromyalgia? Insights from a qualitative and quantitative analysis of Google Trends. Clinical Rheumatology, v. 36, p. 1873–1878, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10067-017-3665-y. Acesso em: 18 nov. 2024.
  4. DENCHE-ZAMORANO, Ángel; BARRIOS-FERNANDEZ, Sabina; MENDOZA-MUÑOZ, María; CARLOS-VIVAS, Jorge; VEGA-MUÑOZ, Alejandro; COLLADO-MATEO, Daniel; OLIVARES, Pedro R.; ADSUAR, José Carmelo. Fibromyalgia, pain, and physical activity: a bibliometric analysis. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 20, n. 2, p. 1335, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.3390/ijerph20021335. Acesso em: 18 nov. 2024.
  5. WEINSTEIN, Jennifer; ROSERO, Spencer; SEABURY, Jamison; VARMA, Anika; ENGEBRECHT, Charlotte; KHOSA, Shaweta; HEATWOLE, John; DILEK, Nuran; KAAT, Aaron; MATALLANA, Lynne Kennedy; HEATWOLE, Chad. Patient-reported impact of symptoms in fibromyalgia (PRISM-FM). The Journal of Rheumatology, v. 51, n. 6, p. 628-636, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.3899/jrheum.2023-0698. Acesso em: 18 nov. 2024.
  6. CLIMENT-SANZ, Carolina; HAMILTON, Katrina R.; MARTÍNEZ-NAVARRO, Oriol; BRIONES-VOZMEDIANO, Erica; GRACIA-LASHERAS, Miguel; FERNÁNDEZ-LAGO, Helena; VALENZUELA-PASCUAL, Fran; FINAN, Patrick H. Fibromyalgia pain management effectiveness from the patient perspective: a qualitative evidence synthesis. Disability and Rehabilitation, v. 46, n. 20, p. 4595-4610, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1080/09638288.2023.2280057. Acesso em: 18 nov. 2024.
  7. JIAO, Juan; VINCENT, Ann; CHA, Stephen S.; LUEDTKE, Connie A.; OH, Terry H. Relation of age with symptom severity and quality of life in patients with fibromyalgia. Mayo Clinic Proceedings, [S.l.], v. 89, n. 2, p. 199-206, fev. 2014. DOI: 10.1016/j.mayocp.2013.09.021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.mayocp.2013.09.021. Acesso em: 18 nov. 2024.
  8. ASENSI CABO-MESEGUER, Germán; CERDÁ-OLMEDO, José; TRILLO-MATA, José Luis. Fibromyalgia: Prevalence, epidemiologic profiles and economic costs. Medicina Clínica (Barcelona), [S.l.], v. 149, n. 10, p. 441-448, nov. 2017. DOI: 10.1016/j.medcli.2017.06.008. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.medcli.2017.06.008. Acesso em: 18 nov. 2024.
  9. SAVIN, Einat et al. The possible onset of fibromyalgia following acute COVID-19 infection. PLoS One, [S.l.], v. 18, n. 2, p. e0281593, 10 fev. 2023. DOI: 10.1371/journal.pone.0281593. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0281593. Acesso em: 18 nov. 2024.

1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina de Olinda Campus Olinda e-mail: ahyatfuji@gmail.com
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5Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina de Olinda Campus Olinda e-mail: gabriela.t.f.g@hotmail.com
6Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina de Olinda Campus Olinda e-mail: jacomehallana@gmail.com
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11Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina de Olinda Campus Olinda e-mail: vinicius.bispo1@gmail.com
12Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina de Olinda Campus Olinda e-mail: cynthiagalvaooinacio@gmail.com