REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410182021
Andreza Almeida Dos Santos; Larissa De Amorim Alves; Luis Geovane Guedes Dos Santos; Orientador(a): Profa. MsC. Marcia Arruda Lins
RESUMO
Introdução: A odontologia tem evoluído significativamente, inicialmente, usavam-se núcleos metálicos fundidos, mas questões estéticas impulsionaram a busca por alternativas sem metal. Objetivo: realizar uma revisão de literatura sobre os fatores que colaboram para que haja a fratura dos pinos de fibra de vidro em restaurações dentárias. Materiais e método: foi realizado uma pesquisa bibliográfica, através de uma busca eletrônica no banco de dados do SciELO, Pubmed, LILACS e Google Acadêmico, utilizando as palavras-chave: pinos de fibra de vidro, fratura em pino de fibra de vidro, assim como seus correspondentes na língua inglesa, sem restrição de idioma e com data de publicação entre 2012 à 2023. Foram selecionados 30 artigos, no qual 03 foram descartados e 27 foram utilizados na pesquisa. Resultados: O pino deve possuir um módulo de elasticidade semelhante ao da dentina para garantir uma distribuição uniforme dos estresses e reduzir o risco de fraturas radiculares. Embora existam diversos materiais para pinos, os de fibra de vidro pré-fabricados são os mais comuns entre os dentistas. Conclusão: A revisão da literatura mostra que a fratura de dentes tratados endodonticamente é frequentemente causada pela perda de estrutura dental. As falhas nos tratamentos costumam ser devidas a deficiências técnicas e aplicação inadequada dos protocolos de pinos. Para garantir a eficácia e durabilidade das restaurações, é crucial considerar fatores biomecânicos, a quantidade de estrutura dental restante, o tipo de cimento usado e a distribuição das forças pelas coroas.
Palavras-chave: Fratura. Pino de fibra de vidro. Retentores intrarradiculares.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo, a odontologia tem passado por significativas transformações, com notáveis avanços relacionados aos pinos de fibra de vidro. Inicialmente, esses dispositivos apresentavam características distintas dos modelos contemporâneos, tanto em sua estrutura quanto na composição dos materiais utilizados. Durante muitos anos, os profissionais da área recorreram à utilização de núcleos metálicos fundidos para reforçar e restaurar dentes com pouca ou nenhuma estrutura coronária. Contudo, a questão estética tornou-se um ponto de questionamento, especialmente com o surgimento de materiais restauradores livres de metal (CRUZ et al., 2020; PICCOLOMINI, 2019).
Os primeiros pinos utilizados foram os de fibra de carbono, seguidos pela aplicação de fibras de quartzo. Em seguida, surgiram os pinos de fibra de vidro, que, devido às suas propriedades e relação custo-benefício, conseguiram superar as limitações dos pinos metálicos fundidos. Os pinos de fibra de vidro tornaram-se rapidamente populares, possibilitando a construção de núcleos intrarradiculares estéticos e imediatos, com um custo até 10 vezes menor em comparação aos núcleos metálicos fundidos (PICCOLOMINI, 2019).
A literatura tem enfatizado diversos benefícios associados aos pinos de fibra de vidro, destacando suas propriedades estéticas, resistência mecânica e à corrosão, além do módulo de elasticidade, semelhante à dentina, que constitui uma de suas características mais proeminentes. Este módulo de elasticidade possibilita uma distribuição mais uniforme das tensões, resultando em um menor risco de fratura radicular em comparação com os pinos metálicos fundidos. Além disso, destaca-se ainda que a utilização de pinos de fibra de vidro tem sido uma alternativa viável para aprimorar a qualidade dos selamentos intracanais (GOMES, 2020; FARTES et al., 2020). Há ainda um aspecto relevante a ser destacado, que é a baixa necessidade de desgaste da dentina radicular, conforme apontado por Fernandes Jr. e Beck, (2016) o que contribui para evitar a fragilização radicular e facilitar a remoção, se necessário.
No entanto, é evidente que, apesar de suas vantagens, esses pinos também apresentam desvantagens intrínsecas, especialmente em situações específicas onde sua aplicação pode ser limitada. Por exemplo, em canais dentários de formato circular, amplo ou excessivamente cônico, os pinos de fibra de vidro podem não se adaptar adequadamente, comprometendo a retenção no canal radicular e prejudicando a resistência adesiva devido ao uso excessivo de cimento (FERREIRA et al., 2018).
Outra desvantagem apresentada é a ausência de radiopacidade de alguns desses pinos, fator desfavorável para a sua utilização (PRADO et al., 2014). Seguindo a mesma linha de desvantagens, só será possível que haja a reabilitação quando o diâmetro e configuração do conduto radicular estejam dentro dos critérios que determinam na hora da selecionar o pino de fibra de vidro, pois quando o remanescente é atrésico ou apresenta curvatura, impede a utilização de pinos intrarradiculares na proporção ideal (MINGUINI et al., 2014).
Além disso, a flexibilidade apesar de ser uma vantagem, também pode se tornar uma desvantagem em dentes que serão pilares de próteses fixas extensas, restringindo o uso desse material nessas situações, pois facilitaria a flexão da prótese em direção ao extremo gengival livre. Nesses casos, pinos metálicos e cerâmicos podem ser a melhor opção (REIS, 2021).
Ademais, é fundamental que os profissionais dentistas estejam familiarizados com as técnicas mais atualizadas para a reabilitação de dentes tratados endodonticamente, especialmente quando não há parede coronal remanescente. Para garantir o sucesso do tratamento, é necessário seguir um protocolo sequencial bem definido. Aspectos como o prognóstico do dente, a estrutura remanescente, o preparo e a obturação do canal, o tipo de pino a ser utilizado e o tratamento de sua superfície são fundamentais para evitar possíveis fraturas (FARTES et al., 2020).
Diante disso, este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre os fatores que colaboram para que haja a fratura dos pinos de fibra de vidro em restaurações dentárias.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho baseou-se em uma revisão de literatura sobre os pinos de fibra de vidro, tendo como instrumento de coleta, artigos e publicações científicas encontrados em diversos bancos de dados como Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) por meio do PubMed, Google Acadêmico, Literatura LatinoAmerica e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), com as seguintes palavras chaves: pinos intrarradiculares, pinos de fibra de vidro, fratura em pino de fibra de vidro, assim como seus correspondentes na língua inglesa. Foram selecionados 30 artigos que atendiam a temática para análise.
A amostra de pesquisa abrangeu uma variedade de fontes, como artigos em periódicos odontológicos, livros, teses e outras publicações científicas. Dessa forma foram contemplados de forma isolada 27 artigos como amostra desta revisão interativa, como forma sintetizada e compacta, a partir de um fluxograma que detalha o processo de seleção dos artigos (Quadro 1). A maioria dos textos incluídos foram escritos na língua inglesa sendo somente oito na língua portuguesa. No que tange ao desenho dos estudos, quinze utilizaram a abordagem qualitativa, dois são estudos de corte, nove estudo quantitativo, um estudo descritivo.
Quadro 1: Distribuição das publicações quanto ao título, autoria, ano de publicação e base de dados.
Ordem | Título | Autoria | Ano de Publicação | Base de Dados |
1 | Características Do Pino De Fibra De Vidro E Aplicações Clínicas: Uma Revisão Da Literatura | Gláucia Sampaio Leal Et al. | 2018 | Google Acadêmico |
2 | Review Article An Overview Of Clinical Studies On Fiber Post Systems | Idil Dikbas, Jale Tanalp. | 2013 | PubMed |
3 | Pinos De Fibra De Vidro – Aspectos Gerais, Propriedades E Considerações Biomecânicas – Uma Revisão De Literatura | Anna Clara Gomes De Araújo Et al. | 2021 | Google Acadêmico |
4 | Glass Fiber Post Treatment – Does It Influence Resin Cement Bond Strength? | Marciano De Freitas Borges Et al. | 2019 | SciELO |
5 | Reforço Intrarradicular De Raízes Debilitadas | Ricardo Massao Sigemori Et al. | 2012 | SciELO |
6 | Tipos de pinos intrarradiculares: Uma revisão de literatura | Wanessa de Oliveira Gomes | 2012 | LILACS |
7 | Resistência À Fratura De Dentes Reforçados Com Pinos Pré-Fabricados: Revisão De Literatura | Raquel Rodrigues Oliveira Et al. | 2018 | Google Acadêmico |
8 | Pinos De Fibra: Revisão Da Literatura | Isabel Ferreira Barbosa Et al. | 2016 | Google Acadêmico |
9 | Dental Fiber-Post Systems: An In-Depth Review Of Their Evolution, Current Practice And Future Directions | Abdulrahman Alshabib, Khaled Abid Althaqafi Et al. | 2023 | PubMed |
10 | The Use Of Fiberglass Posts In Dentistry: A Literature Review | Patrícia Lorraine de França Cabral Et al. | 2023 | LILACS |
11 | Fracture Resistance Of Endodontically Treated Teeth Reinforced With Customized Glass And Carbon Fiber Posts | Thaise Ferreira Carvalho Et al. | 2019 | LILACS |
12 | Análise De Resistência À Tração De Pinos De Fibra De Vidro Cimentados Com Diferentes Cimentos De Ionômero De Vidro Através Do Teste Pull-Out | Jefferson Ricardo Pereira Et al. | 2012 | SciELO |
13 | Effect Of Glass Fiber Post Diameter On Fracture Resistance Of Endodontically Treated Teeth | Saied Nokar, Mahsa Sadat Mortazavi, Somayeh Niakan | 2020 | SciELO |
14 | Influence Of Diameter And Intraradicular Post In The Stress Distribution. Finite Element Analysis | Cleidiel Aparecido Araujo Lemosa Et al. | 2016 | SciELO |
15 | Correlation Between The Mechanical Properties And Structural Characteristics Of Different Fiber Posts Systems | Veridiana Resende Novais Et al. | 2016 | PubMed |
16 | Stress Distribution On Dentin-Cement-Post Interface Varying Root Canal And Glass Fiber Post Diameters. A Three-Dimensional Finite Element Analysis Based On Micro-CT Data | Priscilla Cardoso Lazari Et al. | 2013 | PubMed |
17 | An Overview Of Clinical Studies On Fiber Post Systems | Idil Dikbas, Jale Tanalp | 2013 | PubMed |
18 | Influence Of Glass Fibre Post Cementation Depth On Dental Root Fracture | Miglė Jakubonytė Et al | 2018 | PubMed |
19 | Is a Fiber Post Better than a Metal Post for the Restoration of Endodontically Treated Teeth? A Systematic Review and Meta-Analysis. | Martins MD Et al. | 2021 | PubMed |
20 | Fracture Resistance Of Endodontically Treated Teeth, Restored With Two Post-Core Systems In Different Post Space Diameters (In Vitro Study) | Kholoud B Saad Et al. | 2023 | PubMed |
21 | Intracanal Adaptation Of A Fiber Reinforced Post System As Compared To A Cast Post-And-Core | Nor Aidaniza Abdul Muttlib Et al. | 2016 | PubMed |
22 | Effect Of Intraradicular Fiber Post On The Fracture Resistance Of Endodontically Treated And Restored Anterior Teeth: A Systematic Review And Meta-Analysis | Ana Luiza Barbosa Jurema Et al. | 2022 | PubMed |
23 | Adhesion Of Two New Glass Fiber Post Systems Cemented With Self- Adhesive Resin Cements | Esin Özlek Et al | 2019 | PubMed |
24 | Evaluation Of Fiber Posts Vs Metal Posts For Restoring Severely Damaged Endodontically Treated Teeth: A Systematic Review And Meta-Analysis | Xiaodong Wang Et al. | 2019 | PubMed |
25 | Effects Of The Application Techniques Of Self- Adhesive Resin Cements On The Interfacial Integrity And Bond Strength Of Fiber Posts To Dentin | Pedreira AP Et al. | 2016 | PubMed |
26 | Influence Of Ferrule, Post System, And Length On Stress Distribution Of Weakened Root-Filled Teeth | Santos-Filho PC Et al. | 2014 | PubMed |
27 | Current Options Concerning The Endodontically-Treated Teeth Restoration With The Adhesive Approach | Carvalho MA Et al. | 2018 | PubMed |
Após a leitura exploratória, 27 artigos entre os anos de (2012-2023) foram incluídos no estudo, posteriormente fizemos a leitura analítica afim de ordenar as informações contidas nas fontes e obtenção de dados para a pesquisa.
Periodicidade:
A periodicidade da literatura selecionada, limitou-se em trabalhos publicados entre os anos de 2012 a 2023, priorizando aqueles que estavam disponíveis na língua portuguesa e inglesa.
Critérios de Inclusão:
Para inclusão dos estudos na revisão, alguns aspectos foram observados, como a confiabilidade de artigos científicos que tivessem o texto completo ao referido tema, e suas traduções para a língua inglesa e portuguesa.
Critérios de Exclusão:
Foram excluídos da amostra, trabalhos que não apresentaram relevância alguma para o tema, que não estavam disponíveis na língua portuguesa e/ou inglesa, fora do período estipulado e que não disponibilizaram o texto na sua íntegra.
Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos primários
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Breve Histórico
Os primeiros pinos foram os pinos de fibra de carbono, que logo após, foram cobertos com fibras de quartzo para melhorar sua estética. Sendo, os pinos de fibra de vidro introduzidos em 1992 (PICCOLOMINI, 2019). Introduzidos na década de 1990, os PFVs oferecem boa adesão ao cimento e às resinas compostas, têm baixo custo, são resistentes à corrosão e proporcionam um módulo de elasticidade semelhante ao da dentina, tornando-os uma escolha popular na odontologia restauradora (ARAUJO et al., 2022).
Historicamente, os pinos fundidos e núcleos eram os mais utilizados, mas atualmente há uma variedade de pinos metálicos pré-fabricados e pinos parafusados disponíveis, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens. A evolução dos pinos não metálicos em endodontia tem demonstrado resultados promissores, com os pinos reforçados com fibra geralmente apresentando resultados clínicos favoráveis em comparação aos pinos metálicos tradicionais. As taxas de sucesso são influenciadas por vários fatores, incluindo material do pino, preparo cavitário e tipo de restauração (DIKBAS et al., 2013).
Martins et al., (2021) destacaram em seu estudo que os pinos de fibra préfabricados (PFs) são considerados uma alternativa estética e funcionalmente vantajosa em relação aos pinos metálicos devido ao seu módulo de elasticidade semelhante ao da dentina, melhorando a distribuição de estresse e reduzindo o risco de falhas irreparáveis, todavia, eles têm menor resistência à fratura e maior risco de descolamento a longo prazo.
Figura 01 – Tipos de pinos. (A) pinos pré-metálicos; (B) pinos de fibra de vidro; (C) pinos metálicos fundidos.
Conforme observado por Alshabib et al., (2023), a preocupação com a suscetibilidade à fratura de dentes tratados endodonticamente na odontologia tem evoluído. Atualmente, entende-se que as fraturas estão mais associadas à perda da integridade estrutural do dente, exacerbada por preparações de acesso que podem enfraquecer a estrutura dentária e aumentar a deflexão das cúspides, o que levou a uma demanda crescente por pinos não metálicos, que permitem um preparo mais conservador, com materiais como zircônia e resinas reforçadas com fibras substituindo os pinos metálicos tradicionais.
Apesar dos resultados positivos, a importância de estudos de longo prazo com critérios padronizados continua a ser crucial para validar ainda mais a eficácia e longevidade destes sistemas (DIKBAS et al.,2013).
3.1.2 Propriedades físico-mecânicas dos pinos de fibra de vidro
Dentes que passaram por tratamento endodôntico e que têm uma quantidade reduzida, ou seja, que tem pouca estrutura dental remanescente, necessitam de um suporte correspondente e coincidente, para maximizar a garantia e sua preservação na cavidade bucal (CORRÊA et al., 2019). Devido à sua fragilidade e enfraquecimento, são protocoladas algumas abordagens para a reconstrução anatômica desses elementos dentários (CORRÊA et al., 2019; SARKIS-ONOFRE et al., 2017). O material de escolha deve ser o mais similar possível das propriedades da dentina, e permitir a recuperação da função dentária com o menor impacto possível sobre o dente (SARKIS-ONOFRE et al., 2017).
Hoje em dia, os retentores intrarradiculares oferecem características que garantem uma retenção aprimorada e uma maior resistência à restauração subsequente. Por isso, são recomendados para esse propósito, atendem aos requisitos estabelecidos e são amplamente empregados (MARCHIONATTI et al., 2017). Entender o recurso terapêutico proposto é crucial para assegurar uma maior durabilidade do tratamento (LEVIN & HALPERIN-STERNFELD, 2013).
O tratamento recomendado para pacientes que necessitam de uma reconstrução através dos pinos, deve assegurar resultados estéticos e funcionais satisfatórios. As vantagens do material devem superar suas desvantagens relacionadas à estrutura, propriedades e adaptação (MILDEMBERGER et al., 2018). Estudos indicam que o pino de fibra de vidro possui qualidades que o tornam uma escolha adequada (GULDENER et al., 2017; ZAROW et al., 2018). Contudo, é fundamental realizar uma análise detalhada de cada caso para garantir um resultado positivo, pois em certas circunstâncias, o pino de fibra de vidro pode não ser a opção mais apropriada (LEVIN & HALPERIN-STERNFELD, 2013).
Figura 02 – Pinos de fibra de vidro.
Guldener et al. (2016), ao avaliar a taxa de sobrevivência e sucesso de dentes tratados endodonticamente, tanto com pinos de fibra quanto sem, observaram que os pinos de fibra de vidro ofereciam boa durabilidade a longo prazo e não enfraqueciam as raízes dos dentes tratados. Além disso, Stein-Lausnitz et al. (2019) realizaram um estudo para analisar o impacto na perda óssea e concluíram que a presença do pino não influencia de maneira significativa a perda de suporte ósseo. Além disso, o estudo sistemático de Mishra et al. (2020) revelou que os pinos de fibra apresentam baixa adesão na região apical devido a fatores biológicos. Assim, é essencial desenvolver estratégias para lidar com os deslocamentos verticais aos quais os pinos de fibra de vidro são naturalmente expostos.
O estudo e a inovação são processos contínuos, buscando constantemente melhorar o material e o tratamento para superar suas desvantagens. Uma das técnicas sugeridas para casos com canais amplos, onde o uso de pinos pode não ser ideal, envolve revestir o retentor com resina composta. Esse procedimento visa modelar o conduto para melhorar a adaptação do material e diminuir a quantidade de cimento necessária durante a estabilização. Além disso, um outro método de reconstrução consiste em fabricar pinos dentinários a partir de dentes humanos, o que minimiza a alteração das propriedades da dentina. No entanto, ainda falta uma base científica sólida para justificar a adoção desse método como viável (GUIOTTI et al., 2014).
3.2 Fatores que influenciam a fratura
O processo de restaurar um dente após a realização de um tratamento endodôntico apresenta-se desafiador em virtude da fragilidade da estrutura dentária após a remoção do tecido cariado, do preparo cavitário e da modelagem do canal radicular (OLCAY; ATAOGLU; BELLI, 2018).
A alta ocorrência de fraturas radiculares em dentes reabilitados com retentores intrarradiculares pode ser atribuída a diversos fatores, como a quantidade de estrutura dentária remanescente, a forma como foi realizado o preparo do dente (da coroa e do canal radicular), os procedimentos de irrigação e obturação, o preparo para a colocação do retentor e a restauração protética final (NASCIMENTO; FERREIRA; VASCONCELOS, 2020).
Para Zhou e Whag (2014) as características do pino, o material, sua composição, módulo de elasticidade, diâmetro e comprimento também são fatores importantes na fratura dentaria. Segundo Jakubonyte et al. (2018 apud COELHO et al., 2009) quando se utiliza um pino metálico com material mais rígido do que a dentina do dente, o risco de fratura dentária aumenta significativamente. Isso ocorre porque o pino rígido não se adapta às variações de tensão e pressão que ocorrem na dentina durante funções como mastigação.
Figura 03 – Simulação de uma fratura radicular em dente portador de pinos metálicos fundidos.
Já os pinos de fibra, apesar de suas vantagens, podem não se ajustar perfeitamente ao canal radicular, o que pode comprometer sua eficácia. Para mitigar esse problema, é recomendável o uso de pinos anatômicos. Estes pinos são projetados para se adaptar melhor ao formato do canal radicular, o que reduz a necessidade de uma camada espessa de cimento. Uma camada de cimento mais fina e uniforme melhora a retenção mecânica do pino e proporciona um ajuste mais preciso ao canal radicular. Essa abordagem diminui o estresse na região, promovendo maior estabilidade e retenção do pino, o que contribui para a durabilidade e sucesso do tratamento dentário (SOUZA-JÚNIOR et al., 2012).
A falta da férula nos preparos também influencia nas fratura, segundo Pegoraro (2014) é um “efeito protetor de abraçamento que atua como dissipador de força”, basicamente, quando uma força atua sobre a coroa e o núcleo de um dente reabilitado com pino, parte dessa força é absorvida pelo remanescente dentinário, que atua como uma espécie de “férula”. Esse efeito ajuda a reduzir o impacto da força no remanescente radicular, o que é crucial para a longevidade da restauração (PEGORARO et al., 2013).
Figura 04 – Preparos com e sem a férula.
3.2.1 Fatores relacionados ao pino
A adaptação marginal e a conicidade do pino são fundamentais para assegurar uma boa retenção e reduzir o risco de fraturas em restaurações dentárias. Pinos com dupla conicidade e formatos especiais oferecem uma melhor adaptação em casos de amplos desgastes, proporcionando um ajuste mais preciso ao canal radicular e melhorando a estabilidade da restauração (LEAL et al., 2018).
Araujo (2021), destaca que os pinos de fibra de vidro (PFVs) são contraindicados em canais radiculares amplos, pois aumentam a espessura do cimento, o que pode reduzir a resistência à fratura. No entanto, essa contraindicação pode ser mitigada com técnicas de moldagem e reembasamento. Também são contraindicados em dentes com alterações clínicas ou radiográficas significativas, como dor espontânea, sensibilidade à percussão, lesões extensas, canais mal obturados, lesões periapicais ou perfurações radiculares.
Figura 05 – Imagens de um incisivo central seccionado com pinos de diferentes formatos. (A, B e C) pinos cilíndricos e que não preenchem os requisitos biomecânicos, o que dificulta sua indicação devido ao canal do dente ser cônico. (B e C) apesar de serem mais calibrosos, continuam não sendo indicados, pois aumentam os riscos de desvios apicais. (D) melhora o preenchimento do canal radicular, porém, pino que melhor se adaptou no canal, principalmente na região cervical foi o (E).
Para otimizar os resultados, é crucial considerar o comprimento e o diâmetro do pino, pois a retenção está diretamente relacionada ao comprimento. Além disso, um preparo conservador é fundamental para preservar as paredes dentinárias remanescentes e garantir uma férula adequada, promovendo uma reabilitação eficaz e duradoura (ARAUJO, 2021).
As características estruturais afetam de forma significativa as propriedades dos pinos de fibra. A escolha do material adequado é crucial para a eficácia do tratamento, e fatores como comprimento, diâmetro do canal, características superficiais e formato do pino influenciam a retenção e estabilidade da restauração (PEREIRA et al., 2023). As características estruturais e propriedades mecânicas dos pinos de fibra de vidro são dependentes do processo de fabricação. Existe uma correlação linear entre a resistência à flexão e proporção de fibra/matriz, bem como entre o módulo de flexão e a quantidade de fibras (NOVAIS et al., 2016).
Por razões anatômicas, os pinos de canal radicular são necessariamente finos no nível da raiz e relativamente mais largos na saída da raiz e dentro do núcleo, este design cônico visa proporcionar mais flexibilidade na região apical e maior rigidez na parte coronária, mesmo que o módulo de elasticidade do material compósito permaneça constante (CHELEUX, 2009).
Ademais, Gomes (2020) ressalta que a forma anatômica dos pinos pode ser cônica ou cilíndrica, e a escolha deve considerar a preservação e a anatomia do canal radicular. A superfície dos pinos pode ser lisa, serrilhada ou rosqueável. O comprimento ideal do pino é o mais longo possível, geralmente dois terços do comprimento total do dente.
3.2.2 Fatores relacionados ao dente
Dentes que passam por tratamento endodôntico tendem a ficar enfraquecidos devido às restaurações e ao acesso endodôntico (KORKUT, 2013). Para melhorar as propriedades biomecânicas e a resistência à fratura desses dentes, sugere-se a utilização de pinos de fibra intrarradiculares. Esses pinos são duráveis, suportam bem a tração e têm um módulo de elasticidade parecido com o da dentina. Apesar da falta de um consenso definitivo na literatura, o uso desses pinos pode ajudar a diminuir o risco de fraturas tanto na coroa quanto na raiz do dente (RAJAMBIGAI, 2016).
Pinos são geralmente recomendados quando há perda significativa da estrutura dentária e é necessário fornecer suporte adicional à restauração (CHIERUZZI, 2017). A concentração de estresse na região cervical e a perda de dentina nessa área podem enfraquecer o dente. A utilização de pinos de fibra pode ajudar a reduzir a concentração de estresse e distribuir melhor a carga para outras partes do dente (SKUPIEN, 2015).
Em casos onde os dentes sofreram perda estrutural devido ao tratamento endodôntico ou à preparação para coroas, o estresse tende a se concentrar na área cervical. Assim, a inserção de um pino de fibra é crucial para ajudar na distribuição desse estresse (ABDULJAWAD, 2017). A meta-análise geral realizada por AlQahtani (2017), analisou o efeito do uso ou não de pinos de fibra intrarradiculares, independentemente do tipo de material do pino e da condição da estrutura dentária restante, teve como objetivo avaliar a resistência à fratura. O estudo mostrou que a resistência à fratura aumenta com a utilização de pinos de fibra, devido à sua capacidade de distribuir melhor o estresse na estrutura do dente.
Além de melhorar a resistência à fratura, alguns estudos indicaram que o padrão de fratura em dentes com pinos de fibra pode levar a um prognóstico mais positivo após uma fratura. A análise qualitativa dos estudos sobre os modos de fratura revelou que a maioria dos grupos que usaram pinos de fibra obteve resultados mais favoráveis, como fraturas que são favoráveis, restauráveis ou reparáveis, fraturas localizadas acima da junção cimento-esmalte ou fraturas coronárias sem envolvimento da raiz (MAGALHÃES, 2017). Isso ajuda a preservar a estrutura dentária e facilita a possibilidade de tratamento adicional (EVANGELINAKI, 2013).
3.2.3. Fatores extrínsecos
A técnica de cimentação do PFV é simples, entretanto deve ser realizada de forma criteriosa, sem negligência em nenhum dos seus passos clínicos (HOSEIN et al., 2020). A seleção de um sistema adesivo e de um cimento resinoso apropriado é de extrema importância, porém, é considerada um grande desafio, visto que vários tipos de sistemas adesivos podem ser usados em combinação com diferentes cimentos resinosos (PEREIRA et al., 2014).
Alves e Junqueira Jr. (2020) destacam que a presença de uma linha de cimentação exagerada entre o dente e o pino é um problema clínico significativo, particularmente em canais elípticos, onde pinos pré-fabricados frequentemente não se ajustam bem. Em tais casos, a camada de cimento pode se tornar excessivamente espessa, formando bolhas e aumentando o risco de descimentação do pino.
Para superar esse desafio, uma solução eficaz é reanatomizar o pino com resina composta, este procedimento melhora o ajuste do pino ao canal radicular, permitindo a criação de uma camada de cimento mais fina e uniforme, o que reduz a formação de bolhas e melhora a retenção do pino (ALVES e JUNQUEIRA JR., 2020). O protocolo de cimentação adesiva varia de acordo com o agente cimentante utilizado, portanto, deve-se seguir as instruções do fabricante quanto à utilização dos produtos para que se reduzam as possíveis falhas adesivas (REIS e LOGUERCIO, 2021).
Embora os cimentos à base de resina tenham sido introduzidos há quase 40 anos, apenas recentemente eles foram amplamente aceitos para a cimentação de coroas e próteses parciais fixas. No entanto, com o avanço das técnicas, especialmente a do condicionamento ácido, que melhora a adesão dos materiais à base de resina ao esmalte dental, e a descoberta de novas moléculas e técnicas de união com diferentes substratos, foi possível desenvolver uma variedade de cimentos resinosos com desempenho clínico bastante satisfatório (VIEK, 2014).
Os cimentos resinosos duais são agentes cimentantes, cujo processo de polimerização se dá por dois meios: físico através da ação da luz do fotopolimerizador sobre os fotoiniciadores (canforquinona), e químico através da reação do peróxido de benzoíla com as aminas terciárias (VIEK, 2014). Já os cimentos autocondicionantes utilizam um primer autocondicionante para preparar as superfícies dentárias, o cimento preparado é aplicado sobre o primer. As forças de adesão desses cimentos são quase as mesmas dos cimentos com condicionamento total (NASCIMENTO, 2015).
Os sistemas adesivos de condicionamento total e enxágue, quando utilizados com cimentos de cura dual, têm a vantagem de remover a camada de esfregaço e promover uma melhor hibridização da dentina. No entanto, essa abordagem exige que a dentina permaneça úmida, o que pode ser difícil de controlar, especialmente em ambientes restritos como o interior do canal radicular. Além disso, a transmissão de luz através da raiz é limitada, o que pode comprometer a cura do cimento (BERGOLI et al., 2018).
Ainda segundo Bergoli et al. (2018), os cimentos resinosos autoadesivos emergem como uma alternativa interessante nesse contexto. Eles não requerem prétratamento da dentina antes da cimentação, simplificando o procedimento e evitando o problema da umidade da dentina. Estudos demonstram que esses cimentos oferecem bons resultados em termos de resistência de união, o que os torna uma opção viável para a cimentação em tratamentos endodônticos.
Para garantir uma boa adaptação do pino, é necessário seguir alguns critérios como manter um selamento apical de 3 a 5 mm para evitar contaminação, obter um pino que tenha comprimento de 2/3 do comprimento total ou a metade do suporte ósseo da raiz, a largura do pino não pode ser maior que 1/3 da largura radicular e preservar uma faixa de dentina de ao menos 2 mm, para melhorar a capacidade de suporte de carga do dente (FARIA et al., 2011).
Outra consideração importante segundo Barbosa et al., (2016) garantir o efeito férula ajuda na boa adaptação dos pinos e das coroas quando forem cimentadas, além de minimizar o efeito de cunha, o que poderia gerar uma fratura radicular vertical. Durante o planejamento reabilitador de elementos dentários não vitais, deve-se levar em consideração sua posição no arco dentário (SILVA e LUND, 2016). Devido à diferença existente na distribuição das forças oclusais que incidem sobre os dentes posteriores e anteriores, a seleção do material e a técnica restauradora podem ser distintas (ARAUJO et al., 2021).
Atualmente, na restauração de dentes tratados endodonticamente, o objetivo é alcançar uma adesão eficaz entre os componentes restauradores como pinos, cimento e material de preenchimento, e o remanescente dentário. Essa adesão visa criar uma estrutura homogênea tanto do ponto de vista mecânico quanto funcional, permitindo que a restauração absorva as cargas de maneira semelhante a um dente íntegro (PEREIRA et al., 2012).
Em dentes posteriores, incidem preferencialmente forças verticais (de compressão), o que gera menor necessidade de indicação de um pino intrarradicular, a menos que a destruição coronária seja extensa. Em molares que necessitam da colocação de pinos, esses devem ser colocados no canal mais largo e retilíneo, que é o palatino em molares superiores e o distal em molares inferiores. Raramente a instalação de mais de um pino é necessária (SILVA e LUND, 2016).
Em dentes anteriores, incidem mais frequentemente forças oblíquas, horizontais ou de cisalhamento. Por esta razão, indica-se a utilização de um pino intrarradicular com o intuito de dissipar essas forças ao longo da porção coronária remanescente e da raiz, minimizando a possibilidade de ocorrência de fraturas (ARAUJO et al., 2021).
Ainda segundo Araujo et al., (2021) apesar de serem considerados dentes posteriores, os pré-molares, mais especificamente os superiores, merecem atenção especial. Esses dentes são mais sujeitos a forças laterais durante a mastigação do que os molares (SILVA; LUND, 2016). Os pré-molares também normalmente apresentam cúspides altas, o que favorece uma maior deflexão do dente e consequente estresse na região cervical, que é menos volumosa do que a dos molares, e recebem maior incidência de forças oblíquas/horizontais durante os movimentos excursivos quando há função em grupo (ARAUJO et al., 2021).
Para Alshabib et al., (2023 aput MORGANO, 1996) se o ajuste entre o pino e o canal radicular for bom, o estresse será distribuído de forma mais uniforme ao longo da parede do canal durante a função clínica e isso diminuirá o risco de fratura radicular devido as forças de oclusão. O preparo deve ser feito visando preservar o remanescente dentinário, realizando apenas desgaste mínimo e adequado, mas sempre promovendo boa adaptação do pino. Ele pode ser realizado o mais breve possível, inclusive podendo ser feito na mesma sessão da obturação (SILVA e LUND, 2016).
Na desobturação do conduto, inicialmente deve-se medir o dente através da radiografia desde a porção mais coronária até o final da obturação do canal e definir previamente a quantidade de guta-percha que deverá ser removida. O pino deverá ocupar 2/3 do comprimento do remanescente dental ou possuir tamanho maior ou igual que a coroa dental, preservando de 3 a 5 mm do material obturador (HOSEIN et al., 2020) para que seja conservado o selamento apical (SILVA e LUND, 2016).
De acordo com Muniz et al. (2010), a profundidade inicial para a desobstrução é igual ao comprimento encontrado menos 6 mm. Esses 6 mm correspondem aos 4 mm apicais de guta-percha que deverão permanecer em média após o preparo, acrescidos de 2 mm (margem de segurança), levando-se em conta que a radiografia pode apresentar algum grau de alongamento. Ainda como exceção às regras, existem dentes que apresentam raízes curtas que não permitem estabelecer os princípios de retenção. Como alternativa para preservar o dente diante dessas situações, pode ser necessária a invasão dos 3 a 4 mm de obturação endodôntica preconizada para o selamento apical.
Após o isolamento do campo operatório, inicia-se a desobstrução do canal radicular para a remoção da guta-percha (MUNIZ et al., 2010). Nessa etapa são indicadas a utilização das brocas Gattes-Glidden, ou de Largo, como também os sistemas de brocas disponibilizadas pelos fabricantes no próprio kit do pino, selecionadas de acordo com o diâmetro do PFV e utilizadas em baixa rotação (SILVA e LUND, 2016; HOSEIN et al., 2020). É indicada a utilização de cursor (stop) na broca e régua endodôntica para o controle do comprimento a ser desobturado (SILVA e LUND, 2016).
Durante o tratamento endodôntico, é crucial manter o canal radicular irrigado enquanto se utiliza instrumentos, pois isso evita o aumento perigoso da temperatura e a formação de lama dentinária espessa. Não se deve forçar as brocas para localizar o trajeto do canal, especialmente quando a saída de guta-percha não é visível, para minimizar o risco de perfuração. Caso haja dúvidas sobre a direção do preparo, interrompa o uso das brocas e verifique o trajeto com limas e radiografias. A remoção da guta-percha pode ser facilitada com instrumentos aquecidos, sendo essa abordagem particularmente útil durante a sessão de obturação dos canais radiculares (MUNIZ et al., 2010; SOUSA, 2014).
Feita a remoção do material, o canal deverá apresentar paredes completamente isentas de detritos, representadas por sobras de materiais obturadores. Deve-se, portanto, realizar uma nova radiografia após o preparo do conduto para verificar se há existência desses detritos na porção desobturada do dente, como também para avaliar se o comprimento da desobturação planejado foi alcançado, afinal, restos de guta-percha ou cimento endodôntico podem interferir nos procedimentos adesivos na etapa de cimentação (MUNIZ et al., 2010; SILVA e LUND, 2016).
3.3 Perspectiva para o futuro
Alternativamente, podemos ver um declínio na demanda por pinos no futuro, particularmente em molares. Já existe uma tendência para o uso de endocrowns, ou seja, coroas e grandes onlays que não usam um sistema de pino e núcleo, mas sim preparação de caixa e extrusão da coroa ou onlay. Consequentemente, dentes obturados que perderam uma quantidade substancial de sua estrutura podem precisar que a coroa cirúrgica seja alongada ou extrusão ortodôntica e as endocrowns oferecem uma alternativa conservadora para restaurar dentes com raiz obturada, pois não exigem espaço para pinos nem preparação de um design de férula (ALSHABIB, 2023).
Meta-análises e revisões sistemáticas recentes mostram que os endocrowns têm taxas elevadas de sucesso tanto para molares (entre 72% e 99%) quanto para pré-molares (entre 68% e 100%) ao longo de períodos de acompanhamento que variam de 3 a 19 anos (THOMAS et al. , 2020). Esses endocrowns, assim como as restaurações tradicionais com pino, têm mostrado resultados semelhantes em termos de eficácia e durabilidade, o que sugere que os endocrowns são uma opção confiável para a restauração de molares e pré-molares tratados com canal radicular que foram severamente comprometidos (AL-DABBAGH et al. , 2021).
No entanto, é essencial seguir um design de preparação específico e um protocolo de adesão cuidadoso antes de aplicar esses resultados de forma mais ampla. É recomendado preparar uma cavidade de retenção central com 3 mm de profundidade e um ângulo de divergência de 6 a 12º para garantir uma distribuição uniforme do estresse (TRIBST et al., 2021). A largura da margem cervical deve ser de pelo menos 2 mm e pode ser plana ou ligeiramente chanfrada (ZHENG et al., 2022).
4 CONCLUSÃO
A revisão da literatura revela que a fratura dos dentes tratados endodonticamente está fortemente ligada à perda de estrutura dental. Várias falhas nos tratamentos podem ser atribuídas à falta de conhecimento técnico dos profissionais e à execução inadequada dos protocolos de aplicação dos pinos. Para garantir o sucesso clínico e a longevidade da restauração, é necessário atender a vários requisitos biomecânicos. Estes incluem o comprimento, diâmetro e forma dos pinos, a quantidade de estrutura dental remanescente, o tipo de agente de cimentação utilizado, e o efeito final das coroas na distribuição de forças na raiz do dente. Além disso, é importante que o pino tenha um módulo de elasticidade semelhante ao da dentina para garantir uma distribuição uniforme dos estresses e reduzir o risco de fraturas radiculares. Embora existam diferentes materiais disponíveis para a confecção de pinos, os pinos pré-fabricados de fibra de vidro são os mais frequentemente escolhidos pelos dentistas.
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