ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO DURANTE A GESTAÇÃO EM PORTADORAS DE SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411231459


Andrezza Aucar Dos Santos
Orientadora: Bruna da Silva Souza Avelino


RESUMO: A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é uma condição endócrina que afeta de 5% a 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo marcada por anovulação, hiperandrogenismo e resistência à insulina. Este estudo investiga os principais fatores de risco durante a gestação em portadoras de SOP, focando em complicações como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia. Por meio de uma revisão bibliográfica, foram analisados artigos recentes que abordam as interações hormonais e metabólicas associadas à SOP, incluindo desregulação hormonal e dislipidemia. Os achados indicam uma prevalência maior de complicações gestacionais em mulheres com SOP, ressaltando a importância do monitoramento pré-natal e intervenções clínicas precoces. A pesquisa contribui para uma melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da SOP e seus impactos na saúde materna e fetal, visando aprimorar as estratégias de cuidado e manejo durante a gestação.

Palavras-chave: Síndrome do ovário policístico, hiperandrogenismo, gestação.

ABSTRACT: Polycystic Ovary Syndrome (PCOS) is an endocrine condition that affects 5% to 10% of women of reproductive age, characterized by anovulation, hyperandrogenism, and insulin resistance. This study investigates the main risk factors during pregnancy in women with PCOS, with a focus on complications, including gestational diabetes, hypertension, and preeclampsia. By means of a literature review, recent articles addressing the hormonal and metabolic interactions associated with PCOS, including hormonal dysregulation and dyslipidemia, were analyzed. The findings indicate a higher prevalence of gestational complications in women with PCOS, highlighting the importance of prenatal monitoring and early clinical interventions. The research contributes to a better understanding of the pathophysiological mechanisms of PCOS and its impacts on maternal and fetal health, aiming to improve care and management strategies during pregnancy.

Keywords: Polycystic ovary síndrome, hyperandrogenism, pregnancy.

1.     INTRODUÇÃO

          A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) vai além das alterações hormonais, esta síndrome também causa problemas físicos e metabólicos. O percentual de mulheres em idade fértil que são acometidas pela síndrome varia de 5% a 10% (LANA et. al, 2020).

          A Síndrome do Ovário Policístico (SOP), de acordo com Melo et. al (2024), aumenta o risco de doenças cardiovasculares e está associada à obesidade. Durante a gravidez, mulheres com SOP têm maior probabilidade de desenvolver complicações como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia. A diabetes gestacional que pode levar a malformações congênitas, abortos espontâneos, especialmente após 38 semanas de gestação.

          Em um estudo aprofundado realizado por Gonçalves et. al (2024), o autor especificou a incidência de Diabetes Mellitus tipo 2, dislipidemia, resistência a insulina, doença coronária e cerebrovascular, depressão e ansiedade, além da infertilidade causada pela anovulação. A estimativa de infertilidade por anovulação em mulheres com SOP varia de 70% a 80% dos casos.

          Desta forma, este trabalho tem como objetivo investigar os principais fatores de risco associados à Síndrome do Ovário Policístico (SOP) durante a gestação, analisando como essas condições podem afetar a saúde materna e a saúde fetal.

METODOLOGIA

          Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica, com o objetivo de reunir e analisar informações sobre os fatores de risco associados à Síndrome do Ovário Policístico (SOP) durante a gestação. Foram selecionados artigos científicos, revisões de literatura e estudos relevantes, publicados entre os anos de 2020 e 2024, nas bases de dados BVS, SciELO, PubMed, entre outras fontes confiáveis.

          Os critérios de inclusão foram artigos que abordassem aspectos relacionados à SOP e suas complicações durante a gestação, como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia, além de estudos que explorassem as interações hormonais e metabólicas associadas a esta síndrome. Foram excluídos estudos que não tivessem relação direta com a SOP ou que não abordassem o contexto gestacional.

          As referências foram analisadas e sintetizadas com o objetivo de fornecer uma visão abrangente sobre o impacto da SOP na saúde materna e fetal. Dessa forma, este estudo busca contribuir para uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos fisiopatológicos e dos cuidados necessários durante o período gestacional em mulheres portadoras dessa condição.

3.     FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

          A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma condição endócrina comum, afetando entre 6% e 10% das mulheres em idade reprodutiva, geralmente surgindo na adolescência. Ela é marcada por características reprodutivas e hormonais, como hiperandrogenemia, oligoamenorreia (ciclos menstruais irregulares), dificuldade para engravidar, hirsutismo (excesso de pelos), acne e queda de cabelo relacionada aos níveis elevados de andrógenos (LANA et. al, 2020).

 segundo Yamada et. al (2023), está relacionada com fatores hormonais, ambientais e genéticos. Quanto aos fatores genéticos, Miranda et. al (2022) explica que a síndrome dos ovários policísticos (SOP) possui um padrão genético poligênico, com variações genéticas e influências epigenéticas, o que contribui para a diversidade de características genéticas e físicas entre as portadoras, dificultando o diagnóstico. 

          Dentre os fatores hormonais, o aumento nos níveis de insulina juntamente como o hormônio luteinizante (LH) interrompe o desenvolvimento folicular ovariano. O aumento do LH resulta em maior produção de androgênios, como a testosterona e este hiperandrogenismo, na fase inicial da gestação, causa impactos negativos como alterações no metabolismo lipídico em fetos do sexo feminino e alterações na placenta, aumentando os riscos de complicações (MIRANDA et. al, 2022).

          O aumento dos níveis de androgênios e a desregulação da liberação de gonadotrofinas pela hipófise causa uma anovulação crônica devido a formação de microcistos nos ovários. Nestas condições, em uma abordagem clínica, a mulher com SOP apresenta um ciclo menstrual desregulado (MELO et. al, 2024). Efeitos adversos estão presentes nessa condição. O estudo desenvolvido por MELO et. al (2024) afirma que esta síndrome pode levar a complicações como diabetes gestacional (DMG), hipertensão e pré-eclâmpsia.

          A relação entre a SOP e riscos na gravidez ainda não é completamente compreendida. Fatores como sobrepeso e obesidade pré-gestacional em mulheres com SOP são considerados. Essas mulheres tendem a ganhar mais peso que mulheres sem esta condição, e apresentam uma piora significativa na resistência à insulina e níveis elevados de androgênios, o que pode aumentar o risco de desenvolver diabetes gestacional, (CARNEIRO et. al, 2021).

          A resistência à insulina está fortemente ligada aos distúrbios metabólicos, apresentando manifestações que aumentam o risco cardíaco, principalmente em indivíduos com obesidade. Esta também está associada a um maior risco de desenvolvimento de condições como diabetes tipo 2, alterações no metabolismo da glicose, dislipidemia, esteatose hepática e apneia obstrutiva do sono (LANA et. al, 2020). Estas mulheres também possuem 2,4 vezes mais chances de desenvolver HAS e 2 vezes mais chances de desenvolver pré-eclâmpsia (CARNEIRO et. al, 2021).

          Mulheres com SOP, segundo Carneiro et. al (2021), em um estudo mais recente descreve uma prevalência três vezes maior da diabetes gestacional em pacientes com SOP, sendo está associada a abortos espontâneos e mal formações congênitas. Silva et. al (2021) especifica a diabetes como tipo 2 e inclui ainda o risco de desenvolver hipertensão arterial sistêmica (HAS).

          Isto se deve a redução da sensibilidade a insulina. Cerca de 50% a 90% das mulheres com síndrome dos ovários policísticos têm redução na sensibilidade à insulina, tornando-as mais propensas à hiperinsulinemia compensatória e a DMG. Essa resistência está ligada à diminuição dos receptores GLUT4 no tecido adiposo subcutâneo e dos receptores β no tecido adiposo visceral, além de problemas nas células β do pâncreas (GONÇALVES et. al, 2024).

          Além da redução da sensibilidade a insulina, elas frequentemente apresentam dislipidemia, caracterizada por altos níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade), triglicerídeos elevados, uma maior proporção entre colesterol total e HDL (lipoproteína de alta densidade), e níveis reduzidos de HDL. Essas alterações lipídicas aumentam o risco de doenças cardiovasculares (FONTENELLE et. al, 2024).

          Quanto a ocorrência de aborto, Carneiro et. al (2021) não encontrou evidências suficientes para afirmar o aumento do risco de aborto em pacientes com SOP. Em seu estudo, o risco de abordo foi relacionado a mulheres com resistência à insulina (RI) sem diferença entre mulheres com ou sem SOP. A RI oferece um risco 8 vezes maior de desencadear um aborto.

4.     RESULTADOS

            Os estudos de Miranda et al. (2022) fornecem informações importantes sobre os mecanismos da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), particularmente em relação à regulação hormonal e ao desenvolvimento folicular, destacando interações hormonais que resultam em hiperandrogenismo, anovulação crônica e resistência à insulina. Essas pesquisas detalham como os níveis elevados de insulina e do hormônio luteinizante (LH) contribuem para essas características.

          Foi possível destacar que a resistência à insulina é uma condição frequentemente observada em mulheres com SOP, levando a uma diabetes gestacional.  Quanto ao impacto do LH, Miranda et al. (2022) observam que, em mulheres com SOP, os níveis de LH são frequentemente elevados de maneira crônica.

          Essa elevação persistente em conjunto com a hiperinsulinemia, cria um ambiente ovariano disfuncional, promovendo uma produção excessiva de androgênios e prejudicando o desenvolvimento dos folículos dominantes. O estudo sugere que esses níveis elevados de LH contribuem para a formação de múltiplos folículos imaturos e a ausência de ovulação, exacerbando os sintomas da SOP (MIRANDA et. al, 2022).

          Além dos achados de Miranda et al., outros estudos fornecem evidências adicionais sobre os riscos associados à SOP. Melo et al. (2024) indicam que a desregulação hormonal e a resistência à insulina observadas em mulheres com SOP podem levar a complicações metabólicas graves, como diabetes gestacional (DMG), hipertensão e pré-eclâmpsia.

          O aumento dos níveis de androgênios e a desregulação da liberação de gonadotrofinas pela hipófise, conforme descrito por Melo et al. (2024), resultam em anovulação crônica e ciclos menstruais desregulados, condições que exacerbam os riscos metabólicos e reprodutivos.

          Carneiro et al. (2021) fornecem uma visão crítica sobre a relação entre SOP e diabetes mellitus. O estudo relata que mulheres com SOP têm uma prevalência três vezes maior de diabetes gestacional, associada a riscos elevados de abortos espontâneos e malformações congênitas. Sendo o risco de aborto 8 vezes maior em uma mulher com a síndrome.

          A relação entre SOP e resistência à insulina é ainda mais aprofundada por Gonçalves et al. (2024), que demonstram que aproximadamente 50% a 90% das mulheres com SOP apresentam redução na sensibilidade à insulina. Esta condição está ligada a uma hiperinsulinemia compensatória e a um maior risco de desenvolver diabetes mellitus gestacional.

          Além disso, Fontenelle et al. (2024) destacam a presença de dislipidemia em mulheres com SOP, caracterizada por níveis elevados de LDL, triglicerídeos altos e uma maior proporção entre colesterol total e HDL, bem como níveis reduzidos de HDL. Essas alterações lipídicas aumentam o risco de doenças cardiovasculares, reforçando a necessidade de uma abordagem de tratamento que considere tanto os riscos metabólicos quanto os reprodutivos.

          Quanto ao risco de aborto em mulheres com Síndrome do Ovário Policístico, Carneiro et al. (2021) não encontrou evidências insuficientes para afirmar um aumento significativo no risco de aborto em pacientes com SOP. Em vez disso, seu estudo sugere que o risco de aborto está mais relacionado à resistência à insulina, sem diferenças significativas entre mulheres com ou sem SOP. Isso contrasta com outros achados que associam diretamente a SOP com um risco aumentado de complicações reprodutivas.

            Conforme destacado por Lana et al. (2020), as complicações metabólicas associadas à Síndrome do Ovário Policístico (SOP) podem ocorrer de forma precoce, aumentando o risco de condições como resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial sistêmica. Em gestantes com esta síndrome, a resistência à insulina, por exemplo, é exacerbada, contribuindo para um risco elevado de diabetes gestacional (DMG) e pré-eclâmpsia, conforme demonstrado em estudos anteriores.

          A pesquisa de Lana et al. (2020) reforça a necessidade de monitoramento precoce e contínuo das gestantes portadoras de SOP, já que essas mulheres apresentam uma predisposição maior a distúrbios que afetam o curso da gravidez. Os achados indicam que complicações como dislipidemia estão diretamente associadas a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, o que potencializa o quadro de risco gestacional nessas pacientes.

          Além disso, a hiperinsulinemia compensatória observada em mulheres com SOP contribui para a disfunção endócrina, o que afeta o desenvolvimento folicular e, por conseguinte, pode comprometer a qualidade da gestação e aumentar as chances de aborto espontâneo, como descrito por Carneiro et al. (2021). Embora nem todos os estudos concordem com o aumento do risco de aborto relacionado à SOP, conforme sugerido por Carneiro et al. (2021);

          De maneira geral, os estudos revisados fornecem uma compreensão abrangente dos vários fatores que influenciam a SOP e seus impactos na saúde reprodutiva e metabólica das mulheres. A interação complexa entre fatores genéticos, hormonais e ambientais, como discutido por Yamada et al. (2023) e outros, destaca a importância de uma abordagem personalizada no manejo da SOP.

REFERÊNCIAS

Carneiro JS, Rosa e Silva AC. Complicações gestacionais e perinatais em mulheres com síndrome dos ovários policísticos. Femina. 2021. Disponível em:< https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1342322>.

FONTENELLE, Claudia Rita Pires; SOUSA, Caio Friedman França da Silveira e; MOREIRA, Barbara Thayna de Sousa; GONÇALVES, Marcella Chaib Ribeiro. Síndrome do ovário policístico: Uma breve revisão de literatura. Contemporary Journal. Vol.4 No.2: 01-19, 2024. DOI: 10.56083/RCV4N2-107.

GONÇALVES, Ana Carolina Teixeira. O papel da hormona Anti-mülleriana na Síndrome do Ovário Poliquístico. Mestrado Integrado em Medicina. Universidade de Coimbra. 2024. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/ retrieve/ 274826/Trabalho%20Final%20CG.pdf.

LANA, Maria Perez et. al. Metabolic compromisse in women with PCOS: earlier than expected. Revista da Associação Médica Brasileira. 2020. Disponível em:< https://doi.org/10.1590/1806-9282.66.9.1225>.

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SILVA, Heloá Santos Faria da et al. Síndrome dos Ovários Policísticos: Uma breve revisão literária. Revista Científica Integrada. Vol. 5. Ed. 1. 2021.

YAMADA, Luciana Shiguemi et. al. A influência da síndrome de ovários policísticos e síndrome metabólica na escolha do tipo de parto: revisão de literatura. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. ISSN 2674-8169. Vol. 5. Issue 5. 2023.


¹ Graduanda de Biomedicina da Universidade Nilton Lins, Manaus-AM.

² Professora Especialista na Universidade Nilton Lins, Manaus-AM.