REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10207609
Keisy Pinheiro Gualberto1
Raissa Peres Sant’ana1
Genival Gomes da Silva Júnior2
RESUMO
Objetivo: O presente estudo tem como objetivo analisar os benefícios e riscos dos principais preenchedores dérmicos na reversão do envelhecimento. Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura, com abordagem qualitativa, baseado em analise bibliográfica através de pesquisa na literatura já existente, presentes artigos científicos. Resultados: Diante da demanda de soluções contra o envelhecimento facial, os preenchedores faciais passaram a ter destaque no meio estético. Essas substâncias se diferenciam entre si e apresentam diversas particularidades quanto sua funcionalidade, assim como pontos positivos e negativos. Considerações finais: Os preenchedores faciais são excelentes materiais capazes de prevenir ou reverter os efeitos do envelhecimento facial, contudo, nenhum deles é considerado ideal e isento de riscos mediante atualização. Por isso, é dever do profissional saber selecionar o produto e o tratamento de forma individualizada, de acordo com as características únicas de cada paciente.
Palavras-chave: Preenchedores dérmicos; envelhecimento facial; pele.
ABSTRACT
Objective: The present study aims to analyze the benefits and risks of the main dermal fillers in reversing aging. Methods: This is a literature review, with a qualitative approach, based on bibliographic analysis through research into existing literature, including scientific articles. Results: Faced with the demand for solutions against facial aging, facial fillers have become prominent in the aesthetic world. These substances differ from each other and have several particularities regarding their functionality, as well as positive and negative points. Final considerations: Facial fillers are excellent materials capable of preventing or reversing the effects of facial aging, however, none of them are considered ideal and risk-free upon updating. Therefore, it is the professional’s duty to know how to select the product and treatment individually, according to the unique characteristics of each patient.
Keywords: Dermal fillers; facial aging; skin.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a busca pela preservação da juventude e da beleza tem se tornado um dos principais focos da sociedade contemporânea. O envelhecimento da pele é um processo natural e inevitável, porém, avanços tecnológicos na área da dermatologia estética têm proporcionado novas possibilidades para atenuar os sinais do envelhecimento cutâneo. Dentre essas inovações, os preenchedores dérmicos têm ganhado destaque como uma opção não cirúrgica para a reversão dos efeitos do tempo sobre a pele (Neca et al., 2022).
Essas substâncias podem ser classificadas como biodegradáveis e não biodegradáveis, e também, segundo sua duração do efeito em cargas temporárias, semipermanentes e permanentes. As cargas biodegradáveis são aquelas absorvidas pelos organismos, causando um efeito temporário ou semipermanente, como por exemplo, o ácido hialurônico, hidroxiapatita de cálcio e ácido poli-L-láctico (Chiang et al., 2017).
Os preenchedores não biodegradáveis também estimulam a produção de colágeno através da reação de corpo estranho e, por possuírem efeitos permanentes, podem causar complicações difíceis de administrar. Como exemplo de preenchedores não biodegradáveis temos opolimetilmetacrilato ou simplesmente PMMA (Chiang et al., 2017).
Esses preenchedores dérmicos são indicados para correções do envelhecimento facial onde ocorre perda de tecidos moles e para corrigir desfigurações como cicatrizes deprimidas e atrofias. Podem ainda regularizar assimetrias induzidas por doenças sistêmicas ou locais (Alam e Tung, 2018).
No entanto, o uso generalizado de preenchimentos dérmicos para alcançar o rejuvenescimento, levou a um aumento nos relatos de complicações associadas (Chiang et al., 2017). Tais complicações dependem do tipo de preenchimento e do local de aplicação. Elas podem ser divididas em precoce e tardia, e em eventos maiores e menores (Witmanowski e Btochowiak, 2020).
Assim sendo, a relevância desse estudo reside na necessidade de fornecer informações embasadas cientificamente aos profissionais da área da saúde, pacientes e à sociedade em geral, permitindo uma tomada de decisão informada e responsável em relação aos tratamentos estéticos disponíveis.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo analisar os benefícios e riscos dos principais preenchedores dérmicos na reversão do envelhecimento.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, com abordagem qualitativa, baseado em analises bibliográficas através de pesquisa na literatura já existente, presentes em artigos científicos, pretendendo responder ao objetivo delineado, expondo quais os principais preenchedores dérmicos adequados para reversão do envelhecimento e seus riscos e benefícios ao paciente.
O levantamento eletrônico selecionou artigos científicos nacionais e internacionais, publicados em português e inglês, nas bases de dados bibliográficos do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), PubMed, Google Scholar e plataformas governamentais. A pesquisa foi realizada utilizando publicações realizadas no marco temporal no período de 2015 a 2023, com os seguintes descritores: “Preenchedores dérmicos”, “Riscos e benefícios”, “toxina botulínica”, “ácido hialurônico”, “ácido lático”, “plasma rico em plaquetas”, “rejuvenescimento”.
Após a verificar os artigos relacionados ao tema, foi realizado uma leitura seletiva, buscando dados de interesse, coleta de dados e registros das informações com desenvolvimento do referencial teórico.
Durante a pesquisa bibliográfica foram encontrados 26 artigos, deste total, foram selecionados 15 trabalhos que apresentaram texto completo disponível nas bases de dados virtuais, aqueles cujos conteúdos contribuíram para o cumprimento dos objetivos e da relevância deste estudo. Foram excluídos trabalhos duplicados, estudos publicados antes do ano de 2010, bem como aqueles que não apresentavam o texto disponível na íntegra e conteúdos não relacionados aos objetivos deste estudo.
Critérios de inclusão atenderam aos requisitos da pesquisa referente aos descritores propostos, os artigos que atendiam aos objetivos apresentados pela pesquisa, publicações com acesso na íntegra e dentro do recorte temporal.
Critérios de exclusão foram artigos que não atendiam aos objetivos apresentados pela pesquisa e artigos que apresentaram grupos específicos de pacientes, publicações sem acesso na íntegra e fora do recorte temporal.
RESULTADOS E DISCURSÃO
Foram identificados 26 artigos potenciais, dentre esses 11 foram excluídos a partir do título e resumo. Dos 15 artigos selecionados para leitura, foram escolhidos aqueles que mais contribuíram com o esclarecimento do tema abordado.
Tabela 1. Estudos selecionados e seus principais resultados relevantes.
TÍTULO | AUTORES | OBJETIVOS | RESULTADOS |
O uso de bioestimuladores de colágeno a base de hidroxiapatita de cálcio | Neca, C. S. M. et al (2022) | Conhecer os bioestimuladores de colágeno identificados como hidroxiapatita de cálcio (CaHA) em suas características fundamentais, suas indicações e funcionamento no organismo. | Todos os preenchedores cutâneos são considerados eficazes e seguros. |
Manejo de complicações de preenchedores dérmicos | Parada, M. B. et al (2016) | Revisar a literatura e delinear um guia prático para prevenção, diagnóstico e manejo das complicações secundárias ao uso de preenchedores semipermanentes e temporários. | Apesar de considerados muito seguros, eventos adversos podem ocorrer. A avaliação cuidadosa do paciente, planejamento terapêutico adequado e técnica apurada são fundamentais. |
Utilização dos bioestimuladores de colágeno na harmonização orofacial | Lima, N. B.; Soares, M. L. (2020) | Discutir a utilização dos bioestimuladores de colágeno empregados na harmonização orofacial visando o rejuvenescimento da face. | No mercado dermatológico existem quatro preenchedores cutâneos (ácido poli-L-láctico, hidroxiapatita de cálcio, policaprolactona e polimetilmetacrilato) que estimulam a neocolagênese a partir de uma resposta inflamatória subclínica. |
Penetração de ativos na pele: revisão bibliográfica | Alves, N. C. (2015) | Elucidar sobre o processo de absorção na pele e os fatores que influenciam a penetração cutânea dos ativos | A penetração cutânea das substâncias ocorre através de três vias, a intracelular, a transcelular e a transperpendicular. Processo que pode ser facilitado pelo uso de promotores de penetração. |
Os principais estudos selecionados e seus achados mais relevantes relacionados aos preenchedores dérmicos citados pela literatura atual encontram-se dispostos na tabela 1. Segundo Neca et al. (2022), o uso de bioestimuladores de colágeno com as técnicas atuais utilizada na clínica de harmonização facial permite uma abordagem mais global para rejuvenescimento da face, levando a efeitos duradouros de melhora dos contornos e da flacidez facial. Parada et al. (2016) afirma que os preenchedores cutâneos estão entre os procedimentos injetáveis estéticos mais frequentes. Apesar de considerados muito seguros, eventos adversos podem ocorrer. Avaliação cuidadosa do paciente, planejamento terapêutico adequado e técnica apurada são fundamentais para alcançar os melhores resultados com o tratamento.
Lima e Soares (2020) apontam que mesmo os bioestimuladores de colágeno são excelentes materiais capazes de prevenir ou reverter os efeitos do envelhecimento facial, porém não existe um bioestimulador dérmico perfeito, pois todos podem gerar efeitos adversos, devendo o profissional saber selecionar o produto ideal para o tratamento de cada paciente. Alves (2015) dispõe sobre a importância do conhecimento das funções e estruturas da pele para o desenvolvimento da indústria cosmética.
Tendo isso em vista, é de grande relevância compreender a estrutura da pele. Esta é considerada o maior órgão do corpo humano em peso e área de superfície. Uma das principais funções da pele é a proteção do organismo, por apresentar-se como uma barreira funcional, limitando a penetração de substâncias exógenas presentes no ambiente e protegendo contra estímulos danosos (Alves, 2015). Com relação a sua estrutura, a pele se organiza de forma complexa, como pode ser observada de forma microscópica, na Figura 1.
Figura 1. Representação esquemática da pele.
Fonte: Anatomia e fisiologia humana, 2020.
A penetração de substâncias na pele ocorre de maneira complexa, já que depende das propriedades do ativo e de seu comportamento quando incorporado a um veículo, considerado um desafio, pois deve permitir a entrada do ativo e não de outros agentes exógenos. Quando nos referimos à penetração e absorção cutânea, estes são utilizados com o intuito de descrever ativos que atuam topicamente, como formulações cosméticas e dermatológicas. Todavia quando se utiliza permeação cutânea ou absorção transcutânea referem-se aquelas formulações com ação sistêmica que atuam pela via transdérmica (Alves, 2015).
A penetração é o processo pelo qual o ativo passa somente pelo estrato córneo, enquanto que a permeação é quando o ativo passa pela epiderme e alcança a derme. As substâncias ativas penetram o estrato córneo por difusão passiva, tomando este como uma membrana artificial semipermeável, a velocidade de movimentação durante este processo é definido pela concentração do ativo no veículo, sua solubilidade e o coeficiente de partição óleo/água no estrato córneo e no veículo (Alves, 2015).
A absorção de uma substância ativa pode ser modulada utilizando-se diferentes formas farmacêuticas e a vias de administração, sendo que a de interesse para esta discussão é a epidérmica. A administração cutânea é preferencialmente usada para efeitos tópicos, e tem sido evidenciada pela criação de novos sistemas de aplicação cutânea que possibilitam uma melhor absorção através da pele. A penetração dos ativos pode regredir quando as moléculas entram em contato com a pele, pela presença de microrganismos, sebo e outros materiais, esta penetração ocorre por três vias: pelos ductos sudoríparos, de forma contínua no estrato córneo e pelos folículos capilares em contato com as glândulas sebáceas (Alves, 2015). Estas vias estão representadas na figura 2.
Outro ponto de relevante importância sobre a pele é o envelhecimento cutâneo, um processo complexo e multifatorial que está associado a diversas alterações morfológicas, fisiológicas e bioquímicas, incluindo a diminuição da produção de colágeno e elastina, a perda de volume facial e o surgimento de rugas e sulcos. Vários fatores contribuem para o envelhecimento da pele, podendo ser divididos em dois tipos principais: envelhecimento intrínseco ou cronológico; e envelhecimento extrínseco ou ambiental (Lima e Soares, 2020).
Figura 2. Esquema da pele e as rotas de penetração de ativos.
Fonte: Barry, 2002.
Legenda: 1- Ductos sudoríparos; 2- Estrato córneo; 3- Folículos capilares.
De acordo com Garbugio e Ferrari (2010), os principais causadores do envelhecimento cutâneo são os radicais livres (RLs), moléculas altamente instáveis capazes de atacar células constituintes da epiderme, contribuindo para a desidratação da cútis. No mesmo alinhamento, Teston, Nardino e Pivato (2010) lembram que os RLs podem trazer consequências ao organismo humano, por realizarem a oxidação, processo químico no qual uma molécula perde elétrons para outra passando a apresentar um ou mais elétrons não emparelhados.
Ainda, conforme exposto por Fries e Pereira (2011), a teoria do processo de envelhecimento mais aceita é a Teoria dos radicais livres, a qual reconhece a instabilidade dos RLs que buscam sua estabilidade por meio da extração de um elétron de qualquer biomolécula do organismo. Por sua vez, Ferreira e Capobianco (2016) ressaltam a importante atuação do ácido hialurônico na prevenção do envelhecimento cutâneo devido à sua propriedade antioxidante capaz de eliminar os RLs.
Garbugio e Ferrari (2010) asseveram que com o progresso do processo de envelhecimento, a face sofre alterações volumétricas micro e macroscópicas que podem ainda serem agravadas por hábitos nocivos e fatores ambientais. Explicam ainda que com o avanço da idade há certa redução da produção natural de ácido hialurônico pelos fibroblastos, havendo desse modo perda de elasticidade, flexibilidade e desidratação da pele. Complementando os autores, Pessim e Marchetti (2020) relacionam a perda dos contornos faciais, como a quadralização da face que ocorre no decorrer dos anos e assim demonstra uma fonte mais quadrada, com a perda de elasticidade, de colágeno e com a redistribuição de gordura facial.
Em resumo, uma combinação de fatores genéticos, ambientais, comportamentais e de estilo de vida contribui para o envelhecimento cutâneo. A prevenção e o tratamento do envelhecimento da pele muitas vezes envolvem a adoção de práticas saudáveis, como proteção solar adequada, hábitos alimentares balanceados, cuidados com a pele e a correção de comportamentos prejudiciais, como ilustrado na Figura 3.
Figura 3. Envelhecimento precoce da pele.
Fonte: Daniela Ronchi, 2022.
Como alternativa para remediar o envelhecimento cutâneo, a indústria de cosméticos lança mão de inúmeros produtos para tal demanda. Nesse contexto destacam-se os preenchedores faciais. A figura 4 ilustra alguns pontos de aplicação desses preenchedores. Atualmente no mercado encontramos diversas substâncias destinadas ao preenchimento facial, divididas da seguinte forma: autólogo, biológico e sintético (Vargas et al., 2009).
Os preenchimentos autólogos são derivados do tecido do próprio paciente por isso são os únicos preenchedores não sintéticos. Estes são coletados de outro local do corpo, o que pode produzir cicatrizes. Porém não existem preocupações em relação à toxicidade, a carcinogenicidade, alerginicidade e imunogenicidade deste produto. Alguns exemplos dos preenchedores autólogos são: fibroblastos cultivados, derme, abdome, coxas, joelhos, cartilagem, flancos, matriz de plasma/fibrina rica em plaquetas (MPRP) e a gordura em geral, que é o material autólogo mais usado para a volumização facial (Vargas et al., 2009).
Figura 4. Pontos de aplicação de preenchedores faciais.
Fonte: Injectors Club, 2023.
Segundo Neligan e Richard (2012), os preenchedores biológicos são oriundos de fontes orgânicas (animal, humana ou bacteriana) e oferecem o privilégio da facilidade de uso e rápida disponibilidade. Porém, introduzem questões de sensibilização a proteínas estranhas, de animais ou humanas, imunogenicidade e transmissão de doenças, além de somente proporcionar um efeito preenchedor temporário. Os autores ainda destacam os três principais tipos de preenchimentos biológicos, que são o resultado da matriz acelular de partes moles, como o colágeno e o ácido hialurônico. Já os preenchedores sintéticos são materiais condenados, pois por serem permanentes acabam em sua maioria causando complicações que vão desde infecções agudas e tardias até deformidades faciais.
Além dessa classificação, os preenchedores faciais também podem ser classificados como preenchedores faciais biodegradáveis e não biodegradáveis. Aqui está uma explicação de cada categoria:
Preenchedores Faciais Biodegradáveis: Estes preenchedores são feitos de substâncias que, ao longo do tempo, são naturalmente absorvidas e metabolizadas pelo corpo. Isso significa que, após algum tempo, os efeitos do preenchimento começam a diminuir, e pode ser necessário repetir o procedimento para manter os resultados. Alguns exemplos de preenchedores faciais biodegradáveis incluem:
- Ácido Hialurônico: O ácido hialurônico é uma substância naturalmente presente na pele, mas os preenchedores à base de ácido hialurônico são produzidos em laboratórios. Eles são amplamente utilizados e são conhecidos por sua capacidade de restaurar o volume e suavizar rugas.
- Colágeno: Preenchedores de colágeno são feitos a partir de colágeno bovino ou humano e são usados para preencher rugas e linhas finas.
- Polilático: O ácido polilático estimula a produção de colágeno natural da pele, proporcionando um efeito de preenchimento gradual ao longo do tempo.
Preenchedores Faciais Não Biodegradáveis: Esses preenchedores são feitos de substâncias que não são naturalmente absorvidas pelo corpo e, portanto, proporcionam resultados mais duradouros, mas também são menos reversíveis. Alguns exemplos de preenchedores faciais não biodegradáveis incluem:
- PMMA (Polimetilmetacrilato): O PMMA é um material sintético que não é absorvido pelo corpo. Ele é usado para preencher áreas onde a permanência do resultado é desejada, como sulcos profundos.
- Hidroxiapatita de Cálcio: A hidroxiapatita de cálcio é um mineral que estimula a produção de colágeno e pode durar vários meses.
É importante ressaltar que a escolha entre preenchedores biodegradáveis e não biodegradáveis deve ser feita em consulta com um profissional de saúde qualificado, como um dermatologista ou cirurgião plástico. Cada tipo de preenchedor tem suas vantagens e limitações, e a decisão dependerá das necessidades do paciente, das áreas a serem tratadas e das preferências individuais. (KONTIS,2012).
Com base na literatura estudada, a Tabela 2 apresenta um compilado de informações referente aos benefícios e riscos de diferentes preenchedores dérmicos utilizados atualmente no mercado. De acordo com Lima e Soares (2020) o Ácido Poli-L-Láctico é um polímero biocompatível injetável e sintético, com evidências positivas para sua utilização nos seguintes tratamentos: lipoatrofia facial relacionada ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), bioestimulação tridimensional e cicatrizes de acne. Como pontos negativos, nota-se o risco de desenvolvimento de efeito adverso na face, desconforto, hematomas, eritemas ou edemas locais após aplicação, e eventos adversos como os nódulos não inflamatórios, pápulas, granulomas e eventos vasculares.
Tabela 2. Riscos e benefícios do uso de determinados preenchedores dérmicos.
Preenchedor dérmico | Classificação | Benefícios | Riscos |
Ácido Poli-L-láctico (PLLA) | Semipermanente | – Tratamento de lipoatrofia facial relacionada ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); – Alternativa para o tratamento de bioestimulação tridimensional, com resultados sutis e com aspecto natural; – Tratamento dos casos envolvendo cicatrizes de acne. | – Risco de desenvolvimento de efeito adverso na face; – Desconforto, hematomas, eritemas ou edemas locais após aplicação; – Eventos adversos como os nódulos não inflamatórios, pápulas, granulomas e eventos vasculares. |
Hidroxiapatita de Cálcio (CaHA) | Semipermanente | – Tratamento de lipoatrofia facial relacionada ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); – Tratamento dos casos envolvendo cicatrizes de acne; – Correção de sulcos moderados a graves nas áreas: nasal, comissura labial, rugas, malar/ zigomático, contorno mandibular, região temporal, terço médio da face, prega mentoniana e mento. | – Contraindicado nas seguintes áreas da face: glabela, área periorbicular e lábios, por possuir extrema mobilidade; – Não indicada para combinações de tratamentos com preenchedores permanentes; – Pode causar hematomas, edema, eritema, dor, formação de nódulos, granulomas, celulite e necrose. |
Policaprolactona (PCL) | Semipermanente | – Reparo de áreas que necessitam de volume e preenchimento; – Correção de dobras nasolabiais; – Correção de áreas superior, média e inferior da face. | – Contraindicado para uso na região periórbita (pálpebras, olheiras e “pés de galinha”), glabela e lábios; – Pode causar granuloma; – Contraindicado para pacientes com alergias graves. |
Polimetilmetacrilato (PMMA) | Permanente | – Tratamento de lipoatrofia facial relacionada ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); – Tratamento dos casos envolvendo cicatrizes de acne – Correção de defeitos dérmicos de tecidos moles e ósseos. | – Contraindicado para uso na região periorbicular da face e nos lábios; – Contraindicado para portadores de Hepatite C. |
Fonte: Lima e Soares, 2020.
A Hidroxiapatita de Cálcio é um bioestimulador de colágeno injetável sintético, com resultados positivos nos tratamentos de Tratamento de lipoatrofia facial relacionada ao HIV, cicatrizes de acne e correção de sulcos moderados a graves nas áreas: nasal, comissura labial, rugas, malar/ zigomático, contorno mandibular, região temporal, terço médio da face, prega mentoniana e mento. Como pontos negativos, possui contraindicação para as seguintes áreas da face: glabela, área periorbicular e lábios, por possuir extrema mobilidade; não deve ser combinado em tratamentos com outros preenchedores permanentes e pode causar hematomas, edema, eritema, dor, formação de nódulos, granulomas, celulite e necrose (Lima e Soares, 2020).
A Policaprolactona é um novo estimulador de colágeno biodegradável. Possui indicações positivas para utilização em reparo de áreas que necessitam de volume e preenchimento, correção de dobras nasolabiais e áreas superior, média e inferior da face. Como contraindicações, pode-se citar uso na região periórbita (pálpebras, olheiras e “pés de galinha”), glabela e lábios; formação de granuloma e utilização em pacientes com alergias graves (Lima e Soares, 2020).
O Polimetilmetacrilato é um polímero utilizado como bioestimulador de colágeno. Possui resultados positivos para o tratamento de lipoatrofia facial relacionada ao HIV, para casos envolvendo cicatrizes de acne e também atua na correção de defeitos dérmicos de tecidos moles e ósseos. Como pontos negativos, aponta-se a contraindicação de uso na região periorbicular da face e nos lábios e a aplicação em portadores de Hepatite C (Lima e Soares, 2020).
De acordo com Crocco, Alves e Alessi (2012) um preenchedor dérmico ideal deve ter um bom resultado cosmético, ser estável, seguro, ter longa duração, e com mínima complicação possível. Ainda não há um preenchedor ideal no mercado, mas o qual mais se assemelha a estas características é o ácido hialurônico. Apesar do alto grau de compatibilidade com o organismo humano, o ácido hialurônico pode sim ocasionar complicações. Dentre os efeitos colaterais podemos citar: os precoces (eritema e edema, equimose/hematoma, necrose, infecção e nódulos) e os tardios (granulomas, reações alérgicas e cicatriz hipertrófica).
Quanto às complicações precoces ou recentes, destacam-se o edema, a equimose, o eritema, os nódulos, a infecção e a necrose. Os dois primeiros itens podem se desenvolver no momento da injeção, resolvendo-se espontaneamente ou podem ser aliviados por meio da compressão pelo frio. Já o eritema cutâneo se resolverá de forma espontânea. Processos infecciosos afetam a cicatrização dos tecidos e, devido a isso, precisam ser controlados por meio de antibióticos (Crocco, Alves e Alessi, 2012).
A necrose pode ocorrer por embolia intravascular do material injetado ou por lesão direta da agulha nos vasos sanguíneos. Frente a isso, compressas quentes devem ser aplicadas para induzir a vasodilatação, além do massageamento do local afetado. Deve-se tomar cuidado caso o eritema não se resolva de forma espontânea e dure vários dias, pois pode ser provável que seja uma reação de hipersensibilidade (Crocco, Alves e Alessi, 2012).
Devemos nos atentar também sobre os riscos que cercam esse tipo procedimento, visto que infelizmente se tornou comum que alguns profissionais façam o uso incorreto ou irresponsável desses materiais visando o lucro e não qualidade e bem-estar dos seus clientes. É muito importante que os pacientes e principalmente os profissionais da área da saúde, tenham responsabilidade, na hora de optar pelos procedimentos, dar preferência as melhores marcas, ter a preocupação de como é tipo de pele do paciente ter os cuidados necessários a fim de evitar quaisquer intercorrências (Neca et al., 2022).
CONCLUSÃO
Diante dos dados analisados no estudo, conclui-se que como resultante do envelhecimento facial, os procedimentos minimamente invasivos revolucionaram o tratamento para o rejuvenescimento facial, com amplo destaque para os preenchedores faciais. Esses são excelentes materiais com capacidade de prevenir ou reverter os efeitos do processo de envelhecimento, devido à capacidade preenchedora e bioestimuladora.
No entanto, é notável que todos os preenchedores bioestimuladores podem causar efeitos adversos de forma precoce, tardia ou retardada. Com isso, é importante esclarecer o paciente acerca dos riscos e benefício da sua utilização, devendo assim, o profissional usá-lo com cautela e acompanhar de forma contínua seus pacientes.
Mesmo diante da ampla variedade de produtos disponíveis no mercado, ainda não há um preenchedor bioestimulador considerado ideal, mas sim, excelentes opções com características únicas, que devem ser escolhidos de acordo com a individualidade de cada paciente, levando em consideração o local de tratamento, a experiência do profissional com o produto, a expectativa do paciente com relação aos resultados, tempo para obtenção do resultado, e outras variáveis pertinentes.
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¹Keisy Pinheiro Gualberto, Acadêmica do curso de Biomedicina do Centro Universitário São Lucas Ji-paraná /RO, Brasil. Rua das Pedras, 226 Bairro Jardim dos Migrantes Ji-Paraná/RO, Brasil. Tel.: 69 9 9329-7394.
E-mail: keisygualbertto@gmail.com.
1Raissa Peres Sant’ana, Acadêmica do curso de Biomedicina do Centro Universitário São Lucas Ji-paraná /RO, Brasil. Rua Jasmim, 2377 Bairro Santiago Ji-Paraná/RO, Brasil. Tel.: 69 9 9315-3506.
E-mail: raissaperes97@gmail.com.
²Doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia, Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná/RO.
E-mail: genival.junior@saolucasjiparana.edu.br