ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS INTERNAÇÕES POR ASMA AGUDA NO BRASIL NO PERÍODO ENTRE 2020 E 2024

ANALYSIS OF THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HOSPITALIZATIONS FOR ACUTE ASTHMA IN BRAZIL BETWEEN 2020 AND 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505191601


                                                                                    Rafaela Barros dos Santos1
Paula Cristine da Silva Freitas2
Nathalia de Oliveira Horacio3
Walter Oliveira da Costa4
Denilson da Silva Veras5


RESUMO

A asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais prevalentes do mundo, afetando milhões de pessoas e representando uma das principais causas de hospitalização por agravos respiratórios evitáveis. Este estudo teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico das internações hospitalares por asma no Brasil entre os anos de 2020 e 2024, com base em dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Foram analisados 347.790 registros de internação no período, com predominância de casos em crianças de 5 a 9 anos e discreto predomínio do sexo masculino. A maioria dos atendimentos ocorreu em caráter de urgência, com taxa de letalidade hospitalar inferior a 1%, embora a mortalidade tenha se concentrado principalmente entre os idosos. Esses achados evidenciam a importância da vigilância epidemiológica e da ampliação de estratégias de prevenção, manejo ambulatorial e acesso a terapias eficazes para reduzir a sobrecarga dos serviços de emergência e os riscos de complicações graves associadas à asma aguda.

Palavras-chave: Asma Brônquica. Epidemiologia. Emergência Respiratória.

1 INTRODUÇÃO

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores que acomete indivíduos de todas as idades, caracterizando-se por obstrução variável e reversível do fluxo aéreo, hiperresponsividade brônquica a diversos estímulos e inflamação das vias respiratórias. Essa obstrução, frequentemente intermitente, leva ao surgimento de crises episódicas de dispneia, sibilância, aperto torácico e tosse, cuja intensidade pode variar de leve a potencialmente fatal. A fisiopatologia da asma envolve resposta imune mediada predominantemente por IgE, ativação de eosinófilos e liberação de mediadores inflamatórios como histamina, prostaglandinas e leucotrienos, resultando em broncoconstrição e remodelamento das vias aéreas (MIMS, 2015).

Em casos de asma aguda grave, o não manejo adequado do quadro clínico pode levar à rápida deterioração do estado geral, à queda da saturação periférica de oxigênio e a complicações sistêmicas decorrentes de hipóxia sustentada. Isso reforça a necessidade de diagnóstico precoce, intervenção terapêutica eficiente e acompanhamento regular, especialmente nos grupos de risco, como crianças e idosos (JONES et al., 2022).

A asma configura-se como uma importante causa de morbidade no Brasil, especialmente no contexto das internações por crises agudas. Dado o seu impacto sobre os serviços de saúde, torna-se essencial conhecer o perfil epidemiológico dessa condição. A compreensão da distribuição dos casos, faixa etária mais acometida, características do atendimento e desfechos clínicos é essencial para nortear estratégias preventivas e assistenciais.

O presente estudo visa descrever o perfil epidemiológico das internações hospitalares por asma aguda no Brasil entre os anos de 2020 e 2024, por meio da análise de dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A asma é reconhecida como uma das enfermidades respiratórias crônicas de maior prevalência e impacto em todo o mundo. Trata-se de uma condição inflamatória das vias aéreas inferiores, caracterizada por obstrução variável do fluxo aéreo, broncoespasmo e hiperresponsividade brônquica, frequentemente associada a fatores imunológicos, ambientais e genéticos. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que aproximadamente 262 milhões de pessoas vivam com asma, resultando em cerca de 455 mil mortes por ano, a maioria em países de baixa e média renda, onde o acesso a cuidados especializados é limitado (MAHESH, 2022).

Sua importância como problema de saúde pública global reside não apenas na magnitude de sua incidência, mas também no fardo socioeconômico que impõe: perdas de produtividade, absenteísmo escolar e laboral, internações hospitalares frequentes, sobrecarga dos serviços de emergência e custos crescentes para o sistema de saúde. A asma, apesar de ser uma condição amplamente tratável e controlável, continua a gerar morbidade significativa, sobretudo em populações vulneráveis (SCHOETTLER, 2020).

No contexto brasileiro, observa-se uma distribuição heterogênea dos indicadores de morbidade por asma. Regiões como o Norte e o Nordeste apresentam taxas desproporcionalmente elevadas de hospitalização, sugerindo a coexistência de múltiplos determinantes sociais da saúde, como pobreza, baixa escolaridade, dificuldade de acesso a medicamentos controladores, escassez de programas de saúde respiratória e deficiência na atenção primária. A literatura aponta que a maior parte das internações ocorre em virtude do controle inadequado da doença, ausência de seguimento ambulatorial regular, uso incorreto de dispositivos inalatórios e desconhecimento de planos de ação para crises (PIZZICHINI et al., 2020).

Dessa forma, compreender a dinâmica da asma no cenário brasileiro entre 2019 e 2023 torna-se essencial para o fortalecimento das políticas públicas voltadas ao controle das doenças respiratórias crônicas, sobretudo frente aos desafios impostos pela pandemia de COVID-19, que também impactou significativamente os serviços respiratórios e o acesso a atendimentos regulares no período.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, de natureza quantitativa, baseado em dados secundários extraídos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), hospedado no DATASUS. Os dados referem-se ao período de janeiro de 2020 a outubro de 2024, abrangendo todas as internações hospitalares por asma aguda (CID-10 J45).

Foram incluídos pacientes de ambos os sexos e todas as faixas etárias com registro de internação hospitalar por asma, de modo independente do tipo de atendimento (emergencial ou eletivo). Excluíram-se registros com códigos não específicos ou incompletos.

As variáveis analisadas incluíram: número de internações por ano, faixa etária, sexo, caráter do atendimento (emergencial/eletivo) e evolução clínica (alta/óbito). Os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas e apresentados em forma de tabelas descritivas, com frequências absolutas e relativas.

Não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, por se tratar de análise de dados secundários públicos e sem identificação individual, conforme preconiza a Resolução CNS nº 510/2016 (BRASIL, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A asma, entre os anos de 2020 e 2024, apresentou um impacto epidemiológico significativo na população brasileira, configurando-se como uma das principais causas de internação hospitalar por doenças respiratórias. A análise dos dados obtidos no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) permitiu identificar não apenas o volume expressivo de hospitalizações relacionadas à asma, mas também delinear um panorama detalhado das características sociodemográficas dos pacientes acometidos. Aspectos como faixa etária, sexo, distribuição regional e evolução clínica durante a internação foram destacados, possibilitando uma compreensão mais ampla dos fatores que influenciam a morbidade e o manejo dessa condição no contexto do sistema público de saúde no Brasil.

4.1 DISTRIBUIÇÃO POR FAIXA ETÁRIA

A faixa etária mais acometida foi a de 5 a 9 anos, concentrando 90.681 internações (26,07%), seguida pelos grupos de 1 a 4 anos (18,3%) e de 10 a 14 anos (11,6%). Em conjunto, crianças e adolescentes representaram mais da metade dos casos registrados no período. A análise por faixa etária revelou maior incidência entre pacientes com idade entre 60 e 69 anos (19,25%), seguidos pelos de 70 a 79 anos (17,8%) e 50 a 59 anos (16,2%), indicando que a idade avançada constitui um importante fator de risco para o desenvolvimento de TEP, principalmente devido à presença de comorbidades, uso prolongado de medicamentos e hospitalizações frequentes

.4.2 PERFIL POR CARÁTER DE ATENDIMENTO

Observou-se uma leve predominância do sexo masculino, com 176.133 internações (50,64%), em relação ao sexo feminino, com 171.657 (49,36%). Esse dado está em consonância com a literatura, que indica maior prevalência de asma na infância entre meninos.

O atendimento de urgência foi responsável por 337.684 casos (97,09%), enquanto apenas 2,91% (n=10.106) foram eletivos. Tal discrepância reforça o caráter emergencial das internações por asma aguda e evidencia a baixa resolutividade do acompanhamento ambulatorial em muitos casos.

4.3 DESFECHOS CLÍNICOS

Durante o período analisado, a taxa de letalidade hospitalar por asma foi inferior a 1%, totalizando 2.951 óbitos. A maioria ocorreu entre idosos, especialmente acima dos 60 anos, grupo mais vulnerável às complicações respiratórias graves. A mortalidade associada à asma, embora baixa em termos absolutos, é considerada evitável na maior parte dos casos.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do perfil epidemiológico das internações por asma aguda no Brasil entre 2019 e 2023 revela que a doença mantém importante impacto sobre o sistema de saúde, sobretudo nas faixas etárias pediátricas e nos atendimentos emergenciais. A elevada concentração de casos entre crianças de 5 a 9 anos destaca a importância de medidas preventivas, acompanhamento longitudinal e ações de educação em saúde nas escolas e comunidades.

Apesar da baixa taxa de letalidade, os óbitos registrados, principalmente em idosos, reforçam a necessidade de intervenções precoces e ampliação do acesso a tratamentos eficazes na atenção primária. Estratégias de monitoramento clínico, distribuição adequada de medicamentos e programas de autocuidado devem ser reforçados para reduzir o número de internações evitáveis.

Assim, é fundamental a realização de estudos longitudinais e multicêntricos que investiguem a adesão ao tratamento, barreiras no acesso ao cuidado e os determinantes sociais associados à piora dos quadros clínicos de asma aguda no Brasil.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Nº 12.853. Brasília: 14 de agosto de 2013. Acesso em: 10 de abril de 2025.

JONES, H.; LAWTON, A.; GUPTA, A. Asthma attacks in children—challenges and opportunities. Indian Journal of Pediatrics, v. 89, n. 4, p. 373–377, abr. 2022.

MAHESH, S.; RAMAMURTHY, M. B. Management of acute asthma in children. Indian Journal of Pediatrics, v. 89, n. 4, p. 366–372, abr. 2022.

MIMS, J. W. Asthma: definitions and pathophysiology. International Forum of Allergy & Rhinology, v. 5, supl. 1, p. S2–S6, set. 2015.

PIZZICHINI, Marcia Margaret Menezes et al. Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020. Jornal Brasileiro de Pneumologia, Brasília, DF, v. 46, n. 1, e20190307, 2020.

SCHOETTLER, N.; STREK, M. E. Recent advances in severe asthma: from phenotypes to personalized medicine. Chest, v. 157, n. 3, p. 516–528, mar. 2020