ANÁLISE DO USO DA TÉCNICA DE MAYO NO TRATAMENTO DE HÉRNIAS UMBILICAIS

ANALYSIS OF THE USE OF THE MAYO TECHNIQUE IN THE TREATMENT OF UMBILICAL HERNIAS

ANÁLISIS DEL USO DE LA TÉCNICA DE MAYO EN EL TRATAMIENTO DE HERNIAS UMBILICALES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12735177


Thaylla Horbylon Nascimento
Dinarthe Dantas da Fonseca Junior
Vinícius Matheus Magalhães Galindo
Eduardo Costa Terra
Lorena Maria do Nascimento Bezerra
Fábio Marques Julião da Silva
Ana Clara Pinheiro Andrade
Mariana Alfena Ostwald
Giulia Lara Ribeiro de Oliveira
Ana Carolina Barambo Wagner
Wesley Franco dos Santos
Maria Luíza Formiga Barros Batista
Kuezia da Veiga Gonzales Serra
Maria Luísa Luna Dias
Vinícius Magalhães de Oliveira
Luana Mayumi Taniguchi Sotomaior
Guilherme Tertuliano Silva Macedo
Letícia Costa Dias
Thiago Francisco Galvão de Lima Carvalho
Vinícius Nicolelli Pessoa
Thiago Vinicius Santana Costa


RESUMO

As hérnias umbilicais são defeitos na parede abdominal que frequentemente requerem intervenção cirúrgica em adultos devido ao risco de complicações. Este estudo analisou a aplicação da técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais, com foco em sua eficácia e complicações associadas. A pesquisa foi motivada pela necessidade de avaliar criticamente uma técnica tradicional amplamente utilizada. Para isso, realizou-se uma revisão bibliográfica qualitativa abrangendo estudos clínicos e revisões anteriores. Os dados coletados indicaram que, embora a técnica de Mayo fosse simples e de baixo custo, apresentava uma taxa significativa de recorrência e complicações pós-operatórias, incluindo infecções e dor crônica. A análise também revelou que, apesar de suas vantagens em contextos de recursos limitados, a técnica de Mayo teve limitações consideráveis em termos de resultados a longo prazo. Concluiu-se que, para otimizar o tratamento de hérnias umbilicais, é essencial considerar essas limitações e avaliar a viabilidade de técnicas alternativas mais eficazes.

Palavras-chave: Hérnia umbilical, Técnica de Mayo, Complicações pós-operatórias, Recorrência.

ABSTRACT

Umbilical hernias are defects in the abdominal wall that often require surgical intervention in adults due to the risk of complications. This study analyzed the application of the Mayo technique in the treatment of umbilical hernias, focusing on its efficacy and associated complications. The research was motivated by the need to critically evaluate a widely used traditional technique. A qualitative literature review was conducted, encompassing clinical studies and previous reviews. The collected data indicated that, although the Mayo technique was simple and cost-effective, it presented a significant rate of recurrence and postoperative complications, including infections and chronic pain. The analysis also revealed that, despite its advantages in resource-limited settings, the Mayo technique had considerable limitations in terms of long-term outcomes. It was concluded that, to optimize the treatment of umbilical hernias, it is essential to consider these limitations and evaluate the feasibility of more effective alternative techniques.

Keywords: Umbilical hernia, Mayo technique, Postoperative complications, Recurrence.

RESUMEN

Las hernias umbilicales son defectos en la pared abdominal que a menudo requieren intervención quirúrgica en adultos debido al riesgo de complicaciones. Este estudio analizó la aplicación de la técnica de Mayo en el tratamiento de hernias umbilicales, enfocándose en su eficacia y complicaciones asociadas. La investigación fue motivada por la necesidad de evaluar críticamente una técnica tradicional ampliamente utilizada. Se realizó una revisión bibliográfica cualitativa que abarcó estudios clínicos y revisiones anteriores. Los datos recopilados indicaron que, aunque la técnica de Mayo era simple y económica, presentaba una tasa significativa de recurrencia y complicaciones postoperatorias, incluyendo infecciones y dolor crónico. El análisis también reveló que, a pesar de sus ventajas en contextos con recursos limitados, la técnica de Mayo tenía limitaciones considerables en términos de resultados a largo plazo. Se concluyó que, para optimizar el tratamiento de hernias umbilicales, es esencial considerar estas limitaciones y evaluar la viabilidad de técnicas alternativas más efectivas.

Palabras clave: Hernia umbilical, Técnica de Mayo, Complicaciones postoperatorias, Recurrencia

1 INTRODUÇÃO

As hérnias umbilicais são aberturas na parede abdominal, localizadas ao redor do umbigo, por onde a gordura ou os intestinos podem se sobressair, resultando em dor e uma aparência desfavorável. Uma hérnia umbilical se forma quando os músculos da parede abdominal não se juntam da maneira apropriada ao redor do orifício formado pelo cordão umbilical, que é muito visível no momento do nascimento. Em adultos, as hérnias umbilicais são principalmente provocadas por pressão intra-abdominal aumentada devido a tosse crônica, obesidade, ascite e outras gravidezes.

A incidência de hérnias umbilicais em adultos é aproximadamente de 2%, sendo mais comum em pacientes com cirrose, bem como mulheres obesas e multiparosas. Embora a maioria das hérnias umbilicais em crianças se resolva espontaneamente até os 3-4 anos de idade, em adultos elas geralmente são operadas devido ao risco de complicações de encarceramento ou estrangulamento. As principais co-morbidades incluem aumento crônico da pressão intra-abdominal, obesidade, gravidez e história familiar de hérnias. Os sintomas variam de uma massa indolor a dor de forte intensidade, especialmente ao esforço, com complicações que podem precisar de cirurgia.

A Técnica de Mayo é uma técnica tradicional de reparo de hérnias umbilicais e epigástricas descrita por Charles Horace Mayo no final do século XIX. A categoria técnica é a sobreposição das margens da fáscia da parede abdominal para criar um suporte bidimensional que ajuda a minimizar as chances de recidiva da hérnia. Apesar da natureza descomplicada e prática há séculos, pesquisas contemporâneas levam em dúvida a eficácia do procedimento, uma vez que a taxa de recorrência em associação com isso é bastante alta. A técnica ainda é amplamente praticada devido à sua simplicidade em condições com pouca capacidade de implementação; no entanto, a operação realizada através de técnicas cirúrgicas relativamente novas, como hernioplastia com tela, mostra a ocorrência de resultados muito mais promissores, como a baixa taxa de recorrência.

A razão para este estudo está na necessidade de avaliação crítica da aplicabilidade e eficácia da técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais no cenário clínico atual. Embora a técnica esteja bem estabelecida e seja a prática padrão, um crescente corpo de evidências está apontando para uma melhor eficácia de outras técnicas, incluindo telas não absorvíveis e abordagens laparoscópicas, em relação a uma menor recorrência e menos complicações pós-operatórias.

1.1 OBJETIVOS

1.1.2 OBJETIVO GERAL

Avaliar a eficácia e os resultados clínicos do uso da técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais.

1.1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Determinar a taxa de recorrência das hérnias umbilicais tratadas exclusivamente com a técnica de Mayo ao longo de um período definido.
  • Identificar e categorizar as complicações pós-operatórias associadas ao uso da técnica de Mayo, como infecção, dor crônica e outras complicações comuns.
  • Avaliar a recuperação pós-operatória, incluindo o tempo necessário para retorno às atividades normais e a necessidade de analgesia, em pacientes submetidos ao tratamento de hérnias umbilicais pela técnica de Mayo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As hérnias umbilicais são defeitos na parede abdominal, localizados na região do umbigo, onde o intestino ou tecido adiposo pode protruir, causando dor e uma protuberância visível. Este tipo de hérnia ocorre quando os músculos não se fecham corretamente em torno do buraco deixado pelo cordão umbilical, geralmente presente ao nascimento. Em adultos, as hérnias umbilicais ocorrem devido ao aumento da pressão intra-abdominal, associada a fatores como tosse crônica, obesidade, ascite e múltiplas gestações (Babu, 2017). As hérnias umbilicais podem ser classificadas em congênitas e adquiridas. As congênitas são comuns em recém-nascidos, enquanto as adquiridas surgem geralmente em adultos, muitas vezes devido ao esforço físico intenso ou condições que aumentam a pressão intra-abdominal (Noguera Echeverría et al., 2023).

A prevalência das hérnias umbilicais na população adulta é estimada em cerca de 2%, sendo significativamente mais comum em pacientes com cirrose e mulheres obesas e multíparas (Velasco et al., 1999). Em crianças, a incidência é maior, mas muitas hérnias umbilicais fecham espontaneamente até os 3-4 anos de idade. Em adultos, a hérnia umbilical frequentemente requer intervenção cirúrgica devido a complicações como encarceramento ou estrangulamento (Venclauskas et al., 2008).

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de hérnias umbilicais incluem aumento da pressão intra-abdominal, gravidez, ascite, obesidade e histórico familiar de hérnias. Condições como tosse crônica, constipação e desnutrição também estão associadas ao desenvolvimento de hérnias umbilicais. Em adultos, fatores adicionais incluem cirrose hepática e procedimentos cirúrgicos prévios que podem enfraquecer a parede abdominal (Dokmak et al., 2012). Em crianças, a desnutrição e o baixo peso ao nascer são frequentemente associados a hérnias umbilicais (Amin et al., 2018).

Os sintomas de hérnias umbilicais podem variar de uma protuberância indolor no umbigo até dor intensa e desconforto, especialmente ao esforço físico. Complicações como encarceramento ou estrangulamento da hérnia podem resultar em dor aguda, náusea e vômito, necessitando de intervenção cirúrgica imediata (Weik;  Moores, 2005). O diagnóstico geralmente é clínico, baseado na observação e palpação da protrusão umbilical. Exames de imagem, como ultrassonografia e tomografia computadorizada, podem ser utilizados em casos complexos ou para confirmar o diagnóstico (Echeverría et al., 2023).

As abordagens não-cirúrgicas para o tratamento de hérnias umbilicais são geralmente limitadas e frequentemente aplicadas a crianças, onde há uma alta taxa de fechamento espontâneo. Em adultos, essas abordagens são menos comuns devido à menor probabilidade de resolução sem intervenção cirúrgica. No entanto, técnicas como o uso de dispositivos de compressão temporária foram sugeridas para casos específicos, mas a eficácia e a segurança dessas técnicas ainda são objeto de debate (Fahmy, 2018).

Os métodos cirúrgicos tradicionais incluem a reparação primária por sutura e a técnica de Mayo. A técnica de Mayo, desenvolvida no final do século XIX, envolve a sobreposição de camadas da fáscia abdominal para reforçar a área da hérnia. Este método, apesar de ser tradicional, ainda é amplamente utilizado devido à sua simplicidade. No entanto, a taxa de recorrência pode ser significativa, especialmente em pacientes com fatores de risco elevados (Cannistrà et al., 2003).

A comparação entre diferentes técnicas cirúrgicas, como a técnica de Mayo e a hernioplastia com tela, revela que a última tende a oferecer melhores resultados em termos de menor taxa de recorrência e menor dor pós-operatória. Estudos recentes indicam que o uso de telas não absorvíveis para reparo de hérnias umbilicais, especialmente em defeitos maiores de 2 cm, é preferível devido à sua eficácia superior e menor risco de complicações (Köckerling et al., 2020). Uma análise prospectiva comparativa mostrou que a hernioplastia com tela resultou em menos complicações pós-operatórias e menor necessidade de analgesia em comparação com a técnica de Mayo (Polat et al., 2005). Adicionalmente, técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia, têm demonstrado eficácia semelhante com vantagens adicionais em termos de recuperação mais rápida e menor dor pós-operatória (Bratu et al., 2014).

A técnica de Mayo, desenvolvida por Charles Horace Mayo no final do século XIX, é uma abordagem clássica para a reparação de hérnias umbilicais e epigástricas. A técnica envolve a sobreposição das bordas da fáscia abdominal para criar uma camada dupla reforçada, o que ajuda a reduzir a chance de recorrência da hérnia. Apesar de sua simplicidade e aplicação histórica, estudos modernos questionam sua eficácia devido à alta taxa de recorrência associada (Muschaweck, 2003).

O procedimento da técnica de Mayo envolve uma incisão na pele sobre a hérnia, seguida pela dissecção do saco herniário. Após a redução do conteúdo herniário, as bordas do defeito são suturadas em um padrão sobreposto para reforçar a parede abdominal. Este método pode ser realizado sob anestesia local ou geral, dependendo do tamanho da hérnia e da condição do paciente. O tempo operatório médio é relativamente curto, variando de 30 a 60 minutos, e a recuperação hospitalar é geralmente rápida (Toro et al., 2018).

A técnica de Mayo oferece várias vantagens, especialmente em contextos onde os recursos são limitados ou onde habilidades cirúrgicas especializadas podem não estar disponíveis. Uma das principais vantagens desta técnica é a simplicidade do procedimento, o que a torna acessível a muitos cirurgiões. Além disso, não requer o uso de materiais protéticos caros, como telas, o que pode ser uma consideração importante em ambientes com recursos limitados. A técnica de Mayo também é bem estabelecida e possui uma longa história de uso, sendo amplamente reconhecida na literatura cirúrgica (Toro et al., 2018).

Apesar dessas vantagens, a técnica de Mayo apresenta desvantagens significativas que limitam sua aplicação na prática moderna. Uma das principais limitações é a alta taxa de recorrência. Estudos indicam que a taxa de recorrência pode chegar a 20% ou mais, o que é considerado inaceitável quando comparado a técnicas mais modernas (Muschaweck, 2003). Além disso, a técnica de Mayo está associada a um maior risco de complicações pós-operatórias, como infecções e dor crônica, em comparação com técnicas que utilizam tela para reparo (Tunio, 2017). Outro ponto crítico é que essa técnica não é a melhor escolha para hérnias de grande porte ou para pacientes com fraqueza significativa da parede abdominal. Nessas situações, a hernioplastia com tela seria mais eficaz, proporcionando um reparo mais duradouro e reduzindo a taxa de complicações (Garg; Gupta, 2023).

As complicações pós-operatórias em reparos de hérnia umbilical podem incluir infecção da ferida, seroma, hematoma, dor crônica, e recorrência da hérnia. Um estudo encontrou que infecções superficiais e profundas da ferida ocorreram em 2% dos casos, seromas em 13,8% e hematomas em uma porcentagem menor de pacientes (Greco et al., 2014). Outro estudo relatou uma taxa de complicações de 30% em pacientes com cirrose hepática e ascite submetidos a reparo de hérnia umbilical (Lasheen et al., 2013).

A gestão das complicações pós-operatórias envolve uma abordagem multifacetada que inclui tratamento adequado da ferida, uso de antibióticos profiláticos e intervenções cirúrgicas adicionais quando necessário. Por exemplo, infecções da ferida são tratadas com antibióticos apropriados e, em casos graves, pode ser necessária a drenagem cirúrgica. Seromas geralmente são manejados com aspiração percutânea, enquanto hematomas podem necessitar de intervenção cirúrgica se não forem resolvidos espontaneamente (Chatzizacharias et al., 2015). Em pacientes cirróticos, a otimização pré-operatória, incluindo o controle da ascite e correção de coagulopatias, é crucial para minimizar complicações (Eker et al., 2011).

A recuperação pós-operatória envolve o gerenciamento da dor, mobilização precoce e monitoramento para detectar complicações precocemente. Um estudo comparativo entre reparos de hérnia abdominais laparoscópicos e abertos mostrou que pacientes submetidos a reparos laparoscópicos tiveram tempos de recuperação mais rápidos e menos dor pós-operatória em comparação com aqueles que passaram por cirurgia aberta (Rogmark et al., 2016). A reabilitação inclui fisioterapia para fortalecer a parede abdominal e prevenir recorrências. A média de tempo para retorno às atividades normais variou entre 14 a 30 dias, dependendo da técnica cirúrgica e da presença de complicações (Eriksen et al., 2009).

A qualidade de vida pós-operatória é significativamente afetada pelas complicações e pelo manejo adequado destas. Estudos indicam que técnicas minimamente invasivas, como a reparação laparoscópica, resultam em melhor qualidade de vida comparada às técnicas abertas, devido à menor dor, recuperação mais rápida e menores taxas de complicações (Subbiah & Chandrabose, 2019). A aplicação de protocolos de recuperação melhorada (ERAS) também demonstrou melhorar a qualidade de vida, reduzindo o tempo de hospitalização e complicações (Jia et al., 2023). A satisfação do paciente com o resultado estético e funcional é um componente crucial na avaliação da qualidade de vida, com a maioria dos pacientes relatando alta satisfação após a cirurgia (Greco et al., 2014).

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para esta pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica qualitativa com foco na análise do uso da técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais. Não foi delimitado um período específico para a coleta de dados, permitindo uma compreensão ampla e abrangente sobre o tema. Esta abordagem visou garantir a inclusão de uma diversidade de estudos e publicações que contribuíssem para uma análise mais robusta e detalhada da técnica em questão.

Para a realização da pesquisa, foram consultadas diversas bases de dados, incluindo Scielo, revistas científicas, repositórios e bibliotecas virtuais. Essas fontes foram selecionadas devido à sua reputação e ampla cobertura de publicações científicas relevantes. A busca incluiu artigos, revisões, teses e dissertações, garantindo a coleta de um conjunto diversificado e abrangente de informações. Foram considerados artigos e publicações em múltiplos idiomas, com o objetivo de capturar uma variedade de perspectivas e estudos sobre a técnica de Mayo.

Os critérios de inclusão foram estabelecidos para selecionar estudos relevantes que abordassem diretamente a técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais, com resultados qualitativos significativos e metodologias bem delineadas. Foram incluídos estudos que apresentassem descrição detalhada dos métodos, análise de resultados e conclusões claras sobre a eficácia da técnica. Além disso, foram considerados artigos que abordassem aspectos relacionados a complicações, taxas de recidiva e satisfação dos pacientes.

Por outro lado, os critérios de exclusão eliminaram estudos que não apresentavam clareza metodológica, resultados inconclusivos ou que não focassem especificamente na técnica de Mayo. Estudos com amostras muito pequenas, falta de dados estatísticos ou que não discutissem a aplicação prática da técnica também foram excluídos. Esta seleção rigorosa garantiu a qualidade e a relevância dos estudos incluídos na revisão.

A análise dos dados coletados foi realizada de forma criteriosa, com a intenção de identificar padrões, resultados recorrentes e possíveis variações na aplicação e eficácia da técnica de Mayo. A abordagem qualitativa permitiu uma interpretação mais profunda e detalhada dos resultados, proporcionando insights relevantes para a compreensão do uso desta técnica no contexto clínico. Os estudos foram avaliados quanto à qualidade metodológica, coerência dos resultados e relevância das conclusões. Esta análise crítica possibilitou a identificação de melhores práticas, potenciais benefícios e limitações associadas à técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Um estudo de meta-análise e revisão sistemática realizado por Aiolfi et al. (2020) comparou o reparo de hérnias umbilicais utilizando sutura (técnica de Mayo) e tela. Este estudo incluiu seis ensaios clínicos randomizados com um total de 742 pacientes, onde 383 pacientes foram submetidos ao reparo com tela e 359 com sutura. Os resultados indicaram que o uso de tela está associado a uma redução significativa na taxa de recorrência pós-operatória em comparação com a sutura simples, com um risco relativo de 0,27 (Aiolfi et al., 2020). Esta meta-análise mostrou que a técnica de Mayo, apesar de sua simplicidade e história de uso, tem uma taxa de recorrência substancialmente maior quando comparada ao uso de telas. Este achado é crucial, pois a recorrência é uma das principais preocupações no reparo de hérnias, afetando significativamente a qualidade de vida dos pacientes e os custos médicos associados a tratamentos repetidos.

Um estudo prospectivo comparativo realizado por Garg e Gupta (2023) avaliou os resultados do reparo de hérnias umbilicais utilizando a técnica de Mayo versus hernioplastia com tela. Este estudo envolveu 80 pacientes, dos quais 31 tinham hérnia umbilical e os outros 49 tinham hérnia paraumbilical. Os resultados mostraram que não houve recorrências nos pacientes que foram submetidos ao reparo com tela, enquanto três casos de recorrência foram observados no grupo da técnica de Mayo. Além disso, os pacientes que passaram pela hernioplastia com tela apresentaram menos complicações pós-operatórias, menor necessidade de analgesia pós-operatória e tempo de hospitalização reduzido (Garg & Gupta, 2023). Estes resultados são significativos, pois sugerem que a hernioplastia com tela não só é mais eficaz na prevenção de recorrências, mas também proporciona uma recuperação mais confortável e rápida para os pacientes.

A eficácia de próteses modernas, como a V-Patch, foi avaliada em um estudo de revisão retrospectiva realizado por Keating et al. (2016). Este estudo analisou os resultados de 157 implantes V-Patch usados para o reparo de hérnias umbilicais, epigástricas e incisionais em 152 pacientes. Os resultados mostraram uma taxa de recorrência de apenas 3,2%, com complicações mínimas, como infecção da tela e obstrução intestinal pós-operatória. A prótese V-Patch permite uma colocação retrofascial através de uma pequena incisão, evitando a morbilidade associada a incisões maiores e os custos associados à abordagem laparoscópica. Este estudo sugere que a V-Patch é uma alternativa eficaz e segura para a técnica de Mayo, proporcionando uma baixa taxa de complicações e uma recuperação pós-operatória eficiente.

A revisão sistemática e meta-análise realizada por Hajibandeh et al. (2017) comparou os resultados do reparo laparoscópico versus aberto de hérnias umbilicais e paraumbilicais. A análise incluiu três ensaios clínicos randomizados e sete estudos de coorte retrospectivos, totalizando 16.549 pacientes. Os resultados indicaram que o reparo laparoscópico está associado a um menor risco de infecção da ferida, deiscência da ferida e recorrência, além de um tempo de internação hospitalar mais curto, embora o tempo operatório seja maior. Estes achados são significativos porque destacam as vantagens da abordagem laparoscópica em termos de redução das complicações pós-operatórias e recuperação mais rápida dos pacientes. No entanto, a escolha entre técnicas abertas e laparoscópicas deve considerar a experiência do cirurgião, o perfil clínico do paciente e as características anatômicas da hérnia (Hajibandeh et al., 2017). A abordagem laparoscópica, apesar de requerer mais tempo operatório, proporciona uma recuperação mais eficiente e menos dolorosa, o que pode melhorar significativamente a qualidade de vida pós-operatória dos pacientes.

Köckerling et al. (2015) conduziram um estudo usando dados do Registro de Hérnias Herniamed para investigar as diferenças nos resultados do tratamento de hérnias incisionais, epigástricas e umbilicais. A análise revelou que a técnica laparoscópica IPOM foi mais frequentemente utilizada para hérnias incisionais, enquanto a técnica aberta com sutura foi preferida para hérnias umbilicais. A taxa de complicações pós-operatórias foi significativamente menor para hérnias umbilicais (3,2%) em comparação com hérnias incisionais (9,2%). Além disso, as taxas de reoperação e recorrência também foram menores para hérnias umbilicais, sugerindo que diferentes tipos de hérnias exigem abordagens cirúrgicas distintas para otimizar os resultados.

Tunio (2017) realizou um estudo comparativo entre a hernioplastia com tela e a técnica de Mayo para hérnias umbilicais. Este estudo incluiu 86 pacientes, divididos em dois grupos iguais. Os pacientes submetidos à hernioplastia com tela necessitaram de menos analgésicos pós-operatórios e tiveram uma estadia hospitalar mais curta. Além disso, as complicações pós-operatórias foram mais frequentes no grupo da técnica de Mayo, com uma taxa de recorrência de 7% em comparação com 2,3% no grupo da tela. Estes resultados sugerem que a hernioplastia com tela oferece vantagens significativas sobre a técnica de Mayo em termos de recuperação e eficácia a longo prazo.

Toro et al. (2018) exploraram uma nova técnica modificada de Mayo para reparo de hérnias incisionais, umbilicais e epigástricas. Este estudo prospectivo observacional envolveu pacientes submetidos a procedimentos utilizando a técnica modificada entre 2006 e 2013. Os resultados mostraram que a técnica modificada pode ser útil na prática cirúrgica, com uma média de tempo operatório de 55 minutos e estadia hospitalar média de 4,5 dias. Apenas um paciente apresentou recorrência, sugerindo que a técnica modificada pode ser eficaz e segura. Estes resultados preliminares indicam que mais estudos são necessários para validar a técnica, mas mostram seu potencial como uma alternativa na reparação de hérnias.

Köckerling et al. (2019) realizaram uma análise de dados agrupados de 140.890 reparos de hérnia para determinar os resultados de diferentes técnicas, incluindo a técnica de Mayo. Este estudo revelou que, enquanto a técnica de Mayo ainda é utilizada, as técnicas modernas de reparo com tela, especialmente as abordagens laparoscópicas, apresentaram melhores resultados em termos de menor taxa de recorrência e complicações pós-operatórias. A análise destacou a importância de selecionar a técnica apropriada com base na condição específica do paciente e no tipo de hérnia, apontando que a adoção de técnicas mais avançadas pode melhorar significativamente os resultados cirúrgicos.

Awaiz et al. (2015) conduziram uma meta-análise para comparar os resultados cirúrgicos e pós-cirúrgicos do reparo de hérnias incisionais usando métodos abertos versus laparoscópicos. A análise incluiu doze estudos relevantes e demonstrou que a cirurgia aberta estava associada a uma redução significativa nas complicações intestinais em comparação com o reparo laparoscópico. Outros resultados, como tempo operatório, complicações gerais, infecção de feridas, hematoma ou seroma, reoperação, tempo até a ingestão oral, tempo de hospitalização, retorno ao trabalho, taxa de recorrência e neuralgia pós-operatória, mostraram efeitos comparáveis entre os dois métodos. A conclusão sugere que ambas as técnicas, aberta e laparoscópica, são comparáveis, e a escolha da técnica deve considerar a experiência do cirurgião e as características do paciente.

Nguyen et al. (2014) realizaram uma revisão sistemática e meta-análise para comparar reparos de hérnias ventrais primárias usando sutura e tela. A análise incluiu nove estudos com um total de 1782 reparos, sendo 637 com tela e 1145 com sutura. Os resultados indicaram que o reparo com tela tinha uma taxa de recorrência menor, mas um risco maior de seromas e infecções no local cirúrgico em comparação com o reparo com sutura. Estes achados sugerem que, embora a tela reduza as recorrências, ela pode aumentar o risco de algumas complicações, destacando a necessidade de estudos adicionais para determinar a melhor abordagem para reparos de hérnias ventrais primárias.

5 CONCLUSÃO

A análise detalhada da técnica de Mayo no tratamento de hérnias umbilicais, comparada a métodos cirúrgicos modernos como a hernioplastia com tela, revelou insights significativos sobre sua eficácia e aplicabilidade no contexto clínico atual. A técnica de Mayo, com sua abordagem tradicional de sobreposição das bordas da fáscia abdominal, continua a ser uma opção viável devido à sua simplicidade e custo-efetividade, especialmente em ambientes com recursos limitados. No entanto, os dados indicam que essa técnica apresenta uma taxa de recorrência relativamente alta e está associada a um risco maior de complicações pós-operatórias, como infecções e dor crônica.

Os estudos revisados mostram que a hernioplastia com tela, apesar de ser uma técnica mais moderna e custosa, oferece vantagens claras em termos de menor taxa de recorrência e complicações. A utilização de telas não absorvíveis, particularmente em hérnias de maior diâmetro, tem demonstrado ser mais eficaz, proporcionando um reparo mais duradouro e reduzindo a necessidade de reintervenções cirúrgicas. Além disso, técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia, oferecem benefícios adicionais, incluindo recuperação mais rápida e menor dor pós-operatória, o que pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

A técnica de Mayo ainda possui um papel importante em contextos específicos, principalmente em locais com limitações de recursos e onde o custo de materiais protéticos pode ser proibitivo. No entanto, a tendência geral aponta para uma preferência crescente por métodos que utilizam telas devido aos melhores resultados clínicos observados. A escolha da técnica mais adequada deve levar em consideração fatores individuais do paciente, como a presença de comorbidades, o tamanho da hérnia e a disponibilidade de recursos.

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