ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE DENGUE EM PORTO NACIONAL, NO PERÍODO DE 5 ANOS (2017-2021)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7998153


Rhaisa Costa De Melo;
Vinícius Fernandes Vieira;
Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinícius Moreira Barbosa.


RESUMO

A Dengue é uma doença febril grave causada por um arbovírus, que consistem em vírus que são transmitidos por meio da picada de insetos, tendo como vetor principal de transmissibilidade, o mosquito Aedes aegypti. Os sinais e sintomas entre as arboviroses são semelhantes, e incluem febre, artralgia, cefaleia, mialgia, náusea, vômito, exantema e prurido, desta forma, o diagnóstico por meio da forma clínica dessas doenças não é totalmente preciso. Nos últimos anos, o aumento expressivo no número de casos tem sido uma preocupação no município de Porto Nacional, uma vez que a taxa de incidência na região, tem sido uma das mais altas do estado. Desta forma, considerando a extrema relevância do tema em questão, a realização desse trabalho teve por objetivo analisar o perfil epidemiológico dos casos de dengue no município de Porto Nacional – TO nos últimos cinco anos. O presente estudo evidencia que no período estudado, os anos de 2017 a 2021, houve um grande número de casos notificados para Dengue em Porto Nacional, no estado do Tocantins. É importante que haja investimento nas áreas de planejamento urbano, com o intuito de promoção das condições sanitárias adequadas, como coleta de lixo, esgoto, tratamento de água, pois são ações que juntamente com a educação sanitária contribuem para o controle de vetores e consequente diminuição do número de casos.

Palavras-chave: Dengue. Dengue Grave. Vírus da Dengue. Infecções por Arbovírus.

1 INTRODUÇÃO

A Dengue é uma doença febril grave causada por um arbovírus, que consistem em vírus que são transmitidos por meio da picada de insetos, tendo como vetor principal de transmissibilidade, o mosquito Aedes aegypti. Existem quatro tipos de vírus da Dengue (sorotipos DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Cada pessoa pode ser infectada pelos quatro sorotipos da doença, no entanto, a recuperação da infecção por um sorotipo gera resposta imunitária vitalícia para o sorotipo adquirido (TEIXEIRA, et al., 2013; OMS, 2019).

Os sinais e sintomas entre as arboviroses são semelhantes, e incluem febre, artralgia, cefaleia, mialgia, náusea, vômito, exantema e prurido, desta forma, o diagnóstico por meio da forma clínica dessas doenças não é totalmente preciso. Seu crescimento e facilidade de dispersão territorial exige ações de prevenção e controle cada vez mais complexas. Com a mudança do ambiente causado por ações humanas, os vetores tornaram-se sinantrópicos, ou seja, de fácil adaptação à vivência humana, favorecendo desta forma sua transmissibilidade ao homem (PAHO, 2016).

Observamos um aumento expressivo no número de casos de dengue, onde as regiões das Américas, Ásia Sul-Oriental, Pacífico Ocidental, África e Mediterrâneo Oriental são consideradas de infecção endêmica, nos últimos 50 anos estima-se que a incidência cresceu 30 vezes, sem previsão para reversão desse cenário (OPAS, 2019).

A dinâmica sazonal do vetor da dengue está comumente associada às mudanças e flutuações climáticas, que incluem: aumento da temperatura, variações na pluviosidade e umidade relativa do ar, que são as condições que mais favorecem o número de criadouros disponíveis e assim, o desenvolvimento do vetor. Desta forma, o período do ano de maior transmissão, são os períodos de chuvas e quentes de cada região, é importante ressaltar que os ovos do aedes podem sobreviver por longos períodos até que encontre boas condições para seu desenvolvimento (ALMEIDA et al., 2022).

Nos últimos anos, o aumento expressivo no número de casos tem sido uma preocupação no município de Porto Nacional, uma vez que a taxa de incidência na região, tem sido uma das mais altas do estado, para tanto, o município foi o primeiro da região Norte a fechar parceria com uma empresa de biotecnologia, com o intuito de reduzir a infestação do mosquito da dengue na região (PORTO NACIONAL, 2023).

Desta forma, considerando a extrema relevância do tema em questão, a realização desse artigo teve como objetivo a análise do perfil epidemiológico dos casos de dengue no município de Porto Nacional – TO nos últimos cinco anos, analisando a frequência por ano de notificação, segundo o mês, forma de diagnóstico, classificação final, local de residência, sexo e faixa etária.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O AGRAVO: DESCRIÇÃO E AGENTE ETIOLÓGICO

A dengue é uma infecção viral aguda transmitida por mosquito, é considerada a mais expressiva doença arboviral internacionalmente, pois possui uma carga socioeconômica significativa em regiões subtropicais e tropicais do mundo. Estima-se que mais de 50% da população vive em países endêmicos para a dengue, tendo desta forma, mais chances de contrair a doença (FURTADO, et al., 2019)

O Aedes é o vetor principal de transmissão da dengue, é um mosquito de hábitos diurnos, que vivem em meio urbano, desenvolvendo-se em depósitos de água, sendo que a melhor e principal forma de combate a doença é controle e combate do vetor. É uma arbovirose tendo como causador o vírus do gênero Flavivirus, da família Flaviviridae, os vírus possuem quatro tipos que estão presentes no Brasil, são eles: DENV-1, DENV-2, DENV-3, e DENV-4. A manifestação pode apresentar-se em formas brandas ou até mesmo quadro clínico grave, como é o caso da dengue hemorrágica (BRITO, et al., 2021).

Segundo o Guia de Vigilância em Saúde (2021), a dengue é a principal e mais importante suspeita em pacientes que apresentam quadro febril agudo, por ser a arbovirose urbana de maior prevalência nas américas, de ocorrência que atinge a maioria dos países tropicais e subtropicais, onde existem condições climáticas que favorecem a proliferação dos vetores. Até o momento, a existência de evidências científicas comprova que a transmissão do vírus da dengue ocorre pela picada de fêmeas da espécie Aedes aegypti que estiverem infectadas.

Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis, porém, alguns estudos apontam sucessivas infecções pelos diferentes sorotipos, como o principal determinante da evolução clínica para formas graves, onde a resposta imune exacerbada decorrente da reatividade cruzada, seria a principal responsável. Por outro lado, dados da literatura também mostram a ocorrência de casos graves e fatais na vigência de infecções primárias, principalmente para o sorotipo DENV2 e DENV3, sugerindo maior virulência desses sorotipos (FARIA, et al., 2017).

2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As infecções podem manifestar-se de maneira sintomáticas ou assintomáticas, podem apresentar quadro leve, ou sinais de alarme e de gravidade, normalmente, os principais sintomas da dengue são febre alta de início abrupto que dura de 2 a 7 dias, associada à cefaleia, adinamia, mialgia, artralgia e dor retro orbitária. O exantema está presente em 50% dos casos. Neste último caso pode levar até a morte. Perda de peso, náuseas e vômitos são comuns. Em alguns casos também apresenta manchas vermelhas na pele (BRASIL, 2021).

Na fase febril inicial da dengue, pode ser difícil diferenciá-la, o que pode contribuir com a subnotificação, e a não suspeição pelos profissionais de saúde em investigar essa doença.

A dengue pode ser dividida em duas fases, a fase febril, como descrita acima, e a fase crítica, que se caracteriza pela diminuição (ou defervescência) da febre, essa, acontece entre o terceiro e sétimo dia desde o início da infecção. Quando surgem sinais de alarme, normalmente aparecem nessa fase, que podem ser decorrentes do aumento da permeabilidade capilar. É nesse momento em que ocorre a piora clínica do paciente e onde pode acontecer a evolução para o choque, por meio do extravasamento plasmático, se não houver manejo correto nessa fase da doença, é quando acontece as formas graves, podendo evoluir para choque grave e óbito (BRASIL, 2021).

Os sinais de alarme precisam ser valorizados e investigados, com o intuito de orientação para que os pacientes procurem assistência médica quando ocorrerem. A maioria resulta do aumento da permeabilidade vascular, os sinais de alarme são: dor abdominal intensa (pode ser contínua), vômitos, hipotensão, lipotimia, hepatomegalia, acúmulo de líquidos, sangramento de mucosa, irritabilidade, letargia, aumento progressivo do hematócrito (BRASIL, 2016).

É necessário compreensão também acerca dos sinais de choque, que são: pulso fraco e rápido, hipotensão arterial, cianose de extremidades, lento enchimento capilar, oligúria, pele úmida e pegajosa, agitação, convulsão, irritabilidade. Normalmente, o choque é de curta duração, no entanto, pode evoluir à óbito em intervalo de 12 a 24 horas, assim como a sua completa recuperação, com adequado tratamento (BRASIL, 2021).

2.3 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da dengue, é basicamente clínico, assim como o seu tratamento é sintomático, levando em consideração os sinais e sintomas apresentados, o estadiamento da doença e a observação de sinais de alarme e gravidade, necessitando especial atenção ao diagnóstico diferencial com diversas outras síndromes febris agudas, com sintomatologias semelhantes, entre elas as síndromes hemorrágicas, as doenças respiratórias e síndromes bacterianas (BRASIL, 2019).

Para confirmação de caso, são realizados exames laboratoriais específicos, que incluem os métodos diretos, que consiste na pesquisa de vírus por meio de isolamento viral, e a pesquisa de genoma do vírus por meio da transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polímerase, o RT-PCR. E também, existem os métodos indiretos, que consiste na pesquisa de anticorpos IgM, por meio de testes de ensaio imunoenzimático-ELISA (testes sorológicos), além do ELISA, existe o teste de neutralização por redução de placas; inibição da hemaglutinação; pesquisa de antígeno NS1; e também a pesquisa de antígenos virais por imuno-histoquímica (BRASIL, 2016; 2021).

Para além dos métodos mencionados, existem ainda, os exames inespecíficos, que consiste na contagem de plaquetas, hematócrito e dosagem de albumina, pois auxiliam na avaliação e monitoramento dos pacientes que estão em suspeita diagnóstica para dengue, é utilizado principalmente naqueles que manifestam algum sinal de gravidade (BRASIL, 2016; 2021).

2.4 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

A vigilância epidemiológica consiste no conjunto de ações que visam detectar e prevenir doenças e agravos, bem como seus fatores de risco, o principal objetivo da vigilância epidemiológica é fornecer orientações técnicas para os profissionais de saúde, elaboração de normas para a plena execução da prestação de saúde de determinada localidade, essa vigilância necessita de constante integração com as outras áreas da saúde, com o intuito de permitir a troca de informações e a execução das ações propostas, resultando na contenção de surtos, diagnóstico precoce e tratamento adequado (MINAS GERAIS, 2023).

Dentre as atividades da vigilância epidemiológica voltados para a dengue, estão: notificação e investigação dos casos suspeitos; análise epidemiológica dos casos; integração das informações de vigilância de casos, entomológica e laboratorial; integração entre as áreas vetoriais, assistenciais, e órgãos que atuam na prevenção e controle dos arbovírus (BRASIL, 2021).

2.4.1 Definição de caso, caso confirmado e caso descartado

Considera um caso suspeito para dengue, o indivíduo que apresente febre entre dois e sete dias, e duas ou mais das seguintes manifestações: náuseas e/ou vômitos, exantema, leucopenia, petéquias, cefaleia, mialgia e/ou artralgia, prova do laço positiva. Desde que esse indivíduo resida em área onde tenha o registro de casos de dengue ou tenha viajado nos últimos 14 dias para regiões com transmissão ou presença do vetor. Para crianças, é considerado suspeito aquelas que apresentarem quadro febril entre dois e sete dias, sem sinais e sintomas indicativos de outra doença, proveniente de área com transmissão de dengue (BRASIL, 2016; 2021).

Dengue com sinais de alarme é todo e qualquer caso que, no período de defervescência da febre apresente um ou mais sinais de alarme, já descritos anteriormente. Dengue grave é todo caso que apresenta uma ou mais das seguintes condições: choque ou desconforto respiratório devido ao extravasamento de plasma; choque por taquicardia; pulso débil, extremidades frias, sangramento grave (hematêmese, melena, etc), comprometimento de órgãos (BRASIL, 2016; 2021).

É considerado um caso confirmado para dengue aquele em que atenda a definição de caso suspeito e que foi confirmado por um ou mais dos exames laboratoriais descritos anteriormente. Existem também os casos que são confirmados por critério clínico-epidemiológico, que são aqueles casos em que não existe a possibilidade de realização de confirmação laboratorial, onde é considerado a confirmação por vínculo epidemiológico (BRASIL, 2021).

Um caso de dengue é descartado quando possui um ou mais dos seguintes critérios: exame laboratorial negativo ou não reagente, desde que a coleta tenha ocorrido em tempo oportuno; diagnóstico negativo para dengue e positivo para outra doença; não realização de exames laboratoriais e critérios compatíveis com outras doenças (BRASIL, 2021).

Existe a necessidade de realização de diagnóstico diferencial para síndromes clínicas, devido as semelhanças com as características da dengue (BRASIL, 2016; 2021).

2.5 CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO ATUAL

Durante o ano de 2022, foi possível observar um aumento significativo no número de casos e morte por dengue nas Américas, no que diz respeito a comparação com os anos anteriores. Esse cenário manteve-se até as semanas iniciais do ano de 2023 (OPAS, 2023).

Nas Américas, no ano de 2022 foram notificados 2.809.818 casos de dengue, o Brasil foi responsável por 1.450.270, até a semana epidemiológica (SE) 52 de 2022, a taxa de incidência foi de 679,9 casos por 100 mil habitantes, quando comparado com o ano de 2021, notou-se um aumento de 162,5% casos. As regiões com maior taxa de incidência foram, respectivamente, Centro-Oeste, com 2.086,9 casos/100 mil habitantes, região sul com 1.050,5 casos/100 mil habitantes. O Tocantins foi responsável por 22.598 casos, taxa de incidência de 1.405,9 casos/100 mil habitantes, até a SE 52 de 2022 (BRASIL, 2023).

A distribuição dos casos prováveis de dengue no Brasil, por semana epidemiológica de início dos sintomas, demonstra que, até a SE 52 de 2022 , a curva epidêmica dos casos prováveis no ano corrente ultrapassa o número de casos do mesmo período para o ano de 2021, no entanto, é 6,2% menor que o mesmo período no ano de 2019 (BRASIL, 2023).

O estado do Tocantins, ocupou o 1º lugar dentre os estados da região norte com uma incidência de dengue com 1.405,9 casos por 100 mil habitantes até a SE 52. No ano de 2023, até a SE 13 (01 de janeiro a 01 de abril), notou-se uma queda de 67,1% quando comparado com o mesmo período de 2022, houve notificação de 3.698 casos suspeitos de dengue (TOCANTINS, 2023).

Em Porto Nacional, cidade do Tocantins, que é foco deste projeto, no ano de 2022 houve 2.754 casos notificados, destes, 657 foram confirmados, tendo o registro de um óbito no município. Sendo considerado uma cidade endêmica para as arboviroses (PORTO NACIONAL, 2023).

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o perfil epidemiológico dos casos de dengue registrados no município de Porto Nacional, Tocantins, durante o período de cinco anos, entre o ano de 2017 a 2021.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever o perfil epidemiológico dos casos de dengue do município de Porto Nacional – TO.

Caracterizar os casos de dengue quanto as variáveis definidas para o estudo.

Caracterizar os casos de dengue quanto a região de residência dos indivíduos acometidos.

4 METODOLOGIA

4.1 TIPO DE PESQUISA

Para alcançar o objetivo do estudo, foi realizado um estudo de abordagem quantitativa, transversal, quanto ao objetivo, descritivo, com levantamento dedados oriundos do sistema público de Informações em Saúde: DATASUS – tabnet, e posteriormente analisá-los por meio da descrição e comparação com os dados de dengue no âmbito nacional e regional.

Para Gerhardt e Silveira (2009) a pesquisa quantitativa emprega a utilização da matemática para descrever os aspectos relacionados ao estudo, bem como descrever causas, analisar variáveis, etc.

Os estudos transversais objetivam descrever determinada situação ou fenômeno em um ponto de tempo, se apresenta como um corte instantâneo feito numa população, através de uma amostragem, para determinar a relação entre os fenômenos (HOCHMAN et al., 2005).

O estudo descritivo é aquele que analisa e descreve os aspectos de determinado agravo ou doença, bem como sua distribuição no tempo, espaço e particularidades individuais, sem a interferência do pesquisador (HEERDT; LEONEL, 2007).

4.2 AMOSTRA

Para a realização da pesquisa, foram utilizados os casos de dengue, referente aos residentes no município de Porto Nacional, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2021, que estavam disponíveis no DATASUS – tabnet.

4.2.1 Critérios de Inclusão

Foram incluídos todos os dados disponíveis de maneira pública no sistema de informação público do SUS: DATASUS – tabnet, referente ao período de estudo.

4.2.2 Critérios de Exclusão

Foram excluídos da pesquisa, aqueles dados que não eram de residentes do município de Porto Nacional, ou ainda, que estavam fora do período da pesquisa.

4.4 PROCEDIMENTOS

Os dados foram coletados com todas as variáveis disponibilizadas pelo sistema de informação público de saúde do SUS: DATASUS – tabnet, e sistemas utilizados para busca e estruturação de protocolos utilizados relacionados a dengue.

4.4.1 Variáveis

As variáveis utilizadas para o presente estudo foram: sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, classificação final, critério de confirmação, evolução, exame realizado, hospitalização.

4.4.2 Análise dos Dados

Para realização deste trabalho, foram utilizadas planilhas para a tabulação dos dados a partir do banco de dados obtido pelo DATASUS – tabnet, para o período e região delimitados para o estudo.

Após a realização da coleta de dados, os dados foram transcritos para o programa Microsoft Excel, tabulados para realização da análise estatística e descritiva, também realizada no Microsoft Excel.

Buscando atingir os objetivos estabelecidos, utilizou-se os protocolos da Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, bem como bases de dados científicos, utilizando os descritores/palavras-chaves relacionados com o tema dengue.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Porto Nacional, região sul do estado do Tocantins, localizado a 66km da Capital Palmas, apresentou no último censo no ano de 2010 uma população total de aproximadamente 49.1466 habitantes, de acordo com os dados mais recentes fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com uma densidade demográfica de 11,04 habitantes por quilômetro quadrado, o município abrange uma área total de 4.434,680 km².

De 2017 a 2021 Porto Nacional registrou 2.217 casos notificados de dengue, sendo que o ano de 2019 foi o mais acometido pelo arbovírus, totalizando 1.344 (61%) dos casos, seguido de 2021 que apresentou 677 (31%) casos, 2018 com 112 casos (5%), 2017 com 52 (2%) notificações e 2020 com apenas 32 notificações (1%). Na comparação dos 3 anos, o mês de janeiro foi o maior notificador, com 648 (29,2%) dos casos, já o mês com menor número de notificações foi mês de julho, totalizando 18 casos (0,8%), conforme podemos observar na Tabela 1.

Esses dados se assemelham ao de um estudo realizado no município de Palmas, Capital do Estado do Tocantins em período semelhante a este estudo, onde foi evidenciado também que o mês mais acometido foi o mês de janeiro, no entanto, diferentemente deste estudo, no mês de julho não evidenciou uma redução no número de casos, mantendo a frequência, que somente começou a reduzir em setembro (RODRIGUES, et al., 2020).

Tabela 1 – Casos notificados para Dengue no período de 2017-2021, em Porto Nacional – TO

Mês notificação20172018201920202021Total
Janeiro4063572648
Fevereiro190416103448
Marco10013141146
Abril65721387
Maio88543780
Junho110133128
Julho2722518
Agosto02421220
Setembro29202639
Outubro07202029
Novembro0159079103
Dezembro04940518571
Total521121344326772217
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net (disponibilizados pelo DATASUS-tabnet).

Considerando a variável sexo, conforme o gráfico 1, em todos os anos, houve maior predominância de notificações do sexo feminino, totalizando 1200 notificações para o sexo feminino e 1017 para o sexo masculino.

Esses dados corroboram com o de um estudo realizado no ano de 2019, com dados do município de Porto Nacional, onde a maioria dos casos também foram registrados em mulheres (LUCENA, et al., 2019).

Gráfico 1 – Distribuição dos casos de Dengue por sexo, ao longo dos anos de estudo.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net (disponibilizados pelo DATASUS-tabnet).

Em relação a frequência por ano segundo a faixa etária, no período de 2017 a 2021, conforme consta no gráfico 2, o maior número de notificações foi em pessoas de 20 a 39 anos, com 826 notificações, 450 em pessoas entre 40 e 59 anos, 303 na faixa etária de 01 a 09 anos, 217 entre 15 e 19 anos, 211 entre 10 e 14 anos, 143 com mais de 60 anos e 50 em menores de 1 ano.

No estudo que foi realizado com dados de Porto Nacional, a frequência por ano segundo a faixa etária entre os anos de 2010 e 2018, foram parecidos com os dados encontrados nesse estudo, onde a maioria das notificações foram entre jovens de 20 a 39 anos. Em Palmas, no período de 2015 a 2017, a faixa etária mais notificada também foi em pessoas com idade entre 20 e 39 anos, a menos acometida foi em pessoas com mais de 80 anos (LUCENA et al., 2019; RODRIGUES et al., 2020).

Em São Paulo, no município de Araraquara, foi realizado um estudo semelhante, que evidenciou também que a faixa etária mais acometida foi entre 20 e 59 anos, os autores relataram que esse fato pode estar relacionado ao fato de que essa é a população economicamente ativa, ou seja, que trabalha ou estuda durante o período diurno, estando suscetível a circulação dos vetores (FERREIRA, NETO e MONDINI, 2018).

Gráfico 2 – Quantidade de casos notificados de dengue em Porto Nacional, segundo faixa etária.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net (disponibilizados pelo DATASUS-tabnet).

Com relação a escolaridade, o maior número de notificações estava com esse campo em branco ou ignorado no período compreendido para o estudo, com 932 notificações, 332 relataram ter o ensino médio completo, 264 estavam em idade que não se aplicava atribuição deste campo, e 208 relataram 5ª a 8ª série, os demais dados foram distribuídos nas outras classificações, em menor quantidade.

No período do estudo, entre os anos de 2017 a 2021, 1674 pessoas relataram ser da raça/cor parda, seguido de 250 brancos, 146 pretos, 19 amarelos, 7 relataram ser indígenas e 121 estavam com esse campo da notificação em branco ou ignorado.

A classificação final do período compreendido foi de Dengue, com 2188 notificações, 26 Dengue com sinais de alarme e 3 dengue grave. É importante ressaltar que o próprio sistema faz a exclusão dos casos descartados.

O critério de confirmação que foi mais utilizado dentre as notificações, foi o clínico-epidemiológico, com 1318 notificações, e 899 confirmados por critério laboratorial, semelhantemente aos dados encontrados no estudo realizado em Palmas e Porto Nacional, nos anos 2020 e 2019, respectivamente (LUCENA et al., 2019; RODRIGUES et al., 2020).

Dos 899 casos confirmados laboratorialmente, 846 foram confirmados pelo Exame sorológico (IgM), 53 foram confirmados pelo exame de sorologia Elisa, os demais foram confirmados por critério clínico-epidemiológico, conforme descrito anteriormente.

Com relação ao sorotipo, os campos ignorados ou em branco, prevaleceram, correspondendo a 1976 notificações, 240 foram informados o sorotipo DEN 1 e somente 1 notificação foi informado o sorotipo DEN 4.

No estudo realizado em 2019 em Porto Nacional, não houve menção ao sorotipo identificado, já no estudo realizado em 2020 em Palmas, o sorotipo de maior identificação também foi o DEN 1 com apenas 6 casos, o campo ignorado ou em branco foi mais expressivo, 7885 notificações (LUCENA et al., 2019; RODRIGUES et al., 2020).

Para que seja identificado o sorotipo, é necessário a realização de exames laboratoriais, sendo assim, é necessário considerar o período de coleta, que deve ser até o 5º dia a partir do início dos sintomas, a conservação do material, acondicionamento, transporte, sendo que esses são também obstáculos para que seja realizado um exame laboratorial adequado, esses são fatores a serem identificados, conforme o Manual de coleta, acondicionamento e transporte de amostras biológicas do estado do Tocantins (2019).

Essa dificuldade com o auxílio diagnóstico realizado laboratorialmente também foi identificado em um estado realizado no Rio de Janeiro, onde os autores afirmam uma dificuldade em acesso a exames laboratoriais para dengue, e também em estudo realizado em Goiânia, em 2013, quando ocorreu uma epidemia de Dengue, onde somente 9,25% tiveram confirmação laboratorial, importante ressaltar que esse estudo foi realizado em pacientes internados, o que deveria ter maior disponibilidade para realização de exames laboratoriais (NASCIMENTO et al., 2015; MALHÃO et al., 2013).

A principal evolução deste estudo, foi a cura, com 2203 casos no período, aconteceram 2 óbitos pela Dengue e 1 óbito por outras causas. 11 notificações não foram informadas essa informação no sistema, ficando esse campo em branco ou ignorado. Os óbitos ocorreram nos anos de 2018 e 2021.

É importante o conhecimento sobre a etiologia do agravo, uma vez que isso torna possível a detecção dos sinais de alarme, sendo esse um fator essencial para o tratamento e recuperação dos pacientes, uma vez que permite a prevenção de casos graves e até mesmo óbito ocasionado pela Dengue. Sendo assim, é importante que os profissionais possuam conhecimento e recursos necessários e adequados para intervenção nos quadros agudos e graves da doença (CAVALLI et al., 2019).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo evidencia que no período estudado, os anos de 2017 a 2021, houve um grande número de casos notificados para Dengue em Porto Nacional, no estado do Tocantins. É possível identificar que essas notificações são maiores nos períodos de chuva do ano, embora seja possível encontrar estudos que reflitam a redução do número de casos de dengue no estado do Tocantins com o passar dos anos, é possível encontrar autores que relatam que esse fato pode estar relacionado com a subnotificação de dengue e não necessariamente com a redução de casos (BONAMIGO; SOARES, 2015).

Desta forma, é possível concluir que, apesar dos avanços nas medidas de prevenção e educação em saúde acerca do controle e combate a dengue, esse agravo se comporta como um problema de saúde pública, sendo importante e essencial o investimento na capacitação profissional para que ocorra diagnóstico preciso e notificação correta dos casos, especialmente na atenção primária a saúde.

Por fim, é importante que haja investimento nas áreas de planejamento urbano, com o intuito de promoção das condições sanitárias adequadas, como coleta de lixo, esgoto, tratamento de água, pois são ações que juntamente com a educação sanitária contribuem para o controle de vetores, promovendo assim uma melhoria no cuidado e bem-estar da população.

REFERÊNCIAS

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BONAMIGO, et al. Subnotificação de doenças de notificação compulsória: aspectos éticos, jurídicos e sociais. In: I ENCONTRO DE SAÚDE MENTAL. Anais de Medicina, dez. 2015, Santa Catarina: Unoesc, 2015. P. 75-76.

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