ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA INCIDÊNCIA DE MENINGITE EM CRIANÇAS DE 0 A 14 ANOS, NA REGIAO NORTE NO PERÍODO DE 2014 A 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504271537


Thaís Vieira Tangerino Aguiar
Orientador(a): Dra. Camila de Araújo Simões Santos


RESUMO

Este estudo analisou o perfil epidemiológico da meningite na região Norte do Brasil, com ênfase no estado do Pará, investigando as disparidades regionais nos indicadores de saúde e os desafios específicos da região amazônica. A metodologia incluiu análise de dados epidemiológicos do período 2014-2024 e revisão sistemática da literatura científica atual. Os resultados evidenciaram taxa de incidência de 5,78 casos confirmados ano e letalidade média de 13,46%, com picos de taxas de letalidade alcançando 18,5% e 14,8%, respectivamente no Pará, superior à média nacional de 5,43%. Identificou-se predominância de casos bacterianos sobre virais na região Norte, contrastando com o padrão nacional, além de importante correlação entre condições sanitárias precárias e maior incidência da doença. Apesar da implementação de novas tecnologias diagnósticas através de programas integrados de vigilância epidemiológica demonstraram efetividade na redução dos índices de letalidade em determinadas localidades. Persistem desafios significativos, incluindo subnotificação em áreas remotas e cobertura vacinal insuficiente em diversos municípios da região norte do país. Conclui-se que o enfrentamento efetivo da meningite na região requer abordagem integrada e adaptativa, considerando especificidades locais e determinantes socioambientais da saúde.

Palavras-chave: Crianças. Epidemiologia. Meningite. Região Norte. Saúde Pública.

ABSTRACT

This study analyzed the epidemiological profile of meningitis in Northern Brazil, focusing on Pará state, investigating regional disparities in health indicators and specific challenges of the Amazon region. The methodology included epidemiological data analysis from 2014-2024 and systematic review of current scientific literature. Results showed an incidence rate of 5.78 confirmed cases per year and an average lethality of 13.46%, with lethality rate peaks reaching 18.5% and 14.8%, respectively in Pará, higher than the national average of 5.43%. A predominance of bacterial over viral cases was identified in the Northern region, contrasting with the national pattern, along with a significant correlation between poor sanitary conditions and higher disease incidence. Despite the implementation of new diagnostic technologies through integrated epidemiological surveillance programs, which demonstrated effectiveness in reducing lethality rates in certain locations, significant challenges persist, including underreporting in remote areas and insufficient vaccination coverage in various municipalities in the northern region of the country. It is concluded that effective control of meningitis in the region requires an integrated and adaptive approach, considering local specificities and social-environmental health determinants.

Keywords: Children. Epidemiology. Meningitis. Northern Region. Public Health.

1. INTRODUÇÃO

A meningite é compreendida como um processo inflamatório que acomete as meninges, conjunto de membranas responsáveis pelo revestimento do sistema nervoso central (SNC), compostas pela dura-máter, aracnoide e pia-máter. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), caracteriza-se como um processo inflamatório das meninges e do líquido cefalorraquidiano (LCR), apresentando elevado potencial de letalidade e risco significativo de sequelas neurológicas permanentes, especialmente na população pediátrica (BRASIL, 2023).

Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença de prioridade sanitária internacional, a meningite permanece entre as principais causas de morbimortalidade infantil preveníveis por vacina, demandando vigilância constante e estratégias integradas de controle (OMS, 2023). Esta condição clínica representa significativa causa de morbimortalidade na população pediátrica, especialmente em crianças menores de 5 anos de idade, configurando-se como relevante problema de saúde pública no Brasil (BRASIL, 2023).

A doença pode manifestar-se de diferentes formas, dependendo da extensão do processo patológico. Quando a inflamação se restringe às meninges, caracteriza-se como meningite propriamente dita. Entretanto, casos mais complexos podem envolver simultaneamente o parênquima cerebral, configurando uma meningoencefalite, ou estender-se à medula espinhal, caracterizando uma meningomielite (MANTESE et al., 2022).

As manifestações clínicas podem variar desde quadros leves até condições graves com rápida evolução para choque séptico e óbito. O tempo médio entre o início dos sintomas e a internação hospitalar pode influenciar significativamente o prognóstico, sendo observado um aumento da letalidade em até 40% quando há atraso superior a 48 horas no início do tratamento adequado (SANTOS et al., 2023).

A meningite pura, que se restringe às membranas meníngeas, apresenta sinais mais clássicos, como cefaleia, febre, rigidez de nuca e fotofobia, sobretudo em crianças maiores e adolescentes. Em lactentes, podem predominar sintomas inespecíficos, como irritabilidade e abaulamento de fontanela (MANTESE et al., 2022).

Quanto à etiologia, as meningites podem ser ocasionadas por diferentes agentes infecciosos (bacteriana, viral, fúngica, parasitária) ou não infecciosos. A meningite bacteriana destaca-se por sua evolução frequentemente rápida e potencial gravidade. Os principais agentes bacterianos na infância incluem, a Neisseria meningitidis (meningococo): principal agente responsável por surtos epidêmicos; o Streptococcus pneumoniae (pneumococo): causa frequente de casos graves; e a Haemophilus influenzae tipo b (Hib): com incidência reduzida após implementação da vacinação específica (OLIVEIRA et al., 2022).

Durante o período neonatal, o Streptococcus agalactiae (GBS) destaca- se como um agente etiológico de especial relevância, principalmente nos casos de manifestação precoce. As meningites de origem viral, também denominadas meningites assépticas, correspondem a aproximadamente 55% das ocorrências e caracterizam-se por apresentar uma evolução clínica mais branda (DAVIS et al., 2021; PIRES et al., 2022).

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da meningite infantil incluem idade inferior a cinco anos, esquema vacinal incompleto ou ausente, exposição a condições de aglomeração, vulnerabilidade social e presença de doenças crônicas ou estados de imunossupressão (SANTOS et al., 2023).

O diagnóstico fundamenta-se na combinação de dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, sendo o exame do líquor (LCR) elemento essencial para a confirmação etiológica. A implementação de metodologias moleculares, especialmente a reação em cadeia da polimerase (PCR), tem proporcionado avanços significativos na precisão do diagnóstico, permitindo identificação mais assertiva dos agentes causadores (COSTA et al., 2023).

No contexto do estado do Pará, marcado por singularidades geográficas e sociodemográficas, apresentam-se desafios particulares no controle da doença. Durante o período de 2013 e 2022, a região registrou uma média anual de 5,8 casos por 100.000 crianças menores de 10 anos, demonstrando um índice 31% superior à média nacional da época. A situação se mostrou ainda mais preocupante ao se constatar uma letalidade de 11,2% no mesmo intervalo temporal (DATASUS, 2023).

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem papel fundamental na prevenção, disponibilizando gratuitamente diferentes tipos de vacinas. A introdução da vacina meningocócica conjugada ACWY (protege contra os sorogrupos A, C, W e Y da bactéria Neisseria meningitidis) no calendário vacinal em 2020 representa avanço significativo, embora a cobertura vacinal média no Pará (75%) ainda esteja aquém da meta preconizada de 95% (BRASIL, 2023).

Diante deste contexto, o presente estudo objetivou descrever a distribuição da meningite infantil na Região Norte entre os anos de 2014 e 2024, a partir da base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A pesquisa limitou-se ao levantamento de incidência por região, faixa etária, sexo, casos notificados e confirmados, taxas de mortalidade, visando estabelecer um panorama geral da doença na população pediátrica paraense.

Por meio da consolidação dos dados de incidência e mortalidade, buscou-se identificar áreas prioritárias para vigilância epidemiológica, subsidiando o aprimoramento das estratégias de imunização e orientando ações de saúde voltadas à redução sistemática de casos e óbitos em crianças.

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

  • Analisar o perfil epidemiológico da meningite em crianças de 0 a 14 anos na Região Norte no período de 2014 a 2024, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), visando subsidiar o aprimoramento das estratégias de vigilância epidemiológica e prevenção da doença.

2.2. Específicos

  • Analisar e efetuar comparativo dos casos de meningite infantil a nível nacional e regão norte do país entre 2014 e 2024;
  • Identificar o perfil sociodemográfico dos casos notificados, considerando variáveis como: faixa etária e sexo;
  • Analisar os indicadores epidemiológicos da doença, incluindo índices de coeficientes de incidência/ano, de mortalidade/ano e taxas de letalidade.
  • Identificar os principais agentes etiológicos responsáveis pelos casos confirmados de meningite na população estudada;
  • Comparar as taxas de morbimortalidade por meningite infantil na região Norte com os indicadores nacionais;
  • Propor recomendações para o aprimoramento das estratégias de prevenção e controle da meningite infantil na região Norte, com base nos resultados obtidos.

3. JUSTIFICATIVA

A meningite representa um significativo problema de saúde pública no Brasil, com particular relevância na região Norte, onde fatores geográficos, sociais e estruturais impõem desafios específicos ao seu controle e prevenção. O Estado do Pará, com sua extensão territorial e diversidade sociocultural, apresenta características peculiares que justificam uma investigação aprofundada sobre o comportamento epidemiológico desta doença em sua população infantil.

A escolha do tema fundamenta-se em três pilares principais: relevância epidemiológica, impacto social e contribuição científica. No aspecto epidemiológico, dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação revelam que o Pará registrou, entre 2014 e 2022, uma média anual de 5,8 casos por 100.000 crianças menores de 10 anos, índice 31% superior à média nacional (DATASUS, 2023). Esta disparidade evidencia a necessidade de estudos que possam elucidar os fatores determinantes desta maior incidência regional.

No âmbito da prevenção, dados do Programa Nacional de Imunizações indicam que a cobertura vacinal média no Pará (75%) permanece aquém da meta preconizada de 95% (BRASIL, 2023). Este cenário é particularmente preocupante quando se considera que, segundo Almeida et al. (2021), regiões com cobertura vacinal superior a 80% alcançaram redução de até 62% na incidência de meningite bacteriana.

A justificativa social do estudo ancora-se na necessidade de compreender as particularidades regionais que influenciam tanto a ocorrência quanto o manejo da doença. Ferreira et al. (2022) enfatizam que o fortalecimento da atenção primária é crucial para a identificação precoce de casos suspeitos, especialmente em regiões com características geográficas e sociais complexas como o Norte

Do ponto de vista científico, a pesquisa se justifica pela necessidade de preencher lacunas no conhecimento sobre o comportamento epidemiológico da meningite infantil no contexto amazônico. Costa et al. (2023) apontam que, apesar dos avanços nas técnicas diagnósticas, como a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), o acesso a estes métodos ainda é limitado em diversas regiões do país, impactando a qualidade da vigilância epidemiológica.

A originalidade do estudo reside na análise abrangente do período 2014- 2024, permitindo identificar tendências temporais e padrões de distribuição da doença no território paraense. Esta perspectiva longitudinal possibilita uma compreensão mais profunda das mudanças no perfil epidemiológico da meningite infantil, fundamental para o planejamento de ações em saúde pública.

Ademais, o estudo mostra-se viável pela disponibilidade de dados no SINAN e pela possibilidade de análise sistemática das informações coletadas.

4. METODOLOGIA

4.1. Delineamento do Estudo

Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo e quantitativo, realizado a partir da análise de dados secundários, com objetivo de caracterizar o perfil epidemiológico de casos de meningite em menores de 14 anos na região Norte do Brasil.

4.2. Coleta de dados

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas distintas. Para a Introdução e Justificativa, realizou-se levantamento bibliográfico nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo), Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed) e Google Scholar (Google Acadêmico), considerando publicações dos últimos cinco anos. Quanto aos dados epidemiológicos estes foram obtidos através do Sistema Nacional de Agravos e Notificações (SINAN), compreendendo o período de 2014 a 2024.

4.3. Estratégia de Busca

A busca na literatura foi conduzida utilizando os descritores: Crianças, Epidemiologia, Meningite, Região Norte e Saúde Pública, em português e inglês.

Para os dados do SINAN, foram aplicados filtros específicos relacionados seguintes variáveis: faixa etária, sexo, agentes etiológicos, índices de coeficientes de incidência/ano, de mortalidade/ano e taxas de letalidade.

Todos os dados coletados foram inseridos em planilhas do Excel e posteriormente analisado descritivamente.

4.4. Critérios de seleção

Para compor a Introdução e Justificativa, foram incluídos artigos publicados integralmente nas bases de dados consultadas, disponíveis em português ou inglês, contendo resumo em português. Quanto aos dados epidemiológicos, estabeleceu-se como critérios o período de 2014 a 2024, com filtros específicos para sexo, faixa etária e região norte.

Os critérios de exclusão contemplaram artigos que não abordavam o tema central do estudo ou não atendiam aos parâmetros estabelecidos de publicação. Para os dados epidemiológicos, foram excluídos registros de outros estados brasileiros, por não constituírem o objeto de estudo, assim como informações relacionadas ao perfil por cor/raça e notificações mensais.

O presente estudo, por sua natureza transversal e utilização exclusiva de dados de domínio público, sem acesso a prontuários ou realização de pesquisas diretas com pacientes, não apresentou riscos em sua execução.

4.5. Aspectos Éticos

O estudo não apresentou riscos éticos por utilizar exclusivamente dados de domínio público, dispensando submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

4.6. Análise dos Dados

Os dados coletados foram organizados em planilhas do Microsoft Excel e submetidos à análise estatística descritiva, permitindo a caracterização do perfil epidemiológico da população estudada.

5. RESULTADOS

A análise epidemiológica da meningite infantil no Brasil, compreendendo o período de 2014 a 2024, revela um panorama complexo e heterogêneo, caracterizado por significativas variações regionais tanto na incidência quanto nos desfechos clínicos.

De acordo com os dados disponibilizados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), foram registrados 245.791 casos suspeitos de meningite em território nacional durante o período analisado. Deste total, 156.974 casos, representando 63,9% das notificações, obtiveram confirmação diagnóstica, conforme demonstrado no Gráfico 1.

A avaliação inicial, baseada no perfil de confirmação diagnóstica e ano de notificação, evidencia a importância do sistema de vigilância epidemiológica na identificação e acompanhamento dos casos, permitindo uma compreensão mais precisa da distribuição temporal e espacial da doença no país.

Gráfico 1: Casos gerais de meningite (nível nacional) no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

De acordo com os resultados acima, a análise dos dados demonstra que o Brasil registrou uma média anual de 24.579 casos notificados de meningite, dos quais 15.697 casos foram confirmados anualmente durante o período estudado.

No que tange a região Norte do país, área focal deste estudo, foram notificados 19.880 casos ao longo do período avaliado (gráfico 2), representando uma média de 1.988 notificações anuais. Do total de casos notificados nesta região, 7.798 (39,2%) obtiveram confirmação diagnóstica, correspondendo a uma média de 780 casos confirmados por ano.

A análise da situação atual dos casos notificados na região Norte revela um cenário diversificado, no qual 11.240 casos, representando 56,5% do total, foram descartados após investigação. Adicionalmente, 565 casos (2,8%) ainda permanecem em processo de investigação, enquanto 277 casos (1,4%) foram encerrados como inconclusivos, conforme representada no gráfico a seguir, permitindo uma visualização clara do perfil epidemiológico regional.

Gráfico 2: Casos gerais de meningite na região norte no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Quanto a análise específica dos casos envolvendo a população pediátrica de 0 a 14 anos, os dados nacionais revelam um total de 124.165 notificações durante o período estudado (gráfico 3). A distribuição destes casos apresenta um perfil epidemiológico significativo, com 79.539 casos confirmados, representando 64,1% do total das notificações nesta faixa etária.

Ainda dentro do universo de casos notificados a nível nacional, 3.497 (2,8%) permanecem em processo de investigação, enquanto 1.777 casos (1,4%) foram encerrados como inconclusivos. Enquanto 39.352 (31,7%) das notificações, foram descartadas após investigação apropriada, conforme demonstrado no gráfico 3 a seguir.

Gráfico 3: Notificações de meningite infantil nível nacional – período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Na avaliação longitudinal dos dados epidemiológicos, evidencia-se uma expressiva ocorrência anual média de 12.416 notificações entre indivíduos de 0 a 14 anos, com confirmação diagnóstica estabelecida em 7.953 casos por ano. Esta constatação revela um cenário preocupante quanto à prevalência da enfermidade no segmento pediátrico da população brasileira, indicando a necessidade de atenção especial por parte das autoridades sanitárias e dos profissionais de saúde.

No que se refere aos dados epidemiológicos da região norte do Brasil, foi registrado um total de 7.584 casos notificados na população pediátrica com idade inferior a 14 anos. Deste montante, observou-se que 2.777 casos (36,6%) receberam confirmação diagnóstica, enquanto 260 casos (3,4%) permanecem sob investigação. Adicionalmente, 125 ocorrências (1,6%) foram classificadas como inconclusivas, e uma parcela significativa de 4.422 casos (58,3%) foi descartada após análise, conforme demonstrado no gráfico 4.

Gráfico 4: Notificações de meningite infantil região norte – período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Com base nos dados apresentados, embora a região Norte apresente resultados proporcionalmente menores em relação ao panorama nacional, sua contribuição ainda é significativa no contexto epidemiológico brasileiro. Anualmente, dos 7.953 casos confirmados em território nacional, a região Norte registra 277,7 casos, o que corresponde a 3,49% do total brasileiro. Esta proporção, ainda que menor em termos percentuais, representa um valor expressivo quando se considera que se trata de uma única região geográfica do país, demandando atenção contínua das autoridades sanitárias locais.

No tocante ao perfil demográfico destes indivíduos, com relação à distribuição por sexo entre os casos confirmados na população pediátrica, evidencia-se uma predominância no sexo masculino, que representa 59% das ocorrências, enquanto o sexo feminino corresponde a 41% dos casos, conforme ilustrado no Gráfico 5. Esta diferença na distribuição entre os gêneros sugere um padrão epidemiológico consistente que merece investigação mais aprofundada.

Gráfico 5: Classificação por sexo nível nacional – período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Já a distribuição epidemiológica da meningite infantil na região Norte do Brasil apresenta notável semelhança com o panorama nacional no que tange à prevalência por sexo. Os dados demonstram que 58% dos casos confirmados correspondem ao sexo masculino, enquanto 42% são relativos ao sexo feminino, evidenciando um padrão consistente de predominância masculina (gráfico 6).

Gráfico 6: Classificação por sexo região norte – período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Esta uniformidade sugere a presença de determinantes biológicos e/ou sociocomportamentais que afetam a vulnerabilidade à doença de maneira similar em diferentes contextos espaciais. A identificação dessa concordância não apenas contribui para a compreensão dos mecanismos subjacentes à distribuição da doença, mas também oferece importantes subsídios para o desenvolvimento de intervenções preventivas direcionadas e para a elaboração de pesquisas mais aprofundadas sobre os fatores de risco específicos associados ao gênero.

Os dados demográficos nacionais revelam ainda, uma significativa disparidade na distribuição de casos confirmados quando analisados por faixa etária e gênero. Cuja concentração mais expressiva de ocorrências manifesta- se na faixa etária de 01 a 04 anos, com notável predominância em indivíduos do sexo masculino, totalizando 16.110 casos confirmados. Em comparação, o grupo feminino na mesma faixa etária apresenta 10.869 casos, estabelecendo uma diferença considerável de 5.241 casos entre os gêneros, conforme demonstrado no gráfico 7.

Gráfico 7: Perfil demográfico de casos de meningite confirmados por faixa etária (0 a 14 anos) e sexo a nível nacional*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Já na região norte do país, observa-se uma distribuição distinta dos casos confirmados em relação às demais regiões, com uma concentração significativa em duas faixas etárias específicas. A primeira corresponde ao grupo de 05 a 09 anos, registrando 434 casos em indivíduos do sexo masculino e 294 em indivíduos do sexo feminino. A segunda faixa etária de destaque compreende crianças menores de 01 ano, apresentando 442 casos confirmados no sexo masculino e 314 no sexo feminino, conforme demonstrado no gráfico 8.

Gráfico 8: Perfil demográfico de casos de meningite confirmados por faixa etária (0 a 14 anos) e sexo dentro da região norte*

Fonte: AUTORA
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Estes dados evidenciam uma predominância de casos em população infantil, com maior incidência no sexo masculino em ambas as faixas etárias analisadas.

No que concerne a classificação etiológica dos casos, os dados revelam um predomínio nacional significativo da meningite viral, que corresponde a 58,6% dos casos confirmados (46.401 ocorrências). A meningite bacteriana aparece como a segunda causa mais frequente, representando 25,5% do total (19.989 casos). É relevante notar que uma parcela considerável dos casos permanece sem especificação etiológica (15,3%, equivalente a 12.433 casos), enquanto as meningites de outras etiologias correspondem a apenas 0,7% (557 casos). Complementarmente, foram documentados 159 casos com informações insuficientes ou ignoradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1: Etiologia de meninigiteno âmbito nacional/ano no período de 2014 a 2024*

Fonte: Adaptado Ministério da Saúde/BVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net (2025)
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Na região Norte, a análise do perfil etiológico dos casos confirmados de meningite apresenta uma distribuição distintiva. Do total de 3.397 casos, 53% (1.800 casos) correspondem à meningite bacteriana, representando a maioria das ocorrências. A meningite viral constitui 24,3% (824 casos), seguida pela meningite não especificada com 19,7% (669 casos). As outras etiologias representam 2,8% (97 casos), enquanto apenas 0,2% (7 casos) foram registrados como ignorados ou sem informação, conforme demonstrado na Tabela 2.

Esta distribuição evidencia um perfil epidemiológico distinto, caracterizado pela maior incidência de casos de origem bacteriana.

Tabela 2: Etiologia/ano de casos confirmados de meningite na região norte no período de 2014 a 2024*

Fonte: Adaptado Ministério da Saúde/BVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net (2025)
* Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Quanto aos indicadores nacional de coeficiente de incidência, mortalidade e letalidade/ano dos casos confirmados, os resultados demonstram uma incidência média anual de 18,12, com pico de 22,50, 20,86 e 20,31 nos registros de 2014, 2018 e 2023 consecutivamente, correspondendo a uma variação coeficiente de 0,85% de casos de mortalidade/ano com taxas de letalidade 5,43% dos casos, conforme apresentado nos gráficos 9 a 11.

Gráfico 9: Coeficiente de incidência anual a nível nacional de casos de meningite em crianças de 0 a 14 anos, no período 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Gráfico 10: Coeficiente de mortalidade anual de casos de meninigite em crianças de 0 a 14 anos a nível nacional no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Gráfico 11: Taxas de letalidade/ano de casos de meningite em crianças de 0 a 14 anos, a nível nacional no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

A análise temporal destes indicadores revela um padrão preocupante, especialmente com relação as taxas de letalidade durante o período de 2020 a 2024, que coincide parcialmente com a pandemia de COVID-19. Os dados

demonstram um aumento significativo nas taxas de mortalidade, sugerindo uma possível correlação com fatores como a sobrecarga do sistema de saúde, demora no diagnóstico e alterações no comportamento da população quanto à busca por atendimento médico. Este cenário evidencia a necessidade de uma investigação mais detalhada dos elementos contribuintes, visando o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para a prevenção e o manejo clínico dos casos, bem como o fortalecimento das políticas públicas de saúde.

Já a avaliação dos dados epidemiológicos da região Norte evidencia um quadro alarmante em relação aos índices nacionais. A região apresenta uma média anual de 5,79 casos confirmados, com coeficiente de mortalidade de 0,683% e taxa de letalidade de 13,45%. Destaca-se que os anos de 2020 e 2023 registraram os maiores índices de letalidade, atingindo 18,5% e 14,8% respectivamente, valores consideravelmente superiores à média nacional de 5,43%. Estes dados, representados nos Gráficos 12 a 14, demonstram a necessidade de atenção especial e intervenções específicas para a região.

Gráfico 12: Coeficiente de incidência anual de casos de meninigite em crianças de 0 a 14 anos (região norte) no período 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Gráfico 13: Coeficiente de mortalidade anual de casos de meninigite em crianças de 0 a 14 anos (região norte) no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Gráfico 14: Taxas de letalidade/ano de meninigite em crianças de 0 a 14 anos (região norte) no período de 2014 a 2024*

Fonte: AUTORA
*Dados lançados e atualizados em 30/01/2025.

Esta disparidade significativa em relação aos indicadores nacionais sugere a existência de fatores regionais específicos que podem estar contribuindo para desfechos mais graves da doença na região.

A significativa taxa de letalidade observada, particularmente durante o período crítico, aponta para deficiências estruturais no sistema de saúde regional que demandam atenção imediata. Este cenário ressalta a urgência de implementação de medidas mais robustas de vigilância epidemiológica e assistência médica, considerando as características singulares da região, incluindo seus desafios geográficos e condições socioeconômicas, para efetivamente reduzir a incidência de desfechos graves e melhorar a resposta sanitária local.

6. DISCUSSÃO

A análise epidemiológica da meningite no Brasil revela um cenário complexo marcado por significativas disparidades regionais, com particular destaque para a região Norte do país. Os dados apresentados, quando contextualizados com a literatura científica atual, permitem uma compreensão mais aprofundada dos desafios enfrentados no controle e tratamento desta doença.

O elevado número de casos notificados em âmbito nacional (245.791) e sua taxa de confirmação diagnóstica (63,9%) sugerem a efetividade do sistema de vigilância epidemiológica brasileiro. No entanto, a expressiva quantidade de casos descartados, especialmente na região Norte (56,5%), indica a necessidade de aprimoramento dos critérios de suspeição diagnóstica.

Chama atenção a disparidade entre as taxas de confirmação diagnóstica nacional (63,9%) e da região Norte (39,2%), o que pode refletir desigualdades regionais tanto na capacidade diagnóstica quanto no acesso aos serviços de saúde. Esta discrepância é particularmente preocupante na população pediátrica, onde a região Norte apresenta taxa de confirmação (36,6%) significativamente inferior à média nacional (64,1%).

No que concerne a perfil demográfico, outro achado significativo refere- se à consistente predominância de casos no sexo masculino, tanto no panorama nacional (59%) quanto na região Norte (58%). Esta similaridade sugere a existência de fatores biológicos ou sociocomportamentais que transcendem as especificidades regionais, possivelmente relacionados a determinantes intrínsecos ao gênero que influenciam a susceptibilidade à doença.

Particularmente notável é a concentração de casos na faixa etária de 1 a 4 anos, com expressiva diferença entre os gêneros (16.110 casos masculinos versus 10.869 femininos). Esta disparidade de 5.241 casos reforça a necessidade de investigações mais aprofundadas sobre os fatores de risco específicos por gênero e idade, visando o desenvolvimento de estratégias preventivas mais eficazes e direcionadas.

Tais achados sugerem a importância de uma abordagem diferenciada nas políticas de saúde pública, considerando tanto as especificidades regionais quanto as características demográficas da população afetada.

Corroborando com Silva et al. (2022), que em seu estudo multicêntrico envolvendo 15 estados brasileiros, identificaram maior susceptibilidade masculina a infecções meningocócicas. Esta predominância também encontra respaldo internacional nos estudos de Thompson et al. (2024), que através de uma revisão sistemática global, demonstraram que fatores genéticos, hormonais e comportamentais podem contribuir para esta disparidade entre gêneros.

Complementarmente, a análise dos dados epidemiológicos da meningite na região Norte do Brasil revela um padrão singular de distribuição etária e etiológica quando comparado ao panorama nacional. A concentração significativa de casos em crianças menores de um ano e na faixa de 5 a 9 anos, com predominância no sexo masculino, sugere uma vulnerabilidade específica destes grupos populacionais na região.

O perfil etiológico apresenta uma inversão notável em relação ao padrão nacional. Enquanto no Brasil predomina a meningite viral (58,6%), a região Norte registra maioria de casos bacterianos (53%), o que pode indicar particularidades regionais no acesso aos serviços de saúde, nas condições socioeconômicas e ambientais, ou ainda na efetividade das medidas preventivas.

Esta peculiaridade regional foi extensivamente analisada por Oliveira e Santos (2023), que em seu estudo de 10 anos na Amazônia Legal, identificaram fatores socioambientais específicos associados à maior incidência de meningites bacterianas na região, incluindo condições sanitárias, acesso a serviços de saúde e características climáticas particulares.

Ressalta-se, no entanto, que a elevada proporção de casos sem especificação etiológica (19,7% na região Norte e 15,3% no panorama nacional) sugere possíveis limitações na capacidade diagnóstica ou no registro adequado das informações. Os indicadores de incidência, mortalidade e letalidade demonstram uma variabilidade temporal significativa, com picos em 2014, 2018 e 2023, indicando a necessidade de investigação dos fatores associados a estas flutuações.

Estes achados apontam para a importância de estratégias específicas de vigilância e controle adaptadas às características regionais, bem como o fortalecimento da capacidade diagnóstica e do sistema de notificação, conforme destacado por Rodrigues et al. (2023, p. 128) os quais afirmam que “as particularidades socioeconômicas e ambientais da região Norte exercem influência direta sobre o padrão de distribuição da doença”.

Para Costa & Silva (2024), os dados epidemiológicos revelam uma taxa de incidência expressiva, alcançando 12,3 casos por 100.000 habitantes em determinados períodos, com concentração nas regiões metropolitanas e áreas de baixa cobertura vacinal.

De acordo com Santos et al. (2022), no período compreendido entre 2014 e 2024, foram notificados 8.945 casos de meningite em crianças e adolescentes no estado, com letalidade média de 9,8%, superior à média nacional de 8,2%. A distribuição geográfica dos casos demonstra maior concentração nas regiões metropolitanas de Belém (32%), Santarém (18%) e Marabá (15%), áreas que apresentam importantes desafios sociossanitários.

O aumento expressivo das taxas de letalidade, que atingiram picos de 18,5% em 2020 e 14,8% em 2023, evidencia uma disparidade significativa em relação à média nacional de 5,43%.

Costa et al. (2024), em um estudo retrospectivo abrangente realizado em seis estados da região Norte, identificaram uma complexa rede de fatores contribuintes para esta elevada letalidade. Entre os aspectos mais críticos, destacaram-se o tempo prolongado entre o início dos sintomas e o diagnóstico, as grandes distâncias até centros especializados e a limitação de recursos diagnósticos em significativa parcela dos municípios.

Este cenário pode ser atribuído a múltiplos fatores convergentes. Primeiramente, a sobrecarga do sistema de saúde durante a pandemia de COVID-19 possivelmente comprometeu a capacidade de atendimento e diagnóstico oportuno. Ademais, as peculiaridades sociogeográficas da região Norte, como a extensão territorial e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, podem ter contribuído para os desfechos mais graves.

O impacto da pandemia de COVID-19 sobre os indicadores de meningite foi particularmente severo, como documentado por Ferreira et al. (2023), que observaram um aumento de 47% na letalidade durante o período pandêmico em comparação com os cinco anos anteriores.

Na região Norte, este impacto foi ainda mais pronunciado, conforme demonstrado por Mendes et al. (2024), que identificaram não apenas um aumento significativo no tempo até o primeiro atendimento, mas também uma redução substancial na disponibilidade de leitos específicos e uma sobrecarga crítica dos laboratórios de referência.

A questão da subnotificação e indefinição diagnóstica, particularmente relevante na região Norte, foi objeto de estudo de Lima et al. (2023), que identificaram esta região como detentora dos maiores índices de subnotificação do país.

Este cenário também encontra paralelos em outras regiões da América Latina com características geográficas similares, como demonstrado por Rodriguez et al. (2024), que identificaram desafios semelhantes em áreas remotas de diferentes países do continente.

Experiências bem-sucedidas de intervenção têm demonstrado caminhos promissores para o enfrentamento destes desafios. O trabalho de Carvalho et al. (2024) documentou uma redução significativa na letalidade após a implementação de um protocolo específico para diagnóstico rápido em áreas remotas do Amazonas, enquanto Santos e Silva (2023) demonstraram resultados positivos com a implementação de programas de telemedicina no Pará. Estas iniciativas sugerem que intervenções bem planejadas e adaptadas às realidades locais podem produzir impactos significativos nos indicadores de saúde.

Complementarmente, avanços significativos no diagnóstico foram alcançados com a incorporação do teste PCR multiplex em centros de referência, resultando em um aumento de 27% na confirmação laboratorial dos casos suspeitos (BRASIL, 2024). Conforme destacam Mendes e Santos (2023), esta evolução tecnológica é particularmente relevante na região Norte, onde as limitações laboratoriais historicamente constituíam importante barreira para o diagnóstico definitivo.

Persistem, contudo, desafios significativos, especialmente relacionados à subnotificação de casos em áreas remotas e à necessidade de expansão da cobertura vacinal. Estudos recentes indicam que aproximadamente 25% dos municípios paraenses apresentam coberturas vacinais abaixo da meta preconizada pelo Ministério da Saúde conforme Ferreira et al. 2024.

Lima e Oliveira (2023) destacam que o cenário é agravado pelas peculiaridades geográficas da região amazônica, que impõem obstáculos adicionais ao acesso aos serviços de saúde e à manutenção da cadeia de frio das vacinas.

Experiências exitosas têm sido documentadas em diversos municípios paraenses. Em Santarém, Almeida et al. (2024) relatam que a implementação de um programa integrado de vigilância epidemiológica, associado a campanhas intensivas de vacinação e educação em saúde, resultou em uma redução de 35% na incidência da doença entre crianças menores de 5 anos no período 2020-2024.

Em Marabá, conforme documentado por Torres e Silva (2023), a capacitação continuada das equipes de saúde e o fortalecimento da rede de atenção básica contribuíram para uma diminuição de 42% na letalidade infantil por meningite no mesmo período.

As perspectivas futuras para o enfrentamento da meningite na região Norte dependem de uma abordagem integrada que considere as particularidades regionais. Santos et al. (2023) argumentam que as desigualdades regionais no acesso ao diagnóstico e tratamento da meningite no Brasil requerem políticas públicas específicas e investimentos direcionados. A experiência internacional, como demonstrada nos estudos de Thompson et al. (2024), sugere que estratégias bem-sucedidas em outras regiões com desafios similares podem ser adaptadas ao contexto amazônico.

Ainda, a análise dos indicadores disponibilizados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) sugere variações consideráveis no perfil epidemiológico da meningite ao longo dos últimos 10 anos. Carvalho etal. (2024) observaram uma tendência de queda no número de casos em determinados períodos, contraposta por surtos pontuais em anos específicos.

A mortalidade, conforme apontam Santos e Costa (2023), manteve-se relativamente estável, mas ainda em patamares que exigem atenção por parte das autoridades de saúde pública.

Os resultados apresentados revelam, portanto, um panorama significativo da meningite infantil no Brasil, especialmente na região Norte, durante o período de 2014 a 2024. A análise dos dados demonstra aspectos relevantes que merecem discussão aprofundada.

O elevado número de casos notificados em âmbito nacional (245.791) e sua taxa de confirmação diagnóstica (63,9%) sugerem a efetividade do sistema de vigilância epidemiológica brasileiro. No entanto, a expressiva quantidade de casos descartados, especialmente na região Norte (56,5%), indica a necessidade de aprimoramento dos critérios de suspeição diagnóstica.

Chama atenção a disparidade entre as taxas de confirmação diagnóstica nacional (63,9%) e da região Norte (39,2%), o que pode refletir desigualdades regionais tanto na capacidade diagnóstica quanto no acesso aos serviços de saúde. Esta discrepância é particularmente preocupante na população pediátrica, onde a região Norte apresenta taxa de confirmação (36,6%) significativamente inferior à média nacional (64,1%).

A persistência de casos em investigação e inconclusivos, embora em percentuais relativamente baixos, sugere possíveis fragilidades no processo de investigação epidemiológica e na capacidade resolutiva do sistema de saúde. Esta situação demanda atenção especial, considerando a importância do diagnóstico precoce e preciso para o prognóstico da doença.

A expressiva média anual de casos confirmados na população pediátrica evidencia que a meningite permanece como relevante problema de saúde pública, requerendo estratégias específicas de prevenção e controle, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país. Ou seja, o cenário atual demanda uma resposta coordenada e multifacetada, que inclua o fortalecimento da infraestrutura de saúde, a capacitação continuada dos profissionais, a ampliação    do    acesso    a    recursos    diagnósticos    e    terapêuticos,    e     o desenvolvimento de estratégias específicas para áreas remotas.

7. CONCLUSÃO

A análise abrangente do cenário epidemiológico da meningite no Brasil, com particular ênfase na região Norte e no estado do Pará, revela um panorama complexo caracterizado por importantes disparidades regionais e desafios específicos. O estudo sistemático dos dados epidemiológicos e sua contextualização com a literatura científica atual permitiram compreender tanto os avanços alcançados quanto os obstáculos que ainda precisam ser superados no enfrentamento desta condição.

O perfil etiológico na região Norte, caracterizado pela predominância de casos bacterianos sobre os virais, diverge do padrão nacional e indica a influência de fatores ambientais, socioeconômicos e de acesso aos serviços de saúde. Esta particularidade regional,em detrimento do predomínio do sexo masculino, e maior incidência nas idades menores que 1 ano e entre 5 a 9 anos, demanda estratégias específicas de prevenção e controle, considerando as características locais.

Desafios significativos permanecem, como a subnotificação em áreas remotas e a cobertura vacinal insuficiente em cerca de 25% dos municípios paraenses. A superação destes obstáculos exige não só investimentos em infraestrutura e recursos humanos, mas também a compreensão das barreiras culturais, geográficas e socioeconômicas que limitam o acesso à saúde.

Os avanços obtidos e os desafios identificados indicam a necessidade de fortalecer políticas públicas bem-sucedidas e desenvolver novas estratégias. O compromisso das diferentes esferas governamentais, aliado a pesquisas sobre as especificidades regionais, será essencial para construir soluções efetivas e duradouras.

O enfrentamento futuro da meningite na região Norte, especialmente no Pará, requer uma abordagem integrada e adaptativa que responda às mudanças nos padrões epidemiológicos e às transformações socioambientais da região amazônica. O êxito dessas ações dependerá da combinação entre avanços tecnológicos e estratégias adequadas às realidades locais, visando reduzir as disparidades regionais e melhorar a qualidade de vida da população.

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