ANALYSIS OF KNOWLEDGE REGARDING MALE SELF-CARE ATTENDED IN THE OUTPATIENT SERVICE OF A UNIVERSITY CENTER IN PIAUÍ
ANÁLISIS DEL CONOCIMIENTO SOBRE EL AUTOCUIDADO MASCULINO ATENIDO EN EL SERVICIO AMBULATORIO DE UN CENTRO UNIVERSITARIO DE PIAUÍ
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408181051
George Luis Ariel Guimarães Miranda1; Ivisson Lucas Campos da Silva2; Alice Lima Rosa Mendes3; João de Jesus Cantinho Júnior4; Izane Luiza Xavier Carvalho Andrade5; Klégea Maria Câncio Ramos Cantinho6; Suely Moura Melo7; Giuliano Amorim Aita8;
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar o conhecimento referente ao autocuidado masculino em pacientes homens atendidos em serviço ambulatorial. Tratou-se de um estudo seccional, de caráter analítico, com pacientes que realizam acompanhamento ambulatorial em um centro universitário do Piauí a partir de 18 anos de idade, no período de abril a junho de 2023. Foram avaliados 102 pacientes do sexo masculino atendidos nesse local, com maior prevalência de indivíduos na faixa etária de 30 a 39 anos (26,5%), autodeclarados com a cor/raça parda (60,8%) e, quanto à escolaridade, cerca de 52,9% relataram ter ensino médio completo. A maioria dos participantes relataram fazer acompanhamento médico (53,9%) e o principal motivo para não realizar foi devido ao trabalho/estudo (25,5%). Além disso, 95,1% dos homens relataram sentirem-se à vontade para compartilhar informações sobre saúde masculina com o médico. A maioria relatou não possuir comorbidade (69,6%) e não utilizar medicamentos (64,7%), e 75,5% afirmaram possuir algum histórico familiar de doenças. A maioria dos pacientes não realizaram o exame do toque retal (57,8%) e o preventivo do PSA (59,8%). Ademais, houve associação significativa entre a idade e a realização de exame de toque retal e PSA (p = 0,000) e entre o acompanhamento médico e a presença de comorbidade (p = 0,028). Portanto, diante dos achados, embora otimistas, ressalta-se a importância de se promover uma mudança na mentalidade da população masculina, principalmente a pertencente à faixa-etária a partir dos 40 anos, incentivando-a a adotar práticas relacionadas ao autocuidado, já que grande parte das comorbidades surgem ou se intensificam após os 40 anos.
Palavras-chave: Saúde do homem; Comorbidades; Educação em saúde.
ABSTRACT
The objective of this work was to analyze knowledge regarding male self-care in male patients treated in an outpatient service. This was a sectional, analytical study, with patients undergoing outpatient follow-up from 18 years of age, from April to June 2023. 102 male patients treated at the outpatient clinic were evaluated, with a higher prevalence of individuals aged between 30 and 39 years old (26.5%), self-declared as having brown color/race (60.8%) and, regarding education, around 52.9 % reported having completed high school. The majority of participants reported undergoing medical follow-up (53.9%) and the main reason for not doing so was due to work/study (25.5%). Additionally, 95.1% of men reported feeling comfortable sharing information about men’s health with their doctor. The majority reported not having comorbidities (69.6%) and not using medications (64.7%), and 75.5% stated they had a family history of diseases. The majority of patients did not undergo a digital rectal exam (57.8%) or PSA screening (59.8%). Furthermore, there was a significant association between age and digital rectal examination and PSA (p = 0.000) and between medical follow-up and the presence of comorbidity (p = 0.028). Therefore, given the findings, although optimistic, the importance of promoting a change in the mentality of the male population, especially those belonging to the age group over 40, is highlighted, encouraging them to adopt practices related to self-care, as Most comorbidities appear or intensify after the age of 40.
Keywords: Men’s health; Comorbidities; Health education.
RESUMEN
El objetivo de este trabajo fue analizar los conocimientos sobre el autocuidado masculino en pacientes varones atendidos en un servicio ambulatorio. Se realizó un estudio seccional, analítico, con pacientes en seguimiento ambulatorio desde los 18 años de edad, de abril a junio de 2023. Se evaluaron 102 pacientes masculinos atendidos en el ambulatorio. mayor prevalencia de individuos entre 30 y 39 años (26,5%), se autodeclaran de color/raza parda (60,8%) y, en cuanto a la escolaridad, alrededor del 52,9% reportó haber completado la secundaria. La mayoría de los participantes refirieron realizar seguimiento médico (53,9%) y el principal motivo para no realizarlo fue por trabajo/estudio (25,5%). Además, el 95,1% de los hombres informaron sentirse cómodos compartiendo información sobre la salud de los hombres con su médico. La mayoría refirió no tener comorbilidades (69,6%) y no utilizar medicamentos (64,7%), y el 75,5% afirmó tener antecedentes familiares de enfermedades. A la mayoría de los pacientes no se les realizó tacto rectal (57,8%) ni cribado de PSA (59,8%). Además, hubo asociación significativa entre la edad y el tacto rectal y el PSA (p = 0,000) y entre el seguimiento médico y la presencia de comorbilidad (p = 0,028). Por lo tanto, ante los hallazgos, aunque optimistas, se destaca la importancia de promover un cambio en la mentalidad de la población masculina, especialmente de aquellos pertenecientes al grupo de edad mayor de 40 años, animándolos a adoptar prácticas relacionadas con el autocuidado, como la mayoría de las comorbilidades. Aparecen o se intensifican después de los 40 años.
Palabras clave: Salud del hombre; Comorbilidades; Educación para la salud.
INTRODUÇÃO
A construção social masculina, ao longo dos anos, esteve pautada na idealização da figura de um provedor, aquele que deve oferecer conforto, proteção e bem-estar à família, não podendo demonstrar fraquezas, sentimentos ou qualquer tipo de característica que fosse atribuída ao gênero feminino. Essa realidade cerceou diversos homens de desenvolverem suas particularidades e moldou uma sociedade masculina voltada a negligenciar sua própria saúde, além de relutar em buscar serviços médicos, sobretudo, serviços voltados à prevenção de agravos (Chaves et al., 2018a).
O perfil de negligência masculina ocorre com maior frequência em relação aos serviços de atenção primária à saúde, pois estes são voltados à prevenção de agravos, o que, muitas vezes, é visto como desnecessário pelos homens, que passam a buscar apenas os níveis de atenção secundária quando já ocorreu a instalação do agravo com a manifestação de seus sintomas. Essa realidade é refletida nos índices de morbimortalidade, que apontam disparidades quando comparados à população feminina (Lima; Aguiar, 2020).
Esses elevados índices de morbimortalidade masculina evidenciam as diferenças das relações de saúde-doença entre os gêneros, uma vez que, devido ao comportamento negligente, homens são mais propensos e apresentam maior vulnerabilidade a adquirir doenças que as mulheres, principalmente a partir dos 40 anos de idade (Martins et al., 2020). Isso se deve a uma exposição elevada às condições de risco culturais e comportamentais, atravessadas por estereótipos de gênero, que não valorizam práticas de prevenção e cuidados de saúde (Sousa, 2020). Nesse contexto, o entendimento dos fatores que levam a essa negligência e o conhecimento dos homens sobre a necessidade do autocuidado são fundamentais para o estabelecimento de políticas de saúde adequadas e para o direcionamento de terapias voltadas ao cuidado destes.
Portanto, o estudo se justificou devido à necessidade de compreender os fatores que ocasionam a baixa adesão da população masculina a partir dos 40 anos aos serviços de saúde, bem como da elaboração de políticas e programas de saúde voltados a atenção integral à saúde do homem. O objetivo geral é analisar o conhecimento referente ao autocuidado masculino em pacientes homens atendidos em serviço ambulatorial e, especificamente, levantar as principais causas de morbimortalidade masculina; e elucidar fatores que ocasionam a baixa procura de homens pelo CASI.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado conforme os moldes da lei e seguiu os preceitos estabelecidos pelas resoluções nº 466, de dezembro de 2012, e n° 510, de abril de 2016, em seus aspectos legais e científicos, que tratam de pesquisas com seres humanos. Junto a isso, o estudo primou pelos princípios de autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade.
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), via Plataforma Brasil, o qual emitiu parecer favorável para sua realização por meio do seguinte número de protocolo: CAAE: 69521723.5.0000.52111. Tratou-se de uma pesquisa seccional, de caráter analítico, sobre o conhecimento acerca do autocuidado masculino e sobre as noções que os homens possuem sobre a necessidade de buscar os serviços médicos.
A pesquisa foi realizada nos Centros de Aprendizagem e Serviços Integrados (CASI) de um centro universitário no Piauí. Foram contemplados pela pesquisa, os pacientes do sexo masculino, adultos que fazem acompanhamento ambulatorial atendidos entre os meses de abril e outubro de 2023. Foram excluídos da pesquisa os pacientes que se negaram a participar do estudo e os que tiveram idade inferior a 18 anos.
Mediante a assinatura do TCLE, foi iniciada a coleta de dados através de um questionário estruturado impresso e entregue aos pacientes. O instrumento de coleta de dados continha os seguintes dados: idade; modalidade de acompanhamento; presença de comorbidades; conhecimento sobre autocuidado; conhecimento sobre alimentação saudável; conhecimento sobre prática de exercício físico regular; conhecimento sobre saúde do homem; conhecimento sobre necessidade de buscar serviços médicos; conhecimento sobre neoplasia de próstata; conhecimento sobre principais patologias que atingem o sexo masculino; conhecimento sobre exposição masculina aos riscos patológicos; e causas externas de morbimortalidade.
Os dados encontrados foram tabulados em planilhas eletrônicas no Programa Microsoft® Excel® e analisados estatisticamente a posteriori, conforme a variação dos dados. Os dados encontrados foram analisados por números absolutos e números relativos e porcentagem na base 100. Foi realizada uma análise estatística dos dados dos exames e das cirurgias realizadas, visando identificar os fatores que impactaram no prognóstico desses pacientes.
Os dados descritivos foram apresentados em frequências e percentuais. Os dados de variáveis categóricas foram analisados por meio do teste qui-quadrado (χ2) de Pearson. O nível de significância para o teste foi estabelecido em valores de p<0,05, com intervalo de confiança de 95%. Os pesquisadores garantem confidencialidade, anonimato e a não utilização das informações em prejuízo dos outros, sendo os dados obtidos empregados somente para fins previstos nesta pesquisa.
Os benefícios serão mais amplos, pois o estudo possui a finalidade de identificar aspectos que atuam como entraves do processo saúde-doença no sexo masculino, a fim de criar estratégias que busquem aproximar os homens dos serviços de saúde e possibilitar a prestação do cuidado específico e holístico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 102 pacientes do sexo masculino atendidos no ambulatório deste centro universitário no Piauí, no período compreendido entre abril e outubro de 2023, com idade a partir de 18 anos. Na Tabela 1, é possível verificar as características sociodemográficas dos pacientes incluídos no estudo.
Tabela 1- Dados sociodemográficos dos pacientes atendidos no ambulatório . PI, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024)
De acordo com os dados da Tabela 1, verifica-se que dentre os homens atendidos no ambulatório do CASI, houve maior prevalência de indivíduos na faixa etária de 30 a 39 anos, com 26,5% dos casos. Com relação à cor/raça, a maioria dos participantes se autodeclararam com a cor/raça parda cerca de 60,8%; e quanto à escolaridade, cerca de 52,9% dos pacientes relataram ter ensino médio completo.
De acordo com dados do MS, nos últimos anos, houve um aumento nos atendimentos prestados a homens no SUS no Brasil. No entanto, de acordo com a OMS, os homens ainda têm uma expectativa de vida menor em comparação com as mulheres no país. De 2016 a 2020, mais de 776 mil atendimentos foram realizados em unidades de atenção primária à saúde para homens. Em 2019, o número de atendimentos a pessoas do sexo masculino ultrapassou 183 mil, em comparação com 167,5 mil em 2018 (Brasil, 2021).
Semelhante ao presente estudo, Xavier et al., (2021) caracterizaram o perfil dos pacientes atendidos no ambulatório de especialidades médicas de uma faculdade de Medicina de um município goiano e verificaram que a maioria dos usuários eram do sexo masculino (58,6%), com idade média de 42 anos e baixa escolaridade (57,9%). Da mesma forma, Panzetti et al., (2020) entrevistaram 10 homens atendidos no ambulatório de uma faculdade em Belém, com idade média de 33,2 anos; 70,0% declararam ser pardos e 50% afirmaram possuir o ensino médio completo.
Diante dessa situação, destaca-se a necessidade de uma abordagem mais ativa por parte dos profissionais de saúde na busca pelo público-alvo. Isso deve-se ao fato de que a baixa escolaridade está frequentemente associada ao diagnóstico tardio de patologias e a um menor nível de cuidado com a saúde (Czorny et al., 2017). Na Tabela 2, é possível verificar algumas características do histórico clínico dos pacientes atendidos no CASI incluídos no estudo.
Tabela 2- Caracterização do histórico clínico dos pacientes atendidos no ambulatório do CASI. Teresina, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024).
De acordo os dados apresentados na Tabela 2, a maioria dos participantes fazem acompanhamento médico (53,9%), cujas especialidades mais relatadas foram: médico da família (14,7%); urologista (14,7%); e oftalmologista (10,8%). Dentre os dados registrados, o principal motivo relatado pelos participantes para não realizarem um acompanhamento médico foi o trabalho/estudo (25,5%). Além disso, a maioria dos participantes relataram se sentir à vontade para compartilhar informações sobre saúde masculina com o médico (95,1%). Xavier et al., (2021) verificaram que no ambulatório de uma faculdade de Medicina em um município goiano, as especialidades mais frequentes foram pneumologia (16,8%) e dermatologia (14,6%).
Dentre os achados desta pesquisa, verificou-se que o principal motivo relatado pelos participantes para não realizarem um acompanhamento médico foi o trabalho/estudo (25,5%). Diante disso, Garcia et al., (2019) ressaltam que um fator de grande relevância é o papel central que o trabalho desempenha na vida dos homens, sendo visto como uma prioridade significativa. A atividade profissional representa um dos principais pilares nos quais os homens exercem seu poder pessoal, criatividade, capacidade de ação e tomada de decisões. Além disso, é fonte de sustento financeiro tanto para si mesmos como, eventualmente, para outros membros de suas famílias. No entanto, é notável que muitos homens tendem a priorizar o trabalho, mesmo quando enfrentam problemas de saúde. Eles podem negligenciar a busca por serviços de saúde até que os sintomas se tornem tão debilitantes a ponto de afetar significativamente sua capacidade de realizar atividades profissionais.
De acordo com o estudo de Novak et al. (2019), os autores concluíram que as normas sociais associadas à masculinidade desempenham um papel significativo no comportamento relacionado à busca pelo atendimento. Além disso, outras razões para evitar a busca de cuidados de saúde incluem sentimentos de constrangimento, preocupações com o julgamento por parte dos profissionais de saúde, custos e inconveniências.
Ainda de acordo com a Tabela 2, foi possível verificar que a maioria dos participantes não possui comorbidade (69,6%), no entanto, a comorbidade mais relatada foi a hipertensão (16,7%). A maioria (64,7%) dos participantes relataram não utilizar medicamentos. Dentre os que fazem uso, os principais utilizados, sendo estes de consumo esporádico, são: analgésicos; anti-inflamatórios; ansiolíticos; e fármacos utilizados no tratamento de disfunção erétil. Além disso, cerca de 75,5% dos homens atendidos no CASI relataram possuir algum histórico familiar de doenças como diabetes, hipertensão, dislipidemia e câncer, cujo parentesco mais relatado foi o materno (40,2%) e a neoplasia mais comum, o câncer de próstata, embora pouco evidenciado.
Segundo o MS, apesar do aumento nos atendimentos ambulatoriais prestados a homens, a maioria dos indivíduos deste sexo tende a procurar os serviços de saúde somente quando experimentam sintomas mais graves ou quando sua condição de saúde já está em um estágio avançado. Os homens são os que enfrentam taxas mais elevadas de doenças cardíacas, diabetes, câncer, colesterol elevado e pressão arterial elevada (Brasil, 2021). Na Tabela 3, é possível visualizar alguns dados relacionados ao estilo de vida dos participantes da pesquisa.
Tabela 3- Dados do estilo de vida dos pacientes atendidos no ambulatório do CASI. Piauí, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024)
De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, é possível observar que a maioria dos homens são sedentários (54,9%), possuem vida sexual ativa (88,2%), com parceiras fixas (76,5%) e não utilizam preservativo (55,9%).
Corroborando esses achados, o estudo de Xavier et al. (2021), realizado com 1.682 pacientes atendidos no ambulatório da Universidade de Rio Verde, em Aparecida de Goiânia, teve como objetivo caracterizar o perfil dos pacientes atendidos no ambulatório de especialidades médicas. Os autores verificaram que 65,2% dos participantes não praticavam atividade física, sendo que predominaram os sedentários, não etilistas e não tabagistas, eutróficos e os que utilizavam de uma a cinco medicações.
O fato de a maioria dos participantes da amostra não realizar atividades físicas é preocupante. De acordo com Franco (2020), as evidências científicas indicam um aumento na prevalência de hipertensão arterial entre adultos jovens, principalmente devido à obesidade e ao estilo de vida sedentário. A prática regular de atividade física surge como um fator preventivo de extrema importância contra o desenvolvimento de hipertensão, doenças cardiovasculares e mortalidade por todas as causas.
Com relação ao uso de preservativo, Martins et al., (2020) verificaram em seu estudo que alguns homens consideram difícil introduzir o uso do preservativo no relacionamento, pois traz a ideia de infidelidade e pode causar uma preocupação às suas parceiras. Percebe-se que o fato de se ter uma parceira fixa ou compromisso é motivo de não se utilizar o preservativo, ou seja, se existe confiança, o cuidado diminui, passando a não ser necessário o uso de preservativos.
Tabela 4- Dados clínicos dos pacientes atendidos no ambulatório do CASI. Piauí, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024).
Legenda: IST: infecção sexualmente transmissível.
A Tabela 4 apresenta alguns dados clínicos dos pacientes do sexo masculino atendidos nesse ambulatório. De acordo com esses dados, verificou-se que a maioria dos pacientes não realizaram o exame do toque retal (57,8%). Os principais motivos para a não realização do exame foram a faixa etária ainda não indicada (41,2%) ou por preconceito ou não acharem necessário (11,8%). Dentre os participantes que realizaram o exame, a maioria não relatou há quanto tempo havia realizado (83,4%). Além disso, a maioria dos participantes não fizeram o exame preventivo do PSA (59,8%).
Da mesma forma, Panzetti et al., (2020) entrevistaram homens atendidos em um ambulatório de uma faculdade em Belém e verificaram que eles possuem pouca informação sobre a prevenção do câncer de próstata e os meios para o diagnóstico. Portanto, a falta ou insuficiência de informação interfere diretamente na detecção precoce do câncer de próstata, prejudicando a busca aos serviços de saúde.
Ademais, corroborando ao fato de que 11,8% da população deste estudo relatou não ter realizado os exames preventivos por preconceito ou por não achar necessário, Silveira, Melo e Barreto (2017) afirmam que os homens seguem com a crença de que não faz sentido procurar algo que possa estar errado com a sua saúde quando, na verdade, não apresentam sintomas ou sinais, contribuindo para que fiquem expostos a situações que podem se agravar e que poderiam ser detectadas antecipadamente. Ainda de acordo com os dados da Tabela 4, notou-se que a maioria dos participantes não relataram sobre o tratamento para alguma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) (83,3%). No entanto, dentre os que informaram, as ISTs mais comuns foram gonorreia ou clamídia (7,9%) e sífilis (3,9%). De modo semelhante, Pontes (2020), em um estudo multicêntrico transversal realizado em 12 capitais brasileiras, incluindo do Distrito Federal, avaliou a prevalência de sífilis entre homens e verificou que a prevalência de IST autorrelatada na vida foi de 27,8%, com destaque para sífilis (52,1%), Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV/Aids) (27,5%) e gonorreia (23,4%); destes, 81,8% receberam tratamento para estas condições. O estudo mostrou, ainda, uma alta prevalência de sífilis na vida entre homens que fazem sexo com homens no Brasil. No Gráfico 1, é possível verificar as respostas dos participantes sobre alguns questionamentos relacionados à saúde.
Gráfico 1- Conhecimento em saúde dos pacientes atendidos no ambulatório do centro universitário.
Piauí, 2023. (n = 102)
Fonte: Autor (2024).
De acordo com o Gráfico 1, é possível perceber que a maioria dos participantes não sabem que, no Brasil, a expectativa de vida é maior entre as mulheres do que entre os homens (51,0%). Cerca de 67,6% dos homens não sabem que a vacina do Papiloma Vírus Humano (HPV) previne o câncer de pênis, ânus e garganta, fato este que pode estar relacionado à baixa adesão dos homens à vacina, conforme visto anteriormente. Apesar disso, no que se refere ao tabagismo, verificou- se que a maioria dos participantes estão cientes de que o uso de cigarros pode ocasionar sérios prejuízos para a saúde humana (92,2%).
Da mesma forma, Panzetti et al., (2020) verificaram em seu estudo que os homens atendidos no ambulatório de uma faculdade em Belém não dominam assuntos relacionados à saúde e poucos sabem informar sobre os aspectos relacionados ao câncer de próstata e outros tipos, com respostas vagas e semelhantes, evidenciando um senso comum entre os participantes. Na Tabela 5, observa-se a associação entre a faixa etária e os dados do histórico clínico e do conhecimento em saúde dos pacientes atendidos no ambulatório .
Tabela 5- Associação entre a faixa etária e os dados do histórico clínico e do conhecimento em saúde dos pacientes atendidos no ambulatório. Piauí, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024)
De acordo com os dados apresentados na Tabela 5, observou-se que houve associação significativa entre a idade e a realização de exame de toque retal e PSA (p = 0,000).
Nesse sentido, de acordo com Arruda e Marcon (2018), homens acima dos 50 anos, geralmente, são os que mais declaram realizar exames preventivos de rotina. Também se constata, na literatura, a associação da idade e da posse de plano de saúde com a realização de exames preventivos, especialmente os de rastreamento do câncer de próstata. Na Tabela 6, observa-se a associação entre a realização de acompanhamento médico e os dados do histórico clínico e do conhecimento em saúde dos pacientes atendidos nesse ambulatório.
Tabela 6- Associação entre a realização de acompanhamento médico e os dados do histórico clínico e do conhecimento em saúde dos pacientes atendidos no ambulatório. Piauí, 2023 (n = 102).
Fonte: Autor (2024).
De acordo com os dados apresentados na Tabela 6, observou-se que houve associação significativa apenas entre o acompanhamento médico e a presença de comorbidade (p = 0,028).
Diante disso, ressalta-se que o subdiagnóstico dessas condições clínicas coexistentes, bem como a falta de consciência do paciente sobre sua situação de saúde, pode agravar o progresso clínico, uma vez que o paciente não busca o acompanhamento médico necessário e o tratamento adequado. Portanto, negligenciar o acompanhamento profissional compromete significativamente a progressão do quadro clínico, especialmente considerando que as comorbidades estão frequentemente interligadas e representam fatores de risco mútuo (Chaves et al., 2018b).
De acordo com os dados analisados e a literatura estudada, foi possível verificar que os homens ainda enfrentam desafios no que diz respeito ao cuidado com sua saúde. Superar o preconceito, o medo e as barreiras que dificultam a realização de exames preventivos é uma necessidade urgente. Além disso, a falta de informação sobre os problemas de saúde que acometem de modo específico o sexo masculino, ainda persiste entre os homens como uma questão preocupante na saúde pública brasileira.
Conforme evidenciado no presente estudo, destaca-se a falta de informação entre os homens sobre assuntos relacionados à saúde masculina. Ademais, os resultados permitiram conhecer algumas características sociodemográficas e compreender as percepções do histórico clínico e familiar dos sujeitos.
Nesse sentido, é fundamental destacar a importância de implementar programas educativos contínuos e interativos destinados aos homens, adaptados aos seus estilos de vida, respeitando seus valores e desmistificando concepções errôneas sobre doenças e tratamentos. É crucial enfatizar os fatores de risco e divulgar orientações que visem a promoção da saúde e o bem-estar dos indivíduos (Oliveira et al., 2017).
CONCLUSÃO
De acordo com os dados analisados no presente estudo, foi possível verificar que os pacientes do sexo masculino atendidos no ambulatório deste Centro Universitário corresponderam, em sua maioria, à faixa etária entre 30 e 39 anos, cor/raça parda, com ensino médio completo, histórico familiar de doenças e sem comorbidades.
Além disso, a maioria dos participantes relataram fazer acompanhamento médico e o principal motivo citado para não o fazer foi a ocupação com trabalho ou estudo. Mais da metade dos pacientes não realizaram os exames preventivos do toque retal e PSA e os principais motivos para não os realizar foram a faixa etária ainda não indicada ou por preconceito. Há de se considerar que mais de 70% da população estudada foi de homens com até 49 anos de idade, fato que impossibilitou a realização dos exames de rastreio, já que estes devem ser feitos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a partir dos 50 anos ou aos 45 anos, em homens negros ou com antecedente familiar de câncer de próstata.
Com relação aos conhecimentos em saúde, verificou-se que a maioria dos homens desconhecem que as mulheres possuem maior expectativa de vida e que a vacina do HPV previne contra alguns tipos de câncer. Apesar disso, observou-se que a maioria dos participantes estão cientes de que o uso de cigarros pode ocasionar sérios prejuízos para a saúde humana.
Os achados desta pesquisa mostraram que a disponibilização de um centro médico ambulatorial credenciado ao sistema público de saúde otimiza e aumenta a adesão da população masculina aos cuidados preventivos em saúde. A adequação nos horários de atendimento que possam priorizar as especialidades para atendimento aos homens, certamente promoverão uma assistência ainda mais includente. Por fim, é importante considerar a necessidade contínua de capacitar os profissionais de saúde de acordo com as especificidades culturais dos homens em diferentes regiões geográficas.
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1ORCID: https://orcid.org/0009-0006-0111-1281, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: george.ariel.1998@gmail.com;
2ORCID: htttps://orcid.org/0000-0003-2848-9402, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: ivissonlucas@hotmail.com;
3ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1960-9647, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, E-mail: alice_lima_@hotmail.com;
4ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7025-3845, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: cantinhojr@hotmail.com;
5ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4693-1033, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: izancluizac@hotmail.com;
6ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1685-5658, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: professoraklegea@gmail.com;
7ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9996-0850, Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil, E-mail: suelymelo6@gmail.com;
8ORCID:https://orcid.org/0000-0001-5826-0073, Centro Universitário Unifacid Wyden, E-mail: giulianoaita@hotmail.com