REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506081358
FERNANDES, N. C.; FOGAÇA, M. M.; MARCONATO, E. S.; CONSORTE, T. C. C.; SAMPAIO, V. H. G.; ARAÚJO, A. R.; ITO, F. A. N.; PEDRIALI, M. B. B. P.
RESUMO: A recessão gengival é caracterizada pela migração apical da margem gengival, expondo a superfície radicular dos dentes, o que pode causar hipersensibilidade e comprometimento estético. Seus principais fatores etiológicos incluem escovação traumática, má higiene bucal, uso de aparelhos ortodônticos e fenótipo periodontal delgado. O tratamento envolve cirurgia plástica periodontal, sendo o recobrimento radicular uma abordagem eficaz. A técnica do túnel modificado avançado coronariamente tem se destacado por preservar as papilas interdentais e dispensar incisões adicionais, promovendo melhores resultados estéticos. O enxerto de tecido conjuntivo é considerado padrão-ouro nesse procedimento, e sua associação com materiais bioativos como a fibrina rica em plaquetas injetável (i-PRF) potencializa a regeneração tecidual. Este estudo avaliou sete pacientes (38 dentes) tratados com essa técnica combinada, analisando parâmetros como profundidade de sondagem, nível de inserção clínica, recessão gengival, largura do tecido ceratinizado e espessura gengival, antes e seis meses após a intervenção. Os resultados mostraram redução significativa da recessão gengival (de 1,48 ± 0,53 mm para 0,22 ± 0,35 mm) (p < 0,001), com taxa média de recobrimento radicular de 85,55%. Houve também ganho na largura do tecido ceratinizado e melhora do fenótipo periodontal. A satisfação estética foi elevada, com notas médias acima de 9 em escalas específicas. O uso do i-PRF demonstrou efeitos bioativos benéficos, favorecendo a cicatrização e reduzindo a morbidade. A combinação das técnicas mostrou-se eficaz, segura e economicamente viável para o tratamento da recessão gengival.
Palavras-chave: Recessão gengival; Tecido conjuntivo; Fibrina rica em plaquetas.
ABSTRACT: Gingival recession is characterized by the apical migration of the gingival margin, leading to root surface exposure and potential dentin hypersensitivity and esthetic impairment. Main etiological factors include traumatic toothbrushing, poor oral hygiene, orthodontic treatment, and a thin periodontal phenotype. Treatment often involves periodontal plastic surgery, with root coverage being an effective approach. The coronally advanced modified tunnel technique has gained prominence due to its preservation of interdental papillae and avoidance of vertical or horizontal incisions, resulting in superior esthetic outcomes. Connective tissue grafting remains the gold standard, and its combination with bioactive materials such as injectable platelet-rich fibrin (i-PRF) enhances tissue regeneration. This study evaluated seven patients (38 teeth) treated with this combined approach, assessing clinical parameters including probing depth, clinical attachment level, gingival recession, keratinized tissue width, and gingival thickness before and six months after surgery. Results showed a significant reduction in gingival recession (from 1.48 ± 0.53 mm to 0.22 ± 0.35 mm) (p < 0,001), with a mean root coverage rate of 85.55%. There was also an increase in keratinized tissue width and improvement in periodontal phenotype. Patient satisfaction was high, with average scores above 9 on esthetic evaluation scales. The use of i-PRF demonstrated beneficial bioactive effects, promoting tissue healing and reducing postoperative morbidity. This technique combination proved to be effective, safe, and economically feasible for the treatment of gingival recession.
Key-words: Gingival recession; Connective tissue; Platelet-Rich Fibrin.
1 – INTRODUÇÃO
A recessão gengival é uma condição caracterizada pela migração apical da margem tecidual além da junção cemento-esmalte, resultando na perda de tecidos periodontais, como gengiva, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar (AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY, 2001). Esta alteração é altamente prevalente e frequentemente associada à hipersensibilidade dentinária (HD) e insatisfações estéticas, impactando tanto a função quanto a estética dental (CORTELLINI; BISSADA, 2018).
A recessão gengival possui uma etiologia multifatorial, incluindo fatores como fenótipo periodontal fino, deiscência óssea, estreita faixa de gengiva ceratinizada, freio tencionado, forças traumáticas (como escovação e mastigação), inflamação induzida por biofilme, hábitos parafuncionais e tratamento ortodôntico (CHAN et al., 2015). Além disso, é comum observar danos nas superfícies dentárias associados à recessão gengival, frequentemente acompanhados por lesões cervicais não cariosas (LCNC) (SANTAMARIA et al., 2021). Estudos indicam que cerca de metade dos casos de recessão gengival estão relacionados à presença de LCNC, criando um defeito combinado que reduz a probabilidade de obter completa cobertura radicular após o tratamento cirúrgico (PINI-PRATO et al., 2010; SANTAMARIA et al., 2009; RASPERINI et al., 2018; SANTAMARIA et al., 2021).
A terapia cirúrgica periodontal tem se mostrado uma alternativa eficaz para reverter ou amenizar quadros de recessão gengival. Diversas abordagens cirúrgicas, com ou sem o uso de enxerto de tecido conjuntivo (ETC) proveniente do palato, estão disponíveis, e a escolha da técnica depende de fatores como o tamanho da recessão gengival, a espessura gengival, a largura da faixa de gengiva ceratinizada, a presença ou ausência de HD, a localização da área a ser operada (estética ou não), e a anatomia do tecido interdental. Além disso, fatores individuais dos pacientes devem ser considerados para atender às suas expectativas (DE SANCTIS; ZUCCHELLI, 1996).
O uso do ETC é amplamente reconhecido na literatura atual como o padrão ouro no tratamento da recessão gengival (CHAMBRONE; TATAKIS, 2015; CHAMBRONE et al., 2008; MIRON et al., 2020; CAIRO, NIERI, PAGLIARO, 2014). A combinação das técnicas do retalho reposicionado coronário (RRC) com ETC oferece resultados superiores em comparação ao uso isolado do RRC. Essa combinação proporciona uma maior porcentagem de recobrimento radicular, além de um ganho significativo em tecido ceratinizado e espessura gengival, apresentando elevadas taxas de sucesso e estabilidade em longo prazo (CHAMBRONE; TATAKIS, 2015; CAIRO, NIERI, PAGLIARO, 2014; ZADEH, 2011; LANGER; LANGER, 1985; HARRIS, 2002; ROSSBERG et al., 2008).
A técnica do túnel avançado coronalmente modificado (MCAT) tem ganhado destaque e ampla aplicação nos últimos tempos. Esta técnica se caracteriza pela ausência de incisões verticais e horizontais e pela preservação das papilas, eliminando a necessidade de descolamento papilar. Para criar um espaço sub ou supraperiostal, são realizadas incisões sulculares, permitindo a inserção do enxerto de tecido conjuntivo de forma subgengival (ALLEN, 1994; ZABALEGUI, 1999; ZUCCHELLI et al., 2011). A execução da tunelização requer habilidade clínica, microinstrumentais específicos, e o uso de tunelizadores. Como principais vantagens, a técnica oferece menor morbidade pós-operatória, reduzido risco de formação de tecido cicatricial e, consequentemente, melhores resultados estéticos (ZUHR et al., 2007; AROCA et al., 2010).
Além disso, o uso de agregados plaquetários, como a fibrina rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF), introduzido por Choukroun e colaboradores (2001), pode aprimorar a regeneração tecidual, principalmente devido aos seus efeitos na vascularização. O PRF injetável (i-PRF), que é a forma líquida do PRF, é um bioagente ativo obtido por centrifugação em baixa velocidade e é conhecido por estimular a regeneração tecidual. Em altas concentrações, o i-PRF pode promover a secreção de diversos fatores de crescimento e induzir a migração de fibroblastos (MIRON et al., 2017). O i-PRF tem sido amplamente utilizado em tratamentos regenerativos, apresentando bons resultados (MOURÃO et al., 2015). Em 2020, Turer e colaboradores aplicaram o i-PRF em combinação com ETC na cobertura radicular de recessões gengivais. Os resultados mostraram que o uso adicional de i-PRF levou a uma redução significativa na profundidade da recessão e a um aumento no tecido ceratinizado, comparado ao uso isolado do ETC (MIRON et al., 2023).
Portanto, é essencial a discussão científica sobre técnicas cirúrgicas que incorporam fatores visando: estabilidade em longo prazo, resultados estéticos superiores, previsibilidade nos desfechos e menor morbidade pós-operatória. A avaliação desses critérios é crucial para a escolha da abordagem mais eficaz e para otimizar os resultados no tratamento da recessão gengival.
2 – OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é realizar uma análise descritiva da eficácia do recobrimento radicular utilizando a técnica do túnel avançado coronalmente modificado (MCAT), associada ao enxerto de tecido conjuntivo (ETC) e ao PRF injetável (i-PRF), com base nos resultados obtidos de uma série de casos. Além de avaliar o aumento da largura e espessura da gengiva ceratinizada, o estudo busca também avaliar a satisfação estética dos pacientes e a avaliação estética realizada por profissionais independentes e cegos, após 6 meses de acompanhamento pósoperatório.
3 – METODOLOGIA
Esta análise clínica de acompanhamento longitudinal integra um projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE 75136523.2.0000.5231). Todos os participantes foram devidamente informados sobre os procedimentos cirúrgicos propostos, bem como sobre os cuidados pósoperatórios. A realização das intervenções foi autorizada mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Participaram do estudo indivíduos com idade entre 23 e 56 anos, que apresentavam boas condições sistêmicas, saúde periodontal estável e adequados níveis de higiene bucal. Foram selecionados casos com recessões gengivais unitárias ou múltiplas classificadas como tipo 1 (RT1) e/ou tipo 2 (RT2), conforme os critérios propostos por Cairo et al. (2011).
O estudo envolveu oito pacientes, sendo três homens e cinco mulheres, totalizando 38 dentes avaliados. Desses, 30 apresentavam recessões gengivais tipo 1 (RT1) e 8, tipo 2 (RT2). Algumas dessas recessões estavam associadas a lesões cervicais não cariosas, sendo que a maioria (71,05%) correspondia ao tipo A-, em que a junção cemento-esmalte (JCE) é detectável e não há degrau cervical. Além disso, 5,26% foram classificadas como A+, quando a JCE é detectável, mas há presença de degrau cervical; 2,63% como B+, quando a JCE não é detectável e há degrau cervical; e 2,63% como B-, quando a JCE não é detectável e não há degrau cervical. Os dados demográficos dos participantes estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Dados demográficos dos participantes do estudo.

Os dados foram coletados por meio de fotografias digitais e avaliações clínicas, incluindo medições da profundidade de sondagem (PS), nível de inserção clínico (NIC), altura da recessão gengival (RG), faixa de tecido ceratinizado apical à recessão (GC) e espessura gengival (EG). As avaliações foram realizadas no início do estudo e repetidas após um período de seis meses.
A profundidade de sondagem foi medida com uma sonda periodontal milimetrada (PC-15mm), inserida em três pontos da face vestibular (mesial, médio e distal). A altura da recessão gengival foi registrada no seu maior ponto. Já a espessura gengival foi avaliada por meio da técnica de transparência da sonda periodontal dentro do sulco gengival. De acordo com esse método, quando a sonda era claramente visível, a espessura gengival era considerada menor que 1 mm; quando não era visível, era classificada como maior ou igual a 1 mm (DE ROUCK et al., 2009; STEIN et al., 2013; MALHOTRA et al., 2014; MANJUNATH, RANA e SARKAR, 2015).
Para análise dos dados de espessura gengival, os valores foram dicotomizados em escores: 0 para espessura menor que 1 mm e 1 para espessura maior ou igual a 1 mm. A mediana e o intervalo de confiança foram utilizados na apresentação dos resultados.
Previamente aos procedimentos cirúrgicos, os pacientes foram instruídos quanto às práticas de higiene oral para controle do biofilme e passaram por raspagem e alisamento radicular, tanto em nível supra quanto subgengival. Na sequência, foi realizada a documentação clínica inicial, composta por registros fotográficos digitais e coleta dos parâmetros clínicos periodontais (Figura 1).

Todas as recessões foram tratadas com a técnica do túnel modificado avançado coronalmente associado ao ETC (ALLEN, 1994; ZABALEGUI, 1999) aglutinado ao i-PRF (TURER et al., 2020). Antes do início de cada cirurgia, os pontos de contato dos dentes com recessão gengival foram fechados com resina composta, criando uma área de suporte para a posterior ancoragem das suturas suspensórias.
Em seguida, os pacientes realizaram bochecho com digluconato de clorexidina 0,12% (Clinexidin, Dentalclean, Londrina, PR, Brasil), e a antissepsia extraoral foi feita com solução de PVPI (Riodeine®, Rioquímica, São José do Rio Preto, SP, Brasil).
Na sequência, foi administrada anestesia local infiltrativa com mepivacaína 2% e epinefrina 1:100.000 (Mepiadre®, Nova DFL, Taquara, RJ, Brasil). As áreas receptoras foram então preparadas por meio de incisões intrasulculares com lâmina 15c (Razormed, Santana de Parnaíba, SP, Brasil), seguidas da tunelização utilizando tunelizadores (Supremo, Caieiras, SP, Brasil). O ETC foi obtido do palato e desepitelizado em mesa (ZUCCHELLI et al. 2010).
Durante o transoperatório, o sangue de cada paciente foi coletado por venopunção em tubos brancos sem aditivos, sempre em pares. A obtenção do agregado plaquetário líquido seguiu o protocolo high speed descrito por Choukroun (2006), utilizando uma centrífuga de ângulo fixo (KASVI – K14-4000PRF). O sangue foi centrifugado a 2.494 rpm (700 g) por 3 minutos, resultando na formação do i-PRF.
O agregado plaquetário líquido foi então aspirado com o auxílio de uma seringa e transferido para uma cuba metálica, onde permaneceu disponível para uso imediato. O enxerto de tecido conjuntivo foi embebido no i-PRF antes de ser posicionado na área receptora e estabilizado com fios reabsorvíveis. Por fim, os retalhos foram reposicionados coronariamente e suturados com fios de nylon soft blue 5-0 (Techsuture, Bauru, SP, Brasil) (Figura 2).
Ao término das cirurgias, os pacientes receberam instruções pós-operatórias detalhadas, incluindo orientações sobre alimentação, higiene bucal com escovação adequada e o uso correto das medicações prescritas para controle da dor e prevenção de infecções. As suturas do palato foram removidas após 7 dias, enquanto as da área receptora foram retiradas aos 14 dias.

Os acompanhamentos subsequentes foram realizados aos 21, 30, 45, 60, 90, 120 e 180 dias, incluindo controle de biofilme, reforço das orientações de higiene bucal e reavaliação dos parâmetros clínicos de PS, RG, GC e EG. Além disso, foram feitas fotografias digitais para documentação e controle da evolução clínica.
Após 6 meses, os pacientes responderam a uma pesquisa subjetiva para avaliar a satisfação estética e o grau de morbidade pós-operatória. Cinco das seis perguntas foram formuladas de maneira dicotômica, com respostas “sim” ou “não”, enquanto uma utilizou a escala visual analógica (EVA), composta por 10 níveis, onde 0 indicava extrema insatisfação e 10, máxima satisfação. Além disso, os pacientes tiveram a oportunidade de registrar comentários adicionais sobre o procedimento realizado.
Três examinadores, de forma cega, conduziram a avaliação estética dos casos por meio da comparação entre as fotografias clínicas obtidas antes e após o tratamento. A análise das imagens foi realizada com base no sistema Root Coverage Esthetic Score (CAIRO et al., 2010), complementado por um formulário de avaliação específico. Os critérios considerados incluíram o posicionamento da margem gengival, o contorno do tecido marginal, a textura dos tecidos moles, a localização da junção mucogengival e a coloração da gengiva ceratinizada, resultando em uma pontuação final que variava entre 0 e 10.
4 – RESULTADO CLÍNICOS
A Tabela 2 apresenta um resumo dos valores médios (± DP) dos parâmetros clínicos avaliados no início do estudo e após seis meses. A recessão gengival reduziu de 1,48 ± 0,53 mm para 0,22 ± 0,35 mm nesse período, correspondendo a uma redução média de 1,26 mm, estatisticamente significativa (p < 0,001). Esse resultado equivale a um percentual médio de recobrimento radicular de 85,55 ± 22,81%. Dos 38 dentes tratados, 30 apresentaram recobrimento total, enquanto em 4 dentes foi observado um recobrimento parcial entre 50% e 75%. Nos 4 dentes restantes, não houve recobrimento. A figura 3 ilustra o acompanhamento clínico pós-operatório dos dentes 31, 32 e 41 evidenciando a cobertura radicular completa de todos os dentes aos 6 meses. Já a figura 4 apresenta o acompanhamento clínico de outros dentes no mesmo período, permitindo avaliar os resultados estéticos da abordagem cirúrgica.
Tabela 2: Avaliação estatística dos resultados.

Abreviações: RG: Altura da Recessão Gengival; RR: Recobrimento Radicular; NIC: Nível de Inserção Clínico; GC: Gengiva Ceratinizada; EG: Espessura Gengival; RES: Root Coverage Esthetic Score; EVA: Escala Visual Analógica; *Escore utilizado para espessura gengival, sendo 0 para espessura menor que 1mm e 1 para espessura maior ou igual a 1 mm.


Observou-se um ganho clínico significativo de inserção, com a redução do NIC de 2,87 ± 0,71 mm para 1,54 ± 0,68 mm em 6 meses (p < 0,001). Além disso, a largura média da GC aumentou de 2,99 ± 0,99 mm para 3,87 ± 0,89 mm (p < 0,001), evidenciando a ampliação da faixa de gengiva ceratinizada. Outro achado relevante foi a modificação do fenótipo periodontal: antes do tratamento, 29 dos 38 dentes analisados apresentavam espessura gengival menor que 1 mm, indicando um fenótipo fino. Ao final de 6 meses, 35 dentes passaram a apresentar espessura gengival superior a 1 mm, demonstrando uma mudança fenotípica significativa (p < 0,001), com potenciais benefícios para a estabilidade tecidual em longo prazo.
A análise subjetiva dos resultados estéticos finais, realizada por avaliadores especializados utilizando a escala RES, revelou uma média de 9,05 ± 0,84 após 6 meses. Essa avaliação considerou cinco variáveis essenciais para a apreciação estética: posição da margem gengival, contorno do tecido marginal, textura do tecido mole, junção mucogengival e coloração gengival, refletindo a alta qualidade dos resultados estéticos alcançados.
Os resultados do questionário aplicado aos pacientes para avaliar a satisfação estética indicaram um alto nível de satisfação com o tratamento, com uma média de 9,28 ± 0,89 na EVA. Vale ressaltar que, entre os sete pacientes tratados, cinco atribuíram nota 10 (muito satisfeito), enquanto os outros dois deram notas entre 7 e 8 (satisfeito), reforçando a percepção positiva dos desfechos estéticos alcançados.
5 – DISCUSSÃO
As cirurgias plásticas periodontais são amplamente utilizadas para a cobertura radicular no tratamento de recessões gengivais. Na literatura, a estética dentária, a redução da sensibilidade dentinária e a prevenção de cáries e lesões cervicais não cariosas são apontadas como os principais motivos para sua realização (CHAMBRONE; TATAKIS, 2015).
Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente demanda dos pacientes por resultados estéticos mais satisfatórios. Além da recuperação da função e da diminuição da hipersensibilidade dentinária, busca-se uma total integração dos tecidos, de modo que a área tratada apresente aspecto e coloração semelhantes aos tecidos adjacentes. Dentro desse cenário, a técnica do túnel modificado avançado coronariamente passou a ser considerada uma abordagem eficaz para o tratamento de recessões gengivais múltiplas em regiões estéticas. Sua principal vantagem está na ausência de incisões relaxantes, o que contribui para uma cicatrização mais favorável e para a manutenção da vascularização local (DE SANCTIS; ZUCCHELLI, 2007; STEFANINI et al., 2018).
Embora o ETC seja amplamente reconhecido como o padrão-ouro para o tratamento de recessões gengivais (CHAMBRONE et al., 2008; MIRON et al., 2020; CAIRO et al., 2014), pesquisas recentes sugerem alternativas terapêuticas que incorporam biomateriais e/ou agentes bioativos, visando reduzir a morbidade pósoperatória e otimizar os resultados clínicos (MIRON et al., 2020). Entre essas alternativas, os agregados plaquetários têm se destacado por seu potencial de promover reparação e regeneração tecidual por meio da liberação de fatores de crescimento, sendo indicados em determinadas situações (MORASCHINI; BARBOZA, 2016).
A fibrina rica em plaquetas (PRF) é um concentrado sanguíneo que funciona como um reservatório de moléculas bioativas, conhecidas por favorecer a cicatrização de feridas e a regeneração tecidual (STRAUSS et al., 2020). Esse biomaterial atua como um sistema de liberação sustentada de fatores de crescimento, como o fator de crescimento transformador beta (TGF-β) e o colágeno tipo I, que estimulam a regeneração celular e promovem a sinalização molecular necessária para a reparação tecidual (MIRON et al., 2017). Além disso, estudos demonstram que a fibrina rica em plaquetas injetável (i-PRF) induz maior vascularização e quimiotaxia celular em comparação com outras formulações de PRF, o que pode otimizar os resultados clínicos em cirurgias periodontais (CHOUKROUN; GHANAATI, 2018; FUJIOKA-KOBAYASHI et al., 2020).
Neste estudo, todas as recessões gengivais abordadas foram classificadas como tipo 1 (RT1) ou tipo 2 (RT2). Suas características anatômicas incluíam uma faixa reduzida de gengiva ceratinizada, fenótipo periodontal fino, perda de inserção clínica e, em alguns casos, uma profundidade de vestíbulo rasa, o que inviabilizaria o uso isolado do retalho avançado coronário. Dessa forma, foi necessário utilizar o ETC, que foi associado ao i-PRF para otimizar a cicatrização e a vascularização do enxerto. O acompanhamento clínico pós-operatório teve duração de seis meses, período adequado para avaliar a estabilidade da margem gengival e os desfechos clínicos da técnica empregada (STEFANINI et al., 2018).
Os resultados obtidos mostraram uma porcentagem de recobrimento radicular de 85,5%, demonstrando a eficácia do protocolo adotado. Além disso, observou-se um ganho clínico de inserção, um aumento significativo na faixa de gengiva ceratinizada e uma mudança no fenótipo periodontal, indicando benefícios estruturais relevantes para a longevidade dos tecidos periodontais.
O desconforto pós-operatório, a dor e a estética são fatores determinantes para a aceitação e o sucesso da terapia cirúrgica pelos pacientes (BALČIŪNAITĖ; RUSILA; ZILINSKAS, 2020). Com base nesse contexto, a presente análise também contemplou a percepção subjetiva dos pacientes quanto à dor no pós-operatório e ao nível de satisfação com o tratamento realizado. Todos os sete indivíduos tratados relataram que suas expectativas foram alcançadas, sem queixas de dor na região receptora. Apenas dois pacientes mencionaram desconforto, localizado principalmente na área doadora palatina. A média de satisfação obtida por meio da EVA foi de 9,28 ± 1,25, evidenciando o impacto positivo da utilização do i-PRF como adjuvante no procedimento cirúrgico.
Considerando que o sistema RES dá maior peso à obtenção da cobertura radicular total — atribuindo 60% da pontuação à margem gengival —, os 40% restantes são distribuídos entre os critérios de contorno do tecido marginal, textura do tecido mole, junção mucogengival e coloração da gengiva. Com uma taxa de recobrimento radicular de 85,5%, a técnica do túnel modificado avançado coronariamente, associada ao ETC aglutinado em i-PRF, apresentou resultados clínicos e estéticos favoráveis, alcançando uma média de 9,05 ± 0,84 na escala RES.
Diversos fatores estão associados ao sucesso da terapia cirúrgica, incluindo a experiência do operador na escolha e execução da técnica, os cuidados pósoperatórios e os hábitos de higiene bucal dos pacientes. Assim, a associação entre técnicas consagradas e biomateriais inovadores pode representar uma abordagem promissora para melhorar os resultados em cirurgias plásticas periodontais.
6 – CONCLUSÃO
Dentro das limitações desta avaliação clínica longitudinal, observou-se uma melhora significativa em todos os parâmetros clínicos analisados, além de altos índices de satisfação estética relatados pelos pacientes ao longo de seis meses. Os resultados sugerem que a técnica do túnel modificado avançado coronariamente, associada ao ETC aglutinado em i-PRF, pode ser uma alternativa promissora para o tratamento de recessões gengivais dos tipos 1 e 2, tanto isoladas quanto múltiplas. Essa abordagem demonstrou benefícios como elevada taxa de recobrimento radicular, redução da hipersensibilidade dentinária, menor morbidade e dor pósoperatória, além de favorecer a cicatrização tecidual.
No entanto, para confirmar a estabilidade e a previsibilidade dos resultados a longo prazo, são indispensáveis estudos adicionais com amostras maiores e acompanhamento prolongado, além de ensaios clínicos controlados e randomizados que comparem diretamente a técnica de túnel com ETC, com e sem a associação do i-PRF.
REFERÊNCIAS
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