ANÁLISE DESCRITIVA DE PARÂMETROS REFERENTE A SAÚDE BUCAL DE IDOSOS.

DESCRIPTIVE ANALYSIS OF PARAMETERS REGARDING THE ORAL HEALTH OF THE ELDERLY.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12107871


Isabella Melo Claudino Moreira
Franklin Monteiro de Sousa
Telcilene Martins Feitosa Lopes
Carlos Alberto Mendes Soares Júnior
Quiarele da Silva Soares
Bruna Ramos da Costa
Bruna Valéria Rodrigues Cabral
Jonatha Matheus Mendes Moreira
Sandy Alves Silva
Joana Virgínia Pereira Machado


Resumo

É notório o crescimento a nível mundial de indivíduos mais longevos, acima dos 60 anos, é importante observar a especificidade nos processos de envelhecer das populações em seus mais diversos níveis sociais, a fim de organizar o funcionamento dos sistemas de saúde frente a essas demandas. Nesse contexto, deve-se entender a saúde bucal como um aspecto intrínseco à saúde geral. Objetivando analisar e descrever dados referentes a saúde bucal em idosos, buscando entender qual a realidade e principais necessidades desta população. Como instrumento de dados foi utilizado uma base de dados de acesso público, o ELSI- Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros no período de 2015 a 2016, onde foram entrevistados 9.142 idosos, sendo aqui realizado uma análise descritiva de alguns parâmetros presentes nos questionários aplicados pela equipe pesquisadora, questões voltadas para a saúde bucal de idosos. Quando questionados sobre o que achavam da saúde dos dentes e gengiva, maioria 4.806 (54,5%) referiram que estava na escala de “Boa”, sobre achar que estavam precisando de tratamento odontológico, 5.222 (55%) relataram que sim, quanto 4.144 (44%) disseram achar que não precisavam. Questionados quando tinha sido a última ida ao dentista, grande parte, 4.115 (43,7%) relataram que a 3 anos ou mais. Apesar da maioria dos entrevistados definir sua condição bucal como boa, observou-se que ainda relatam dificuldades advindas da condição dentária, como dificuldade para se alimentar e vergonha de sorrir.

Palavras-chave: Saúde bucal. Saúde do idoso. Qualidade de vida.

ABSTRACT

The worldwide increase in the number of longer-lived individuals, over 60 years of age, is notable. It is important to observe the specificity in the aging processes of populations at their most diverse social levels, in order to organize the functioning of health systems in response to these demands. In this context, oral health must be understood as an intrinsic aspect of general health. Aiming to analyze and describe data relating to oral health in the elderly, seeking to understand the reality and main needs of this population. As a data instrument, a publicly accessible database was used, the ELSI – Longitudinal Study of Brazilian Elderly Health in the period from 2015 to 2016, where 9,142 elderly people were interviewed, with a descriptive analysis of some parameters present in the questionnaires applied. by the research team, questions focused on the oral health of elderly people. When asked what they thought about the health of their teeth and gums, the majority 4,806 (54,5%) reported that it was on the “Good” scale, regarding thinking that they needed dental treatment, 5,222 (55%) reported yes, as did 4,144 (44%) said they thought they didn’t need it. When asked when the last visit to the dentist was, most of them, 4,115 (43.7%) reported that it was 3 years or more ago. Although the majority of interviewees defined their oral condition as good, it was observed that they still reported difficulties arising from their dental condition, such as difficulty eating and being embarrassed to smile.

Keywords: Oral health. Elderly health. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Atualmente estamos vivenciando uma fase de redefinição mais abrangente dos conceitos de promoção de saúde, bem como uma maior conscientização da importância da manutenção do equilíbrio estomatognático no decorrer das etapas da vida, evidenciando-se a inter-relação entre saúde bucal e saúde geral. De acordo com a Organização das Nações Unidas o envelhecimento da população é um fenômeno global e que afeta a sociedade em todos os níveis e exige profundas mudanças sociais (CARVALHO et al., 2016).

O processo de envelhecimento induz inúmeras alterações fisiológicas em todo o corpo humano, havendo uma maior prevalência de doenças crônico-degenerativas responsáveis pela crescente demanda nos serviços de saúde (SILVA e SAINTRAIN, 2006),

A saúde bucal em indivíduos longevos se revela um fator indispensável ao pleno envelhecimento, no entanto essa importância não é reconhecida, pois a situação bucal dos idosos ainda é caracterizada pelo edentulismo, aceito como um evento natural, alta prevalência de doença periodontal e cárie, perda da dimensão vertical de oclusão, necessidade de próteses e problemas decorrentes da utilização de próteses insatisfatórias (KOISTINEN et al., 2019; SANTOS et al., 2022).

As sequelas relacionadas às doenças bucais estão entre as cinquenta mais comuns observadas no estudo global Burden of Disease o edentulismo ocupa a 36ª posição, atingindo 2% da população mundial (ANDRADE et al., 2019). A explicação para este quadro não reside somente no processo de envelhecimento, mas em um conjunto de agravos que atingem os idosos de formas distintas durante a vida. Assim, deveriam ser valorizados os recursos básicos para orientação do idoso como higiene bucal regular dos dentes e próteses, controle da dieta e orientação e atuação preventiva envolvendo o uso do flúor (SIMÕES et al., 2011; OLIVEIRA et al. 2021).

Os inquéritos nacionais sobre condições de saúde bucal na população brasileira apontam para a intenção do Ministério da Saúde de utilizar estudos epidemiológicos como estratégia central no eixo de vigilância em saúde bucal (SANTOS et al, 2022).

Este estudo tem como objetivo descrever os principais problemas referentes à condição bucal de idosos, avaliar o grau de percepção dessa população quanto a sua situação bucal e necessidade de procura por atendimento odontológico, bem como analisar aspectos psicológicos relacionados à perda dentária na autoavaliação da saúde bucal. Desse modo, é oportuna a análise das estruturas bucais e das alterações morfológicas e funcionais decorrentes do envelhecimento, uma vez que o conhecimento da realidade da saúde bucal do idoso e de seus fatores determinantes visam contribuir para o estabelecimento de estratégias de saúde bucal e de um envelhecer com qualidade de vida.

2 METODOLOGIA

      É um estudo transversal baseado em dados da primeira onda do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), realizado entre 2015 e 2016. O ELSI-Brasil é uma coorte prospectiva, de base domiciliar, delineado para representar a população brasileira não institucionalizada com 50 anos ou mais. A amostra foi baseada em estratos de seleção considerando-se o município como unidade primária, seguido por setor censitário e domicílio. Contou-se com 9.142 idosos, residentes em 70 municípios das cinco regiões do país, sendo aqui realizado uma análise descritiva de alguns parâmetros presentes nos questionários aplicados pela equipe pesquisadora, questões voltadas para a saúde bucal de idosos (LIMA-COSTA et al., 2018).

    Os dados coletados pelo ELSI Brasil são disponibilizados publicamente para a comunidade científica e para qualquer pessoa interessada em acessá-los. As medidas avaliadas no ELSI Brasil que foram utilizadas neste estudo incluem como instrumentos: um questionário individual respondido pelo adulto selecionado para fornecer as informações de maneira mais profícua; um questionário domiciliar respondido por todos que residiam no domicílio com 50 anos ou mais. Todas as entrevistas foram realizadas nas casas dos participantes por entrevistadores previamente treinados de forma face-a-face. O questionário do estudo inclui as seguintes informações: estilo e qualidade de vida, dados sociodemográficos, acesso e utilização aos serviços de saúde.

   Foram consideradas algumas variáveis sobre as características sociodemográficas, sobre o histórico de vida e de saúde, comportamentos de saúde, aspectos gerais de saúde e condição de saúde bucal.

   Dados dos entrevistados foram coletados de uma planilha previamente preparada no programa Excel 2016 for Windows® e disponibilizada no site da pesquisa de acesso público (elsi.cpqrr.fiocruz.br). Foram utilizados os softwares SPSS versão 26.0 (IBM, Chicago, IL, USA), JASP 26.0 para as análises. Sendo realizada a estatística descritiva dos dados com o cálculo das medidas de frequência absoluta e percentual. 

3          RESULTADOS E DISCUSSÕES
         Foram entrevistados 9.142 idosos, sendo aqui realizado uma análise descritiva de alguns parâmetros presentes nos questionários aplicados pela equipe pesquisadora, questões voltadas para a saúde bucal de idosos.

Tabela 1– Análise dos parâmetros sociodemográficos e odontológicos.

Variáveis (%)
Sexo  
Masculino 46,3
Feminino 53,7
Faixa etária  
60 a 69 anos 56,7
70 a 79 anos 29,8
80 anos ou mais 13,5
Cor da pele auto reportada  
Branca 44,7
Pretos e Pardos 55,3
Anos de escolaridade  
0-3     32,8
4-7   8-11     12 ou mais 30,8 28,9 7,8
   
Tratamento Odontológico Preventivo 9,2
   Sim 90,8
   Não  
Dentição Funcional  
   
Sim 69,5
Não 30,5
Uso de Prótese Dentária  
  Sim   Não 62,0 38,0
   
Autopercepção da saúde bucal  
   
Bom 54,5
  Regular 27,8
Ruim 17,7
  Número de dentes  
  20 dentes ou mais 30,0
      10-19         17,0
1-9         23,3
Sem dentes  29,7
Condição dental impactam na alimentação  
   
Sim 33,3
Não 66,7
Condição dental impactam na estabilidade psicoemocional  
   
Sim   Não 20,0 80,0

          Quando questionados sobre o que achavam da saúde dos dentes e gengiva, maioria 4.806 (54,5%) referiram que estava na escala de “Boa”, sobre achar que estavam precisando de tratamento odontológico, 5.222 (55%) relataram que sim, quanto 4.144 (44%) disseram achar que não precisavam. Questionados quando tinha sido a última ida ao dentista, grande parte, 4.115 (43,7%) relataram que a 3 anos ou mais. O principal motivo da consulta para a maioria, 2.744 (29,1%) foi para realizar tratamento geral, seguido de exodontia, 2.674% (28,4%). 8.883 (94,3%) relataram não usar implante dentário, ao serem perguntados sobre ter tido dificuldade de comer por causa da saúde bucal, 6.098 (66.7%) disseram que não, e 7.314 (80,0%) não sentem vergonha de sorrir por causa dos dentes.

A população brasileira atualmente passa pela transição demográfica, onde o número de idosos cresce aceleradamente. Esse evento acontece num período de recursos escassos e grande desigualdade social. Há a necessidade de mais estudos que identifiquem as mudanças ocorridas nos processos de envelhecimento da população para o auxílio futuro de tomadas de decisão a respeito das políticas públicas (LIMA-COSTA et al., 2018).

Nesse sentido, desde o final da década de 80 o Brasil realiza levantamentos epidemiológicos sobre as condições de saúde bucal da população por meio de estudos de base populacional a nível nacional. Observou-se melhoria na maioria dos índices de saúde bucal do país, porém, o edentulismo parcial ou total dos idosos brasileiros se manteve estável (BRASIL, 2022).

Este estudo constatou que 29,7% dos idosos são edêntulos totais, valor superior ao recomendado pela Organização mundial de saúde para o ano de 2010, que é de 5% de edentulismo entre os idosos (SANTOS et al., 2022). Segundo o SB BRASIL 2003 e 2010 o Brasil possui número superior a 60% de idosos edêntulos contudo esse número está estabilizando.

Dessa forma, é necessário a implementação de mais políticas públicas de saúde bucal no país com o objetivo de aumentar o acesso da população idosa a serviços odontológicos e sobretudo a próteses dentárias (SB BRASIL, 2010). Corroborando com esse dado, nesta pesquisa, constatou-se que 62% dos edêntulos faziam uso de prótese dentária ante 38% que não faziam uso, este número bastante expressivo ainda.

Nos dados preliminares SB – BRASIL 2021 – 2022 há menor frequência do uso de próteses dentárias entre os idosos quando comparado ao levantamento anterior, no entanto, houve aumento da necessidade de prótese dentárias de ambos os maxilares de 15,3% para 29,2%.

Sabe-se que a saúde bucal da população idosa tem relação direta com subjetividades de cada indivíduo, condições socioeconômicas e especificidades dos serviços de saúde bucal utilizados. Dessa forma, compreende-se que a saúde bucal da população idosa atual foi resultado de políticas públicas ineficientes, com métodos de assistências iatrogênicos e mutiladores, além da priorização de grupos específicos (COLUSSI, 2023). Na amostra deste estudo, somente 7,4% dos entrevistados têm 12 anos ou mais de escolaridade e a maior parte (32,8%) possui de 0 a 3 anos de escolaridade.

Ainda, subjetividades como autopercepção da saúde bucal são um dos fatores que influenciam a procura do atendimento odontológico. Na amostra de idosos do ELSI-Brasil 54,5% tinha a autopercepção de saúde bucal como boa e 27,8% como regular, o que talvez justifique os dados sobre edentulismo uma vez que a maioria desses indivíduos só buscam atenção odontológica para atenção curativa ou dor, deixando em segundo plano as atividades de prevenção e manutenção de saúde bucal (CHAVES, 2016).

4 CONCLUSÃO

         Diante do exposto é possível concluir que este estudo apresenta a correlação entre a qualidade/estilo de vida, fatores socioeconômicos e demográficos, com a condição de saúde bucal desta população, observando que a saúde bucal prejudicada afeta diretamente na qualidade de vida destes.

         Apesar da maioria dos entrevistados definir sua condição bucal como boa, observou-se que ainda relatam dificuldades advindas da condição dentária, como dificuldade para se alimentar e vergonha de sorrir. Esta análise se faz importante para o desenvolvimento ativo de políticas públicas em saúde que estimulem o cuidado preventivo à saúde bucal, evitando assim a perda precoce dos dentes e prevenindo problemas bucais evitáveis. O estudo também destaca a importância do fator socioeconômico sobre os cuidados e acesso à saúde bucal.

REFERÊNCIAS

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KOISTINEN, S.; OLAI, L.; STAHLNACKE, K.; FALT. A.; EHRENBER, A. Oral health and oral care in short-term care: prevalence, related factors and coherence between older peoples’ and professionals’ assessments. Scand J Caring Sci. 2019; 33(3): 712-722. doi:10.1111/scs.12667

LIMA-COSTA, M.F. et al. The Brazilian Longitudinal Study of Aging (ELSI-Brazil): Objectives and Design. American Journal of Epidemiology, [s.l.], v. 187, n. 7, p. 1345–1353, 2018.

OLIVEIRA, L.F.S.; WANDERLEY, R.L.; ARAUJO, E.C.F; et al. Factors associated with oral health-related quality of life of institutionalized elders. Braz Oral Res. 2021; 35:e015. doi:10.1590/1807-3107bor-2021.vol35.0015

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