ANÁLISE DE UM PROJETO DE INTERVENÇÃO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE PLANEJAMENTO FAMILIAR EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE – MS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10572474


Welber Souza Vilela;
Orientadora: Prof.ª Esp. Stefani Carvalho dos Santos


RESUMO

O Planejamento familiar (PF) deve ser um elemento essencial na prevenção primária de saúde, auxiliando as pessoas que procuram tais serviços, oferecendo tais informações necessárias para a escolha e uso efetivo dos métodos anticoncepcionais que melhor se adaptem às condições atuais de saúde. Diante deste cenário, o presente trabalho tem como objetivo analisar a adesão ao (PF) em uma Unidade de Saúde da Família em Campo Grande – MS. Para tal, adotou-se uma abordagem qualitativa descritiva para examinar a adesão ao (PF) na Unidade de Saúde da Família Judson Tadeu Ribas, em Campo Grande – MS, ao longo de quatro anos (2020 a parte de 2023). Os dados foram obtidos dos registros de atendimentos dessa unidade, organizados em tabelas mensais para entender a procura por orientações sobre métodos contraceptivos. Concomitantemente, um projeto foi implantado para aprimorar o planejamento familiar, envolvendo novas abordagens, campanhas e estratégias para melhorar o acesso e compreensão dos métodos contraceptivos. Os resultados revelam um aumento progressivo na procura por esses serviços ao longo dos anos. Esse crescimento consistente sugere uma maior conscientização e interesse da comunidade em buscar orientações sobre saúde reprodutiva. Conclui-se que a implementação de estratégias e políticas de saúde específicas desempenhou um papel crucial nessa evolução, ressaltando a importância contínua dessas iniciativas para atender às demandas dinâmicas da população e garantir acesso a informações essenciais para tomada de decisões conscientes sobre a saúde sexual e reprodutiva.

Palavras chaves: Planejamento Familiar. Gravidez não planejada. Métodos Contraceptivos. Estratégia de Saúde da Família. Atenção Primária à Saúde.

ABSTRACT

Family Planning should be an essential element in primary health prevention, helping people seeking such services, offering such information necessary for the effective choice and use of contraceptive methods that best adapt to current health conditions. Against this background, the present work aims to analyze the adherence to family planning in a Family Health Unit in Campo Grande – MS. To this end, a descriptive qualitative approach was adopted to examine adherence to family planning in the Judson Tadeu Ribas Family Health Unit, in Campo Grande – MS, over four years (2020 part of 2023). The data were obtained from the service records of this unit, organized in monthly tables to understand the demand for guidance on contraceptive methods. Concomitantly, a project was implemented to improve family planning, involving new approaches, campaigns and strategies to improve access to and understanding of contraceptive methods. The results show a gradual increase in demand for these services over the years. This consistent growth suggests a greater awareness and interest of the community in seeking guidance on reproductive health. It is concluded that the implementation of specific health strategies and policies has played a crucial role in this evolution, underlining the continued importance of these initiatives to meet the dynamic demands of the population and ensure access to information essential for conscious decision making on sexual and reproductive health.

Keywords: Family Planning. Unplanned pregnancy. Contraceptive Methods. Family Health Strategy. Primary Health Care.

1 INTRODUÇÃO

Durante séculos, a preocupação com a anticoncepção tem sido uma constante na história da humanidade, levando civilizações antigas a explorarem diversos métodos para evitar a gravidez. Essa preocupação impulsionou a evolução desses métodos até os conhecidos atualmente. O (PF) começou a ser incorporado às políticas de saúde a partir dos anos 60, impulsionado pelo crescimento populacional, resultando em ações específicas dentro desse programa (SILVA, 2021). 

Durante a segunda metade dos anos 1970, com o processo de redemocratização, emergiram novos grupos sociais interessados no debate sobre o (PF). Entre eles, estavam os coletivos femininos engajados na defesa da saúde reprodutiva e do (PF). As feministas encontraram aliadas nos movimentos que discutiam a reforma do sistema de saúde e a criação de um Sistema Único de Saúde (SUS), visando garantir acesso equitativo e universal aos serviços médicos (MOURA et al., 2007). 

Entretanto, no início dos anos 1980, a intensificação das discussões em torno do controle populacional provocou uma reação de indignação entre os novos atores sociais, incluindo o movimento feminista. Nesse contexto, participantes da Reforma Sanitária impulsionaram a criação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), incorporando questões relacionadas à anticoncepção (MOURA et al., 2007). 

Desde então, o governo brasileiro tem adotado políticas e medidas para abordar questões de (PF), visando proporcionar à população o acesso a métodos preventivos. Reconhece-se que o (PF) desempenha um papel fundamental na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidezes indesejadas.  Profissionais de saúde desse campo utilizam métodos tanto individuais quanto coletivos para orientar aqueles que buscam assistência, fornecendo informações essenciais para a escolha do método anticoncepcional mais adequado. Essas orientações e métodos são disponibilizados pelos serviços de saúde na atenção básica, que representa o primeiro ponto de contato das pessoas com o sistema de saúde. Há consenso de que países que adotam os princípios da atenção básica obtêm os melhores resultados (SANCHES; SIMÃO-SILVA, 2016).

No Brasil, o (PF) e o (PAISM) são pilares essenciais das políticas de saúde pública. Juntos, abraçam os princípios fundamentais da integralidade e equidade no cuidado à mulher, abrangendo sua saúde ao longo de todas as fases da vida, sem se limitar a estereótipos ligados apenas à reprodução. O programa teve início como resposta à visão restrita de cuidados durante a gravidez e pós-parto, centrando-se em questões como gestações não planejadas, acesso a métodos contraceptivos e aborto, enquanto aspectos como autonomia e individualidade ficavam em segundo plano (MOZZAQUATRO, 2017). 

O (PF) vai além de métodos para concepção e contracepção; é um conjunto de práticas educativas em saúde que oferece orientação e escolha livre. Essa abordagem não só provê informações fundamentais para famílias e indivíduos, mas também promove autonomia e liberdade na gestão da própria fertilidade (MOZZAQUATRO, 2017). 

A Lei n°. 9.263, de 12 de janeiro de 1996, estabelece o (PF) como um compromisso do Estado, exigindo que os órgãos competentes compartilhem conhecimento para garantir que homens e mulheres estejam informados sobre métodos que influenciam a fecundidade. Esse avanço está integrado ao (PNAISM), com objetivos claros de reduzir a mortalidade materna e perinatal por causas evitáveis, além de promover a proteção dos direitos humanos das mulheres (LIMA, 2016). 

Destaca-se ainda que, o (PF) não apenas oferece orientação sobre os métodos contraceptivos disponíveis, mas também visa facilitar o acesso a eles. Conforme a Lei n°9.263, de 1996, trata-se também da prevenção e orientação em relação às doenças sexualmente transmissíveis e ao aborto, sendo fundamental para que casais leigos tenham acesso a melhores alternativas na escolha dos métodos. O desconhecimento acerca desses métodos é um dos problemas enfrentados pela população contemporânea, resultando em gravidezes indesejadas, como é o caso da gravidez precoce, que muitas vezes leva a abortos inseguros, colocando em risco a vida da mãe e da criança. Tais situações poderiam ser evitadas com o (PF) e o uso adequado de métodos contraceptivos (SILVA, 2021).

Apesar de ser lei, o (PF) enfrenta desafios em sua implementação efetiva em todo o país. O desconhecimento sobre contraceptivos, dificuldades por parte dos profissionais de saúde, pressões sociais e culturais, e características individuais de diferentes regiões municipais são obstáculos. Problemas como escassez de métodos contraceptivos, falta de engajamento das equipes de saúde e inadequações nos espaços físicos são comuns nessa política. Uma reorganização e um programa estruturado de atividades são necessários para obter melhores resultados na saúde sexual e reprodutiva dos usuários (LIMA, 2017). 

No âmbito do controle social, o Sistema Único de Saúde (SUS) começou a formular propostas de ação em nível federal, estadual e municipal a partir de julho de 2005. Em 2007, foi promulgada a Política Nacional de Planejamento Familiar, que disponibilizava oito métodos contraceptivos gratuitos, incluindo sua venda em farmácias populares, com preços reduzidos para os usuários do SUS. Desde então, várias iniciativas foram lançadas em diversas frentes, como no Programa de Saúde nas Escolas (PSE), que incorporou o (PF) como parte integrante do ensino para jovens em idade escolar (SCARPARO, 2015).

A laqueadura tubária, um dos métodos contraceptivos mais antigos e ainda amplamente utilizados, envolve o corte, colocação de um anel ou amarração das trompas de Falópio. Esse procedimento interrompe a comunicação entre o ovário e o útero, impedindo a fecundação e, consequentemente, a gravidez. Geralmente, a laqueadura é considerada irreversível, mas em alguns casos específicos, há uma pequena chance de gravidez após o procedimento (BRASIL, 2013). 

Existem duas formas principais de realizar a laqueadura: por meio de um corte na região abdominal, mais invasivo e comum nos serviços públicos, ou por laparoscopia, técnica menos invasiva que utiliza pequenas incisões na região abdominal para acessar as trompas. No entanto, como qualquer procedimento cirúrgico, a laqueadura apresenta riscos, como hemorragia, infecção ou lesões em órgãos internos, exigindo cuidados pós-operatórios, como repouso, atividades leves, cuidados com a ferida e abstenção de atividade íntima por um período determinado pelo médico (BRASIL, 2013). 

A esterilização feminina por meio da laqueadura deve ser realizada apenas com indicação médica, sendo um procedimento irreversível. Para sua autorização, é necessário um documento assinado por médicos e profissionais necessários, e o procedimento deve ser realizado em hospital por especialistas e sob anestesia, podendo requerer internação hospitalar. A equipe de (PF), composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de enfermagem e administrativos, desempenha um papel crucial não apenas na realização do procedimento cirúrgico, mas também na discussão de concepção e contracepção, oferecendo suporte para decisões conscientes das famílias e indivíduos (BRASIL, 2013). 

Existem critérios específicos para a realização da laqueadura, como a capacidade civil plena da mulher, idade mínima de 21 anos ou dois filhos nascidos vivos, risco à vida ou saúde da mulher ou do futuro feto, consentimento do cônjuge ou companheiro não se faz mais necessário, autorização judicial para incapazes, avaliação psicológica, pedido médico, e um prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o procedimento. O agendamento é realizado nas Unidades Básicas de Saúde, com encaminhamento para acompanhamento no Serviço de Atenção à Saúde Reprodutiva. O processo exige um trabalho multidisciplinar e integral, com o parecer final dependendo da autorização de toda a equipe (CAETANO, 2014).

A falta de planejamento e também a precocidade das gestações podem comprometer a trajetória social, educacional e econômica das famílias, frequentemente gerando um ciclo vicioso, onde baixos índices de desenvolvimento associam-se ao aumento inadvertido das famílias, que por sua vez, tende a agravar as condições socioeconômicas. Gestações não planejadas também estão associadas à depressão pós-parto, gravidez na adolescência (GA) e aumento da prática de aborto, mobilizando recursos consideráveis do estado (SANCHES, 2016).

De acordo com Sanches (2016) os direitos sexuais e reprodutivos devem ser entendidos como parte da garantia dos direitos humanos, conferindo ao casal a livre decisão de ter ou não filhos e em qual momento da vida. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida no ano de 1948, a comunidade internacional, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), vem firmando uma série de Convenções Internacionais nas quais são estabelecidos estatutos comuns de cooperação mútua e mecanismos de controle que garantam um elenco de direitos considerados básicos à vida digna. 

Desse modo, Ferreira et al., (2019) destacam que, para tentar minimizar a falta de planejamento e conhecimento sobre o tema, a orientação/educação sexual e de métodos contraceptivos faz-se necessária já que o estado brasileiro não permite legalmente à mulher o direito de interromper uma gestação em curso (aborto provocado). 

A abordagem educativa em saúde deve ser holística, permitindo que profissionais de saúde na atenção básica e pacientes construam significados e entendimentos a partir dos conhecimentos já existentes. Pesquisas reforçam que a responsabilidade pela ação educativa em saúde recai sobre a equipe de saúde, com um destaque especial para a equipe de enfermagem, e deve ser implementada em todos os níveis de cuidados médicos.

Portanto, visto que o (PF) é de extrema importância para a baixa das taxas de gestação indesejada e garantindo o direito reprodutivo do paciente, este estudo tem como objetivo analisar a adesão ao (PF) em uma Unidade de Saúde da Família em Campo Grande – MS.

2 MÉTODO

A presente pesquisa adota uma abordagem metodológica qualitativa e descritiva para investigar a dinâmica da adesão ao (PF) na Unidade de Saúde da Família Judson Tadeu Ribas, localizada em Campo Grande – MS, ao longo de um intervalo temporal de quatro anos, compreendendo o período de 2020 até novembro de 2023. 

Os dados analisados neste estudo foram obtidos a partir dos registros dos atendimentos relacionados ao (PF) na mencionada unidade de saúde. Estes registros foram meticulosamente organizados em tabelas mensais, fornecendo uma visão abrangente e cronológica da distribuição dos atendimentos por equipe de saúde. 

Pretende-se compreender a evolução e padrões de procura por orientações acerca de métodos contraceptivos ao longo do período em análise. Concomitantemente à investigação, foi executado um projeto específico destinado a aprimorar os serviços relacionados ao (PF) na unidade de saúde, tendo seu início registrado no ano de 2022. Esta iniciativa estratégica foi concebida com o propósito de aprimorar os serviços oferecidos nesse âmbito, potencialmente incorporando novas abordagens, campanhas de conscientização e outras estratégias de engajamento comunitário, visando facilitar o acesso e a compreensão dos métodos contraceptivos disponíveis. 

A análise dos registros coletados foi conduzida de maneira minuciosa, realizando uma comparação ano a ano das variações nos atendimentos por equipe de saúde. Este procedimento revelou discrepâncias nos volumes de atendimento entre as diferentes equipes, possibilitando a identificação de padrões de demanda e, possivelmente, a influência do projeto implementado nos níveis de adesão ao (PF) durante o período de estudo. No decorrer da análise, foram identificados padrões de comportamento e demanda distintos entre as equipes, fornecendo subsídios essenciais para o reconhecimento de estratégias de engajamento comunitário associadas ao (PF). 

Dessa forma, foi possível a identificação de áreas específicas com maior adesão aos serviços de (PF), bem como áreas que poderiam se beneficiar de estratégias adicionais visando aprimorar a adesão. Por fim, a avaliação realizada buscou determinar o impacto efetivo do projeto implementado na adesão ao (PF) ao longo do período de quatro anos estudados. 

Esta avaliação envolveu não apenas a análise das variações nos volumes de atendimento, mas também a investigação das possíveis correlações entre as estratégias implementadas e os padrões de adesão observados. Assim, foi possível obter uma visão abrangente da eficácia do projeto na comunidade atendida pela referida unidade de saúde.

3 RESULTADOS 

O território da unidade é dividido em seis equipes, sendo três compostas exclusivamente por profissionais da SESAU (Barueri, Jaques e Mandacaru) e outras três compostas por profissionais da SESAU/Fiocruz (Poeta, Maria de Oliveira e Ipê), ou seja, equipes formadas por residentes. Cada equipe é composta por dois médicos, dois enfermeiros, um técnico de enfermagem, um dentista, um assistente de dentista e cinco agentes comunitários de saúde. É importante ressaltar que a farmácia é uma exceção, uma vez que seus profissionais não se limitam a uma única equipe, caracterizando-se literalmente como “profissionais de todo o território”. 

Nesse contexto, ao analisar os dados coletados, a Tabela 1 apresenta a distribuição mensal de atendimentos relacionados ao (PF) por equipe ao longo de 2020 na Unidade de Saúde da Família Judson Tadeu Ribas. Durante esse período, a Equipe Barueri se destacou, registrando o maior número de consultas, com um total de oito ao longo do ano e um pico notável de seis atendimentos em novembro. Essa tendência sugere uma demanda concentrada em determinados meses, indicando a possibilidade de eventos sazonais ou campanhas que podem ter influenciado essa variação.

Já a Equipe Mandacaru registrou um total de 4 atendimentos, distribuídos de forma mais equilibrada ao longo do ano, com 2 consultas em outubro e outras 2 em novembro. Esse padrão pode indicar uma consistência na procura por orientações sobre (PF) nessa equipe durante o final do ano. Por outro lado, equipes como Ipê, Maria Oliveira e aquelas não especificadas (Sem Equipe) demonstraram uma procura bastante limitada ou esporádica ao longo do ano. A Equipe Ipê, por exemplo, registrou 2 atendimentos exclusivamente em agosto, enquanto a Equipe Maria Oliveira teve 2 atendimentos distribuídos entre janeiro e novembro, com um caso em janeiro e outro em novembro. Quanto ao denominado Sem Equipe, registrou-se apenas 1 atendimento em novembro.

Essa análise mensal evidencia discrepâncias na distribuição da procura por orientações sobre (PF) entre as equipes, destacando a necessidade de avaliar os fatores que podem influenciar essas variações, como estratégias de conscientização, sazonalidade, comunicação ou mesmo a disponibilidade dos serviços em diferentes períodos. Essa compreensão mais detalhada pode orientar a implementação de estratégias mais eficazes para garantir uma distribuição mais equitativa e consistente dos serviços de (PF) ao longo do ano.

A análise dos dados de 2021 referentes à distribuição mensal de atendimentos sobre (PF) por equipe na Unidade de Saúde da Família Judson Tadeu Ribas revela padrões distintos de procura por serviços contraceptivos ao longo do ano. A Equipe Barueri manteve uma presença consistente com 18 consultas ao longo do ano, destacando-se como a equipe mais procurada nesse aspecto. 

Contudo, é notável que houve uma variação considerável nos números de atendimentos entre os meses, indicando possíveis flutuações sazonais ou eventos específicos que influenciaram a procura por orientações sobre planejamento familiar. Outras equipes, como Ipê, Jacques e Maria Oliveira, apresentaram números mais baixos, com procura limitada ou flutuante ao longo do ano, demonstrando a necessidade de implementação de estratégias para aumentar a procura.

A Equipe Mandacaru se destacou com um total de 19 atendimentos, mas sua distribuição foi irregular, apresentando um declínio significativo nos últimos meses do ano. Esses padrões sugerem a necessidade de uma análise mais detalhada para compreender as razões por trás dessas variações e identificar estratégias mais eficazes para manter uma procura consistente por serviços de (PF) em todas as equipes. Embora os dados mostrem indícios de comportamentos diferenciados de procura por serviços contraceptivos ao longo de 2021, não é possível, somente com essas informações, estabelecer uma relação direta entre esses padrões e o impacto do projeto implementado. 

A variação nos números de atendimentos sugere a presença de múltiplos fatores influenciadores, como sazonalidade, conscientização, acessibilidade e possíveis mudanças nas políticas de saúde. É essencial conduzir uma análise mais aprofundada para determinar a contribuição específica do projeto na procura por orientações sobre (PF) ao longo desse período e identificar oportunidades para aprimorar as estratégias de engajamento comunitário e a distribuição equitativa desses serviços.

Após analisar o período e 2020 e 2021, parte-se para o ano em que foi implementado um projeto de intervenção em educação em saúde sobre o (PF), qual seja, ano de 2022. Conforme expõe a tabela 3, a Equipe Barueri, que historicamente liderou os atendimentos, manteve uma procura constante, com um total de 19 consultas ao longo do ano, mostrando uma relativa estabilidade em comparação com anos anteriores. Porém, o número de atendimentos dessa equipe teve um aumento notável em meses específicos, como maio e junho, sinalizando possíveis períodos de maior demanda. 

A Equipe Poeta emergiu com o maior número de atendimentos, totalizando 99 consultas ao longo do ano. Essa equipe demonstrou um padrão de procura significativamente alto em alguns meses, particularmente em agosto e setembro, indicando um aumento expressivo na demanda por serviços de planejamento familiar. Essa ascensão abrupta pode apontar para a implementação bem-sucedida de estratégias específicas ou campanhas de conscientização nesse período. 

Além disso, quanto a denominação Sem Equipe também chamou atenção, registrando 37 atendimentos ao longo do ano, com um aumento notável a partir de setembro. Esses números revelam uma procura considerável por serviços de (PF) nessa categoria, destacando a importância de considerar estratégias específicas para atender essa demanda não alocada a uma equipe específica. 

A análise dos dados referentes ao ano de 2022 aponta para mudanças significativas na distribuição de atendimentos por equipe em comparação aos anos anteriores. Essa variação nos números de atendimentos destaca a importância da implementação de programas e oferta de serviços de (PF), considerando as mudanças nas demandas da comunidade e implementando estratégias eficazes para atender às necessidades em constante evolução.

Quanto ano de 2023, vê-se que a Equipe Barueri manteve uma presença constante com 21 consultas ao longo do período analisado, indicando uma demanda estável por orientações sobre planejamento familiar. Contudo, observa-se uma diminuição nos atendimentos nos meses de maio e julho, o que pode ser objeto de uma análise mais aprofundada para identificar possíveis fatores influenciadores. 

A Equipe Poeta emerge novamente como a equipe com o maior número de atendimentos, totalizando expressivos 306 ao longo de 2023. Essa equipe demonstrou um padrão consistente de alta procura por serviços de planejamento familiar, evidenciando a necessidade de estratégias eficazes para atender a uma demanda tão expressiva. Os números apresentam picos notáveis em meses específicos, como março e agosto, sugerindo possíveis eventos sazonais ou campanhas que podem ter influenciado essa procura elevada. 

Destaca-se também a denominação Sem Equipe, que registrou 110 atendimentos, apresentando um aumento significativo em setembro. Essa variação expressiva ressalta a importância de abordagens inclusivas e estratégias específicas para atender à procura por serviços de (PF) entre aqueles que não estão atribuídos a uma equipe específica. 

A análise desses dados de 2023 revela mudanças dinâmicas na distribuição de atendimentos por equipe, que pode ter sido impactada pelo programa implementado na unidade, enfatizando a importância de uma abordagem adaptável para atender às necessidades da comunidade.

4 DISCUSSÃO

Primeiramente, é importante destacar que atualmente, a assistência ao (PF) no país é predominantemente fornecida pelas equipes do Programa Saúde da Família, cuja implementação teve início em 1994. O (PSF) é executado por uma equipe multiprofissional, visando estabelecer vínculos entre os profissionais e a comunidade, além de valorizar e incentivar a participação comunitária. Apesar disso, a assistência ao (PF) tem enfrentado descontinuidades ao longo dos anos, negligenciando um aspecto fundamental: a promoção da saúde sexual e reprodutiva de homens, mulheres e/ou casais, considerando fatores culturais e socioeconômicos (AVILA; CORREA, 1999). 

No entanto, a oferta limitada e irregular de uma variedade de métodos anticoncepcionais (MAC) evidencia uma lacuna entre o que é proposto como política e o que de fato ocorre na prática (MOURA; SILVA, 2012). As ações do PSF devem estar alinhadas a medidas educativas, pois tais ações possibilitam mudanças de comportamento e atitudes. Conforme a definição de educação por Brandão, citado por Gadott, esta é um processo complexo e abrangente de humanização que ocorre ao longo da vida, em diversos contextos como casa, rua, trabalho, igreja, escola, entre outros. A educação está intrinsicamente ligada à aquisição, articulação e criação de conhecimento popular e científico (GADOTTI, 1990). 

Dessa forma, compreende-se que saúde e educação são inseparáveis e interdependentes. Para obter educação, é necessário ter saúde, e, simultaneamente, a saúde só é alcançável com uma boa educação (ARTEAGA et al., 2012). A escolha do método contraceptivo deve ser personalizada, considerando fatores como idade, número de filhos, compreensão e tolerância ao método, desejo de procriação futura e presença de doenças crônicas que possam ser agravadas pelo uso de determinado método. 

É crucial estar ciente das limitações de cada método, permitindo assim que as pessoas façam escolhas informadas. Na orientação sobre métodos anticoncepcionais, destaca-se a necessidade da dupla proteção (contracepção e prevenção de DSTs e HIV/AIDS), enfatizando a importância dos métodos de barreira, como preservativos masculinos ou femininos. Um ponto fundamental para a efetividade das ações de (PF) é o acesso à informação, capacitando os indivíduos a fazer escolhas conscientes com base em sua realidade, promovendo o desenvolvimento da autonomia e melhorando suas condições de vida e saúde (OSIS, 2012).

 Do ponto de vista da saúde coletiva, o conhecimento do padrão de consumo dos métodos contraceptivos e das características dos usuários na unidade de atenção básica à saúde pode orientar políticas públicas quanto à adequação da utilização e disponibilidade dos meios para a população. Portanto, pode proporcionar um direcionamento mais eficaz para futuras intervenções nos programas de (PF) e contribuir para a literatura por meio de novos dados (OSIS, 2012).

O estudo revela uma tendência de aumento nos totais gerais de atendimentos relacionados ao (PF) ao longo dos anos investigados. Em 2020, o número de atendimentos foi de 17, e, já no ano subsequente, em 2021, houve um notável incremento para 62 atendimentos, indicando um crescimento significativo na procura por orientações sobre (PF) na unidade de saúde. Este aumento progressivo se intensificou nos anos posteriores, destacando-se o ano de 2022, que registrou um total de 200 atendimentos, mais que o triplo do ano anterior. 

Este significativo aumento sugere um interesse crescente da comunidade nos serviços relacionados ao (PF) oferecidos pela unidade de saúde. O ápice dessa evolução foi observado em 2023, com um total de 500 atendimentos, mais que o dobro do registrado no ano anterior. Essa expressiva elevação nos números de atendimentos ao longo dos anos é indicativo claro de uma evolução notável na procura por serviços de (PF) na unidade de saúde. 

A interpretação desses resultados sugere uma crescente conscientização da comunidade sobre a importância do planejamento familiar, possível resposta às estratégias implementadas, melhorias na acessibilidade aos serviços ou mudanças na dinâmica social local. Essa evolução consistente nos totais gerais de atendimentos ao longo dos anos aponta para um cenário de melhoria significativa na procura por serviços de (PF) na unidade de saúde. 

O crescimento exponencial nos números de atendimentos reflete uma mudança positiva na adesão da comunidade aos serviços oferecidos nessa área específica da saúde. A análise destes dados sugere um impacto substancial das estratégias implementadas ou de outras dinâmicas que promoveram uma maior conscientização e acesso aos serviços de planejamento familiar. Este aumento progressivo destaca a importância do papel da unidade de saúde na promoção da saúde reprodutiva e no atendimento às necessidades da comunidade. Todavia, deve-se considerar as limitações deste estudo. A falta de análise qualitativa pode limitar a compreensão mais profunda dos motivos por trás do aumento nos atendimentos. 

Além disso, fatores externos, como mudanças na legislação ou campanhas de conscientização, podem ter influenciado os resultados. Apesar dessas limitações, a contribuição significativa do estudo reside na identificação da evolução positiva na procura por serviços de planejamento familiar, indicando a eficácia das estratégias implementadas pela unidade de saúde. Este estudo ressalta a importância contínua de monitorar e adaptar essas abordagens para promover uma saúde reprodutiva abrangente na comunidade, destacando a relevância e aplicabilidade dos resultados obtidos. 

CONCLUSÃO 

A análise minuciosa dos dados ao longo dos anos evidencia uma trajetória notável na procura por serviços de (PF) na Unidade de Saúde da Família Judson Tadeu Ribas. Em 2020, o número inicial de 17 atendimentos já sinalizava a relevância desses serviços. Contudo, ao longo dos anos subsequentes, houve um crescimento exponencial e consistente nessa procura. O salto para 62 atendimentos em 2021, seguido por 200 em 2022 e um ápice expressivo de 500 atendimentos em 2023, reflete uma crescente conscientização e interesse da comunidade nesses serviços. 

Essa evolução significativa aponta para um cenário de melhoria na adesão da comunidade ao (PF). É possível inferir que a implementação de estratégias, possíveis campanhas de conscientização ou melhorias na acessibilidade aos serviços contribuíram para essa notável mudança. O aumento progressivo nos atendimentos também sugere um impacto positivo das políticas de saúde e das ações educativas realizadas, promovendo uma maior consciência sobre a importância do (PF). 

Ainda que se destaquem equipes como Poeta, Barueri e mesmo a denominação Sem Equipe por suas altas demandas, é essencial observar as variações e identificar as razões por trás desses padrões. A análise detalhada das flutuações mensais entre as equipes ao longo dos anos aponta para a necessidade de compreender os fatores que influenciam essas variações. 

Isso pode direcionar a implementação de estratégias mais eficazes para garantir uma distribuição equitativa e consistente dos serviços de (PF) ao longo do ano. Em suma, o aumento constante na procura por serviços de (PF) ao longo dos anos demonstra não apenas um aumento na conscientização, mas também uma mudança positiva na adesão da comunidade a esses serviços essenciais de saúde. Esse cenário ressalta a importância contínua de programas educativos, estratégias adaptativas e políticas de saúde para atender às necessidades em constante evolução da população.

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ANEXO 1 – DOCUMENTO DE APROVAÇÃO CGES/SESAU

ANEXO 2 – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA EM SERES HUMANOS 

ANEXO 3 – NORMAS PARA FORMATAÇÃO CONFORME PERIÓDICO DE PUBLICAÇÃO DEFINIDO COM O ORIENTADOR