ANÁLISE DE TENDÊNCIA TEMPORAL E EPIDEMIOLÓGICA DA SÍFILIS ADQUIRIDA NO BRASIL EM UM DOS MAIORES BANCOS DE DADOS DE SAÚDE PÚBLICA DO PAÍS, O SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO NOS ANOS DE 2011 A 2021

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10157944


Thiago Augusto Ferreira dos Anjos1 ; Ana Paula Ferreira David2 ; Aline Moraes Monteiro3; Larissa Mota da Costa4; Karla de Souza Madeira5; Ruth Stephany Costa Silva6; Letícia Neves Amaral de Oliveira7; Marcos Jessé Abrahão Silva8,*, Karla Valéria Batista Lima8, Luana Nepomuceno Gondim Costa Lima9


Resumo

Introdução: A Sífilis Adquirida é um problema de saúde pública, acometendo uma grande parcela da população, onde se não for detectada precocemente, sua progressão pode causar sérios problemas e manifestações clínicas, os levantamentos de dados epidemiológicos acerca da infecção são essenciais para mostrar a prevalência, notificação e grupo mais atingido. Objetivo: Este estudo buscou realizar uma análise de tendência temporal e epidemiológica da Sífilis adquirida no Brasil no período de 2011 a 2022. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico de série temporal, transversal, observacional, retrospectivo e de caráter analítico, quantitativo e descritivo-exploratório, a partir de dados públicos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Resultados:  Foi observado um aumento de notificações nos anos de 2018, seguido de 2019, 2020, 2017, 2016, 2015 e 2021, a região do Brasil com a maior notificação foi a região Sudeste com 470.193 total de casos a menor na região Norte em 50.755 casos. referente a variável sexo o público masculino obteve a maior notificação com um total de casos 547.637, referente a raça a predominância de casos ficou com a branca em 337.037, seguida da parda com 324.043, ignorados brancos em terceiro lugar em 144.697, referente as Unidades federais de notificação, a região Sudeste ficou com o maior percentual em 52%, seguida da Sul com 22%, em terceiro lugar o nordeste com 13%, no que confere a faixa etária, a idade com maiores notificações de Sífilis adquirida ficou com 20-39 anos em 517.531 casos, seguida da 40-59 anos em 218.162, acompanhada da 15-19 em 88.342 total de casos, na variável escolaridade, os casos ignorados e em brancos ficaram em primeiro lugar com uma notificação de 332.258, seguida de ensino médio completo em 166.589, posteriormente acompanhada da 5 a 8 série incompleta fundamental com 102.912. Conclusão: Entre os anos 2012 e 2022 foram constatados que em todas as regiões as taxas aumentaram até 2018, estável em 2019 e declinando em 2020 e 2021. A maioria dos diagnósticos foram do sexo masculino, maior prevalência se deu em indivíduos com ensino médio completo, com maior número de casos de 20 a 39 anos.

Palavras-chave: Epidemiologia; Saúde pública; Sífilis; Indicadores; Infecções por treponema

1. INTRODUÇÃO

A sífilis é considerada um problema de saúde pública, conhecida há mais de 500 anos, causada pelo Treponema pallidum, uma espiroqueta descoberta em 1905, no qual, a principal via de transmissão é a sexual, na forma adquirida [1]. É uma infecção sistêmica, que atinge apenas o ser humano, podendo evoluir para cronicidade caso não tratada de forma precoce, e provocar sequelas irreversíveis em longo prazo ao paciente [2].

A sífilis adquirida é uma doença com evolução lenta, que sem tratamento alterna em períodos sintomáticos e assintomáticos com características distintas, e divide-se em três fases: sífilis primária, secundária e terciária. Sem tratamento, após a sífilis secundária possui a fase de latência, podendo ser recente, até o primeiro ano de infecção e tardia com mais de um ano de infecção. A infecção pela espiroqueta não confere imunidade permanente, podendo gerar infecção quantas vezes for adquirida [3].

A transmissão da sífilis adquirida ocorre pela penetração das espiroquetas em mucosas ou por solução de continuidade da pele, sendo maior nos estágios iniciais da doença, e diminui com o tempo. Este fato, é devido ao elevado número de treponemas nas lesões da sífilis primária (cancro duro) e secundária (lesões muco-cutâneas). A partir do segundo ano, na sífilis latente tardia e terciária as lesões são raras ou inexistentes, diminuindo a transmissão [4].

O diagnóstico é realizado por testes imunológicos treponêmicos, de análise qualitativa, que buscam o anticorpo específico do Treponema pallidum, utilizado como primeiro teste ou teste complementar, através principalmente dos testes rápidos, porém, existem outros como os testes de hemaglutinação, ensaios imunoenzimáticos e teste de imunofluorescência indireta. Além destes, têm-se os testes não treponêmicos, que detectam anticorpos não específicos do Treponema pallidum, de análise qualitativa e quantitativa, utilizado para monitoramento e controle de cura e o resultado é por meio de titulação [4].

O tratamento da sífilis é realizado com penicilina benzatina para a maioria das infecções, a penicilina aquosa para a neurossifilis e sífilis ocular. Na sífilis primária, secundária e latente precoce se utiliza a penicilina G benzatina, dose única, intramuscular, 2,4 UI e 3 doses na sífilis terciária e latente tardia com intervalos de uma semana. E para neurossífilis, sífilis ótica ou ocular recomenda-se Penicilina cristalina endovenosa a cada quatro horas [5].

O índice elevado de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), é um fator preocupante em todo o mundo, e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a incidência de sífilis a cada ano no mundo é 11 milhões de casos, entre adultos com idade de 15 a 49 anos [6]. Em 2018, os EUA, apresentou o maior número de casos de sífilis notificados desde 1991, visto que 2017 obteve 101.584 casos e 2018 115.045 casos, tendo aumento de 13,3% entre os anos [7].

No Brasil, entre os anos de 2010 e 2020, 783.544 casos foram notificados de sífilis adquirida, com um aumento crescente entre 2010 e 2018, com respectivamente 3.925 casos e 158.966 casos, com uma pequena redução em 2019 que obteve 152.966 casos e havendo uma diminuição acentuada em 2020 com notificação de 49.154 casos.  Nas regiões geográficas do Brasil, em 2011, o Sudeste obteve a maior taxa de detecção das regiões com 13.210 casos por 100.000 habitantes, e permanecendo em 2020, porém com 24.255 casos [7].

Dessa forma, este estudo tem como objetivo realizar a análise de tendência temporal e epidemiológica da sífilis adquirida no Brasil no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, descrever o perfil epidemiológico e verificar quais variáveis foram as mais afetadas nos anos de 2011-2021

2. MÉTODOS

2.1 Tipo de estudo

Estudo ecológico de série temporal, transversal, observacional, retrospectivo e de caráter analítico, quantitativo e descritivo-exploratório, onde foram coletados dados de domínio público no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados no endereço eletrônico (http://tabnet.datasus.gov.br) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

2.2 População do estudo

A população de estudo foram todos os casos notificados de Sífilis Adquirida no Brasil, disponibilizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).  A coleta de dados foi realizada nos dias 05 de agosto a 03 de setembro de 2023.

2.4 Tabulação e variáveis do estudo

Foram utilizadas as variáveis ano de notificação, raça, sexo, evolução, critério, região de notificação, classificação, unidade federal de notificação, faixa etária e escolaridade.

2.5 Fórmula da taxa de detecção

Visando elucidar a proporção dos casos de Sífilis Adquirida foi realizado o cálculo de detecção e de prevalência, usando a seguinte fórmula:

Taxa de prevalência= Números total existente/ Tamanho da população x 100

2.6 Critérios de inclusão e exclusão

Como critérios de inclusão foram incluídos todos os casos confirmados de Sífilis Adquirida no Brasil no período de 2011 a 2021. Nos critérios de exclusão, foram retiradas informações incompletas e fora do período analisado no estudo.

2.7 Comitê de ética

Devido à natureza do estudo, não houve pesquisas e manipulação com seres humanos, pois os dados são públicos, disponibilizados em um dos maiores bancos de dados em saúde do Brasil, o SINAN, sendo o estudo amparado pela resolução 510 de 2016 [8].

3. RESULTADOS

Na série histórica, foi usada a variável região de notificação, a qual permitiu observar o panorama e os anos com as maiores notificações:2018, seguido de 2019, nos anos de 2011 a 2014 as notificações foram bem menores em relação aos demais anos. Referente às regiões do Brasil nos anos de estudo, a região Sudeste apresentou as maiores notificações de Sífilis adquirida com um total de casos de 470.193, acompanhado da região Sul com 203.794 (Tabela 1). Em relação a taxa de detecção, por 100.000 mil habitantes e de prevalência, a detecção na Região Norte foi de 275,37 e prevalência em 0,27% (50.755), na região Nordeste em 212,52 e 0,21% (121.293), Sudeste com 554,16 e 0,55% (470.193), Sul apresentando 679,85 e 0,67% (203.794) e Centro-Oeste em 384,45 e 0,38% (62.620). A taxa de prevalência por ano, mostrou-se expressiva em toda a tendência temporal, onde em 2011 foi de 1,80% (16.405), 2012 com 2,92% (26.621); 2013 apresentando 4,21% (38.298); 2014 em 5,38% (48.903); 2015 com 7,49% (68.069); em 2016, 10% (89.944); em 2017, 13,28% (120.747); 2018 com 17,53% (159.329); em 2019, 17,39% (158.024); em 2020, 12,99% (118.024); em 2021, 7,01% (64.279).

Tabela 1: Série histórica da Sífilis Adquirida no Brasil nos anos de 2011 a 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net

Na variável sexo, a população masculina foi a mais afetada com um total de 547.637 mil casos e uma prevalência de 60,28%, já o público feminino apresentou 360.399 casos e 39,66%, os casos em branco representaram 619 com 0,06%. Tanto no público masculino como no feminino, a região com a maior notificação de casos foi a região Sudeste, o sexo masculino apresentando 293.939 (54%), e o feminino 176.005 (49%). Em relação a variável raça, a branca foi a mais atingida com um total de 337.037 a prevalência em 37,09%, seguida da parda 324.043 e 35,66%, posteriormente os casos ignorados em branco em 144.697 e 15,94%; preta em 90.569 e 9,97%%, amarela com 7.509 e 0,82%, indígena com 4.800 e 0,52%, a análise de dados por sexo/região e raça/ano, segue na tabela 2 (Tabela 2).

Tabela 2 – Representação quantitativa e percentual de Sexo e Raça nos anos de 2011 a 2021.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net

Posteriormente na análise quantitativa do público masculino e feminino, a variação de dados foi expressiva, onde o primeiro quartil (quantidade mínima) do público masculino foi de 20.000 unidades de acordo com o valor da unidade Y, na variável feminina apresentou 16.250, a mediana ou segundo quartil foi superior ao público feminino com 178.750, o feminino com 115.000, no que tange ao terceiro quartil(quantidade máxima) a unidade ficou em 381.250, na análise feminina ficou em 246.250(Gráfico 1).

Gráfico 1 – Mostrando a os quartis inferiores, mediana e quartil superior no público masculino e feminino

Fonte: Anjos et al; 2023

Referente a variável evolução da doença, os casos ignorados-branco (ign-branco) ficaram em primeiro lugar com 33.225 total de casos a prevalência de 51,70%, seguidos de casos de cura em 30.931 e 48,12%, 102 casos de óbito por outra causa, com prevalência em 0,15% e 21 óbitos por agravo notificado e 0,03%. Nos casos por critério as notificações e prevalência foram significativas, a variável laboratório teve a maior notificação com 596.651 e prevalência em 65,67%, seguidos dos casos ign-branco com 243.097 e 26,75% e em terceiro lugar ficando o clínico epidemiológico com 68.907 total de casos, 7,58%. Na classificação por ano de notificação, 667.583 total de casos ficaram na variável confirmado, com a prevalência apresentando 73,46%, acompanhados por 203.312 casos inconclusivos, 22,37%, posteriormente ignorados/brancos em 29.351, prevalência de 3,25% e descartado com 8.409 e 0,92%, dados quantitativos referente as variáveis, segue abaixo (Tabela 3).

Tabela 3 – Evolução da doença, Critério e Classificação por ano.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net

*Ign-Branco: ignorados e ou em branco.

Na variável unidade federal de notificação, a notificação de total de casos, porcentagem representada entre parênteses, e a taxa de prevalência, foram significativos. Na região Norte, o Amazonas vem em primeiro lugar com 18.680 (37%) com uma prevalência de 2,05%, em seguida o Pará apresentando 13.020 (26%) com uma taxa de 1,44%, acompanhado do Tocantins com 6.753 total de casos, prevalência de 0,74%. Na região nordeste, a Bahia apresentou o maior total de casos com 35.559 (30%) com um registro predomínio de 3,92%, seguido de Pernambuco 31.277 (26%) e 3,44% e em seguida o Ceará com 14.985 (12%) com 1,64%.  No Sudeste, São Paulo ficou em primeiro com 275.573 (59%) e 30,33%, seguido do Rio de Janeiro apresentando 84.971 (18%) taxa de prevalência de 9,35% e Minas Gerais tendo 79.055 (17%) e 8,70%, já na região Sul as três maiores notificações foram no Rio Grande do sul com 94.259 (46%) e 10,37%, Santa Catarina 56.395 (28%) e predomínio de 6,20% e Paraná com 53.140 (26%) e 5,85%. Por fim na região centro-oeste, Goiás teve 22.509 (36%) com 2,47%, Mato Grosso do Sul 19.954 (32%) prevalência de 2,20%, seguido do Distrito Federal tendo 11.611 (18%), 1,27% e por fim Mato Grosso apresentando 8.546 (14%) e 0,95% (Tabela 4).

Tabela 4 – Total de casos por Unidade Federal de Notificação

Em relação a variável faixa etária as maiores notificações e prevalência ocorreram nas faixas etárias de 20-39 com 517.531 total de casos com uma prevalência de 56,95%, seguido de 40-59 apresentando 218.162, taxa de 24,00%. Referente à variável escolaridade, a maioria foram ignorados-brancos com 332.259 e prevalência de 36,56%, seguido do ensino médio completo em 166.589, taxa de 18,33%; 5*a 8* série incompleta do ensino fundamental com 102.912, predomínio da prevalência em 11,32%.  No ano de 2018, o qual teve a maior notificação de casos, a maioria (retirando os ign-branco) tinha Ensino Médio completo (28.510), seguido da 5* a 8* série incompleta do Ensino Fundamental (18.186) (Tabela 5).

Tabela 5: Faixa etária/idade e escolaridade/Níveis escolares, nos anos de 2011 a 2021

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net

*Ign-Branco: ignorados e ou em branco.

4. DISCUSSÃO

A Sífilis adquirida é considerada um grave problema de saúde pública, devido à sua alta prevalência [9]. Se não for detectada e tratada de forma precoce, pode progredir para estágios mais graves. Na maioria dos casos, a pessoa não sabe que está doente, por ser uma doença que se apresenta de forma silenciosa, contribuindo assim para manter a cadeia de transmissão [10]. O controle da doença se dá através da interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção de novos casos [11].

No que se refere aos dados estudados, constatou-se que nos anos de 2011 a 2021, o Brasil registrou 908.655 casos, sendo a região sudeste brasileira, a Região com maior notificação dos casos de sífilis adquirida. Em todas as regiões, as taxas de detecção apresentaram aumento crescente até o ano de 2018. Em 2019 as taxas mantiveram-se estáveis. Nos anos de 2020 e 2021, observou-se um declínio nas taxas dos casos notificados, anos que corresponderam aos períodos de isolamento social da pandemia da COVID-19 [12]. 

É importante ressaltar que o aumento de casos notificados, pode se dar pela maior oferta de testes rápidos para sífilis. Então, se há uma oferta maior de testes, evidencia-se o número de casos e há uma ampliação maior da cobertura diagnóstica da população [13].

Nota-se que em todas as Regiões a maioria das pessoas diagnosticadas, a população dominante é do sexo masculino. A predominância de casos de sífilis adquirida no público masculino, pode estar relacionada a dificuldade dos homens de procurarem um serviço de saúde. O que também pode contribuir para vulnerabilidade da doença é o comportamento sexual de risco, como múltiplos parceiros sexuais e a falta de uso de preservativo [14].

O presente estudo mostra que a raça/cor branca apresenta maior predominância com e em segundo a raça/cor parda. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, 42,7% dos brasileiros se declararam como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas. Mediante a isso, pode justificar-se o fato de maior incidência de sífilis adquirida no Brasil acometer mais os brancos e pardos [15].

Com relação à taxa de cura nas regiões norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste, teve o total de 30.931 e a segunda maior prevalência. Mediante ao exposto, o estudo evidencia que infectados apresentam grande evolução para a cura. Sendo imprescindível a necessidade das ações dos profissionais das áreas de saúde, como palestras sobre educação sexual, assim como oferecer medidas preventivas para o combate à sífilis na população mais acometida por essa infecção, tendo destaque a população mais jovem, devido ser mais vulnerável às infecções por ISTs [16].

Vale ressaltar que o número de óbitos por sífilis que foram notificados por agravo e outras causas, nas regiões foi relativamente pequeno comparado ao número de cura. Logo, é notório salientar o quanto as medidas de prevenção estão sendo eficazes. Dessa forma, os profissionais da saúde devem manter a garantia do cuidado integral aos usuários [17].

Verificou-se que as notificações de sífilis adquirida foram crescentes entre o período estudado. Destaca-se então a importância da notificação compulsória, mediante a Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017. Visto que, a notificação é obrigatória para médicos, e profissionais de saúde de instituições públicas e privadas que prestam assistência ao paciente. Posteriormente, é fundamental a notificação oportuna de todos os casos ao Sinan [10].

No que tange a prevalência da Sífilis Adquirida nos anos de 2011 a 2021 mostra o aumento da infecção principalmente em grandes centros urbanos, como o estado de São Paulo, seguido do Rio grande do Sul. Nesse quesito, isso pode estar relacionado a maior procura por centros de saúde e testagem, como também informações em educação sexual, contínua e permanente, mas ainda investimentos do governo na saúde, tal qual, na Atenção Primária à Saúde e a informação da população acerca da infecção [18].

A despeito da educação continuada e permanente, a mesma apresenta-se essencial na saúde pública, visto que busca melhorar e aprimorar a qualificação, ações e conhecimento dos profissionais da saúde, onde essa educação, correlaciona-se diretamente no campo de atuação de acolhimento, atendimento e detecção da Sífilis e suas manifestações clínicas, com isso melhorando o atendimento e cuidado ao cliente, visto que em alguns estados a prevalência da Sífilis adquirida mostra-se baixa, tal qual, Amapá com 2.032 total de casos, seguido do Acre em 2,037.Fato que pode estar ligado diretamente a subnotificação de casos, falta de profissionais qualificados e preparados em notificar em sistemas de notificações, como, o SINAN [19].

A dificuldade de acessibilidade ou conhecimento sobre a sífilis torna a prevenção de IST mais desafiadora, além disso, há fatores como determinantes sociais, escolaridade, raça, idade, falhas na qualidade dos serviços prestados e informações incompletas que dificultam a compreensão sobre o tema. Ressalta-se também a importância da manutenção de políticas públicas voltadas à temática, como também o fortalecimento da Atenção Primária, considerada porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), uma gestão que priorize prevenção, promoção à saúde e diagnóstico precoce, além de um tratamento de qualidade como estratégia para garantir que o número de casos diminua [20].

Segundo a Política Nacional de Promoção de Saúde (PNPS), a educação em saúde é um instrumento essencial para desenvolvimento da capacitação da comunidade, contribuindo como forma de promoção à saúde [21] Assim, evidenciou-se na pesquisa que o maior número de prevalência se deu em indivíduos possuindo o ensino médio completo. Isso leva a hipótese de que a introdução da educação sexual no ensino médio nesta faixa etária pode ter ocorrido de forma precária, assim, muitos começam a vida sexual de forma precoce e desprotegida [22]. Em muitas escolas ainda não se há a implementação de educação sexual para a informação mais adequada sobre como se prevenir, sendo uma medida de proteção de extrema importância em todas as faixas etárias, para então desconstruir o tabu de sexualidade [23]. A falta de promoção da educação sexual se relaciona também ao fato do ambiente domiciliar ser falho na educação dos mesmos, pois alguns pais não possuem informações adequadas perpassadas através de seus progenitores e acabam por não auxiliar a iniciação da vida sexual do seu filho de forma saudável e segura [24].

Sobre análise da variável faixa etária, pessoas com 20 a 39 anos foram as idades mais acometidas pela patologia com uma prevalência alta de 56,95%, sendo cabível associar esse resultado ao fato de que dentre esses intervalos de idades estão as que representam o pico da vida reprodutiva, logo, há uma grande suscetibilidade de aquisição de infecções sexualmente transmissíveis [25].

O segundo maior número de registros da doença detém a faixa etária dos 40 a 59 anos, abrangendo assim a terceira idade a qual também pode se constatar com o registro de 29.841 casos no intervalo de idade de 60 a 64 anos. Uma série de fatores explicam esses elevados índices de infecção nessa idade, entre eles pode-se destacar o baixo acesso à educação sexual, questões religiosas e até culturais. Assim, a comumente o manuseio incorreto do preservativo, o constrangimento de comprá-lo em lugar público e até mesmo o pensamento de que o preservativo serve somente para prevenir gravidez, são agentes influenciadores que levam essas pessoas à prática sexual sem proteção, implicando na saúde destas e favorecendo a transmissão da infecção [26].

O presente estudo também mostrou um significativo índice de adolescentes e jovens com a enfermidade, onde 88.342 casos de pessoas de 15 a 19 anos foram registrados. Tais dados corroboram o fato de que a vida sexual desse grupo etário se inicia de forma precoce, na maioria dos casos, sem o uso de preservativo e com múltiplos parceiros sexuais. Haja vista, que a adolescência é a fase em que a contínua mudança biológica, social e psicológica é intensa e tais práticas de risco afetam a saúde sexual dessa população, deixando-a bem mais vulnerável à infecção de ISTs como a sífilis [26-27].

É imprescindível compreender a epidemiologia da sífilis adquirida a fim de colocar em prática medidas de combate à sua propagação, assim como reforçar a realização do acolhimento humanizado, avaliação integral, diagnóstico precoce, o reforço ao paciente da importância ao tratamento, a notificação obrigatória e o aconselhamento sobre o uso do preservativo, sendo estas estratégias preventivas cruciais [28].

5. CONCLUSÃO

A sífilis possui alta prevalência, se constituindo como um problema de saúde pública, podendo gerar grave adoecimento se não for detectada precocemente. Em sua maioria, apresenta-se em latência, contribuindo para a continuidade da cadeia de transmissão, dificultando seu controle. No Brasil, entre os anos 2012 e 2022 foram constatados que em todas as regiões as taxas aumentaram até 2018, estável em 2019 e declinando em 2020 e 2021, podendo se justificar pelo isolamento social decorrente da pandemia da covid-19. O aumento dos casos também pode se relacionar com a maior oferta de testes rápidos para sífilis, o que promove uma maior cobertura de diagnósticos. A maioria dos diagnósticos foram do sexo masculino, que pode estar relacionado a baixa procura desse público ao serviço de saúde, o que os torna mais vulneráveis. A maior prevalência se deu em indivíduos com ensino médio completo, com maior número de casos de 20 a 39 anos, relacionados com o pico da vida reprodutiva.

REFERÊNCIAS

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1, 2, 5, 6, 7Acadêmicos de Enfermagem na Universidade da Amazônia (UNAMA), Ananindeua, Pará, Brasil

2Acadêmica de Enfermagem na Universidade Estadual do Pará (UEPA), Belém, Pará, Brasil

4Acadêmica de Enfermagem na Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil

8Seção de Bacteriologia e Micologia (SABMI) do Instituto Evandro Chagas (IEC), Ananindeua, Pará, Brasil

9Mestre e Doutora no Instituto Evandro Chagas (IEC), Ananindeua, Pará, Brasil