ANÁLISE DE FATORES MOTIVANTES E DESMOTIVANTES DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA DOCÊNCIA NO MUNICÍPIO DE ALENQUER, PARÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8264855


Aldenir Pinheiro da Silva1
Ronilson Pereira Bentes2
Erivelton Ferreira Sá3


RESUMO

A motivação é um dos fatores fundamentais no desenvolvimento das atividades humanas. Na docência, o processo de ensino-aprendizado se estabelece nas relações interpessoais que dependem fundamentalmente dos sentimentos intrínsecos, presentes tanto em alunos como nos professores. Nesse sentido, esta investigação teve como objetivo geral, analisar os principais fatores que proporcionam a motivação e a desmotivação dos professores de Educação Física no município de Alenquer, Pará. O estudo seguiu uma abordagem qualitativa, com pesquisa de campo e descritiva com 10 professores da rede pública municipal de ensino de Alenquer, Pará, com os quais desenvolvemos uma entrevista semiestruturada, cujos resultados foram analisados conforme análise de conteúdo. Constatamos que os docentes atribuem à motivação uma melhoria no desempenho profissional. Por sua vez, o principal fator que proporcionaria motivação aos professores foram as boas relações interpessoais, seguida dos bons resultados pedagógicos. Já a ausência de materiais didáticos é o principal fator que desmotiva os professores. Outros relevantes fatores que desmotivam são: a pouca valorização da Educação Física como componente curricular e a falta de infraestrutura adequada para as aulas. Estes fatores despertam sentimentos ruins e abalam o psicológico nos professores. Concluímos que as relações afetivas que se estabelecem entre os trabalhadores da educação, e entre professor e aluno no processo de ensino-aprendizado, podem representar a força interior para enfrentar os problemas relativos às demandas de materiais e infraestrutura no cotidiano. 

PALAVRAS-CHAVE: Educação Física. Motivação. Desmotivação. Prática pedagógica. 

ABSTRACT

Relationships that fundamentally depend on intrinsic feelings, present both in students and in teachers. In this sense, this investigation aimed to analyze the main factors that provide motivation and demotivation for Physical Education teachers in the city of Alenquer, Pará. The study followed a qualitative approach, with field and descriptive research with 10 teachers from the municipal public school system in Alenquer, Pará, with which we developed a semi-structured interview, whose results were analyzed according to content analysis. We found that teachers attribute motivation to an improvement in professional performance. In turn, the main factor that provides motivation to teachers is like good interpersonal relationships, followed by good pedagogical results. The absence of teaching materials is the main motivating factor for teachers. Other important factors that lead to demotivation are: the little appreciation of Physical Education as a curricular component and the lack of adequate infrastructure for classes. These factors arouse feelings and ruin psychology in teachers. Conclude that the affective relationships that they establish between education workers, and between teachers and students in the teaching-learning process, can use inner strength to face the problems related to the demands of materials and infrastructure in daily life.

KEYWORDS: Physical Education. Motivation. Demotivation. Pedagogical practice.

INTRODUÇÃO

O tema desta investigação gira em torno dos fatores motivantes e desmotivantes para a prática pedagógica do professor de Educação Física.  A motivação segundo Doirado e Oliveira (2010) é o fator de maior relevância para a realização efetiva, ou seja, de maneira satisfatória, de uma dada tarefa, sendo possível, a partir dela, a determinação se a atividade proposta alcançará ou não o êxito.  E levanta uma nova discussão sobre o tema, pois mesmo com a diversidade de conteúdo existente sobre o tema, algumas publicações demonstram preocupação com as mudanças almejadas. Busca-se uma reflexão mais clara a respeito das principais dificuldades apresentadas na realização de suas práticas pedagógicas no âmbito escolar e como será possível superá-las, bem como a análise de dados de pesquisa que possam colaborar para uma reflexão-ação. A desvalorização, a falta de aquisição de bens materiais e culturais, têm provocado impacto considerável na realização das práticas pedagógicas na área da Educação Física (LIBÂNEO, 2013).  

Libâneo (2013) destaca que as pesquisas na área da motivação têm se dedicado pouco à integração, no trabalho de sala de aula, os conteúdos, os motivos dos alunos e as diversidades culturais, viabilizadas em prática de ensino. Desta forma, percebe- se o quanto os professores estão sobrecarregados de afazeres pedagógicos fora do âmbito escolar. Neste sentido, faz-se importante, investigações que busquem compreender como os fatores motivacionais e desmotivacionais afetam as práticas pedagógicas dos docentes, em especial, dos professores de Educação Física.  

Diante dessa problemática surgiu a necessidade de averiguação de fatores que, no município de Alenquer, Pará, têm provocado a motivação ou desmotivação de professores de Educação Física da rede municipal. Esses fatores (des)motivacionais podem ser importantes indicadores sobre a qualidade do trabalho docente desenvolvido com os estudantes no componente curricular Educação Física na cidade.

Neste sentido, partimos da problemática: Quais os principais fatores que levam a motivação e desmotivação de professores de Educação Física em Alenquer? Traçamos como objetivo geral: Analisar os principais fatores que proporcionam a motivação e a desmotivação dos professores de Educação Física no município de Alenquer, Pará. 

Traçamos como objetivos específicos desta pesquisa: (1) Identificar os fatores que proporcionam a motivação e a desmotivação do professor de Educação Física no desenvolvimento de seu trabalho pedagógico; (2) Analisar como fatores motivantes e desmotivantes influenciam as práticas pedagógicas dos professores de Educação Física.

1 PRINCIPAIS FATORES QUE CAUSAM A MOTIVAÇÃO E DESMOTIVAÇÃO

A educação de modo geral vem passando por grandes desafios e com a Educação Física não deixa de ser dessa maneira. De acordo com Braghrdle et al. (2001), um comportamento motivado caracteriza-se pela energia desprendida em direção de um objetivo ou uma meta.  Já para Ryan e Daci (2002) a motivação deve estar contida em três aspectos do ser humano: Autonomia, competência e relacionamento.  Autonomia é o grau pelo qual o indivíduo percebe a si próprio como responsável pelo seu comportamento. A competência refere-se ao grau de atividades para se engajar a fazer a atividade. Já o relacionamento é definido como as conexões que o sujeito faz com a comunidade em que convive.  

Desta forma, acredita-se que o contexto social e o plano laboral de cada indivíduo influenciam em seu desempenho motivacionais ou desmotivacionais. No entanto, a motivação não se apresenta na mesma intensidade em todos os seres humanos, uma vez que todos tem seus próprios objetivos. Partindo desta ideia, o professor deve estar sempre em busca de novos conteúdos e cursos de aperfeiçoamento, além de buscar compreender o interesse das turmas. O desenvolvimento do trabalho deve estar atrelado ao objetivo da escola e em seu planejamento desde a escolha dos conteúdos e das metodologias a serem abordadas (LIBÂNEO, 2013).

Em pesquisa desenvolvida por Cunha e colaboradores (1989), verificou-se que os fatores que motivam os professores a desenvolverem suas práticas pedagógicas são: o reconhecimento do seu papel e o reconhecimento da sua realidade que poderão favorecer a intervenção no seu desempenho.

Já os fatores desmotivantes são, segundo Esteve (1999), os relacionados a condições e observações, bem como a organização do trabalho docente, comprometimento da qualidade de vida, desvalorização social, baixos salários, hierarquização e burocratização das relações de trabalho, além das deficiências de recursos humanos e logísticos.

Vansteenkiste e colaboradores (2004 apud OLIVA, 2014) expõe as razões pelas quais as pessoas se envolvem em uma determinada atividade. Explicam que os comportamentos são volitivos ou autodeterminados, estabelecendo um continuum motivacional, dependendo do nível de autodeterminação. Para os autores, a motivação intrínseca seria o mais elevado nível de autodeterminação e está relacionada às pessoas que se envolvem em uma atividade por razões intrínsecas, como satisfação, desejo ou prazer. A motivação extrínseca, por sua vez, está associada às pessoas envolvidas em uma atividade por razões instrumentais, como a busca de resultados, reconhecimento e fatores externos.

2 METODOLOGIA

Este projeto foi desenvolvido tendo como eixo norteador a abordagem qualitativa, que para Costa e Costa (2011), nesta abordagem qualitativa, a realidade é considerada complexa e dinâmica e, por isso, o pesquisador busca seus significados, interpretando-os a partir de um contexto próprio, avaliando as relações que se dão no mesmo, considerando seu processo evolutivo e buscando sua intensidade. Com base nos objetivos deste estudo, podemos caracterizá-lo como pesquisa descritiva, pois, segundo Gil (2002), as pesquisas descritivas tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. No que se refere à tipologia da pesquisa, com base nos procedimentos a serem desenvolvidos, este estudo classifica-se como pesquisa de campo.  Pois:

A pesquisa de campo estuda um único grupo ou comunidade em termo das características resultando a intenção entre elas.  Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio de observação direta das atividades do grupo, estudando entrevista com informante para captar suas explicações e interpretações do que ocorre. (GIL, 2002, pp. 50-51).

Neste sentido, esta pesquisa foi realizada na zona urbana do município de Alenquer, Pará, com 10 (dez) professores de Educação Física da Rede Pública de ensino do município de Alenquer. Como critério de inclusão para a participação no estudo, estabelecemos que: os docentes deveriam ser formados em curso de Licenciatura em Educação Física; serem professores efetivos; estarem atuando na docência há pelo menos três anos; e, concordarem em participar do estudo assinando o Termo de Livre e Esclarecido (TCLE).

Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais gravadas do tipo semiestruturada. Costa (2011) conceitua entrevista semiestruturada como aquela que se desenvolve a partir de um roteiro básico com um conjunto de questões previamente elaboradas. A análise de dados seguiu as etapas da análise de conteúdo, desenvolvida por Bardin (1977). Desenvolvemos esta análise conforme as fases descritas pela autora: (1) pré-análise; (2) exploração do material; (3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação. 

Vale ressaltar que esta pesquisa foi realizada a partir da aprovação do conselho de Ética da universidade do Estado do Pará e seguiu os aspectos determinados na resolução n° 510/2016, sendo aprovada pelo CAAE: 18389719.8.0000.5168.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação ao primeiro objetivo específico dessa investigação, que era: Identificar os fatores que proporcionam a motivação e a desmotivação do professor de Educação Física no desenvolvimento de seu trabalho pedagógico, apresentamos os quadros 1, 2, 3 e 4 que buscam dar resposta a essa questão. Nos quadros verificamos que a primeira coluna diz respeito às categorias provenientes da análise de conteúdo. A segunda coluna representa as unidades de registro, que são falas representativas do conjunto de enunciados agrupados naquela categoria. Por fim, a última coluna apresenta a unidade de contexto que se relaciona à contextualização do conjunto de unidades de registro.

O quadro 1 abaixo refere-se aos fatores motivantes para que os professores de Educação Física da rede pública municipal de Alenquer, Pará, desenvolvam seu trabalho pedagógico, bem como a contribuição atribuída por estes para que exerçam suas atividades de modo entusiasmado, com ânimo e dentro do que compete ao currículo e conteúdo proposto no planejamento. Os resultados deste quadro foram obtidos através das seguintes questões: Você acredita que a motivação é importante para o desenvolvimento, interesse e entusiasmo das atividades profissionais do ser humano? Você acha que a motivação afeta o trabalho docente de professores?

Quadro 1 – Importância da motivação no interesse nas atividades profissionais.
CATEGORIAUNIDADE REGISTROUNIDADE DE CONTEXTO
Melhoria no desempenho profissionalProf.   5 – “Render mais no seu trabalho, vai fazer o trabalho com mais eficiência, com mais vontade”.Doze trechos de entrevistas apontam a motivação como responsável pela melhoria no desempenho profissional e a busca pela forma de melhorar na execução das atividades laborais, seus objetivos e metas.
Prazer e boas sensaçõesProf.  2 – “Mais prazeroso, você se sente bem, confiante”.Seis trechos de entrevistas possibilitam a interpretação de que estar motivado proporciona prazer, boas sensações e confiança para realizar as atividades.
Mais vontadeProf.  4 – “Mais vontade de executar o seu trabalho”.Para dois professores a motivação leva o professor de Educação Física a desempenhar com mais vontade o seu trabalho.
Fonte: Autores (2020)

A categoria de maior recorrência encontrada foi melhoria no desempenho profissional, citada em 12 trechos das entrevistas. A fala do professor 9 nos ajuda a entender melhor está questão, “você tem meta a cumprir e no termo profissional nós temos esses objetivos”. Shulman (1987 apud NEIRA, 2012) afirma que a motivação faz com que os docentes tenham um melhor desempenho e eficácia no seu trabalho, pois, parte da hipótese de que, quando o professor possui domínio do conteúdo, traça objetivos e tem conhecimentos pedagógicos específicos e geral, sente-se mais motivado, pois ele é o próprio protagonista da ação.

A segunda categoria com maior incidência foi prazer e boas sensações, presente em 6 trechos de entrevistas. Segundo Vansteenkiste e colaboradores (2004 apud OLIVA, 2014) os benefícios da motivação são notórios para a manutenção de sentimentos de prazer e boas sensações relacionadas ao trabalho. 

A categoria de menor relevância foi, mais à vontade, presente em 2 trechos. Segundo Ryan e Dalci (2000, apud OLIVA et. al, 2014) nos postulados de sua teoria, na medida em que as pessoas tenham satisfação adequada de suas necessidades psicológicas básicas, haverá um aumento no nível de motivação autodeterminada e a motivação proporcionará mais vontade de desenvolver suas atividades, incluindo o trabalho.

O quadro 2 abaixo apresenta os fatores que levam à motivação dos professores de Educação Física, participantes da pesquisa, no desenvolvimento do seu trabalho pedagógico.

Quadro 2 –  Fatores motivantes para a prática pedagógica em Educação Física.
CATEGORIASUNIDADE DE REGISTROUNIDADE DE CONTEXTO
Boas relações interpessoais Prof. 4 – “A motivação primeiro vem num ambiente agradável, né, principalmente na escola, onde você se dá bem com os professores, com os demais servidores, […]”.Boas relações interpessoais estão ligadas à convivência harmoniosa e compreensiva de respeito mútuo entre os diferentes atores da comunidade escolar (diretores, professores, pais e alunos). Estes pressupostos estavam presentes em cinco trechos das entrevistas. 
Os resultados do trabalho pedagógicoProf. 3 – “A motivação é a que me emociona todo dia. É poder ajudar no desenvolvimento cognitivo da criança, no desenvolvimento motor. É tu poder proporcionar a educação através de jogos, por meio de brincadeiras, trabalhando a parte social. Essa é a motivação, é tu usar a Educação Física, os esportes, como ferramenta pedagógica”.Quatro docentes também apontaram os resultados do trabalho pedagógico como fator que impulsiona o seu dia-a-dia. Observar a melhoria no desenvolvimento motor das crianças a partir de suas aulas lhes proporcionam ânimo para desenvolver suas atividades.
Questões salariais e estabilidade do vínculo empregatícioProf. 4 – “[…] na questão salarial também, sendo justo, isso também ajuda muito, porque faz com que a gente se sinta valorizado”.Questões salariais e estabilidade do vínculo empregatício foi apontada por três professores, porque, segundo eles, proporciona valorização profissional e social para a profissão.
Valorização baseada na promoção da saúde através das práticas de atividade Física.

Prof.  3 – “Eu me sinto valorizado de poder estar proporcionando saúde, porque a Educação Física, ela é muito importante, ela não trabalha só a parte educacional, mas também a parte voltada pra saúde e eu me sinto importante por isso, de poder estar desenvolvendo um bom trabalho e fazendo o bem para as pessoas”.A motivação atestada por dois professores é a satisfação em promover saúde através das atividades físicas.
Boa infraestrutura e recursos materiais e didáticosProf. 5 – “Fatores que motivariam? Ah, ter condições ideais de trabalho, espaço para trabalhar, ter material para trabalhar, tudo isso proporciona motivação para o professor de educação física desempenhar um bom trabalho.”Verificamos em dois trechos das entrevistas que a boa infraestrutura e recursos materiais em quantidade adequada proporcionam motivação. Os docentes ressaltam que quando se tem uma boa infraestrutura de trabalho, bem como salas adequadas com ventilação, quadras cobertas, recursos materiais e didáticos como livros e computadores, bolas de modalidades variadas e outros equipamentos, etc., se sentem motivados.
Valorização pela presença em todas as sériesProf.  6 – “Em partes sim, porque o profissional está presente em todas as séries, isso já é uma grande vitória pelo fato de não ser obrigatória nas séries iniciais, mesmo assim está, eles sabem da importância para o desenvolvimento das crianças”.Um docente tem como motivação a valorização da Educação Física atrelada à presença de professor formado na área nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O professor se sente valorizado, tendo em vista que em grande parte dos municípios da região, o componente curricular é ministrado pelos professores regentes de classe. 
Fonte: Autores (2020)

A categoria de maior relevância para a motivação, segundo os docentes participantes da investigação, é boas relações interpessoais, presentes nas falas de 05 professores. Segundo Schweitzer et al. (2016) conhecer os sentidos e significados atribuídos ao trabalho é importante, uma vez que afeta positiva e/ou negativamente a relação que o trabalhador tem com seu trabalho e com seus pares, ou seja, as relações interpessoais e adesão do trabalhador no seu trabalho, a qual pode influenciar a cultura e práticas da instituição. Por sua vez, esse resultado contrasta com o observado na pesquisa desenvolvida por Morsolin e colaboradores (2014) com 40 professores de Educação Física do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, onde verificaram que o amor pela profissão é o fator que mais motivava a maior parte dos professores participantes do estudo. Esse fator não foi verificado em nosso grupo participante da investigação.

Outro fator relevante para a motivação dos docentes foram os resultados do trabalho pedagógico, presentes em 04 trechos das entrevistas. Esse resultado diverge do apontado por Barreiros (2008) em pesquisa realizada com seis professoras no Distrito Federal na qual a autora, entrevistando as participantes da investigação, verificou que o fator que mais motivava as participantes daquele estudo era justamente o desenvolvimento das crianças proveniente dos resultados de seu trabalho pedagógico.

Questões salariais e estabilidade do vínculo empregatício, presente em três trechos de falas, também é uma importante categoria verificada. Segundo Ornellas (2015) não somente os professores, mas todo e qualquer profissional precisa ter seus honorários em dias, tendo em vista que os proventos estão relacionados intrinsecamente a sobrevivência e a manutenção de condições adequadas do viver. Barreiros (2008) constatou em seu estudo que importante parcela das professoras participantes de sua pesquisa, se sentiam motivadas, também, pela estabilidade de serem funcionárias públicas concursadas e por conta do salário que recebiam.

A valorização baseada na promoção de saúde foi atestada por dois professores. Nesta categoria, a motivação profissional estaria ligada a uma ideia de que a prática regular de atividades físicas está amplamente respaldada na literatura científica como capaz de prevenir doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a atividade física de intensidade moderada traz benefícios significativos para a saúde, como a melhoria da condição cardiorrespiratória, melhorias na qualidade muscular, aumento da saúde óssea e funcional, redução no risco de hipertensão arterial, doença cardíaca coronária, AVC, diabetes, câncer de mamas e cólon, depressão; e, são fundamentais no balanço energético e controle de peso (OMS, 2014). Nesse sentido, atrelar a valorização profissional da docência em Educação Física é ligá-la a todos os benefícios que a atividade física pode proporcionar ao seu praticante. Por fim, configura-se como uma tentativa de autoafirmação no meio escolar, tanto da disciplina Educação Física, quanto do próprio professor.

A boa infraestrutura e recursos materiais e didáticos, citada em dois trechos de entrevistas, foi apontada como o fator que proporciona a motivação dos docentes. Em seu estudo, Batista e Moura (2019) destacam que fatores ligados à qualidade da infraestrutura e recursos materiais adequados possibilitam o desenvolvimento de um trabalho pedagógico mais qualificado e possibilitam que os docentes se sintam mais motivados em seu trabalho.

Valorização pela presença em todas as séries foi um motivo atestado por um professor para se sentir motivado no seu trabalho docente, tendo em vista que, em grande parte dos municípios da região, o componente curricular é ministrado pelos professores de referência de turma. Isto justifica-se porque a resolução nº 07/2010 do Conselho Nacional e Educação que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos, em seu artigo 31º, prevê que o componente curricular Educação Física de 1º ao 5º ano abona a obrigatoriedade de profissional formado em Educação Física para ministrar a disciplina nestas séries. 

As respostas dos docentes, quando questionados sobre os fatores que contribuíram para a sua desmotivação, deram origem ao quadro 3 abaixo:

Quadro 3 – Fatores que contribuem para desmotivação dos professores.
CATEGORIASUNIDADE DE REGISTROUNIDADE DE CONTEXTO
Falta de materialProf. 7 – “Com certeza a falta de material. A gente acaba se sentindo frustrado em não poder ministrar uma aula melhor porque não tem material”.Sete trechos das entrevistas apontaram a falta de material didático como a causa de desmotivação para o trabalho docente.
Falta de valorização da disciplina Educação FísicaProf. 1 – “Pois é uma disciplina que tem pouco reconhecimento”.Prof. 3 – “A nossa área ainda é muito discriminada pelos professores de outras disciplinas”.O pouco reconhecimento da Educação Física, como área do conhecimento e como disciplina escolar, é um dos fatores apontados pelos docentes em seis falas como desmotivantes, bem como a falta de importância atribuída à disciplina por docentes de outras áreas na escola.
Falta de espaço e infraestrutura precáriaProf. 7 – “Também a falta de espaço adequado. Se fosse bem valorizado, todas as escolas, onde a Educação Física fosse aplicada, deveriam ter boa infraestrutura, e não como acontece do professor ter que dar aula em qualquer lugar, num pátio, uma área, no terreiro da escola, ou embaixo de uma árvore”.Em outros seis momentos, os docentes apontam a infraestrutura inadequada e falta de espaços destinados às aulas de Educação Física como um fator que desmotiva os professores.
Falta de apoio pedagógico e didático da escola e do poder público.Prof.  5 – “Às vezes a falta de apoio, tanto da escola quanto da gestão pública”.Em quatro momentos das entrevistas, a falta de apoio didático da gestão da escola e do poder público foi lembrada como um fator preponderante para a desmotivação dos professores.
Os professores de Educação Física não se valorizam



Prof.  9 – Essa desvalorização social acontece principalmente por culpa dos profissionais de Educação Física que não se valorizam. Não adianta culpar governo, não adianta culpa a falta de material e a infraestrutura, eles também são culpados, mas a culpa principal são de profissionais de Educação Física que não valorizam a disciplina”.A categoria professores de Educação Física não se valorizam esteve presente em três falas de professores. A falta de empenho profissional é apontada pelos professores como uma das causas dos professores de Educação Física não se valorizarem. Os docentes apontam a necessidade dos próprios professores se sentirem mais necessários e acharem seu trabalho importante.
Falta de valorização financeiraProf.  10 – “Se a gente fosse desmotivar da situação de Alenquer a gente não ia fazer nada, nós já sofremos perdas de gratificações salariais, que fez o salário diminuir, nosso salário já chegou a estar atrasado quatro meses, mas um dia a gente vai encontrar um prefeito que olhe pro professor”.A falta de valorização financeira é apontada por um docente como fator desmotivante. O docente aponta recorrentes atrasos salariais, diminuição salarial e perda de gratificações como causas dessa desvalorização.
Fonte: Autores (2020)

De acordo com as observações feitas no quadro acima, percebe-se que a categoria que mais interfere no trabalho do professor é a falta de material, encontrada em sete partes das entrevistas. Seguido da categoria falta de espaço e de infraestrutura, e da categoria falta de valorização da disciplina Educação Física, ambas presentes em 6 trechos das entrevistas. Esse resultado diverge do encontrado por Herdeiro & Costa e Silva (2014) em pesquisa desenvolvida em Portugal com 396 professores, que aponta a desmotivação com o trabalho docente relacionada ao excessivo trabalho burocrático e ao surgimento de uma cultura competitiva e individualista. Esse resultado também vai de encontro ao verificado por Morsolin e colaboradores (2014), que constataram que, a maior parcela dos professores de Educação Física, participantes de sua pesquisa, apontam a falta de interesse dos alunos pela aula como fator que mais provoca desmotivação.

Em relação à categoria de maior relevância, a falta de material foi citada por sete entrevistados. Bracht (2003) aponta que há uma relação direta entre a falta de materiais destinados às aulas de Educação Física e a qualidade destas ministradas pelos docentes. A fala do professor 2 é contundente nesse sentido “A falta de material é desestimulante, me dá um impacto muito grande, porque você quer mostrar trabalho melhor, mas você não tem materiais didáticos suficientes. A não ser que você compre do seu bolso, você não terá material suficiente, pois a gestão da escola e a prefeitura não fornecem”. Samariva, Vasconcellos e Jesus (2013) afirmam em seu estudo que a ausência ou insuficiência de materiais é um dos fatores mais graves e desestimulantes na prática pedagógica de Educação Física. Segundo Tardif (2002) os primeiros anos de profissão acabam por desmotivar muitos professores, tendo em vista que a realidade da infraestrutura da maioria das escolas, principalmente as públicas, aparentam um contexto novo para os jovens professores que tem que reinventar e produzir novos conhecimentos e formas de lidar com essas dificuldades, produzem literalmente um aprender fazendo com suas dificuldades diárias.

Quanto à falta de valorização da disciplina Educação Física, citado por 6 professores, Krug (2008) afirma que os problemas decorrentes da pouca valorização social da docência e em especial da disciplina Educação Física acabam por provocar uma intensa desmotivação dos professores da área. Antunes e colaboradores (2005) destacam que as relações interpessoais com professores de outras disciplinas interferem também no processo educativo. Betti (1992) destaca dois aspectos que contribuem para a desvalorização da Educação Física. O primeiro refere-se à maneira simplificada em que a área é vista, não se identificando e nem reconhecendo os conhecimentos que lhes são específicos. O segundo refere-se à ideia de que há familiaridade intensa entre as pessoas e as práticas corporais, dando a falsa impressão de que a área e o profissional seriam quase que dispensáveis, inclusive no ambiente escolar. Ferreira e Fonseca (2017) também apontam em seu estudo as relações interpessoais com docentes de outros componentes curriculares como um dos principais fatores de desmotivação entre os professores investigados. Ressaltamos que os professores de Educação Física poderiam aproveitar as boas relações 

Já em relação à falta de espaço e infraestrutura precária, apontada por seis docentes como um dos fatores que levam a desmotivação profissional, Krug, Krug e Telles (2017) constataram, em seu estudo com professores de uma cidade do Rio Grande do Sul, que grande parte dos docentes investigados atribuem à falta de infraestrutura um fator preponderante para a desmotivação e insatisfação no trabalho. De igual forma, Ferreira e Fonseca (2017) atribuem à infraestrutura precária e à falta de políticas públicas a desmotivação docente. Os professores participantes daquele estudo afirmam sentirem-se exaustos em terem que lidar cotidianamente com problemas decorrentes de espaços inadequados para o desenvolvimento de suas atividades. Batista, Cardoso e Nicoletti (2019) apontam em sua investigação com professores que a infraestrutura precária é a principal razão que impede o professor de se sentir motivado. 

A falta de apoio pedagógico da escola e do poder público foi lembrada por quatro participantes da pesquisa como um fator que proporciona a desmotivação do docente. Ferreira e Fonseca (2017) verificaram em seu estudo que a desvalorização por parte do governo, junto com os baixos salários são os principais fatores que provocam a desmotivação dos professores.

A categoria os professores de Educação Física não se valorizam foi observada no relato de três docentes. Para Gonçalves, Santos e Martins Junior (2007), quanto às dificuldades dos professores de educação física:

(…) evidencia-se um dos grandes problemas existentes na educação física: a falta de identidade do profissional, a falta de clareza em suas atuações e consequentemente o não reconhecimento da sociedade. Nota-se, portanto, que o não comprometimento da atuação da E F é muitas vezes causada pela falta de compromisso e interesse pela profissão, ou, em alguns casos, e como foi sua formação acadêmica. Mas percebe-se, porém, que o trabalho profissional é dificultado, na maioria das vezes, por inúmeros fatores, como a falta de material, espaço inadequado, desvalorização da sociedade, de outros profissionais etc. (GONÇALVES; SANTOS; MARTINS JUNIOR, 2007, p. 495).

Batista, Cardoso e Nicoletti (2019) apontam em sua investigação que o desinteresse do próprio docente é uma das maiores razões que impedem o professor de se manter motivado. Segundo Maslach e Leiter (1996, apud OLIVA 2012) absenteísmo, falta de preparação das aulas, baixos níveis de empatia com os alunos e/ou baixo comprometimento com a profissão docente, são fatores que decorrem da desmotivação profissional docente.

A falta de valorização financeira foi apontada por um professor como o principal motivo para a sua desmotivação, sendo a categoria de menor recorrência encontrada. Fato este que diverge do estudo desenvolvido por Ferreira e Fonseca (2017) que em um estudo desenvolvido com professores da Rede Pública da região metropolitana de Belo Horizonte, verificou que os baixos salários são uma das principais causas de desmotivação profissional. Entre os docentes participantes da pesquisa desenvolvida por Batista, Cardoso e Nicoletti (2019) a remuneração inadequada é a segunda maior causa de desmotivação dos professores.

O Quadro 4 a seguir, reúne os resultados referentes ao segundo objetivo específico desta investigação que era: Analisar como fatores motivantes e desmotivantes influenciam as práticas pedagógicas dos professores de Educação Física.

Quadro 4 – A influência dos fatores motivantes e desmotivantes na prática pedagógica.
CATEGORIAUNIDADE DE REGISTROUNIDADE DE CONTEXTO
Despertar sentimento ruim e abalo psicológico.Prof. 1 – “Faz com que a gente se sinta triste psicologicamente abalado”.Prof. 3 – “Eu não estou bem, me sinto uma profissional solitária e sem amor àquilo que faço, me sinto totalmente excluída e abandonada, como se eu nadasse contra a correnteza”.As mazelas apontadas pelos docentes acabam lhes provocando desmotivação profissional, sentimentos ruins, tristeza, abalo psicológico e até mesmo quadros depressivos. Estas características foram apontadas por seis docentes participantes do estudo.
Perder a vontade de fazer o trabalho.Prof. 4 – “Perdendo a vontade de trabalhar, e acaba indo pra escola só cumprir horário”.Prof. 8 – “Desmotivação é um horror sem um pingo de vontade no meu desenvolvimento laboral”.Cinco professores apontam que em decorrência de todos os fatores que lhes causam desmotivação acabam perdendo a vontade de desenvolver seu trabalho pedagógico e por fim desenvolvem seu trabalho com pouco comprometimento, apenas porque necessitam estar naquele ambiente.
Qualidade do trabalho Prof.  5 – “Ele não vai render bastante no seu trabalho, ele vai ficar triste pelo fato de ser desvalorizado. Porque ele se esforça tanto pra fazer um bom trabalho e não ver reconhecimento por parte da gestão pública, isso afeta muito na desmotivação no cotidiano”.Quatro docentes apontam que a desmotivação profissional acaba diminuindo o rendimento laboral tendo em vista que os esforços não reconhecidos dos professores lhes causam frustrações.
Atrapalha o planejamentoProf. 7 – “Não tem como planejar e elaborar atividades grandes pois não tem como realizá-las. A gente acaba também deixando de realizar alguma modalidade porque não dá de fazer no espaço”.Dois professores apontam que o seu planejamento é afetado pelas dificuldades, principalmente decorrentes da infraestrutura inadequada da escola.
Estresse Prof. 6 – “A desmotivação causa estresse por impedir de executar um melhor trabalho”.Prof. 4 – “Acaba sendo muito estressante isso”.Outros dois professores apontam que a desmotivação acaba provocando um estresse em não conseguir desenvolver um trabalho melhor.
Adoção de metodologias ultrapassadas Prof.  9 – “Acaba que o professor de Educação Física usa metodologias tradicionais dando a bola pro menino, ficando debaixo da árvore na sombra fazendo a chamada e o aluno no corre-corre”.Dois professores apontam a adoção de metodologias ultrapassadas ou tradicionais como saída frente aos fatores desmotivantes cotidianos.
Aumento da prática de atividade física  
Prof. 4 – “Quando a gente tá motivado, a gente acaba percebendo que precisa também cuidar da saúde e aumenta a prática da atividade física”.Um professor aponta que quando se sente motivado aumenta a prática de atividade física como forma de promoção de sua saúde.
Demanda proatividadeProf.  3 – “Porque assim, se você esperar todo tempo ver o lado negativo da profissão dependendo da qual seja, você vai ser um péssimo profissional, e ela vai influenciar muito na parte negativa, então você tem que ser virar, tomar iniciativa”.Um docente aponta a necessidade de ser proativo e de ter iniciativa para superar as dificuldades.
Mudança de profissão Prof. 6 – “Influência em muitos casos mudarem de profissão”. Um professor aponta inclusive a mudança de profissão como alternativa em decorrência da desmotivação profissional.
Aumento de faltas no trabalhoProf. 3 – “Se eu me sinto desmotivado, eu vou faltar”.Um docente acaba dizendo que em decorrência de não se sentir motivado acaba faltando na escola.
Comprar material próprio Prof. 3 – “Adquirir o seu material para não esperar do governo”.Um professor aponta a compra do seu próprio material como alternativa frente a ausência destes ofertados pelo poder público.
Material alternativo Prof. 3 – “Eu vou ter que construir com garrafa pet, pra ter motivação pra que isso não afete o desenvolvimento do meu trabalho”.Diante da falta de material, um professor aponta o uso de material alternativo como possibilidade.
Projetos e atividades extraclasses. Prof. 4 – “Quando a gente está motivado, a gente acaba não só dando a aula de Educação Física, a gente acaba participando criando mais projetos na escola participando das atividades extraclasses, e ajudando todos os setores da escola”.Quando há motivação segundo um professor, há maior dedicação inclusive na promoção de atividades e projetos interdisciplinares e extraclasse.
Fonte: Autores (2020)

A categoria com maior número de citações pelos professores foi despertar sentimento ruim e abalo psicológico, presente em seis trechos de entrevistas. Já a categoria perder a vontade de fazer o trabalho foi encontrada em cinco falas. Por sua vez, a diminuição da qualidade do trabalho foi apontada por quatro docentes. As categorias: Atrapalha o planejamento; Estresse; e, Adoção de metodologias ultrapassadas, foram encontradas em dois trechos cada uma. As demais categorias foram verificadas em apenas um trecho das entrevistas: Aumento da prática de atividade física; Demanda proatividade; Mudança de profissão; Aumento de faltas no trabalho; Comprar material próprio; Material alternativo; e, Projetos e atividades extraclasse.

Em decorrência das diversas razões que provocam a desmotivação dos professores com a prática pedagógica, muitos docentes acabam por despertar sentimento ruim e abalo psicológico. Segundo Maslach e Leiter (2005 apud OLIVA 2014) a motivação e o bem-estar adequado dos professores são fatores psicológicos necessários para o desempenho profissional adequado. Nesse sentido, baixos níveis de motivação e desconforto dos professores têm sido relacionados a consequências negativas, como diminuição da qualidade do ensino. No entanto, Campos (2019) afirma que é corriqueiro encontrarmos professores psicologicamente enfermos, exauridos em suas excessivas carga-horárias laborais e com desgaste físico em decorrência de suas condições de trabalho. Souza Pomiecinski e Pomiecinski (2014) destacam que o equilíbrio emocional é fundamental para uma boa convivência no ambiente escolar, possibilita cooperação entre os professores e o bom desenvolvimento do trabalho docente. 

 Já a categoria perder a vontade de fazer o trabalho é tipicamente apontada como uma das consequências da insatisfação dos docentes com os fatores que proporcionam a desmotivação no trabalho (SOUZA POMIECINSKI; POMIECINSKI, 2014; CAMPOS, 2019). Por sua vez, a diminuição da qualidade do trabalho, foi, também, apontada como uma das principais consequências da desmotivação com o trabalho. Barreiros (2008) destaca que, no contexto da educação, a motivação é uma das razões fundamentais para a qualidade do ensino. Quando o professor se encontra desmotivado e/ou frustrado com seu ambiente de trabalho ou com sua carreira, ele pode comprometer os resultados do processo de ensino-aprendizado.

A categoria atrapalha o planejamento aparece na fala de dois professores como consequência dos fatores que afetam a motivação dos docentes. Lopes e colaboradores (2016), em sua pesquisa com professores de Educação Física do Nordeste, afirmam que os professores apontam que tem dificuldades de realizar o planejamento de suas aulas devido a infraestrutura precária, juntamente com o clima quente e a exposição inviável ao sol durante alguns horários do dia. A alternativa apontada por alguns é a utilização de “aulas teóricas” na sala de aula.

O Estresse também foi apontado como uma das consequências dos fatores que provocam a desmotivação dos professores. Souza Pomiecinski e Pomiecinski (2014) ressaltam que o nível elevado de estresse é, recorrentemente, encontrado entre docentes e que lidar com o esgotamento, decorrente de repetidas situações estressantes no seu dia-a-dia, pode levar os professores a desenvolverem a Síndrome de Burnout.

Adoção de metodologias ultrapassadas também foi apontada como consequência da desmotivação dos docentes. Darido e Sanches Neto (2014) afirmam que, em muitos contextos, os professores adotam uma postura de apenas fornecer uma bola e praticamente não intervêm, fica a critério dos alunos escolherem a atividade e a forma que querem praticá-la. Os autores condenam essa metodologia de trabalho, tendo em vista que retira do professor a importância do próprio professor na definição dos procedimentos pedagógicos. Um dos fatores, segundo os autores, que levam a essa realidade, é a falta de políticas públicas que melhorem o desenvolvimento e as condições de trabalho dos professores, tais como as relacionadas às melhorias na infraestrutura, materiais e salários adequados. 

Em decorrência dos fatores motivantes, os docentes apontam o aumento da prática de atividade física dos professores. Nogueira e Sousa (2012) apontam em seu estudo que as principais barreiras atribuídas pelos professores para a prática de atividade física foram a falta de tempo e a falta de disciplina. Neste sentido, podemos afirmar que um professor motivado com seu trabalho sente-se mais disposto para manter uma disciplina em sua rotina fora do trabalho, podendo assim, ter mais possibilidades de manter uma vida fisicamente ativa. 

Os docentes afirmam que as condições de trabalho demandam proatividade. Bateman e Crant (1993 apud KAMIA, 2007) conceituam a pessoa proativa como aquela que atua e modifica seu ambiente, não se abatendo ou deixando-se limitar pelas condições situacionais. Nesse sentido, podemos afirmar que um professor proativo mostra iniciativa perante a adversidade, antecipam e solucionam problemas e perseveram até alcançar os objetivos de aprendizagem.

Outra categoria encontrada nas falas de um docente é a mudança de profissão em decorrência do desgaste emocional com os fatores que desmotivam na prática pedagógica. Campos (2019) afirma que muitos professores abandonam a profissão por não conseguir lidar com todos os fatores estressantes do cotidiano. SOUZA POMIECINSKI e POMIECINSKI (2014) afirmam que docentes chegam a abandonar a profissão em decorrência de fatores como: desespero, sentimento de fracasso, perda da autoestima e da autoconfiança, solidão, depressão, 

A categoria aumento de faltas no trabalho foi apontada por um docente. Jbeile (2008 apud SOUZA POMIECINSKI; POMIECINSKI, 2014) destaca que em decorrência da diminuição do ânimo com as atividades que executam no trabalho há perda de vontade de ir ao trabalho. Com o passar do tempo, aparecem sintomas físicos (como dores genéricas) e psicológicos. O professor não se sente bem, mas não sabe dizer exatamente o que lhe incomoda e, em decorrência desses fatores, as faltas no trabalho aumentam em demasia. Nesse sentido, as faltas no trabalho acabam servindo como fuga dos problemas laborais que enfrenta.

Um professor destaca que muitas vezes tem que comprar material próprio para poder desenvolver algumas atividades nas aulas. Sobre essa questão, Molina Neto (2003) afirma que é comum que professores tenham que fazer coleta com alunos para que possam adquirir materiais para as aulas de Educação Física, ou tenham que organizar atividades junto à comunidade escolar para comprar novos materiais para as aulas de Educação Física.

Um docente levantou a necessidade de utilização de material alternativo em face da ausência de materiais em sua escola. Dos Santos (2012) afirma que alguns materiais podem ser facilmente utilizados como alternativa frente a precariedade da disponibilidade nas escolas públicas brasileiras, permitindo que grande parte dos alunos participem das aulas de Educação Física, ampliando suas capacidades e percepções. No entanto, o autor destaca alguns critérios que os materiais precisam ter para serem utilizados: Segurança, adequação, funcionalidade, transmissão de valores e acessibilidade. No mesmo sentido, Freire (2009) afirma que um material torna-se mais rico conforme ele também se torna mais variado. O autor destaca ainda que uma diversidade de materiais possibilita uma multiplicidade de experiências para as crianças e adolescentes. Faz ainda indicação de materiais que podem ser utilizados nas aulas de Educação Física, como pneus, caixas de papelão, latas, copos plásticos, bastões de madeira, bolas de meia, garrafas de plástico, sacos de estopa, tampinhas de garrafa etc.

Um professor destaca que ao se sentir motivado ele tem mais disposição em participar e construir projetos e atividades extraclasses colaborando com um trabalho interdisciplinar. Xavier (1986 apud KRUG; KRUG; TELLES, 2017) afirma que o desenvolvimento de um trabalho colaborativo entre os professores de diferentes componentes curriculares, juntamente com os demais profissionais da Educação, além de melhorar o ambiente de trabalho, proporciona apoio, intercâmbio de ideias, maior comunicação e coesão

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver um estudo com professores de Educação Física sobre os fatores motivantes e desmotivantes de suas práticas pedagógicas mostrou-se dificultoso. Os docentes não se sentem à vontade em relatar as condições precárias de trabalho a que estão submetidos. Notamos que em algumas questões houveram certa hesitação nas respostas, mesmo que os pesquisadores os deixassem bastante à vontade e buscassem um clima agradável durante a entrevista. Apesar disso, nenhum professor deixou de responder qualquer questão do roteiro de entrevista. Outra dificuldade diz respeito a conseguir um horário na jornada de trabalho dos professores para que eles pudessem fornecer os dados da investigação.

Apesar disso, consideramos que esta investigação foi exitosa tendo em vista que conseguimos caracterizar os principais motivos que proporcionam a motivação e aqueles que levam à desmotivação dos professores participantes da pesquisa, bem como identificamos como os professores geralmente lidam com essas adversidades.

Destacamos que as boas relações interpessoais é o principal fator que proporciona a motivação dos professores e evita o desenvolvimento de um trabalho desmotivado e em segundo lugar ficaram os resultados do trabalho pedagógico. Por sua vez, a infraestrutura precária, a falta de materiais e a desvalorização da Educação Física como componente curricular, são os principais fatores que levam a desmotivação dos professores. Em decorrência dos fatores que levam à desmotivação, os professores destacam o surgimento de sentimentos ruins em relação ao trabalho e abalo psicológico. Concluímos que, embora as condições materiais e de infraestrutura não sejam adequadas, às relações humanizadas que se estabelecem nas relações interpessoais com outros profissionais da educação e com os alunos no processo de ensino-aprendizagem, são capazes de proporcionar aos professores de Educação Física sentimentos intrínsecos para continuarem a exercer a profissão.

Destacamos, nesse sentido a necessidade de investigações futuras em torno de políticas públicas que visem a melhoria das condições de trabalho dos professores de Educação Física em Alenquer e região, bem como pesquisas que identifiquem em outros contextos se os fatores motivantes e desmotivantes da prática pedagógica em professores de Educação Física são os mesmos da realidade verificada.

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1 aldenir123p@gmail.com
Acadêmico concluinte CEDF/UEPA- PARFOR
2 rpereirabentes18@gmal.com
Acadêmico concluinte CEDF/UEPA- PARFOR
3 erivelton.f.sa@hotmail.com
Professor Orientador CEDF/UEPA- PARFOR