ANALYSIS OF RISK FACTORS ASSOCIATED WITH INJURIES IN CROSSFIT PRACTITIONERS: An Integrative Review
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412092352
Manoel Justino Neto1, Rafael Evangelista Luna2, Sâmia Eloi Oliveira3, Eduardo da Silva Coelho4, Astor de Jesus Peixoto Monteiro Júnior5, Paulo Guilherme Sampaio de Oliveira6, Breno Dias7, Lidyanne Cardoso Passos8, Francisco Mayron Sousa e Silva9, Naiana Deodato da Silva10
RESUMO
O CrossFit é um método de treinamento físico de alta intensidade que visa desenvolver habilidades em dez áreas de aptidão física. A prática desse treinamento tem sido associada a uma maior incidência de lesões, especialmente entre os homens, que tendem a buscar menos orientação dos instrutores. Este estudo teve como objetivo avaliar os fatores de risco para lesões em praticantes de CrossFit por meio de uma revisão de literatura, além de explorar abordagens fisioterapêuticas que visam potencializar o desempenho dos atletas e alunos. A coleta de dados foi realizada entre setembro e outubro de 2024, utilizando as bases de dados BVS, PubMed e LILACS, no período de 2016 a 2024. Foram encontrados 17 artigos (3 na BVS, 12 na PubMed e 2 na LILACS); ao final, 7 artigos foram considerados adequados para análise. Os resultados mostraram que os fatores de risco comuns para lesões em praticantes de CrossFit envolvem sobrecarga muscular e problemas articulares. Além disso, os resultados indicaram abordagens fisioterapêuticas eficazes para potencializar o desempenho dos atletas. Em conclusão, o estudo evidenciou a relevância das abordagens fisioterapêuticas para prevenir e tratar lesões em praticantes de CrossFit. A correta execução técnica dos exercícios, aliada às intervenções fisioterapêuticas direcionadas, é essencial para a redução dos riscos e para a melhoria do desempenho dos atletas.
Palavras-chave: CrossFit; Lesões; Fisioterapia.
ABSTRACT
CrossFit is a high-intensity physical training method that aims to develop skills in ten areas of physical fitness. The practice of this training has been associated with a higher incidence of injuries, especially among men, who tend to seek less guidance from instructors. This study aimed to evaluate the risk factors for injuries in CrossFit practitioners, through a literature review, and to explore physiotherapeutic approaches aimed at enhancing the performance of athletes and students. Data was collected between September and October 2024, using the VHL, PubMed and LILACS databases, from 2016 to 2024. There were 17 articles (3 in BVS, 12 in PubMed and 2 in LILACS), in the end, 7 articles were considered suitable for analysis. The results showed that the common risk factors for injuries in CrossFit practitioners involve muscle overload and joint problems, the results also indicated effective physiotherapeutic approaches to enhance the athletes’ performance. In conclusion, the study highlighted the importance of physiotherapeutic approaches to prevent and treat injuries in CrossFit athletes. The correct technical execution of exercises, combined with targeted physiotherapeutic interventions, is essential in reducing risks and improving athletes’ performance.
Keywords: CrossFit; Injuries; Physiotherapy.
1 INTRODUÇÃO
O método de treinamento físico integrado conhecido como CrossFit se baseia em treinamentos intervalados de alta intensidade, visando desenvolver habilidades que abrangem dez áreas de aptidão física reconhecidas pelo programa: resistência cardiovascular, resistência respiratória, força muscular, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão (Shim, Confino e Vance, 2023). Esse método inclui uma variedade de exercícios funcionais de diversas modalidades, como levantamento de peso no estilo olímpico e ginástica, entre outros, concentrando-se em movimentos práticos, ou seja, atividades físicas que reproduzem ações comuns do cotidiano ou movimentos naturais do corpo humano (Mangine et al., 2020; Scott et al., 2021).
Durante os treinos, é comum realizar uma variedade de exercícios, como agachamentos, levantamento terra, arrancos, flexões, burpees e diferentes atividades cardiovasculares. Esses movimentos são frequentemente executados por períodos determinados, sem intervalos ou pausas durante a prática intensiva, conforme observado por Meyer, Morrison e Zuniga (2017). Embora a modalidade ofereça inúmeros benefícios, a execução dos movimentos de maneira extrema ou incorreta pode aumentar o risco de lesões osteomioarticulares. Algumas dessas lesões podem surgir devido a movimentos inadequados, como a “arrancada” ou “explosão”, um grande volume de repetições realizadas de forma vigorosa e contínua, ou a falta de orientação adequada por profissionais capacitados (Lopes et al., 2018).
Neste contexto, no treino de CrossFit, é observada uma maior incidência de lesões em homens, já que eles tendem a buscar menos orientação dos instrutores em comparação com as mulheres, que frequentemente pedem ajuda com maior frequência (Weisenthal et al., 2014). De acordo com Reis, Reis e Santos (2022), as partes do corpo mais suscetíveis a lesões nessa prática incluem as articulações na região lombar, com 37% de incidência, o ombro com 21,01% e o joelho com 14,03%. Considerando a diversidade de modalidades esportivas e tipos de exercícios, o risco de lesões no CrossFit é semelhante ao de outras atividades esportivas comparáveis, como levantamento olímpico de peso, levantamento de peso e ginástica. No entanto, esse risco é menor do que o encontrado em esportes competitivos de contato, como rugby union e rugby league (Wagener et al., 2020). Como ressaltado por Szajkowski et al. (2023), a taxa de lesões no CrossFit é estimada em cerca de 3,1% para cada 1000 horas de prática.
Com a evolução dessa prática, torna-se fundamental adotar medidas preventivas para evitar lesões. A fisioterapia esportiva desempenha um papel essencial na proteção tanto de atletas profissionais quanto amadores. Ela ajuda a prolongar a carreira esportiva dos atletas, melhorando seu desempenho por meio de treinamentos seguros e prevenindo lesões que possam interromper os treinos ou levar à perda das conquistas esportivas já alcançadas (Sousa et al., 2023). É fato que existem poucos estudos que exploram a fisioterapia como um recurso fundamental para mitigar tais problemas. Essa escassez de estudos que conectam a fisioterapia ao CrossFit acaba prejudicando a formação de profissionais no campo esportivo. Sendo assim, este trabalho se propõe a avaliar os fatores de risco para lesões em praticantes de CrossFit por meio de uma revisão de literatura, buscando abordagens fisioterapêuticas para potencializar o desempenho dos atletas e alunos.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa refere-se a uma revisão integrativa, com abordagem qualitativa e método descritivo, visando favorecer a compreensão da análise científica dos dados referentes aos fatores de risco associados a lesões em praticantes de CrossFit.
Segundo Oliveira e Cavalcante (2020), uma revisão integrativa é uma metodologia de pesquisa que analisa e sintetiza criticamente a literatura disponível sobre um tema específico. Esse tipo de revisão proporciona uma visão abrangente do conhecimento atual, identificando lacunas, temas recorrentes e práticas recomendadas, além de oferecer ideias para futuras investigações. A revisão integrativa une estudos empíricos e teóricos, empregando uma abordagem sistemática e transparente na seleção, organização e interpretação dos dados, o que fortalece a validade e a amplitude dos resultados obtidos.
A análise dos dados pode ser realizada por meio de uma abordagem qualitativa descritiva, que propõe diversas possibilidades metodológicas. Essa abordagem permite identificar respostas nas distintas categorias de resultados encontrados na revisão integrativa. Para isso, é necessário dividir o processo em etapas, que incluem a redução, a apresentação e a comparação dos dados, culminando na conclusão e na verificação das informações (Oliveira; Cavalcante, 2020).
O levantamento bibliográfico dos dados foi realizado nos meses de setembro e outubro de 2024, nas seguintes bases de dados: BVS, PubMed e Lilacs. A pesquisa foi organizada de acordo com os critérios que regem o processo da revisão integrativa, seguindo os seguintes passos: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; categorização dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento (Botelho; Cunha; Macedo, 2011).
Figura 1 – Fases que compõe o processo da revisão integrativa
Fonte: Produzido pelos autores 2024, adaptado de Botelho, Cunha e Macedo (2011)
Na primeira etapa, com base na Figura 1 e seguindo os passos do ciclo, iniciamos com a escolha da temática. Para a questão norteadora, foi utilizada a estratégia PICO, que se detalha da seguinte forma: A modalidade CrossFit gera impactos na qualidade de vida de seus praticantes? Sendo que: P (Paciente ou problema), I (Intervenção), C (Controle ou comparação), O (Desfecho). Assim, para este estudo, temos: P (Praticantes), I (CrossFit), C (não se aplica), O (qualidade de vida).
Na segunda etapa, foram delimitados os critérios de inclusão e exclusão, sendo incluídos trabalhos que relacionam o método CrossFit e a qualidade de vida, artigos com texto completo disponível, estudos realizados nos últimos 8 anos (2016 a 2024), que sejam gratuitos para livre acesso, e que correspondam aos termos de busca em inglês ou português. Foram excluídos artigos publicados antes de 2016, artigos de revisão sistemática, artigos duplicados, artigos que não contenham estudos de caso, artigos com menos de 10 pacientes ou com menos de 12 semanas de intervenção pelo método.
Na terceira etapa, foram identificados os estudos pré-selecionados, assim como sua categorização. Como já citado anteriormente, foi utilizada a estratégia PICO para determinar a questão-problema da pesquisa, permitindo que o estudo seja mais bem fundamentado, o que possibilita respostas mais claras e precisas em relação às indagações pertinentes à temática (Santos et al., 2007).
Com relação aos descritores controlados, foram consultados os termos presentes no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH) (Quadro 1).
Quadro 1 – Descritores controlados utilizados de acordo com a tabela PICO.
P | Paciente ou problema | Praticantes |
I | Intervenção | CrossFit |
C | Controle ou comparação | X |
O | Desfecho | Qualidade de vida |
Fonte: Produzidos pelos autores, 2024.
A quarta etapa compreende a categorização dos dados, a qual foi realizada por meio de uma triagem independente, conduzida por dois pesquisadores em ambientes separados. Ao final das buscas, foi realizada uma comparação e análise dos estudos para certificar-se de que atendiam aos critérios de inclusão e exclusão. Foram utilizados os operadores boleanos “E” ou “AND” para a combinação dos descritores, permitindo assim a formação de expressões combinadas.
Na quinta etapa, os artigos que atenderam aos critérios da pesquisa foram analisados pelos autores e organizados em uma tabela para facilitar a separação dos dados. A sexta etapa envolve a síntese de todo o processo. Os dados foram organizados em uma tabela contendo o nome do autor, ano de publicação, nome do periódico, tipo de estudo, objetivos, metodologia, amostra/grupos e desfechos, com o intuito de melhorar o entendimento do leitor. Em seguida, foi feita a apresentação da revisão de forma clara e detalhada, visando possibilitar uma maior compreensão dos resultados da pesquisa.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Resultados
Com base nos critérios definidos para o período de 2016 a 2024, foram identificados 17 artigos nas bases de dados selecionadas: 3 na plataforma BVS, 12 na PubMed e 2 na LILACS. Após a análise inicial dos títulos, 14 artigos foram considerados relevantes e selecionados para a avaliação dos resumos. Durante essa etapa, 5 artigos foram excluídos por não apresentarem relação com o tema, 1 por estar incompleto e 1 por ser duplicado. Dessa forma, 7 artigos foram considerados adequados para análise completa. A leitura desses artigos foi realizada de maneira criteriosa e detalhada, sendo cada um avaliado de forma independente e selecionado conforme os critérios de elegibilidade. Ao final, 7 artigos foram integrados a este estudo. Todo o procedimento de coleta e seleção dos artigos está ilustrado em um fluxograma, apresentado a seguir (figura 2).
Figura 2 – Fluxograma de seleção de Artigos de Pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
Após a triagem dos artigos selecionados na etapa inicial, procedeu-se à análise detalhada de cada estudo, considerando critérios essenciais para assegurar a relevância e a qualidade científica da pesquisa. Foram avaliados aspectos como a autoria, o ano de publicação, o objetivo específico do estudo, o delineamento metodológico e os principais resultados obtidos. Com o intuito de facilitar a visualização e permitir uma análise comparativa entre os diferentes estudos selecionados, será apresentada, a seguir, um quadro (quadro 2) com a síntese, estrutura que sistematiza as informações relevantes, oferecendo uma visão integrada dos aspectos analisados.
Quadro 2 – Análise dos artigos por autor(es), objetivo, tipo de estudo e resultados.
AUTORES/ANO TIPO DE ESTUDO | NOME DE REVISTA | OBJETIVO | AMOSTRA | MÉTODOS | RESULTADOS |
Hopkins et al., 2017 Estudo Prospectivo | Clin J Sport Med | Examinar o tipo de lesões que ocorrem com os treinos de alta intensidade de CrossFit, que poderão eventualmente conduzir a medidas preventivas de futuras lesões. | 498 Pacientes | Avaliação de prontuários de cirurgias ortopédicas. | Entre as lesões da coluna vertebral, a localização mais comum da lesão foi a coluna lombar (83,1%). A duração média dos sintomas foi de 6,4 meses 6 15,1, sendo as queixas radiculares o sintoma mais comum (53%). |
Lopes et al., 2019 Estudo de campo, transversal, descritivo | Fisioter Bras | Captar dados que possam embasar a percepção das condutas fisioterapêuticas entre os praticantes de CrossFit®. | 98 Pacientes | Análise dos questionários relacionados aos atendimentos de fisioterapia para resolver disfunções geradas pelo crossfit | Há uma boa tendência de procura e aceitação dos tratamentos fisioterápicos em lesões bem como em atendimentos periódicos e com uma alta taxa de resolubilidade nos atendimentos a possíveis lesões no público praticante de CrossFit®. |
Jusdado-García; Cuesta-Barriuso, 2021 Estudo piloto randomizado | Int. J. Environ. Res. Saúde Pública | Determinar a eficácia da mobilização de tecido mole assistida por instrumento e alongamento de adução horizontal em ombros de praticantes de CrossFit. | 24 participantes | O teste de Shapiro-Wilk foi usado para analisar a distribuição da amostra. O teste t de Student paramétrico foi usado para obter as diferenças intragrupo. | A mobilização de tecidos moles assistida por instrumento pode melhorar a adução horizontal e a rotação interna do ombro. |
Benjamin et al., 2022 Pesquisa qualitativa e prospectiva | Rev Sensores | Determinar o efeito da fadiga na atenuação da onda de choque de impacto e avaliar como a biomecânica humana se relaciona com a atenuação do choque durante a corrida. | 05 atletas | Dois acelerômetros Micromachined Microelectromechanical Systems (MEMS) (RunScribe ®, San Francisco, CA, EUA) foram usados para este experimento. Os dois pods RunScribe foram montados no topo do pé nos cadarços. | Para todos os cinco atletas para a 3ª corrida os picos médios do SRS foram significativamente maiores do que para a 1ª corrida e a 2ª corrida (p < 0,01) na mesma frequência natural do atleta. Isso confirma nossa hipótese de que a fadiga causa uma diminuição na capacidade de atenuação de choque do sistema musculoesquelético, envolvendo potencialmente um risco maior de lesão por uso excessivo. |
Bakaraki et al., 2024 Estudo piloto | Rev Cureus | Introduzir uma ferramenta inovadora de avaliação funcional projetada para atletas de CrossFit, para identificar um alto risco de lesão na articulação do ombro. | 40 participantes | A avaliação do desempenho por meio do CrossFit Functional Assessment Battery for the Shoulder Joint (CrossFit FABS) | CrossFit Functional Assessment Battery for the Shoulder Joint (CrossFit FABS) foi apresentado pela primeira vez. O coeficiente kappa de Cohen foi usado para analisar dados categóricos. A bateria de testes foi estabelecida como confiável para avaliar rotinas de desempenho de alto risco de lesão para a articulação do ombro em atletas de CrossFit. |
Lenz et al., 2024 Análise de coorte retrospectiva | Open Access Journal of Sports Medicine | Conduzir investigação epidemiológica sobre os tipos e causas de lesões durante o treinamento de CrossFit ® na Alemanha. | 308 participantes | Análise de questionário padronizado online alemão utilizando a plataforma “SoSci Survey” | Os tipos de lesões incluíram feridas (23,3%), contusões, torções ou distensões (acumulado 30,8%) e fraturas (2,9%). Causas notáveis de lesões incluíram quedas durante Pull-Ups e hérnia de disco lombar ligada a Deadlifts. |
Williams; Méndez, 2024 Relato de caso | Argentinian journal of respiratory and physical therapy | Descrever a avaliação cinésica e o tratamento de um atleta de elite de CrossFit em um consultório particular de cinesiologia. | Uma Paciente do sexo feminino, 28 anos, atleta de elite de CrossFit, | tratamento fisioterapêutico focado principalmente na progressão através de vários exercícios terapêuticos. | A ótima progressão dos exercícios durante o tratamento, aliada à comunicação fluida entre o atleta, o treinador e o cinesiologista, permitiram o retorno ao treino diário com o mesmo nível de cargas, intensidade e volume de antes. O paciente retornou às competições 45 dias após a alta cinestésica. |
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
3.2 Discussão
A execução técnica adequada dos exercícios é um dos pilares para a prevenção de lesões no treinamento físico. No entanto, essa execução nem sempre é garantida, seja por falta de conhecimento ou, mais comumente, devido à fadiga acumulada durante a prática. No contexto do CrossFit, essa questão se torna ainda mais relevante devido às suas características intensas, que envolvem altas repetições, cargas elevadas e grande velocidade. Esses fatores aumentam a exigência física do atleta e, por consequência, elevam o risco de comprometimento da técnica ao longo do treino.
Quando o atleta chega à fadiga, a forma de execução tende a se deteriorar, comprometendo a mecânica dos movimentos. Esse fenômeno é evidente em exercícios como o deadlift (levantamento terra) e o clean, nos quais a técnica correta é essencial para garantir a segurança das articulações e estruturas envolvidas. A má execução desses movimentos, principalmente quando realizados sob cansaço extremo, pode levar a uma série de lesões, com destaque para as lesões na coluna lombar, região vulnerável devido às forças de compressão e torção que se aplicam durante o levantamento (Hak; Hodzovic; Hickey, 2013).
Lesões na coluna lombar, por exemplo, podem surgir quando o movimento de flexão e extensão da coluna é realizado de forma inadequada. A falta de controle adequado no movimento, muitas vezes exacerbada pela fadiga, pode provocar distensões musculares, lesões nos discos intervertebrais e até danos mais graves às estruturas ósseas e ligamentos da região.
Um estudo realizado por Hopkins et al. (2017) investigou lesões relacionadas ao CrossFit. A pesquisa analisou pacientes atendidos em um grande centro acadêmico entre junho de 2010 e junho de 2016, identificando 498 indivíduos com 523 lesões, sendo que as mais comuns ocorreram na coluna, representando 20,9% dos casos, sendo a coluna lombar o local mais frequentemente afetado (83,1%).
Os resultados do estudo mostraram que as lesões na coluna geralmente resultaram em queixas radiculares (53%) e, em 32% dos casos, déficits neurológicos foram identificados. Além disso, a duração média dos sintomas foi de 6,4 meses, e 6,7% dos pacientes precisaram de intervenção cirúrgica após aproximadamente 9,66 meses de tratamento conservador. Esses fatores, quando aliados a técnicas inadequadas ou à falta de experiência dos praticantes, contribuem para o aumento do risco de lesões, muitas vezes graves o suficiente para intervenção cirúrgica. Nesse contexto, a atuação fisioterapêutica é fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento dessas lesões, sendo essencial para corrigir padrões de movimento, reabilitar a funcionalidade e minimizar o impacto a longo prazo nos participantes (Hopkins et al., 2017).
Lopes et al. (2019) tiveram como objetivo captar dados que possam embasar a percepção das condutas fisioterapêuticas entre os praticantes de CrossFit®, focando nas lesões musculoesqueléticas e na atuação dos fisioterapeutas. O estudo revelou que 75,6% dos praticantes de CrossFit que participaram da pesquisa já haviam recebido tratamento fisioterapêutico devido a lesões. As especialidades mais procuradas foram a osteopatia, com 40% das respostas, seguida pela fisioterapia esportiva (37,5%), fisioterapia convencional (12,5%) e quiropraxia (9,4%). A pesquisa também mostrou que a maioria dos atletas necessitou de até três atendimentos fisioterapêuticos, com uma taxa de melhora de 75%, o que indica uma alta eficácia dos tratamentos realizados.
O estudo de Jusdado-García e Cuesta-Barriuso (2021) objetivou analisar a eficácia da mobilização de tecido mole assistida por instrumento, associada ao alongamento de adução horizontal, no tratamento de lesões no ombro de praticantes de CrossFit. No estudo, 21 praticantes regulares de CrossFit foram alocados em dois grupos: o grupo experimental, que recebeu a combinação de alongamento com contração isométrica e mobilização de tecido mole assistida por instrumento, e o grupo controle, que foi tratado exclusivamente com a mobilização de tecido mole assistida. Cada sessão de tratamento durou 5 minutos, com uma frequência de duas vezes por semana, ao longo de um período de 4 semanas.
Os resultados demonstraram que o grupo experimental obteve melhorias significativas na rotação interna e na adução horizontal do ombro após a intervenção, com valores de p < 0,05, indicando a eficácia das técnicas combinadas. Já o grupo controle também apresentou algumas melhorias, mas as diferenças observadas foram menos expressivas, especialmente no que diz respeito à rotação interna do ombro e adução horizontal esquerda (Jusdado-García; Cuesta-Barriuso, 2021).
O estudo de Benjamim et al. (2022) teve como objetivo principal investigar o efeito da fadiga na capacidade de atenuação da onda de choque de impacto durante a corrida, além de explorar a relação entre a biomecânica humana e a resposta ao choque em um contexto de fadiga. A pesquisa propôs uma metodologia inovadora para analisar eventos de choque que ocorrem durante a corrida, utilizando a ferramenta conhecida como Shock Response Spectrum (SRS).
Cinco atletas de CrossFit de alto nível participaram do estudo, todos correndo pelo menos três vezes por semana e sem histórico de lesões musculoesqueléticas. Cada participante realizou três corridas de intensidade máxima. Os resultados demonstraram que houve uma correlação direta entre a fadiga e o aumento na agressividade do SRS (Benjamim et al., 2022).
Este estudo tem implicações diretas para a fisioterapia, especialmente no contexto de corredores e praticantes de CrossFit. A redução na capacidade de atenuação do impacto, observada com o aumento da fadiga, sugere que os músculos e estruturas do sistema musculoesquelético ficam mais vulneráveis a lesões durante atividades de alto impacto, como a corrida. A atuação fisioterapêutica, portanto, deve focar na prevenção de lesões por uso excessivo, especialmente em atletas expostos a condições de fadiga frequente (Benjamim et al., 2022).
Bakaraki et al. (2024), por sua vez, buscou a introdução e validação de uma ferramenta inovadora de avaliação funcional, voltada para a articulação do ombro de atletas praticantes de CrossFit. O estudo propôs a utilização da CrossFit Functional Assessment Battery for the Shoulder Joint (CrossFit FABS), uma bateria de testes desenvolvida para identificar possíveis déficits de movimento.
Para isso, foram recrutados 40 participantes saudáveis praticantes de CrossFit para avaliar a confiabilidade interavaliadores, e 20 indivíduos foram testados em dois momentos distintos para avaliar a confiabilidade teste-reteste. Os resultados do estudo mostraram que a confiabilidade entre os avaliadores variou de 0,824 a 1,00, com um valor de p significativo de 0,000, indicando uma forte correlação entre as avaliações realizadas por diferentes examinadores.
Esses resultados são particularmente importantes no contexto da fisioterapia e da prevenção de lesões no ombro dos praticantes de CrossFit. O CrossFit FABS, ao identificar déficits de movimento e riscos potencialmente elevados de lesões, oferece uma análise para os fisioterapeutas no diagnóstico precoce de condições que podem levar a lesões no ombro, como tendinites, bursites e lesões do manguito rotador. Em conclusão, o estudo de Bakaraki et al. (2024) fornece evidências de que o CrossFit FABS é uma ferramenta confiável e eficaz para a avaliação funcional do ombro em atletas de CrossFit.
O estudo de Lenz et al. (2024) tem como objetivo analisar epidemiologicamente as lesões relacionadas ao treinamento de CrossFit® na Alemanha, identificando os tipos, causas e fatores de risco mais comuns. A pesquisa envolveu 308 atletas de CrossFit®, com idades entre 20 e 40 anos. Os resultados mostraram que 28,6% dos participantes sofreram lesões, sendo a maioria (55,3%) durante o treinamento.
As lesões mais comuns foram feridas (23,3%), contusões, torções e distensões (30,8%), e fraturas (2,9%). As atividades mais associadas às lesões foram exercícios com barra, como Snatch e Clean, além de Box Jump e Pull-Ups. Em relação ao tratamento, 50,6% dos atletas não precisaram de intervenção médica, enquanto 34,1% realizaram fisioterapia, 21,2% tomaram medicação e 8,2% precisaram de cirurgia. A fisioterapia, portanto, foi um recurso importante na reabilitação das lesões, com a maioria dos atletas que se lesionaram buscando esse tratamento (Lenz et al., 2024).
O estudo de Williams e Méndez (2024) descreveu a avaliação cinésica e o tratamento de um caso de lesão muscular do dorsal largo (LAD) em uma atleta de elite de CrossFit. A paciente, uma mulher de 28 anos, sofreu a lesão durante uma competição de CrossFit. A lesão foi confirmada por ultrassonografia 72 horas após o incidente, e o tratamento cinésico foi iniciado imediatamente. O tratamento foi focado em exercícios terapêuticos progressivos e monitorado por meio de avaliações regulares.
Os resultados indicam que a paciente apresentou uma recuperação bem-sucedida, com uma progressão ótima dos exercícios terapêuticos e uma significativa melhoria nos sintomas. No entanto, o estudo também mostrou a importância da fisioterapia na prevenção e recuperação de lesões musculares, sendo uma ferramenta essencial para promover a recuperação completa e prevenir recidivas, especialmente em atletas que praticam modalidades de alto impacto, como o CrossFit (Williams; Méndez, 2024).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo destacou a relevância de compreender os fatores de risco para lesões em praticantes de CrossFit, especialmente no contexto da atuação fisioterapêutica. O objetivo de avaliar esses fatores e identificar abordagens terapêuticas para otimizar o desempenho dos atletas foi, em grande parte, alcançado, uma vez que foi possível verificar que a execução técnica inadequada, frequentemente associada à fadiga acumulada, é um dos principais fatores de risco para lesões em CrossFit.
No contexto das lesões, a atuação fisioterapêutica surge como uma ferramenta essencial na prevenção e no tratamento, com foco na reabilitação progressiva, correção de padrões de movimento e recuperação funcional. As evidências analisadas demonstram que intervenções fisioterapêuticas eficazes podem reduzir a ocorrência de lesões recorrentes, contribuindo para a continuidade e o desempenho do atleta.
No entanto, ficou evidente que a área ainda necessita de mais estudos aprofundados para estabelecer protocolos terapêuticos mais precisos e baseados em evidências, especialmente considerando a diversidade de lesões e os diferentes níveis de intensidade exigidos no CrossFit. O desenvolvimento de novas estratégias de avaliação funcional e o aprimoramento das técnicas de prevenção são essenciais para garantir a segurança e o desempenho dos praticantes. Assim, este trabalho reforça a importância da fisioterapia na otimização do desempenho atlético, sendo fundamental para a promoção de uma prática segura e eficaz.
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1Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Pedreiras – MA. Email: justinonetomanoel@hotmail.com
2Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Pedreiras – MA. Email: faelluna777@hotmail.com
3Discente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. E-mail: seo@faesf.com.br
4Especialista em Medicina Esportiva e Fisiologia do Exercício, Pedreiras-MA. Email: eduardocoelho665@gmail.com
5Graduado em fisioterapia, Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Distrito Federal – DF. Email: astorfisioudf@gmail.com
6Graduado em fisioterapia, Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Pedreiras – MA. E-mail: Paulosampaiofisio@gmail.com
7Graduado em fisioterapia, Uniceuma – MA. E-mail: fisiobrenodias@gmail.com
8Especialista em Gestão em saúde e Administração hospitalar, Faculdade ITOP-TO. Email: lidypassos95@gmail.com
9Coorientador. Doutorando em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Piauí, Teresina – PI. Email: mayrondcf@gmail.com
10Orientadora. Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Pedreiras – MA. Email: Mestre em Farmacologia – UFPI. E-mail: naiana35@hotmail.com