ANÁLISE DE ESTUDOS BASEADOS EM EVIDÊNCIA DE FERRAMENTAS EM SAÚDE DIGITAL EM SERVIÇOS DE SAÚDE

ANALYSIS OF EVIDENCE-BASED STUDIES OF DIGITAL HEALTH TOOLS IN HEALTH SERVICES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202410311710


Aline Araújo Ferreira Fernandes1
Larissa Londe Porto2
João de Sousa Pinheiro Barbosa3
Maria Eduarda Marques da Silva4
Suellen Pereira de Souza Queiroz5
Divinamar Pereira6
Patrícia Gomes Pereira Barbosa7
Idalécio Barreto Fernandes8
Felipe Marinho Pereira9
Thalita Gomes de Sousa Fachinelli10


Resumo

A saúde digital é descrita como um campo de informação e prática relacionada ao desenvolvimento com o uso de tecnologias digitais em saúde. Relacionado à saúde eletrônica (e-saúde). Ferramentas como o e-SUS Hospitalar e o e-SUS Atenção Básica permitem a coleta e o registro eficientes de dados de saúde, enquanto iniciativas como o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Objetivos: Avaliar a efetividade da implementação da Estratégia Brasileira de Saúde Digital, do Programa Connect SUS e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) na melhoria do acesso aos serviços de saúde digital em diferentes regiões do Brasil. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica integrativa. A pesquisa será realizada através Descritores em Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): combinado com o operador booleano AND e OR: Descritores DeCS/MeSH sobre “Saúde Digital” e Descritores DeCS/MeSH sobre “Serviços de Saúde”. Resultados: Os estudos mostram que tecnologias digitais, como mHealth e telemedicina, trazem impactos positivos no cuidado à saúde, mas enfrentam desafios de adesão prolongada e implementação. Estratégias adaptativas, apoio contínuo e personalização podem maximizar a eficácia dessas ferramentas, especialmente em condições crônicas, populações jovens, idosas e em áreas de recursos limitados. Discussão: A saúde digital no Brasil busca modernizar o sistema com programas como o Conecte SUS e a RNDS, que integram dados para facilitar o acesso e a continuidade do cuidado. Considerações finais: A saúde digital, por meio de tecnologias como mHealth e telessaúde, transforma o acesso e a eficiência dos serviços de saúde, especialmente para áreas remotas e em condições crônicas. A falta de adaptação a essas inovações pode aumentar desigualdades e sobrecarregar o sistema de saúde, tornando urgente a transição para serviços mais conectados e inclusivos.

Palavras-chave: Saúde eletrônica; telemedicina; saúde digital; informática em saúde.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde digital é descrita como um campo de informação e prática relacionada ao desenvolvimento com o uso de tecnologias digitais em saúde. Relacionado à saúde eletrônica (e-saúde), as instituições de saúde e as populações gerais. Envolve tecnologias inovadoras, como a inteligência artificial, a Big data, dispositivos móveis e wearable, além de processos de interconexão remota, aderindo o tratamento mais abrangente e contínuo de dados de saúde (Rachid et al., 2023). 

Este estudo tem como objetivo investigar o impacto da implementação da Estratégia Brasileira de Saúde Digital e iniciativas relacionadas no acesso, qualidade e segurança dos serviços de saúde digital, a fim de avaliar a efetividade dessa estratégia, do Programa Connect SUS e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) no Brasil. Além disso, o trabalho pretende analisar o papel das tecnologias emergentes, como a telemedicina e inteligência artificial, na melhoria da gestão e atendimento à saúde no contexto digital.

A transformação digital na saúde representa uma mudança fundamental nos serviços e sistemas de saúde, onde mais serviços e processos estão sendo digitalizados. Para Martinez et al., 2023, a tecnologia pode ser utilizada de diversas maneiras, indo além do acesso a informações ou vídeo consultas. Ela pode ser útil para pacientes dependentes e/ou com necessidades especiais através de robôs, dispositivos de assistência e sistemas de segurança. Esses recursos têm mostrado melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e sua sensação de segurança. Os benefícios da saúde digital incluem uma melhor gestão de informações clínicas, redução de erros, coordenação mais eficaz do cuidado e inovação contínua.

Ferramentas como o e-SUS Hospitalar e o e-SUS Atenção Básica permitem a coleta e o registro eficientes de dados de saúde, enquanto iniciativas como o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) facilitam a integração e interoperabilidade dos sistemas de saúde (Rachid et al., 2023). A implementação de iniciativas de saúde digital no Brasil, como a Estratégia Brasileira de Saúde Digital, o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), tem contribuído para aprimorar o acesso, a qualidade e a segurança dos serviços de saúde. Essas iniciativas visam à integração de dados e à melhoria da infraestrutura tecnológica no sistema de saúde, impactando diretamente a prestação de cuidados. 

No entanto, como os programas de saúde digital estão influenciando o acesso, a qualidade e a segurança dos serviços de saúde no Brasil, e de que forma podem ser criadas oportunidades para os profissionais da saúde, garantindo ao mesmo tempo um acesso equitativo, considerando o desafio da exclusão digital em áreas remotas e rurais? 

Portanto, levanta-se a hipótese de que com o apoio de normativas específicas e o monitoramento contínuo, o Brasil está preparado para avançar significativamente na jornada rumo a uma saúde digital mais madura e inclusiva, beneficiando tanto profissionais quanto pacientes em todo o país. 

Esta pesquisa justifica-se para oferecer uma análise detalhada e contextualizada sobre a implementação de políticas de saúde digital no Brasil, expandindo assim o conhecimento existente nesta área. Os resultados não apenas poderão servir como base para investigações futuras em diferentes contextos e regiões, mas também têm o potencial de informar os enfermeiros sobre as melhores práticas e estratégias para uma eficaz implementação de tecnologias digitais na saúde.

Nesse contexto, busca-se atingir os seguintes objetivos: Avaliar a efetividade da implementação da Estratégia Brasileira de Saúde Digital, do Programa Connect SUS e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) na melhoria do acesso aos serviços de saúde digital em diferentes regiões do Brasil. Investigar os mecanismos de governança e regulamentação utilizados na gestão e compartilhamento de dados de saúde na RNDS, analisando seus impactos na segurança, privacidade e integridade das informações dos usuários. Examinar o nível de engajamento dos usuários com os serviços de saúde digital, identificando os fatores que influenciam sua adoção, utilização e satisfação, bem como as barreiras e desafios enfrentados pelos diferentes segmentos da população brasileira.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A saúde digital, conforme descrito pela OMS, integra inovações tecnológicas como a inteligência artificial e a análise de grandes volumes de dados para promover o acesso à saúde de maneira eficiente e contínua. No Brasil, programas como o Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) têm se mostrado cruciais para integrar serviços e melhorar a acessibilidade e governança dos dados de saúde, facilitando a continuidade do cuidado. Além disso, a telessaúde e a telemedicina desempenham papéis fundamentais na superação de barreiras geográficas e na ampliação da cobertura, enquanto a capacitação dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, e dos pacientes no uso dessas ferramentas. Essas iniciativas promovem a equidade no acesso e a segurança na prestação de serviços de saúde digital.

2.1 Efetividade da Estratégia de Saúde e do Conecte SUS no Acesso à Saúde no Brasil

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde digital é descrita como um campo de informação e prática relacionada ao desenvolvimento com o uso de tecnologias digitais em saúde. Sendo assim, esse conceito pode ser compreendido amplamente quando relacionado à saúde eletrônica (e-saúde), visando não somente as instituições de saúde, como também as populações gerais. Podendo envolver a utilização de tecnologias inovadoras, sendo a inteligência artificial uma delas, a análise de grandes volumes de dados, ou seja, a Big data, dispositivos móveis e wearable, além de processos de interconexão remota, aderindo o tratamento mais abrangente e contínuo de dados de saúde (Rachid et al., 2023). 

Abrangendo o uso de tecnologias da informação e comunicação no setor da saúde, visando melhorar a qualidade, eficiência e acessibilidade dos serviços. Originada nos anos 90, sua definição evoluiu com o desenvolvimento de sistemas eletrônicos de registro de informação de saúde, como o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), que desenvolve e mantém os sistemas de informática do SUS, registrando e processando informações de saúde das instituições participantes. Entre seus principais sistemas estão o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), o Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) e o Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS). Este último coleta dados de 60% a 70% das internações hospitalares financiadas pelo SUS (Viana et al., 2023).

Para o estabelecimento da Saúde Digital foi necessário um longo período de implementação da Saúde Digital no Brasil, onde representa mais de 47% de todo território da América Latina, nessa perspetiva há grandes desafios para implementação da Saúde Digital, portanto o Quadro 01 apresenta o histórico da Saúde Digital no Brasil.

Quadro 1 – Normas relativas à Informação em Saúde

AnoAto NormativoDescrição evidenciando as questões de informação em saúde
1990Lei 8.080/1990Lei Orgânica da Saúde. Art. 47 estabelece que o Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do SUS, organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações em saúde, o Sistema Nacional de Informações em Saúde (SNIS).
1991Decreto 100/1991Cria o Departamento de Informática do SUS (DATASUS) como parte da Fundação Nacional de Saúde (FNS), a partir da incorporação de bens da Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev).
1996Portaria GM/MS 2.390/1996Institui a Rede Integrada de Informações para a Saúde (RIPSA).
1998Resolução CNS 227/1998Cria a Comissão Intersetorial de Comunicação e Informação em Saúde (CICIS).
1999Lei 9.782 de 1999Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e cria a Anvisa.
2000Lei 9.961 de 2000Cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
2002Portaria GM/MS 1.919/2002Cria a Rede Interagência de Informações para a Saúde (RIPSA).
2004Relatório da 12a Conferência Nacional de SaúdePublicação da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde após discussão e recomendações da 12a Conferência Nacional de Saúde.
2005Resolução CNS 349/2005Reforma a Comissão Intersetorial de Comunicação e Informação em Saúde (CICIS).
Inst. Normativa ANS 114/2005Cria o Comitê̂ de Padronização das Informações em Saúde Suplementar (COPISS).
2006Portaria GM/MS 495/2006Determina a reestruturação da Rede Interagência de Informações para a Saúde (RIPSA).
2009Portaria GM/MS 2.466/2009Cria o Comitê̂ de Informação de Informática em Saúde (CIINFO/MS).
2011Decreto 7.579/2011Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP) com a finalidade de definição da política de gestão de recursos de tecnologia da informação do poder executivo federal.
Portaria GM/MS 2.072/2011Reformula o Comitê de Informação de Informática em Saúde (CIINFO/MS).
2015Portaria GM/MS 589/2015Institui a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS).
2016Resolução CIT 05/2016Institui o Comitê Gestor da Estratégia e-Saúde.
2017Resolução CIT 19/2017Aprova a Estratégia de e-Saúde para o Brasil.
Portaria de Consolidação 1/2017Consolidação das normas sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde, a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde.
2019Decreto 9.795/2020Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério da Saúde, criando o Departamento de Saúde Digital.
Resolução CIT 46/2019Institui o Comitê Gestor da Estratégia de Saúde Digital e define a sua composição, as suas competências e as suas unidades operacionais na estrutura do Ministério da Saúde, em substituição ao Comitê Gestor da Estratégia de e-Saúde no Brasil.
2020Decreto 10.230/2020Dispõe sobre o Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP), do Poder Executivo Federal.
Decreto 10.332/2020Institui a Estratégia de Governo Digital para o período de 2020 a 2022.
Portaria GM/MS 1.434/2020Institui o Programa Conecte SUS e altera a Portaria de Consolidação GM/MS 1/2017, para instituir a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
Portaria GM/MS 3.632/2020Institui a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 (ESD28).
2021Portaria GM/MS 1.046/2021Estabelece as regras para integração dos resultados de exames realizados para a detecção da COVID-19 por laboratórios da rede pública, rede privada, universitários e quaisquer outros, em todo território nacional na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
Portaria GM/MS 1.068/2021Institui o Modelo de Informação de Resultado de Exame Laboratorial COVID-19 na RNDS, plataforma de dados do Ministério da Saúde que visa a troca da informação assistencial entre os diversos pontos de atenção à saúde.
Portaria GM/MS 1.768/2021Aprova a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS).

Fonte: RACHID et al. (2023).

O Ministério da Saúde (MS), conforme o exemplo da Organização Mundial da Saúde, começou a promover uma iniciativa de Estratégia de Saúde Digital a partir de 2019, avançando em relação às ações anteriores. Baseando-se nesta iniciativa política, o Ministério da Saúde efetuou ações nacionais, como o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde. Com isso, projetou uma revisão da Política Nacional de Informação e Informática em saúde para alcançar a saúde digital. Entretanto, a Estratégia Brasileira de Saúde Digital ainda não foi adequadamente avaliada para a compreensão dos seus impactos e limitações (Rachid et al., 2023).

Também promove a continuidade do cuidado, integrando diferentes níveis de atenção e permitindo que o governo formule políticas públicas mais eficientes e baseadas em dados. Assim como a promoção da segurança e privacidade dos dados de saúde, assegurando a confidencialidade e integridade das informações, o que gera confiança entre usuários, profissionais e gestores. A saúde digital democratiza o acesso aos serviços de saúde, reduz desigualdades e incentiva uma abordagem preventiva e personalizada no cuidado com a saúde da população (Estratégia de Saúde Digital, 2020).

A saúde digital desempenha um papel crucial na transformação do sistema de saúde, promovendo uma abordagem mais centrada no paciente, família e comunidade. Iniciativas como a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 (ESD28) destacam a importância da integração de tecnologias digitais para melhorar a gestão de informações de saúde e facilitar o acesso aos serviços. O objetivo principal é implementar diretrizes para melhor atender o usuário dos serviços de saúde, focando na informação, nos serviços e no apoio aos processos de saúde. Além disso, ela contribui para a redução de disparidades no acesso aos cuidados de saúde, ampliando o alcance e a eficácia dos serviços (Rachid et al., 2023).

O Brasil está aplicando estratégias de saúde digital que favorecem a segurança dos dados e fortalecem a credibilidade do setor. Estas diligências também visam engajar os profissionais de saúde, aprimorar o atendimento aos usuários e aumentar a conscientização sobre saúde digital. Além disso, sucede um foco em promover a saúde digital nas comunidades, comprovando o beneficiamento de todos com estas melhorias (Ministério da Saúde, 2020).

No contexto atual dos serviços de saúde, tornou-se essencial a utilização de novas tecnologias de informação, no entanto, no Brasil ainda há certa hesitação em integrar esses avanços de forma permanente. Embora haja desafios na aceitação desse modelo, é importante ressaltar suas vantagens, como a ampliação e facilitação do acesso aos serviços de saúde. Durante a pandemia de COVID-19, houve um aumento exponencial no uso da telemedicina e outras formas de cuidados à distância, especialmente para pacientes crônicos que necessitam de acompanhamento contínuo. Essa abordagem visa superar obstáculos de acesso, proteger os dados dos pacientes e oferecer opções alternativas para avaliações médicas presenciais (Freire et al., 2023).

A Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 (ESD28), juntamente com a RNDS e o Programa Conecte SUS, representam os pilares da transformação digital do sistema de saúde brasileiro. Essas iniciativas visam integrar e interoperabilizar os sistemas de saúde, facilitando o acesso às informações e serviços em todo o país. Além disso, a plataformatização do Estado brasileiro, destacada pela centralização de dados e privatização de infraestruturas, influencia a implementação da saúde digital (Rachid et al., 2023).

Buscando impulsionar os avanços digitais na saúde brasileira, aplicando tecnologias de informação e comunicação para aprimorar o acesso, a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde. Sua meta central é aprimorar o acompanhamento da saúde dos indivíduos, proporcionando uma constância do cuidado e um suporte primordial. Ademais, pretende fortalecer a gestão da saúde da população, incluindo o controle de surtos epidemiológicos, e contribuir para aprimorar o atendimento em todos os níveis de cuidado e a gestão dos serviços de saúde (Estratégia de Saúde Digital, 2020).

O desdobramento da Estratégia de Saúde Digital estabeleceu a informatização da atenção à saúde e a integração dos estabelecimentos de saúde públicos e privados, sendo determinado o Programa Conecte SUS, simultaneamente com a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), uma plataforma nacional aplicada à integração e interoperabilidade das comunicações de saúde entre estabelecimentos públicos e privados de saúde. Em 2021, o Ministério da Saúde divulgou uma nova versão da Política Nacional de Informação e Informática (PNIIS), aprovada pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), na qual engloba a Estratégia de Saúde Digital e a RNDS. Isso legitima a Saúde Digital como a principal estratégia do Estado Brasileiro para atender as informações de saúde e apoiar o movimento de plataformização no SUS (Rachid et al., 2023).

Conforme a Resolução CFM nº 2.314/2022 e a Lei nº 13.989/2020, a telessaúde é uma ferramenta crucial que transforma a forma como os serviços de saúde são prestados, especialmente em áreas de difícil acesso e para populações vulneráveis. Ao integrar a Atenção Primária, Especializada e Hospitalar, a telesaúde facilita um atendimento contínuo e humanizado, promovendo um acompanhamento mais próximo e eficiente dos pacientes. As regulamentações brasileiras, garantem que essa prática seja realizada de forma ética e segura, abrangendo não só a medicina, mas também outras áreas da saúde como enfermagem, psicologia, fisioterapia e nutrição.

A transformação digital na saúde representa uma mudança fundamental nos serviços e sistemas de saúde, onde mais serviços e processos estão sendo digitalizados. Essa transição reflete uma mudança cultural e estrutural nas organizações de saúde. O Fórum Econômico Mundial (WEF) expressou suas expectativas em relação ao profundo impacto da digitalização nos cuidados de saúde, destacando a transição para cuidados de saúde centrados no consumidor. Espera-se que os cidadãos assumam mais responsabilidade na gestão de sua própria saúde e de suas famílias (Ricciardi et al., 2019).

Essas regulamentações permitem a realização de teleconsultas, tele monitoramentos e telediagnósticos, assegurando a confidencialidade dos dados e a qualidade do atendimento. Elas visam proporcionar um cuidado mais acessível e integrado, permitindo que profissionais de saúde utilizem tecnologias de informação e comunicação para oferecer suporte contínuo e eficaz aos pacientes. Com isso, a telesaúde se configura como uma ferramenta indispensável para a melhoria da qualidade de vida e a redução das desigualdades no acesso aos serviços de saúde, promovendo uma abordagem inclusiva e abrangente na prestação de cuidados (Ministério da Saúde, 2020).

A Telessaúde refere-se ao uso de tecnologias de informação e comunicação na saúde, permitindo a oferta de atendimento à distância de alta qualidade. Essa ferramenta tecnológica visa ampliar a atenção e a cobertura dos serviços de saúde, garantindo que o atendimento seja eficaz e de qualidade. A telemedicina tem sido uma estratégia importante para fortalecer as Redes de Atenção à Saúde no Brasil, trazendo melhorias significativas para a saúde da população. Rompendo as barreiras físicas ao oferecer intervenções eficientes e promovendo equidade no acesso aos cuidados de saúde (Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes, 2017).

2.2 Impacto da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) no Acesso à Saúde Digital, Governança e Segurança dos Dados no Brasil

O Brasil adotou várias estratégias e programas para impulsionar a saúde digital, incluindo o Programa Conecte SUS, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e o Programa Informatiza APS. Essas iniciativas visam integrar e melhorar os serviços de saúde, promovendo a acessibilidade e eficiência no cuidado. Logo, a RNDS promove e integra diferentes serviços de saúde, tanto na rede pública quanto privada, proporcionando que o histórico médico esteja sempre disponível, facilitando a continuidade do cuidado. O Programa Informatiza APS está focado em levar a informatização e a melhoria dos registros de saúde para todas as unidades de saúde do país. Isso significa mais eficiência e exatidão no acompanhamento da saúde e na tomada de decisões pelos profissionais de saúde (Donida et al., 2021).

Sendo assim, a Estratégia de Saúde Digital prevê que até 2028 a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) será estabelecida como a plataforma digital de informações e serviços de saúde para todo o Brasil, beneficiando todo o sistema de saúde. Para alcançar esse objetivo, o Ministério da Saúde, em colaboração com gestores públicos e representantes do setor privado, gradualmente passará a reunir dados de saúde na RNDS. Isso inclui resultados de testes de COVID-19, registros de vacinação, solicitações de medicamentos no Programa Farmácia Popular e resumos de alta hospitalar. Anteriormente, esses dados eram consolidados nos municípios e estados e posteriormente enviados ao Datasus, mas agora serão incorporados diretamente à RNDS (Rachid et al., 2023).

Os desafios da saúde digital incluem questões relacionadas à segurança dos dados, privacidade, interoperabilidade de sistemas, resistência à mudança por parte dos profissionais de saúde, desigualdades no acesso à tecnologia, falta de padronização e regulamentação. A saúde digital enfrenta desafios como a segurança e privacidade dos dados, a interoperabilidade dos sistemas, a resistência dos profissionais às mudanças, as desigualdades no acesso à tecnologia, e a falta de padronização e regulamentação. Estes obstáculos precisam ser superados para garantir que as inovações em saúde digital sejam efetivamente implementadas e acessíveis a todos (Ministério da Saúde, 2020).

O Brasil é um país de renda média com uma população de mais de 214 milhões de habitantes, enfrenta desafios únicos na implementação de soluções tecnológicas devido à desigualdade econômica e à distribuição desigual da população. Embora o acesso à Internet tenha sido implementado pela primeira vez no Brasil em 1988, ele se espalhou de forma não uniforme. As barreiras são estruturais, como falta de conectividade à Internet, acesso limitado a dispositivos informáticos, software e equipamentos periféricos, bem como falta de motivação para usar a Internet (Nakayama et al., 2023).

De acordo com a Resolução COFEN nº 754 de 16 de maio de 2024 estabelece normas para o uso do prontuário eletrônico e plataformas digitais na Enfermagem, garantindo a segurança, sigilo e continuidade da assistência. Ela detalha requisitos para a certificação digital e uso de sistemas informatizados, assegurando a conformidade com a LGPD e outras legislações. Essa resolução é essencial para modernizar e padronizar os registros de saúde, promover a telessaúde e garantir a proteção dos dados dos pacientes, contribuindo para a eficiência e qualidade dos serviços de enfermagem. Assegurando que os profissionais estejam equipados para oferecer cuidados de alta qualidade em um ambiente cada vez mais digitalizado. Esse esforço não só moderniza a prática da enfermagem, mas também amplia o acesso e a eficácia dos serviços de saúde para toda a população.

Os benefícios da saúde digital incluem uma melhor gestão de informações clínicas, redução de erros, coordenação mais eficaz do cuidado e inovação contínua. Ferramentas como o e-SUS Hospitalar e o e-SUS Atenção Básica permitem a coleta e o registro eficientes de dados de saúde, enquanto iniciativas como o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) facilitam a integração e interoperabilidade dos sistemas de saúde (Rachid et al., 2023).  

De acordo com a Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017, do Ministério da Saúde, determina que todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem ser informatizadas para implementar o sistema e-SUS AB (Atenção Básica). Essa medida pretende aprimorar a gestão e a qualidade dos serviços de saúde na atenção primária, garantindo que todas as UBS tenham acesso à internet para utilizar o e-SUS AB (Serviços e Informações do Brasil). O programa de requalificação das UBS, incluindo a informatização, faz parte das estratégias do Ministério da Saúde para fortalecer a atenção básica, assegurando condições adequadas de trabalho e promovendo melhorias no acesso e na qualidade dos serviços.

Para a Resolução COFEN nº 696/2022, alterada pelas Resoluções COFEN nº 707/2022 e 717/2023, estabelece padrões e diretrizes para o uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) em atividades como consultas, monitoramento e educação em saúde, garantindo a segurança, o sigilo e a eficácia dos serviços prestados. A resolução assegura o cumprimento das legislações vigentes, incluindo a LGPD, e promove a modernização e acessibilidade dos cuidados de enfermagem. A integração da saúde digital com a prática da enfermagem no Brasil é normatizada por resoluções do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN).

2.3 Engajamento dos Usuários que influenciam o Acesso e a Utilização da Saúde Digital no Brasil

Discussão específica sobre a articulação das informações com foco na delimitação proposta pelos cursistas (bibliografia e orientação a cargo dos orientadores acadêmicos).  A capacitação dos pacientes no mundo digital é um dever de todos os profissionais de saúde, mas os enfermeiros, como os profissionais mais numerosos em todos os sistemas de saúde, desempenham um papel crucial nesse processo. Eles não só fornecem cuidados diretos aos pacientes, mas também estão bem-posicionados para educá-los sobre questões de saúde e orientá-los no uso de tecnologias digitais para o autogerenciamento. Assim, a capacitação digital dos enfermeiros é essencial para garantir que os pacientes recebam o suporte necessário na transição para os serviços de saúde digitais (Martinez et al., 2023).

O avanço da transformação digital na saúde oferece uma oportunidade de aprimoramento para a enfermagem. No entanto, também apresenta desafios, exigindo que os profissionais desenvolvam competências específicas na área digital. A Internet, por meio de aplicativos e outras ferramentas, proporciona uma oportunidade única para fortalecer o vínculo com os usuários dos serviços de saúde (Lapão; Velez, 2020). Para a Organização Mundial da Saúde (2024), deve-se auxiliar os governos na supervisão e coordenação dos investimentos em saúde digital em seus países, a Organização Mundial da Saúde criou o Digital Health Atlas, umas plataformas online globais onde profissionais podem registrar suas iniciativas na área da saúde digital.

Os dispositivos de saúde digital, como aplicativos móveis e dispositivos wearable, desempenham um papel fundamental na coleta e no monitoramento de dados de saúde. Eles permitem que os usuários participem ativamente de seus cuidados de saúde, promovendo uma maior autonomia e engajamento (Rachid et al., 2023). Os avanços tecnológicos, como novos sensores (e.g. Internet das Coisas, wearables, redes digitais, robôs, impressão 3-D e sistemas de apoio à decisão, permitirão uma interação mais profunda com os usuários dos serviços de saúde. Através do mundo digital, os enfermeiros poderão envolver os usuários no centro dos cuidados, incentivando-os a desempenhar um papel mais ativo no autocuidado e no compartilhamento de informações sobre saúde (Lapão; Velez, 2020).

Tecnologias como robótica, inteligência artificial e telessaúde têm um grande potencial para beneficiar diretamente as pessoas, permitindo que diagnósticos e tratamentos complexos sejam feitos à distância. Aplicativos são úteis para monitoramento de condições de saúde, como hipertensão, além de facilitar o acesso a serviços e informações de saúde. No Brasil, essas tecnologias já estão sendo utilizadas. Por exemplo, a crescente presença de aplicativos no Sistema Único de Saúde (SUS) é destacada no artigo “mHealth e saúde pública: a presença digital do Sistema Único de Saúde por meio de aplicativos de dispositivos móveis” (Boni et al., 2023).

A implementação de serviços de saúde digitais, como o monitoramento remoto dos usuários, melhora a resposta aos cuidados de saúde, potencialmente levando à “enfermagem de precisão”. Portanto, a formação contínua dos profissionais de Enfermagem deve incluir as tecnologias digitais, preparando-os para atender de forma eficaz às futuras demandas de um mundo cada vez mais informatizado (Lapão; Velez, 2020).

É importante observar que a tecnologia pode ser utilizada de diversas maneiras, indo além do acesso a informações ou vídeo consultas. Ela pode ser útil para pacientes dependentes e/ou com necessidades especiais através de robôs, dispositivos de assistência, sistemas de segurança, entre outros. Alguns desses recursos têm mostrado melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e sua sensação de segurança (Martinez et al., 2023).

A saúde digital promove acesso equitativo e universal à saúde, comunicação acessível entre os povos, melhora a qualidade dos cuidados, democratiza o conhecimento e assegura melhores condições para o direito à saúde. As tecnologias digitais na saúde facilitam a organização do trabalho, o acesso a prontuários de pacientes, o agendamento de consultas e a conveniência para serviços e clientes. Elas requerem que os serviços sejam equipados e que os profissionais sejam continuamente capacitados, assegurando a qualidade dos serviços e a segurança de pacientes e dados (Almeida et al., 2022).

Nos últimos anos, a tecnologia revolucionou o ambiente de saúde, trazendo inúmeros recursos e ferramentas. A Internet oferece a médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde diversas possibilidades para criar e acessar recursos que ajudam na capacitação dos pacientes. No entanto, é crucial que esses profissionais conheçam e usem essas ferramentas. A pandemia de COVID-19 evidenciou a necessidade de novas formas de alcançar os pacientes, apoiando o autocuidado e a capacitação deles (Martinez et al., 2023).

Os Serviços de Enfermagem Digitais têm o potencial de fortalecer a capacidade dos enfermeiros de interagir com os usuários dos serviços de saúde e suas famílias, promovendo uma melhor adesão às terapêuticas e apoiando o capital social para criar comunidades mais saudáveis. A inteligência artificial, ao analisar dados consistentes, pode ser uma aliada dos enfermeiros na gestão do cuidado de saúde, ajudando-os a antecipar e identificar potenciais problemas de saúde para os usuários dos serviços de saúde. Com um conhecimento profundo das organizações de saúde, os enfermeiros podem empregar a ciência do Design para impulsionar a inovação nos serviços de saúde. Ao colaborar com outros profissionais, os enfermeiros promovem o processo de cuidado e a interação com os usuários dos serviços de saúde em um sistema digital, que representa um novo paradigma nos cuidados de enfermagem (Lapão; Velez, 2020).

Mais de 86% dos enfermeiros consideram benéfico recomendar recursos de saúde na web, pois isso pode reduzir visitas desnecessárias aos centros de saúde. Dender e colegas destacaram que sites com informações de alta qualidade para pacientes ajudam a identificar erros médicos, melhoram a recuperação pós-tratamento e aprimoram a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde (Martinez et al., 2023). Para o Ministério da Saúde (2020), o engajamento dos usuários e sua satisfação são promovidos pela conscientização e atenção às condições de saúde, maior envolvimento nos tratamentos e prescrições, comprometimento com a educação em saúde, autonomia para o autocuidado e multiplicação do conhecimento em saúde digital nas comunidades. 

Os enfermeiros indicaram que mais de 50% dos pacientes poderiam se beneficiar das informações e serviços online. Um relatório do Ministério da Saúde espanhol em 2022 mostrou que 50,5% dos cidadãos usam a teleconsulta, enquanto 35,8% não a utilizariam. Um estudo de 2020, baseado nas percepções de médicos de clínica geral, revelou que a eConsulta poderia substituir de 63% a 88% das consultas convencionais. Assim, a pandemia de COVID-19 evidenciou ainda mais esses benefícios. Informações online adequadas e serviços de teleassistência mostraram-se eficazes para reduzir custos, evitar complicações, economizar viagens desnecessárias e melhorar o atendimento à saúde da população (Martinez et al., 2023).

A transformação digital tem o potencial de melhorar a qualidade dos cuidados aos usuários, oferecendo acesso mais rápido e eficiente aos serviços de saúde. No entanto, a literacia em saúde emerge como um desafio, com a capacidade de compreender e utilizar tecnologias digitais influenciando diretamente a participação dos usuários nos cuidados de saúde (Rachid et al., 2023). 

A maioria dos enfermeiros acredita que ter acesso a informações digitais confiáveis ajudaria a reduzir consultas desnecessárias. Além disso, eles pensam que pelo menos metade dos seus pacientes poderiam se beneficiar ao consultar informações online. No entanto, identificam alguns obstáculos, como a idade avançada e o baixo nível de escolaridade dos pacientes. Enfermeiros mais jovens, em particular, veem a idade como um problema maior. Por outro lado, eles destacam que oferecer formação aos pacientes e disponibilizar ferramentas digitais de fácil uso são facilitadores importantes para melhorar o acesso à informação (Martinez et al., 2023).

O engajamento dos usuários é essencial para o sucesso da saúde digital, mas enfrenta desafios consideráveis. Muitos indivíduos têm dificuldades em acessar e entender informações sobre saúde, o que é conhecido como literacia em saúde. Esta habilidade é crucial para que as pessoas possam tomar decisões informadas sobre seu próprio cuidado. No entanto, a desigualdade no acesso à Internet e a falta de habilidades técnicas necessárias para utilizar essas ferramentas digitais são significativas (Smith et al., 2019). 

Outra limitação seria a falta de competências técnicas e a capacidade de utilizar de forma eficaz a tecnologia digital. Esses diferentes níveis de exclusão digital interagem, resultando em novas disparidades no acesso à tecnologia digital e nas oportunidades que ela oferece.  A exclusão digital de primeiro nível persiste no Brasil, principalmente em famílias nas regiões rurais, pessoas de baixa renda e idosos enfrentam desafios significativos para acessar a Internet (Nakayama et al., 2023).

Apesar desses avanços tecnológicos incríveis, o elemento humano ficou para trás. Muitos profissionais de saúde, conhecidos como imigrantes digitais, não receberam formação adequada no uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em seu trabalho. Além disso, enfrentam diversas limitações legais, instrumentais e éticas ao aplicar essas tecnologias no dia a dia com os pacientes. As TIC são um recurso vital, mas é essencial saber gerenciá-las corretamente para beneficiar tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes (Martinez et al., 2023).

Embora as novas tecnologias tragam esperança para preencher lacunas nos cuidados de saúde, é importante reconhecer que nem todos têm acesso igual à Internet em nosso país. Isso representa um desafio significativo para os cuidados de saúde digital. Para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de receber cuidados de saúde, é fundamental abordar tanto a falta de acesso à Internet quanto às habilidades técnicas necessárias para utilizá-la (Nakayama et al., 2023).

Um dos desafios para o engajamento dos usuários com os serviços de saúde digital é a literacia em saúde. A capacidade de compreensão, pensamento crítico e busca por informações deve ser exercida pelo usuário para a prática dos seus cuidados de saúde. Limitações na alfabetização em saúde têm sido vinculadas a desafios que afetam as estatísticas e os desfechos dos cuidados de saúde. Assim como os cuidados de saúde em si, as habilidades para a literacia em saúde têm progredido em conjunto com o crescente papel desempenhado pela tecnologia. Onde indivíduos com níveis reduzidos de alfabetização em Saúde tendem a ser mais idosos e a enfrentar uma maior prevalência de problemas de saúde crônicos (Smith et al., 2019).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030, uma em cada seis pessoas terá 60 anos ou mais, e até 2050, esse número dobrará. Já existem mais pessoas com mais de 60 anos do que crianças com menos de 5 anos. Esse envelhecimento populacional traz consigo um aumento da incapacidade, cronicidade e dependência, sobrecarregando os sistemas de saúde e escasseando os recursos materiais e humanos (Martinez et al., 2023).

A Enfermagem do futuro será liderada por profissionais altamente capacitados, dedicados à prática avançada. Seu conhecimento será fundamental para liderar a reorganização dos cuidados de saúde, trabalhando em parceria com outros profissionais e estabelecendo uma relação mais próxima com os usuários dos serviços de saúde. A implementação de medidas terapêuticas será facilitada por sistemas digitais com protocolos clínicos inteligentes, desenvolvidos em colaboração entre diferentes profissionais de saúde. Isso permitirá evidenciar de forma transparente o trabalho em equipe, com uma conexão mais eficaz com o usuário dos serviços de saúde (Lapão; Velez, 2020).

A falta de acesso à Internet, agravada pela distribuição desigual da população e pela disparidade econômica, marginaliza comunidades que poderiam se beneficiar de soluções digitais de cuidados de saúde. Os idosos, especialmente, são vulneráveis à exclusão digital, com 64% da população idosa no Brasil sem acesso à Internet. Pacientes com restrições relacionadas à diabetes e limitações nas atividades diárias têm uma taxa de uso da Internet inferior à média nacional (Nakayama et al., 2023).

Para enfrentar esses desafios, os Estados precisam repensar como financiar, cobrir e aliviar essas necessidades, focando na prevenção e promoção da saúde para um envelhecimento saudável. O plano da OMS para a Década do Envelhecimento Saudável 2020-2030 destaca a importância da aprendizagem ao longo da vida, permitindo que os idosos mantenham sua capacidade de tomar decisões, identidade e independência. Isso exige alfabetização, capacitação e espaços de participação sem barreiras, especialmente no domínio digital (Martinez et al., 2023).

Sendo assim, o Brasil enfrenta desafios únicos na implementação de soluções tecnológicas devido à desigualdade econômica e à distribuição desigual da população. A exclusão digital, incluindo falta de acesso à Internet e competências técnicas limitadas, persiste em várias comunidades, criando disparidades no acesso à tecnologia digital e oportunidades de cuidados de saúde (Nakayama et al., 2023).

3. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica narrativa. Para Barbosa, 2023 A “revisão integrativa” surgiu como alternativa para revisar rigorosamente e combinar estudos com diversas metodologias, por exemplo, delineamento experimental e não experimental, e integrar os resultados. Tem o potencial de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo o rigor metodológico das revisões sistemáticas. O método de revisão integrativa permite a combinação de dados da literatura empírica e teórica que podem ser direcionados à definição de conceitos, identificação de lacunas nas áreas de estudos, revisão de teorias e análise metodológica dos estudos sobre um determinado tópico. 

A combinação de pesquisas com diferentes métodos combinados na revisão integrativa amplia as possibilidades de análise da literatura. A revisão terá uma abordagem qualitativa, na qual foi utilizado um corte temporal de cinco anos, de fevereiro a dezembro de 2024.

O desenho do estudo, uma pesquisa não clínica, conforme descrito por Brun, foi integrado aplicando-se a estratégia PICO (acrônimo para P: população/pacientes; I: intervenção; C: comparação/controle; O: desfecho/outcome) para nortear a coleta de dados. A estratégia PICO é uma mnemônica que auxilia a identificar os tópicos-chave onde o P: Profissionais da saúde e usuários de tecnologia; I: Implementação da saúde digital; C: Usuários que não utilizam tecnologias ou utilizam métodos tradicionais de monitoramento; O: Melhoria na gestão em saúde e aumento na satisfação dos usuários.

Para a fundamentação teórica foi estabelecido a seguinte pergunta norteadora da pesquisa: Como a implementação da Estratégia Brasileiras de Saúde Digital e iniciativas correlatas, como o Programa Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), estão influenciando o acesso, a qualidade e a segurança dos serviços de saúde digital no Brasil?

De que maneira a transformação digital está influenciando a qualidade dos cuidados de saúde, e como essas mudanças estão criando oportunidades para os profissionais de saúde?

Como os cuidados de saúde digitais podem enfrentar os desafios da exclusão digital, especialmente nas áreas remotas e rurais, para garantir um acesso equitativo à tecnologia e aos benefícios que ela proporciona, considerando as diferentes barreiras estruturais e de competências técnicas?

A pesquisa será realizada através Descritores em Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): combinado com o operador booleano AND e OR: das palavras-chaves que foram definidas usando os “Digital Health”, “Electronic Health Records”, “Telemedicine”, “Nurses”, “eHealth Strategies”, “Medical Records Systems”, “eHealth Strategies”, “Computerized”, “eHealth Policies”, “Information Technology Management” e “Digital technology”. Nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e periódicos da CAPES. 

Para inclusão os seguintes critérios foram utilizados: artigos publicados entre os anos de 2019 até 2024, artigos escritos em língua portuguesa, artigos escritos em inglês, artigos escritos em língua espanhola, artigos publicados em revistas, artigos originais, artigos se enquadra nessa pesquisa, artigos que fala sobre simulação realística aplicada na formação de profissionais de saúde.

Com os critérios para exclusão: artigos de revisão, artigos publicados fora da temporalidade estabelecido, tese de doutorado, dissertação de mestrado, trabalho de conclusão de curso, artigos escritos em outras línguas sem ser a portuguesa, turco e inglês, artigos que não fossem originais, artigos que não abordasse sobre o tema da pesquisa. Para análises dos artigos serão através de leitura dos resumos e títulos foi importante para excluir os estudos que não atendem objetivo do estudo levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão do trabalho.

Para elaboração dos resultados serão avaliadas as seguintes variáveis dos estudos selecionados: Local, Base de dados/Periódico, Autor (es) do artigo/ Ano, objetivo, Nível de Evidência. Para classificação da qualidade metodológica das pesquisas selecionadas foi conforme os seis níveis de categorias da Oxford Centre for Evidence-based medicine.

A revisão integrativa da literatura, por se tratar de uma pesquisa que utiliza exclusivamente dados secundários de estudos previamente publicados, não envolve a coleta direta de dados com seres humanos e, portanto, não requer submissão à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa. Conforme estabelecido pela Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), as pesquisas que não realizam experimentação com seres humanos, como revisões de literatura, estão isentas da necessidade de aprovação ética, desde que respeitem os princípios de integridade e respeito aos direitos autorais dos estudos analisados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Quadro 1. Análise de estudo que aborda ferramentas de Saúde Digital

Autor/Ano PeriódicoObjetivo Resultados Conclusão 
Young HM, Miyamoto S, Dharmar M et al. (2020)JMIR Mhealth UhealthAvaliar a eficácia de treinamento de enfermagem pareado com mHealth para pessoas com diabetes tipo 2.Aumento significativo na atividade física e autoeficácia do diabetes. Diminuição nos sintomas depressivos em comparação ao tratamento usual.Eficácia de curto prazo, com persistência apenas na atividade física após 9 meses.
Perez MV, Mahaffey KW, Hedlin H et al. (2019)New England Journal of Medicine (NEJM)Investigar a capacidade de um aplicativo de smartwatch em identificar fibrilação atrial.A amostra foi de 419.297 participantes; 0,52% receberam notificações de pulso irregular, com 34% dos casos confirmados de fibrilação atrial em ECG subsequente.Baixa probabilidade de notificação, com boa concordância nas notificações (84%) confirmadas por ECG.
Guo Y, Lane DA, Wang L et al. (2020)Journal of the American College of Cardiology (JACC)Avaliar o impacto da mHealth na redução de eventos adversos relacionados à fibrilação atrial.Redução significativa de AVC, tromboembolismo, morte e re-hospitalização comparado ao tratamento convencional.A mHealth oferece melhor gerenciamento da anticoagulação e controle de comorbidades, reduzindo riscos.
Katula JA, Dressler EV, Kittel CA et al. (2022)American Journal of Preventive MedicineAvaliar a eficácia do Programa Digital de Prevenção de Diabetes para reduzir fatores de risco cardiovascular.Redução significativa da HbA1c, perda de peso e reversão de prédiabetes em 12 meses, com maior eficácia que o tratamento convencional.Eficácia comprovada do programa digital, com aplicação potencial em larga escala, especialmente em telemedicina.
Sun AC, Kahyun L, Hyunyoung B et al. (2021)Epilepsy & BehaviorAvaliar um aplicativo móvel para gestão de epilepsia e seu impacto na autoeficácia dos pacientes.Dados comparáveis às visitas clínicas convencionais, com melhora significativa no autoconhecimento e autoeficácia de gerenciamento da epilepsia.O uso de tecnologia móvel mostrou-se eficaz no registro de dados de saúde e autogerenciamento da epilepsia, com benefícios clínicos.
Julie B et al. (2020)Journal of Pain and Symptom ManagementAdaptar e avaliar um aplicativo de gerenciamento de estresse cognitivo-comportamental para fadiga relacionada ao HIVMelhora significativa na intensidade da fadiga e no funcionamento geral dos pacientes que completaram o estudo.A intervenção foi viável e mostrou sinais de eficácia no manejo da fadiga relacionada ao HIV.
Leah JB et al. (2024)Contemporary Clinical TrialsAvaliar os efeitos de uma intervenção multicomponente em mídia social e saúde móvel para aumentar a atividade físicaEstudo em andamento com 384 sobreviventes de câncer infantil; resultados esperados sobre a eficácia da intervenção na melhoria da saúde.Há necessidade de novas abordagens para melhorar a atividade física e a saúde em sobreviventes de câncer infantil.
Yutao G et al. (2020)European Journal of Internal MedicineAvaliar a adesão e os resultados clínicos de longo prazo do uso de mHealth em pacientes com fibrilação atrialRedução significativa no risco de AVC isquêmico e tromboembolismo sistêmico após 1 ano de acompanhamento com mHealth.Uso prolongado de mHealth foi associado a uma redução nos eventos adversos em pacientes com fibrilação atrial.
Grace W et al. (2022)Journal of Shoulder and Elbow SurgeryDeterminar a confiabilidade da telemedicina para avaliação de patologias do ombro76,4% de concordância entre exame físico presencial e telemedicina para limitações de ROM; confiabilidade variou entre ruim e boa.Telemedicina mostrou confiabilidade moderada para avaliação de patologias do ombro, com limitações em avaliações de instabilidade.
Leigh MV et al. (2021)JMIR Mhealth UhealthCriar um conjunto de diretrizes para o estudo Healthy Life Trajectories Initiative (HeLTI) Canada.Desenvolvimento de uma lista de verificação com 12 princípios para orientar pesquisadores na avaliação de recursos de eHealth.A lista de verificação serve como uma ferramenta útil para pesquisadores na triagem e avaliação de recursos de eHealth.
Leah JB et al. (2024)Contemporary Clinical TrialsAvaliar os efeitos de uma intervenção multicomponente de saúde móvel e mídia social para aumentar a atividade físicaEnsaio clínico com 384 sobreviventes de câncer infantil; estudo ainda em andamento.Necessidade de intervenções apropriadas para aumentar a atividade física entre sobreviventes de câncer infantil.
Yutao G et al. (2020)European Journal of Internal MedicineAvaliar a adesão e os resultados clínicos de longo prazo do uso de mHealth em pacientes com fibrilação atrial.Redução significativa no risco de AVC e morte em comparação com o tratamento convencional após 1 ano de acompanhamento.A mHealth mostrou-se eficaz na redução de eventos adversos em pacientes com fibrilação atrial.
Grace W et al. (2022)Journal of Shoulder and Elbow SurgeryDeterminar a confiabilidade da telemedicina para avaliação de patologias do ombro.Concordância de 76,4% entre exames físicos presenciais e via telemedicina, variando de ruim a boa, com limitações em avaliações de instabilidade.A telemedicina mostrou-se confiável para algumas avaliações de patologia do ombro, mas com limitações.
Xiaorong G et al. (2019)JMIR Mhealth UhealthAvaliar a viabilidade de um programa de telessaúde para gerenciamento remoto de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC).Estudo realizado com 66 indivíduos, criação de 294 prontuários eletrônicos e 89 consultas realizadas, alta satisfação entre participantes.O programa de telessaúde mostrou-se viável, com boa aceitação e evidências de eficácia no gerenciamento de pacientes com ICC.
David ES et al. (2021)Journal of Renal NutritionAvaliar a viabilidade de um programa de gerenciamento de fósforo em mHealth para pacientes em hemodiálise (HD).80% dos participantes concluíram o estudo de 6 meses; taxas de automonitoramento diminuíram ao longo do tempo.Os programas de mHealth foram bem recebidos, mas o engajamento no automonitoramento diminuiu ao longo do tempo.
Molly BK et al. (2023)Journal of PediatricsDeterminar a segurança e viabilidade de um serviço de telemedicina para cuidados noturnos de crianças em áreas carentes.391 casos registrados; 89% das visitas domiciliares concluídas, com altos índices de melhora clínica após 10 dias.A telemedicina mostrou-se viável e eficaz para melhorar o acesso a cuidados noturnos em crianças de áreas com poucos recursos.
Yuyu J et al. (2024)Telemedicine and e-HealthInvestigar os níveis de alfabetização em e-Health entre pacientes mais velhos com DPOC e explorar fatores associados.Atitudes de envelhecimento, tecnofobia e autoeficácia explicaram 68,3% da variação na alfabetização em e-Health.Tecnofobia e autoeficácia são fatores significativos que afetam a alfabetização em e-Health em pacientes mais velhos com DPOC.

Fonte: Autores.

Os estudos revisados no Quadro 1 na seção de resultados apresentam uma diversidade de abordagens para o uso de tecnologia móvel em saúde (mHealth), telemedicina e recursos digitais, visando melhorar desfechos clínicos em populações com diferentes condições de saúde. No geral, há um consenso sobre a viabilidade e o impacto positivo dessas intervenções, mas também existem desafios relacionados à adesão prolongada e à implementação em larga escala. Uma análise crítica desses resultados nos permite identificar tanto o potencial dessas tecnologias quanto as barreiras que devem ser superadas para ampliar sua eficácia e aceitação (Marengo et al., 2022).

O estudo de Leigh MV et al. (2021) apresenta uma contribuição significativa ao criar diretrizes para pesquisadores envolvidos no estudo HeLTI, com foco na avaliação de recursos de eHealth. A criação de uma lista de verificação organizada cronologicamente, contendo 12 princípios, demonstra a importância de estruturar o processo de desenvolvimento de intervenções digitais de saúde de maneira rigorosa e organizada (Nichiata; Passaro, 2023). Essa abordagem pode ser considerada um avanço no suporte a futuros pesquisadores na triagem e na avaliação da qualidade de tecnologias emergentes. Além disso, essa metodologia também pode servir como modelo para outras iniciativas de saúde digital, garantindo que os recursos utilizados sejam consistentes e eficazes (Park et al., 2019).

O estudo de Leah JB et al. (2024) destaca a necessidade de intervenções específicas para adolescentes e jovens adultos sobreviventes de câncer infantil. A intervenção proposta, baseada em saúde móvel e mídia social, visa melhorar a atividade física e os biomarcadores de saúde cardiometabólica (Abib; Gomes; Galak, 2020). No entanto, o estudo ainda está em andamento, e os resultados completos ainda não estão disponíveis. Mesmo assim, a abordagem multicomponente representa uma estratégia promissora, especialmente considerando a crescente aceitação de mídias digitais entre os jovens. A intervenção atende a uma lacuna crítica na saúde de sobreviventes de câncer infantil, uma vez que muitos não seguem as diretrizes de atividade física após o tratamento. Entretanto, o sucesso desta e de outras intervenções dependerá de como os jovens interagem e se envolvem com essas plataformas ao longo do tempo (Lima et al., 2023).

O uso da tecnologia mHealth também se destaca nos estudos relacionados à fibrilação atrial. Yutao G et al. (2020) relataram uma redução significativa nos riscos de acidente vascular cerebral, tromboembolismo e morte em pacientes que utilizaram a tecnologia por mais de um ano (Nichiata; Passaro, 2023). Esses achados reforçam a ideia de que a mHealth pode ser uma ferramenta eficaz no gerenciamento de condições crônicas, como a fibrilação atrial, quando os pacientes aderem consistentemente ao uso da tecnologia. No entanto, o desafio da adesão a longo prazo ainda é um ponto crítico, como observado em outros estudos. O impacto positivo demonstrado pelo uso prolongado da mHealth, especialmente no controle de comorbidades e na anticoagulação, aponta para a necessidade de estratégias que incentivem a adesão contínua dos pacientes, garantindo a manutenção dos benefícios clínicos (Marengo et al., 2022).

Outro estudo que explora a confiabilidade das tecnologias digitais é o de Grace W et al. (2022), que examina a utilização da telemedicina para avaliação de patologias do ombro (Lisboa et al., 2024). Embora o estudo tenha mostrado uma boa concordância em determinadas áreas, como as limitações de amplitude de movimento (ROM), ele também identificou limitações em avaliações mais complexas, como a instabilidade do ombro. Isso sugere que, embora a telemedicina possa ser eficaz em certos cenários, há áreas em que ela não pode substituir completamente o exame físico presencial. Esse achado é particularmente relevante para especialidades médicas que exigem avaliação física detalhada, como a ortopedia. Assim, pode-se inferir que o sucesso da telemedicina depende tanto da condição sendo avaliada quanto da adaptação das ferramentas tecnológicas às necessidades clínicas específicas (Catapan; Calvo, 2019).

O estudo de David ES et al. (2021) também aponta desafios na adesão dos pacientes. Apesar de a maioria dos pacientes com hemodiálise ter completado o estudo de 6 meses, as taxas de automonitoramento diminuíram significativamente ao longo do tempo (Lisboa et al., 2024). Isso revela que, embora as tecnologias de saúde móvel sejam geralmente bem recebidas, há uma tendência de queda na participação ativa dos pacientes à medida que o tempo passa. Esse fenômeno pode estar relacionado ao cansaço com a tecnologia ou à complexidade do regime de tratamento, o que sugere a necessidade de estratégias que mantenham o engajamento ao longo do tempo. Uma possível solução seria a integração de incentivos ou apoio contínuo, como lembretes automatizados ou feedback positivo, para encorajar os pacientes a continuar utilizando os sistemas de mHealth (Catapan; Calvo, 2019).

A viabilidade de programas de telessaúde em ambientes carentes é explorada no estudo de Molly BK et al. (2023), que avaliou um serviço de telemedicina para cuidados de saúde noturnos em crianças. O estudo demonstrou que a maioria dos casos não era grave e que 89% das visitas domiciliares foram concluídas com sucesso. Esses resultados sugerem que a telemedicina pode ser uma solução eficaz para melhorar o acesso a cuidados em áreas com poucos recursos, especialmente em situações de saúde menos graves. No entanto, é importante considerar que essa solução pode não ser apropriada para todos os tipos de atendimento pediátrico, especialmente em casos mais complexos que requerem intervenção imediata ou presencial (Lima et al., 2023).

Finalmente, o estudo de Yuyu J et al. (2024) explora a alfabetização em e-Health entre idosos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). O estudo identifica uma correlação significativa entre a tecnofobia e a autoeficácia com a alfabetização em e-Health, sugerindo que barreiras psicológicas e sociais podem ser tão importantes quanto as habilidades tecnológicas na implementação de programas de saúde digital. Esse achado tem implicações importantes para o desenvolvimento de intervenções destinadas a populações mais velhas, indicando que a capacitação em tecnologia deve ser acompanhada por estratégias que abordem as percepções negativas sobre o envelhecimento e o uso da tecnologia. Além disso, o estudo aponta que a autoeficácia é um fator preditivo constante na adoção de eHealth, sugerindo que intervenções voltadas para o fortalecimento da autoconfiança dos pacientes podem melhorar a adesão (Park et al., 2019).

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de tecnologias de saúde digital, como a mHealth e a telessaúde, tem revolucionado a prestação de serviços de saúde ao redor do mundo, oferecendo soluções mais acessíveis, ágeis e eficientes tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde. O impacto positivo dessas tecnologias, conforme demonstrado nos estudos revisados, é inegável, especialmente em condições crônicas e no manejo de pacientes em áreas remotas ou carentes de recursos. Contudo, à medida que essas tecnologias se tornam mais integradas ao cuidado em saúde, surge uma reflexão crítica sobre a adaptação dos serviços que ainda não implementaram essas inovações.

Atualmente, a saúde digital não é apenas uma alternativa, mas uma necessidade. As demandas da população, especialmente em um mundo cada vez mais conectado, indicam que aqueles serviços que não se adaptarem rapidamente às novas tecnologias enfrentarão desafios significativos. Isso é particularmente verdadeiro em relação à telessaúde, que demonstrou sua eficácia em melhorar o acesso a cuidados de saúde, reduzir a sobrecarga dos sistemas hospitalares e otimizar o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas. A falta de adaptação a essas tecnologias pode resultar em um grande atraso na prestação de cuidados, deixando populações vulneráveis desassistidas e comprometendo a qualidade de vida dos pacientes.

O futuro da saúde digital aponta para uma integração ainda maior de ferramentas como inteligência artificial, wearables, aplicativos móveis e prontuários eletrônicos, permitindo que os profissionais de saúde acompanhem seus pacientes em tempo real e ofereçam intervenções personalizadas. No entanto, a resistência à adoção dessas inovações pode gerar problemas de saúde pública, uma vez que populações inteiras ficariam desatendidas, especialmente em áreas remotas ou com baixa cobertura de serviços médicos tradicionais. Esse cenário pode aumentar as desigualdades no acesso à saúde e sobrecarregar os sistemas de saúde que não estiverem preparados para lidar com uma demanda crescente e complexa.

Se os serviços de saúde não se adequarem rapidamente às inovações tecnológicas, poderemos enfrentar um problema de saúde pública em escala global. Pacientes que poderiam ser monitorados remotamente, evitando complicações graves, acabariam buscando atendimento emergencial em estágios avançados de suas condições, aumentando a pressão sobre hospitais e unidades de pronto atendimento. Além disso, sem o uso eficaz da telessaúde e de ferramentas de saúde digital, o acompanhamento preventivo e o gerenciamento de doenças crônicas se tornam limitados, o que pode levar ao agravamento de condições tratáveis e à redução da expectativa de vida.

Portanto, a adaptação dos serviços de saúde à era digital não deve ser vista apenas como uma tendência ou inovação, mas como uma resposta necessária às necessidades de uma população que demanda cuidados mais eficazes e acessíveis. Governos, instituições de saúde e profissionais precisam investir em infraestrutura, educação digital e políticas que facilitem essa transição. Caso contrário, enfrentaremos um cenário de disparidade crescente no cuidado, com impactos potencialmente desastrosos para a saúde pública, além de um atraso significativo no desenvolvimento de sistemas de saúde mais integrados e eficientes.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: alinefisiodf@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: larissa.londe@hotmail.com
3Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. Doutor em Ciências e Tecnologias em Saúde (UNB). E-mail: joao.barbosa@uniceplac.edu.br
4Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: dudsmaria17@gmail.com
5Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: suellenpereiradesousa@gmail.com
6Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. Especialista em Qualidade e Segurança do Paciente (Fundação Oswaldo Cruz). E-mail: divinamar.pereira@uniceplac.edu.br
7Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. Mestre em Educação (Universidade do Vale do Itajaí). E-mail: patricia.pereira@uniceplac.edu.br
8Médico Anestesiologista E-mail: Idaleciobfernandes@gmail.com
9Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: felipemarinhop@live.com
10Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: thalitagsf@gmail.com