ANÁLISE DE ATIVIDADE EPILINGUÍSTICA EM UM 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I

 ANALYSIS OF EPILINGUISTIC ACTIVITY IN A 2ND GRADE OF ELEMENTARY SCHOOL I

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10855457


Viviani Dias Barradas de Souza¹;
Sidnei Luiz Flach².


RESUMO:

Introdução: O epilinguismo conduz a reflexões acerca de um ensino que atua sobre a própria linguagem, conduzindo a novos sentidos, sobretudo ao ensino-aprendizagem, a questões inerentes à sala de aula, como o livro didático, a gramática em uso e o papel do professor mediador nesse contexto. Objetivo: O presente trabalho objetiva refletir acerca de atividade epilinguística realizada com alunos de um 2º ano do ensino fundamental séries iniciais, considerando sua importância no percurso de ensino-aprendizagem e por fazer parte do processo de aquisição da língua. Materiais e Métodos: Tivemos como foco estudos voltados para o ensino e aprendizagem da leitura e produção textual, ao considerar a análise de atividades expostas no livro didático. Utilizou-se um poema de Vinicius Moraes, “A Corujinha”, como base para o desenvolvimento de uma sequência didática, refletindo a respeito dos elementos de contradição e ao desenvolver atividades epilinguísticas com os alunos. Resultados: Através daanálise de frases de alunos de um segundo ano no período de alfabetização, verificamos que é necessário levar quem escreve a ser o responsável pela construção de conhecimento por meio dessas atividades, além de refletir a respeito dos argumentos de contraposição, especificamente o “mas”e, no contexto escolar, contar com a figura do professor que mediará esse itinerário de forma lúdica, estimuladora e criativa. Conclusão: Compreender a linguagem, construir novas experiências se torna fundamental para o ensino de língua materna, tendo que ser sistematizado pelo professor que deverá buscar formas criativas, significativas, motivadoras, favorecendo o conhecimento, além do protagonismo e criatividade dos alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Epilinguismo; Argumento de contraposição; Ensino-aprendizagem; Ensino Fundamental I; Professor mediador.

ABSTRACT:

Introduction: Epilinguism leads to reflections on teaching that acts on language itself, leading to new meanings, especially in teaching and learning, and addressing issues inherent to the classroom, such as the textbook, grammar in use, and the role of the teacher as a mediator in this context. Objective: This paper aims to reflect on epilinguistic activities carried out with students in the 2nd year of elementary school, considering its importance in the teaching-learning process and as part of the language acquisition process. Materials and Methods: Focusing on studies related to teaching and learning, reading, and textual production, considering the analysis of activities presented in the textbook. A poem by Vinicius Moraes, “A Corujinha,” was used as a basis for the development of a didactic sequence, reflecting on elements of contradiction and conducting epilinguistic activities with the students. Results: Through the analysis of sentences from second-year students during the literacy period, it was observed that it is necessary to empower the writer to be responsible for knowledge construction through these activities. Reflection on counterargument elements, specifically “but,” is crucial in the school context, relying on the teacher as a mediator who guides this journey in a playful, stimulating, and creative manner. Conclusion: Understanding language and constructing new experiences are fundamental for teaching the native language. This process should be systematized by the teacher, who must seek creative, meaningful, and motivating ways to encourage knowledge, as well as the protagonism and creativity of the students.

KEYWORDS: Epilinguism; Contradiction argument; teaching and learning; Primary School; mediating teacher.

INTRODUÇÃO

O período da alfabetização é um dos momentos em que o professor não exime esforços para levar os alunos a apreender princípios básicos de leitura e escrita, uma vez que é uma etapa complexa para a criança. No entanto, como menciona Cagliari (2000), cabe salientar que é de suma importância conduzi-los a um ensino sistematizado, que envolva questões de letramento, tornando o ensino e aprendizagem mais atrativos além do contato com questões relacionadas ao ensino da gramática, que deve ser conduzido de forma coerente, respeitando o nível de aprendizagem dos alunos.

Salienta-se que esse ensino deve se iniciar nas séries iniciais, pois aos poucos poderá ser internalizado e levar os educandos a avançarem em novas hipóteses de ensino e no processo de escrita e interpretação de textos. A argumentatividade, que integra a teoria polifônica de Ducrot (1989), faz parte da língua, sendo própria do contexto social e da linguagem em que diferentes pontos de vistas são desenvolvidos em uma sequência argumentativa presentes nos enunciados, que são entendidos como ato individual em que ocorre a fala. Assim, ainda de segundo Ducrot (1989), a linguagem é um jogo argumentativo com um locutor que tenta convencer a partir de seu ponto de vista. Tal fato será representado por códigos com natureza gramatical em que as unidades de significação, ou seja, os morfemas, funcionam como operadores argumentativos ou discursivos.  

O presente trabalho justifica-se, por ter o anseio de que os alunos percebam que além do seu modo de falar, advindo de sua comunidade de fala, existe uma norma que pode enriquecer sua leitura e produções escritas, sem desconsiderar sua vivência, mas ampliando sua criatividade e iniciativa no decorrer do processo de aprendizagem. O enfoque também é trazido à tona devido o epilinguismo, conceito abordado por Antoine Culioli (1924 –2018), teoria conhecida no Brasil por Teoria das Operações Enunciativas, no caso desse artigo, queremos abordar a conjunção adversativa “mas”, considerada um marcador lexical/gramatical, utilizada pelos alunos, nas atividades desenvolvidas, como uma contradição. Assim, a partir do poema, “A Corujinha” de Vinicius de Moraes e de vídeo explicativo a respeito das corujas, os alunos podem realizar reflexões, interação e transformação de pensamento, por meio da escrita coletiva e espontânea, momento em que se evidenciou a presença do “mas” como elemento de contradição.

Não obstante o esforço de muitos teóricos em trazer novas abordagens quanto o ensino de gramática, como Travaglia (1996, 2002), Koch (2001), Geraldi (2002, 2003) Possenti (2004), conduz a verificar muitos problemas relacionados ao seu ensino, pois na prática ainda se percebem muitas lacunas no que se refere às práticas epilinguísticas além de encaminhamentos superficiais e errôneos trazidos em alguns livros didáticos. Tal fato reflete na aprendizagem dos alunos quando apresentam deficiências no que concerne à coesão, coerência, fluição em sua escrita, leitura e oralidade, bem como na sua análise, interpretação e autonomia.

O professor, sendo mediador, deve ser aquele que conduz a um ensino que mesmo em meio a diversos fatores, muitas vezes desfavoráveis ao contexto de ensino e aprendizagem, deve conduzir os alunos a despertar o interesse aos estudos e a ampliar seu conhecimento de mundo, sua criatividade e independência. Sendo assim, levanta-se a seguinte problemática: como proporcionar meios para o enriquecimento das aulas com conteúdos que não excluam a gramática, mas que promovam reflexões a respeito dos diversos sentidos da língua e conceitos importantes que a abrangem, como estudos que levem os alunos a analisarem a língua e seu funcionamento?

O objetivo geral do presente trabalho é refletir acerca de atividade epilinguística realizada com alunos de um 2º ano do Ensino Fundamental, séries iniciais, considerando sua importância no processo de ensino-aprendizagem e por fazer parte do processo de aquisição da língua; como objetivos específicos, levar quem escreve a ser o responsável pela construção de conhecimento mediante  essas atividades; e  refletir a respeito dos argumentos de contraposição e, em se tratando do contexto escolar, contando com a figura do professor que mediará esse processo de forma lúdica, estimuladora e criativa.

O EPILINGUISMO E O ARGUMENTO DE CONTRADIÇÃO ‘MAS’

O ensino de língua materna pode promover diversas possibilidades, habilidades, para que os alunos alcancem a competência comunicativa, como afirma Travaglia (2002), para que os usuários tenham competência comunicativa alcançando efeitos de sentido e assim conhecer melhor sua língua. Para isso, é necessário que ocorra um ensino sistematizado, que seja conciliado com o ensino de gramática e linguística para que os alunos tenham a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos na língua, considerar as relações socioculturais a partir dos conhecimentos adquiridos.

Alfabetizar pode ser considerado, sobretudo em um contexto pós pandêmico, um grande desafio, pois houve uma mudança no comportamento dos alunos com relação a aprendizagem, além de considerar o contexto social em que muitos estão inseridos. Com relação a alfabetização e ao ensino da língua materna, os alfabetizadores buscam inserir os alunos ao contexto do letramento possibilitando a estes um ensino mais atrativo, uma vez que, aproxima a realidade da criança, mas em contrapartida, há questões que são complexas, como, por exemplo, quando relacionar a alfabetização ao ensino da gramática nas séries iniciais.

Esse processo do ensino de língua materna relacionado a aspectos gramaticais, deve ser construído desde as séries iniciais, ao se considerar a importância do seu ensino que não deve ser apenas de sistemas de classificação da gramática normativa, o que pode vir a prejudicar a proficiência leitora e de escrita dos estudantes e o papel que o ensino de língua materna exerce No contexto da discussão sobre leitura e escrita, direcionamos nossa atenção para o operador discursivo mas, evidenciando que, desde as fases iniciais do processo de alfabetização, é viável implementar um método de ensino fundamentado na gramática reflexiva. Este enfoque remete ao epilinguismo, no qual o texto é empregado como elemento propulsor para a reflexão e progresso no processo de aprendizagem. Parte superior do formulário

O livro didático é, muitas vezes, a única fonte de estudo para muitos alunos, sobretudo nas escolas públicas em que os meios são mais precários e nem sempre se têm os recursos necessários para avançar em outras possiblidades para um melhor ensino-aprendizagem. A presença dos gêneros textuais nesses materiais vem enriquecer a aprendizagem e o conhecimento de mundo das crianças, pois contribuem para consolidar a ideia da função social da linguagem, seguindo uma perspectiva histórica e ideológica. Frequentemente falta uma relação entre texto e gramática de forma que, desde as séries iniciais, haja a internalização dessa gramática sem que passe pelo denominado preconceito linguístico, além de não abranger sua autonomia e criatividade. Como menciona Sella (2022), com relação as contradições dos livros didáticos, tanto dos conteúdos de gramática ou o uso do texto.

Essa expressão está rendida (ou impedida) nas condições de trabalho em sala de aula (em particular, naquelas constituídas pelo livro didático), muitas vezes de forma tão periférica que nem sempre é perceptível. Embora, na maioria dos livros didáticos, seja apresentada uma espécie de relação entre os elementos gramaticais e o estudo do texto, fica sempre uma disposição de conteúdo em que há uma separação meio taxativa: de um lado, o texto; de outro, a gramática. É nesse vácuo – não só, mas também – que a criatividade se perde. (Sella, 2022, p.14).

Os operadores são essenciais para a coesão e coerência textuais, pois mostram a construção dos argumentos em um texto, uma vez que o texto, de acordo com Koch (2021, p.14), “não é apenas uma sequência de frases isoladas”, mas vão se elencando diversos elementos da língua que estabelecem relações por meio de mecanismos como referência, substituição, elipse, conjunção e coesão léxica, que compõem a “tessitura” deste e se utiliza do sistema léxico-gramatical, estabelecendo relações de sentido.

No presente trabalho vamos remeter aos argumentos de contradição, onde se apresentam duas vertentes, mas havendo um contraste, uma oposição, formando outros argumentos em que aquele que escreve irá contra argumentar ou se opor, apresentando evidências, não devendo se basear em superstições, subjetividades ou clichês. Deve-se, assim, elencar um ponto de vista, levantar hipóteses e defender seu ponto de vista. Em se tratando do contexto escolar, em determinadas séries, existe a possibilidade de utilizar palavras que auxiliarão na produção do texto.

Citamos a teoria de Ducrot, para tratar da questão da conjunção, “mas” enquanto conectivo e, em se tratando da análise de algumas frases de alunos de um segundo ano, percebe-se que ocorre a denominada “negação linguística” em que, conforme (Rocha 2021, p.32) “ao se negar um enunciado não se postula que ele é falso, apenas que ele não serve para determinada argumentação.”  A partir da análise das frases chegamos ao ponto em que há uma argumentação que favorece uma conclusão que se faz contrária à afirmação anterior, já que os discentes podem achar as corujas, bonitas, fofas, mas ao mesmo tempo podem provocar sensações como o medo ou o pavor.

Para o desenvolvimento do trabalho, nos amparamos também em teorias epilinguísticas, para que os alunos consigam desenvolver atividades, compreender e desenvolver enunciados relacionados ao seu cotidiano, sem deixar de considerar a língua enquanto mecanismo discursivo vivo, abrindo espaço para diferentes meios de expressão linguística. Como mencionam Wamser & Rezende,

As atividades epilinguísticas são as próprias operações de linguagem, que trabalham o material da expressão linguística por meio das escolhas do falante dentre as formas fornecidas pela língua. Essas escolhas referem-se à atividade de parafrasagem, que estabelece comparações e experimentações, na maioria das vezes inconscientes, e que sustentam a expressão linguística. São essas atividades que, quando praticadas continuamente, levam os alunos às atividades de análise metalinguística. (Wamser; Rezende, 2013, p. 7).

Travaglia (1996) destaca que as s atividades epilinguísticas são aquelas que suspendem o desenvolvimento do tópico discursivo para, no curso da interação comunicativa, tratar dos próprios recursos linguísticos que estão sendo utilizados, ou de aspectos da interação. Estão presentes em hesitações, correções, pausas longas, além de tentativas de controle da situação comunicativa.

Sobre a importância do trabalho com as atividades epilinguísticas, Geraldi (2002, p. 63) afirma que

Todas essas considerações mostram a necessidade de transformar a sala de aula em um tempo de reflexão sobre o já-conhecido para aprender o desconhecido e produzir o novo. É por isso que atividades de reflexão sobre a linguagem (atividades epilingüísticas) são mais fundamentais do que aplicação a fenômenos sequer compreendidos de uma metalinguagem de análise construída pela reflexão de outros. Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz de compreender uma gramática – que nada mais é do que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua; aquele que nunca refletiu sobre a linguagem pode decorar uma gramática, mas jamais compreenderá seu sentido.

Dessa forma, ao conceber uma perspectiva de significado que transcenda o contexto exposto, almeja-se que os estudantes adquiram a capacidade de engendrar situações para manipular sua própria expressão linguística e diversificadas modalidades de uso da linguagem ao longo de sua trajetória educacional. Nesse processo de apropriação dos conteúdos apresentados, torna-se imperativo esclarecer os conceitos fundamentais de língua e linguagem, destacando a intrínseca relação entre ambos, e salientar que o acesso à linguagem só se efetiva por intermédio da língua. Nesse contexto, as atividades epilinguísticas emergem como inerentes à linguagem, especialmente no âmbito da alfabetização, onde as atividades metalinguísticas desempenham um papel crucial na estruturação do conhecimento sobre o processo de aprendizagem nesta fase.

METODOLOGIA/APLICAÇÃO EM SALA/ANÁLISE DE ATIVIDADE EPILINGUÍSTICA

O presente estudo tem natureza qualitativa, de caráter interpretativista, pois analisa dados coletados através da escrita de alunos de um 2º ano do Ensino Fundamental, além de ser uma pesquisa bibliográfica, por ter como base teóricos que abordam o ensino-aprendizagem, o processo de alfabetização, o epilinguismo e a gramática, que são imprescindíveis para a análise das atividades realizadas pelos alunos.

O foco dos estudos, do presente trabalho estão voltados ao ensino-aprendizagem da leitura e produção textual, considerando a análise de atividades expostas no livro didático. Para tanto, utilizamos um poema de Vinicius Moraes, “A Corujinha”, como base para o desenvolvimento de uma sequência didática, refletindo a respeito dos elementos de contradição além desenvolver atividades epilinguísticas com os alunos.

A princípio, os alunos tiveram contato com o livro didático, com um texto que mencionava sobre morcegos, fato que despertou curiosidade por parte dos alunos. Devido a essa curiosidade, a professora buscou a teoria para desenvolver atividade epilinguística com os mesmos, conduzindo-os à reflexões importantes para o avanço de novas hipóteses de conhecimento. Para isso, buscou-se na literatura infantil um tema que viesse ao encontro com a criatividade das crianças e levasse o professor a sistematizar o ensino da gramática reflexiva, por meio do epilinguismo.

Num primeiro momento, os alunos tiveram contato com o poema “A corujinha”, de Vinicius de Moraes, após, a leitura individual e coletiva, e a canção do poema interpretado por Elis Regina³ houve uma roda de conversa a respeito do conhecimento de mundo das crianças a respeito desses animais além de atividades de interpretação. Em seguida, para alargar seu conhecimento sobre as corujas, assistiram um vídeo a respeito das corujas brasileiras4.  Ao assistir comentaram a respeito das que conheciam e o que acharam do vídeo assistido.

Em seguida, houve o desenvolvimento de atividade escrita, com estrutura de poema, em que as crianças puderam desenvolver a escrita coletiva e individual. Sendo assim, houve a intervenção pedagógica em um 2º ano de ensino fundamental – séries iniciais. Com isso, o professor foi aquele que estimulou, participou e elencou estratégias e formas de levar aos alunos novas experiências, ampliando seu conhecimento de mundo e criando novos sentidos não só para o texto, mas também para a vida.

A opção pelo poema “A coruja” deve-se à figura de um morcego no livro didático dos alunos do correspondente ano. Algumas crianças que moram na zona rural começaram a falar a respeito deste e das corujas, por terem hábitos noturnos, além de emitir ruídos que costumam despertar o medo e a curiosidade. Em consequência, decidimos desenvolver uma sequência didática a respeito das corujas, já que fazia parte do contexto de alguns alunos da sala, remetendo ao letramento que traz à tona questões ligadas às aos aspectos socioculturais, tornando o ensino mais significativo para os discentes, com um tema que lhes chama a atenção.

Ao desenvolver as atividades propostas os alunos demonstraram empenho e gostaram da atividade desenvolvida, pois mostrou relevância, já que foram responsáveis pela construção de seu próprio texto e refletir a respeito dos argumentos de contraposição, especificamente o “mas”, uma vez que após a escrita do texto o professor conduziu os alunos a observarem a forma que utilizaram esse argumento, não deixando de expor de acordo com o nível de aprendizagem dos alunos a utilização do “mas”. Assim, ampliaram o conhecimento, despertando a curiosidade e dando os primeiros passos para autonomia através do desenvolvimento da atividade epilinguística.

RESULTADOS/DISCUSSÕES

 A partir do poema “A Corujinha” de Vinicius de Moraes e de um vídeo elucidativo acerca das corujas, os discentes elaboraram composições sobre o mesmo tema, porém sob uma perspectiva divergente, o que se revela propício para o estudo linguístico. Este processo induz à realização de reflexões, interações e transformações de pensamento, por meio de uma específica interação verbal. Destaca-se, neste contexto, a aspiração de instigar os alunos à produção escrita, mediante o compartilhamento do conhecimento prévio, considerando o autor, inicialmente, por meio da redação coletiva, culminando, posteriormente, na produção autônoma na última estrofe. Neste estágio, cada aluno registra sua perspectiva em relação ao tema abordado.

Ao analisar a escrita de alunos 2º ano do Ensino Fundamental, anos iniciais, percebemos que, mediante as atividades desenvolvidas a respeito do epilinguismo  pode-se proporcionar meios para o enriquecimento das aulas com conteúdos que não excluam a gramática, mas que promovam reflexões a respeito dos diversos sentidos da língua e conceitos importantes que a abrangem, como estudos que levem os alunos a analisarem a língua e seu funcionamento, mediante atividades que venham ao encontro com a realidade dos alunos, o que remete ao letramento. A depender do conteúdo desenvolvido, aplicar atividades lúdicas que explorem o conhecimento de mundo dos alunos e assim os conduzam a ampliar conhecimentos e avançar em novas hipóteses no processo de ensino e aprendizagem.

Ao considerar as  atividades epilinguísticas realizadas com alunos de um 2º ano do Ensino Fundamental, séries iniciais, tendo em vista sua importância no processo de ensino-aprendizagem percebe-se que essas atividades fazem  parte do processo de aquisição da língua, conduzem os alunos a um ensino aprendizagem reflexivo, pois os alunos foram levados através de atividades sistematizadas a analisar o uso de palavras, no caso do elemento de contradição “mas”, internalizando conceitos importantes para a melhoria de sua escrita.

Ao falar de atividades epilinguísticas, retomamos Geraldi (2015, p.60), ao tomar as expressões como objeto, fazendo com que o assunto abordado leve a “refletir sobre os recursos expressivos postos em funcionamento”. Assim, a atividade epilinguística propicia, no caso da atividade desenvolvida em sala de aula, levantar argumentos de contradição, a respeito da visão das crianças com relação às corujas. Tal fato se confirma através da escrita espontânea do último verso do texto que teve quatro estrofes construídas coletivamente e a última as crianças deram o seu ponto de vista a respeito dessa ave.

Ao desenvolver as atividades de escrita coletivas e individuais, o aluno pode ser levado a ser o responsável pela construção de conhecimento mediante atividades sistematizadas. Ao se referir às atividades desenvolvidas  no 2º ano, as crianças tiveram a oportunidade de refletir a respeito do argumento de contraposição “mas”, contando com a figura do professor que mediou esse processo de forma lúdica, estimuladora e criativa pela utilização de música, poema, vídeo, enriquecendo o processo ensino-aprendizagem.

Trazendo à tona a teoria de Ducrot (1989), tendo como base Rocha (2021) podemos dizer que ao se analisar algumas frases dos alunos do segundo ano, podemos verificar que existe um elemento de contradição que leva a negação do enunciado, apresentado em frases escritas pelos alunos.

Os argumentos de contradição, nas frases acima, se associam com a realidade dos discentes. No caso de nosso trabalho, se utiliza de uma questão específica na tentativa de resolver a questão do medo ou não das corujas. O utilizado pelas crianças foi o mas”; embora achem as corujas bonitas, tem medo, pois podem ser assustadoras. Ocorre nesse fato a quebra de expectativa de que todas as pessoas podem achar as corujas bonitinhas, fofinhas, uma vez que elencam esse fato com o argumento de contradição, em que o “mas” que é um conector de contraposição. No caso das orações, “Eu gosto de corujas”; “As corujas são bonitas” e “A coruja é fofinha”, apresenta uma ideia oposta, que remete ao predomínio do processo argumentativo especificado anteriormente, ao mostrar ser mais forte na relação da contradição.

Ao considerar a atividade desenvolvida, as crianças foram levadas a criar novas possibilidades, pois conciliou-se o ensino e aprendizagem ao letramento, a partir do texto, em que puderam afirmar sua identidade e protagonismo, uma vez que foram levados a elaborar coletivamente e de forma espontânea, reconhecendo suas potencialidades, ao alargar sua percepção, representação de conceitos e ampliar suas habilidades de leitura e escrita através da atividade epilinguística, que promoveu neste trabalho a reflexão do operador argumentativo “mas”, como ponto de contradição nas frases escritas pelas crianças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A experiência singular que os alunos tiveram por meio do conteúdo abordado criou um sentido mais amplo, onde o diálogo mostrou construir novas experiências, diversificadas, formando novos sentidos e, a partir das atividades epilinguísticas, mostrar que a escola pode assumir seu papel de conduzir o aluno à reflexão tendo em mãos textos que podem ser transformados, ampliando discussões por meio de atividades metalinguísticas, além de aprofundar conhecimento e utilizar apoios que conduzam o texto a ter sentido, referindo-se especificamente neste caso aos operadores argumentativos que conduz à construção do texto ao utilizar o sistema léxico-gramatical, criando novas relações de sentido.

Assim, compreender a linguagem, construir novas experiências torna-se fundamental para o ensino de língua materna, tendo que ser um ensino sistematizado pelo professor que deverá buscar formas criativas, significativas, motivadoras, favorecendo o conhecimento ao propiciar aos alunos não apenas os conteúdos expostos nos livros didáticos, nem sempre condizentes com o contexto real dos alunos, mas sim, conduzindo-os a  diferentes cenários de produção em que são protagonistas, criadores, o que possivelmente refletirá em suas vidas e no meio em que estão inseridos.


³https://www.youtube.com/watch?v=MjopVQnl7MU
4https://www.youtube.com/watch?v=MjopVQnl7MU

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¹Mestre pela Unioeste – Universidade do Oeste do Paraná – Campus Cascavel – Pr. (Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS). Professora da rede pública Municipal de Ensino para os anos iniciais. https://orcid.org/0009-0009-3164-8698; Vivianibarradass@gmail.com
²Mestre pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel. (Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS). Professor da rede pública Municipal de Ensino para os anos iniciais e do Estado do Paraná – SEED – PR, nos níveis Fundamental II e Médio. https://orcid.org/0009-0003-6256-7328; flachsidnei@gmail.com