ANÁLISE DAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES ENFRENTADAS POR PACIENTES POLITRAUMATIZADOS: UMA ABORDAGEM CLÍNICA E CIENTÍFICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8147238


Vinícius Nogueira Xisto Vieira1; Laura Vilela Buiatte Silva2; Carolina Caetano de Araujo Nunes3; Isabella Beatriz Silva Rocha4; Bruna Freitas Guimarães5; Ludimila Queiros Rodrigues6; Diego Magalhães Cunha7; Felipe Valadão Borges8; Thiago Melanias Araújo de Oliveira9; Larissa Mendonça Wanzeler10; Natacha Ward Sá11; Taynara Carrijo Moreira12; Carlos Eduardo Andrade Khouri13; Lauren Soares Luz14; Lucas Deichel Stelter15; Gustavo Vilela Dourado Araújo16; Brenner Martins Sant’Ana da Cunha17; Laís Celi Mendes Rezende18.


RESUMO

INTRODUÇÃO: O paciente politraumatizado é aquele que sofre múltiplas lesões no corpo, por se tratar de um paciente delicado todas as condutas devem ser muito bem executadas para se evitar complicações. A principal causa do politrauma são os acidentes de trânsito, que muitas vezes gera sequelas irreparáveis para o paciente. OBJETIVO: O objetivo deste trabalho é analisar quais as principais complicações associadas ao paciente politraumatizado, com foco em conduta e tratamento. RESULTADO E DISCUSSÃO: Além dos erros na execução do ATLS, as complicações mais comuns incluem: insuficiência respiratória aguda, choque hemorrágico, incompatibilidade, disfunção de órgãos, lesões neurológicas, além de complicações psicológicas e sociais. Cada complicação dependerá do tipo de trauma que o paciente tiver sofrido e a recuperação dependerá da gravidade das lesões. CONCLUSÃO: A implementação de protocolos e diretrizes com base em evidências, bem como o uso de tecnologias avançadas, como a telemedicina e a simulação clínica, têm se mostrado eficazes na melhoria dos resultados e na redução das complicações.

Palavras chave: Politrauma; Complicações; Urgência e Emergência.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The polytraumatized patient is the one who suffers multiple injuries in the body, because it is a delicate patient, all conducts must be very well executed to avoid complications. The main cause of polytrauma is traffic accidents, which often generate irreparable consequences for the patient. OBJECTIVE: The aim of this study is to analyze the main complications associated with multiple trauma patients, focusing on management and treatment. RESULTS AND DISCUSSION: In addition to errors in performing the ATLS, the most common complications include: acute respiratory failure, hemorrhagic shock, incompatibility, organ dysfunction, neurological injuries, in addition to psychological and social complications. Each complication will depend on the type of trauma the patient has suffered and recovery will depend on the severity of the injuries. CONCLUSION: The implementation of evidence-based protocols and guidelines, as well as the use of advanced technologies, such as telemedicine and clinical simulation, have been shown to be effective in improving outcomes and reducing complications.

Keywords: Polytrauma; Complications; Urgency and emergency.

INTRODUÇÃO

Um dos primeiros estudiosos sobre o trauma foi Hipócrates, onde o mesmo relata sobre pacientes gravemente feridos nas guerras, que na maioria das vezes eram tratados com ferro (faca) ou fogo, por meio do processo que conhecemos hoje como cauterização. Galen, filósofo romano, escreveu sobre a importância de se reconhecer e tomar medidas o mais rápido possível para cuidar dos feridos de guerra. Já no século quinze e dezesseis Brunschwig enfatizaram sobre a importância de se remover tecidos desvitalizados das feridas abertas, sendo necessário para a recuperação (MÜLLER et al., 2003).

A partir de então, vários procedimentos surgiram e se desenvolveram para tratar graves lesões, mas somente a partir da primeira guerra mundial que o atendimento ao paciente politraumatizado se tornou um problema de saúde pública. Atualmente as fraturas expostas tem por objetivos principais: prevenir o acometimento de infecções, promover a restauração das partes moles e por fim, fixar a fratura com alinhamento adequado promovendo estabilidade para o paciente até a chegada no hospital (MÜLLER et al., 2003).

Porém nem sempre o paciente politraumatizado terá uma fratura exposta, o traumatismo cranioencefálico (TCE), por exemplo, é caracterizado como uma lesão ocorrida por força externa na cabeça que resulta em lesão anatômica ou até mesmo o comprometimento das funções do crânio e encéfalo. Um fato relacionado ao atendimento ao paciente politraumatizado é que o TCE é a principal causa de morbidade e mortalidade em pacientes vítimas de trauma sendo uma das principais causas de morte em indivíduos com menos de 45 anos de idade. Dentre as principais causas de TCE estão quedas, acidentes automobilísticos, acidentes no trabalho e outros tipos de colisões, sendo mais comuns em homens (Magalhães et al., 2022).

Em termos de custo, o atendimento ao paciente politraumatizado é um desafio financeiro para a saúde pública. Somente nos Estados Unidos, cerca de 2,8 milhões de atendimentos de emergência foram devidos ao TCE, sendo o principal responsável pelos custos na emergência médica no país. Já na Europa, o TCE foi responsável por 37% de mortalidade relacionada a lesões e traumatismos, em termos financeiros, foi estimado um custo de € 22.907 milhões por ano nos países europeus (Magalhães et al., 2022).

As fraturas dos ossos temporais, são resultado de TCEs de alta intensidade e energia, e estando em sua maioria das vezes relacionadas a outras fraturas cranianas, devido a isso, geralmente há necessidade de uma avaliação multidisciplinar de vários especialistas, como otorrinolaringologista, radiologista e neurocirurgiã. Atualmente, para um diagnóstico mais efetivo, um hospital equipado com a tomografia é essência, uma vez que, além de ser o exame de imagem padrão ouro para diagnóstico e prognóstico do TCE, a tomografia computadorizada ele é responsável por avaliar a evolução das lesões (COSTA et al., 2013).

O objetivo deste trabalho é analisar quais as principais complicações associadas ao paciente politraumatizado, com foco em conduta e tratamento.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa, utilizando artigos publicados entre os anos de 2015 a 2022, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola que foram publicados de forma íntegra nos bancos de dados United States National Library of Medicine (PUBMED), Online Scientific Electronic Library (SCIELO), Latin American and Caribbean e Literature in Health Sciences (LILACS). Para seleção dos estudos elegíveis foram utilizados, os unitermos: “POLITRAUMA” AND “COMPLICAÇÕES” AND “EMERGÊNCIA”. Não foram considerados estudos que não se relacionavam com a temática ou que repetiam nas bases utilizadas e que não contemplavam o período analisado. Foram identificados 235 artigos relacionados com a temática, após a seleção dos estudos, 26 trabalhos científicos foram explorados neste trabalho. A pesquisa foi realizada em abril de 2023. Os artigos selecionados tiveram com base um filtro de três passos

I – Leitura dos títulos dos artigos

II – Leitura dos resumos dos artigos

III – Leitura dos resultados e discussão

Após essa análise foram selecionados os artigos utilizados nesse artigo, como demonstrado no fluxograma 1.

Fluxograma 1

Fonte: Autores,2023.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Uma pesquisa revelou que os acidentes de trânsito estão entre as causas mais comuns de atendimento em um pronto-socorro em todo o mundo. Ao todo, os acidentes de trânsitos são responsáveis ​​por cerca de 1,2 milhão de mortes por ano, e geram em torno de 50 milhões de feridos em todo o mundo, com sequelas graves como tetraplegia. O politrauma acomete mais jovens e homens, onde muitas das vezes as consequências acontecem principalmente nas primeiras décadas de vida, na idade economicamente ativa dessas pessoas (NOORALI; ATTYIA; ALSUNBULI et al.,2023).

Quando se fala em primeiro atendimento às vítimas do politrauma, deve-se pensar no serviço pré-hospitalar realizado pelo Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (SIATE) do Corpo de Bombeiros onde é realizada uma triagem com uma classificação das vítimas conforme o grau de gravidade. Após esse primeiro procedimento, as vítimas são encaminhadas para um serviço de maior complexidade, ambiente hospitalar, para a continuidade do tratamento. Porém, no Brasil, nem todos os hospitais possuem profissionais qualificados no atendimento ao politraumatizado. Atualmente, todos os médicos podem atuar como emergencista, de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) no 2077/14 versa sobre a normatização do funcionamento dos Serviços Hospitalares de Urgência e Emergência, no seu Artigo 3o a obrigatoriedade do atendimento ao paciente politraumatizado ser realizado por um médico, porém não há obrigatoriedade quanto a especialidade do mesmo. O que se observa na prática é que o “emergencista” geralmente é um especialista em clínica médica ou cirurgião. Somente em 2016, de acordo com a Resolução CFM no 2149/2016, aprovou a Medicina de Emergência como especialidade médica, e da Medicina de Urgência como Área de Atuação Médica. Isso surgiu como uma necessidade de especialistas, o que faz toda a diferença com tomadas de decisões, sendo um diferencial para se evitar complicações (MARQUES et al.,2016)

O protocolo de atendimento inicial ao paciente politraumatizado no mundo todo é o Advanced Trauma Life of Support (ATLS) considerado o padrão ouro. Para a orientação das condutas, é utilizado o sistema ABCDE sendo A (Airway) avaliação das vias aéreas, B (Breathing) respiração e ventilação do paciente, C (Circulation) estado circulatório do paciente, D (Disability) função neurológica, E (Exposure) expor o paciente para avaliação completa e evitar hipotermia. O sistema ABCDE padroniza a abordagem do paciente politraumatizado, caracterizando por ordem prioritária as condutas. Caso esses passos não sejam seguidos, é muito provável que o paciente entre em choque hipovolêmico e cardiogênico, além de sofrer sequelas permanentes como tetraplegia (Galvão, Rodrigues & Santana, 2017; Oliveira,  2017).

Do ponto de vista clínico, quando se fala em principais complicações, elas estão associadas a negligência ou erro médico. Um estudo realizado com pacientes socorridos por serviço de atendimento móvel de urgência, demonstrou que, apesar de ser essencial para o registro médico, foi registrado uma abstenção em até 3,2% das ocorrências. Foram verificadas fichas sem registro em 897 casos (97% do total), que foram preenchidas por profissionais da enfermagem no atendimento pré-hospitalar, mas não há anotações no atendimento hospitalar (Souza, 2015).

Dentre as principais complicações que podem ocorrer o atendimento do paciente politraumatizado, as fraturas de base de crânio e obstrução de vias aéreas merecem uma atenção especial. Quando o paciente apresenta otorragia, Sinal de Battle, blefaro hematoma  classicamente conhecido como Sinal  de  Guaxinim  e rinoliquorréia, são evidências de comprometimentos na base craniana. Deve se ter uma atenção especial pois essas fraturas estão ligadas a Devido a função respiratória do paciente, onde a mesma pode vir a ser obstruída. Caso essa complicação ocorra, a intubação orotraqueal é dificultada, tendo como alternativa, a traqueostomia (Gomes et al., 2017). Pacientes que apresentam fraturas do   maxilofacial possuem maior chances de serem acometidos por hemorragia intracraniana, que muitas vezes leva ao óbito. (Choonthar et al., 2016; Galvão, Rodrigues & Santana, 2017).

CONCLUSÃO

As principais complicações enfrentadas pelos pacientes politraumatizados são uma consequência direta do impacto severo e multifatorial de lesões graves em várias regiões do corpo. Esses pacientes enfrentam desafios experimentados devido à complexidade dos danos e à interação complexa entre diferentes sistemas fisiológicos. As complicações mais comuns incluem insuficiência respiratória aguda, choque hemorrágico, incompatibilidade, disfunção de órgãos, lesões neurológicas, além de complicações psicológicas e sociais. A implementação de protocolos e diretrizes com base em evidências, bem como o uso de tecnologias avançadas, como a telemedicina e a simulação clínica, têm se mostrado eficazes na melhoria dos resultados e na redução das complicações. A pesquisa contínua nessa área é fundamental para aprimorar as estratégias de tratamento e promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes politraumatizados.

REFERÊNCIAS

CHOONTHAR, M. M., PANDAYA, K., PRADEEP, S., PRASAD, R., & RAGHOTHAMAN, A. Head Injury –A Maxillofacial Surgeon’s Perspective. Journal of Clinical & Diagnostic Research. v.1, n.1, 2016.

COSTA, A. M. D et al. Trauma dos ossos temporais e suas complicações: aspectos na tomografia computadorizada. Radiologia Brasileira, v. 46, n. 2, p. 101–105, 2013.

GALVÃO, I. M., RODRIGUES, M. S., & SANTANA, L. F. Utilização do ABCDE no Atendimento do Traumatizado. Rev. Med. v.4, n.96,2017

Gomes,  R.  S.  S.,  Luz,  F.  A.,  Machado,  A.  N.,  Mattos,  L.  L.,  Sales,  E.  C.,  &  Santiago,  L.  G.  Pacientes Acometidos  por Trauma  Grave  de  Face: Abordagem, Etiologia, Prognóstico e Características. Anais do Seminário Científico da FACIG v. 3, n.1, 2017.

MAGALHÃES, A. L. G. et al. Traumatic brain injury in Brazil: an epidemiological study and systematic review of the literature. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 80, n. 4, p. 410–423, 2022.

MARQUES, V. D. et al. Evaluation of care for traffic accidents victims made by on duty emergency physicians and surgeons in the emergency room. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 43, n. 6, p. 458–465, 2016.

MÜLLER, S. S. et al. Estudo epidemiológico, clínico e microbiológico prospectivo de pacientes portadores de fraturas expostas atendidos em hospital universitário. Acta Ortopédica Brasileira, v. 11, n. 3, p. 158–169, 2003.

NOORALI, I. S.; ATTYIA, M. A.; ALSUNBULI, M. M. B. Patterns of Maxillofacial Injures Caused by Motorcycle Accidents. International Archives of Otorhinolaryngology, v. 27, n. 2, p. 309–315, 2023.

Oliveira, T. N. S. Trauma: Atendimento Inicial no Intra-Hospitalar. Repositório Instucional da UFSC, v.1, n.1, 2017. 

PASCHOAL, F. M.; PACCOLA, C. A. J. Haste bloqueada “Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto”: experiência clínica no tratamento das fraturas femorais. Acta Ortopédica Brasileira, v. 8, n. 4, p. 160–177, out. 2000.

RADEL, M. E.; SHIMIZU, H. E. Análise da implantação do Componente Hospitalar na Rede de Atenção às Urgências e Emergências. Saúde em Debate, v. 47, n. 136, p. 39–55, jan. 2023.

SOUZA, S.G. Service Mobile Service Urgent: trauma brain Injury Index in traffic accident victims in a city of the interior of Paraiba. INTESA – Informativo Técnico do Semiárido, v.9, n.2, 2015.


1Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
2Acadêmica de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
3 Médica pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
4 Médica pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
5 Médica pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
6 Médica pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
7 Médico pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
8 Médico pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
9Médico pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil
10 Acadêmica de Medicina pela Universidade da Cidade de São Paulo- Unicid, Brasil
11 Acadêmica de Medicina pela Universidade da Cidade de São Paulo- Unicid, Brasil
12 Médica pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
13Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
14Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
15Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
16Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil
17 Acadêmico de Medicina pelo Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos – IMEPAC, Câmpus Itumbiara, Goiás Brasil
18Acadêmica de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Rio Verde, Goiás, Brasil.