ANÁLISE DAS POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES MATERNAS E AO NEONATO RELACIONADAS ÀS VIAS DE PARTO – ARTIGO DE REVISÃO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.13117527


Aline Fernandes Oliveira1; Luiza Cheque Melo de Gouvêa Montezano1; Rai dos Santos Medina1; Ana Paula Machado Frizzo2; Alice de Paula Falcão Cerqueira2; Maria Aparecida Machado Orioli2; Marco Antônio Gomes Andrade2; Indyara Cordeiro Machado2; Fernanda Cardilo Lima2; Edna de Jesus Suzano2


Resumo: O processo de trabalho de parto resulta na expulsão do feto e produtos da concepção do útero materno de forma fisiológica, a qual ocorre por resultado de contrações uterinas progressivas, regulares e eficazes, seguido de dilatação do colo uterino. O parto pode ser natural ou feito por intermédio de uma intervenção cirúrgica conhecida como cesárea. Nesse viés, em vista da necessidade da realização de algum desses procedimentos para conceber o neonato, complicações ao recém-nascido e à parturiente podem ocorrer. O presente estudo objetiva elucidar qual a preferência da via de parto para conceber o feto e quais as razões maternas e médicas dessa escolha, além de pontuar quais as possíveis complicações que podem ocorrer à mãe e as repercussões disto ao neonato correlacionadas à natureza do parto, vaginal ou cesárea.  

Palavras-chave: Parto normal. Cesárea. Complicações. Recém-nascido.

Abstract: The labor process results in the expulsion of the fetus and products of conception from the maternal uterus in a physiological manner, which occurs as a result of progressive, regular and effective uterine contractions, followed by dilation of the cervix. Birth can be natural or carried out through a surgical intervention known as a cesarean section. In this sense, given the need to perform one of these procedures to conceive the newborn, complications for the newborn and the parturient may occur. The present study aims to elucidate the preferred route of delivery to conceive the fetus and the maternal and medical reasons for this choice, in addition to highlighting the possible complications that may occur to the mother and the repercussions of this for the newborn correlated to the nature of the birth, vaginal or cesarean section.

Keywords: Normal birth. Cesarean section. Complications. Newborn.

1 – INTRODUÇÃO

A gestação ocorre por aproximadamente 40 semanas, desde o momento da fertilização do óvulo com o espermatozoide até o parto, e é dividida em trimestres, fundamentais para o pleno desenvolvimento dos órgãos e estruturas do corpo do embrião. O trabalho de parto é caracterizado por uma série de eventos fisiológicos de expulsão fetal que ocorre em três etapas: fase inicial que consiste nas contrações uterinas progressivas e ritmadas com dilatação do colo do útero; expulsão fetal pelo canal vaginal e nascimento; fase de alumbramento ou de expulsão placentária e membranas adjacentes (REZENDE, 2005).

O parto normal pode ser escolha para a via de parto pela mãe por considerar que o corpo feminino foi preparado para esse processo e a recuperação materna é mais rápida em comparação ao procedimento da cesariana, que envolve uma cirurgia abdominal, com maior tempo de internação hospitalar, risco de infecção cirúrgica, riscos associados à anestesia e outros potenciais efeitos colaterais e crença de que o parto natural promove maior vínculo mãe-bebê (POSNER 2014).

Em relação ao neonato, repercussões negativas no parto cirúrgico que fazem com que mães optem pela via natural são o risco de taquipneia transitória no recém-nascido (Colégio Americano de Ginecologistas-Obstetras, 2013); retardo e diminuição na descida do leite materno em decorrência de esse procedimento interferir na liberação de ocitocina; efeitos redutivos transitórios no sistema imunológico do nascituro, pois no parto cirúrgico o bebê não tem o primeiro contato com a microbiota vaginal materna, importante para a colonização inicial da microbiota intestinal do recém-nascido (LAHM, 2015).

O processo de concepção do nascituro pode ocorrer por via cirúrgica, ao invés do parto vaginal por uma série de razões médicas ou de desejo materno. Complicações médicas relacionadas a esse processo envolvem a distocia, quando a passagem fetal é difícil ou impossibilitada pelo canal vaginal; posição fetal dificultada, como pélvica ou transversal; placenta prévia (implantada sobre a abertura do colo uterino); patologias pregressas maternas; sofrimento fetal; doença fetal; risco de sofrimento fetal por parto prolongado; risco de ruptura uterina por cesárea prévia; gestação gemelar; trabalho de parto prolongado; situações emergenciais durante o trabalho de parto; preferência materna por medo: da dor no parto normal, de lesões na anatomia e fisiologia da vagina, de complicações fetais durante o parto normal; organização da atenção obstétrica com vista à conveniência de uma intervenção cirúrgica programada; esterilização cirúrgica e prontidão anestésica em cesáreas eletivas, o que gera maior segurança (NASCIMENTO, 2015).    

Entraves relacionados ao trabalho de parto natural, caso feito de forma prolongada em um período maior que 12 (doze) horas, incluem o sofrimento fetal agudo, emergência obstétrica em que há redução das trocas feto-maternais que causa transtornos metabólicos ao feto, como hipóxia, acúmulo de gás carbônico, acidose metabólica, aumento do lactato e hipoglicemia (GROENENDAAL, 2020). Complicações com potencial de prevenção que podem evoluir com morte e morbimortalidade neonatal incluem morte fetal intrauterina, rebaixamento do nível de consciência e lesões que podem ser irreversíveis no sistema nervoso central, em decorrência da falta de aporte de oxigênio necessária (GOFFI, 1991).

As fraturas ósseas no recém-nascido podem ocorrer durante o trabalho de parto normal, apesar de não serem comuns, como fratura de clavícula, úmero, distocia de ombro e fratura de crânio (BISHOP, 2007). Fatores que podem aumentar o risco dessas lesões são o tamanho e a posição do feto, além do uso de instrumentos para retirada deste, como fórceps ou vácuo extrator. A deformação craniana também pode ocorrer, por causa da pressão exercida sobre o crânio fetal ao passar pelo canal vaginal, o que pode acarretar a sobreposição ou achatamento dos ossos do crânio do bebê (YESTE, 2004). 

2 – MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi conduzido com um delineamento transversal e descritivo, com abordagem qualitativa, constituindo-se em um estudo de revisão bibliográfica integrativa de literatura com o objetivo de elucidar as preferências de vias de parto (vaginal ou cesárea) entre gestantes e os motivos médicos e maternos que influenciam essa escolha, além de identificar as complicações associadas a cada tipo de parto e suas repercussões para o recém-nascido. Para elucidar a pesquisa, foram usadas publicações presentes nas bases de dados SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE e NCBI/PubMed, utilizando as palavras-chave: “Parto Normal”, “Cesárea”, “Complicações”, “Recém-nascido”.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Risco de complicação do parto cesárea para a mãe e para o bebê

O tipo de parto denominado cesárea é um procedimento cirúrgico no qual o bebê é removido por meio de uma incisão no abdome e no útero materno e, embora seja um procedimento comum e muitas vezes necessário, este tipo de abordagem não está isento de riscos e complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. Este artigo explora esses riscos, destacando a importância de considerar todas as opções e implicações antes de optar por esse tipo de parto.

A literatura médica nacional e internacional alerta para os aumentos significativos das taxas de parto cirúrgico, bem como sobre a ampliação significativa das indicações médicas para tal procedimento e ainda, inclusive, sobre o direito de a mulher escolher o tipo de parto que deseja  (LANCET, 1997). No ano de 2008, 6.2 milhões de cesáreas desnecessárias foram realizadas no mundo; dessas, China e Brasil representaram quase 50% do total de cesarianas sem indicação médica (GIBBONS, 2010). Além dessa análise, também tem sido documentada, uma maior frequência de cesáreas nas classes socioeconômicas mais altas no Brasil(FABRI, 2002). As principais justificativas para elevação desse tipo de intervenção cirúrgica é a possibilidade de programação do parto o que muitas vezes é considerado conveniente para a gestante e seu médico. O ideal de que a cesariana é menos dolorosa e mais segura para a mãe é errôneo e também contribui para o aumento sem indicação clínica desse tipo de procedimento.

Conforme Lancet (2011), o Brasil apresentou nas últimas décadas aumentos significativos nas taxas de parto cesárea. Estimativas de 1970 indicam que a taxa de partos cesárea era de cerca de 15%, subindo para 38% em 2001 e para 48,8% em 2008, representando 35% dos partos do Sistema Único de Saúde (SUS) e 80% dos partos do setor privado. No ano de 2009, a taxa de partos cesárea foi 50,1%, superando, pela primeira vez, o número de partos vaginais. Esse número continua aumentando, tendo a cesárea representado 55,7% dos partos no ano de 2012, sendo este um indicador de má prática obstétrica e de saúde pública.

O ideal de que a alta incidência de cesarianas é justificável pela redução na morbidade e mortalidade materna e perinatal não está comprovada. Em oposição a isso, um estudo recente de 12 países concluiu que uma grande proporção de intervenções foram desnecessárias ou proporcionaram benefício mínimo, dessa forma o aumento da incidência de cesarianas foi associado à elevação dos riscos devidos à anestesia e morbidade operatória para a mãe e o recém-nascido, acrescidos dos riscos em partos futuros(NOTZON, 1987). Apesar da importância inegável desse procedimento, gestantes e profissionais de saúde precisam conhecer os riscos maternos associados às diferentes vias de parto.

O aumento significativo no número de cesáreas feitas tem relação com a melhorias de acesso a esse procedimento em caso de necessidade, contudo também é evidente a realização indiscriminada sem indicação clínica. Essa situação reflete em campanhas da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) por meio de um programa da Organização Mundial de Saúde, que incentiva a aderência ao parto vaginal a partir do programa “Maternidade segura”  em publicação nomeada: “Cesariana: uma epidemia invisível” (LANCET, 2000), numa tentativa de  diminuir essas taxas e o risco de morte e complicações, tanto maternas como neonatais, associado a cesárea, em comparação àquele associado ao parto vaginal.

Há, na literatura, a citação de vários fatores que influenciam na incidência de cesarianas, como a remuneração do parto, aspectos culturais, comodidade e falta de tempo dos obstetras, falta de orientação e de traçar um plano de parto baseado nos benefícios e malefícios de cada procedimento e a forma como está estruturada a assistência hospitalar de saúde pública e a conveniada. Constatou-se que o parto normal foi realizado cerca de quatro vezes mais em hospitais públicos, em relação aos hospitais privados sem atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 24% a mais nos hospitais públicos em relação aos hospitais privados com atendimento pelo SUS. Esses dados indicam que há relação entre a situação socioeconômica e a escolha do tipo de parto (PORTTER, 2001).

O parto por cesárea foi associado a efeito protetor para o neonato, por diminuição do risco de lesão do plexo braquial e de fraturas ósseas. Em relação à parturiente, o risco de incontinência urinária é menor e as lesões perineais são prevenidas nas mulheres que se submeteram a cesarianas (MOLKENBOER, 2004).

A se avaliar os riscos maternos, a morbidade da parturiente nessa via é maior do que pelo parto vaginal, visto que há risco aumentado de infecções, necessidade de transfusão sanguínea, pneumonias, complicações cardiopulmonares, infecção urinária, cefaleia, dor, risco de complicações obstétricas, tromboembolismo e desordens gastrointestinais maternas, e, além disso, o risco de readmissão hospitalar nos sessenta dias pós parto cesariana é maior que após o parto por via vaginal espontânea (MARTINS, 2016).

A presença de infecção pós-parto, independentemente do sítio de infecção ou infecção da ferida operatória, é maior nas cesáreas, bem como a necessidade de internação em UTI. Destacam-se as infecções puerperais como uma das principais causas de óbitos maternos nos anos de 2000 a 2009. A maioria dos processos infecciosos nessa fase é causada por infecções do trato urogenital ou na ferida operatória da cesárea, podendo ocorrer também por infecções uterinas e em anexos, por ingurgitamento mamário, mastite, tromboflebite e complicações respiratórias (MARTINS, 2016).

A hemorragia pós parto (HPP) é a principal causa de morte materna em países em desenvolvimento, além de ocorrer em cerca de 2% das puérperas e ser responsável por cerca de 25% das mortes maternas no mundo, incluindo a alta associação a morbidade e sequelas a longo prazo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012). Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante uma cesariana a HPP é definida como a perda de 1000 ml ou mais de sangue. As etiologias advindas de um parto cirúrgico estão relacionadas a trauma por incisão cirúrgica, atonia uterina, placenta prévia e lesão cirúrgica a órgãos adjacentes, como bexiga e intestino, lesões podem necessitar de reparação cirúrgica imediata e prolongar o tempo de recuperação (SILVA, 2014).

A trombose venosa profunda (TVP) na gravidez é fator determinante no aumento da morbidade e da mortalidade materno fetal, uma vez que alterações fisiológicas da gravidez contribuem para um estado de hipercoagulabilidade (YOO, 2017). Pode ocorrer na presença de trombofilias, por compressão da veia cava inferior, estase venosa ou alterações hormonais.

Conforme uma pesquisa realizada por Deneux-Thoraux et al. (2006), a excluir mulheres que não tinham doenças pré-existentes ou complicações obstétricas que aumentam o risco materno, e considerando idade materna, idade gestacional e nacionalidade, há risco maior de morte materna na cesárea e em cesáreas eletivas, em comparação aos partos vaginais. A se considerar a idade materna, pesquisas afirmam um risco maior de reinternação associado à cesárea comparada ao parto vaginal espontâneo(LYDON-ROCHELLE, 2000).

A cesárea pode predispor a complicações em gestações futuras, como o risco de ruptura uterina no local da cicatriz da cesariana anterior, placenta prévia, placenta acreta, increta ou percreta, formação de aderências e aumento da necessidade de cesarianas futuras (MAFFEI, 2016).

Em relação aos riscos neonatais em decorrência à via de parto, há evidências  de maior risco de complicações respiratórias na cesárea eletiva, mesmo nas gestações a termo, pois há um risco aumentado de problemas respiratórios, como taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN), síndrome do desconforto respiratório (SDR), hipertensão pulmonar persistente, dificuldades respiratórias no período neonatal e desenvolvimento de asma. Isso ocorre porque o processo de trabalho de parto ajuda a expelir o líquido dos pulmões do bebê, pois ocorre uma compressão torácica durante a passagem do bebê pelo canal vaginal e há um aumento da liberação de catecolaminas produtoras de surfactante pulmonar, o que ocorre no parto cirúrgico de forma defasada e reduzida (MADDAR, 1999).

Análises evidenciam maior incidência de recém-nascidos de baixo peso neste tipo de procedimento (MURTA, 2006), além de maior risco de internação em Centros de Terapia Intensiva, internações prolongadas, aumento da necessidade de manobras de reanimação, APGAR menor em relação aos nascidos de parto normal, dificuldade de controle térmico, coordenação de sucção e deglutição dificultadas, visto que bebês nascidos por cesárea podem ter mais dificuldade em se adaptar ao ambiente fora do útero, o que pode afetar temporariamente a alimentação e a termorregulação, também pode cursar com icterícia neonatal, convulsões, risco de contusões, trauma de procedimento cirúrgico, prematuridade, atraso no desenvolvimento neurológico, problemas no crescimento e desenvolvimento, maior procura por serviços de saúde no primeiro ano de vida, sepse neonatal e risco de morte súbita aumentado (AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2013).

O recém-nascido pode cursar com complicações imediatas após cesariana, como taquipneia transitória e hipoglicemia, e complicações tardias, como rinite alérgica, asma, obesidade até 5 anos de idade, mais chances de manifestar distúrbios neurológicos, como Transtorno do Espectro Autista (TEA) e esquizofrenia, além de doenças autoimunes, como dermatite atópica, artrite juvenil, doença celíaca, doença inflamatória intestinal e diabetes mellitus tipo 1. A falta do primeiro contato com a microbiota vaginal materna causa aumento no desenvolvimento de doenças e desenvolvimento imunológico alterado como resultado de colonização intestinal tardia. Embora seja raro, há um risco de lesões físicas ao bebê durante a cirurgia, como cortes acidentais causados pelo bisturi (SLABUSZEWSKA-JÓZWIAK, 2020).

Outras complicações descritas na literatura são o atraso no início da amamentação, com consequente diminuição da probabilidade de aleitamento materno e inserção precoce à ingestão de fórmulas lácteas, as quais estão associadas a fenômenos de intolerância e alergia às proteínas do leite de vaca (MURTA, 2006). Durante o parto vaginal, a ocitocina, hormônio fundamental no processo de amamentação, responsável pela contração das células mioepiteliais na mama, o que ajuda a expelir o leite, é liberada em maiores quantidades devido à estimulação natural causada pelas contrações uterinas. Esse aumento de ocitocina ajuda a iniciar a produção e facilita a “descida” do leite. Em uma cesariana, especialmente em casos de cesariana eletiva (sem trabalho de parto), a liberação de ocitocina pode ser menor inicialmente. Isso pode retardar a descida do leite e dificultar a amamentação nos primeiros dias. Ademais, é evidente que os bebês nascidos de cesariana eletiva mamam no seio materno por menos tempo em comparação a bebês nascidos via parto natural (MURTA, 2006).

Desta forma, preconiza-se que na ausência de indicação materna ou fetal, o parto vaginal é sempre o mais seguro e apropriado, já que muitas pesquisas e os resultados têm apontado a existência de maiores riscos à saúde infantil.

Risco de complicação do parto normal para a mãe e para o bebê

O parto normal, também conhecido como parto vaginal, é o método natural de nascimento, onde o bebê passa pelo canal de parto da mãe. Ainda existem médicos que optam por essa via de parto por levar em consideração o fato de ser fisiológico, visando que o corpo materno está preparado para esse fim, além de a recuperação ser mais rápida, haver menos riscos de hematomas, infecções ou complicações cirúrgicas maternas. Embora seja frequentemente considerado mais seguro e com menos complicações a longo prazo em comparação ao parto cesárea, o parto normal não está isento de riscos.

Análises de literatura tornam evidente o maior risco de morte e complicações na via vaginal na apresentação pélvica (LANCET, 2010), além disso existem dúvidas sobre a via de parto que oferece menor risco para o prematuro extremo, bem como na gestação a termo na apresentação cefálica (KILSZTAJN, 2017).

Descreve-se maior incidência de perda urinária de esforço e incontinência fecal associadas ao parto vaginal, uma vez que, durante o parto, o assoalho pélvico pode ser danificado, o que pode culminar na perda de controle esfincteriano(FOLDSPANG, 2009), e outras complicações como lacerações vaginais e de períneo, o que ocorre quando o tecido da vagina é esticado durante o parto, causando uma ruptura na pele. Essa laceração pode variar em gravidade, desde pequenas lacerações superficiais até lacerações mais profundas que afetam o músculo da vagina e podem levar a dor e desconforto, além de aumentar o risco de infecção. O risco de episiotomia também é prevalente, em situações com sofrimento fetal, progresso insuficiente do parto e lesão iminente de 3º grau do períneo (FOLDSPANG, 2009).

O risco de hemorragia pós parto, apesar de mais incidente no parto cirúrgico, ainda é um risco que pode ser causado por lacerações, lesões no colo do útero, na bexiga, no reto ou na uretra, risco de ruptura uterina ou atonia uterina (AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2013). .

Também podem ocorrer o prolapso de órgãos pélvicos em decorrência do esforço e da pressão exercida durante o trabalho de parto vaginal, que podem enfraquecer os músculos do assoalho pélvico, levando a um risco aumentado de prolapso de órgãos pélvicos. Isso pode resultar em problemas como incontinência urinária ou fecal e sensação de peso na região pélvica(AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2013).

Assim como na cesárea, existe o risco de infecção após um parto vaginal. Infecções podem ocorrer no útero, no local da episiotomia ou lacerações, ou até mesmo no trato urinário(FERRAZ, 2016). A dor e o desconforto são causas que fazem com que muitas mulheres optem pelo parto cirúrgico, em vista que muitas mulheres experimentam uma dor significativa durante o trabalho de parto e parto. Embora existam métodos para alívio da dor, como a anestesia epidural, nem todas as mulheres optam ou têm acesso a essas opções (NASCIMENTO, 2015).

Riscos ao neonato relacionados ao parto normal envolvem trauma fetal, como distocia de ombro, que pode causar lesões nos nervos do pescoço e ombro do bebê, levando a fraqueza ou paralisia do braço afetado. Uma das complicações mais comuns associadas ao parto normal é o trauma no crânio do bebê. Durante o parto normal, a cabeça do bebê é comprimida pela passagem vaginal, o que pode resultar em inchaço ou hematomas no couro cabeludo. Em casos mais graves, pode ocorrer uma fratura do crânio ou hemorragia intracraniana (NASCIMENTO, 2015).

Outra complicação possível é a asfixia neonatal, que ocorre quando o bebê é privado de oxigênio durante o parto. Isso pode levar a lesões cerebrais ou morte fetal. Esse sofrimento fetal pode ser causado por complicações durante o trabalho de parto, compressão do cordão umbilical ou falta de oxigênio se trabalho de parto prolongado, ou risco de aspiração de mecônio (AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2013).

 Fraturas e lesões apesar de raras incidências, podem ocorrer, como lesão de clavícula e crânio. Em alguns casos, o trabalho de parto pode começar prematuramente, colocando o bebê em risco de complicações associadas à prematuridade, como problemas respiratórios, dificuldade de alimentação e infecções(AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2013).

Acredita-se que as concentrações aumentadas de hormônios do estresse durante o parto vaginal têm importância no desenvolvimento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal do bebê, com aumento da produção de catecolaminas e cortisol, na maturação do sistema imunológico, dos pulmões, na adaptação do sistema circulatório à vida extrauterina e na neurogênese fetal(SILVESTRI, 2024).

Preferências para a via de parto: maternas ou médicas

A escolha da via de parto é uma decisão importante que envolve vários fatores médicos, pessoais e culturais. A preferência pela via de parto pode variar significativamente entre as mulheres, dependendo de suas circunstâncias individuais, experiências passadas e recomendações médicas. As vantagens do parto normal incluem recuperação mais rápida em relação à cesariana, menos risco de complicações cirúrgicas, benefícios ao bebê por exposição à microbiota vaginal materna e expulsão do liquido pulmonar fetal. As vantagens do parto cesárea giram em torno de possibilidade de planejamento e controle, o que pode ser conveniente para a mãe e para a equipe médica, escolha em casos de emergência ou complicações clínicas e menos risco de trauma neonatal durante a passagem do bebê pelo canal de parto(HOPKINS, 2000).

As preferências pela via de parto são influenciadas por diversos fatores pessoais e culturais, baseados em experiencias anteriores, crença em algumas culturas de que há uma forte preferência pelo parto vaginal como a “forma natural” de dar à luz, enquanto outras podem ver a cesariana como uma opção mais segura ou moderna. O acesso à informação e educação também é crucial na escolha, a se basear nos riscos e benefícios de cada via de parto e as considerações médicas são fundamentais, baseando-se na condição clínica da mãe e do bebê para decidir sobre a via a ser escolhida(RORTVEIT, 2013).

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O parto cesáreo, embora seja um procedimento comum e muitas vezes necessário, apresenta uma série de riscos e complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. Esses riscos incluem infecções, necessidade de transfusões sanguíneas, complicações respiratórias para o bebê, e um aumento na probabilidade de complicações em gestações futuras. O aumento significativo das cesáreas realizadas sem indicação clínica adequada é preocupante e representa um desafio de saúde pública. É fundamental que gestantes e profissionais de saúde estejam bem informados sobre os benefícios e riscos associados a cada tipo de parto. Na ausência de indicação médica específica, o parto vaginal é geralmente considerado mais seguro e apropriado, proporcionando uma recuperação mais rápida e menores riscos de complicações a longo prazo. A escolha do tipo de parto deve ser feita de forma consciente e informada, levando em consideração as condições de saúde da mãe e do bebê, assim como as preferências da gestante, sempre priorizando a segurança e o bem-estar de ambos.

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1Discente do Curso de Medicina da Universidade Iguaçu Campus V – Itaperuna/RJ.
2Docente Universidade Iguaçu Campus V – Itaperuna/RJ.