ANALYSIS OF PARACENTESES AND THORACENTESES ASSOCIATED WITH ONCOLOGY IN A HOSPITAL IN SUL FLUMINENSE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501311551
Beatriz Siqueira Braga1
Caroline Rangel de Carvalho1
Larissa Guizalberth Barbosa1
Sérgio Ibañez Nunes1
RESUMO
As paracenteses e toracocenteses são procedimentos frequentemente utilizados para aliviar os sintomas relacionados à ascite e ao derrame pleural em pacientes com neoplasias malignas, especialmente em estágios avançados. O objetivo geral deste estudo é analisar a demanda, eficácia e complicações associadas à realização de paracenteses e toracocenteses em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do Sul Fluminense. Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa realizado por meio de registros hospitalares via sistema, chamado “Tasy”, com a filtragem dos prontuários médicos dos últimos 3 anos – do período de 01/01/2020 até 31/12/2023. Os resultados indicam que tipos de câncer, como o câncer de mama e de vias biliares, estão fortemente associados à necessidade de intervenções de drenagem. Entre as complicações mais frequentes observadas estão o vazamento de líquido no local da punção, infecções e, em casos mais graves, pneumotórax e disfunção circulatória pós-paracentese. Concluiu-se, por meio deste estudo, que há uma predominância de procedimentos realizados em mulheres, principalmente devido ao câncer de mama e derrame pleural maligno. Nos homens, o câncer de próstata e reto foram os principais motivos para drenagens. Apesar de menos intervenções em homens, as complicações exigem atenção, reforçando a importância do tratamento precoce e acompanhamento.
Palavras-chave: Paracentese; Toracocentese; Pacientes Oncológicos; Ascite; Derrame Pleural.
ABSTRACT
Paracenteses and thoracentesis are procedures frequently used to relieve symptoms related to ascites and pleural effusion in patients with malignant neoplasms, especially in advanced stages. This study aims to analyze the demand, effectiveness, and complications associated with paracentesis and thoracentesis in oncology patients treated at a hospital in Sul Fluminense. This is a descriptive, quantitative study, conducted through the hospital records accessed via the system called “Tasy,” with medical records filtered from the past 3 years—covering the period from 01/01/2020 to 12/31/2023. The results indicate that cancer types such as breast cancer and bile duct cancer are strongly associated with the need for drainage interventions. Among the most frequent complications observed are fluid leakage at the puncture site, infections, and, in more severe cases, pneumothorax and post-paracentesis circulatory dysfunction. This study concluded that there is a predominance of procedures performed on women, mainly due to breast cancer and malignant pleural effusion. In men, prostate and rectal cancer were the main reasons for drainage. Despite fewer interventions in men, complications still require attention, emphasizing the importance of early treatment and continuous follow-up.
Keywords: Paracentesis; Thoracentesis; Oncology Patients; Ascites; Pleural Effusion.
RESUMEN
Las paracentesis y toracocentesis son procedimientos utilizados frecuentemente para aliviar los síntomas relacionados con la ascitis y el derrame pleural en pacientes con neoplasias malignas, especialmente en etapas avanzadas. El objetivo de este estudio es analizar la demanda, efectividad y complicaciones asociadas con la realización de paracentesis y toracocentesis en pacientes oncológicos atendidos en un hospital del Sul Fluminense. Se trata de un estudio descriptivo, de enfoque cuantitativo, realizado a través de registros hospitalarios obtenidos a través del sistema denominado “Tasy”, con la filtración de los historiales médicos de los últimos 3 años, abarcando el período del 01/01/2020 al 31/12/2023. Los resultados indican que tipos de cáncer, como el cáncer de mama y el cáncer de vías biliares, están fuertemente asociados con la necesidad de intervenciones de drenaje. Entre las complicaciones más frecuentes observadas se encuentran la fuga de líquido en el sitio de punción, infecciones y, en casos más graves, neumotórax y disfunción circulatoria post-paracentesis. Este estudio puede contribuir a mejoras en los protocolos clínicos, con el fin de minimizar los riesgos y aumentar la seguridad y efectividad de los procedimientos, asegurando una mejor calidad de vida para los pacientes oncológicos.
Palabras clave: Paracentesis; Toracocentesis; Pacientes Oncológicos; Ascitis; Derrame Pleural.
1. INTRODUÇÃO
A neoplasia maligna, em cavidade pleural e/ou peritoneal, desequilibra a produção de líquidos, resultando no aumento do volume de líquidos, cujo acúmulo pode causar derrame pleural e ascite (Teixeira; Pinto; Marchi, 2006). Esses fatores podem levar à insuficiência respiratória, que é a principal indicação para intervenções, além de causar outros desconfortos ao paciente. Nesta condição clínica, a paracentese ou a toracocentese mostram-se benéficas para a qualidade de vida e o bem-estar do paciente. Um exemplo de tumor maligno que causa o acúmulo de líquido no peritônio é o câncer de ovário. Conforme Ahmed e Stenvers (2013), a presença da neoplasia cancerígena no abdômen, aumenta a produção de líquido intraperitoneal, devido ao crescimento da permeabilidade microvascular tumoral, combinado à oclusão de vasos do sistema linfático. Consequentemente, a produção de líquido supera a sua reabsorção, resultando na formação de ascite.
A paracentese abdominal relaciona-se com a remoção de elevada quantidade de líquido ascítico, com fins terapêutico e/ou diagnóstico. O procedimento é realizado à beira do leito, por meio do puncionamento de um cateter no abdômen, preferencialmente no quadrante inferior esquerdo, até a cavidade peritoneal. O líquido retirado precisa ser encaminhado para análise laboratorial para diagnosticar a fonte que causou o acúmulo. (Fiorini et al., 2022).
Nesta condição clínica, procedimentos como a paracentese ou a toracocentese demonstram benefícios significativos para a qualidade de vida e o bem-estar do paciente. Um exemplo de tumor maligno que pode levar ao acúmulo de líquido no peritônio é o câncer de ovário. Segundo Ahmed e Stenvers (2013), a presença de neoplasias cancerígenas no abdômen aumenta a produção de líquido intraperitoneal. Esse efeito ocorre devido à maior permeabilidade microvascular tumoral associada à oclusão dos vasos linfáticos, resultando em uma produção de líquido superior à sua reabsorção, o que culmina na formação de ascite.
A toracocentese caracteriza-se por um procedimento de punção no espaço pleural para remoção de fluídos em quantidade anormal, para fins diagnósticos e/ou terapêuticos, a variar de acordo com o quadro clínico. A abordagem terapêutica torna-se essencial diante da identificação de uma coleção líquida recente, cuja causa ou características são desconhecidas, como nos casos em que é necessário diferenciar transudato de exsudato em derrame pleural. Além disso, essa intervenção é particularmente recomendada para o alívio da dispneia ou do desconforto respiratório provocados pelo acúmulo de fluidos (Shkolnik et al., 2020).
Embora a toracocentese seja considerada um procedimento pouco invasivo, é fundamental padronizar a técnica e avaliar o real custo-benefício do procedimento para maximizar seu sucesso e minimizar complicações, que não são raras. Para realizar a toracocentese com segurança, é necessário que haja uma quantidade mínima de líquido pleural. Se o derrame for menor que 10 mm na incidência lateral da radiografia de tórax (método de Hjelm-Laurell) ou o volume estimado for inferior a 1,5 L, o procedimento está contraindicado (Ghiggi; De Castro; Audino, 2021).
Atualmente, observa-se uma alta frequência de procedimentos como paracentese e toracocentese nas unidades hospitalares, devido à ocorrência de ascite e derrame pleural, especialmente em pacientes oncológicos. Isso ocorre porque, ao se dispersarem para diferentes partes do corpo, as células cancerígenas podem provocar o acúmulo de líquido nas cavidades pleural (derrame pleural) e/ou abdominal (ascite).
O objeto de estudo do trabalho é analisar a demanda, eficácia e complicações associadas à realização de paracenteses e toracocenteses em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do sul do estado do Rio de Janeiro. A justificativa para a realização deste estudo é o fato de que a ascite e o derrame pleural são complicações frequentes em pacientes com câncer, especialmente em estágios avançados da doença, causando desconforto significativo e reduzindo a qualidade de vida. Portanto, a realização dessas técnicas de drenagem é fundamental para o manejo adequado dos sintomas, sendo necessário aprimorar os protocolos de atendimento para garantir maior segurança e eficácia nos procedimentos.
Diante do cenário apresentado, o objetivo geral deste estudo é analisar a demanda, eficácia e complicações associadas à realização de paracenteses e toracocenteses em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do Sul Fluminense, buscando aprimorar os protocolos de atendimento e técnicas invasivas de drenagem de líquidos.
Sendo possível então, a partir desse estudo, aprimorar e validar os protocolos de atendimento já existentes para a realização dessas técnicas invasivas de forma a serem rotineiramente considerados os benefícios e malefícios, como também a necessidade verídica, para cada paciente oncológico em específico, respeitando a individualidade de cada caso.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo retrospectivo por meio da revisão de prontuários médicos, tipo série de casos de pacientes. Para tal, foi selecionada uma unidade hospitalar com o perfil de pacientes e procedimentos do tema deste projeto, localizada no município de Volta Redonda. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (COEPs) do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA, sendo aprovado com o número de CAAE: 75193023.6.0000.5237.
A coleta de dados foi realizada por meio de registros hospitalares via sistema, chamado “Tasy”. Foram filtrados os prontuários médicos dos últimos três anos, abrangendo o período de 01/01/2020 a 31/12/2023, considerando exclusivamente os procedimentos de toracocentese e paracentese realizados em pacientes oncológicos. Cada prontuário foi analisado individualmente, seguindo os tópicos estabelecidos no roteiro de análise. Fritzen et al. (2023) demonstram que sistemas como o Tasy permitem uma coleta estruturada e eficiente de dados clínicos, melhorando a precisão nos registros hospitalares.
Dessa forma, foram pesquisados dados como a quantidade de líquido drenado, sintomas apresentados, possíveis complicações, necessidade de reposição albumínica ou plasmática, tipo de câncer associado, entre outros aspectos relevantes. Para a análise dos dados coletados, serão empregados métodos estatísticos comparativos adequados às patologias e procedimentos em estudo, o que permitirá uma discussão aprofundada dos resultados obtidos.
2.1 Métodos comparativos e estatísticos
a) Comparação de sintomas prevalentes e volume de líquidos drenados
Foram utilizados gráficos e tabelas para comparar os sintomas entre diferentes tipos de câncer (e.g., distensão abdominal, dificuldade respiratória, dor) e correlacionar esses sintomas com os procedimentos realizados, como paracentese e toracocentese. A distribuição por tipo de câncer e sexo também foi analisada para compreender padrões em subgrupos específicos.
b) Análise quantitativa dos volumes drenados
O artigo analisou a frequência e os volumes de líquidos removidos em procedimentos distintos (entre 1-3 litros, 3-6 litros, etc.) para estabelecer padrões e identificar possíveis riscos associados a volumes elevados.
c) Cruzamento de dados clínicos com desfechos
Realiza-se um cruzamento entre os tipos de câncer e as complicações pós-procedimento (e.g., infecção, pneumotórax) para entender as associações entre patologias específicas e a necessidade de intervenções.
d) Comparação temporal
A análise retrospectiva abrange um período de três anos, permitindo observar mudanças na demanda e eficácia dos procedimentos ao longo do tempo. Esses métodos possibilitam um entendimento abrangente do impacto clínico das intervenções, além da identificação dos principais fatores associados às complicações e eficácia dos procedimentos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 DADOS OBTIDOS POR MEIO REGISTROS HOSPITALARES
Esta seção apresenta os resultados obtidos por meio dos dados dos registros hospitalares via sistema Tasy, com base em procedimentos de toracocentese e paracentese realizados em pacientes oncológicos. O quadro 1 mostra a distribuição dos sintomas mais prevalentes entre pacientes com diferentes tipos de câncer que realizaram paracentese e toracocentese.
Gráfico 1 – Sintomas prevalentes entre pacientes com diagnóstico de câncer
Fonte: Os autores (2024).
Ao analisar os dados do Gráfico 1, observa-se que a distensão abdominal é um sintoma predominante entre os pacientes com câncer de mama, com 11 casos relatados, seguido pelos pacientes com câncer nas vias biliares, com 10 casos. Também é notável a prevalência desse sintoma em pacientes com câncer de intestino e reto, com 7 casos cada. Esses números indicam que os cânceres relacionados ao sistema digestivo e o câncer de mama apresentam alta incidência de distensão abdominal, possivelmente devido ao acúmulo de líquido abdominal, conhecido como ascite, em pacientes com câncer avançado.
A dificuldade respiratória foi um sintoma observado principalmente em pacientes com câncer nas vias biliares, que relataram 13 casos, enquanto os cânceres de intestino e de mama apresentaram 5 casos cada. Este dado sugere que a dificuldade respiratória é mais comum em neoplasias que afetam as vias biliares, possivelmente devido à obstrução das vias respiratórias ou ao acúmulo de líquido pleural, levando ao comprometimento da função pulmonar. Ao contrário de estudos anteriores, a dificuldade respiratória foi relatada em apenas 5 casos de câncer de mama neste estudo, sugerindo uma menor incidência de derrame pleural maligno em comparação com estudos que indicam uma prevalência de até 20% de casos de derrame pleural em pacientes com câncer de mama (Teixeira et al., 2006).
A febre foi pouco relatada, com apenas 6 casos no total, distribuídos entre pacientes com câncer de testículo, vias biliares e mama. Por outro lado, a dor foi mais prevalente entre pacientes com câncer nas vias biliares, com 9 casos, e entre pacientes com câncer de reto, com 5 casos. Esses dados são consistentes com relatos de compressão de órgãos internos, causada pelo acúmulo de líquido ascítico ou crescimento tumoral, que gera desconforto significativo nesses pacientes (Brito et al., 2022). A associação da dor com esses tipos de câncer é um indicativo da importância de intervenções para o alívio paliativo dos sintomas.
As náuseas e vômitos foram relatados em 34 casos, com maior prevalência em pacientes com câncer de mama (7 casos) e cânceres gastrointestinais, como os de reto e intestino, com 5 casos cada. Esses sintomas estão frequentemente associados à compressão abdominal e à irritação gastrointestinal, comuns em neoplasias avançadas que afetam essas regiões. A perda de apetite também foi relevante, com 30 casos relatados, sendo os mais comuns entre pacientes com câncer de pulmão e mama (6 casos cada), seguidos pelo câncer de cólon (3 casos). A perda de apetite é um sintoma comum em muitos tipos de câncer, especialmente aqueles que afetam o sistema digestivo e podem estar associados à deterioração metabólica e à resposta inflamatória generalizada.
O gráfico 2 apresenta a distribuição dos procedimentos de paracentese e toracocentese por tipo de câncer, oferecendo uma visão clara da frequência com que pacientes com diferentes diagnósticos necessitam de intervenções para controle de acúmulo de líquido.
Gráfico 2 – Distribuição de Paracenteses e Toracocenteses
Fonte: Os autores (2024).
O câncer de mama lidera com 89 procedimentos (30 paracenteses e 59 toracocenteses), seguido por câncer nas vias biliares, com 14 procedimentos de paracentese. O dado de 89 procedimentos de drenagem em pacientes com câncer de mama evidencia que este tipo de câncer é o que mais necessita de intervenções para controle do acúmulo de líquido, especialmente toracocentese. O alto número de 59 toracocenteses em comparação a 30 paracenteses reflete a alta prevalência de derrame pleural maligno em pacientes com câncer de mama (Runyon, 2024). Em contrapartida, o câncer nas vias biliares exigiu 14 procedimentos de paracentese, destacando a necessidade de drenagem de ascite causada pela obstrução linfática. Esses dados são compatíveis com a literatura, que mostra que cânceres no trato biliar estão entre os principais responsáveis pela ascite maligna (Ghiggi et al., 2021).
No Gráfico 3, os sintomas são detalhadamente divididos entre os pacientes submetidos a paracentese e toracocentese, oferecendo uma análise clara das manifestações clínicas mais comuns associadas a cada tipo de procedimento.
Gráfico 3 – Sintomas por Procedimento
Fonte: Os autores (2024).
Entre os 91 pacientes que realizaram paracentese, a distensão abdominal foi o sintoma mais comum (91 casos), seguido por dificuldade respiratória (57 casos) e dor (53 casos). Para os 89 pacientes submetidos à toracocentese, os sintomas mais comuns foram dificuldade respiratória (89 casos) e dor (40 casos).
A distensão abdominal, observada em 91 pacientes que realizaram paracentese, reflete o papel crítico da ascite no desconforto abdominal desses pacientes, especialmente em cânceres abdominais como os de vias biliares e gástrico. Já a dificuldade respiratória em 57 pacientes que passaram por paracentese e em 89 que realizaram toracocentese, sugere que o acúmulo de líquido pleural ou a compressão do diafragma pela ascite compromete significativamente a respiração. Conforme Hodge e Badgwell (2019), essa complicação também foi observada em pacientes com grandes volumes de líquido. A dor, relatada por 53 pacientes após paracentese e por 40 após toracocentese, pode ser decorrente tanto da pressão exercida pelo líquido quanto pela própria manipulação durante o procedimento, conforme sugerido por Brito et al. (2022).
O gráfico 4 apresenta o volume de líquido drenado, tanto em paracenteses quanto toracocenteses, com a maior parte dos procedimentos removendo entre 1 e 3 litros.
Gráfico 4 – Volume de Líquido Drenado
Fonte: Os autores (2024).
A maioria dos procedimentos de paracentese removeu entre 3 e 6 litros de líquido (63 procedimentos), enquanto a maioria das toracocenteses drenou entre 1 e 3 litros (54 procedimentos). A drenagem de volumes entre 1 e 3 litros é comum tanto em paracenteses quanto em toracocenteses, sendo este volume suficiente para proporcionar alívio significativo dos sintomas em muitos pacientes. Estudos sugerem que a remoção de volumes superiores a 5 litros, especialmente na paracentese, pode aumentar o risco de complicações, como a disfunção circulatória pós-paracentese (DCPP), conforme destacam Teixeira et al. (2022). Para prevenir essa condição, recomenda-se a administração de albumina intravenosa após a remoção de grandes volumes de líquido.
Na toracocentese, a remoção de volumes superiores a 1,5 litros por vez pode induzir edema pulmonar de reexpansão, uma complicação que ocorre quando os pulmões se expandem muito rapidamente após a drenagem. É essencial, portanto, monitorar cuidadosamente o volume de líquido removido em procedimentos repetidos para evitar complicações respiratórias graves (Melo, 2021).
O Gráfico 5 apresenta a distribuição do volume de líquido drenado durante os procedimentos de paracentese em pacientes do sexo masculino e feminino.
Gráfico 5 – Distribuição de Volume de Líquido por Sexo
Fonte: Os autores (2024).
Observa-se que, entre os 109 pacientes submetidos à paracentese, 47% das mulheres tiveram entre 1 e 3 litros de líquido drenados, enquanto 33% tiveram entre 3 e 6 litros drenados. Nos homens, 51% tiveram entre 1 e 3 litros drenados, e 30% entre 3 e 6 litros. Os dados indicam que, tanto homens quanto mulheres apresentam volumes semelhantes de líquido drenado, mas com uma leve predominância de volumes maiores (entre 3 e 6 litros) em mulheres (33% versus 30% nos homens). Isso pode ser explicado pela maior prevalência de ascite maligna associada a cânceres ginecológicos, que tendem a causar maior acúmulo de líquido abdominal (Runyon, 2024). A diferença sutil entre gêneros na quantidade de líquido removido reflete as características das neoplasias que afetam mais comumente cada sexo.
O quadro revela uma alta prevalência de procedimentos em pacientes oncológicos, com uma predominância significativa de casos de câncer de mama entre as mulheres. A necessidade de drenagem de líquidos acumulados em decorrência de cânceres de vias biliares e gástrico também se destaca, sugerindo que esses tipos de cânceres apresentam maior risco de desenvolver complicações, como ascite e derrame pleural. Nos homens, o câncer de próstata foi o mais frequentemente associado a essas complicações, destacando a importância das intervenções de drenagem nesse grupo de pacientes.
Os achados deste estudo evidenciam a relevância da paracentese e da toracocentese no manejo de pacientes oncológicos que enfrentam complicações relacionadas ao acúmulo de líquidos nas cavidades pleural e peritoneal. Esses procedimentos não só proporcionam alívio sintomático, como também são cruciais para a análise diagnóstica, sendo fundamentais para a gestão clínica desses pacientes. A prevalência dessas intervenções em pacientes com câncer de mama, vias biliares e gástrico reflete a necessidade de uma atenção especial a esses tipos de neoplasias, que comumente resultam em complicações severas, como derrame pleural e ascite.
A análise dos dados demonstra uma predominância significativa de procedimentos realizados em mulheres, especialmente devido ao câncer de mama, que lidera em número de intervenções, associado frequentemente ao derrame pleural maligno. Nos homens, os principais responsáveis pelas drenagens foram o câncer de próstata e de reto. Embora o número de intervenções em homens seja menor, as complicações associadas também merecem atenção, reforçando a importância do tratamento precoce e do acompanhamento contínuo para evitar o agravamento das condições clínicas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu analisar de forma abrangente a demanda, eficácia e complicações associadas à realização de paracenteses e toracocenteses em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do Sul Fluminense. Os resultados evidenciaram que esses procedimentos são indispensáveis para o manejo das complicações associadas à ascite e ao derrame pleural, proporcionando alívio sintomático e melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Foi identificada uma prevalência significativa de intervenções em mulheres, principalmente associadas ao câncer de mama, enquanto nos homens os principais diagnósticos relacionados foram câncer de próstata e reto. As complicações mais frequentes, como infecções e pneumotórax, reforçam a necessidade de técnicas aprimoradas e monitoramento rigoroso. O estudo destaca ainda a importância do tratamento precoce e do acompanhamento contínuo para minimizar riscos e otimizar os resultados clínicos.
Os achados reforçam a necessidade de padronização e aprimoramento dos protocolos hospitalares, individualizando os tratamentos de acordo com a condição clínica e o tipo de câncer. Assim, este estudo contribui para a melhoria do cuidado oncológico, apontando caminhos para intervenções mais seguras e eficazes, além de fomentar futuras pesquisas voltadas à redução de complicações e à promoção da qualidade de vida desses pacientes.
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1Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA