ANÁLISE DAS HOSPITALIZAÇÕES POR PROLAPSO GENITAL NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 8 ANOS

ANALYSIS OF HOSPITALIZATIONS BY GENITAL PROLAPSE IN BRAZIL IN THE LAST 8 YEARS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7856672


Sayron Natanael Lopes Pereira Santos1
Lauro Roberto de Azevedo Setton2
Fábio Neves Santos3
Malanny Araújo4
Nathalia Bomfim Santos Oliveira5
Márcia Carvalho6
Alexandre Magno Teixeira de Melo7
Icaro Celso Gomes Menezes8
Andrey Melo Campos9
Enzo Quintino Alves10


Resumo: 

Introdução: O prolapso de órgãos pélvicos é uma desordem de caráter anatômico e funcional que acomete mulheres. Além disso, possui elevado impacto sobre a qualidade de vida das pessoas acometidas, trazendo sintomas como desconforto e sensação de peso em região pélvica, além de distúrbios sexuais e urinários. Objetivo: Descrever o perfil de mulheres hospitalizadas no Brasil por prolapso de órgãos pélvicos entre janeiro de 2014 e julho de 2022. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo quantitativo. A pesquisa foi realizada utilizando dados fornecidos pela base DATA/SUS; foi analisado o número de hospitalizações por prolapso genital feminino, categorizado por ano, região brasileira, faixa etária, gastos públicos, número de óbitos, dias de permanência hospitalar e caráter de atendimento. Resultados: O maior número de internações ocorreu na região Nordeste. Com relação à mortalidade, o Sudeste foi a região com maior mortalidade, representando 44% do total do país. A região Nordeste foi responsável pelo maior gasto hospitalar médio apresentando uma média de R$ 320,00 por internação. Quanto ao perfil das internações observa-se que 79% destas tiveram caráter eletivo, com 21% urgente. A faixa etária de 60-69 anos foi a mais acometida. A região Norte apresentou a maior média de permanência (aproximadamente 3 dias). Conclusão: De 2014 a 2022 houveram 192.462 internações e os gastos hospitalares por região foram proporcionais ao total de internações. Nota-se um número constante de internações ao longo dos anos, comprovando que a patologia estudada tem ocorrência constante nos hospitais brasileiros, necessitando de uma atenção adequada a nível de saúde pública.                                        

Palavras-chave: Prolapso de órgão pélvico; Distúrbios do assoalho pélvico; Prolapso uterino

Abstract:

Introduction: Pelvic organ prolapse is an anatomical and functional disorder that affects women. In addition, it has a high impact on the quality of life of affected people, bringing symptoms such as a feeling of heaviness and discomfort in the pelvic region, in addition to sexual and urinary disorders. Objectives: Describe the profile of women hospitalized in Brazil for pelvic organ prolapse between January 2014 and July 2022. Methods: A quantitative descriptive research was performed using data provided by (DATA/SUS), the object of the study was number of hospitalizations for female genital prolapse, and it was categorized by year, region of Brazil, age group, public expenditure, number of deaths, days of hospital stay and type of care. Results: The highest number of hospitalizations occurred in the Northeast region. Regarding mortality, the Southeast was the region with the highest number, representing 44% of the country’s total. The Northeast region was responsible for the highest average hospital expenditure, with an average of R$ 320.00 per hospitalization. Regarding the profile of hospitalizations, most of these were elective (79%), with 21% being of an urgent nature. The North region had the highest average hospital stay, of approximately 3 days. Conclusion: From 2014 to 2022 regarding POP management and approach, a total of 192,462 hospitalizations were obtained and it was concluded that hospital expenses were proportional to hospitalizations by region. There is a constant number of hospitalizations over the reported years, proving that pelvic organ prolapse is a recurrent pathology in Brazilian hospitals and, therefore, is a significant health concern for women as a whole.

Keywords: Pelvic Organ Prolapse; Pelvic Floor Disorders; Uterine Prolapse

Introdução

O prolapso genital é uma desordem de caráter anatômico e funcional, acometendo mulheres, principalmente nas faixas etárias mais avançadas e apesar da sua baixa letalidade, este problema possui elevado impacto sobre a qualidade de vida das pessoas acometidas, trazendo sintomas como sensação de peso, desconforto em região pélvica, além de distúrbios sexuais e urinários. A Sociedade Internacional de Continência (ICS) define prolapso genital como o descenso da parede vaginal anterior e/ou posterior, assim como do ápice da vagina (útero ou cúpula vaginal após histerectomia). (BARROS et al., 2018)

Inicialmente, é importante entender as bases anatômicas que propiciam o surgimento dos distúrbios pélvicos, especialmente o prolapso genital. O assoalho pélvico é composto por alguns grupos musculares, sendo eles: obturador interno, piriforme, coccígeo e levantadores do ânus, sendo estes os músculos pubococcígeo, puborretal e iliococcígeo (MORENO et al., 2021). Tais grupos musculares, além de sua função motora, exercem função de sustentação da pelve, oferecendo suporte às vísceras pélvicas e resistindo às diferentes pressões da cavidade abdominal (MORENO et al., 2021).

As vísceras pélvicas, além de receber suporte dos músculos, também sofrem influência dos ossos e ligamentos presentes nesse espaço. O prolapso ocorre justamente devido ao enfraquecimento de tais estruturas. É sabido que diversos fatores contribuem para esse enfraquecimento, sendo importante citar: multiparidade; menopausa/idade avançada; procedimentos uterinos cirúrgicos; fatores genéticos; esforço físico pélvico extenuante (MORENO et al., 2021; HORST et al., 2016).

Além da capacidade de sustentação supracitada, o assoalho pélvico também é responsável por manter as continências urinária e fecal, fazendo parte do quadro clínico das pacientes com prolapso, o comprometimento dessa função (MORENO et al., 2021, DUARTE, 2017). Dito isso, o prolapso uterino, em uma minoria, pode ser assintomático, porém, é mais comum o relato de sintomas como peso pélvico, desconforto em vagina, protuberância ou saliência da vagina, dores nas costas e queixas sexuais (MORENO et al., 2021).

Dados epidemiológicos dessa doença são de difícil obtenção, tendo em vista que mulheres omitem o problema ou o aceitam como consequência natural do envelhecimento ou de múltiplas gestações, contribuindo para que haja uma subestimação dos dados coletados. Atualmente, pode-se observar que a multiparidade geralmente está atrelada a maior ocorrência de prolapso de órgãos pélvicos e incontinência urinária, sendo o risco mais elevado quando o parto ocorre por via baixa, sendo a via alta (cesariana) associada a uma menor incidência destas afecções. (BLOMQUIST, et al., 2018)

Além disso, a raça negra, a obesidade, a herança genética e a idade (sendo o aumento desta diretamente proporcional ao risco do desenvolvimento de prolapso genital) também se apresentam como fatores de risco.  A prevalência estimada é de 21,7% em mulheres de 18–83 anos, chegando a 30% nas mulheres entre 50 e 89 anos (RODRIGUES, 2009).

A fim de classificar o prolapso genital de acordo com sua gravidade, a Sociedade Internacional de Continência criou o sistema POP-Q (Pelvic Organ Prolapse Quantification). Neste sistema, há 5 estágios (0 ao 4), sendo o estágio 0 a ausência o prolapso, o estágio 1 quando o prolapso se encontra 1 cm acima da carúncula himenal, o estágio 2 se encontra 1 cm abaixo do anel himenal, o estágio 3 há deslocamento maior que 1 cm abaixo do anel himenal, porém sem eversão total do órgão, e, finalmente, o estágio 4, onde o prolapso se encontra pelo menos 2 cm a menos do comprimento vaginal total (CVT) e há eversão total (MORENO et al., 2021; HORST et al., 2016). Esta classificação serve de base para escolha da terapêutica adequada, porém, também deve-se levar em consideração todo o contexto da paciente, incluindo seus sintomas e o impacto sobre sua qualidade de vida. 

Outro fator a ser considerado seria o nível de invasão da proposta terapêutica, visto que temos alternativas mais conservadoras, como o uso de pessários e a fisioterapia pélvica, que vem ganhando cada vez mais força no cenário atual, pois levam a menos efeitos deletérios à paciente, poupando-a de estresse cirúrgico, além de existirem alternativas mais agressivas, sendo a principal delas a correção cirúrgica da distopia genital. No cenário brasileiro atual, o procedimento cirúrgico é tido como método de escolha para o tratamento de doenças do assoalho pélvico, porém, devido ao elevado custo e risco de complicações, há uma tendência a serem implementadas estratégias menos agressivas (MORENO et al., 2021; BALDUINO, 2017). Vale ressaltar que o treinamento de músculos do assoalho pélvico deve ser a base para o tratamento de todas as pacientes, visto que atua diretamente na fisiopatologia da doença, impulsionando outros métodos de tratamento. (SILVA FILHO, et al., 2013)

Para o tratamento desta condição, existem duas vertentes principais, podendo ser adotada uma postura conservadora através de exercícios fisioterápicos auxiliados ou não pelo uso de pessários, ou uma postura mais invasiva através da cirurgia corretiva, que é considerada o padrão-ouro. A decisão de qual abordagem cirúrgica utilizar deve ser pautada nas características anatômicas de cada paciente, além do objetivo pós-operatório, tendo em vista que procedimentos como a colpocleise têm menor taxa de recidiva, porém compromete a atividade sexual da paciente, enquanto procedimentos que prezam pela reconstrução e preservam a atividade sexual podem apresentar taxas maiores de recorrência (MURPHY, et al., 2021). Dessa forma, em pacientes mais jovens, é preferível o approach reconstrutivo, visto que este tende a melhorar a qualidade da vida sexual, atuando de forma importante em um dos sintomas que mais afetam este aspecto, a dispareunia. (PRADO, et al., 2007)

O uso de pessários vem sendo cada vez mais corriqueiro no tratamento do prolapso de órgãos pélvicos (POP) e as evidências mostram importantes benefícios na qualidade de vida dos aderentes a esse tipo de terapêutica. Um estudo realizado com 19 mulheres com POP avançado (estágios 3 e 4) aplicou um questionário acerca da qualidade de vida e sintomas vaginais, antes e após 6 meses do uso de pessários, demonstrando melhora significativa, com 77% das pacientes relatando melhora da sintomatologia e 22% relatando resolução completa do problema. (COELHO, et al., 2018)  

Ademais, foi evidenciado estatisticamente que aos 80 anos, 11,1% das mulheres têm ou tiveram indicação cirúrgica para a correção do prolapso genital ou de incontinência urinária, um número bastante expressivo (RODRIGUES, 2009).

O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil de mulheres hospitalizadas no Brasil por prolapso genital nos últimos 8 anos e comparar as cinco regiões brasileiras quanto ao perfil de mulheres hospitalizadas por prolapso genital no período de janeiro de 2014 a julho de 2022.

Métodos

Este trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa descritiva quantitativa, utilizando como base dados fornecidos pelo departamento de informação de saúde do SUS (DATA/SUS), sendo filtradas as hospitalizações por prolapso genital feminino e categorizadas por ano, região do Brasil, faixa etária, gastos públicos, número de óbitos, dias de permanência hospitalar e caráter de atendimento. 

No que se diz respeito aos dados estatísticos utilizados no presente trabalho, as taxas de mortalidade específicas, mortalidade hospitalar específicas e de hospitalização foram modeladas usando modelo linear generalizado (MLG) com distribuição de Poisson (DUNN, SMYTH, 2018) estimados pelo método de quase-verossimilhança ou Regressão Joinpoint. A ausência de diferentes coeficientes angulares, ou seja, de que não há pontos de mudança da inclinação da curva das taxas de mortalidade anuais, foi testada por meio do teste (pseudo) Score (MUGGEO, 2016). Foram estimados Average Annual Percent Change (AAPC) e Annual Percent Change (APC) para avaliar a existência de tendências nas taxas. O nível de significância adotado foi de 5% e o software utilizado foi o R Core Team 2022 (Versão 4.2.2) e Joinpoint Regression Program (Versão 4.9.1.0).

Resultados

A partir da coleta de dados pela plataforma DATA/SUS, a primeira variável analisada foi o número de internações por região, como demonstrado na tabela 1. A partir desta, pode-se inferir que a maior parte das internações ocorreu nas regiões Nordeste (41%) e Sudeste (30%), sendo o Centro-Oeste (6%), a região menos afetada. Também acerca das hospitalizações, a partir da análise do gráfico 1, que mostra a taxa de hospitalização específica (número de hospitalizações a cada 10 mil habitantes) por regiões, percebe-se uma tendência (demonstrada pelas linhas vermelhas) comum à todas as regiões de uma redução no número de internações ao longo dos anos.

Gráfico 01 – Descrição: taxa de hospitalização específica

Número de Hospitalizações
Região201420152016201720182019202020212022Total
BRASIL44.41537.85636.51533.31937.35837.75117.48918.83217.414282.377
Norte3.3242.7642.4802.7842 .9172 .9671.5881.7351.41722.147
Nordeste19.56716.21316.08513.42515.62915.2057.2607.5496.266117.700
Sudeste13. 18011.58710.50710.18411.14611.5855.1165.6836.09085.499
Sul5.2864.8975.0444.7285.3475.6172.3582 .6212 .56938.674
Centro-Oeste3.0582.3952.3992.1982 .3192 .3771.1671.2441.07218.357

Tabela 01 – Descrição: Número total de hospitalizações com base nas regiões e respectivos anos de coleta. Fonte: DATA/SUS.

A segunda variável analisada foi o número de óbitos por região, como demonstrado na tabela 2. Podendo-se observar que o Sudeste foi a região com maior mortalidade, representando 44% do total. Além disso, a porcentagem de mortalidade por internação no país foi de 0,03%, sendo mais uma vez o Sudeste a região com maior porcentagem de mortalidade por internação, 0,05%. Ademais, acerca da mortalidade, é demonstrado no gráfico 2 o número de óbitos a cada mil hospitalizações, com as regiões Norte e Sul apresentando números crescentes nos últimos anos e as demais regiões apresentando números mais estáveis. A partir do mesmo gráfico, observa-se uma tendência nacional ao aumento da mortalidade comparada ao número de hospitalizações. Já no gráfico 3, que demonstra a mortalidade hospitalar a cada 1 milhão de habitantes, observa-se que as regiões Norte e Sul ainda mostram números em ascensão, com as demais regiões tendendo a queda da taxa. Além disso, o Brasil como um todo vem apresentando números decrescentes. Isso mostra que, apesar de, no panorama geral, haver uma taxa de óbitos por hospitalização com tendência ao aumento, quando comparada ao número absoluto de habitantes, nota-se queda nos números, o que denota uma diminuição na prevalência, porém aumento da mortalidade em relação ao prolapso de órgãos pélvicos.

Número de Óbitos
Região201420152016201720182019202020212022Total
GERAL11141591117410798
Norte111126
Nordeste5531243326
Sudeste369451031344
Sul321334117
Centro-Oeste2215

Tabela 02 – Descrição: Número total de óbitos geral e por região do ano de 2014 a 2022. Fonte: DATA/SUS.

Gráfico 02 – Descrição: Mortalidade hospitalar específica

Gráfico 03 – Descrição: Mortalidade específica por milhões de habitantes

De forma adicional, também foi analisado o gasto hospitalar gerado pelas internações por prolapso genital feminino, como demonstrado na tabela 3. Tendo-se a região Nordeste com maior e Centro-Oeste com o menor gasto hospitalar absoluto, em comparação com as outras regiões, porém, quando se analisa o gasto por internação, o Nordeste apresenta uma média de R$ 320,00, ficando atrás do Sudeste (segundo lugar em gastos absolutos), com gasto médio de R$ 350,00 por internação. Ademais, foi analisada a média de dias de permanência hospitalar por região, sendo a região Norte a que possuiu a maior média, de aproximadamente 3 dias de hospitalização.

RegiãoGastos hospitalaresMédia de permanência (dias)
BrasilR$ 94.825.266,162,2
NorteR$ 7.392.896,042,8
NordesteR$ 37.680.775,092,1
SudesteR$ 29.859.089,972,3
SulR$ 13.892.460,191,9
Centro-OesteR$ 6.000.044,872,2

Tabela 03 – Descrição: Total de gastos e média de dias de permanência referente às internações hospitalares, a nível nacional e por regiões. Fonte: DATA/SUS.

Já em relação à faixa etária, em congruência com a tabela 5, temos uma relação diretamente proporcional entre idade e número de hospitalizações (exceto nos extremos de idade), sendo a faixa de 60-69 anos a mais acometida, responsável por 22% do total de internações.

Número de hospitalizações
Faixa etárian%
< 1 ano230,01
1 a 4 340,01
5 a 9 470,02
10 a 14930,03
15 a 193380,12
20 a 29 anos12.6054,46
30 a 39 anos44.27315,68
40 a 49 anos57.45720,35
50 a 59 anos58.95320,88
60 a 69 anos64.69522,91
70 a 79 anos37.36713,23
>80 anos6.4922,30
Total282.377100
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual.

Tabela 05 – Descrição: Números totais por faixa etária de hospitalizações por POP dos anos de 2014 a 2022. Fonte: DATA/SUS

Por fim, de acordo com os dados apresentados na tabela 6, observa-se que a maior parte das hospitalizações tiveram caráter eletivo (79%), com a minoria sendo de caráter urgente (21%).

Número de hospitalizações
Caráter do atendimenton%
Eletivo223.33879,09
Urgência59.03920,91
Total282.377100
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual.

Tabela 06 – Número total de hospitalizações para realização de procedimentos cirúrgicos para o tratamento de POP subdividindo-os em indicação eletiva e de urgência. Fonte: DATA/SUS

Discussão

De acordo com os resultados obtidos no atual estudo, as mulheres da região Nordeste foram as mais afetadas pelo prolapso genital, tendo o maior número de internações por conta da doença. Isso pode ser em partes explicado pelos fatores de risco mais proeminentes nessa região, um deles sendo o parto normal, considerando que tanto a região Norte como a região Nordeste apresentam as maiores taxas de partos normais em relação a partos cesáreos dentre as regiões brasileiras (RATTNER, 2016). 

Outro fator a ser considerado seria que mulheres afrodescendentes apresentam maior paridade, maiores dimensões do hiato e do corpo perineal, além de serem mais distensíveis, tanto em repouso quanto em manobra de Valsalva (ALVES et al., 2021), corroborando com os resultados de maior número de internações e gastos hospitalares na região Nordeste, tendo em vista a maior porcentagem de população afrodescendente.

Em relação à faixa etária, foi observado no presente estudo uma incidência aumentada proporcionalmente ao avanço da idade, corroborando com a literatura internacional. A exemplo de um estudo que mostrou que mulheres com mais de 40 anos e com parto vaginal têm 9,73 vezes mais prolapso em estágio avançado (ultrapassando hímen) (QUIROZ, 2010) 

Um estudo francês avaliou 1873 mulheres submetidas à cirurgia para reparo de assoalho pélvico, mostrando que apenas 52 mulheres (2,8%) apresentaram complicações graves, seja durante a cirurgia ou meses após. Além disso, nenhuma mulher foi a óbito, apesar de que 1 delas precisou de manobras de ressuscitação. Esse estudo está alinhado com os resultados obtidos, tendo em vista as baixas taxas de mortalidade observadas por prolapso genital. (MUGGEO, 2016)

Apesar de não ter sido avaliado no nosso estudo, é importante ressaltar o impacto dos defeitos de assoalho pélvico na qualidade de vida das pacientes. Para tal, é comumente utilizado um questionário denominado Pelvic Floor Impact Questionnaire, que avalia o impacto dessa condição sobre atividades diárias, estado emocional e relações interpessoais. Um estudo cubano avaliou 103 mulheres através desse questionário, demonstrando que 59% delas foram afetadas moderada a gravemente em relação à qualidade de vida após o surgimento do defeito de assoalho pélvico. (CASTRO et al., 2017)

Conclusão

Tendo em vista os resultados obtidos no presente trabalho, ao analisar o cenário brasileiro do ano de 2014 a 2022, no que tange ao gerenciamento e à abordagem do POP, obteve-se um total de 192.462 internações, sendo o Nordeste a região mais afetada em número absoluto de hospitalizações, e a região Centro-Oeste a menos afetada.  Apesar disso, a região Sudeste também mostrou grande impacto, sendo a região com maior média de gastos hospitalares por paciente. Desse modo, se faz necessária a atenção redobrada às regiões mais afetadas, principalmente nas faixas etárias mais avançadas, considerando o número constante de internações ao longo dos anos (com exceção dos anos de 2020 a 2022, correspondentes à epidemia de COVID-19), que demonstra que o prolapso genital é uma patologia de ocorrência constante nos hospitais brasileiros, necessitando, portanto, de uma atenção adequada a nível de saúde pública. Torna-se fundamental o papel da educação acerca dessa problemática, sabendo que ainda é pouco entendida pela população em geral e possui grande impacto sobre a qualidade de vida das mulheres.

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