ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS E AGRAVAMENTO DO COVID-19 NAS PESSOAS OBESAS EM UM MUNICÍPIO TRINACIONAL

ANALYSIS OF THE CONSEQUENCES AND AGGRAVATION OF COVID-19 IN OBESE PEOPLE IN A TRINATIONAL MUNICIPALITY

ANÁLISIS DE LAS CONSECUENCIAS Y AGRAVAMIENTO DEL COVID-19 EN PERSONAS OBESAS EN UN MUNICIPIO TRINACIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507252042


Leonardo Bueno Pona1;
Adriane de Souza Fengler2;
Pedro Ferreira Reis3;
Rafaelly Gomes Vieira4;
Nelson Guilherme Trindade5;
Lucinar Jupir Forner Flores6


RESUMO

INTRODUÇÃO: O município de Foz do Iguaçu – PR, que faz parte da tríplice fronteira tem realizado o atendimento da população de brasileiros residentes nos países vizinhos como Paraguai e Argentina, onde completam os outros dois países fronteiriços com a tríplice, e que buscam os serviços de saúde. O Covid-19 surgiu na China em dezembro de 2019 se espalhou facilmente através de secreções, como a saliva, ou gotículas respiratórias de pessoas infectadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 4 de agosto de 2021, foram registrados aproximadamente 199 milhões de casos e 4 milhões de óbitos causados pela Covid-19. Diferentes revisões sistemáticas têm demonstrado que a obesidade figura entre as principais comorbidades presentes em pacientes hospitalizados com o Covid-19, sendo estas condições também relacionadas ao maior risco de severidade e morte nestes pacientes. OBJETIVO: verificar as possíveis consequências e agravamento do Covid-19 nas pessoas obesas em um município trinacional. METODOLOGIA: Tratou de um estudo transversal, descritivo, retrospectivo, com análise de dados quantitativos e a partir de dados secundários, na cidade de Foz do Iguaçu – PR. Forão incluídos pacientes positivados para Covid-19 no período de março de 2020 a dezembro de 2021. RESULTADOS: Baseados nos dados coletados, do sistema da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Foz do Iguaçu – PR. Participaram da pesquisa 3274 pacientes, de ambos os sexos. CONCLUSÃO: Foram observados que indivíduos obesos tem maior probabilidade de evoluir para as formas graves da Covid-19, pois o SARS-CoV-2 exacerba a resposta inflamatória, já aumentada em obesos.

.Palavras-chave: Comorbidade. Pandemia. Doença respiratória. Saúde Pública.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The municipality of Foz do Iguaçu – PR, which is part of the border triplice, is carried out by the population of Brazilian residents in neighboring countries such as Paraguai and Argentina, where we complete the other two border countries with a trip, and we are looking for health services. Covid-19 emerged in China in December 2019 and is easily spread through secretions, such as saliva, or respiratory droplets from infected people. According to the World Health Organization (WHO), on August 4, 2021, approximately 199 million cases and 4 million deaths caused by Covid-19 were recorded. Different systematic reviews have shown that obesity is among the main comorbidities present in patients hospitalized with Covid-19, with these conditions also being related to the highest risk of severity and death in these patients. OBJECTIVE: to verify the possible consequences and aggravation of Covid-19 in obese people in a trinational municipality. METHODOLOGY: Treatment of a transversal, descriptive, retrospective study, with analysis of quantitative data and from secondary data, in the city of Foz do Iguaçu – PR. This includes patients positive for Covid-19 in the period from March 2020 to December 2021. RESULTS: Based on data collected from the system of the Municipal Health Secretariat of the city of Foz do Iguaçu – PR. 3274 patients of both sexes participated in the research. CONCLUSION: We have observed that obese individuals have a higher probability of evolving into the severe forms of Covid-19, because SARS-CoV-2 exacerbates the inflammatory response, which is increased in obese people.

Keywords: Comorbidity. Pandemic. Respiratory doença. Public Health.

Resumen

INTRODUCCIÓN: El municipio de Foz do Iguaçu – PR, que faz parte da tríplice fronteira tem realizado o atendimento da população de brasileiros residentes nos países vizinhos como Paraguai e Argentina, onde completam os outros dos países fronteiriços com a tríplice, e que buscam os serviços de saúde. La cirugía Covid-19 en China en diciembre de 2019 se manifestó fácilmente a través de secreciones, como saliva o gotículas respiratorias de personas infectadas. Segundo a la Organización Mundial de la Salud (OMS), el 4 de agosto de 2021, se registraron aproximadamente 199 millones de casos y 4 millones de óbitos causados ​​por Covid-19. Diferentes revisiones sistemáticas han demostrado que la obesidad figura entre las principales comorbidades presentes en pacientes hospitalizados con Covid-19, y estas condiciones también están relacionadas con el mayor riesgo de gravedad y muerte de los pacientes. OBJETIVO: verificar as possíveis consequências e agravamento do Covid-19 nas pessoas obesas em um município trinacional. METODOLOGÍA: Trato de un estudio transversal, descriptivo, retrospectivo, con análisis de datos cuantitativos y a partir de datos secundarios, en la ciudad de Foz do Iguaçu – PR. Forão incluídos pacientes positivos para Covid-19 no período de marzo de 2020 a diciembre de 2021. RESULTADOS: Baseados nos dados coletados, do sistema da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Foz do Iguaçu – PR. Participaram da pesquisa 3274 pacientes, de ambos sexos. CONCLUSIÓN: Foram observados que individuos obesos tem mayor probabilidade de evolucionar para as formas graves da Covid-19, pois o SARS-CoV-2 exacerbar a resposta inflamatória, já aumentada em obesos.

Palabras clave:  Comorbilidad. Pandemia. Doença respiratória. Salud Pública.

1 INTRODUÇÃO

A temática saúde nas regiões de fronteiras passou a ser discutida em fóruns específicos no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) a partir de 1997, cujo objetivo era buscar soluções para os problemas encontrados em regiões fronteiriças. (HORTELAN, 2019).

O município de Foz do Iguaçu – PR que faz parte do Mercosul e é uma zona de interação, e apesar de se beneficiar do ambiente intercultural característico, pois fronteiras são instrumentos de comunicação, tem realizado atendimento da população de brasileiros residentes nos países vizinhos como Paraguai e Argentina (países fronteiriços), com o Brasil, e que buscam os serviços de saúde no lado brasileiro. (SOARES; MUNIZ, 2019).

Nesse sentido constitucionalmente falando o Estado brasileiro tem o dever de garantir a diminuição de riscos e agravos a doenças de forma universal, assim sendo como Foz do Iguaçu por ser cidade fronteira com Puerto Iguazú (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai), garante o tratamento a todos, mesmo em tempos de pandemia. A Síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) causada pelo SARS-Cov-2 (coronavírus) surgiu na China em dezembro de 2019 e se espalhou facilmente através de secreções, como a saliva, ou gotículas respiratórias de pessoas infectadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 4 de agosto de 2021, foram registrados aproximadamente 199 milhões de casos e 4 milhões de óbitos causados pela Covid-19. (WHO, 2021).

Embora esteja estabelecido que a Covid-19 se manifeste principalmente como uma infecção do trato respiratório, esta, também afeta demais órgãos como intestino, coração, inervações, entre outros (MOREIRA, G. S., REIS L. B. S. M., FREIREP. B, 2020).

O novo coronavírus propagou-se tão rapidamente que em março de 2020 foi declarado pandemia global. É considerado uma morbidade transmitida pelo vírus SARS-CoV-2 de RNA de cadeia positiva, que causa efeitos maléficos em vários sistemas do corpo, principalmente sistema respiratório e intestinal, desencadeando desde sintomas leves até fatais (MOREIRA, G. S., REIS L. B. S. M., FREIREP. B, 2020), (GIACAGLIA, L. R, 2020).

Embora ainda não sistematizado no Brasil, este é o segundo país em número de casos confirmados do novo coronavírus e índices de morte do mundo, diferentes revisões sistemáticas têm demonstrado que hipertensão, Diabetes Mellitus (DM) e obesidade figuram entre as principais comorbidades presentes em pacientes hospitalizados com o Covid-19, sendo estas condições também relacionadas ao maior risco de severidade e morte nestes pacientes (GIACAGLIA, L. R, 2020), (FIGUEIREDO. et al., 2020).

O mundo se deparou com um grande desafio que modificou profundamente os hábitos de vida de diversas populações: a pandemia de Covid-19. A implicação deste súbito vírus quebrou paradigmas, são amplas as discussões de como o vírus de comporta e repercutem nos diversos âmbitos de interação social. Entre elas, a epidemia de obesidade precisa ser considerada e as implicações nesse cenário devem ser avaliadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Recentemente, obesidade, por ser uma doença considerada pré-inflamatória, é um fator crônico importante e é o maior agravamento em pacientes com dificuldade respiratória um estudo realizado por Almeida. et al. (2020), os Estados Unidos, sugeriu que necessitam de ventilação mecânica decorrente do novo coronavírus, e com a rápida expansão dessa pandemia ficou evidente que o sobrepeso, afora as demais comorbidades de risco, está associada à maior gravidade dos sintomas, à alta taxa de internação e até um maior índice de mortalidade (ALMEIDA. et al., 2020).

Sendo assim, nos últimos estudos de Almeida. et al. (2020), tem sido relatado uma taxa crescente de hospitalização na população mais jovem com obesidade associada, o que aumentou a preocupação sobre o impacto adicional de piorar esta pandemia, pois, além da obesidade estar associada a uma condição de inflamação crônica também reduz o sistema imunológico, aumentando a susceptibilidade do paciente a infecções (ALMEIDA. et al., 2020).

Nas regiões de fronteira guarda em si complicados desdobramentos oriundos de ocorrências e fatores socioculturais, que devem ser considerados quando são desenvolvidas políticas públicas, das mais diversas áreas, visto que além de aspecto geográfico, essas regiões se caracterizam pelas diferentes relações próprias (LI. et al., 2020).

Considerando que a obesidade é um risco real a saúde pública, tanto sanitário quanto financeiro, o presente estudo possui como objetivo analisar as possíveis consequências e agravamento do Covid-19 nas pessoas obesas em um município trinacional.

2 MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, retrospectivo, com análise de dados quantitativos, realizado na cidade do Foz do Iguaçu, onde está situado no estado do Paraná, localizada na região sul, aproximadamente 300 mil habitantes, podendo chegar em 900 mil de pessoas flutuantes considerando as cidades fronteiras do lado paraguaio e argentino. Foram avaliados todos os indivíduos infectados por Covid-19, cadastrados no sistema de informação da secretaria de Vigilância Epidemiológica do município de Foz do Iguaçu – PR no período de março de 2020 a dezembro de 2021.

As variáveis de estudo foram: Gênero, raça, comorbidades, pacientes hospitalizados e não hospitalizados, pacientes que utilizaram a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), suporte ventilatório e vacinação.

A análise dos dados foi realizada por meio dos Softwares SPSS 25.0 e Excel Office 2010 na presente pesquisa. Foi definido um nível de significância de 0,05 (5%).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos dados foi realizada por meio do Software SPSS 25.0, mediante abordagem de estatística descritiva e inferencial. Foi utilizado frequência e percentual como medidas descritivas para as variáveis categóricas. O teste de Qui-quadrado de Pearson (X2) foi utilizado para investigar a associação entre a prevalência de obesidade as variáveis sociodemográficas e de saúde. Considerou-se nível de significância de p<0,05. Os dados foram analisados no SPSS versão 22.0. Foram coletados dados secundários do sistema da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Foz do Iguaçu – PR. Participaram da pesquisa 3274 pacientes, de ambos os sexos (1341 mulheres e 1933 homens), com idade entre 0 e 105 anos, e média de idade de 57,38 (DP=17,76) anos. Nota-se, na Tabela 1, a predominância de indivíduos da cor parda (58%), que não se vacinaram contra a Covid-19 (88,5%), com histórico de hospitalização devido ao Covid-19 (98,8%), com histórico de internação na UTI (55,2%) e com evolução de cura (58,7%). Destaca-se também que 47,5% dos pacientes necessitaram de ventilação invasiva, enquanto 44,7% necessitaram de ventilação não invasiva (VMNI).

Tabela 1 – Perfil sociodemográfico e de hospitalização dos pacientes de COVID-19 da cidade de Foz do Iguaçu – PR (n=3274).


aVariáveis com casos ausentes.
Fonte: vigilância epidemiológica de Foz/2023

Os dados da Tabela 2 evidenciam a prevalência de indivíduos com presença de fatores de risco (76,4%) e de outras morbidades (77,9%). No entanto, a maioria dos participantes não apresentava cardiopatia (68%), pneumopatia (91,5%), doença renal (92,9%), doença hepática (98,1%), imunodepressão (96,5%), obesidade (79%), asma (95,7%) e diabetes (61,8%).

Tabela 2 – Condições de saúde dos pacientes de COVID-19 da cidade de Foz do Iguaçu – PR (n=3274).

aVariáveis com casos ausentes.
Fonte: vigilância epidemiológica de Foz/2023

Ao analisar os fatores sociodemográficos e clínicos associados à taxa de obesidade dos pacientes com Covid-19 da cidade de Foz do Iguaçu – PR (Tabela 3), verificou-se associação significativa da obesidade somente com o sexo (p < 0,001), internação na UTI (p < 0,001), suporte de ventilação (p = 0,031) e evolução (p < 0,001). Percebe-se maior proporção de indivíduos obesos do sexo feminino (ƒ=264), com internação na UTI (ƒ=320), que necessitaram de ventilação invasiva (ƒ=265) e que tiveram evolução de cura (ƒ=316).

Tabela 3 – Fatores sociodemográficos e clínicos associados à taxa de obesidade dos pacientes com COVID-19 da cidade de Foz do Iguaçu – PR (n=3274).

*Diferença significativa (p < 0,05): Teste de Qui-quadrado.
aVariáveis com casos ausentes.
Fonte: vigilância epidemiológica de Foz/2023

Ao analisar os fatores de risco associados à taxa de obesidade dos pacientes com Covid-19 (Tabela 4), verificou-se maior proporção de indivíduos obesos com ausência de cardiopatia (p = 0,030), de doença renal (p = 0,015), de imunodepressão (p < 0,001) e de doença hepática (p = 0,008), além de maior proporção de pacientes sem obesidade e que possuem outras morbidades (p < 0,001).

Tabela 4 – Fatores de risco associados à taxa de obesidade dos pacientes com COVID-19 da cidade de Foz do Iguaçu – PR (n=3274).

*Diferença significativa (p < 0,05): Teste de Qui-quadrado.
aVariáveis com casos ausentes.
Fonte: vigilância epidemiológica de Foz/2023

Este estudo busca compreender qual a relação e as consequências do Covid-19 em pacientes obesos e demais particularidades, já que, se tratando de obesidade é uma doença que está em pleno crescimento mundial (PALAIODIMOS L, et al., 2020).

Este estudo vai ao encontro com Palaiodimos et. al. (2020), já que nas Tabelas 3 e 4, demonstra que o número de pacientes obesos desta pesquisa, positivados para Covid-19 é de 21%, ou seja, um quinto da população, e agravamento é de 63,2% que necessitaram de um leito de UTI e evoluindo para óbito 37,8%. O estudo das consequências do vírus nesses pacientes é fundamental para prever novas demandas de hospitalização, efetividade das intervenções sanitárias, vacinação, etc

A Covid-19 foi classificada como a maior pandemia do século, acometendo a maioria dos países do mundo, e percebeu-se que os portadores de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), incluindo a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Doenças Cardiovasculares (DCV), Diabetes Mellitus, patologias pulmonares e a obesidade são os que evoluem de forma mais grave a doença (DRUCKER, 2020).

A Organização Mundial da Saúde relata que nos últimos 40 anos o número de obesos triplicaram, chegando ao número de 1 bilhão de pessoas, sendo 650 milhões somente adultos, e acredita-se que até 2025 esse número aumentará em mais 200 milhões de pessoas. Contudo, isso é um importante fator de risco para se tornar gravemente doente com o novo coronavírus é ter doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. Um estudo do Centro Nacional de Pesquisa e Auditoria de Cuidados Intensivos do Reino Unido menciona que dois terços das pessoas que desenvolveram complicações graves ou fatais relacionadas ao Covid-19 apresentaram sobrepeso ou obesidade (DRUCKER, 2020).

Os resultados apontam para uma maior predisposição de indivíduos obesos a apresentar um quadro mais grave, assim como uma maior mortalidade por Coronavírus (SIQUEIRA, et al., 2020).De acordo com o banco de dados desta pesquisa e conforme a Tabela – 1, é na população do sexo masculino que há maior concentração de hospitalizados e a média de idade ficou em 57,38 anos. Estudos realizados em diferentes países da Europa com pacientes infectados pelo coronavírus identificaram perfil semelhante a este estudo, porém a média de idade foi superior a 62 anos, pode-se explicar devido a população da Europa ser mais velha quando comparada a população brasileira (PÉREZ, et al., 2020). Todavia, nesta amostra de pacientes com Covid-19, observou-se um número importante de adultos jovens, o que pode estar relacionado a maior exposição à doença. Com as sobrecargas dos hospitais e a capacidade dos profissionais de saúde de cuidar reduzida nos períodos de pico da doença, as estratégias adotadas mencionavam o envelhecimento como uma exclusão. As discriminações afetam as decisões, o que gera a preocupação de que os idosos ou pessoas com outras comorbidades, como a obesidade por exemplo possam ser tratadas de forma injusta em emergências pandêmicas, tendo em vista que essa é a população mais afetada.

Outra variável importante é analisar a raça/cor declarada pelo paciente. A Tabela – 1 mostra a distribuição dos pacientes que declararam informação sobre raça. Aqui, é importante destacar que 58%, dos pacientes se declararam parda, ou seja, um número consideravelmente alto em relação as demais classificadas. De acordo com os resultados do estudo de Araujo. et al. (2020), houve um impacto negativo para a população parda e negra. As taxas de Covid-19 para esta população têm números de até três vezes maior do que na população de cor branca. No entanto, a ausência de preenchimento dos dados nas fichas de registro individual em relação a etnia pode ter contribuído para essa diferença.

Ainda na Tabela – 1 apresenta a porcentagem da população hospitalizada por Covid-19, correspondendo 98,8% dos pacientes aqui estudados. Ou seja, os números de hospitalizações pelo novo coronavírus registrados entre meados de 2020 a dezembro de 2021 apresentam uma tendência elevada, ressaltando que a campanha de vacinação teve seu início em janeiro de 2021, porém a vacinação em massa só chegou em meados de junho, que quando inicia-se a redução de casos.

De acordo com Cândido et al. (2020), uma pesquisa publicada por instituições britânicas identificou que o novo coronavírus chegou ao Brasil por mais de cem entradas diferentes, localizadas em sua grande maioria nos centros urbanos, com maior fluxo de voos internacionais e nacionais. Seguindo essa linha, Aguiar (2020), também defende que a circulação e a velocidade são fatores importantes na disseminação do vírus. Em contexto de uma sociedade marcada pela facilidade de locomoção, a propagação está ligada à circulação entre lugares diferentes.

Na Tabela – 2, mostra a incidência de fatores de risco da população estudada. Pode-se observar que o fator de risco que aparece com mais frequência nos pacientes é a DM, os Cardiopatas e os Obesos respectivamente. Esses resultados corroboram a realidade observada em diferentes países hospitalizados por Covid-19 (TEICH, et al.; 2020). A prevalência de cardiopatias, diabetes e obesidade está associada de forma significativa ao aumento de mortalidade e morbidade desses pacientes, tendo em vista que a grande maioria dos pacientes obesos são ou cardiopatas ou diabetes, e até muitas vezes as duas coisas, entretanto as pessoas obesas não sabem disso. Na China, pesquisadores comprovam que a obesidade está relacionada a um grande risco aumentado de o paciente evoluir para forma grave da doença (TARGHER et al.; 2020). Assim este estudo também corrobora com as demais pesquisas tendo em vista aos dados significativos estatisticamente apresentados na Tabela 3, onde o número de pacientes obesos que necessitaram de UTI foi mais de 60%, onde mais de 90% necessitaram de alguma forma de ventilação mecânica e mais de um terço evoluíram para óbito.

Já a obesidade foi a comorbidade mais prevalente nos pacientes com idade inferior a 60 anos. Sabe-se que a doença é um fator de risco independente para insuficiência respiratória e mortalidade hospitalar. Essa associação está relacionada às características secundárias dos indivíduos com obesidade que influenciam a resposta fisiológica da infecção, além disso, a obesidade também está associada ao maior risco de desenvolver a Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) (PALAIODIMOS et al.; 2020). Esses achados vão de encontro ao atual estudo.

A literatura demonstra que a insuficiência respiratória é a principal causa de internação de pacientes com Covid-19 em unidades críticas, sendo assim, a Ventilação Mecânica (VM) o principal tratamento de suporte para esses pacientes (MATTHAY, ALDRICH e GOTTS, 2020). Neste estudo mais de 90% dos pacientes necessitaram de VM. Na Itália, um dos países mais atingidos em todo o mundo 88% dos pacientes necessitaram da VM, dados bem semelhantes aos encontrados nesta pesquisa (MATTHAY, ALDRICH e GOTTS, 2020).

Os resultados do presente estudo revelaram quais os principais fatores que estão associados ao maior risco de ocorrência de óbito por Covid-19, entre os fatores avaliados, trazendo importantes subsídios para a tomada de decisão clínica e política, uma vez que permitem reconhecer os fatores associados ao prognóstico da doença no momento da identificação do caso pelo sistema de saúde. Ao comparar pacientes que desenvolveram Síndrome respiratória aguda grave, em decorrência do Covid-19, em sua grande maioria tinha comorbidades, além disso, notaram-se altas taxas de mortalidade nesses pacientes.

No Brasil, desde os primeiros meses de pandemia, tem-se observado que indivíduos obesos e idosos representam um maior percentual entre os óbitos por Covid-19, além disso, apresentam taxas de letalidade acumulada superiores às encontradas na população em geral (MESAS, et al., 2020).

A presença de comorbidades mostrou-se o fator com maior efeito para a ocorrência de óbitos por Covid-19. A presença de comorbidades aumenta o risco de óbito em 9,44 vezes em comparação aos indivíduos sem comorbidades. Embora a taxa de letalidade por Covid-19 seja mais baixa que a observada nas epidemias de doenças causadas por outros vírus, observa-se uma letalidade aumentada em grupos específicos. Ao avaliar apenas os óbitos em decorrência da Covid-19, um estudo demonstrou que 31,5% dos casos tinham comorbidades (MESAS, et al., 2020) (SIQUEIRA, et al., 2020).

Dessa forma, a população obesa e idosa merece atenção especial por apresentar também maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de comorbidades, como doenças cardiovasculares o que pode potencializar o risco de óbitos por Covid-19. Existe a necessidade de serem desenvolvidos protocolos preventivos específicos, tendo em vista a heterogeneidade dessa (ZHOU et al., 2020).        

Um estudo realizado com 5.700 pacientes no maior sistema de saúde acadêmico de Nova Iorque, apontou que a obesidade estava presente em 1737 (41,7%) pacientes internados. Outro estudo também realizado em dois hospitais de Nova Iorque com 257 adultos em estado grave de Covid-19, apontou que 119 (46%) pacientes apresentavam obesidade e, desses, 39 (71%) dos 55 pacientes tinham menos de 50 anos de idade. Resultados semelhantes foram encontrados em uma coorte retrospectiva realizada em três hospitais dos Estados Unidos da América (EUA) com 103 pacientes hospitalizados por Covid-19 onde a prevalência de obesidade foi de 47,5% (49 de 103) (POLY et al., 2021). Torna-se importante ressaltar que a prevalência de obesidade na população dos EUA é de 40%, ou seja, levando em consideração ao agravamento e desfechos clínicos assemelha-se à prevalência de pacientes obesos internados por Covid-19 aqui na fronteira.

A infecção grave por Covid-19 teve como fatores de risco a obesidade, que pode estar associada a diversos mecanismos, como a hiper-reatividade imunológica, às respostas metabólicas prejudicadas e aos efeitos adversos da obesidade na função pulmonar, diminuindo o volume expiratório forçado e a capacidade vital forçada (ALMEIDA et al., 2020).

Pesquisa realizada na China com 383 pacientes internados por Covid-19 corroborou os resultados encontrados no estudo anterior, indicando que a obesidade é fator agravante do quadro clínico da infecção por SARS-CoV-2 (ALMEIDA et al., 2020).

Independentemente de outras comorbidades. HUANG et al. (2020), indicaram que a obesidade aumenta o risco de hospitalização, admissão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), necessidade de Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) e morte entre pacientes com Covid-19. MESAS et al. (2020), Concluíram que o Índice de massa corporal (IMC), é o fator prognóstico mais determinante do estado de pacientes com menos ou nenhuma comorbidade associada. DU et al. (2020), compararam o risco de severidade e mortalidade entre pacientes hospitalizados e concluíram que pacientes obesos têm 2,35 mais riscos de manifestações clínicas severas da Covid-19 e 2,68 mais riscos de mortalidade quando comparados aos pacientes com não-obesos e conforme aumenta o IMC, o risco de severidade e mortalidade aumentam linearmente (HUANG et al., 2020) (MESAS et al., 2020).

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que a obesidade está associada ao aumento de hospitalizações, necessidade de suporte de respiradores mecânicos e desfecho desfavorável por infecção do Covid-19. Portanto, é um parâmetro a ser avaliado e discutido entre profissionais da área da saúde para que as medidas de precaução e monitoramento especial sejam aplicados, com o objetivo de diminuir o agravamento e mortalidade desses pacientes, além da necessidade de ser um assunto mais explorado em estudos e pesquisas científicas.

A obesidade, independente de outras comorbidades, é considerada um fator de risco para agravamento e morte, tendo em vista que mais de um 30% dos pacientes obesos evoluíram para óbito. A consequência lógica desta evidência é o aumento da taxa de letalidade, principalmente quando o número de casos de hospitalizações colapsa o sistema de saúde. Identificar os fatores de risco para severidade e mortalidade é o principal passo para a prevenção e tratamento de qualquer doença. Identificar o paciente obeso no momento do teste positivo ou não para Covid-19 e hospitalização necessita de uma maior atenção e intervenção prévia, pois poderia reduzir as taxas de severidade e mortalidade na população obesa infectada pela Covid-19.

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1Mestre Saúde Pública em região de fronteira; Docente do Curso de fisioterapia do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (CESUFOZ); email: leonardobpona@gmail.com.

2Mestre em Exercício Físico na Promoção da Saúde; Docente do Curso de fisioterapia do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (CESUFOZ); email: adrifengler@gmail.com

3Doutor em ergonomia; Docente do Curso de fisioterapia do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (CESUFOZ) email: ergoreis@hotmail.com

4Mestranda em Políticas Públicas e Desenvolvimento; Docente do Curso de fisioterapia do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (CESUFOZ) email: raffyvieira.vieira@gmail.com

5Especialista em Neurociência do desenvolvimento; Docente do Curso de fisioterapia do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (CESUFOZ) email: nelsontrindadengt@gmail.com,

6Pós doc. Em Educação Física – UEL; Doutorado em Educação Física – UNICAMP; email: lucinar.flores@unioeste.br