ANÁLISE DAS CONDIÇÕES LOCAIS PARA INSTALAÇÃO DE BIODIGESTOR INDIVIDUAL EM COMUNIDADES

ANALYSIS OF LOCAL CONDITIONS FOR INDIVIDUAL BIOGAS PLANT INSTALLATION IN COMMUNITIES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7857329


Cledson Akio Sakurai1
Magno José Alves2
Caio Fernando Fontana3


RESUMO

Este artigo teve como objetivo analisar as condições locais para a instalação de biodigestores individuais em comunidades carentes no Brasil. Foram abordados temas como disponibilidade de matéria orgânica, espaço físico, condições climáticas, nível de participação da comunidade e disponibilidade de mão de obra qualificada. Portanto, a análise das condições locais é essencial para garantir a viabilidade e eficiência dos biodigestores individuais em comunidades carentes no Brasil, contribuindo para a geração de energia renovável (biogás), redução de impactos ambientais e melhoria da qualidade de vida das comunidades.

PALAVRAS CHAVES: Comunidade, Biodigestor Individual, Manutenção, Operação, Implantação

ABSTRACT

This article aimed to analyze the local conditions for the installation of individual biodigesters in low-income communities in Brazil. Topics such as availability of organic matter, physical space, climatic conditions, level of community participation, and availability of qualified labor were addressed. Therefore, the analysis of local conditions is essential to ensure the viability and efficiency of individual biodigesters in low-income communities in Brazil, contributing to the generation of renewable energy (biogas), reduction of environmental impacts, and improvement of the quality of life of communities.

KEYWORDS: Community, Individual Biogas Plant, Maintenance, Operation, Implementation

1. INTRODUÇÃO

O biodigestor é uma tecnologia que vem ganhando destaque no cenário ambiental e energético mundial. De acordo com a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), o biodigestor é um sistema que permite a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos, como resíduos de alimentos, esterco de animais e resíduos agrícolas.

Segundo estudos de Almeida et al. (2019), o biodigestor é uma alternativa sustentável para o tratamento de resíduos orgânicos, pois além da produção de biogás, também gera biofertilizante, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e a contaminação do solo e dos recursos hídricos. O biodigestor pode ser implementado em diferentes escalas, desde sistemas domésticos até grandes instalações para processamento de resíduos orgânicos.

Além disso, de acordo com a Biogás (2021), o biogás produzido pelo biodigestor pode ser utilizado como fonte de energia renovável, substituindo combustíveis fósseis e contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O biofertilizante produzido pelo biodigestor também pode ser utilizado como adubo orgânico, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da agricultura.

No entanto, é importante ressaltar que a implementação do biodigestor exige planejamento adequado e participação da comunidade, como destacado pelo estudo de Bala et al. (2020). É necessário avaliar as condições locais para a instalação do biodigestor, considerando aspectos como disponibilidade de matéria orgânica, espaço físico, condições climáticas, nível de participação da comunidade e disponibilidade de mão de obra qualificada.

O biodigestor individual é uma tecnologia promissora para o tratamento de resíduos orgânicos, geração de energia renovável e produção de fertilizantes orgânicos, entretanto sua implementação exige planejamento adequado e participação da comunidade, mas pode trazer benefícios significativos para o meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável.

Existem vários tipos de biodigestores individuais que podem ser instalados em comunidades, sendo os mais comuns o modelo indiano, chinês e o batelada (SANTOS, P. B.; FARIAS, P. M. P.; MELO, D. D. G. S. 2018):

1.      O biodigestor indiano é um modelo de fluxo contínuo que utiliza uma mistura de água e esterco de animais como fonte de matéria orgânica. É um modelo de baixo custo e simples de construir e operar, porém, sua capacidade é limitada e pode não ser adequada para comunidades maiores (Figura 1).

2.      O biodigestor chinês é outro modelo de fluxo contínuo que utiliza uma mistura de água e resíduos de alimentos como fonte de matéria orgânica. Este modelo é mais sofisticado do que o indiano e pode ser usado em comunidades maiores, porém, seu custo de construção é mais elevado (Figura 2).

3.      O biodigestor batelada é um modelo de fluxo intermitente que utiliza uma mistura de água e resíduos orgânicos como fonte de matéria orgânica. É um modelo mais versátil e pode ser usado em comunidades de diferentes tamanhos, mas requer mais cuidado na operação e manutenção (Figura 3).

Figura 1: Biodigestor Indiano (COSTA, C. 2016)

A escolha do tipo de biodigestor deve ser feita com base nas condições locais, na disponibilidade de matéria orgânica e na capacidade financeira da comunidade. Além disso, é importante considerar as limitações de cada tipo de biodigestor, como o tipo de matéria orgânica que pode ser utilizada e os limites operacionais para o bom funcionamento. Este artigo não avalia qual o biodigestor mais adequado e, sim, foca nas questões necessárias para a implementação dela nas comunidades, considerando as condições que são comuns a todas as tecnologias.

Figura 2: Biodigestor Chinês (TEIXEIRA, 2019)

O tratamento de esgoto sanitário é um grande desafio para muitas comunidades, especialmente em áreas rurais e em desenvolvimento, onde a infraestrutura de esgotamento sanitário coletiva não está presente e representa alto custo para a implementação em locais de difícil acesso. O uso de biodigestores individuais é uma alternativa promissora para o tratamento de esgoto em pequena escala, permitindo a produção de biogás e biofertilizantes.

Os biodigestores individuais são sistemas fechados que utilizam bactérias anaeróbicas para decompor a matéria orgânica presente no esgoto. De acordo com Zanelato et al. (2018), os biodigestores individuais podem ser construídos a partir de materiais como tijolos, cimento, plástico e fibra de vidro, e geralmente têm capacidade para tratar de 200 a 2.000 litros de esgoto por dia.

O processo de tratamento do esgoto no biodigestor individual é composto por três etapas principais: a digestão, a separação e a filtragem. Durante a digestão, as bactérias anaeróbicas atuam na decomposição da matéria orgânica, produzindo biogás e

biofertilizantes. Na etapa de separação, os sólidos são separados dos líquidos, permitindo a coleta do biofertilizante. Na etapa de filtragem, o líquido é filtrado para remover impurezas antes do descarte final.

Figura 3: Biodigestor Batelada (FREITAS, 2018)

O uso de biodigestores individuais apresenta diversas vantagens em relação aos sistemas convencionais de tratamento de esgoto. De acordo com estudos de Ribeiro et al. (2020), os biodigestores individuais apresentam menor custo de construção e manutenção em comparação com sistemas convencionais, além de requererem menos espaço físico e serem mais fáceis de operar. Além disso, o biogás produzido pode ser utilizado como fonte de energia renovável, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.

No entanto, o uso de biodigestores individuais apresenta algumas desvantagens que devem ser consideradas. De acordo com Almeida et al. (2021), é necessário um controle adequado da entrada de esgoto no biodigestor para garantir a eficiência do processo de decomposição, e é preciso ter atenção ao descarte adequado do biofertilizante para evitar a contaminação do solo e dos recursos hídricos. Além disso, o biogás produzido pelo biodigestor individual geralmente não é suficiente para atender a todas as demandas energéticas de uma residência.

O uso de biodigestores individuais para tratamento de esgotamento sanitário é uma alternativa promissora, apresentando diversas vantagens em relação aos sistemas convencionais de tratamento de esgoto. No entanto, é preciso ter atenção à correta operação e manutenção desses sistemas, bem como ao descarte adequado do biofertilizante produzido. Com o planejamento adequado e participação da comunidade, os biodigestores individuais podem ser uma solução eficaz para o tratamento de esgoto em pequena escala, contribuindo para a redução dos impactos ambientais e para a promoção da sustentabilidade.

As comunidades no Brasil podem ser definidas como grupos de pessoas que possuem características comuns, tais como localização geográfica, cultura, história, modo de vida e interesses (SILVA et al., 2019). Segundo o IBGE (2020), as comunidades no Brasil podem ser categorizadas como urbanas ou rurais, e são compostas por um conjunto de famílias que vivem em uma determinada região.

As comunidades urbanas estão localizadas nas cidades, enquanto as comunidades rurais estão situadas em áreas rurais, com a maioria da população envolvida em atividades agrícolas e pecuárias (DIAS et al., 2018). Além disso, existem as comunidades tradicionais, que são grupos que possuem identidade própria, com suas próprias tradições, costumes e modo de vida, como os quilombolas e os povos indígenas (SILVA et al., 2019).

A importância das comunidades para o desenvolvimento social e econômico do país tem sido cada vez mais reconhecida, e a necessidade de políticas públicas que atendam às demandas dessas comunidades tem sido destacada (RODRIGUES et al., 2020).

As condições de saneamento básico em comunidades no Brasil são muitas vezes precárias, principalmente em áreas rurais e em comunidades de baixa renda nas cidades (SANTOS et al., 2021). A falta de acesso à água potável e a sistemas adequados de tratamento de esgoto são alguns dos principais problemas enfrentados pelas comunidades (ALMEIDA et al., 2019).

De acordo com o Instituto Trata Brasil (2021), cerca de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável, e mais de 100 milhões de pessoas não possuem tratamento de esgoto adequado. Essa situação é agravada em áreas rurais, onde apenas 38,1% das residências possuem acesso a sistemas de abastecimento de água e 18,2% têm acesso a sistemas de tratamento de esgoto (IBGE, 2020).

A falta de saneamento básico em comunidades pode levar a uma série de problemas de saúde, como diarreia, hepatite A, febre tifoide e outras doenças transmitidas por água e esgoto contaminados (SANTOS et al., 2021). Além disso, a contaminação do meio ambiente também é um problema, com o lançamento de esgoto in natura em rios e córregos, causando poluição e impactando a fauna e a flora locais (ALMEIDA et al., 2019).

É fundamental que políticas públicas voltadas para o saneamento básico sejam implementadas e efetivamente atendam às necessidades das comunidades, promovendo a melhoria das condições de vida e saúde das pessoas e preservando o meio ambiente (SANTOS et al., 2021).

O objetivo deste artigo é analisar as condições locais para a instalação de biodigestores individuais em comunidades como uma alternativa sustentável para o tratamento de esgoto. Serão considerados fatores como disponibilidade de recursos, características do local, bem como a viabilidade econômica e social da implementação desses sistemas. A partir da análise desses aspectos, busca-se identificar as condições favoráveis para a instalação de biodigestores individuais e contribuir para o planejamento de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável das comunidades.

2. METODOLOGIA

Para a realização da pesquisa, utilizou-se a metodologia de pesquisa qualitativa, com abordagem descritiva. Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o tema, buscando-se artigos científicos que abordassem o uso de biodigestores individuais para o tratamento de esgoto em comunidades. Com base nessas referências, definiu-se os fatores a serem considerados na análise das condições locais para instalação de biodigestores individuais em comunidades, tais como:

•   Disponibilidade de recursos, como água e matéria orgânica;

•   Características do solo, como: área, permeabilidade e nível de compactação;

•   Condições climáticas, como temperatura e umidade;

•   Viabilidade econômica e social da implementação dos sistemas.

Este artigo tomou como base fotos e dados disponibilizados em fontes abertas, como o site do Google Maps. Entretanto, ressalta-se que não foi realizada uma avaliação em uma comunidade específica e, sim, uma avaliação genérica que poderá ser aplicada em cada comunidade onde será realizada a avaliação de implementação do Biodigestor. Este artigo analisa e apresenta os pontos necessários que precisam ser considerados antes de implantar o biodigestor nas comunidades. A partir dessa análise, foram propostas recomendações para a implementação do sistema, considerando-se os fatores identificados.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

A análise das condições locais é um fator crucial para a instalação bem-sucedida de um biodigestor em comunidades (MENEZES et al., 2020), (SANTOS; BARROS, 2020), (SOUZA et al., 2018), (SILVA et al., 2021), compreendendo:

1.      Disponibilidade de matéria orgânica: É importante avaliar a quantidade e qualidade da matéria orgânica disponível na comunidade, pois essa é a principal fonte de alimentação do biodigestor. A comunidade deve ter uma fonte constante de matéria orgânica para garantir o funcionamento adequado do biodigestor.

2.      Espaço físico: O espaço disponível na comunidade deve ser avaliado para determinar o tamanho e tipo de biodigestor que pode ser instalado. É importante considerar fatores como topografia, proximidade de residências e outras infraestruturas locais.

3.      Condições climáticas: As condições climáticas da região devem ser avaliadas para garantir que o biodigestor possa operar efetivamente durante todo o ano. Em regiões com clima frio, por exemplo, o biodigestor pode precisar de isolamento térmico adicional para manter a temperatura adequada.

4.      Nível de participação da comunidade: A instalação e operação do biodigestor deve envolver a comunidade local para garantir sua aceitação e participação no processo. É importante que a comunidade esteja ciente dos benefícios do biodigestor e esteja disposta a colaborar no processo.

5.      Disponibilidade de mão de obra qualificada: A instalação e manutenção do biodigestor requerem habilidades técnicas específicas. É importante avaliar se a comunidade tem pessoal qualificado disponível para garantir a operação adequada do biodigestor.

Ao considerar esses fatores, é possível determinar as condições locais ideais para a instalação de um biodigestor em uma comunidade específica. Isso pode ajudar a garantir que o biodigestor funcione efetivamente, trazendo benefícios econômicos, ambientais e sociais para a comunidade.

Para o bom funcionamento de um biodigestor individual, é importante ter em mente a quantidade e qualidade da matéria orgânica necessária para alimentá-lo. De acordo com Santos et al. (2017), o volume mínimo de matéria orgânica para um biodigestor individual é de aproximadamente 10 kg/dia. Já para o tratamento de esgotamento sanitário, é recomendado que a quantidade de esgoto a ser tratada seja de, no mínimo, 50 a 60 litros por dia por habitante (NBR 7229:1993).

No entanto, é importante lembrar que nem toda matéria orgânica é adequada para ser utilizada no biodigestor. A presença de alguns resíduos, como plásticos, metais e vidros, podem danificar o equipamento e reduzir a eficiência do processo. Além disso, certos compostos químicos, como detergentes e produtos químicos de limpeza, podem afetar a atividade microbiana no biodigestor e prejudicar o tratamento adequado.

É necessário ter atenção também ao nível de acidez da matéria orgânica, já que altos níveis de acidez podem afetar o pH do biodigestor e diminuir sua eficiência. Por isso, é recomendado que a matéria orgânica a ser utilizada no biodigestor tenha um pH próximo a neutro (entre 6,5 e 7,5).

Portanto, é importante avaliar cuidadosamente o tipo e quantidade de matéria orgânica disponível na comunidade antes de instalar um biodigestor individual. Dessa forma, é possível garantir o bom funcionamento do equipamento e maximizar seus benefícios para a comunidade.

A avaliação do espaço físico é um dos aspectos mais importantes a serem considerados na instalação de um biodigestor em uma comunidade. Segundo Ribeiro et al. (2018), o espaço disponível deve ser avaliado de acordo com o tamanho e tipo de biodigestor que pode ser instalado, levando em consideração fatores como topografia, proximidade de residências e outras infraestruturas locais.

A topografia do terreno pode influenciar na escolha do local para a instalação do biodigestor. Em terrenos acidentados, por exemplo, pode ser necessário considerar a necessidade de escavação ou aterramento do local para garantir uma instalação adequada e segura do biodigestor (RIBEIRO et al., 2018). Além disso, é importante considerar a proximidade de residências e outras infraestruturas locais, como escolas e postos de saúde, para evitar riscos à saúde e garantir a segurança dos moradores (COSTA et al., 2019).

De acordo com Silva et al. (2020), o tamanho do biodigestor deve ser adequado à quantidade de resíduos orgânicos produzidos pela comunidade. Um biodigestor muito pequeno pode não ser capaz de processar toda a matéria orgânica produzida, enquanto um biodigestor muito grande pode ser excessivamente caro para a instalação e manutenção. Portanto, é importante avaliar o tamanho ideal do biodigestor de acordo com a quantidade de resíduos orgânicos gerados pela comunidade.

Para que o biodigestor possa operar efetivamente durante todo o ano, é necessário avaliar as condições climáticas da região. Como destaca o estudo de Valente et al. (2016), as variações de temperatura ambiente podem afetar diretamente o processo de biodigestão anaeróbia, alterando a quantidade e a qualidade do biogás produzido.

Em regiões com clima frio, por exemplo, é comum a necessidade de isolamento térmico adicional para manter a temperatura adequada no interior do biodigestor. Segundo Pires et al. (2018), o uso de materiais como espuma de poliuretano ou lã de vidro podem ajudar a minimizar as perdas de calor e manter o processo de digestão anaeróbia em condições ideais. Por outro lado, em regiões com clima quente e úmido, é importante considerar a ventilação adequada para evitar o superaquecimento do biodigestor. De acordo com o estudo de Rezende et al. (2017), é recomendado o uso de estruturas com sistema de aeração natural, como chaminés, para promover a circulação de ar e dissipar o calor excessivo.

Avaliar as condições climáticas da região é fundamental para garantir o bom funcionamento do biodigestor ao longo do ano, adotando medidas adequadas para manter a temperatura ideal no interior do equipamento, conforme indicado pelos estudos de Valente et al. (2016), Pires et al. (2018) e Rezende et al. (2017).

A participação da comunidade é um aspecto crucial para o sucesso da instalação e operação de um biodigestor em uma comunidade. Estudos mostram que a participação da comunidade aumenta a efetividade e a sustentabilidade de projetos de biodigestores em comunidades (GÓMEZ-INSUASTI et al., 2019; TORERO, 2021).

Certamente, a participação da comunidade pode aumentar a conscientização ambiental e promover práticas sustentáveis de gestão de resíduos orgânicos. A comunidade deve estar ciente dos benefícios ambientais, sociais e econômicos do biodigestor e ser incentivada a participar de todas as etapas do processo, desde a seleção do local até a operação e manutenção do biodigestor.

Para garantir a participação da comunidade, é essencial que a comunidade seja informada sobre o funcionamento do biodigestor e suas vantagens para que possa colaborar de maneira efetiva e consciente (GÓMEZ-INSUASTI et al., 2019; TORERO, 2021).

Além disso, a participação da comunidade no processo de instalação e operação do biodigestor pode trazer outros benefícios, como o desenvolvimento de habilidades técnicas e a geração de empregos locais. Segundo um estudo realizado por Rodrigues et al. (2018), a participação da comunidade no processo de implementação de biodigestores em uma comunidade rural no Brasil resultou na capacitação de moradores locais em habilidades técnicas relacionadas à construção e manutenção de biodigestores, o que levou à criação de novas oportunidades de emprego na região.

Uma forma de promover a participação da comunidade na instalação e operação de biodigestores é por meio de projetos de educação ambiental. Estes projetos podem fornecer informações sobre os benefícios ambientais e econômicos dos biodigestores, além de oferecer treinamento para os membros da comunidade envolvidos na instalação e operação do equipamento.

Portanto, é essencial que as comunidades sejam conscientizadas sobre os benefícios dos biodigestores e capacitadas para sua instalação e operação, garantindo assim a participação ativa dos membros da comunidade no processo.

A disponibilidade de mão de obra qualificada é um aspecto crucial para o sucesso da implantação e operação de um biodigestor. Segundo Menezes et al. (2016), é necessário que a equipe responsável pelo projeto tenha conhecimento técnico suficiente para realizar a instalação do biodigestor de forma adequada e para garantir a operação e manutenção adequadas do equipamento.

Para superar esse desafio, é possível capacitar membros da própria comunidade por meio de treinamentos e capacitações específicas para a operação e manutenção do biodigestor. Isso não só garante a operação adequada do equipamento, mas também estimula o desenvolvimento da comunidade local, como já comentado ao longo do texto

Ao observar as condições das comunidades no Brasil, principalmente nos grandes centros urbanos, as comunidades passam a ter dificuldades em atender aos 5 requisitos identificados na pesquisa. De maneira geral, o envolvimento da comunidade e os técnicos qualificados, respectivamente item 4 e item 5 dos requisitos, podem ser contornados através do desenvolvimento de oficinas de trabalho junto a comunidade e capacitação técnica nas empresas que farão a implementação e manutenção dos equipamentos, entretanto os aspectos operacionais para manter o biodigestor em funcionamento dependerá do envolvimento conseguido com a comunidade, neste aspecto mostrar os benefícios sociais, ambientais e econômicos que podem ser obtidos, pois apesar de não suprir toda a demanda de combustível para a cozinha (biogás) em muitas casas, certamente terá uma economia no gás de botijão.

O clima é um fator importante a ser considerado na implementação e operação de biodigestores. No Brasil, as condições climáticas variam de acordo com a região, e é importante entender como isso pode afetar o funcionamento do biodigestor. E, devido às dimensões continentais do Brasil, existem diversas regiões com clima quente e úmido, como é o caso da região amazônica, do litoral nordestino e das regiões de mata atlântica. Nessas áreas, a temperatura média anual é elevada e a umidade relativa do ar é alta, o que pode afetar o funcionamento do biodigestor. É importante que as condições climáticas sejam consideradas na escolha do tipo de biodigestor e nas estratégias de operação e manutenção para garantir o seu desempenho adequado. Ainda, no Brasil, é possível encontrar clima frio em algumas regiões, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Em locais como as serras gaúchas, catarinenses e paranaenses, a temperatura pode atingir valores abaixo de zero no inverno. Além disso, algumas cidades do sul de Minas Gerais e de São Paulo também podem apresentar clima frio durante o inverno, com temperaturas próximas ou abaixo de zero em alguns casos.

O clima seco é característico de algumas regiões do Brasil, como por exemplo o semiárido nordestino e algumas áreas do centro-oeste, que apresentam baixa umidade relativa do ar e pouca precipitação ao longo do ano. Nestas regiões, o uso do biodigestor pode ser afetado pela falta de água, que é um dos componentes essenciais para o funcionamento do sistema. Além disso, a baixa umidade do ar pode afetar a temperatura dentro do biodigestor, dificultando a manutenção das condições ideais para a atividade microbiana. É importante avaliar as condições climáticas locais antes de implementar o uso do biodigestor, levando em conta fatores como a disponibilidade de água e a necessidade de medidas adicionais para manter a temperatura adequada.

A disponibilidade da matéria orgânica apresentada no item 1 não é um problema nas comunidades e, sim, talvez a qualificação técnica para evitar a colocação de material não apropriado dentro dos biodigestores, mas isto passa através da capacitação técnica da comunidade sobre o uso do biodigestor.

E, por fim, o item 2 referente ao local de instalação, a mesma depende muito dos locais e no Brasil as comunidades encontram-se em diversas condições, entretanto em relação a área urbana e em muitas áreas rurais, as comunidades não dispõem de espaço físico para a instalação de biodigestores. A Figura 4 apresenta a comunidade de Paraisópolis em São Paulo/SP, onde pode ser observado a dificuldade de espaço físico para a instalação do biodigestor, foto obtida através do Google Maps.

A Figura 5 apresenta a comunidade do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, que além da falta de espaço físico entre as casas e de quintais para instalação dos biodigestores, também se destaca a topografia do terreno.

Figura 4: Comunidade de Paraisópolis em São Paulo/SP

FONTE: https://www.google.com.br/maps/@-23.6168686,-46.72423,3a,90y,147.1h,109.29t/data=!3m7!1e1!3m5!1sGoCW8WmDuu6r9L_XtmXGiQ!2e0!6shttps:%2 F%2Fstreetviewpixels-pa.googleapis.com%2Fv1%2Fthumbnail%3Fpanoid%3DGoCW8WmDuu6r9L_XtmXGiQ%26cb_client% 3Dmaps_sv.tactile.gps%26w%3D203%26h%3D100%26yaw%3D334.57538%26pitch%3D0%26thumbfo v%3D100!7i16384!8i8192. Acesso em 04 de abril de 2023.

Figura 5: Comunidade do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro/RJ

FONTE: https://www.google.com.br/maps/place/Complexo+do+Alem%C3%A3o,+Rio+de+Janeiro+-+RJ/@-22.8593866,-43.2754314,3a,75y,90t/data=!3m8!1e2!3m6!1sAF1QipMF4nNkJARAdin4yLdy4L0J2p4WIPzHz6gmAleV !2e10!3e12!6shttps:%2F%2Flh5.googleusercontent.com%2Fp%2FAF1QipMF4nNkJARAdin4yLdy4L0J2 p4WIPzHz6gmAleV%3Dw153-h86-kno!7i2592!8i1456!4m7!3m6!1s0x997c7352b8f01f:0xdc43e9597c8e45ad!8m2!3d-22.8593866!4d43.2754314!10e5!16s%2Fm%2F03cl6t9. Acesso em 04 de abril de 2023.

4. CONCLUSÃO

Com base na pesquisa realizada, é possível concluir que a implementação de biodigestores em comunidades carentes no Brasil pode trazer inúmeros benefícios, tanto ambientais quanto socioeconômicos. O biodigestor permite o tratamento de resíduos orgânicos e a produção de biogás, que pode ser utilizado para geração de energia elétrica, térmica e combustível. Além disso, o uso do biodigestor pode reduzir a contaminação ambiental e melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente naquelas regiões onde não há acesso à energia elétrica e saneamento básico.

Entretanto, para a implementação do biodigestor em comunidades carentes, é necessário considerar alguns fatores importantes, como a disponibilidade de matéria orgânica, espaço físico, condições climáticas, nível de participação da comunidade e disponibilidade de mão de obra qualificada. É fundamental que haja um planejamento adequado para a instalação e operação do biodigestor, com o envolvimento da comunidade local desde o início do processo.

Em relação ao volume de resíduos sólidos que podem ser utilizados em biodigestores em comunidades carentes, a literatura aponta que em média é possível utilizar de 1 a 2 kg de resíduos orgânicos por pessoa por dia. Porém, é importante lembrar que esse valor pode variar de acordo com o tipo de biodigestor utilizado e a disponibilidade de matéria orgânica na região.

Portanto, a implementação de biodigestores em comunidades carentes no Brasil pode ser uma alternativa sustentável e viável para a gestão de resíduos orgânicos e produção de energia. No entanto, é necessário um planejamento cuidadoso e a participação ativa da comunidade para garantir o sucesso do projeto.

Como próximas atividades de pesquisa, a escolha de uma comunidade para a compreensão das condições da mesma e implementação de um projeto piloto de biodigestores individuais.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1SAKURAI, C.A. Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus Baixada Santista, Instituto do Mar, Departamento de Ciências do Mar, Laboratório de Cidades Inteligentes (Smart City Lab), akio.sakurai@unifesp.br
2ALVES, M.J. Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus Baixada Santista, Instituto do Mar, Departamento de Ciências do Mar, Laboratório de Engenharia Ambiental (LEA), magno.alves@unifesp.br
3FONTANA, C.F. Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),Campus Baixada Santista, Instituto do Mar, Departamento de Ciências do Mar, Laboratório de Cidades Inteligentes (Smart City Lab), caio.fernando@unifesp.br