REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10406219
Riquelmes Soares Lima; Marluci Pereira Rodrigues; Isaack Dias Pinheiro; Adriana Muniz Torres; Roberta Diniz Soares; Maiane França Soares; João Victor Ferreira Araújo; Dinaelze Abrão Lopes; Denize Abreu Soares; Wendy Rodrigues Lima
RESUMO
As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) desempenham um papel crucial no sistema de saúde, especialmente em contextos como o de Pinheiro-MA, Brasil. A implementação da UTI no Hospital Regional Dr. Antenor Abreu visou atender à crescente demanda por cuidados intensivos, especialmente em resposta à pandemia de Covid-19. Além disso, a inauguração do Hospital Regional da Baixada Maranhense Dr. Jackson Lago, em 2015, expandiu a capacidade de atendimento na região, incluindo uma UTI para abranger as necessidades críticas de saúde. A presença de enfermeiros nesses ambientes é vital para assegurar a qualidade do cuidado intensivo oferecido. Diante desse contexto, este estudo se propõe a analisar a satisfação profissional dos enfermeiros que atuam nas UTIs de Pinheiro-MA. Considerando a complexidade inerente ao ambiente de UTI, é crucial compreender como as condições de trabalho, relacionamentos profissionais e desafios enfrentados pelos enfermeiros impactam diretamente sua satisfação no exercício da profissão. A abordagem qualitativa exploratória adotada neste estudo busca capturar as nuances e experiências individuais dos enfermeiros por meio de entrevistas detalhadas, gravadas para uma análise aprofundada. Os resultados deste estudo são estruturados em sete categorias essenciais, fornecendo uma visão abrangente das diversas facetas que moldam a satisfação profissional nesse contexto específico. Ao compreender os desafios enfrentados pelos enfermeiros, desde as dificuldades iniciais até as questões salariais e de reconhecimento profissional, este estudo visa contribuir para o avanço da área de enfermagem, fornecendo insights valiosos para a formulação de políticas e práticas que promovam a melhoria da qualidade do cuidado e a satisfação profissional dos enfermeiros em UTIs de Pinheiro-MA. A interligação entre a instalação das UTIs, a necessidade de enfermeiros e a consequente análise da satisfação profissional é crucial para compreender de maneira holística os desafios e oportunidades enfrentados por esses profissionais na região.
Palavras chaves: Enfermeiros; Satisfação Profissional; Unidades de Terapia Intensiva; Desafios Profissionais; Cuidados Intensivos; Qualidade de Vida Profissional.
1. INTRODUÇÃO
A Enfermagem é uma profissão voltada para os cuidados de saúde focada no indivíduo, famílias e comunidades com finalidade de promover, manter ou recuperar a saúde e a qualidade de vidas ideais. No Brasil, a Lei n.º 7.498, de 25 de junho de 1986, dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem, trazendo competências, responsabilidades, direitos e deveres dos profissionais, sendo regulamentadas pelas Resoluções, Pareceres, Normas Técnicas e Leis do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), fazendo com que a enfermagem possa ser realizada de forma legal (SOU ENFERMAGEM, 2023).
Ademais, a enfermagem não é uma arte atual, e já se faz presente na humanidade desde sua criação. A profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas foram as primeiras formas de prestação de assistência. Nas primeiras formações da sociedade, associado ao trabalho feminino, as mulheres cuidavam dos doentes da sua família e auxiliavam em partos, caracterizado pela prática do cuidar, baseavam-se em conhecimentos adquiridos pelos seus antepassados e de experiência (MEDICINA INTENSIVA, s.d.).
As práticas de saúde no mundo moderno começaram a analisar as ações de saúde e, em especial, as de Enfermagem, sob a visão do sistema político-econômico da sociedade, ressaltam o surgimento da enfermagem como atividade profissional institucionalizada. Esta análise inicia se com a Revolução Industrial no século XVIII e culmina com o surgimento da enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX. Nesse momento, Florence Nightingale é convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Criméia (MEDICINA INTENSIVA, s.d.).
Nascida a 12 de maio de 1820, em Florença, Itália, Florence Nightingale sempre gostou de ajudar as pessoas, mas por vir de uma família rica, era impossibilitada de ajudar os vulneráveis, contudo, não se deixou levar pela tradição da família, e decidiu se apropriar de conhecimentos que lhe fizesse uma enfermeira, mas naquela época, a pratica existia apenas de forma domiciliar, entre as mulheres da família, e não era reconhecida como profissão (FRELLO & CARRARO, 2013).
Em 1854, Florence partiu para Scutari com 38 mulheres que se voluntariaram, entre elas, religiosas e leigas vindas de diferentes hospitais, ajudando assim, a diminuir o número de mortos na guerra da Crimeia. Naquele momento, Florence procurou selecionar indivíduos mais graves, acomodando-os de forma a favorecer uma atenção imediata, para que pudesse haver um cuidado mais especializado, onde nesse período, século XIX, foram criadas as primeiras Unidades de Terapia Intensiva (LINO & SILVA,2001). Os soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela foi reconhecida como a “Dama da Lâmpada” porque, de lanterna na mão, percorria as enfermarias, atendendo os doentes (FRELLO & CARRARO, 2013). Em que anos depois, a lâmpada vem se tornar o símbolo da enfermagem.
Após retornar da Criméia, em 1856, dedica-se, porém, com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos trabalhos na Criméia, recebe um prêmio do Governo Inglês e, graças a este prêmio, consegue iniciar o que para ela é a única maneira de mudar os destinos da Enfermagem, e assim, criou uma Escola de Enfermagem em 1959 (FRELLO & CARRARO, 2013).
Contudo, no Brasil, a organização da Enfermagem na Sociedade Nacional começa no período colonial e vai até o final do século XIX (MEDICINA INTENSIVA, s.d.). A profissão surge fornecendo cuidados aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios, pois as pessoas de alto poder aquisitivo não tratavam os enfermos, e os escravos por conhecimentos trazidos de suas origens culturais, tinham maior sabedoria sobre o tratamento aos doentes (BECKER, 2010).
Embora na época, muitas mulheres se tenham consagrado na história, adotando uma postura moldada nos deveres morais e cívicos, por muitos anos as mesmas estiveram ausentes da historiografia oficial brasileira, e pouco se sabe de suas vidas, papéis e experiências no passado. Uma das raras mulheres que mereceram menção na historiografia oficial foi Anna Nery (1814-1880), uma mulher anônima, que se ofereceu como voluntária para participar da Guerra do Paraguai (1865-1870), foi nomeada enfermeira e consagrou-se, sendo mencionada, de forma heroica como uma das mais ilustres mulheres da História do Brasil e da Enfermagem (CARDOSO & MIRANDA, 1999).
Nascida na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia, Ana Justina Ferreira (1814- 1880), casou-se com Isidoro Antonio Nery, com que teve dois filhos, mas acabou ficando viúva aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), (MEDICINA INTENSIVA, s.d.).
Anna Nery não consegue aceitar a separação da família e escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição de ajudar os feridos na guerra. Em 15 de agosto parte para os campos de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam, e ali, fez história, improvisou hospitais e não mediu esforços no atendimento aos feridos, mas infelizmente, seus filhos vieram a óbito durante a guerra. Após cinco anos, volta para o Brasil, é acolhida com carinho e louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício do Paço Municipal. O governo imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha (CARDOSO & MIRANDA, 1999).
Com isso, no Brasil, as doenças infectocontagiosas, trazidas pelos europeus e pelos escravos africanos, começam a se espalhar rapidamente. A saúde da população brasileira passa a ser um problema econômico-social. Para deter este impasse que ameaçava a expansão comercial brasileira, o governo, sob pressões externas, assume a assistência à saúde através da criação de serviços públicos, da vigilância e do controle mais eficaz sobre os portos. Através da reforma Oswaldo Cruz introduzida em 1904, a Diretoria-Geral de Saúde Pública, incorporando novos elementos à estrutura sanitária, adotou medicas no controle de doenças que se faziam presentes na cidade do Rio de Janeiro, atrelado a isso, ocorre a Revolta da Vacina (MEDICINA INTENSIVA, s.d.).
A partir disso, se viu a necessidade da criação de escolas que pudessem preparar pessoas para dar assistência aos vulneráveis, principalmente em ambientes hospitalares e de guerra. A formação de pessoal de Enfermagem para atender inicialmente aos hospitais civis e militares e, posteriormente, às atividades de saúde pública, principiou com a formação, pelo governo, da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, no Rio de Janeiro (MEDICINA INTENSIVA, s.d.).
Hodiernamente, a enfermagem se faz presente em peso nos estabelecimentos de saúde, sendo ao todo 2.824.458 de profissionais, incluindo auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem e enfermeiros com inscrição ativa do COREN (COFEN, 2023). A profissão se mostra o quanto seus serviços são necessários para o mundo atual, já que no passado, na atualidade e no futuro, sempre será a arte do cuidar. Suas funções podem variar de acordo com o cargo que o enfermeiro pode exercer, a partir de especializações ou tempo de serviço naquela determinada área, mas na presente pesquisa, se faz importante falar sobre os enfermeiros intensivistas, onde sua atuação é de suma importância nas unidades de cuidado intensivo, e sua relação com o contexto social que lhe é inserido.
O papel do enfermeiro na UTI corresponde em adquirir a história do paciente, fazer exame físico, executar procedimentos, aconselhando e ensinando a manutenção da saúde e orientando os enfermos para uma continuidade do tratamento e medidas, é responsável ainda de cuidar do indivíduo nas diferentes situações críticas dentro da UTI, de forma integrada e longitudinal com os membros da equipe de saúde, para isso o enfermeiro intensivista precisa analisar os problemas encontrados e soluções para os mesmos. Portanto, o enfermeiro tem inúmeras funções na unidade, que em muitas vezes, acarreta em sobrecarga de trabalho (VARGAS & BRAGA, 2006).
Na cidade de Pinheiro-MA, o Hospital Regional Dr. Antenor Abreu instalou uma UTI em 2020, em resposta à pandemia de Covid-19 (PINHEIRO, 2020). Em 2015, o Hospital Regional da Baixada Maranhense Dr. Jackson Lago foi inaugurado para atender a região, incluindo a cidade de Pinheiro, e trouxe consigo uma Unidade de Terapia Intensiva, visando evitar que pacientes precisassem se deslocar para a capital (INSTITUTO ACQUA, s.d.).
2. OBJETIVOS
2. 1 Objetivo Geral
Analisar a satisfação profissional dos enfermeiros em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Pinheiro-MA, Brasil, visando compreender os fatores que influenciam positivamente ou negativamente esse aspecto crucial para o ambiente de trabalho.
2. 2 Objetivos Específicos
∙ Investigar as condições de trabalho nas UTIs em Pinheiro-MA e sua relação com a satisfação profissional dos enfermeiros;
∙ Avaliar a percepção dos enfermeiros em relação ao reconhecimento e valorização de seu trabalho nas UTIs;
∙ Propor recomendações para possíveis melhorias nas condições de trabalho e na satisfação profissional dos enfermeiros em UTIs de Pinheiro-MA.
3. METODOLOGIA
O presente estudo adotou uma abordagem qualitativa exploratória, utilizando entrevistas detalhadas, apoiadas por um gravador de voz, como principal método de coleta de dados.
3. 1 Amostra:
∙ Seleção de Participantes: Enfermeiras atuantes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Pinheiro-MA.
∙ Critérios de Inclusão: Variedade de experiências profissionais na UTI. ∙ Número de Participantes: Determinado pela saturação dos dados, assegurando uma representação abrangente das vivências.
3. 2 Coleta de Dados:
∙ Instrumento: Entrevistas semi estruturadas, com o suporte de um gravador de voz. ∙ Desenvolvimento: O questionário abordou desafios iniciais, complexidades das conexões profissionais, dificuldades do cenário, relacionamentos interpessoais e realizações na profissão.
∙ Local: Entrevistas realizadas em ambiente confortável, garantindo confidencialidade e favorecendo a expressão aberta das experiências.
∙ Datas: As entrevistas foram conduzidas entre 21 e 23 de maio de 2023. 3. 3 Análise de Dados:
∙ Transcrição: Todas as entrevistas foram transcritas para análise.
∙ Codificação Temática: Identificação de padrões relacionados aos desafios e experiências destacadas.
∙ Triangulação: Comparação e contrastação de diferentes perspectivas para garantir robustez na interpretação.
3. 4 Aspectos Éticos:
∙ Consentimento Informado: Obtido previamente de cada participante. ∙ Anonimato e Confidencialidade: Procedimentos adotados para preservar a identidade dos entrevistados (Identificados como E1, E2, E3 e E4).
∙ Respeito aos Princípios Éticos: Autonomia, beneficência e não maleficência foram constantemente observados.
3. 5 Justificativa da Não Submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa:
∙ Natureza não invasiva: A pesquisa não envolveu procedimentos invasivos ou experimentos clínicos.
∙ Ausência de Dados Sensíveis: A coleta de dados centrou-se em aspectos gerais da satisfação profissional, evitando dados sensíveis.
3. 6 Limitações do Estudo:
∙ Foco Exclusivo: A pesquisa concentrou-se em enfermeiras, limitando a generalização para outros contextos profissionais.
∙ Autoavaliação: A dependência da autoavaliação dos participantes pode introduzir viés nos resultados.
3. 7 Contribuições do Estudo:
∙ Compreensão Aprofundada: O estudo enriquece a compreensão dos desafios na UTI, fornecendo insights valiosos.
∙ Iniciativas Urgentes: Destaca a necessidade urgente de iniciativas que promovam ambientes laborais saudáveis e reconheçam a importância da profissão.
4. RESULTADOS
De acordo com as observações feitas, acerca das entrevistas realizadas com os profissionais, pode-se perceber 7 categorias a respeito do trabalho dos enfermeiros e suas dificuldades encontradas ao longo da carreira profissional.
CATEGORIA 1 – AFINIDADE E OPORTUNIDADE DE TRABALHAR NA ÁREA.
Nesta categoria, as entrevistadas relataram gostar da área de terapia intensiva, onde duas delas se apaixonaram desde o período acadêmico, quando começaram a realizar os estágios, e as outras receberam a proposta para trabalhar na Unidade de Terapia Intensiva, com isso, acabaram gostando e se especializando na área.
AFINIDADE COM O SETOR
Os profissionais de saúde durante a faculdade, acabam se interessando por áreas especificas, que ao mesmo momento, se concretiza durante os estágios, onde se fascina pela especialidade. Com as enfermeiras não foi diferente, se identificaram com a Unidade de Terapia Intensiva e hoje são realizadas com sua profissão.
Tipo, quando eu fazia estágio, já tinha afinidade com a cadeira de UTI, ai eu gostei muito dos estágios e por isso que eu até comecei, quando eu conclui meu curso, a fazer minha pós em UTI, me identifiquei com a área. Me sinto muito feliz, não quero nem trocar mais [risos] e nunca pensei em desistir (E1).
OPORTUNIDADE DE TRABALHO
As propostas de trabalho são oferecidas aos profissionais sempre que surgem vagas nos ambientes hospitalares. As enfermeiras relataram ter recebido um cargo de trabalho na UTI, ademais não tinha muito conhecimentos sobre o setor, contudo entraram nessa aventura e descobriram uma nova paixão pela unidade.
No início que eu fui contratada na verdade, eu não sabia como era esse serviço, então eu não conhecia o controle de infecção, o que fazia um enfermeiro controlador de infecção e nem de vigilância epidemiológica hospitalar, então eu só tinha essa vaga […] e eu fui assim jogada, só que dentro desse jogo, eu me adaptei, eu gostei e eu me especializei (E3).
CATEGORIA 2 – DIFICULDADES DA PROFISSÃO
No início da carreira profissional do enfermeiro, pode surgir inúmeros impasses, principalmente em áreas, que para o mesmo, não tem muito conhecimento acerca das suas funções. Ademais, as enfermeiras relataram sentir dificuldades no setor de UTI quando começaram a trabalhar no ramo, pela falta de conhecimento técnico e prática, até mesmo por ter sido uma área nova na cidade.
No começo foi a falta de conhecimento técnico […] um setor novo que nunca tinha sido aqui na baixada e pra gente era desafiador, mas a gente foi em busca do conhecimento e hoje se tornou tranquilo (E4).
Só no início, porque assim, a gente tem que ter experiência, e experiência a gente só adquire com um tempo, então no início sim, tive dificuldades (E2).
CATEGORIA 3 – RELACIONAMENTO COM OS COLEGAS DE TRABALHO
A ética profissional é muito importante no ambiente de trabalho, já que em um contexto hospitalar, destaca-se a aparência e o comportamento das pessoas quanto às suas posições em um grupo social de convivência, podendo um indivíduo exercer o poder ou ser influenciado pelo poder de outro. Com isso, as entrevistadas disseram que foram bem recebidas no setor e suas relações com seus colegas de trabalho são respeitosas e profissional, independente de questões pessoais fora do trabalho.
Senti, e era isso que me dava mais resistência em querer trabalhar no hospital ou nessa área porque eu ficava imaginando como iam ser essas pessoas que iam estar lá quando eu chegasse, se […] queriam me ajudar por ser meu primeiro emprego […] apesar de as vezes a gente não gostar de alguém no pessoal […] mas profissional é profissional (E2).
CATEGORIA 4 – DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS AO LONGO DO TRABALHO
A vida do profissional de saúde está sujeita a muitos problemas decorrente do trabalho, podendo originar doenças ocupacionais que acabam dificultando a funcionalidade do seu exercício. Uma das enfermeiras entrevistadas relatou ter adquirido uma doença no seu ambiente de trabalho, no período da covid-19, resultante de uma grande demanda de trabalho. Em contrapartida, as demais enfermeiras nunca desenvolveram nenhum tipo de patologia.
Na verdade, eu já tive sim, principalmente agora na época da pandemia […]a gente teve uma sobrecarregada de trabalho, foi exaustivo e a minha imunidade chegou a ficar muito baixa, e eu acabei pegando tuberculose, então eu adoeci, fiquei afastada do serviço só por quinze dias, por conta das demandas, que exigiam do nosso serviço, mas foi bastante difícil (E3).
CATEGORIA 5 – PROBLEMAS PSÍQUICOS
Diariamente, os profissionais que atuam em unidades críticas, como a terapia intensiva, lidam com situações que causam estresse e pode resultar em transtornos mentais, em virtude da carga horaria excessiva e contratempos no estabelecimento de saúde. Durante as entrevistas, as enfermeiras afirmaram que sempre surgem intercorrências que geram esgotamento, mas uma das entrevistadas em especial, relatou ter sofrido de problemas psíquicos, enquanto as demais, não chegaram a originar uma doença, apesar das situações no cotidiano.
Constantemente surge os estresses, por conta de sobrecarrega de trabalho, quando você tem que bater as metas mensais, e você tá alí sabendo que você não está alcançando o objetivo, você começa a ficar ansioso por aquilo, eu já sou ansiosa de natureza, minha ansiedade aumentou muito mais ainda, por trabalhar nessa área (E3).
Não, raiva a gente passa todo dia, mas nada que desenvolva um transtorno ainda [risos] (E4).
CATEGORIA 6 – COMPATIBILIDADE DO SALÁRIO
A Enfermagem representa o maior contingente de trabalhadores nos âmbitos hospitalares no Brasil, ajudando na recuperação e promoção da saúde, prevenindo enfermidades que possam afetar a vida das pessoas. Contudo, a profissão não é valorizada, passa por vários obstáculos e sua importância, embora reconhecida, não é colocada em relevância e a renumeração ainda é muito pouca, apesar de o trabalho da enfermagem ser, muita das vezes, exaustivo. Desse modo, as quatro enfermeiras disseram que o salário não é compatível no que diz respeito às suas funções nas unidades, mesmo que o piso salarial entre em vigor, ainda será pouco.
Eu acho que o piso salarial que foi aprovado ainda é pouco, acho que uns cinco mil, seis seria o ideal [risos] e com a carga horaria de 30 horas semanais (E1).
[balançou a cabeça negativamente] não, não ta compatível literalmente. No mínimo do piso salarial, e ainda nem chega porque a gente passa por cada situação […] precisa ser mais valorizado, bem mais valorizado na verdade. Deveria ser a jornada de 30 horas que era pra ser, o que não é aplicada (E2).
CATEGORIA 7 – MUDANÇAS PARA MELHORIA DA PROFISSÃO
No exercício da profissão nas Unidades de Terapia Intensiva, se faz necessário o complemento de inúmeros fatores, dentre eles: materiais, profissionais qualificados e um ambiente propicio para os profissionais e pacientes. Nesta categoria, as enfermeiras tiveram opiniões diferentes quando foram questionadas sobre que mudanças elas fariam para que a profissão tivesse mais dignidade e qualidade de vida. A enfermeira 2, disse que implementaria mais utensílios, para que os procedimentos fossem feitos com mais precisão, enquanto a enfermeira 3, disse que mudaria a percepção das pessoas sobre o enfermeiro intensivista, já as enfermeiras 1 e 4, disseram que não mudariam nada.
Eu acho que pra a gente trabalhar […] o mínimo de utensílios pra trabalhar da maneira mais correta possível, porque se não tem e se trabalha mais a base do improviso chega a ser complicado, então o mínimo que poderia ter é o básico de utensílios pra a gente trabalhar (E2).
Na verdade, eu mudaria, tentaria mudar a visão de muitos outros profissionais com relação ao serviço que eu trabalho, tem muita gente que acha que é balela (futilidade), que não é importante, então […] tentaria mudar a concepção das pessoas, em relação ao serviço, a importância do serviço dentro da unidade de terapia intensiva (E3).
5. DISCUSSÃO
Enfermagem é uma ciência humana, de pessoas e de experiências com campo de conhecimento, fundamentações e práticas do cuidar dos seres humanos que abrangem do estado de saúde aos estados de doença, mediada por transações pessoais, profissionais, científicas e políticas. A área da saúde possui uma grande demanda por mão-de-obra qualificada, além de apresentar constante rotatividade.
No que diz respeito a profissão, muitos indivíduos se identificam com a área, pois cuidar das pessoas e poder ajuda-las em um momento difícil de suas vidas, se torna importante e prazeroso para a vida pessoal e profissional do enfermeiro. No início da vida acadêmica, os estudantes se preparam para se tornarem pessoas qualificadas para o atendimento, e durante o processo, aprendem muitos assuntos, em que se descobrem e desejam seguir a carreira ao final do curso.
Não obstante, o estudo realizado com quatro enfermeiras, duas entrevistadas disseram se interessar pelas unidades de terapia intensiva desde a faculdade, embora desafiadora, conseguiram se estabilizar e trabalhar no setor. No entanto, as demais enfermeiras receberam o convite para trabalhar na UTI, porém, começaram suas funções sem conhecimento prévio das práticas desenvolvidas dentro das unidades, ademais, foram em busca das instruções para a aprendizagem. No decorrer do trabalho, acabaram gostando bastante e se especializaram na área.
Dentro da UTI, a enfermagem torna-se instrumento humano importante, pois potencializa ações de cuidado aos clientes internados exercendo ações de cuidado que vão além do conhecimento técnico-científico, pautando-se na humanização, solidariedade e respeito ao ser cuidado (ALVES, 2013). Considerando aspectos importantes do ambiente de trabalho da UTI, como a complexidade e mecanização, o enfermeiro vivencia a oportunidade de aprendizado e capacitação profissional que auxilia o desenvolvimento da prática do cuidado e fortalece a competência clínica do enfermeiro.
A falta de conhecimento técnico sobre as práticas dentro das unidades de terapia intensiva no início do trabalho, foi a dificuldade encontrada pelas entrevistadas no decorrer da sua profissão, pois o medo e a falta de experiência as deixavam inseguras. Em relação à insegurança dos profissionais, foi possível observar que inicialmente ela fez parte da trajetória de todos os entrevistados. Pesquisa aponta que dados referentes às dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros no início de carreira sinalizam que estas permeiam toda a iniciação profissional, independentemente da área por eles escolhida após o término do curso (ERZINGER, 2003).
A iniciação profissional torna-se um desafio na vida do egresso, podendo ser encarado de duas formas quase que simultaneamente, ora por coragem em aceitar a oferta de emprego disponível, ora com sentimentos de temores, acomodações e insegurança necessitando de maturidade para tomada de decisões (FRACILENI, 2006).
No que diz respeito a comunicação, se dá no processo do relacionamento entre pessoas permitindo um maior conhecimento aos sentimentos, emoções e opiniões sobre o outro, fazendo com que se perceba que a interação é a base desse processo. Quando a comunicação do enfermeiro com seus colegas de trabalho faz parte do dia a dia, o paciente passa a vê-lo como uma pessoa capaz de ajudá-lo em todos os momentos (BERTONI et al., 2007).
Durante as conversas, as enfermeiras disseram que sempre foram bem recebidas no seu local de trabalho, principalmente no início da sua carreira profissional, apesar de não ter conhecimentos sobre o setor, recebeu apoio dos seus colegas, na qual ainda permanecem bons vínculos e a ética profissional se faz presente, e em alguns casos, a amizade vai além do trabalho, mas não acontece em todos.
Os profissionais da área de enfermagem enfrentam vários estressores, muitos dos quais já considerados inerentes à profissão, como a longa jornada de trabalho, atuação em meio a dor, perda e sofrimento, cuidado de pacientes em condições de saúde opostas a vida e apoio aos familiares. A presença de alguns problemas de saúde pode levar a lapsos de atenção que aumentam o risco de erros de medicação e até mesmo acidentes de trabalho, colocando assim em risco a vida do profissional e do paciente (BOTHA, 2013).
Sem dúvida, a habilidade dos profissionais de enfermagem em responder de modo adequado e oportuno as demandas que advém do cotidiano da assistência em saúde também está relacionada às condições de saúde destes profissionais (BORDIGNON & MONTEIRO, 2018). No decorrer das entrevistas, uma das enfermeiras relatou ter adoecido de tuberculose no período da pandemia da COVID-19, pelo excesso de trabalho e falta de cuidados de saúde da mesma, em que deixou suas necessidades de lado para que pudesse atender a demanda do hospital, ademais, pela importância e necessidade de seus serviços, teve poucos dias de descanso, fazendo-a retornar para suas atividades laborais.
Os enfermeiros estão vulneráveis à essas consequências considerando a exposição contínua a estressores do trabalho, podendo originar em doenças psíquicas. O estresse na profissão de enfermagem tem sido cada vez mais considerado um fator de risco para resultados adversos à saúde (LAMONT et al., 2017). Os resultados relacionados ao estresse e saúde têm como importantes preditores as características relacionadas ao trabalho e o ambiente em que os enfermeiros desenvolvem suas atividades laborais (ADRAENSSENS et al., 2011).
Em virtude ao excesso de trabalho e estresse rotineiramente, uma das enfermeiras disse ter agravado seu estado mental, aumentando problemas tanto na sua vida profissional quanto pessoal e possivelmente podendo originar novas doenças psíquicas no futuro. Contudo, as demais entrevistadas relataram sofrer estresse diariamente, contudo, ainda não desenvolveram problemas mentais.
Com isso, a categoria batalha por direitos e melhorias nas suas condições de trabalho, para que sua profissão seja respeitada e colocada em relevância, em exemplo, temos a luta para a implementação do piso salaria da enfermagem, onde fará com que a enfermagem exerça sua profissão com amor e desempenho. Hoje no Brasil, a média salarial mensal do enfermeiro é de três mil e quinhentos reais, e no estado do Maranhão, esse valor diminui em dez por cento, para três mil, cento e trinta e seis reais (INDEED, 2023).
As enfermeiras relataram não achar o salário que recebem, compatível com as suas funções, pois dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva, há uma grande demanda de trabalho, e seu papel acaba sendo cansativo, ainda mais trabalhando com pouca remuneração. Contaram que o piso salarial, que a categoria luta, ainda é pouco, relacionado as sua funções nas unidades e sua importância para o contexto hospitalar.
Durante a conversa, foram questionadas sobre que mudanças elas fariam ou gostariam que ocorressem no seu trabalho, para que pudessem exercer a profissão com mais dignidade e qualidade de vida. Duas das entrevistadas disseram que não mudariam nada, pois estavam bem nos seus trabalhos, enquanto uma das enfermeiras falou que implementaria mais materiais nas unidades, pois a falta dos mesmos acaba dificultando a realização dos procedimentos dentro das unidades. Contudo, a outra enfermeira disse que mudaria a concepção das pessoas sobre o trabalho na UTI.
6. CONCLUSÃO
Neste estudo, as entrevistas detalhadas realizadas com enfermeiras na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) proporcionaram uma análise aprofundada dos desafios inerentes ao ambiente crítico de trabalho. Os resultados evidenciaram a complexidade das conexões profissionais, as dificuldades inerentes ao cenário e a importância dos relacionamentos interpessoais na profissão.
Destaca-se a transição desafiadora da formação acadêmica abrangente dos profissionais de enfermagem para a prática na UTI, onde a falta de experiência prática e conhecimento específico se revelam como obstáculos iniciais. A colaboração e o apoio entre colegas emergem como elementos fundamentais, promovendo relações respeitosas e adesão aos princípios éticos.
Ao longo da trajetória profissional, os enfermeiros enfrentam desafios persistentes, incluindo a elevada demanda de serviços e a escassez de períodos adequados de repouso. Estes fatores podem resultar em consequências adversas para a saúde física e mental dos profissionais. Nesse contexto, a necessidade urgente de reconhecimento da profissão é ressaltada, não apenas por meio da implementação de um piso salarial condizente, mas também por melhorias nas condições laborais.
Este estudo emerge como uma contribuição significativa ao entendimento dos desafios enfrentados pela enfermagem na UTI. Destacando a urgência de iniciativas que valorizem a profissão, promovam ambientes laborais propícios e assegurem o bem-estar físico e mental dos profissionais, reforça-se a importância de preservar a qualidade e eficácia do cuidado intensivo.
Esses achados podem servir como base para a implementação de políticas e práticas que visem a melhoria da satisfação profissional e, por conseguinte, a qualidade do cuidado oferecido nas UTIs de Pinheiro-MA, Brasil.
REFERÊNCIAS
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VILA, M.; CARDOSO’, N.; LOYOLA MIRANDAZ, C. Anna Justina Ferreira Nery: Um marco na história da enfermagem brasileira. [s.l: s.n.].
APÊNDICES
Apêndice A – Perguntas Norteadoras da Entrevista
1. O que motivou sua escolha de atuar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)? |
2. Quais são as principais dificuldades enfrentadas no exercício da profissão na UTI? |
3. Como descreveria o ambiente de convivência com seus colegas de trabalho na UTI? |
4. Você desenvolveu alguma condição de saúde após ingressar na UTI, como sequelas físicas ou outras? |
5. Já enfrentou problemas psicológicos relacionados ao trabalho na UTI? Em caso afirmativo, quais foram? |
6. Considera que o salário recebido atualmente na UTI é adequado ao trabalho desempenhado? Qual seria, na sua visão, a remuneração e jornada de trabalho ideais? |
7. Quais mudanças você gostaria de ver implementadas para permitir o exercício da profissão na UTI com mais dignidade e qualidade de vida? |