ANALYSIS OF SLEEP QUALITY IN YOUNG UNIVERSITY STUDENTS ASSOCIATED FACTORS AND IMPACTS ON ACADEMIC WELL-BEING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410141228
Lucas da Cunha Dantas1; Thalyta Shirley Queiroz2; Kaio Fábio de Arruda Freitas3; Victor Gabriel Rozendo da Cunha4; Edson Gabriel Andrade de Medeiros5; João Victor Rodrigues da Silva6; Gleidson Mendes Rebouças7.
Resumo
O sono de qualidade e de duração adequada é um mediador fundamental para a atividade cortical. Este estudo descritivo e transversal teve como objetivo analisar medidas de qualidade e duração de sono de 112 estudantes universitários. Para mensuração da qualidade de sono foi utilizado o Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). Foi observado uma média para a duração de sono (6.58 ± 2.02) abaixo do preconizado pela literatura. A qualidade de sono foi classificada como pobre de acordo com o valor médio do PSQI Global Score (8.19 ± 2.98). Não foi encontrado diferenças significativas nas comparações de médias das variáveis dependentes em função do sexo. Concluímos que a diminuição quantitativa e qualitativa das medidas de sono pode ter fundamentação nas rotinas acadêmicas.
Palavras-chave: Sono. Estudantes. Qualidade do Sono.
1 INTRODUÇÃO
O sono de qualidade e de duração adequada, é um mediador fundamental para a atividade cortical. Uma boa qualidade de sono está associada a manutenção da concentração, funções cognitivas executivas, e processamento de memórias (VYAZOVSKIY et al., 2015). A qualidade e quantidade do sono pode variar entre os indivíduos, dependendo de sua idade, exigências sociodemográficas, condições psiquiátricas, além de sua individualidade fisiológica (LEMMA et al., 2012; AUGNER et al., 2011).
A recomendação para jovens adultos é de sete a nove horas de sono todas as noites (HIRSHKOWITZ et al., 2015). Porém, a literatura predominantemente mostra que a maioria dos jovens adultos está dormindo menos que o tempo recomendado (QUICK et al., 2016). Estudos indicam que as perturbações do sono podem ser provocadas por estressores psicossociais e, reciprocamente, esses mesmos estressores resultam em insuficiência de sono (ALSAGGAF et al., 2016). A privação e fragmentação do sono acarretam comprometimento do julgamento, aumento da agitação, irritabilidade e dificuldade no processamento de informações a curto prazo. A longo prazo, esses distúrbios do sono podem estar associados ao desenvolvimento de desordens cardiometabólicas, além de contribuir para o aumento da mortalidade (YAZDI et al., 2016).
Uma boa qualidade de sono é difícil de encontrar em estudantes universitários, haja visto a diversidade de atividades e componentes estressores que emergem do ambiente acadêmico (CARONE et al., 2020). Foi relatado que os distúrbios de sono na população universitária têm aumentado (VAIL-SMITH et al., 2009). Diversos estudos tem demonstrado que populações universitárias apresentam uma má qualidade de sono (HUEN et al., 2007; ABDULGHANI et al., 2012; GAULTNEY et al., 2010). Portanto, o objetivo desse estudo foi analisar a qualidade e quantidade de sono de jovens universitários.
2 METODOLOGIA
2.1 Participantes
Para este estudo descritivo com caraterística transversal, a amostra foi composta por 112 jovens universitários de ambos os sexos da cidade de Mossoró-RN selecionados de maneira intencional e não probabilística.
2.2 Procedimentos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN (CAAE: 75517623.8.0000.5294; Parecer: 6.732.318). Após a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido em conformidade com as prerrogativas do CONEP e CEP, os participantes responderam à um questionário com informações sociodemográficas e o questionário Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) para obtenção das medidas de qualidade do sono dos sujeitos.
2.3 Qualidade do sono
A qualidade do sono dos participantes foi avaliada utilizando o PSQI que é um instrumento psicométrico que permite o cálculo de 7 domínios em relação ao padrão de sono dos participantes. Os domínios são: qualidade subjetiva do sono, latência do sono, duração do sono, eficiência do sono, distúrbios do sono, uso de medicação para dormir, sonolência e disfunção diurna. As pontuações dos componentes são somadas para gerar uma pontuação global do PSQI que podem variar entre 0 e 21 pontos. Uma pontuação acima ou igual à cinco indica pobre qualidade do sono, enquanto uma pontuação abaixo de cinco indica boa qualidade de sono.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como pode ser observado na tabela 1, temos os valores médios e de desvio padrão para a amostra total (n = 112) separados por sexo. Com base nos valores do PSQI Global Score (8,19) e duração do sono (6,58), levando-se em conta o total da amostra podemos perceber que ambos os valores estão fora dos limites para o que se preconiza em cada um destes aspectos. Ou seja, má qualidade de sono (PSQI >= 5) e duração de sono abaixo do esperado (<7h). O mesmo cenário permanece quando observamos os valores médios da amostra em função do sexo.
Conforme apresentado na tabela 1, o teste t de Student não revelou diferenças significativas nas médias das variáveis dependentes ao comparar os grupos de homens e mulheres. Essa ausência de significância sugere que, sob as condições em que se encontravam os participantes (considerando suas rotinas acadêmicas), não há motivo para acreditar que homens e mulheres apresentem diferenças na qualidade do sono verificados pelo PSQI Global Score assim como a duração de sono.
Figura 1: Distribuição de frequências nos valores das escalas separadas por sexo e domínios do PSQI.
A figura 1 ilustra a distribuição de frequências nos valores de cada domínio do PSQI entre homens e mulheres. Observando a que se refere cada um destes domínios: disfunção durante o dia, distúrbios do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, latência do sono, qualidade subjetiva do sono e uso de medicação para dormir abrangem sonolência durante o dia, dificuldades físico-emocionais para dormir, duração total do sono, duração de leito, tempo de adormecimento, autopercepção qualitativa do sono e uso de medicações para dormir, respectivamente.
Em concordância com nossos achados, Albqoor et al. (2021) verificaram uma duração de sono precária (< 7h) numa quantidade de elevada de estudantes universitários (n = 814). Em adição, Zeek et al. (2015) encontraram uma duração de sono média de pouco mais de seis horas em estudantes universitários. Os autores apontam que esses dados podem ser um indicativo de que a população de estudantes universitários imersas em seus respectivos ambientes acadêmicos, apresentam distúrbios de sono que talvez possa ser explicado pelas atividades universitárias que aqui chamamos de rotinas acadêmicas.
Medeiros et al. (2001) identificaram que estudantes que tinham um ciclo de sono-vigília irregular e duração de sono insuficiente, apresentaram um pior desempenho acadêmico quando comparado a sujeitos com duração de sono mais longa. Isso claramente indica haver uma relação recíproca e negativa no que tange estes dois aspectos: sono e rotinas acadêmicas. Já é sabido há pelo menos 3 décadas que a privação de sono e fragmentação do sono podem prejudicar a consolidação e formação de informações recém aprendidas (GIUDITTA et al., 1995).
Há quem acredite que este cenário é uma herança do cenário moderno e que as novas tecnologias podem estar na vanguarda destas modificações. Contudo, destacamos que no século passado, Jean-Louis et al. (1998) identificaram uma cascata de eventos catastróficos tais como: diminuição do desempenho acadêmico, distúrbios de humor, alterações no comportamento de risco, e maior vulnerabilidade ao uso de substâncias ilícitas em sujeitos com pobre qualidade de sono.
Esse grupo de evidências confrontam com a realidade estudantil, que rotineiramente parecem apresentar má qualidade de sono. Sugere-se a muito tempo que as escolas e universidades podem atrasar o horário de início das aulas para que os estudantes tenham mais chances de obter a quantidade adequada de sono. Nesse sentido, vários achados compararam o desempenho acadêmico com atividades acadêmicas realizadas no turno matutino vs vespertino e revelaram que os horários escolares matutinos estavam associados a consequências negativas prolongadas, como menor duração do sono, aumento dos níveis de sonolência diurna, mais problemas de comportamento, e maior dificuldade de concentração (DEXTER et al., 2003; HANSEN et al., 2005; WOLFSON et al., 2007; OWENS et al., 2010; CARRELL et al., 2011; HINRICHS, 2011; PERKINSON-GLOOR et al., 2013; BOERGERS et al., 2014).
Para compreendermos melhor as causas que alteram a qualidade de sono e sua relação com o desempenho acadêmico, é necessária observar diversas variáveis intrínsecas neste processo tais como: alimentação, fontes alternativas de estresse, questões relacionadas à vida social extra ambiente universitário. Além disso comparar os horários, rotinas e atividades acadêmicas entre cursos universitários diferentes é um grande desafio, dado o fato que as condições socioambientais de amostras que os representariam são bem diferentes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo evidenciou que as medidas de qualidade e duração de sono em jovens universitários, embora abaixo do valor médio levando em conta as recomendações e diretrizes internacionais acerca do sono, não apresentaram diferenças significativas em função do sexo. Ou seja, ambos os sexos apresentaram medidas de sono que possivelmente evidenciam que a vida universitária impacta de maneira semelhante. O presente estudo tem limitações quanto ao tamanho da amostra e temporalidade da tomada de informações. Estudos longitudinais e com amostras maiores poderão subsidiar informações mais profundas sobre a qualidade de sono na população de universitários.
REFERÊNCIAS
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ALBQOOR, Maha Alkaid; SHAHEEN, Abeer M. Sleep quality, sleep latency, and sleep duration: a national comparative study of university students in Jordan. Sleep and Breathing, v. 25, p. 1147-1154, 2021.
ALSAGGAF, Mohammed A. et al. Sleep quantity, quality, and insomnia symptoms of medical students during clinical years: relationship with stress and academic performance. Saudi medical journal, v. 37, n. 2, p. 173, 2016.
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BOERGERS, Julie; GABLE, Christopher J.; OWENS, Judith A. Later school start time is associated with improved sleep and daytime functioning in adolescents. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, v. 35, n. 1, p. 11-17, 2014.
CARONE, Caroline Maria de Mello et al. Fatores associados a distúrbios do sono em estudantes universitários. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, p. e00074919, 2020.
CARRELL, Scott E.; MAGHAKIAN, Teny; WEST, James E. A’s from Zzzz’s? The causal effect of school start time on the academic achievement of adolescents. American Economic Journal: Economic Policy, v. 3, n. 3, p. 62-81, 2011.
DEXTER, Donn et al. Sleep, sleepiness and school start times: a preliminary study. WMJ-MADISON, v. 102, n. 1, p. 44-44, 2003.
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1Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: lucasdacunha@alu.uern.br
2Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: thalytashirley@alu.uern.br
3Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: kaiofabio@alu.uern.br
4Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: victorrozendo@alu.uern.br
5Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: edson20230050753@alu.uern.br
6Discente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: joao20230064650@alu.uern.br
7Docente do Curso Superior de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Doutor em Neurociências (PGNEURO/UFRN). E-mail: gleidsonreboucas@uern.br