ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA: ACOMETIDOS POR FADIGA, ANSIEDADE E DEPRESSÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8015476


Hellen Bianca Araújo Malheiros1
Ana Elize Mazuchini Belai2
Rafael Borges Coimbra3
Letícia Fernandes dos Santos4
Isabela de Moura Mota5
Talita Aparecida Ricardo Soares6
Matheus Fleury Alves7
Marcos Antônio de Castro Teixeira Júnior8
Geovanna Oliveira Silva9
Heloisa Lemes Cardoso10


RESUMO

A esclerose múltipla (EM) é uma das doenças neurológicas inflamatórias crônicas mais comuns que afetam o sistema nervoso central (SNC). A EM progride com desmielinização inflamatória com perda axonal, causando inabilidade funcionais imprevisíveis. A clínica do paciente no início de uma EM fornece indícios diagnósticos fundamentais sobre a progressão da doença. A EM se relaciona a sintomas como fadiga, dor e alteração da motricidade e sensibilidade, de modo que a fadiga é manifestação mais regular e incapacitante da doença. O objetivo do estudo é fazer a análise da percepção da qualidade de vida em pacientes com esclerose múltipla (EM) e verificar se há associação com fadiga, ansiedade e depressão. Trata-se de uma revisão da literatura realizada de forma sistemática nos bancos de dados da Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO), em estudos publicados em 5 anos. Posterior a aplicação dos critérios para inclusão textual e exclusão foram selecionados estudos que se incluíam na temática. Conforme evidenciado, os principais fatores associados ao desenvolvimento da esclerose múltipla são a fadiga, depressão e ansiedade, que contribuem para uma piora na qualidade de vida dos portadores, afetando de maneira progressiva o bem estar, provocando, consequentemente, alterações físicas e psicológicas. Estudos atualizados sobre a temática são fundamentais na finalidade de aumentar a visibilidade e subsidiar o trabalho de profissionais de saúde na condução terapêutica dos portadores de esclerose.

Palavras-chave: Esclerose Múltipla; Qualidade de Vida; Fadiga; Depressão; Ansiedade

ABSTRACT

Multiple sclerosis (MS) is one of the most common chronic inflammatory neurological diseases affecting the central nervous system (CNS). MS progresses with inflammatory demyelination with axonal loss, causing unpredictable functional disabilities. The patient’s clinical status at the onset of an MS provides key diagnostic clues about disease progression. MS is related to symptoms such as fatigue, pain and changes in motricity and sensitivity, so that fatigue is the most regular and disabling manifestation of the disease. The objective of the study is to analyze the perception of quality of life in patients with multiple sclerosis (MS) and to verify if there is an association with fatigue, anxiety and depression. This is a literature review carried out systematically in the databases of Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PUBMED) and Scientific Electronic Library Online (SCIELO), in studies published in 5 years. After applying the criteria for textual inclusion and exclusion, studies that were included in the theme were selected. As evidenced, the main factors associated with the development of multiple sclerosis are fatigue, depression and anxiety, which contribute to a worsening of the quality of life of patients, progressively affecting their well-being, consequently causing physical and psychological changes. Up-to-date studies on the subject are essential in order to increase visibility and support the work of health professionals in the therapeutic management of patients with sclerosis.

Keywords: Multiple Sclerosis; Quality of life; Fatigue; Depression; Anxiety

INTRODUÇÃO

A esclerose múltipla (EM) remete a uma das doenças neurológicas inflamatórias crônica imunomediada mais comum que afeta o sistema nervoso central (SNC) e progride de forma crônica e imprevisível (MOREIRA, 2022). A EM progride com desmielinização inflamatória com perda axonal e neuronal em graus variáveis, causando inabilidade funcionais imprevisíveis e, com isso, repercute na saúde emocional, físico-funcional e nos aspectos sociais, além da impossibilidade de realizar atividades de vida diárias (CHUECA, 2020). 

Estima-se que há cerca de 2 milhões de pacientes com EM no mundo, sendo no Brasil 20 casos para aproximadamente cada 100.000 habitantes, além de possuir maior incidência em países da América do Norte e Europa. É mais comum entre as faixas etárias de 20-40 anos de idade causando múltiplas lesões espalhadas pela região da medula espinhal e do encéfalo (CUERVO, 2019).

Concordante a literatura, a etiopatogenia da EM é incompreensível, de modo que se desenvolve em sujeitos com a genética suscetível e que ficam em exposição a diversificados fontes ambientais como, por exemplo, pouca exposição solar, tabagismo, deficiência solar e de vitamina D, bem como obesidade (SOLOMON, 2019). Quando tais fatores ambientais se associam aos genéticos obtém-se desajuste imune, com estímulo das células imunes auto reativas contra o Sistema Nervoso Central, o qual resulta em desmielinização, dano axonal e neuronal e gliose. Visando futuro distante, a reparação da bainha é inconcluso, bem como prejuízo oxidativo e desenvolvimento de estruturas linfóides semelhantes a folículos no interior das membranas que revestem o SNC e medula proliferam o prejuízo e esvaziaram os mecanismos compensatórios, exacerbando quadro neurológico progressivo (CUERVO, 2019).

Em relação a patogenia, há como característica padrão presença de zonas confluentes de desmielinização que a bibliografia denominou de ‘placas’ que evidenciam a ausência da mielina e de oligodendrócitos. A princípio, o axônio e neurônios são conservados, mas conforme quadro evolui, há perda neuro-axonal que se correlaciona com as insuficiências do paciente e a atrofia cerebral (CUERVO, 2019).

A esclerose múltipla pode ser classificada em três tipos, sendo a mais incidente a forma conhecida por remitente-recorrente (EMRR), na qual os pacientes exibem surtos definidos com remissão completa ou incompleta e retêm intervalos livres de progressão entre os surtos. Outra forma é o tipo secundário progressivo (EMSP) que tem um curso inicial tipo EMRR que é sucedido 15 a 20 minutos após por progressão com ou sem surtos ocasionais, bem como remissões leves e platôs. Por fim, o tipo primário progressivo (EMPP), onde o indivíduo apresenta curso progressivo desde o início por pelo menos 6 meses, com ocasionais platôs e/ou discretas flutuações (YOO, 2019).

A clínica do paciente no início de uma EM fornece indícios diagnósticos fundamentais sobre a progressão da doença, como déficits neurológicos focais desde fraqueza motora, alterações de sensibilidade, até alterações de visão, além da dificuldade para falar, fadiga, depressão, alteração de comportamento e de memória. Segundo estudos, são fatores associados a um bom prognóstico: início precoce, sexo feminino, sintomas sensitivos ou neurite óptica (sintoma inicial afeta apenas uma região do SNC) (RODRIGUES, 2020).

Dentre as síndromes típicas, há neurite óptica, síndromes de tronco encefálico como a oftalmoplegia internuclear e a neuralgia de trigêmeo, síndromes cerebelares e mielite transversa, usualmente se caracteriza por períodos agudos de déficits neurológicos de caráter episódico, denominados surtos, por uma deterioração neurológica progressiva ou uma combinação de ambos (SOLOMON, 2019).

A patologia e os efeitos colaterais relacionados aos medicamentos impactam negativamente a qualidade de vida desses pacientes. A EM se relaciona a sinais e sintomas variáveis, dentre eles a fadiga, dor e alteração da motricidade e sensibilidade (CAETANO, 2021), de modo que a fadiga é manifestação mais regular e incapacitante da doença (FERREIRA, 2022). No que se refere a complicações psicológicas, a depressão é um dos mais frequentes, posteriormente ansiedade (SILVA, 2019).

O estudo objetiva verificar associação da EM com sintomas de fadiga, ansiedade e depressão.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão da literatura nas seguintes bases de dados: National Library of Medicine (MEDLINE/PubMED), Biblioteca de Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual da Saúde e Google Scholar. As pesquisas foram realizadas com base nas palavras chaves encontradas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS): “Ansiedade”; “Depressão”; “Esclerose Múltipla”; “Fadiga”; “Qualidade de Vida” e os filtros: desde 2019 e português. Foram incluídos capítulos de livros, artigos originais, estudos de caso e excluídos os que fugiam do objetivo da temática, bem como os artigos duplicados.

RESULTADOS

Consoante pesquisas, os pacientes acometidos por EM sofrem com diminuição da qualidade de vida, não somente por alterações clínicas, como também decorrente de efeitos colaterais dos medicamentos, associados à fadiga, ansiedade e depressão. A qualidade de vida em geral é abrangente, incluindo os aspectos de meio ambiente de uma pessoa, local de trabalho, condições e situação financeira, independentemente da doença, bem-estar, estado físico, psicológico, social, econômico e até mesmo espiritual, que devem estar em equilíbrio na vida do ser humano. À medida que a doença vai progredindo, novos sintomas vão sendo observados, os quais afetam a qualidade de vida (QV) desses pacientes.

ANSIEDADE

Apesar de ser pouco citada na literatura, a ansiedade é relatada com frequência, correspondendo a 36% dos casos. Foi reportado que o transtorno de ansiedade mais frequente é a ansiedade generalizada (19%), seguido pelo transtorno de pânico (10%), transtorno obsessivo-compulsivo (9%) e o transtorno de ansiedade social (8%) (CUERVO, 2019).

O diagnóstico médico de esclerose múltipla faz-se muitas vezes acompanhado por perturbações no foro emocional e psicológico. A ansiedade remete ao medo da dor, da incapacidade e a imprevisibilidade da doença (SILVA, 2019).

Dentre os fatores de risco relacionados observou-se elevada atividade da doença, sintomas como fadiga, dor e distúrbios do sono, isolamento social, história de transtorno depressivo maior, prevalência mais alta em pacientes do sexo feminino, consumo de álcool e uso de substâncias psicoativas (CUERVO, 2019).

FADIGA

A fadiga foi definida como dificuldade em manter a contração muscular, bem como trazendo sensação de cansaço físico ou mental profundo, perda de energia ou mesmo sensação de exaustão. Em portadores da EM a fadiga não está correlacionada com idade, sexo, depressão ou grau de acometimento neurológico e pode ser primária ou secundária (MENDES, 2000).

É decorrente de danos em variadas regiões do cérebro, desde substância branca a cinzenta, modificações nas redes neurais de processamento, alterações inflamatórias dentro e fora do SNC e alterações na metacognição interoceptiva, de forma que exigem maior energia para pensarem ou realizem alguma atividade e necessitam de mais força para realizar exercícios, visto que os músculos com espasticidade trabalham uns contra os outros (CAETANO, 2021). A fisiopatologia da fadiga remete ao fato da desmielinização tornar a comunicação entre neurônios difícil, necessitando do aumento da atividade neuronal nos tecidos celulares para compensar (SILVA, 2019).

Embora a fadiga seja crônica, ela flutua na sua intensidade, sendo mais intensa no final da tarde e com temperaturas elevadas. E tem importância fundamental para o estado geral dos pacientes, podendo agravar os demais sintomas da doença (MENDES, 2000). Além disso, a fadiga secundária é considerada multifatorial e fatores como dor, distúrbios do sono, depressão, inatividade física, bem como o uso de medicações podem estar implicados em sua etiologia (CUERVO, 2019).

DEPRESSÃO

A depressão na EM foi vista como principal fator de prejuízo no interesse e na cooperação do paciente ao tratamento, afetando as emoções, satisfação pessoal e situação social (DO CARMO, 2021). A prevalência de depressão em pacientes com EM comparada com a população em geral varia de 20-40% na faixa etária entre 18 e 45 anos. (CUERVO, 2019). Além disso, a depressão traz como resultado ao paciente a percepção de baixa energia, interferindo na limitação funcional e físico, além do maior dano funcional, à disfunção cognitiva potencialmente reversível, à redução da adesão ao tratamento e ao aumento das taxas de suicídio em relação à população em gera (SIVA, 2019).

Há uma forte correlação entre saúde e QV, relacionando-se a saúde com o impacto da doença na parte física, mas também nos aspectos emocionais, sociais e ocupacionais do sujeito, bem como na capacidade de este adaptar-se a própria doença

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme evidenciado nos estudos, há redução da percepção da qualidade de vida em pacientes portadores de EM, seja o bem-estar, estado físico, psicológico, social, econômico e até mesmo espiritual, que devem estar em equilíbrio na vida do ser humano. e tem relação com a fadiga, depressão e ansiedade, as quais trazem como consequência a incapacidade de realizar atividades do dia a dia, na vida social e profissional dos indivíduos acometidos por ela. Desse modo, torna-se primordial acompanhamento com equipe multidisciplinar de saúde, englobando tratamento com fisioterapeuta e psicólogos, com apoio familiar e social. 

Isso indica que além dos aspectos funcionais, outros fatores devem ser considerados durante a intervenção fisioterapêutica, para que se possa atender às reais necessidades destes pacientes. Nesse sentido, é importante que o profissional de saúde esteja capacitado para o atendimento a esse público alvo, pois compreender a qualidade de vida dos mesmos faz com que o atendimento integral possibilita avaliar individualmente o paciente como um todo, favorecendo uma visão holística e possibilitando o planejamento de ações no sentido de promover a assistência, recuperação e capacitando-os para o autocuidado, contribuindo para seu bem-estar dentro das limitações impostas pela doença

REFERÊNCIAS

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CASTELLANO C. C. (2020). Nutrição na esclerose múltipla. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/35106

CUERVO D. L. M. Qualidade de vida e resiliência em pacientes com esclerose múltipla: um olhar além da incapacidade. 2019.

DO CARMO, A. C. D. O., SPINOLA, F. B., PEIXOTO, M. C., PEDRO, N. N., BENEVENUTE, T. A., RODRIGUES, V. M., … & DE ARAÚJO, G. N. (2021). Avaliação da qualidade de vida e depressão em pacientes com esclerose múltipla em Juiz de Fora. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/27940

FERREIRA, A. L. D. A. S. Avaliação da fadiga em pacientes pediátricos com doenças desmielinizastes em seguimento no hospital da criança de Brasília e acompanhados no estudo multicêntrico observacional para caracterização da esclerose múltipla pediátrica no Brasil (EMOCEMP). Disponível em: https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/prefix/16267/1/21708490

Mendes, M. F., TILBERY, H. P., BALSIMELL, S., Felipe, E., Moreira, M. A., & BARÃO-CRUZ, A. N. A. (2000). Fadiga na forma remitente recorrente da esclerose múltipla. Arquivos de Neuro-Psiquiatria58, 471-475.

MOREIRA. C. E. A.; TELLES I. R.; BARONE J. C. Análise das características da Esclerose Múltipla: revisão de literatura. Revista Eletrônica Acervo Médico, v. 20, p. e11194, 4 nov. 2022. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/medico/article/view/11194

Rodrigues, B. R. S. (2020). Fatores prognósticos da Esclerose Múltipla: Da Incerteza à Certeza. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/10681/1/7465_15909.pdf

SILVA, M. D. C. N. D., & CAVALCANTI, D. B. A. (2019). Avaliação da qualidade de vida em portadores de esclerose múltipla: impacto da fadiga, ansiedade e depressão. Fisioterapia e Pesquisa26, 339-345. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/FYB5RqW97VT9sZsvrjXbPBC/?lang=pt&format=html

Solomon AJ. Multiple Sclerosis and Other CNS Inflammatory Diseases. Continuum. 2019;25(3):878.

YOO, L. M. L. (2019). Importância da atuação do farmacêutico em equipe multidisciplinar junto aos portadores de Esclerose Múltipla para a melhoria da qualidade de vida, visando a integralidade do cuidado em saúde. Disponível em: https://repositorio.usp.br/directbitstream/048bb49e-b717-4510-9994-96e23a7ba346/3053974.pdf


1Medicina, Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior (UNIFIMES). E-mail: hellenbmalheiros@gmail.com
2Medicina, UNIFIMES. E-mail: anaelizebelai@hotmail.com
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6Medicina, UNIFIMES. E-mail: talita.usinadacomunicacao@gmail.com
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